Lançado pelo Selo Sarau do Binho, “Âncora de Isopor” traz o múltiplo universo das emoções do autor e é um dos lançamentos publicados este ano pelo selo durante a programação Intercâmbios Culturais da Felizs, Feira Literária da Zona Sul.
“Âncora de Isopor”, livro de estreia de Fábio Feijão, reúne contos, poesias e debate sobre questões raciais, masculinidade, caos político e relações humanas. O lançamento do livro está marcado para o dia 27, às 19h, durante a realização virtual do Sarau do Binho e é um dos lançamentos publicados pelo Selo Sarau do Binho durante a programação Intercâmbios Culturais da Felizs, Feira Literária da Zona Sul, deste ano.
ASSINE NOSSA NEWSLETTER
Cadastre seu e-mail e receba nossos informativos.
Fábio Feijão, 39, é morador de Taboão da Serra, região metropolitana de São Paulo, poeta, fotógrafo, educador e instrutor de Hatha Yoga. O artista frequenta o movimento literário Sarau do Binho desde 2006 e reconhece neste espaço um ambiente de troca, diálogo e contato com as diversas linguagens artísticas. “O sarau para além da produção artística do território, tem uma coisa muito importante que é a questão do afeto”, compartilha Fábio.
Essa rede de amizades e apoio criada por intermédio da poesia foi essencial para que ele reunisse algumas produções antigas e também produzisse novos conteúdos para seu primeiro livro. “Eu venho pensando no livro há alguns anos e também fazem alguns anos que pessoas que fazem parte da cena, outros poetas, produtores e produtoras vem me cobrando, me incentivando”, afirma.
A obra foi escrita parcialmente durante a pandemia de covid-19 e a distância da sua rede de amigos, seguindo os protocolos de isolamento social. Fábio revela que este momento foi desafiador para sua produção literária. “Isso acabou me afetando de uma forma que eu nem sei ainda e que no futuro eu vou descobrir.”
Desde sempre fascinado pela escrita
Encantado pelas possibilidades de troca e relações promovidas pelo sarau, o autor se conectou com o movimento literário periférico por sentir que ele instiga ainda mais seu instinto criativo. “A minha maior alegria na escola, dentro do que o currículo escolar me oferecia, era a literatura, escrever texto, fazer redação, criar histórias”, conta ele sobre o início da sua paixão pela criação literária.
Fábio Feijão permaneceu imerso na literatura durante a adolescência devido à sua ligação com o rock, estilo musical que proporcionou o encontro com amizades e com a produção artística.
“Eu comecei a escrever ali já na adolescência, como se fossem letras de música. Então, eu imaginava um ritmo, geralmente era tudo rimado. Inclusive, mexendo nas minhas caixas recentemente, encontrei muita coisa escrita daquela época. Por isso, eu percebi que nunca deixei de escrever, mesmo que tivesse um intervalo muito grande”.
Foi nesta época também que iniciou seu contato com o audiovisual por meio dos videoclipes das bandas que gostava. Hoje, ele e seu amigo Gastão Cavernoso, jornalista e que também fez a diagramação de “Âncora de Isopor”, são responsáveis pela produtora audiovisual Pasta Base.
Com uma vontade pulsante de se expressar e de produzir arte, o autor se lançou como fotógrafo e produtor audiovisual. Ainda atuou como educador de fotografia em diversos espaços, sempre buscando desenvolver o senso estético e crítico nos jovens atendidos.
O contato com a escrita e a música proporcionou a Fábio Feijão uma rede de amigos e, por intermédio de seu irmão, conheceu o movimento literário das periferias.
“Eu imaginava o sarau uma coisa muita antiga, de escritores antigos. Quando eu chego e me deparo com um sarau, que era o Sarau do Binho, ali no Campo Limpo, próximo da minha casa, que eu ia andando, vejo uma diversidade de pessoas incríveis. Tinha um palco onde todas as pessoas que estavam ali podiam se manifestar. E, de brinde, ainda era um bar.”
O artista conta que o ambiente que encontrou dentro do movimento literário o encantou, e que carrega consigo até hoje as relações estabelecidas nesses encontros. “Eu podia tomar cerveja e ouvir tudo o que as pessoas ali tinham pra falar. Eu tinha um fascínio pela diversidade de coisas que aconteciam ali”, e assim passou a frequentar o sarau e a tirar seus escritos da gaveta.
“Procuro decepcionar as pessoas que esperaram que eu por ser um cara preto da periferia falasse só das mazelas da vida”
Apesar dos moradores das periferias enfrentarem diversos problemas que ainda persistem devido a estruturas historicamente desiguais, Fábio considera que o movimento do hip hop dos anos 90 conseguiu denunciar o cotidiano de violência e abriu novas possibilidades para os jovens negros se manifestarem, recuperando a autoestima e criando espaço para a expressão artística. “Hoje, se a gente pode falar do que quer é porque lá atrás teve muita gente fazendo esse corre”, afirma.
“Eu estou vivo e o meu livro é a prova disso. Todas as pessoas que desacreditaram de mim e de pessoas que têm a mesma origem que eu vão ter que lidar com isso.”
Fábio também considera que a prática corporal da Yoga é um outro espaço de diálogo e comunicação com as pessoas, assim como a produção literária e a realização de oficinas de fotografia.
“A prática do Yoga olha para este corpo que produz arte, que leva a arte para os lugares e traz referências e pensamentos. Sem dúvida, está tudo interligado”, conta o autor que há mais de 10 anos pratica Hatha Yoga, uma prática corporal milenar, e hoje é instrutor da atividade.
Publicar o próprio livro é para Fábio um dos seus maiores atos de resistência e coragem. Receber o reconhecimento de amigos, familiares, de pessoas do movimento literário e o lançamento do livro energizou o autor e o fez planejar novas possibilidades artísticas.
“Essa obra foi um disparador para eu querer colocar mais coisa no mundo. Quero trabalhar com vídeo poesia também, junto com meu camarada Gastão. A gente vem com tudo”, finaliza.