Mulheres negras e cultura geek: quem pode fazer cosplay?

Maria Clara e Daniele, participantes do primeiro dia do Perifacon, falam sobre a representação e presença de mulheres negras na cultura geek.
Por:
Zaya da Silva
Edição:
Evelyn Vilhena

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Em julho deste ano, a Fábrica de Cultura de Diadema, localizada na Grande São Paulo, recebeu a 4° edição do Perifacon, evento que traz uma perspectiva periférica para o universo geek, que envolve games, filmes, desenhos e animes. Entre atrações musicais, feira de quadrinhos, mangás e atividades interativas, se destaca a imagem de uma garota, Maria Clara, 15, caracterizada de um personagem conhecido do universo geek, o Ash Ketchum, mestre Pokémon do desenho mundialmente famoso. A jovem que faz cosplay há 6 anos, é moradora de Itaquera, zona leste de São Paulo, e chegou no evento realizado em Diadema, junto à família.

Há um tempo atrás, uma garota negra fazendo cosplay de um personagem masculino e branco poderia ser motivo de controvérsia, mas ao longo do Perifacon é possível perceber que o contexto do evento possibilita essa nova abordagem. 

“Sempre fui nerdzinha, mas só hoje sinto que a cultura geek está mais aberta para ver uma mulher negra fazendo cosplay de qualquer personagem”.

Daniele participou do evento como Princesa Mononoke.

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Durante o evento, Maria conhece outra figura que se destaca entre o público, a Daniele, 39, moradora da Vila Maria, zona norte de São Paulo, e que faz cosplay há 3 anos. Para essa edição do Perifacon, Daniele se vestiu de Princesa Mononoke, uma guerreira protetora da floresta de um filme, que leva o mesmo nome, lançado em 1997. 

Essas duas mulheres, de diferentes gerações, se unem através da paixão que compartilham pela cultura geek e refletem sobre suas vivências dentro desse universo, a forma que são vistas nesses espaços e a importância do cosplay na liberdade de expressão de seus corpos.

Vocês se lembram qual foi o primeiro personagem que fizeram cosplay?

Daniele: Meu primeiro cosplay foi a Garnet, do Steven Universo.

Maria Clara: Eu sempre me vesti de Akatsuki, mas primeiro cosplay mesmo foi a Alice da Alice no País das Maravilhas, mas eu sempre gostei de me vestir de personagens.

Ambas escolheram personagens femininas como primeiro cosplay, no caso da Garnet em específico, uma mulher preta com um significado muito forte. Você acredita que essa escolha se deu pela identificação com a personagem ou por achar que enquanto mulher negra você precisava fazer cosplay de uma mulher negra?

Daniele: No começo não tinha tantas personagens negras, a única que tinha era a tempestade, e a Garnet, além de ser uma personagem que tem um humor muito parecido com o meu, ela era parecida comigo e a questão de ser uma mulher negra me ajudou a fazer o cosplay, teve essa identificação.

Você acha que o cosplay influencia na sua liberdade de expressão com seu corpo?

Maria Clara: Geralmente eu não uso roupas curtas e decotadas e eu gosto muito de usar essas roupas, por isso quando faço cosplay sinto a liberdade de usar esse tipo de roupa.

Aqui na Perifacon nós vemos uma diversidade maior de pessoas com diversos cosplays, você acha que em eventos com um contexto não periférico isso também acontece?

Daniele: Hoje eu acho mais comum ver pessoas pretas fazendo cosplays, é mais aceitável, eu por exemplo, fazer cosplay de uma personagem que é branca, me sinto à vontade nos lugares que vou de fazer o cosplay que quero pois já teve uma construção desse espaço.

Você encontra alguma dificuldade por ser uma mulher negra dentro da cultura geek?

Maria Clara: Bastante, por que eu sou geek mesmo, sabe? E é difícil encontrar outras mulheres negras que também sejam, então eu vim pra cá fazer cosplay e aparecer já é uma coisa né? Eu estar fazendo cosplay de um personagem que é um homem branco também é impactante, mas decidi fazer mesmo assim e estou sendo muito feliz.

Esse conteúdo foi produzido por jovens em processo de formação da 8° edição do Você Repórter da Periferia (VCRP), programa em educação midiática antirracista realizado desde 2013, pelo portal de notícias Desenrola e Não Me Enrola.

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