Novo trabalho “Ninhos e Revides – Mirando o Haiti”, integra a pesquisa cênica-audiovisual “De Brasa e Pólvora – Zonas Incendiárias, panfletos poéticos”, que aborda esferas das relações entre insurreição racial, repressão histórica e racismo contemporâneo.
“Ninhos e Revides – Mirando o Haiti”, novo trabalho da Cia. Os Crespos estreia nas ruas de São Paulo nos dias 06 e 07 de Junho. A intervenção itinerante será realizada no bairro da Luz (centro de SP) e no Campo Limpo (região sul). O espetáculo integra a pesquisa cênica-audiovisual “De Brasa e Pólvora – Zonas Incendiárias, panfletos poéticos”, que aborda esferas das relações entre insurreição racial, repressão histórica e racismo contemporâneo. Trata-se de uma investigação das evoluções sociais e revoluções políticas latino americanas a partir dos levantes negros no Haiti, Brasil e Caribe, tendo em vista a construção imaginária de uma revolução poética a favor da abolição do racismo.
As intervenções partem de um processo investigativo para uma nova montagem dos Crespos com estréia prevista para setembro deste ano com Dramaturgia de Grace Passô (MG) e a direção de Ângelo Flávio (Ba), tanto para o espetáculo quanto para as intervenções.
Depois de quatro anos investigando a relação entre negritude e afetividade, debruçados sobre o impacto da escravidão na maneira de amar dos brasileiros, entendendo o afeto como instrumento político de sobrevivência e luta, Os Crespos, agora, abordam o impacto da escravidão na forma de pensar e movimentar-se dentro da nossa sociedade, compreendendo as lutas por liberdades diversas como tochas acesas para o estopim das transformações sociais antirracistas.
O Espetáculo
A partir de notícias de outros tempos do Brasil e do Haiti, revoltosos seguem remando numa Calunga mítica que os transportam para uma missão, num tempo em que se faz necessário garantir a liberdade e já é impossível conter a evolução. Por intermédio desta alegoria, “Ninhos e Revides” parte de uma pesquisa sobre a influência da revolução haitiana nas revoluções e revoltas e levantes negros e não negros no continente americano.
“Investigamos a importância da revolta do Haiti e a resposta violenta dos senhores depois que eles tomam conhecimento de que um país conseguiu se libertar do julgo da coroa francesa. A intervenção tem isso como mote disparador e brinca com o tempo. São homens contemporâneos que se confundem com homens do tempo da escravidão. Ambos procuram e tramam para se libertar para garantir sua liberdade”, explica Lucélia Sergio, atriz e uma das fundadoras dos Crespos.
Já o diretor Angelo Jorge diz que nesta primeira intervenção , a missão é falar sobre o terror, as revoltas e levantes, de antes e da atualidade numa perspectiva de amor a liberdade. “Fazer com que os espectadores e transeuntes da cidade em algum momento reflitam sobre os muros e grades que nos distanciam e que impedem o diálogo, o abraço”, pontua Angelo.
Segundo a atriz Lucélia Sergio, há uma distorção em relação do negro com a escravidão e sua própria liberdade. Primeiro como se ela fosse dada por uma princesa e não por intermédio de uma conquista permanente de pressão social que os negros e africanos no Brasil foram construindo ao longo de vários séculos. E depois a ideia de que o negro era passivo à escravidão, até a tentativa de convencer homens e mulheres de que isso já acontecia na África da mesma forma que aqui no Brasil e que os negros já eram acostumados com o cativeiro e que existia o negro revoltado e que ele era uma exceção e o negro bondoso que aceitava a escravidão. “Há vários estereótipos sobre a escravidão que precisam ser quebrados e desmontados, principalmente a dicotomia do herói e do conformado. Existiram várias revoltas, levantes e isso precisa ter um novo olhar sobre isso para valorização da nossa liberdade”, conclui a atriz.
Após “Ninhos e Revides” projeto continua
Depois das apresentações de “Ninhos e Revides” Os Crespos dão sequência ao projeto “De Brasa e Pólvora – Zonas Incendiárias, panfletos poéticos” com mais uma intervenção urbana: “Revolta das Vassouras – Garis, Domesticas, Coveiros e Outros Fodidos” – obra que tentará dar conta dos levantes e movimentos rebeldes dentro do período da república e dos movimentos de contrarrevolução das elites. Buscando compreender as relações com a liberdade nos movimentos de luta contemporâneos e as engrenagens político/sociais de estagnação.
Quem são os Crespos
Os Crespos é um coletivo teatral de pesquisa cênica e audiovisual, debates e intervenções públicas, composto por atores negros. Formo-se na Escola de Arte Dramática EAD/ECA/USP e está em atividade desde 2005. A Cia. trabalha, há nove anos, a construção de um discurso poético que debata a sociabilidade do indivíduo negro na sociedade contemporânea e seus desdobramentos históricos, aliado a um projeto de formação de público. Seu percurso parte da experiência disseminada do TEN – Teatro Experimental do Negro, idealizado e gerido por Abdias do Nascimento, que de 1948 ao fim dos anos de 1960, construiu um projeto teatral popular revolucionário, que teve como objetivo central o combate ao racismo e às desigualdades raciais, aliado a uma formação intelectual, lírica e dramática para seus artistas.
Serviço
Intervenção “Ninhos e Revides – Mirando o Haiti”
Data: 06 de junho de 2016
Horário: às 17h30 – Concentração em frente a Estação da Luz , na Av Cásper Líbero com a Rua Mauá (região central de SP)
Data: 07 de junho de 2016
Horário: às 18h – Na Praça do Campo Limpo
R. Dr. Joviano Pacheco de Aguirre, 30, Jd Bom Refúgio, Zona Sul de SP
Gratuito