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Exposição de grafiti com obras em aquarela aborda questões de afeto no Grajaú

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Intitulada de ‘Háfétô’, a exposição reúne obras de 11 artistas periféricos com a ideia de fomentar o conceito artístico na região.

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O artista Lelo ao lado de um dos seus grafites (Foto: Divulgação)

No fim de outubro foi realizada a abertura da exposição ‘Háfétô’, no Ateliê Eloparalelo, localizado no Grajaú, extremo sul de São Paulo. A exposição conta com três obras de cada um dos 11 artistas para dialogar com questões de afetos cotidianos, presente na vida dos moradores da periferia.

“O nome da exposição faz alusão a várias palavras e isso foi pensado. Juntei artistas que têm um trabalho que dialogam com afetos cotidianos e artistas que são novos no rolê do hip-hop e, principalmente, em exposições. Dos 11 artistas, contando comigo, cinco estão expondo pela primeira vez”, explica o curador e também expositor da Háfétô, Weslley Silva, mais conhecido como Lelo.

Lelo, 20, é estudante de artes visuais e dono do Ateliê Eloparalelo, espaço onde está sediada a exposição e onde também vive. Ele conta que o Ateliê nasceu de uma indignação e percepção de ausência de espaços artísticos que promovam artistas periféricos. “Este foi um ano em que senti a necessidade de um espaço meu. Trabalhei nove meses sem parar para conseguir construir o Ateliê junto com meu pai. Foi bem significativo pra mim, é uma construção paterna afetiva”, afirma. Lelo vê o pai como um dos maiores artistas. “Construir uma casa sendo semianalfabetoe sem o ensino fundamental, médio ou superior é uma das maiores artes que já vi em vida.”

“Com a arte eu espero provocar, causar reflexões, identificação, receber elogios – e críticas -, fazer dinheiro. Tudo isso. Com minha presença, espero ver bons amigos, dar uns abraços, uns chêro, uns bejo, beber umas breja, trocar umas ideias”, exclamou o também estudante de artes visuais e expositor Cauã Bertoldo pouco antes da abertura de Háfétô.

“Quando a gente diz uma coisa e a outra pessoa entende, a mensagem é facilmente passada na íntegra, basta conhecer as palavras e o significado delas. Quando a gente diz isso com imagens já é outro rolê. Envolve um debruçar-se sobre a imagem. Desvenda-se a mensagem a partir do que temos em nós. A imagem se comunica com o que há na nossa subjetividade, nosso âmago. No final, a gente não consegue extrair nada de uma arte senão o que já existe em nós mesmos”, conta Bertoldo.

Ana Paula Resende, 22, mais conhecida como Anap, outra artista que está estudando artes visuais e expondo no evento, também fala da ideia e essência que a exposição pretende mostrar. “O fato de passarmos por situações de afetos e desafetos, simultaneamente, faz com que a expo resgate o ‘eu’ mais profundo de cada pessoa de maneira única e exclusiva, trazendo a reflexão e o resgate de sonhos, afetos, desafetos e amores em forma de pinturas e ilustrações”, destaca.

Ana conta que ser mulher no mundo da arte é um ato de resistência. “No meu caso, estou inserida no hip-hop e resisto pelo fato de que faço parte de um movimento que geralmente é composto por homens, e a maioria, infelizmente, é machista”.

Lelo também fala da resistência para explicar o que é, segundo seu ponto de vista, a arte da periferia. “A arte periférica é resistir, sabe? É correr três vezes mais com recursos três vezes menos. É não ter saneamento básico, ser assaltado, sentir a repressão e o descaso das vias públicas e transformar isso em música, poesia, tinta e sentimento”, diz.

“Acho que a falta de espaço e representatividade pra gente é enorme, mas aos poucos estamos mudando isso. A periferia está criando seu próprio conteúdo. Estamos saindo da dependência e aprovação do clero e fazendo as coisas girarem entre gente da gente – e eles não gostam disso”, enfatiza o artista.

Cauã é militante da causa LGBT. O artista fala que em todas as suas artes faz um discurso de militância como forma de acabar com preconceitos. “Sempre pinto personagens de pele escura e todo personagem é de certa forma um autorretrato. Levo nas costas a vontade de fazer o outro se ver e se sentir naquela pintura. O outro eixo é a questão da bissexualidade. Desenho meus personagens sem me preocupar se ele é menino ou menina, por exemplo. Construo a imagem do jovem negro LGBT ao nosso modo, usando nossos símbolos, nossas experimentações de mundo, para exorcizar todo estereótipo ou preconceito que está atrelado a imagem social negativa do que é ser negro, em todos esses contextos”, explica.

Weslley Silva, o Lelo, conheceu todos os artistas de Háfétô através da arte, da rua, das mídias sociais e de exposições passadas. “Foram quase quatro meses de planejamento e convívio, atividades como painéis de divulgação, mutirão, troca de ideias, rodas de conversa e diálogos. Foi louco ver como tudo foi fluindo bem para que chegasse neste resultado final. A periferia é forte porque trabalha em redes”, completa.

“Não existe só um ou uma artista que me inspira, principalmente porque moro no Grajaú. Praticamente todos os dias eu conheço um artista novo e, assim, sempre acabo absorvendo um pouquinho de cada um. A arte é provocativa. Ela causa rumores, faz pensar e repensar. Se ela não causasse esses efeitos não faria sentido”, argumenta a expositora Ana Paula Resende (Anap).

A exposição Háfétô conta com obras produzidas com técnica de aquarela sob canson, acrílica, óleo, recorte, spray e lápis de cor e podem ser adquiridas por valores que ficam entre 60 e 175 reais. A exposição fica em cartaz até o dia 25 de novembro no Ateliê Eloparalelo.

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