Entrevista

Rede Ubuntu de Cursinhos Populares oferece alimentação gratuita para estudantes na zona sul de São Paulo

Edição:
Evelyn Vilhena

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O oferecimento de alimentação para os estudantes acontece desde 2019, e neste ano de 2022, para seguir oferecendo três refeições aos alunos, a Rede lançou uma campanha de arrecadação, beneficiando jovens estudantes dos seus seis polos, na periferia sul de São Paulo. 

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Parceria entre a Rede Ubuntu e Cozinha Solidária do Movimento dos Trabalhadores Sem-teto (MTST) alimenta cerca de 300 estudantes dos seis Polos da rede de cursinhos populares. Foto: Patricia Santos

Em tempos de carestia e insegurança alimentar, a Rede Ubuntu de Cursinhos Populares se uniu com o projeto de Cozinhas Solidárias do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), para oferecer alimentação gratuita a cerca de 300 estudantes que buscam ingressar na universidade, e estudam em um dos seis polos da Rede espalhados pelas periferias da zona sul de São Paulo.

Cada um com o seu prato e talheres nas mãos, os alunos do cursinho recebem café da manhã, almoço e café da tarde. Juntos, comem, socializam e tiram dúvidas com os professores no intervalo das aulas. Dos seis polos que compõem a Rede Ubuntu, três produzem a comida no espaço e os demais recebem marmitas das cozinhas solidárias.

Adriana Gomes, moradora do Capão Redondo, zona sul de São Paulo, é uma das cozinheiras que compõem o projeto Cozinha Solidária em parceria com a Rede Ubuntu. Ela trabalha de segunda a sexta, servindo comida para moradores em situação de vulnerabilidade, e aos sábados cozinha para os alunos do cursinho.

“Trabalho na área de alimentação desde 2007, junto com o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, e há um mês com a Rede Ubuntu. Na semana tem uma moça que me ajuda, e aos sábados é a minha filha que trabalha comigo me auxiliando”, conta Adriana, que prepara mensalmente o cardápio dos alunos e sonha estudar gastronomia. 

A campanha Alimentando Sonhos visa garantir alimentação durante todo o ano letivo para os alunos da rede. Foto: Patricia Santos

 A alimentação fornecida pelo cursinho vem de doações de parceiros, das igrejas, da população, dos próprios alunos e familiares, e até mesmo dos professores que tiram da própria remuneração para garantir a refeição dos jovens.

“A gente pede a participação voluntária dos alunos, ou seja, quem puder ajudar com até 5 reais, que é o máximo que pedimos, ajuda, quem não puder vai comer do mesmo jeito”, conta Saulo Vilanova, coordenador e professor da Rede, sobre a ação que faz parte de uma construção coletiva.

“Ter aqui o acesso às refeições é uma questão de segurança alimentar e um ponto fundamental para o nosso desenvolvimento, a fome não espera. Sem isso seria muito difícil, um gasto que talvez não tivesse condições”, conta a estudante do Polo Santo Dias, Bianca Nobre, 19, moradora do Rivieira, bairro do distrito do Jardim Ângela, região sul de São Paulo, que trabalha das 18h às 00h20, como atendente de telemarketing e busca ingressar no curso de Relações Internacionais ou História.

 Efeitos da pandemia

Durante o período de isolamento social, por conta da pandemia de covid-19, o cursinho funcionou de maneira remota para os alunos, uma tarefa que evidenciou ainda mais questões de alimentação e conectividade dos estudantes enquanto estavam em casa.

O professor Saulo, conta que durante a fase mais aguda da pandemia os professores e coordenadores se organizavam com instituições para arrecadar cestas básicas, pagar a internet de alguns alunos e até para doação de equipamentos para os estudantes conseguirem assistir às aulas.

“Sabemos que a alimentação é determinante no aprendizado do aluno e passar o sábado inteiro firme e forte sem alimentação não dá. Desde 2019 fornecíamos alimentação no Alan Soares, e em 2020 planejamos expandir pra mais um polo, o Santo Dias, mas a pandemia começou, isso gritou mais ainda para nós”

explica Saulo, ressaltando que quando as aulas voltaram a ser presenciais, em fevereiro de 2022, era impossível para eles não continuar com a alimentação em todos os polos do cursinho.

Saulo Vilanova é um dos professores e ex aluno do projeto. Foto: Martinho

“Eu sou porque nós somos” 

Através de princípios ligados à coletividade, solidariedade e comunhão entre todos, as atividades da Rede Ubuntu acontecem desde 2013, oficialmente como uma rede de cursinhos populares desde 2016. A filosofia do educador popular Paulo Freire, é uma das referências de atuação para a Rede, que se baseia em reflexões, diálogos e na ideologia que dá o nome ao cursinho, do provérbio africano “eu sou porque nós somos”.

“A Rede Ubuntu se propõe a ser um cursinho popular de construir os saberes junto com os nossos alunos e não focar só nos conteúdos de provas, porque quando se desvincula os conhecimentos da realidade do aluno, ele vai deixar de aprender, de ter um vínculo afetivo com o projeto”

aponta Saulo Vilanova, 23, reafirmando ser essencial que os alunos entendam a importância de sair desse espaço e poder questionar o que é aprendido na universidade.

Saulo é aluno de Letras na USP, ex-aluno do cursinho e hoje coordenador e professor de redação do Polo Dona Edite. Ele ressalta a importância do aprendizado “ter raízes com o território”, mostrando para os alunos o que significa estar em um cursinho popular na periferia, sabendo quem são, de onde são, e onde querem chegar.

“Abro a biblioteca todos os dias para quem quiser ler, estudar e conversar comigo. Acho importante reforçar o que aprendemos aos sábados durante a semana, não dá para passar no vestibular estudando só uma vez na semana”, reflete a estudante Bianca, que como muitos alunos, têm a Rede Ubuntu não como um espaço de passagem, mas o início de novas oportunidades, onde pode voltar e somar com quem está por vir. Como é o caso da Bianca, que é aluna e também co-coordenadora da biblioteca do cursinho.

Bianca Nobre, aluna e co-coordenadora responsável pela biblioteca do Polo Santo Dias. Foto: Patricia Santos

E para manter a alimentação dos jovens, a Rede Ubuntu abriu uma campanha de arrecadação para continuar garantindo refeições aos estudantes. Durante a campanha de lançamento, que aconteceu no dia 21 de maio, no Polo Santo Dias, jardim Ângela, os jovens deram depoimentos e realizaram intervenções artísticas.

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