Com o intuito de resgatar e manter vivas as memórias de movimentos sociais e moradores do território de Perus, periferia da zona noroeste de São Paulo, um grupo de mulheres se uniu para construir o Centro de Memória Queixadas Sebastião Silva de Souza, iniciativa que está colocando o bairro no mapa das luta por direitos humanos no Brasil.
Uma das fundadoras do Centro de Memórias Queixadas é a jornalista Sheila Moreira. Ela conta que o sonho de construir o projeto se tornou realidade após a conquista de um edital de cultura. “Em 2019 fomos contemplados com o Fomento à Cultura das Periferias, para começar o projeto em 2020”, relembra.
ASSINE NOSSA NEWSLETTER
Cadastre seu e-mail e receba nossos informativos.
Assinada em 2016, pelo então prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT) e atual ministro da economia no governo Lula (PT), a Lei de Fomento à Cultura das Periferias é uma política pública administrada e executada pela Secretaria Municipal de Cultura, construída a muitas mãos por coletivos, artistas independentes e ativistas culturais que integram o Movimento Cultural das Periferias.
“Meu avô era um Queixada”
Sheila Moreira, co-fundadora do Centro de Memórias Queixadas
Com o apoio do edital, a estrutura do projeto conta com acervos de fotos, vídeos, documentos e depoimentos de pessoas importantes para a preservação da memória do bairro.
Uma das principais histórias que marcam a construção do Centro de Memória Queixadas é o resgate de documentos históricos sobre a trajetória de vida dos trabalhadores da Fábrica de Cimento Portland, onde aconteceu a mais longa greve sindical do Brasil, entre 1962 e 1969, período que aconteceu a ditadura militar no Brasil.
“Era um sonho para muitos que o Centro de Memórias fosse dentro da fábrica de cimento, mas ela ainda pertence à família Abdalla, ou seja, é uma propriedade privada”, explica Sheila, que também é moradora de Perus, e é neta de Sebastião Silva, morador que dá nome ao Centro de Memória.
“A gente acredita que precisa pegar de volta nossas narrativas”
Sheila Moreira, jornalista e moradora de Perus
“Meu avô era um Queixada e o Centro de Memórias leva o nome dele, mas ele não chegou a conhecer o espaço”, complementa a jornalista. Sebastião Silva de Souza, o avô de Sheila, foi um dos operários grevistas da Fábrica de Cimento Portland, que ficaram conhecidos como Queixadas. Ele articulou a participação de outros funcionários para aderir a greve e lutar por melhores direitos trabalhistas.
Queixada, o apelido dado aos operários grevistas é o nome de um porco do mato que anda em bando, fazendo um barulho com o queixo quando estão bravos. O nome Queixada foi levantado no contexto da greve, onde durante uma assembleia alguém disse que os operários se pareciam com o animal justamente por ser forte em bando. Os trabalhadores que não aderiram à greve eram chamados de pelegos.
Bairro educador
A inauguração do espaço só aconteceu em 2022, por conta da pandemia, que gerou um atraso no processo de coleta de materiais históricos e também na construção da estrutura física, que serviria para armazenar o acervo de fotos, exposições, vídeos e documentos de forma apropriada. No entanto, esse processo serviu para aproximar o Centro de Memória de espaços públicos de educação e incentivo à leitura no distrito de Perus.
O Centro de Memórias Queixada Sebastião Silva de Souza foi inaugurado em março de 2022 e está localizado dentro da biblioteca pública Padre José de Anchieta, no bairro de Perus, e propõe atividades e debates para crianças, jovens e adultos.
Atualmente, o projeto está desenvolvendo um jogo de tabuleiro que conta a história do bairro, para alunos do ensino fundamental I, que impacta crianças de 6 a 10 anos, que cursam da primeira à quinta série de escolas públicas.
“A gente acredita que precisa pegar de volta nossas narrativas, tem pessoas aí contando nossa história e temos que ter certeza que isso está certo.”, finaliza Sheila, apontando a importância de apresentar para as crianças o contexto histórico do bairro onde elas vivem.