Jogo expõe o pensamento computacional na visão de jovens da quebrada

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Criado conceitualmente durante um curso de pensamento computacional, o jogo Tabuleiro de Ori é uma iniciativa de jovens das periferias de São Paulo para transformar a música em um instrumento educativo para mergulhar na história da população negra brasileira.

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Creditos: Rodrigo da Selva

 “É o seguinte mano, esse jogo é pra legitimar para amanha ou depois um pretinho na escola falar assim: ‘se você pensa que minha história  parte da escravidão você tá muito enganado, nós somos seres milionários, tá ligado ‘. Eu acho que a grande resposta do Ori é essa”, explica Magda Souza, uma das seis jovens moradoras das periferias de São Paulo, que usaram o pensamento computacional para elaborar o jogo Tabuleiro Ori.

Souza faz parte de um grupo de seis jovens que participaram do programa de formação Programaê, um curso que convida jovens das periferias a construir um guia para construção do pensamento computacional.

Ao longo do curso, os jovens transformaram suas vivências sociais na quebrada em um plano pedagógico focado na difusão do pensamento computacional nas escolas públicas das periferias de São Paulo. Para isso, eles construíram um plano de aulas a partir dos conhecimentos adquiridos no projeto.

Durante esse processo de formação, Ana, Myke, Glória Maria, Gustavo e Macrô, parceiros de Magda no curso, decidiram criar um jogo para descolonizar o entretenimento musical através do pensamento computacional, utilizado para estimular a introdução da lógica de programação, que é empregada na maioria dos dispositivos tecnológicos.

O objetivo deles é contribuir com a ampliação do repertório de jovens das periferias, a partir de um jogo que estimula o contato histórico com a música preta no cotidiano de alunos de escolas públicas. Na prática, o grupo está usando técnicas de Gamificação para transformar a cultura, história, música e o pensamento no jogo Tabuleiro Ori, um instrumento pedagógico para descolonizar a cultura musical nas periferias.

creditos: Rodrigo da Selva

“O jogo incentiva o aprendizado dentro do tema, então você sempre vai caminhar pra chegada e se você tiver alguma dificuldade no caminho você vai aprender com a pergunta que você tirar no card, através do mediador. O foco é sempre aprender o conteúdo e no meio do jogo ir aplicando o pensamento computacional”, explica Ana Luiza, 26, umas das co-criadora do Tabuleiro Ori, moradora do Jardim Sonia Inga, que atua como cantora, compositora, poeta e articuladora.

Se por um lado a vivência dos jovens na quebrada se tornou uma grande aliada que contribuiu no processo de elaboração do jogo, a introdução do pensamento computacional e suas complexidades tecnológicas foi um grande desafio. “A maior dificuldade pra mim no caso, foi aplicar o pensamento computacional dentro do jogo”, afirma Magda Sousa, 25, moradora do Morro do Índio. 

A produtora cultural ressalta que a universalização da leitura do jogo foi uma grande dificuldade, pelo fato dele ter que atingir diferentes públicos. “O grande lance foi quando a gente entendeu que precisava aplicar pra todo mundo né, que o professor tinha que chegar na sala de aula e conseguir aplicar, desde um professor de escola particular a um professor de uma comunidade ribeirinha”, complementa.

A ideia de descolonizar a cultura musical através da gamificação surgiu devido ao fato do grupo de jovens ter uma ligação natural com diversos estilos musicais, entre eles o hip hop. “A maioria das pessoas que estam no grupo já trabalha com esse rolê. Foi muito mais fácil trabalhar a parte de pesquisa nessa questão”, aponta Magda, que antes da pandemia atua produzindo eventos de batalhas de rimas nas periferias da zona sul de São Paulo, por meio da ocupação do espaço público.

Segundo a compositora Ana Luiza, jogo vai provocar os alunos de escolas públicas a mergulhar na história afro-brasileira e indígena como uma forma de resgate, ressignificando o conhecimento e valorizando a cultura afro-indígena, através da música. “É sempre o foco valorizar a música dentro da cultura preta mesmo, de valorizar a nossa música”.

Além do Tabuleiro Ori, o curso Programaê também serviu como plataforma para os jovens criarem um plano de pedagógico, composto por quatro aulas com duração de 50 minutos cada. O conteúdo didático é voltado para alunos das disciplinas de Música e Geografia, que estão cursando o 9° ano do Ensino Fundamental II em escolas públicas das periferias.

Ana Luíza acredita que o maior propósito do jogo é mostrar pra a juventude que ela pode ocupar o espaço que ela quiser conhecendo a sua história e do seu território. “A gente pode estar na área tecnológica, a gente pode estar na área que a gente quiser, usando a nossa linguagem principalmente”, finaliza...

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