É muito provável que não prestamos atenção nesses sinais de conexão, ou do que quiserem chamar.
Essas conexões podem acontecer na leitura de um livro ou o socorro inexplicado de algum desconhecido ou amigo que aparece naquele momento difícil simplesmente para nos ajudar, sem que tivéssemos pedido.
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São várias situações inusitadas que poderia descrever aqui, porém, só utilizei esses exemplos para ilustrar a ideia e dizer que, para algumas pessoas isso seria só coincidência, para outras, mais sensíveis e atentas, nomearia de sincronicidade, intuição ou até mesmo ajuda espiritual. E porque não um cuidado ancestral?
Já aproveitando essa introdução para compartilhar situações vivenciadas por mim que vou discorrer na escrita deste artigo. Elencaria como conexões espirituais ou ajuda ancestral, o que importa é que tudo tem haver com o amor e cuidado que recebemos, seja no físico ou metafísico.
Sempre procurei entender meu passado, minha infância, a educação que recebi e a forma que fui criada. No fundo, sentia um vazio gigantesco por não saber quase nada sobre meus pais e antepassados, só as poucas história que tive oportunidade de ouvir da minha mãe, Rosa, onde escrevo um pouco sobre ela em alguns capítulos do livro “Obará – Escrevivências Coletivas de Autocuidado”. ]
Também aproveito para compartilhar aqui um pouco sobre ela com vocês.
Reconheci a forma de vida de minha mãe, também descrita em um dos livros indicados na oficina de Escrita de Si, conduzida pela Bianca Santana, já citada aqui anteriormente. Foi uma experiência maravilhosa, me senti muito sintonizada e conectada aos meus ancestrais. Obtive algumas respostas e tudo fez muito sentido para mim.
Neste livro que se chama “O Espírito da Intimidade”, de Sobonfu Somé, a autora nos proporciona ensinamentos ancestrais africanos sobre maneiras de se relacionar. Foi para mim uma daquelas sincronicidades e intuições bem poderosas que mostram muito o que temos a aprender com os ancestrais e nos conhecermos para nos fortalecer.
Minha admiração por minha mãe é notória nos meus relatos no livro que escrevi. Sua força, presença e inteligência foram importantes para mim, pois vivíamos em um ambiente hostil e perigoso, pois na periferia o dia a dia era muito violento e nada fácil para uma mulher preta e viúva na década de 70, com quatros filhos pequenos. Mantê-los e educá-los como ela se propôs a fazer era muito complicado.
Intuo que ela teve muito apoio de forças ancestrais poderosas e invisíveis aos sentidos físicos e que esteve presente durante toda a sua trajetória, acolhendo suas dores, fraquezas e ainda lhe dava força para manter um comportamento firme, obstinado com os filhos e para si. Não perdia o hábito de manter o cuidado com sua aparência elegante, bonita e vaidosa como uma filha de Oxum.
Construiu uma vida digna e com um certo bem estar, mesmo com todas as adversidades com a pobreza que era presente nas nossas vidas. Contrariando as normas e regras sociais criou seu próprio mundo, suas próprias regras na vida que lhe foi imposta.
Fui criada por esta mulher admirável com características do cafuso, a mistura negra e indígena. Suas características amorosas, sua beleza, inteligência e força não passavam despercebidas. Era uma mulher preta lindíssima. Com seu bom gosto e gestos requintados, causava inveja nas mulheres e muito desejo nos homens, e por isso, muito admirada e também muito perseguida, mas adentrar os motivos disso dá um outro artigo.
O que importa nesse momento é descrever o quanto ela viveu sua própria vida, suas crenças e os costumes de seus antepassados. Mesmo com todas as dificuldades e perseguições sofridas, não deixava de cultuar sua fé na Umbanda e nos guias.
Ao escrever sobre ela sinto uma conexão muito forte com todas essas experiências. Minhas memórias me levam a minha infância, quando às sextas feiras eram religiosas, pois cuidava do terreiro para que a gira de Pretos Velhos, Caboclos e demais entidades chegassem num ambiente limpo, cuidado, organizado, florido. Preparado para quando iniciasse a gira, as entidades fossem recebidas de forma amorosa para dar seus passes, ensinar suas rezas, curar as feridas dos assistentes que lhes procuravam pedindo ajuda.
Também posso dizer que nos protegiam pelos caminhos da sua vida, da minha infância e na pré-adolescência, como também de meus irmãos.
Convivi e senti a magia da cura e do socorro dos males espirituais que me afetaram e que eles sempre estavam lá para nos ajudar e curar. Ainda tive a ajuda de minha avó Ambrósia (madrasta de minha mãe) com suas rezas e benzimentos que tirava da cama com suas rezas e ervas me curando do mau olhado.
Finalizo este artigo com a certeza de que muito do que tenho escrito e trazido para nossas sessões podem estar sendo intuídos por estes antepassados que precisam ser lembrados, amados e valorizados, pois nos deixaram um grande legado.
Hoje sigo alguns passos desta mãe e mulher que me marcou a vida de forma profunda e amorosa, deixando sua história como exemplo para ser seguido e segue me ajudando a superar minhas dores.