“Já aconteceu de acabar a luz”: a rotina do home office na quebrada

Edição:
Ronaldo Matos

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Morador da periferia de São Paulo compartilha as adversidades no seu dia a dia, como a instabilidade de internet, barulhos externos, má comunicação no ambiente virtual corporativo, e o cansaço psicológico, que impedem a possibilidade de construir uma rotina saudável de trabalho dentro de casa.

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Patrick no momento do seu trabalho em casa (foto: Vania Silva)

Desde o começo da pandemia de covid-19, em abril de 2020, quando ela começa atingir os moradores das periferias e favelas, Patrick Silva, 24, morador do Parque Santo Amaro, na zona sul de São Paulo, trabalha como agente de relacionamento no formato home office.

A maior parte da rotina do morador acontece dentro de casa, um local de trabalhando, no qual ele vive adaptando os pequenos cômodos como um escritório. Para ele, uma das principais vantagens de trabalhar em casa é a autonomia para gerir o tempo. “Em casa já é bem mais tranquilo você tem mais liberdade de fazer o que quiser, inclusive ficar no fone de ouvido, tomar café toda hora sem ter que precisar ir comprar, então em casa a gente tem mais liberdade, digamos assim”, afirma.

O tempo que Silva gastaria da sua quebrada até seu trabalho é de 45 minutos, e normalmente ele utiliza esse tempo para compor sua rotina, dando atenção às demandas de cuidado pessoal e tarefas domésticas, e com isso, ele consegue fugir do caótico trânsito de São Paulo.

“É bem tranquila, geralmente nas pausas eu ajudo arrumar as coisas de casa”, conta Patrick, que divide o espaço da casa com sua mãe. “Mesmo sendo um pouco pequeno acredito que tem um bom espaço, já a concentração é tranquila, às vezes eu acabo me distraindo um pouco, porém é bem tranquila”, explica o agente de relacionamento, que montou uma estação de trabalho na sua casa para fazer as tarefas diárias da empresa.

Um dos aspectos que ele julga negativo no home office é o aumento da circulação de pessoas nos finais de semana na viela ao lado da sua casa. Segundo o morador, conforme o número de pessoas aumenta, o barulho causado por elas impacta diretamente as reuniões de trabalho.

“Aqui na viela tem bastante movimentação, inclusive no dia de sábado né. No geral, a gente não tem muita reunião, mas quando tem barulho eu falo: ‘olha tá tendo um pouquinho de barulho aqui em casa e para não incomodar vocês eu vou deixar o áudio mudo e falar só quando for necessário”, revela.

Outro ponto que gera alguns impasses durante o home office é computador utilizado para realizar as tarefas de trabalho. Esse é um ponto importante lembrado pelo morador como um diferencial para ter êxito ou problemas inesperados no dia-dia. “Quando começou o home eles me mandaram um desktop, claro fiquei feliz e grato ao mesmo tempo, depois de um ano trocaram e o equipamento, que é bem abaixo do que eu esperava”, confessa Patrick.

A partir do momento que o equipamento foi trocado pela empresa, Patrick diz que a infraestrutura já deixou a desejar, forçando-o a se locomover até o escritório da empresa. Mas o computador não é a única motivação que já o levou até a empresa para trabalhar, a instabilidade da internet também já contribuir para gerar esse contratempo. “Já aconteceu de acabar a luz e eu tive que ir até lá, e se a internet deixa na mão eu posso ir até a empresa, e isso já aconteceu”. 

Ansiedade 

Para Silva, essa forma de gestão de pessoas que estão fazendo home office afeta diretamente a sua saúde mental. “Às vezes eles pedem para ficar até um pouco mais tarde para concluir as demandas, e eu fico, mas meu psicológico não quer, mas meu corpo quer, entendeu? Só que incomoda, porque fica doendo a vista, as costas doem um pouco de tanto ficar sentado o dia inteiro olhando para o computador”, revela o morador.

“Quando o nosso superior começa a cobrar demais eu fico um pouco desmotivado pela falta de empatia deles, e isso abala, porque fico preocupado em não entregar a minha meta no dia”, compartilha o morador, enfatizando que enxerga nessa virtualização do trabalho um aumento da cobrança de seus chefes.

Mesmo com esse impacto negativo nas questões físicas e mentais causadas pelo novo local de trabalho, Patrick considera que trabalhar dentro de casa o afasta do ambiente tóxico das relações desgastadas dentro da empresa. “Às vezes a gente não está bem com um determinado colega de trabalho e às vezes até com o próprio chefe”, confessa.

Ele finaliza a entrevista afirmando que gosta da liberdade de ir e vir ter uma rotina fora de casa, e enfatiza que o home office acaba sendo mais confortável para si, do que para a realização das tarefas de trabalho. “Eu gosto de sair, mesmo que seja a trabalho, pelo fato de ver alguns amigos na hora do almoço, comer fora, ir em algum lugar e dar risada, isso tudo é bem bacana. A única vantagem é que você não precisa ter que ficar toda hora falando com o seu superior”, conclui.

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