Os jovens estão sim capacitados, querem sim trabalhar e sabem sim se organizar.
Ao andar nas ruas podemos observar o aumento de trabalhadores “informais”, muitos jovens com mochilas nas costas trabalhando em meio a chuva e muitos motoristas de aplicativo utilizando “táticas” para ampliar seu ganho mensal, a realidade do trabalho está em mudança, não só no Brasil como no mundo, a ideia de que a burocracia e o envolvimento do Estado no campo do trabalho são um problema estão mais ferrenhas e os brasileiros vem sofrendo um desmonte do que conhecemos um dia como “realidade do trabalhador”.
Buscando ressignificar suas histórias, dar um novo rumo a sua vida ou até mesmo deixar de passar por situações violentas, trabalhadores das periferias acabam construindo seus negócios individuais ou aderindo ao movimento dos coletivos que geram trabalho (neste caso em especial existe uma grande presença de jovens e do meio cultural).
Pensando nisso e em outras questões, a pesquisa financiada pela FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e em parceria com Ação Educativa, São Mateus em Movimento e Bloco do Beco, a Coletiva Jovem se define enquanto pesquisa-ação e vem ao longo de mais de 2 anos pesquisando dentro da periferia e mais recentemente sendo implementada.
A Coletiva Jovem entrevistou 208 jovens empreendedores e participantes de coletivos de 16 a 29 anos das Zona Sul e Leste, os dados finais mostraram que 50,5% fazem parte de coletivos / cooperativas, estes procuram gerar trabalho e renda a partir de suas ações.
Os empreendimentos correspondem a 30,8% dos entrevistados e são iniciativas construídas individualmente ou não e direcionadas ao comércio e negócios. Os dados mostram que 18,8% destes jovens também participam de coletivos.
O boletim explicativo com dados detalhados que está disponível no site da Coletiva, ainda explicita que existem 3 principais segmentos nesses coletivos e empreendimentos: cultura, moda e educação. Menos da metade se consideram formalizados, 82% precisam acumular mais de um trabalho para conseguir manter sua renda mensal e 62,5% têm como “sede” a casa de algum dos integrantes.
Como desvantagem principal os coletivos apontam a insegurança com a renda mensal, já os empreendimentos apontam não terem direitos associados ao trabalho.
Mas o que tudo isso explica sobre histórias e identidades?
Bem, nos primeiros dados que apresentei aqui já pode-se ver questões como a construção em conjunto, o lugar do jovem nessa história e no mercado de trabalho (parte desses jovens construíram seus próprios negócios a partir de situações difíceis ou com o impulso e planejamento de conseguir empregar seus amigos e explorar algum conhecimento que possuíam, por vezes conhecimentos com fundo afetivo que tem ligação com aprendizado familiar e coletivo).
Isso nos leva a refletir não somente sobre como esses jovens estão sim querendo trabalhar e possuem sim conhecimento para o mercado, bem como precisam de oportunidades para viverem seus sonhos e políticas públicas podem transformar essas realidades complexas e exaustivas de acumulação de trabalho, ausência de direitos, entre outros.
Observar alternativas que buscam fortalecer trabalho e renda na periferia é analisar a contramão as políticas de um Estado que nos largou, a Coletiva Jovem traz não só os dados como uma possibilidade de mudança, mas a participação ativa de jovens em rede como uma possibilidade de transformar a narrativa, os jovens estão sim capacitados, querem sim trabalhar e sabem sim se organizar.
Acreditamos ser possível construir políticas públicas com a participação jovem e que visem garantir direitos básicos, bem como no “nóis por nóis”, e as redes que se formaram na periferia ao longo dos anos como forma de resistência. Eu acredito na Zona Sul e Zona Show como polo cultural, resistente e de luta.
Nós podemos, juntos, podemos e eles sabem disso, por isso nos falaram que é difícil convivermos, mas nós provamos todos os dias que isso é mentira.
E aí, que tipo de trampo você sonha que nossos jovens acessem?
Tô no ponto, hora da facul
“Santo Amaro”, “Campo Limpo”, ” Ângela”
Cadê o Capão? Chegou!
Subo e acompanho a cena
Passa o Hospital, passa o terminal
Passo perto da Santos Mártires
Essa muda a quebrada sem igual
Tô de boa, passo em frente à 1daSul
Lembro do Ferréz, Racionais, TSG
Eu tô diante da História, tru
Saulo VilaNova