Nesta nova sessão, inicio um mergulho nos mitos Iorubás para resgatar o poder do sagrado e das divindades femininas, com destaque para a trajetória de Obá, rainha guerreira da sociedade Elekô.
ASSINE NOSSA NEWSLETTER
Cadastre seu e-mail e receba nossos informativos.
Esse mito narra a história da líder da sociedade Elekô, a caçadora e guerreira Obá, que vivia em uma estrutura social fundamentada no matriarcado. Uma sociedade comandada por mulheres amazonas, que protegiam seu povo de invasões e preservavam a relação entre o feminino e a terra.
O mito também menciona outras divindades femininas de grande importância nas religiões de matriz africana, como Nanã, Oyá, Oxum, entre outras.
Só um homem podia participar do culto: Oxóssi, pois também era um grande caçador, guerreiro e feiticeiro. Ele se tornou um companheiro inseparável de Obá.
No culto Elekô, as mulheres sabiam lutar, caçar e trabalhar; eram independentes. A sociedade se sustentava no princípio do respeito ao feminino.
Obá foi a primeira esposa de Xangô. Os mitos dizem que ela simboliza o amor, a força e as vitórias nas batalhas. Ela fazia tudo por amor ao Rei de Oyó.
A reverenciamos no Candomblé por sua força e determinação na luta por justiça e proteção às mulheres, com a cantiga: “Obá Elekò a já osí” – Obá, senhora do poder de Elekô, do poder feminino.
Hoje, faço alusão ao que nós mulheres buscamos, dentro da fé nas religiões afro-brasileiras: a conexão com nossas ancestrais.
Vejo isso como um resgate e uma união que impulsionam mulheres a crescerem e curarem as marcas de uma mente ocidental pautada no patriarcado, na violência, no abuso e nas agressões.
Precisamos curar a visão eurocêntrica e machista que ainda subjuga tantas mulheres à obediência e ao serviço aos homens.
O renascemos do feminino
Renascemos com um olhar mais respeitoso sobre nosso feminino. Hoje, mulheres são protagonistas e líderes em várias camadas sociais.
Como em Elekô, fortalecemo-nos com a magia da força feminina, que nos empodera e sustenta nossa estrutura mental e emocional. Tornamo-nos mais equilibradas e fortes para mudar e transformar a organização social vigente.
“Macumba não”: faixa expõe racismo religioso em praça na zona leste de São Paulo
Podemos retomar espaços de poder, usando estratégias e nos unindo para conquistar um lugar pessoal e coletivo, com bases solidárias e afetivas.
Vejo essa nova realidade se ampliando entre as mulheres que se uniram ao projeto que lidero: o Núcleo Obará. Desde que iniciei o projeto, sinto a força do feminino neste grupo. Desde que iniciei o projeto, sinto a força do feminino neste grupo.
Vejo crescer e se ampliar a rede de relações femininas. Mulheres empreendem, criam redes de solidariedade e constroem uma estrutura social harmônica e afetuosa.
Mulheres que constroem juntas, fortalecidas por um propósito comum: dar visibilidade a esse projeto, fundado no afeto e na circularidade das relações sociais e coletivas.
Me parece justo e me lembra as mulheres guerreiras que realizam e amam, que não se destroem, mas se unem. Se isso foi perdido, há forças atuando para resgatar essa união — como no culto de Obá, o Elekô.
Nossos ancestrais seguem nos protegendo, fortalecendo e nos ajudando a construir uma nova forma de se relacionar — quase secreta — sustentada pela magia e pelo poder espiritual que nos impulsiona a materializar o novo. Como fizemos com a loja “Obará – Resgate Ancestral”.
Na inauguração, vivemos a magia com a Dança dos Orixás e o rezo do Toré, que trouxe a força dos povos originários, entre outras práticas presentes em nossos serviços.
Temos parceiros que nos fortalecem, como o fiel companheiro de Obá — meu pai Oxóssi — que me oferece visão e estratégia. Contamos com o apoio de parceiros do samba e filhos do terreiro: homens que não nos manipulam, mas caminham conosco. Isso, sim, é uma sociedade baseada em forças matriarcais e ancestrais.
Encerro agradecendo a Obá, aos ancestrais e às entidades por esse movimento tão poderoso, que me abençoa e me permite materializar uma nova possibilidade de ação coletiva.
Este é um conteúdo opinativo. O Desenrola e Não Me Enrola não modifica os conteúdos de seus colaboradores colunistas.