Entrevista

Empreendedor usa dialeto da quebrada para atender clientes na Shopee

Edição:
Ronaldo Matos

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Empreendedor aposta em um formato de atendimento digital descontraído para cativar e atender clientes que moram ou não nas periferias.

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Empreendedor aposta em formato de atendimento digital descontraído para atender clientes da quebrada. (Foto: Gustavo Damasceno)

Criar uma loja virtual para algumas pessoas pode representar um procedimento padrão que faz parte das estratégias das vendas online, mas para empreendedores como Gustavo Damasceno,19, morador do Jardim Guarujá, bairro da zona sul de São Paulo, utilizar a cultura da quebrada é algo essencial para atender seus clientes, bem como para criar a marca Vestiário da Quebrada.

Ele acredita na criação de uma comunicação estratégica sobre sua identidade e cultura, que busca transferir um valor através de um propósito presente na vida dos moradores das periferias e favelas.

“Antes do empreendedorismo eu comecei jogando bola, tentando ser jogador, aí veio na minha mente o significado do vestiário né, pois quando os moleques pensam em vestiário eles imaginam o ato de entrar, trocar de roupa e sair pronto para o jogo, entendeu? Aí eu falei: ‘essa vai ser minha fita, essa vai ser minha visão, os moleques e as meninas vão entrar e sair do vestiário prontos para o jogo, vai sair com sua camiseta de time, vai sair com sua lupa, vai fazer aumentar autoestima”, vislumbrou Gustavo, relembrando a inspiração que vem direto do seu cotidiano como morador de quebrada para criar a sua marca de roupas e acessórios.

O empreendedor migrou sua loja do Mercado Livre paro a Shopee,  plataforma de comércio eletrônico, por apostar nas taxas de descontos que são maiores para o consumidor final e no potencial de venda do novo marketplace que vem chamando a atenção de consumidores e empreendedores das periferias.

“No começo desse ano eu usava o Mercado Livre e trabalha só com lupa, como eu disse é enxuto, eu sabia que lupa era uma coisa que tinha mais procura, fiz pesquisa de mercado antes claro, e soube que esse era o melhor produto pra eu vender, então comecei a trabalhar só com óculos, criei um Instagram chamado Lab Lupas, que é o nome que do perfil até hoje, só que eu vi essa oportunidade da Shopee que tem taxas baixas, onde eu poderia estar vendendo mais e atraindo mais o meu público, então eu migrei pra ela”, relata Damasceno.

Gustavo se prepara para postar mais um produto vendido em sua loja virtual para um cliente da quebrada. (Foto: Gustavo Damasceno)

“Depois que a Shopee começou a passar na TV está vindo mais pessoas das periferias. Eu já estou vendo o pessoal me chamar por gíria, assim como no Instagram, agora estou sentindo que a periferia está mais presente”

Gustavo Damasceno

Após migrar para o marketplace, o criador da Vestiário de Quebrada conta que passou a identificar um potencial de público formado por moradores da quebrada. “A diferença que eu percebo na Shopee é que ela agrega mais o público da periferia, uma coisa que atrai muito são os preços baixos no início desta plataforma entendeu, e assim, quem vem de onde a gente vem não costuma comprar roupa original, costuma comprar réplica certo, comprar no Brás, final de ano é Brás, naquele pique”, afirma o empreendedor, resgatando uma cultura periférica do morador consumir roupas com cara de original, mas que na verdade são réplicas de marcas bem conhecidas.

Ele também conta que já percebeu mudanças significativa em suas vendas dentro da plataforma e principalmente no comportamento do público. “Depois que a Shopee começou a passar na TV está vindo mais pessoas das periferias. Eu já estou vendo o pessoal me chamar por gíria, assim como no Instagram, agora estou sentindo que a periferia está mais presente”, conta Gustavo.

O empreendedor faz questão de enfatizar que não atende somente o morador da quebrada e que adapta o seu estilo de venda a qualquer perfil de cliente. “Independentemente de ser voltado pra quebrada, eu trago adaptabilidade no sentido que por mais que a cultura seja daqui eu também acabo atraindo pessoas que tem um pouco mais de dinheiro, que vem comprar na minha loja e mandam mensagens em uma linguagem diferente, na qual eu como vendedor me adapto ao vocabulário deles”, explica.

Perguntamos para Gustavo se ele sentiu que seus produtos tiveram algum tratamento desigual devido ao fato dele alcançar diferentes perfis de públicos dentro das plataformas digitais, e a resposta do empreendedor foi inspiradora. “Essa parada de discriminação eu não senti, eu não recebi nenhuma mensagem, pelo fato de eu ir diretamente no meu público-alvo né, que é o pessoal daqui”, revela, ressaltando novamente sua estratégia de trabalhar em comunidade para fortalecer sua rede de consumidores.

Do ponto de vista de Gustavo, a internet foi uma ferramenta transgressora que contribuiu para o desenvolvimento de suas habilidades alinhadas com sua identidade como morador da quebrada. “Para negócios online, a internet nos dá a possibilidade de criar e ser quem a gente é, tá ligado”, opina. Ele complementa sua linha de raciocínio enfatizando que sua história pode inspirar o surgimento de outras marcas e empreendedores.

“Eles querem que a gente não tenha conhecimento, querem que a gente não estude, então a gente tem que estudar tio, a gente tem que usar a internet como meio de conhecimento, e através desse conhecimento agregar para a sociedade, independentemente de como for, precisamos nos tornar uma pessoa melhor”, conclui o empreendedor da quebrada. 

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