Notícia

Batalhas de rima discutem gênero e sexualidade nas periferias

Edição:
Evelyn Vilhena

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Com intuito de criar espaços para pautar gênero e sexualidade dentro do território, a Batalha de Guaiana e Batalha da Encruzilhada atuam como locais de trocas para pessoas LGBTQIA+.

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1° Edição da Batalha de Guaiana, aconteceu na Casa de Cultura de Guaianases, quem venceu foi a Maria Preta (Foto: Miuara Rodrigues)

O desejo de criar uma rede de fortalecimento entre pessoas LGBTQIA+ mobilizou articuladores culturais da zona norte e leste de São Paulo, na criação de batalhas que dialogassem com seus corpos e demandas. Na Batalha da Encruzilhada que acontece na Praça Sete Jovens no bairro do Elisa Maria, distrito da Brasilândia zona norte de São Paulo, e na Batalha de Guaiana, realizada em formato itinerante pelo distrito de Guaianases, zona leste da cidade, os articuladores buscam proporcionar espaços de reflexão sobre gênero e sexualidade na quebrada.

“Quando eu estava fazendo o mapeamento para realizar o projeto aqui no meu território, eu soube de um dado que dizia que aqui era o território que mais mata pessoas LGBT, então como é que a gente está em uma praça falando sobre isso aqui?”, questiona Guayana, 23, não binarie, moradore do Parque Guaianases, na zona leste de São Paulo e organizadore da Batalha de Guaiana.

A Batalha de Guaiana foi criada na Casa de Cultura de Guaianases, mas acontece de forma itinerante pelos bairros do território. O foco é criar um espaço acolhedor principalmente para mulheres, pessoas trans e não bináries, para que possam rimar sobre os temas escolhidos.

“Existe uma dificuldade de acessar pessoas LGBTQIA+ na quebrada, porque ainda sim temos que ficar nos escondendo. Às vezes você é uma pessoa trans e não vai falar disso na quebrada, ou vai tentar se proteger ao máximo”

Guayana – Batalha da Guaiana

A batalha é organizada por Rafaela Araujo e Natália Freires, que são produtoras culturais da zona leste de São Paulo, e também por Guayana, que é MC, poeta e arte educadore. Na Guaiana a batalha é temática: a plateia propõe um tema para ser debatido a cada rodada e ainda podem participar de formações organizadas pelas articuladoras.

“Na batalha de tema a plateia sugere um assunto, e daí temos um tempo para falar desse tema a partir da nossa perspectiva e vivência em cima de um beat. A [batalha] de sangue é um enfrentamento, você vai atacar o outro, e pode atacar de várias formas: as ideias, tem gente que ataca as roupas, aparência”, conta Guayana sobre algumas diferenças na Batalhas da Guaiana.

Guayana conta que dentro das atividades que articulam na batalha, já rolaram oficinas de freestyle, funk e rima com artistas LGBTQIA+, reforçando a importância de ter esses corpos como artistas e educadores.

“A Batalha de Guaiana vem para abrir espaço para esses artistas no território”, aponta Guayana que coloca como um diferencial propor oficinas que são ministradas principalmente por pessoas trans.

Diferentes abordagens, um mesmo objetivo

Na zona norte de São Paulo, acontece outra batalha que também tem o intuito de levantar discussões sobre gênero e sexualidade: a Batalha da Encruzilhada. Organizada por Marcela Trava, Sé da Rua, Quixote, Mendonça e MLK de MEL, a batalha acontece na Praça Sete Jovens, no bairro Elisa Maria, localizado no distrito da Brasilândia, zona norte de São Paulo.

Diferente da Batalha da Guaiana em que a ideia é criar um espaço exclusivo e juntar os moradores LGBTQIA+ do território, na Batalha da Encruzilhada a narrativa é a convivência entre os diferentes corpos, não só LGBTQIA+. A batalha é organizada por corpos dissidentes e o gênero é um marcador que está entrelaçado a essa criação e organização.

“Eu sinto que de alguma [forma a] militância vai entrando em um bolha e acaba afastando as lutas. Eu entendo que as vezes é insuportável conviver com gente cis e hétero, mas até quando vamos precisar nos fechar em bolhas para fazer as coisas acontecerem?”. Djoásis de Mel, 25, artista, produtor cultural e morador do Parque Taipas, na região noroeste de São Paulo, conhecido como MLK de MEL e um dos articuladores da Batalha da Encruzilhada.

O artista afirma que desde o começo existia um consenso entre os criadores de não ter um recorte específico de público, de ser um lugar aberto para os artistas do território movimentarem a sua arte, pois os recortes que os corpos dos próprios criadores têm, já leva a batalha para um lugar distinto. 

“A ideia é ser uma batalha para todo mundo, só que são 5 pessoas LGBTQIA+ organizando uma batalha e tem vários recortes: racial, PCD, trans. Estamos ali organizando com todos esses recortes, mas a nossa ideia é organizar pra todo mundo”

Djoásis – Batalha da Encruzilhada

Diferente da Batalha de Guaiana, a Encruzilhada é uma batalha de sangue, onde os MCs se enfrentam na rima de improviso, sem tema definido. A ideia do grupo é apontar que batalhas de sangue podem ter diferentes perspectivas.

“Até pela experiência das pessoas de pensar que batalha de sangue parece algo meio hétero, ‘coisa de macho’, e não tem que ser. A batalha de sangue na verdade é um debate de ideias, onde a melhor rima ganha da outra, e a nossa ideia era resgatar isso”, afirma Djoásis, conhecido como Mlk de Mel.

O artista aponta que as batalhas também buscam aproximar diferentes pessoas desse movimento. “Regra de não poder falar palavrão, não pode preconceito, não pode falar de terceiros. Descumpriu a regra, perdeu o round. É uma forma do debate ficar lúdico sobre o que tá acontecendo ali e fomentar a cultura hip hop”, comenta.

Ele afirma que as batalhas como a da Encruzilhada são caminhos para gerar debates e também entender novas linguagens. “Queremos fazer rima e fomos entendendo que existem linguagens diferentes, e que a batalha vai criando essa ponte”, finaliza o articulador.

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