“Que mulheres são essas?”: socióloga analisa propostas de Lula e Bolsonaro para questões de gênero

Edição:
Ronaldo Matos

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A socióloga Anabela Gonçalves traz um panorama sobre as propostas dos candidatos à presidência com relação às demandas sociais das mulheres negras, indígenas e quilombolas.

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Durante o mês de setembro, o Desenrola irá realizar entrevistas com especialistas que irão analisar os planos de governo de candidatos à Presidência e ao Governo do estado de São Paulo. O ponto de partida para produção das análises são os marcadores sociais que atravessam a vida das mulheres, povos indígenas, população negra, periférica e LGBTQIA.

Na primeira entrevista para analisar o plano de governo dos dois principais candidatos à presidência, Lula (PT) e Bolsonaro (PL), a socióloga Anabela Gonçalves traz um panorama sobre as propostas destinadas às mulheres. Para ela, em geral, os planos de governo apresentam um aspecto genérico e são norteadores das visões ideológicas de cada candidato.

“Temos dois candidatos que apresentam planos de governo distintos. Bolsonaro apresenta um plano liberal de políticas focadas no crescimento econômico. O outro candidato, Lula, apresenta propostas mais humanitárias levando em consideração os diversos grupos sociais que compõem nossa nação”

aponta Anabela Gonçalves, que também atua nas áreas de gênero, políticas públicas e cultura nas periferias.

A socióloga aponta que sente falta de coerência do atual presidente, pois em suas propostas cita o direito à liberdade religiosa “quando ele mesmo não criou nenhuma medida para proteção das religiões de matrizes africanas, que foram muito atacadas durante seu governo”, aponta.

Outro ponto observado pela especialista, é que no plano de governo do candidato Lula, ela nota coerência, mas não identifica como tudo que o candidato propõem será garantido: “para mim parece uma incógnita”, avalia.

“Mulheres aparecem de forma mais ampla nos planos de trabalho, relacionadas ao empreendedorismo, participação no parlamento, inclusão produtiva e combate às violências, mas a pergunta é: que mulheres são essas?”

questiona Anabela sobre marcadores sociais ao pensar nas demandas das mulheres.

Segundo a socióloga, no plano do candidato à reeleição, Jair Bolsonaro, não é possível visualizar em poucas linhas quais mulheres estão sendo tratadas. “Não são identificadas se fala de mulheres pobres, desfavorecidas ou mães, se são negras, indígenas, quilombolas, ribeirinhas ou camponesas. Não aparecem de fato nomeadas e suas necessidades específicas”, afirma.

Em sua análise, a socióloga aponta que o candidato à reeleição, Bolsonaro, não muda sua atuação política que atrela mulheres à família e à maternidade.

Ela observa que o candidato à eleição Lula, apresenta quem são as mulheres e a necessidade de políticas públicas para essa população atrelada a gênero, raça e classe. “Tanto no que diz respeito a políticas que foram interrompidas no atual mandato, como a intensificação de lutas históricas”, coloca Anabela.

“Na proposta de Bolsonaro, mulheres são um termo genérico e muitas vezes o documento fala sobre os cidadãos e esquece das cidadãs, que nunca se apresenta envolto de conceitos importantes como raça, gênero e classe”, pontua a socióloga.

Anabela acrescenta que oque o candidato a reeleição Bolsonaro, chama de valores e princípios centrais do seu plano de governo está atrelado a ser contrário ao aborto, apresentando o termo nascituro na mesma linha que aborda o direito à propriedade. “Para mim não dá para um candidato escrever em suas propostas ‘liberdade é tão importante quanto a própria vida’ e ignorar o direto ao aborto”, argumenta. 

“Especificar políticas e seus participantes é mais que necessário e combate um plano genérico de trabalho, como se a desigualdade pudesse ser combatida de forma igual”

afirma Anabela sobre a necessidade de se considerar raça, gênero e classe nas tomadas de decisões e criações de políticas públicas para a população.

A intelectual aponta que nas propostas do candidato Lula, se considera o genocídio como algo existente. “Dar rosto às mulheres, principalmente negras, em um plano de governo, é mais que necessário nos tempos atuais”.

Anabela reforça que é preocupante a relação genérica ao se tratar das mulheres, que ignora o racismo e as violências que alguns grupos sofrem.

“Para mim aí está o grande perigo, todos falam de trabalho e renda, educação, infraestrutura, mas só em um plano se percebe esses projetos envolto das relações de desigualdade e que leva em consideração a diversidade social”, finaliza.

Machismo e política nas redes sociais

Analisamos 40 publicações com o maior número de engajamento e compartilhamentos no twitter nesse período envolvendo menções às palavras “mulheres, família e Bolsonaro”, uma referência direta ao plano de governo do candidato à reeleição.

Em 27 publicações, que renderam mais de 6 mil compartilhamentos no twitter, Bolsonaro conta com uma base de aliados que transformam o debate sobre machismo e misoginia, em uma tentativa de mostrar um presidente preocupado em convocar as mulheres para pensar estratégias de fortalecimento dos laços da família, criando assim uma semelhança com a análise da socióloga sobre o plano de governo de Bolsonaro.

Do outro lado, figuras públicas e políticos opositores da esquerda protagonizam 13 publicações com mais de 35 mil compartilhamentos no twitter, onde reforçam mensagens de apoio às mulheres que atuam como jornalistas, artistas e apresentadoras de programas, que foram alvo de discursos de ódio do Bolsonaro. 

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