Nas últimas cinco reportagens da série “Inteligência Periférica”, compartilhamos a história de cinco profissionais que mesmo com pouco ou nenhum auxílio do Estado, continuaram seus corres para gerar renda e seguiram construindo suas possibilidades. Na última reportagem de 2020 da série, contamos sobre como programas de apoio ao empreender são importantes, mas nem sempre atendem as reais demandas.
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Muitos profissionais que moram nas periferias da cidade, encontram na abertura do CNPJ como Microempreendedor Individual, uma possibilidade para assegurar algumas condições básicas para o seu trabalho. Mas também tem aqueles profissionais que enxergam essa “formalização” um outro tipo de burocracia, e que em muitos casos não comporta a sua atuação.
Acessar fundos de apoio ao microempreendedor e conseguir suporte desses fundos não é uma realidade para muitos profissionais e trabalhadores informais. Muitos programas e políticas públicas não chegam até os profissionais das periferias que trabalham com uma diversidade gigantesca de atuação, e não encontram nesses programas medidas que de fato dialoguem com seu trabalho.
Entender a diversidade e as várias ramificações do trabalho autônomo e informal, e também o contexto que faz esses trabalhadores surgirem, é algo que ainda não está no radar de muitos investidores.
Segundo a Ade Sampa – Agência São Paulo de Desenvolvimento que atua junto a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Trabalho de São Paulo, nos últimos anos foram desenvolvidas uma série de ações e políticas públicas que apoiam o empreendedor nos territórios periféricos da cidade, como o VAI TEC, programa de impulsionamento e aceleração de negócios de jovens das periferias.
“Outra política pública de apoio aos empreendedores de regiões mais vulneráveis é o Teia, coworkings públicos. A Prefeitura de São Paulo já conta com cinco unidades instaladas na cidade: Parelheiros, Santo Amaro, Cidade Tiradentes, Taipas e Centro. Os espaços de trabalho colaborativo oferecem mesas de trabalho, sala de reunião, acesso à internet, cursos e capacitações, eventos de networking e diversos outros serviços que o empreendedor teria que pagar para ter acesso em um coworking privado”, informa a Secretaria Desenvolvimento Econômico e Trabalho.
Ainda segundo a Secretaria, as iniciativas buscam auxiliar na formalização de empreendedores. “A Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho busca promover também a formalização dos empreendedores das periferias da cidade, para que assim eles possam não só ter seus direitos garantidos por lei, como serem reconhecidos pelo governo e pela economia paulistana. Os empreendedores têm sido uma das molas propulsoras da economia paulistana. Para continuar apoiando seus negócios, eles precisam se formalizar e comercializar os seus produtos legalmente”.
A Secretaria afirma que nas 24 unidades do Cate – Centro de Apoio ao Trabalho e Empreendedorismo, os empreendedores podem se formalizar como MEI – Microempreendedor Individual gratuitamente. A equipe da Ade Sampa atua nos postos de atendimento oferecendo orientações aos que desejam começar seu próprio negócio. “Neste momento de pandemia, o atendimento está sendo feito por telefone, whatsapp e e-mail. Pelos canais de atendimento os munícipes podem tirar dúvidas sobre como se formalizar, emissão de notas e documentos, além de acesso à linhas de crédito do governo estadual”, concluem.
Durante o período da pandemia, a Ade Sampa relata que firmaram uma parceria com o Banco do Povo, programa de microcrédito do Governo do Estado de São Paulo, para realizar o teleatendimento aos empreendedores na divulgação da nova linha de crédito de R$ 25 milhões para micro e pequenas empresas enfrentarem os efeitos econômicos da pandemia.
Também contaram que oferecem cursos e capacitações para o empreendedor entender a importância do seu empreendimento, alavancar o seu negócio, e se reinventar no período da pandemia. Durante a crise da covid-19 as palestras e atividades estão sendo ministradas de forma on-line semanalmente pelas redes sociais da AdeSampa.
“Já foram oferecidas atividades com diversos temas como economia criativa, gestão de negócios, maneiras de reinventar durante a crise econômica, vendas pela internet e muitos outros assuntos que podem auxiliar o empreendedor neste momento e durante a retomada econômica da cidade”.
Sobre os profissionais que atuam no segmento do artesanato, a Secretaria relata que apoia a geração de renda do setor. “A Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho apoia também a geração de renda dos artesãos e manualistas da capital por meio do Mãos e Mentes Paulistanas. O programa já conta com mais de 1.300 artesãos habilitados pela Prefeitura para participar de feiras, eventos e ações que são promovidas na cidade. No segundo semestre deste ano será contratada uma gerenciadora para desenvolver ações de capacitação, qualificação e um e-commerce para os participantes do programa”, finaliza.
Para o núcleo de trabalho do Centro de Estudos Periféricos, o governo vem abrindo mão do seu papel de mediador das relações trabalhistas, assim como de ser parte de um processo transformador que poderia criar uma outra economia, mais solidária, ao promover programas de compras públicas, organizando pequenos produtores, fortalecendo os processos de formação, promovendo crédito acessível e espaços de comercialização.
Quando o poder público se ausenta e burocratiza sua relação com a sociedade, o resultado é que as pessoas passam a acreditar que a relação com o setor privado é mais real, mais próxima e concreta, o que reduz ainda mais a capacidade de organização e de reivindicação por parte da sociedade
Núcleo de trabalho do Centro de Estudos Periféricos formado pelos pesquisadores Cleberson da Silva, Nataly de Oliveira, Egeu Gomez e Matheus de Carlos.
O trabalho informal se tornou um caminho de possibilidade financeira para muitos moradores das periferias. Para além da escolha de começar nesse ramo, e da falta de postos de trabalho com carteira assinada, a discussão envolve muitas camadas, principalmente por estar ligada a condições históricas que afetam quem é das periferias: racismo, desigualdade social, econômica, e de gênero, negligência do poder público, e tantos outros que só quem está no dia a dia consegue entender na pele.
Enquanto isso é a periferia que continua criando suas próprias soluções, e seus próprios caminhos, como coloca o Dj Dagoma: “Baixar a cabeça nóis não pode, é aquele ditado, né!? Ou nóis encara a dificuldade, ou a dificuldade engole você”.
Através das cinco trajetórias que compartilhamos ao longo dessa série, conhecemos profissionais das periferias que continuaram suas lutas, se reinventaram e usaram de uma das habilidades que os moradores dos territórios periféricos possuem: a inteligência periférica.
Acesse e confira todos os conteúdos da série “Inteligência Periférica” de 2020:
Confira a primeira reportagem da série Inteligência Periférica.

Inteligência periférica: como trabalhadores informais sobreviveram ao desemprego e à pandemia em 2020 – Desenrola E Não Me Enrola
Confira a segunda reportagem da série Inteligência Periférica.

Inteligência periférica: juventude periférica segue se reinventando – Desenrola E Não Me Enrola
Confira a terceira reportagem da série Inteligência Periférica.

Inteligência periférica: Durante a quarentena a rua continuou sendo um meio para gerar renda – Desenrola E Não Me Enrola
Confira a quarta reportagem da série Inteligência Periférica.

Inteligência periférica: Como é ser mulher, mãe e empreendedora na quebrada sem o suporte do Estado? – Desenrola E Não Me Enrola
Confira a quinta reportagem da série Inteligência Periférica.
