Doação de notebooks transforma vida universitária de jovens das periferias de São Paulo

Edição:
Ronaldo Matos

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Inclusão digital, melhor aproveitamento em sala de aula e autonomia para produzir trabalhos acadêmicos são alguns dos impactos gerados na vida de jovens das periferias pela InfoPreta, iniciativa que recicla notebooks para doar a estudantes universitários da quebrada. O projeto já recebeu cerca de três mil e-mails solicitando doações de computadores. 



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Graziele Araújo, moradora de Mauá, usa o notebook para no curso de Química Industrial. (Foto: InfoPreta)

A campanha “notes solidários da Preta”, um projeto de doações de notebooks para estudantes universitários de baixa renda está contribuindo para inclusão digital e o processo de aprendizagem de jovens que moram nas periferias de São Paulo.

Graziele Araújo, moradora de Mauá, iniciou os estudos em química industrial na Universidade Federal de São Paulo, em Diadema. O curso exigiu dela um ano de preparação para a prova, com isso, ela ia todos os sábados para o cursinho popular Uneafro e na semana estudava em casa.

Porém, a falta de um computador fez com que Graziele tivesse dificuldades para organizar a entrega de trabalhos, motivando ela se inscrever no projeto da Info Preta. “Eu tinha que fazer com algum amigo para conseguir entregar o trabalho. Então foi um semestre complicado”, relata a estudante, afirmando que recebeu a doação do seu notebook há um mês.

A InfoPreta foi criada há 4 anos atrás por Akin Abaz, homem negro, transexual e que usa seu conhecimento profissional e experiência de vida, para fazer de sua profissão um instrumento de inclusão de pessoas negras e lgbts no mercado de trabalho da tecnologia. A empresa tem atuação dedicada à manutenção de Hardware e Software de computadores e atua hoje no bairro de Pinheiros, zona oeste de cidade.

A ideia começou com a experiencia que Akin vivenciou dentro da graduação, onde encontrou dificuldades para fazer o curso devido à falta de um computador próprio. Após tomar conhecimento de histórias de amigos que também não tinham condições de adquirir um notebook, percebeu as dificuldades e as barreiras que um jovem morador da periferia precisa passar para realizar as atividades acadêmicas.

Recentemente a campanha “notes solidários da Preta” viralizou, motivo que impactou diretamente a interação do público que faz e solicita doações. “Tem um tempinho que o projeto viralizou e a gente recebeu cerca de três mil e-mails”, relata a equipe do InfoPreta, um grupo de homens e mulheres que fazem questão de responder juntos as perguntas realizadas pela repórter do Quebrada Tech. O ato coletivo revela a cultura de relacionamento dentro da empresa.

Com o crescimento do número de doações, os critérios de seleção ajudam definir os destinatários das doações de notebook. Estudantes universitários de baixa renda com prioridade para mulheres, mães, pessoas negras, lgbt+ e portadores de deficiência representam o principal público que recebe as doações da InfoPreta.

“Nós sabemos que a graduação já não é fácil para essa galera que é o nosso público. Muitas vezes a universidade é um ambiente hostil, então se a gente puder auxiliar um pouco nessa etapa, já é ótimo”, enfatiza a equipe em tom de entusiasmo com os impactos que o projeto vem causando na vida dos estudantes.

Lucas Alves, morador de Guarulhos conheceu por meio da sua professora, quanto estava fazendo tratamento de câncer no Hospital GRAAC. Quando o estudante descobriu a doença, ele estava começando o curso de licenciatura em Letras, no Instituto Federal de São Paulo.

Alves tentou conciliar o estudo com o tratamento, porém teve que trancar a faculdade devido as altas exigências que o tratamento causou, e o notebook doado pela InfoPreta foi essencial para lidar com momentos de tédio e preocupação.

“Quando o notebook chegou, eu estava mal, e sem nada pra fazer. Ele me ajudou a ocupar a minha mente num momento difícil e a estudar um pouco”, relembra.

Durante o tratamento, ele teve aulas de Inglês, biologia, química e física dentro do hospital. Nesse processo, o notebook se tornou a sua principal ferramenta para sanar dúvidas e curiosidades.

“Eu uso bastante o Opera pra fazer pesquisas, Word e PowerPoint. Porque eu ainda tenho aulas com os professores no hospital”, diz Alves, descrevendo com simplicidade os programais mais usados por ele para produção de texto e criação de apresentações.

Os equipamentos doados, ou seja, que chegam até as mãos da equipe da InfoPreta para manutenção são avaliados para saber o que está funcionando. Em meio a esse processo, eles avaliam se vale apena fazer a manutenção ou reutilizar as peças, dividindo as tarefas conforme tipos de equipamentos, peças e tempo.

“Tem uma moça que fez a graduação com um notebook que doamos e agora ela está fazendo a pós-graduação com outro que doamos pra ela também”, conta a equipe, ressaltando que o acesso a um equipamento simples permite uma transformação estruturante na vida universitária de jovens moradores de territórios periféricos.

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