Os brechós vêm crescendo a cada dia e com preços que chegam a ser 60% mais baratos em relação ás lojas de grandes marcas. Além de impactar positivamente o meio ambiente, essas iniciativas incentivam o consumo consciente de roupas que devido a uma lógica de mercado estão se tornando descartáveis neste cenário. Mas qual é o papel da juventude periférica nesse processo?
Um dos grandes aliados dessa prática dos brechós têm sido as redes sociais, por meio de plataformas como Facebook, Instagram e YouTube, esses jovens empreendedores sociais conseguem expor, negociar preços e agendar as entregas das suas peças, um processo bem diferente se compararmos com as tradicionais lojas virtuais que contratam serviços dos correios.
Outra forma de construir uma relação com o cliente nos brechós é o fato da entrega das peças acontecerem em sua grande maioria em pontos estratégicos de grande circulação de público, como as catracas de trens e metrôs.
A jovem Samara Santos, 21, moradora do município de Embu das Artes atua a cerca de 3 anos nesse cenário organizando feiras como a “Brechóletivos” que concentra 25 brechós das periferias de diferentes regiões da cidade e recebem um público de 150 a 200 pessoas.
“Quando iniciei foi mais por questões de rentabilidade, mais para complementar uma renda e depois virou a minha única renda. Para conseguir conciliar as trocas que eu fazia no Facebook, eu juntei todas elas num só objetivo então eu criei o Instagram”, descreve ela sobre o processo inicial de construção do negócio.
Com o passar do tempo, a feira de brechós ganhou outros contextos e objetivos. “Hoje nós estamos num processo de trazer o brechó para que as pessoas entendam que estamos querendo trazer a conscientização do uso das peças, o quanto que isso é importante para o meio ambiente e o quanto que é importante também a gente pagar barato por elas, porque o brechó é isso, é se vestir bem e pagar barato.”
Os brechós também nascem com o intuito de contrapor a lógica do Fast Fashion, termo utilizado para definir a constante renovação das peças vendidas no varejo da moda, que gera consumo intenso e competitivo entre as grandes redes e grifes de moda.
“Pelas roupas serem antigas e duradouras, contribui muito para que o uso dessas roupas vendidas no varejo diminuísse. Todos os brechós têm essa causa e contribuição com o meio ambiente”, enfatiza a produtora de brechós.
Com toda a sua dedicação para produzir as feiras, articular e mobilizar públicos para os eventos, a jovem faz uma reflexão espontânea sobre o papel do empreendedorismo social na sua atuação. “Eu nunca tinha parado para pensar ‘ahhhhhh o brechó é um empreendedorismo social’. Daqui para frente coisas serão pensadas, mas esse contato com o termo empreendedorismo social veio tipo agora”, confessa.
Para a facilitadora e empreendedora Alânia Cerqueira, criadora da Macambira Sociocultural, uma pequena empresa de educação empresarial atuante nas periferias de São Paulo, o empreendedor social não vê somente a oportunidade, mas sim o propósito do seu negócio.
“Quando esse empreendedor jovem ou mais maduro e principalmente o jovem que tem de a ousar mais, e isso possibilita desses jovens juntar esses códigos, esses signos e qual é o propósito disso? É isso que vai fazer principalmente esse jovem empreendedor se manter e engajar outras pessoas”, explica ela.
Cerqueira enfatiza que para isso acontecer com o jovem outro processo importante precisa acontecer: a compreensão dos códigos de investimento. “Ele compreendendo isso, vai ver um universo de possibilidades e investimentos e de recursos financeiros, materiais e de saberes que estão disponíveis para ele acessar”.
Segundo ela, a presença e a conexão das juventudes com as redes sociais se tornam um fator geracional determinante que pode fazer toda a diferença para o sucesso do negócio. “Os jovens tem um acesso maior as redes sociais, a esse mundo virtual que às vezes o empreendedor mais maduro não tem, então isso ousa, dá uma segurança, um espaço e uma vastidão para esse jovem empreendedor ousar mais”.
Confira a reportagem
#PenseGrandeSuaQuebrada é um esforço coletivo do Programa Pense Grande, iniciativa da Fundação Telefônica Brasil , em parceria com o Alma Preta Desenrola E Não Me Enrola, Historiorama Periferia em Movimento e a Agência Mural de Jornalismo das Periferias com o objetivo de democratizar a linguagem e o acesso das juventudes periféricas ao ecossistema de #EmpreendedorismoSocial