Sem financiamento e cheios de ideias, o grupo formado por jovens moradores da Vila Missionária exibiu em uma sessão para amigos e familiares o longa-metragem “Dois conto – a continuação barata de Dez Conto”.
Na manhã do último sábado, dia 28, o sonho do grupo Tomada Periférica de exibir seu primeiro longa-metragem em uma sala de cinema foi realizado. Com aproximadamente 100 espectadores, número reduzido devido às normas de segurança e saúde de combate à Covid-19, a sessão aconteceu em uma sala comercial de cinema na região de Santo Amaro, zona sul da Capital paulista.
Entre os presentes, estavam amigos, familiares, além de vizinhos do grupo. “Eu quero agradecer a todo mundo que está aqui, inclusive a projetista que está exibindo meu primeiro filme, isso é muito especial para mim” disse o morador da Vila Missionário Bruno Maciel, 24, diretor do filme “Dois Conto – a continuação barata de Dez Conto” pouco antes do início da sessão.
O filme é uma continuação da história de Getúlio, personagem apresentado no curta “Dez Conto”, o protagonista se envolve em uma dívida de R$2. O longa ficcional de ação possui um roteiro abrangente que dialoga com questões do cotidiano da juventude da periferia, como conta Bruno.
Assista ao trailer
Os jovens ainda avaliam os próximos passos na divulgação do longa, mas é possível assistir o trailer de “Dois Conto” no canal do youtube do grupo.
“É um filme que fala sobre cada um de nós: é um filme que fala de abandono, família, covid… é um filme que fala sobre como [parte da] mídia trabalhou durante todo esse processo. Fala sobre todas essas angústias que a gente teve”. Além da direção, o jovem assina a edição e a produção, também colaborando na construção coletiva do roteiro e na atuação.
O diretor também reflete que durante a produção do filme, sentiu a realidade e a ficção se sobreporem. “Conforme a gente foi gravando, as coisas estavam acontecendo no bairro. Por exemplo, na cena que a polícia interroga o menino no beco, tinha acontecido [na mesma época] o assassinato do Guilherme, lá na Cupecê”.
Amizade dentro e fora das telas
“Uma brincadeira na minha laje” foi como Luiz Gustavo,24, define a produção do curta “Dez conto”, lançado em 2020. Formado por amigos que participam de um grupo de teatro religioso, o Tomada Periférica se surpreendeu com a repercussão inesperada nas redes sociais de sua primeira produção, que alcançou quase cinco mil visualizações no canal do Youtube do grupo. Entendendo que a “brincadeira” poderia ficar ainda melhor, o grupo se lançou na construção de seu primeiro longa
Se denominando como “ninjator”, as cenas de luta foram coreografadas por Luis Gustavo que também faz aulas de artes marciais. No longa, há um número maior de atores, personagens e locações do que no curta, produzido em 2020. “O avanço da vacinação possibilitou que a gente tivesse mais pessoas no elenco”, conta o jovem sobre a preocupação com a pandemia.
“Nosso set de filmagem é a laje”
Letícia Neves, 33, e seus filhos Angélica Cristina,10, e Pablo Henrique, 8, se consideram os “fãs número 1” do Tomada Periférica e estiveram presentes na sessão de lançamento do filme. Vizinhos de Luis Gustavo, eles acompanharam da janela de sua casa as gravações do curta “Dez Conto” e também do longa-metragem “Dois Conto” que eram realizadas na laje do jovem.
Apesar de hoje admirarem o trabalho do grupo, o início das gravações causaram grande estranhamento no bairro devido aos gritos das cenas de ação. “Quase chamei a polícia”, conta Letícia.
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