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Budismo online: lives viram templo digital de religião na M´Boi Mirim

Edição:
Ronaldo Matos

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Organização budista aproveitou o momento da pandemia para criar espaços virtuais de difusão da filosofia humanística do budismo. O núcleo virtual da M´Boi Mirim já conta com 400 famílias, que se reúnem por meio de lives para trocar conhecimento.

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Marlon Mitsunaga organiza os encontros virtuais sobre budismo. Créditos Tamires Rodrigues

O distrito do Jardim Ângela, localizado na zona sul de São Paulo, se tornou um dos bairros onde a Associação Brasil Soka Gakkai Internacional aproveitou o momento de pandemia para criar espaços virtuais de difusão do budismo, por meio da criação de um núcleo virtual onde moradores das periferias da zona sul de São Paulo, se encontram para trocar e aprofundar seus conhecimentos sobre a religião. 

O núcleo conta com 443 famílias que se reúnem por meio de lives, formadas por moradores nas localidades do Jardim Ângela, Guarapiranga, Capão Redondo e Jardim São Luis.

A realização de lives comunitárias com a participação de moradores de bairros do distrito da zona sul tem mirado na família, como ponto de partida para construir núcleos de moradores. O morador Marlon Mitsunaga, 23, morador do Jardim Santa Margarida, tem se dedicado a organizar esses encontros virtuais.

O morador define o budismo como uma filosofia que mostra que todas as pessoas têm o direito de ser feliz. Mitsunaga é psicólogo e praticante do budismo. Uma das suas funções é organizar o núcleo de crianças e adolescentes da M’boi Mirim.

Segundo Mitsunaga, a filosofia budista tem o propósito de despertar uma transformação social no próprio sujeito periférico. “Entendendo que essa realidade pode ser transformada por nós mesmos da quebrada, em vários momentos a gente espera uma transformação externa, mas a gente tem um potencial gigantesco em nosso próprio bairro”, conta ele.

O organizador do núcleo de crianças e adolescentes da M’boi Mirim relembra que tomou a decisão de seguir o budismo quando era criança e percebeu a transformação que a filosofia causou em seu avô.

“Um evento muito próximo que me fez perceber isso foi o meu avô, que ele começou a praticar o budismo já na terceira idade, quando ele já tinha 70 e poucos anos, e ele era alcoólatra, fumante, tinhas várias questões com ele né, e por meio da prática budista ele começou o processo de revolução humana dele, e isso foi muito perceptível pra mim, enquanto criança que tava crescendo e percebendo uma pessoa diferente dentro de casa”.

Cada bairro representa um núcleo virtual onde são organizados os diálogos, possibilitando o surgimento de pequenos coletivos de moradores que vão se consolidando com o avanço dos diálogos nos grupos de famílias que se reúnem periodicamente. Atualmente região da M’boi Mirim tem 400 famílias. “Dentro desses bairros a gente consegue entender a realidade de cada pessoa e entender de que forma isso conversa com a filosofia de vida budista”, afirma Mitsunaga, ressaltando a importância de entender a realidade da vida nos territórios.

Ela considera que a formação de pequenos coletivos corresponde às famílias da quebrada participantes da religião e destaca que a proposta do budismo é estar entrar dentro do núcleo familiar.

Antes da pandemia os encontros aconteciam de maneira presencial regado de comes e bebes, porém diante dos cenários de adaptações a organização trouxe uma proposta de virtualizar os diálogos humanistas e se conectar com os moradores através de telas de celulares, tablets e computadores.

“A gente percebeu que através desses encontros virtuais são possíveis”, avalia o organizador. Cada localidade utilizar um aplicativo de sala virtual diferente, porém a plataforma Google Meet costuma ser a mais utilizada. “A gente tem muitas visitas que estão acontecendo de maneira virtual, então a videochamada de dupla ou trio, para facilitar são feitas pelo pro whatsapp”, relata o morador.

Ele conta que além dos diálogos organizados por meios dos núcleos virtuais, durante a pandemia, os membros costumam utilizar aplicativos de mensagens instantâneas e chamadas de voz para smartphones para discutir sobre a filosofia budista em determinados dias da semana, sempre no período da tarde.

“A gente troca ideia de coração pra coração mesmo. Quem está no seu quarto acaba trocando ideia com seus amigos que estão a fim de trocar uma ideia sobre essa filosofia humanista tá ligado”, descreve Mitsunaga.

Antes de eu conhecer o budismo eu não sabia que tinha na periferia

Nathalia Porcelli

Nathalia Porcelli durante a live.
Arquivo pessoal/ créditos Sonia Maria

Uma das participantes do núcleo virtual de filosofia budista é Nathalia Porcelli, 29. Ela conheceu o budismo através da sua irmã, porém antes disso, a moradora do Jardim Santa Margarida, localizado no distrito do Jardim Ângela, relembra que tinha uma percepção totalmente distante sobre o que é a religião e a realidade da quebrada.

“O curioso é que antes de eu conhecer o budismo eu não sabia que tinha essa religião na periferia, eu achava que era uma coisa que só iria ter lá no bairro da Liberdade, ai quando eu conheci percebi que é bem acessível, e tem em várias localidades”, relata Porcelli.

Ela confidencia que durante a pandemia os ensinamentos da filosofia budista serviram como também uma rede de apoio virtual para renovar suas energias. “As atividades sempre são energizantes, sempre que participo eu fico muito animada, e é muito gostoso né, você renova totalmente a energia”, afirma.

Para a moradora, a maior conexão entre as pessoas que fazem parte dos diálogos virtuais é o propósito em comum do grupo presente. “Agora que estamos praticamente um ano sem fazer atividades presenciais, essas atividades virtuais são muito importantes, por mais que a gente esteja fisicamente separado, a gente vê que a gente tá junto no coração, na mente e nos nossos objetivos”, acredita.

Além dos encontros virtuais, Nathalia considera importante estudar a filosofia budista por meio de livros e outros conteúdos que ajuda na evolução pessoal do sujeito. “A gente tem muita orientação né, têm livros, jornal, muitos canais digitais e meios para gente conseguir ter uma consulta”, argumenta a moradora.

Ao relembrar um dos encontros que mais marcaram as conexões virtuais Nathalia conta: “a gente teve uma apresentação musical com uma Drag Queen e foi maravilhoso. Ela cantou aquela musica ‘ Como uma deusa’, ela estava toda caracterizada, maquiada, com direito a peruca e tudo, e a gente teve também um teatrinho neste dia, foi bem legal”. Porcelli conclui seu relato reafirmando o quanto esse encontro foi marcante para sua memória afetiva. “Foi um show exclusivo pra gente feito virtualmente, a gente viu pela telinha do computador, mas foi maravilhoso”.

 Desconectados

O organizador do núcleo virtual de crianças e adolescentes da M´Boi Mirim ressalta que uma quantidade significativa de participantes não está habituado com a tecnologia, fazendo com que muitas pessoas desistam de acompanhar os encontros.

“Eles acabam achando que não são capazes de entrar nessa realidade, então acabam ficando de fora, e nosso desafio tem sido não deixar ninguém para trás e estar conectado a essas pessoas”, relata ele, ressaltando suas próprias dificuldades durante as reuniões. “Eu já precisei repetir várias vezes o que falei porque minha internet caiu, meu equipamento não é de última geração ou o mais moderno do mundo, não é raro nas reuniões virtuais desaparecer as imagens de todo mundo, são dificuldades dessa nova realidade contemporânea nesse mundo pandêmico que a gente tá tentando se adaptar”, explica.

Em tom de preocupação com os moradores mais velhos, Mitsunaga destaca o impacto da falta de recursos de letramento digital entre os moradores, como um empecilho para construção de uma metodologia de comunicação virtual humanizada. “A dificuldade de recursos no sentido de termos membros que não possui um computador para poder acessar essa atividade virtual ou não possui um celular que tenha disponibilidade pra baixar um aplicativo, ou tem celular, tem computador e não tem internet que permita essa conexão na atividade ou então pode ter internet ou celular, mas a pessoa não saber manusear, isso também é uma realidade que a gente tá vivenciando principalmente entre os veteranos que não são muito familiarizados com essa dinâmica virtual”, finaliza.

A gente sabe que essas questões de sexualidade e de gênero são assuntos que não são dialogados, que são invisibilizados

Marlon Mitsunaga

Creditos: Tamires Rodrigues

“A gente sabe que essas questões de sexualidade e de gênero são assuntos que não são dialogados, que são invisibilizados , de que pode acontecer fora de casa , com vizinho , amigo , mas dentro da minha casa não ” Relata Marlon sobre apresentação da performance Drag queen no encontro, utilizando essa conexão para trazer assuntos não abordados em lares de famílias periféricas “Trazer isso é muito revolucionário, é trazer pautas silenciadas pro diálogo, entendendo o diálogo como essa principal ferramenta de transformação social ”

E diante disso o jovem relembra o contexto do momento da apresentação “Quem performou foi a tia Frane, foi dois momento um momento ela ser convidada para atividade é participando da atividade , falando as considerações dela a partir dessa atividade ensinada né, e depois ela entende que estava se sentindo como uma deusa e aí começou a performance dessa música ” Relata Marlon , conectando com os ideias que a organização traz “A proposta foi justamente essa de transmitir esse potencial divino que você tem em você e que você pode evidenciar através da sua própria existência”

Mitsunaga Finaliza fazendo uma comparação com o contexto social do sujeito periférico e a prática do budismo , que ensina a refletir sobre a sua existência no território e como ela pode impactar o seu individual “Praticar o budismo é entender justamente como que essas violações de direitos, como que essas possibilidades , e como que essas impossibilidades vão se dando na realidade que eu estou vivenciando aqui e agora” E complementa “hoje com os recursos que a gente tem , a gente já consegue vê essa transformação rolando , quando a gente conseguir se organizar como um todo em pró dessa transformação efetiva e profunda desse lugar aonde a gente tá , eu não tenho dimensão para onde isso vai , de tão grandioso isso , é tão grandioso que me falta palavra “

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