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Rumo ao Enem, movimento ‘4G para estudar’ apoia estudantes das periferias

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Campanha quer garantir compra de pacote de dados 4G para 5.000 estudantes das periferias e favelas de todo o país, que estão se preparando para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

Aluno da Rede Ubuntu utiliza o celular para pesquisas na internet durante o estudo para o Enem. (Foto: Arquivo Pessoal)

Fazendo uma provocação sobre o direito à internet para estudantes de escolas públicas nas periferias, o movimento ‘4G para estudar’ surge por meio de uma rede de Cursinhos Populares que criaram uma plataforma de doações online, onde pessoas interessadas em contribuir podem doar um valor equivalente a um plano de pacote de dados 4G, que será entregue a um morador da quebrada que está se preparando para o ENEM e enfrentando dificuldades para dar andamento aos estudos, devido à má qualidade da internet nos territórios periféricos.

O movimento irá impactar estudantes de diversos contextos periféricos do Brasil, como alunos da rede pública de ensino nos estados de Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo. Nesses estados, cursinhos populares atuam em diversas frentes, com o objetivo de garantir que jovens das periferias tenham uma experiência qualificada para se preparar para o ENEM, visando potencializar o número de moradores da quebrada que acessam o ensino superior.

Uma das iniciativas que compõem o movimento ‘4G para estudar’ é a Rede Ubuntu, coletivo de educação popular criado em 2013 por um grupo de educadores e estudantes universitários da zona sul de São Paulo. Segundo Rafael Cícero, coordenador pedagógico da rede Ubuntu, a participação de cursinhos de diversas regiões brasileiras é uma forma de garantir que o projeto de fato democratize a internet em vários cantos do país.

A estratégia que os cursinhos encontraram para distribuir a internet para os alunos foi de adquirir chips, comprar planos de dados, e para alunos que já tem chips, será entregue apenas o plano de dados mensal. A escolha da operadora para compra dos chips terá um mapeamento por região, verificando qual território tem maior qualidade de sinal é por consequência maior alcance.

Os cursinhos também pretendem arrecadar de maneira mensal fundos para impactar 5.000 mil alunos selecionados para receber os pacotes de dados. De acordo com Cícero, o movimento também quer chamar a atenção de empresas de telecomunicações para apoiar essa mobilização. “Para esse momento importante que o país está vivendo, precisamos cobrar as operadoras para que elas se disponibilizem e contribuam com esse debate”. Ele ressalta que a pandemia expôs a fragilidade do sistema público de educação. “Mesmo sem pandemia, os alunos aprendem muito pouco na escola, daquilo que o Enem e o vestibular cobra”.

Segundo a Anatel, somente na cidade de São Paulo, município onde a Rede Ubuntu atua, há mais de 24 milhões de celulares. Destes, sete milhões são utilizados no formato pré-pago e 17 milhões são utilizados como pós-pagos. A plataforma Telebrasil afirma que para atender essa demanda de usuários de smartphones há mais de sete mil antenas de celular espalhadas pela cidade. No mapeamento mais recente realizado pela Assossiação Brasileira de Telecomunicações, as antenas que distribuem o sinal de internet para celular estão concentradas em sua maioria na região central da capital paulista, ficando as periferias com uma taxa reduzida de cobertura de sinal.

Pensando na imensa desvantagem que seus alunos já enfrentavam antes da pandemia chegar às periferias e levando em consideração o quanto essa condição de vulnerabilidade aumentou, a Rede Ubuntu vem criando estratégias para ajudar seus alunos. “Muitos dos nossos alunos iam a biblioteca estudar durante a semana, iam até o céu, utilizavam o computador da biblioteca. Agora sem poder ir presencialmente nesses espaços, eles também sofrem mais por falta de condições estruturais para estar estudando”, explica o coordenador pedagógico.

Mesmo sabendo de todas essas desigualdades estruturantes que os alunos estão expostos, Um dos caminhos alternativos para manter a realização das aulas foi a oferta de conteúdos digitais didáticos para os alunos, seguindo o cronograma que já seria passado durante os encontros presenciais, que eram realizados sempre aos finais de semana.

“A gente aderiu ao Google sala de aula, depois começamos arquivar todo material de cursinho e formação de aula, onde os alunos têm acesso por meio de email e os canais deles, logo depois a gente começou oferecer vídeo aulas, por meio do Youtube”, relata Cícero, afirmando que as vídeo aulas podem ser acessadas a qualquer momento.

Percebendo que muitos alunos não estavam acessando o material por falta de internet, a Rede Ubuntu enxergou no movimento 4G para estudar uma forma de democratizar o acesso à internet para os alunos durante a preparação do ENEM.

“O benefício da internet é que eu posso pesquisar para não deixar passar em branco”

Gerontologia, nutrição ou medicina – essas são as três opções de curso que Caio dos Santos, 24, morador da periferia do Campo limpo, zona sul de São Paulo, pretende cursar com ajuda do Enem e com o apoio da Rede Ubuntu. Essas se tornaram suas motivações para se adaptar a nova rotina de estudo e organização durante a pandemia.

“Nesse meio tempo, bem no começo eu tava sem internet, então eu fiquei estudando só por meio de livros mesmo”, conta Santos, afirmando que os livros traziam muitas informações, porém não sanava todas suas dúvidas, e assim a falta de internet colaborava com um acesso limitado às informações, quando se remete a estudar para um prova que abrange todo conteúdo do ensino médio.

“O benefício da internet agora com qualquer dúvida que eu tenho, ou alguma dificuldade de entender o exercício, eu posso pesquisar pela internet para eu não deixar passar em branco, porque é o que acontecia muito. Eu estudava com livros e algumas coisas ficavam em branco e eu precisava anotar para sanar essas dúvidas com alguém ou em uma próxima tentativa de fazer os exercícios”, relembra o estudante.

Sobre suas perspectivas para o dia da prova que não está definido ainda, devido ao adiamento por causa da pandemia do coronavírus, Santos se diz confiante por ter mais tempo para estudar, estar usando bons hábitos de organização que vem praticando e procurando usar o tempo a seu favor.

“Teve uma semana que era para entregar as atividades e minha internet não queria funcionar”

Outro aluno da Rede Ubuntu é Ryan Roris, 17, morador do Jardim das Oliveiras, bairro localizado em Itapecerica da Serra. Durante a pandemia, o jovem divide sua rotina entre estudar para terminar o terceiro ano do ensino médio e se preparar para o Enem. Ambas as atividades necessitam de internet, porém ele vem de adaptando as oscilações de Inal para entregar suas atividades.

“Teve uma semana que era para entregar as atividades e minha internet não queria funcionar por nada. Eu tive que usar meus dados móveis para passar pro notebook”, conta o estudante, relatando o recente incidente de ficar sem internet para manter a rotina de estudos.

“E também to pesquisando alguns cursos on-line, mas não é nada certo porque eu tenho que ficar indo na casa da minha irmã, por conta do notebook, por que a internet lá é melhor, e assim tá dando pra continuar os estudos durante esse caos”, descreve Roris, relatando a importância do apoio familiar e do acesso ao notebook para realizar as atividades escolares.

Para além da internet de má qualidade, outro impacto negativo na rotina de estudos do aluno é a falta de concentração. “É bem difícil ter total concentração. Às vezes minha mãe me chama para fazer alguma coisa, às vezes as pessoas aqui de casa começam a falar e você acaba desconcentrando. Eu tento sempre manter o foco, por mais difícil que seja”.

Com poucas esperanças sobre o futuro nos estudos, Roris sabe que não é só seu esforço que basta. Para o estudante, ainda existe uma barreira chamada desigualdade. “Se a tecnologia tá avançada deveria não ser apenas para as pessoas que tem mais classe, que tem mais condições. E sim, também aqui na periferia, porque a minha condição não quer dizer que eu não possa chegar lá encima também, assim como alguém que tenha todos os recursos”.

Para continuar na luta por uma boa nota no Enem, Roris diz que busca forças nos ensinamentos e vivências dos seus pais. “Aqui em casa mesmo, a única que tem um diploma de faculdade é minha irmã. Meus pais sempre falam pra eu estudar e ter um diploma e uma vida boa sabe? Porque eles não completaram o ensino fundamental e eles não querem isso pra mim, querem um processo bem diferente do deles e melhor”, finaliza o estudante.

Direitos invisíveis: além da covid-19, moradores de Sapopemba enfrentam pandemia de desigualdades

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Na Fazenda da Juta, um dos bairros que fazem parte do distrito de Sapopemba, zona leste de São Paulo, moradores afirmam que a chegada de habitantes cresce cada vez mais e o poder público não faz nada para organizar a moradia dos novos moradores do território. Antes e durante a pandemia de coronavírus, a organização comunitária de luta por moradia surge como um dos únicos instrumentos democráticos e participativos capaz de oferecer à população local uma orientação em relação ao desenvolvimento da vida no bairro. 

A Fazenda Da Juta é um bairro composto por 100 quadras, divididas em 3.318 lotes, onde vivem aproximadamente 5.000 famílias, de acordo com a Subprefeitura de Sapopemba. Dentro do bairro existem várias áreas ocupadas, onde vivem os moradores que entrevistamos.

Em uma dessas áreas há cerca de 300 famílias, com cinco a seis membros no núcleo familiar de acordo com Viviane Paulino, 46, líder comunitária do território. “Nas áreas ocupadas tem cerca de 300 famílias de baixa renda de cinco a seis pessoas nas famílias, que no momento estão sem trabalho dependendo do nosso trabalho de arrecadação, e conscientização, pois muitas não conseguem estar o tempo todo em casa, então a gente tenta ajudar as pessoas a ficarem de máscaras, e tomarem as medidas possíveis”.

Com mais de 21 mil habitantes por quilometro quadrado, a Subprefeitura de Sapopemba possui o maior indicador populacional entre todas as subprefeituras da zona leste de São Paulo, de acordo com dados do Censo de 2010. Dez anos depois de o estudo ser realizado, o cenário da pandemia de coronavírus expõe a precariedade da manutenção de direitos essenciais básicos para os moradores da região, como moradia, geração de renda e trabalho, saúde e assistência social ao idoso.

Há cinco anos morando na Fazenda da Juta, o comerciante ambulante Valdir Correia da Silva, 61, afirma que mesmo diante da escassez de serviços públicos na região, a quantidade de novos habitantes cresce cada vez mais e que o poder público não faz nada a respeito.

“Chega gente o tempo todo procurando lugar aqui, e só vai aumentando e aumentando as famílias por aqui. E agora nesse momento é que dá pra ver que as casas não têm estruturas nenhuma para manter as pessoas em isolamento”, conta o morador.

Por estar acima de 60 anos, o senhor Correia se enquadra no grupo de pessoas que estão mais suscetíveis a pegar a covid-19. “Eu, já sou do grupo de risco por ter mais de sessenta anos, mas vou te dizer que não dá pra ficar o dia todo em casa não, eu moro em um barraco de madeira e venho para dormir só, passo o dia fazendo bicos na rua”, relata.

Ao descrever esse cenário, o senhor Correia descreve nitidamente as condições de moradia, geração de renda e exposição ao contágio de covid-19, enfrentadas por ele e por outros moradores no território. Em paralelo a esses relatos da vida real, o boletim mais recente com dados de óbitos da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo apontou 245 mortes causadas pelo novo coronavírus na região de Sapopemba, um aumento de 19% em relação ao último comunicado oficial que apontava 205.

“Estou sem trabalhar agora né, porque eu trabalho como diarista, aí eu estou sobrevivendo com as cestas que eu recebo e com a ajuda do auxílio emergencial, mas ainda é muito difícil, porque eu moro com meus seis filhos num cômodo só, não dá pra ficar o tempo todo aqui com eles”, comenta Katia Cilene Dos Santos, 38, outra moradora da ocupação Fazenda da Juta que é diarista e está afastada neste momento do trabalho. Ela também denuncia a falta de amparo do Estado.

“Caso eu venha a ser contaminado como é que eu vou ter acesso ao tratamento?”

Uma das preocupações reveladas pelos moradores da Fazenda da Juta está baseada numa dúvida sobre o que vai acontecer com eles, caso sejam contaminados pelo novo coronavírus. 

“Tenho medo de ser contaminado, porque eu sei que na condição que está todos os hospitais e do lugar de onde eu venho, caso eu venha a ser contaminado como é que eu vou ter acesso ao tratamento? Sei que não vou ter, porque eles priorizam as pessoas mais ricas da cidade e que podem pagar”, desabafa Correia.

Em meio a esse cenário de desconfiança e incerteza em relação ao suporte que os equipamentos públicos de saúde darão aos moradores em caso de contágio, os hospitais municipais de São Paulo apresentam uma taxa de ocupação das unidades de tratamento intenso (UTI) superior a 80%, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde.

“É muito preocupante essa doença, me preocupa muito, porque a gente tem que ficar isolado, mas ao mesmo tempo a gente tem que sair para conseguir alguma coisa, e se pegar a doença? o que faz depois, eu tenho seis filhos, estou com muito medo”, ressalta Kátia, descrevendo o nível de preocupação que ela administra em relação ao bem estar dos filhos.

“Meu sonho é ter uma casa boa e própria para meus filhos terem um cantinho deles”

O direito à moradia digna foi reconhecido e implantado como condição para dignidade da pessoa humana, desde 1948, com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, foi reafirmado na Constituição Federal de 1988 pela Emenda Constitucional nº 26/00, em seu 6º artigo. Mas na prática, ter uma casa própria na periferia ainda é um sonho para muita gente, inclusive os moradores da Fazenda da Juta.

“Meu sonho é ter uma casa boa e própria para meus filhos terem um lar deles, cantinho deles, e a gente não ter que ficar dependendo das pessoas, e nem ficar passando por situações que a gente não precisa passar. Meu sonho é ter uma casa, e eu vou ter, tenho muita fé em Deus que eu vou ter”, enfatiza a chefe de família.

Para Valdir o sonho da casa própria, também representa o desejo de poder voltar a conviver com os filhos. “Meu sonho é uma casa minha, seria uma boa para mim, eu iria poder voltar a conviver com os meus filhos que vivem com a avó deles agora, porque eu sou viúvo e não dá para morar comigo porque eu moro em um barraco de madeira”, explica o morador.

“As políticas habitacionais não se limitam a construção de quatro paredes e um teto para as pessoas morarem”

De acordo com o professor do Instituto das Cidades no Campus da Zona Leste da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), Anderson Kazuo Nakano, as políticas habitacionais envolvem diversas ações dentro do território e não só conceder uma moradia digna às pessoas.

“As políticas habitacionais não se limitam à construção de quatro paredes e um teto para as pessoas morarem. As políticas habitacionais devem ser entendidas como um conjunto com vários tipos de atendimentos que envolvem a urbanização de áreas urbanas precárias, a regularização fundiária de imóveis irregulares, a produção e distribuição de lotes urbanizados, o aluguel subsidiado para populações de baixa renda em moradias do poder público ou de proprietários privados, a reforma de moradias existentes, o aproveitamento de edificações e terrenos ociosos, dentre outras ações públicas”

define Kazuo.

O professor também pontua a questão de que muitas políticas públicas que chegam ao território não têm continuidade. “Outro problema em relação à presença das políticas públicas, urbanas e habitacionais, em territórios das periferias é a descontinuidade no tempo e no espaço. Isso significa que aquelas políticas sofrem com interrupções e não resolvem os problemas estruturais que exigem ações de médios e longos prazos que levam décadas. Significa também que várias daquelas políticas públicas, urbanas e habitacionais, não abrangem a totalidades dos territórios periféricos”.

“Não funciona impor o isolamento social onde os serviços sociais básicos possuem mau funcionamento”

Kazuo afirma que não funciona impor o isolamento social sem pensar nas pessoas que vivem em moradias precárias e superlotadas. “Não funciona impor o isolamento social em moradias inadequadas, insalubres, superlotadas, precárias e desconfortáveis, localizadas em bairros onde os serviços, equipamentos e infra-estruturas urbanas e sociais básicas são insuficientes e possuem mal funcionamento.”

Ele destaca que a chegada da pandemia do Covid 19 no Brasil mostrou a perversidade das desigualdades sociais. “A chegada da pandemia no Brasil, nas cidades brasileiras, mostrou a perversidade das desigualdades socioespaciais estruturais que formam as nossas cidades”.

Segundo o professor, o Brasil não consegue como sociedade, garantir os recursos básicos necessários para que a população de baixa renda possa enfrentar com resiliência esse momento de crise profunda e os graves impactos da pandemia.

Ele finaliza fazendo uma reflexão sobre a questão do sonho da casa própria está ligada a uma construção capitalista de propriedade privada. “É preciso refletir criticamente sobre essa idéia do ‘sonho da casa própria’ porque ela é uma construção ideológica forjada historicamente ao longo do século XX para reforçar a ideia da moradia como propriedade privada individualizada e, portanto, como uma mercadoria transformável em capital privado que se sobrepõe à idéia da moradia como direito social”.

“Creio que a questão mais importante é como efetivar o direito à moradia digna e adequada, principalmente para aqueles que não possuem poder econômico para acessar essa moradia, frente à especulação imobiliária e no mercado de aluguéis residenciais”.

finaliza o professor.

Websérie retrata moradores da quebrada que refletem sobre o mundo pós-pandemia

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O que será do novo mundo? É a partir dessa inquietação que a Fluxo Imagens produziu a websérie ‘Cartas para o Futuro’, que retrata uma narrativa futurista, a partir do olhar e vivência de moradores das periferias da zona sul de São Paulo, contando como eles imaginam o futuro da quebrada após a pandemia.

Reprodução da websérie Cartas para o Futuro, produzida pela produtora Fluxo Imagens. (Foto: Fluxo Imagens)

Distribuída pelo canal do IGTV da produtora Fluxo Imagens, a Websérie ‘Cartas para o Futuro’ vem chamando a atenção pelo tom de realismo do cenário e a sinceridade dos personagens em relação às perspectivas de futuro sobre o pós-pandemia, um momento ainda incerto e repleto de inseguranças relacionadas às condições de vida da população periférica e a nova cultura de convivência.

Maxuel Melo, diretor de fotografia da Websérie e um dos fundadores da produtora, explica que diante do cenário de incertezas causado pela pandemia de covid-19, o novo coronavírus, cada episódio busca investigar o que há de mais sincero no pensamento do morador da quebrada. “A gente decidiu perguntar para pessoas comuns o que elas acham o que será o futuro e deixar uma mensagem mesmo do passado para o futuro”, conta o produtor audiovisual.

Confira o primeiro episódio da websérie Cartas para o Futuro.

Ele resume o propósito da Websérie afirmando que o objetivo era produzir um registro atual para que seja eternizado em nossa memória, colocando o sujeito periférico como protagonista dessa história.

Retratar moradores comuns e o seu cotidiano da periferia e dar ênfase a sua sabedoria são os pontos de partida para a produtora se dedicar aos registros audiovisuais. “Entendemos que todas essas pessoas têm um conhecimento, ela tem uma opinião, e que esse conhecimento também é válido. É necessário retratá-lo”, diz.

Confira o segundo episódio da websérie Cartas para o Futuro. 

A escolha de cada personagem da ‘Cartas para o Futuro’ tem uma relação conceitual com o fato do morador da quebrada ainda não ter um protagonismo merecido no cenário da produção audiovisual brasileira. “O nosso povo é muito escasso de protagonismo, quando a gente é criança, a gente não se identifica com nada, os heróis não se parecem com a gente. O galã da TV não se parece com a gente, àquela menina da novela não se parece com a gente. Nosso cabelo é diferente, nossa pele é diferente, a gente fala diferente. Então tá aí a importância de você se identificar com algo, por isso é tão importante colocar moradores da periferia como protagonista, porque eles se parecem com a gente”, enfatiza Melo.

Em relação aos impactos do novo trabalho audiovisual, o produtor conta que nesse momento de distanciamento social o foco é reconectar as pessoas através da tecnologia. “Nos resta utilizar a tecnologia que está em nossas mãos todos os dias para nos reconectar de alguma forma, com as pessoas que a gente gosta”, finaliza Melo.

Experimentos com celular para realizar durante a quarentena

Além de difundir uma narrativa realista e futurista sobre a periferia, a Fluxo Imagens, produtora audiovisual criada por jovens moradores do Campo Limpo, zona sul da cidade, vem ocupando as redes sociais com o movimento da ‘cultura maker’, realizando oficinas que incentivam a autoconstrução de equipamentos audiovisuais e soluções criativas para suprir a necessidade de usar equipamentos de fotografia com grande valor de mercado.

A história da produtora começa com uma câmera Cybershot na mão de Maxuel e seu irmão Marcelino Melo. Em meio a poucas referências de obras e conceitos audiovisuais, os jovens moradores do Campo Limpo, zona sul de São Paulo, começam a contar histórias de artistas locais com o intuito de democratizar a produção audiovisual dentro da quebrada.

“Conforme a gente ia se aventurando e buscando se conectar mais e mais com este universo, fomos conhecendo fazedores e fazedoras que nos possibilitaram assinar trabalhos com artistas cada vez mais conceituados. E sempre mantendo as raízes”, relembra Melo. Após oito anos de inúmeros trabalhos realizados, a produtora busca retratar a periferia com um novo imagético não só na narrativa, mas também na produção de suas próprias tecnologias.

Nesse momento de pandemia, a Fluxo Imagens firmou uma parceria com a Fábrica de Cultura de São Paulo, organização ligada a Secretaria de Cultura do Estado, para gravar tutoriais que ensinam a produção de componentes que incrementam a capacidade de filmar e fotografar com o celular, mesclando conhecimentos profissionais aplicados no cinema com as ferramentas de um smartphone.

Uma das oficinas ensina como transformar a câmera do celular em uma lente para produzir fotos macro, utilizando apenas uma gota d’água. “Eu optei por falar de assuntos simples que são fáceis de explicar e fáceis de fazer em casa também, aproveitando esse período de isolamento que a gente está infelizmente passando”, relata o Melo, destacando o seu cuidado pedagógico para facilitar a participação das pessoas, visando democratizar o conhecimento do audiovisual nesse momento de pandemia e com uma linguagem acessível para a quebrada.

“A gente sabe que a linguagem trazida por professores não é uma linguagem que a periferia fala né, então a ideia foi trazer algo com uma linguagem mais local, mais periférica, que todo mundo consiga entender, e no vídeo eu pensei bastante no público infantil e jovem”.

ressaltando a sua preocupação com o público jovem das periferias.

Muitos jovens da quebrada procuraram as redes sociais da Fluxo Imagens e de Melo para comentar sobre o tutorial de produzir fotos macro com uma gota d´água, uma delas é Alexia Lara, moradora da favela do Guian, localizado no Jabaquara, zona sul de São Paulo.

Alexia ficou contente por ser deparar com esse tipo de entretenimento em um momento que informações positivas estão escassas. Ela diz que já gravava seus próprios vídeos, mas não sabia do amplo potencial que poderia encontrar utilizando o celular. “Cheguei a achar em um momento que só conseguiria um resultado bom de vídeo se tivesse uma câmera e iluminação profissional. Coisas que não são acessíveis a todos, ainda mais no momento atual. Acredito que muita gente acaba caindo neste lugar e não se dá conta do potencial do celular”, conta Lara, relatando suas descobertas, a partir do contato com o tutorial da Fluxo Imagens.

Ela afirma que já consegue sentir a evolução dos seus trabalhos aplicando os conhecimentos obtidos na oficina. “Eu mesma senti uma evolução na gravação dos meus processos e consequentemente o alcance e valorização do meu trabalho dentro das redes sociais”.

“Dá um ânimo muito grande você ver que atingiu alguém. Todo tempo estudando fez sentido, porque eu acredito muito que informação foi feita para ser passada”, argumenta o produtor, afirmando a importância da informação quando ela gera inspiração e identificação com as pessoas.

Outra moradora da quebrada que ficou contente e surpresa com os aprendizados obtidos na oficina foi Dalila Ferreira, moradora do Jardim São Luís, zona sul da cidade. Ela reconheceu que o tutorial, além de criativo, ampliou seus conhecimento técnicos sobre audiovisual. 

“Nessa época de quarentena estamos lidando com o ócio e a produtividade, entretanto naquele momento eu decidir ver novas coisas, e o resultado foi melhor do que eu imaginei. Eu sou leiga no audiovisual, fiquei um pouco receosa de não entender, mas eu entendi tudo e até experimentei em casa, a experiência do Macro que usa só uma gota d’água, e a experiência do 3d”.

“É como se fosse um Uber de entregar cestas básicas”: jogo apoia ações solidárias nas periferias

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Projeto une tecnologia, vivências nas periferias e cultura gamer para apoiar ações solidárias de combate à pandemia de covid-19 nos territórios periféricos de São Paulo. Além de sistema de entregas, a iniciativa criou um jogo que valoriza a figura do motoboy como um ícone na luta pela sobrevivência e principalmente pela vontade de transformação social. 

Motoboy no Jardim Gaivotas, distrito do Grajaú, zona sul de São Paulo. (Foto: Dicampana FotoColetivo)

Com o alastramento de casos de coronavírus nas periferias e favelas de São Paulo, muitos impactos sociais negativos foram gerados, entre eles o desemprego, dificuldade de isolamento social e o fim do comércio informal e ambulante, causando um forte impacto na geração de renda das famílias.

Como resposta a esse cenário, várias campanhas de ações solidárias organizadas por coletivos, grupos culturais e movimentos sociais de todos os cantos da cidade deram início à arrecadação de recursos para compra e distribuição de cestas básicas, marmitas, máscaras e kits de higiene para os moradores mais afetados pela pandemia, mediante a um cadastro social de cada família.

Ao perceber que essas ações solidárias estão impedindo um colapso social gigantesco nas periferias, a moradora do Capão Redondo, Andreza Delgado, 24, integrante do coletivo Perifacon, criou o projeto ‘Sobrevivendo ao Coronavírus’, iniciativa focada em apoiar famílias de diversas regiões da cidade, conectando doadores e entregadores em um só propósito: facilitar o acesso às cestas de alimentos.

“Eu tive a ideia quando comecei a receber bastante mensagem no meu Whatsapp, por conta de contatos. Eu participava de algumas coisas com pedidos de cesta básica, então eu achei que seria legal me movimentar nesse sentido durante a quarentena”, descreve Delgado, citando os primeiros passos e motivações para criar uma ação solidária nos territórios.

O projeto atualmente tem em torno de trinta voluntários, alguns trabalhando remotamente fazendo ligações, e outros ajudando fazer compras de produtos de higiene e cestas básicas. Em abril, nos três primeiros dias de cadastro social mais de 600 famílias foram registradas. Como a procura foi além do esperado, o grupo teve que encerrar as inscrições no restante do mês, retornando somente em maio, mas novamente, nas primeiras No mês 24 horas de cadastro de moradores cerca de mil famílias foram inscritas, gerando um novo encerramento das inscrições, devido à grande demanda.

“Agora a gente tá trabalhando pra conseguir atender as outras mil inscrições de famílias, que residem em ocupações do bairro. A gente manda uma cesta básica, um kit higiene, um kit de máscara, vai quatro ou cinco máscaras, A gente também manda uma história em quadrinhos”, conta Andreza.

Mas como fazer para esses ‘kits de sobrevivência’ atravessar a cidade para atender mais de mil famílias? Inquietos com essa questão, o projeto ‘Sobrevivendo ao Coronavírus’ criou um game de delivery, integrando voluntários para doações e pessoas que queiram realizar uma’Carona Solidária’.

Jogo retrata a figura do Motoboy como uma grande aliada das ações solidárias neste momento de pandemia. (Arte Gráfica: Andreza Delgado)

“O caroneiro se cadastra, ele recebe uma rota é ele tem a possibilidade de ir junto com um voluntário nosso fazer as entregas de cesta. É como se fosse um Uber, um sistema de entrega de cestas básicas”, explica Delgado.

Agora o projeto procura se reinventar de diversas formas, construindo novas formas de se promover, pois ainda quer distribuir muitas cestas por diversos cantos de São Paulo. Cada cesta custa R$ 55, então para o grupo atingir a meta de mil cestas precisa arrecadar em média R$ 55 mil. Pensando nesses valores, Andreza teve a ideia de ir além das plataformas comuns de marketing e financiamento colaborativo, desenvolvendo junto com seu amigo Rafael Braga, um jogo que traz diversos elementos periféricos, com uma narrativa que se encontra com o projeto.

“Um dia eu acordei e pensei que poderia fazer um jogo, então eu mandei mensagem pro Rafa que é um amigo, e aí a gente começou a conversar”, conta ela, apontando o processo de surgimento da ideia do jogo e complementa: “Cara, eu acho que a periferia ela precisa ser assistida, e quando vejo o fato das pessoas de periferia estarem retomando, e tocando nesse assunto, mostra que só a gente mesmo para entender nossa realidade, sabe?”.

“O que é uma pessoa da periferia? Ela é uma pessoa que faz o corre que tá sempre ali na atividade, e ela movimenta a cidade, movimenta nosso país”

No jogo, um motoboy tem que pegar a cesta para fazer entregas e ainda se preocupar em desviar dos carros para se manter vivo, fazendo uma analogia para representar a periferia nesse momento de ‘sobreviver para se manter vivo dentro do jogo’. O desenvolvedor Rafael Braga, 31, é morador Parque Novo Oratório, na periferia de Santo Andre, região do ABC.

Quando perguntamos como ele uniu suas vivências para construção da gamificação das ações solidárias ele responde: “A questão é que sou um Dev periférico, eu faço parte de uma demografia ali, o preto, periférico, que não tem tantas facilidades como outras demografias”, enfatiza Braga, fazendo uma clara menção à condição social e política de quem mora e vive nas periferias.

O jogo foi lançado no dia 25 de maio. A data é uma homenagem aos fãs da série O Guia do Mochileiro das Galáxias. “Foram dias trabalhando o dia inteiro para que ele tivesse pronto, todo trabalho já foi muito compensado, devido ao que aconteceu em um dia só do lançamento”, ressalta o desenvolvedor, lembrando que o projeto conseguiu arrecadar mais de mil reais para compra dos kits logo no primeiro dia e complementa: “Eu acho que a função desse tipo de jogo é exatamente essa, chamar atenção, muita gente joga e acha super interessante e através disso acaba conhecendo o projeto”.

O jogo traz em seu cenário muitos elementos que representam o imagético periférico, e Braga diz que é exatamente essa ideia, trazer as vivências da periferia, colocando ela em foco. “O que é uma pessoa da periferia? Ela é uma pessoa que faz o corre que tá sempre ali na atividade, e ela movimenta a cidade, movimenta nosso país. Então eu acho que além da intenção explícita de homenagear os profissionais da moto, acabou se provando uma ligação muito intensa mesmo dessa figura com a periferia”.

Umas das ferramentas utilizadas para desenvolver o jogo foi o Construct 2, um editor de jogos 2D, mas Rafael ressalta que o desenvolvimento da arte do jogo torna-se muito mais acessível , do que o próprio o jogo, pelo fato dos programas para desenvolver arte terem muito mais disponibilidade grátis na internet, diferente dos programas disponíveis para desenvolver um jogo.

“Na parte de desenvolvimento de jogos qualquer ferramenta pra mim é muito cara, por exemplo, para você publicar na Google Play é muito caro e no IOS também, então essa é uma parte que dificulta bastante pra gente que é da periferia”, finaliza Braga, destacando o quanto programas para desenvolvimento de jogos ainda são inacessíveis para periferia pelo seu preço.

Nesse tempo de isolamento Rafael está se dedicando em se mobilizar junto com projetos que visa combater o Covid-19 nas periferias. Segundo ele, essa foi à melhor maneira que encontrou para colaborar nesse momento. “O que faço na verdade é ter uma noção de gamer como guerrilha. Eu faço o que eu posso, com as ferramentas que eu tenho e da melhor forma possível”.

Gestão da ausência: a consciência política do futebol de várzea

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Confira na última reportagem da série ‘Gestão da Ausência’, como as equipes de futebol de várzea estão mudando a rotina de muitas famílias, afetadas pela pandemia de coronavírus, que residem nos distritos de Capão Redondo, Cidade Ademar, Brasilândia e no Jardim Eledy, em Taboão da Serra. 

Jogo realizado no Festival Várzea Poética da Cooperifa, em 2017. (Foto: Guma)

A pandemia paralisou as atividades dos times de futebol de várzea que são abertas ao público, como escolinha de futebol, feijoadas comunitárias, roda de samba, juntamente com os próprios campeonatos, dando espaço para uma nova e velha frente de atuação: o combate a forme que afeta muitos moradores, que antes da chegada do coronavírus às periferias, ocupavam a beira dos campos nos finais de semana.

O Desenrola conversou com iniciativas que estão atuando em distritos como Capão Redondo, Cidade Ademar e Brasilândia, territórios onde a onda de contágios por covid-19 não para de crescer. Em consequência dos impactos sociais gerados pela pandemia, uma parcela considerável de moradores desses territórios teve a sua vida afetada pela crise econômica, perdendo emprego e sendo impedidos de manter o comércio local e informal na ativa.

Enraizada no distrito do Capão Redondo, zona sul de São Paulo, a equipe da Vila Fundão, uma das mais tradicionais do cenário da várzea, ativou um grupo de voluntários e moradores para colaborar com o Instituto Vila Fundão, organização social que leva o mesmo nome do time, por nascer das relações comunitárias cultivadas com outras equipes de futebol de várzea dentro e fora de campo.

Até o fechamento desta reportagem, mais de 200 moradores haviam sido atendidos com doações de kits de higiene, cestas básicas e refeições. Segundo Camila Lima, professora e uma das colaboras do Instituto Vila Fundão, esse número poderia ser muito maior com o apoio de gestores públicos.

“Infelizmente, mesmo somando todas as iniciativas que se alastram pela cidade e pelo país, acho difícil atender a totalidade da população que precisa de apoio. Mas, na ausência dos governos, acredito que os coletivos, as ONGs, as lideranças periféricas, as associações sociais, também temos alguns partidos engajados, e outras organizações estão fazendo a sua parte”, reflete Lima.

Enquanto as poucas ações do poder público não chegam de fato na ponta para atender quem mais precisa, na Cidade Ademar, também na zona sul da cidade, o Projeto Várzea Sem Fome já distribuiu mais de 340 cestas básicas na região, e em média 430 kits de higiene. “Representamos 27 favelas aqui da região de Cidade Ademar. Já faço esse trabalho há anos, mas com a pandemia acabamos nos juntando em prol da comunidade que é totalmente esquecida, assim formamos um grupo de mais 30 voluntários”, conta Fábio de Paula, um dos integrantes da ação solidária.

A busca de novos caminhos possíveis para superar esse período mais duro da pandemia acontece em todas as regiões da cidade. Na Brasilândia, alguns comerciantes locais têm apoiado o time Manchester da Brasilândia, que mesmo sem a ajuda do poder público, já chegaram a quase 500 famílias atendidas na região.

“Infelizmente sabemos que é pouco para uma região como a Brasilândia, mas acredito que se cada um fizer um pouco, iremos passar por mais esta luta, afinal somos a massa e o que move nosso país é a periferia, onde é o lugar mais bonito da humanidade”, compartilha a professora Patrícia Verdetti, integrante do time.

Os exemplos que a várzea vem dando ao combate a pandemia e a fome nas periferias vem se espalhando e já está chegando a municípios vizinhos a São Paulo. No Jardim Eledy, em Taboão da Serra, o professor Fábio Roberto, integrante do time F.C. Jardim Eledy, está mobilizando jogadores profissionais que moraram no bairro para apoiar a campanha de doações de cestas básicas para as famílias mais afetadas pela pandemia.

“Quem nasce e vive em periferia conhece de perto a fome, por passar por privações, por ser um dos que vivem abaixo da linha da miséria. Não tem como ignorar, não tem como ser indiferente”, afirma Roberto. Para ele, esse é o momento de lutar contra a fome.

“Apesar de todos os esforços, não é possível atingir a todos. Deus concedeu duas mãos e uma boca para os humanos. Só que em momentos como este, fica evidente que temos menos mãos para oferecer, mais bocas para receber. E isso dói”, reflete o professor.

Além de entrega de cestas básicas e itens de higiene, os times de futebol de várzea têm produzido e se mobilizado através das redes sociais com lives, que visam mobilizar outros equipes e apoiadores para continuar aumentando o movimento dos times da várzea engajados em construir alternativas solidárias para combater os impactos socais gerados pela pandemia.

Somos natureza e cultura. A economia é apenas uma fração do que somos capazes

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Brevíssimas reflexões

Somos filhos do nosso tempo. Acordamos diariamente com notícias boas ou ruins. Nos deparamos com sonhos e fantasias. A cada momento refletimos sobre o que almejamos e não alcançamos, o que alcançamos e não nos completa. Sabemos acerca de nós o quanto nos dedicamos a nos observar, sabemos do outro o quanto este nos mostra. Pouco sabemos acerca de nossa época em sua totalidade; temos tendência a generalizações apressadas, universalizamos o singular e singularizamos o geral, no mais, somos um processo contínuo de revisão e construção de si.

O vírus que nesse momento nos leva a uma reflexão constante sobre os motivos acerca do valor da vida, do valor do que foi vivido, do que estamos deixando de viver em nome dos interesses do mercado, dos interesses de um progresso que dilapida a natureza, que assimila as contradições em nome do lucro, que se apropria da capacidade produtiva do outro para mover uma máquina financeira, que enriquece poucos, manténs milhões na extrema pobreza e milhões a margem da riqueza, com o sonho de chegar lá. Esse modelo tem se mostrado danoso para existência humana.

A natureza não cobra do consumidor pelo seu fruto. A natureza precisa de tempo para dar os seus frutos. Cada fruta e legume tem o seu valor nutritivo e nenhum depende das mãos humanas para brotar em estado natural. As mãos humanas interferem constantemente nesse processo e fazem isso almejando o bem coletivo ou o bem econômico. O bem econômico que o ministro da economia assinala como caminho é do sacrifício da natureza, nós somos uma fração no conjunto dos seres vivos e atuamos como se não fôssemos uma parte no todo.

Somos uma parte no todo, somos filhos do nosso tempo, somos frutos do conjunto de saberes que acessamos e de relações que estabelecemos, somos enquanto vivos, somos organismos autônomos, somos construtores, somos a criatividade. A economia é uma fração do que somos capazes de criar, a economia, a política, a concepções que seguimos cegamente, são frações do que somos capazes de fazer, mas não são as únicas coisas que somos capazes de fazer, e o óbvio desse processo é que a economia, a política não são nada sem a Cultura (conjunto de tudo aquilo que os seres humanos criam para viver).

Cultura, ela é popular, erudita, ela se desdobra em artesanato, música, poesia, dramaturgia, filosofia, pintura, escultura, ela é fruto do que elaboramos no nosso dia a dia, está no Patativa de Assaré, quantas reflexões não surgem quando escutamos o poemas desse poeta musicados por Luiz Gonzaga. Quantos sentimentos afloram quando comunicamos ao mundo o desejo de um tempo no qual a Natureza possa florescer, os seres vivos possam viver e desfrutar o breve instante da vida, criando, fazendo Cultura.

Gestão da ausência: comunidade de samba e times da várzea afastam a fome do cotidiano periférico

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Na segunda reportagem da série ‘Gestão da ausência’, o Desenrola mostra o impacto das ações de Assistência Social promovida a partir da perspectiva política da comunidade de samba Pagode Na Disciplina, localizada no Jardim Miriam, zona sul de São Paulo. Na zona oeste do município e em Osasco, vamos conhecer o trabalho das equipes de futebol de várzea Esporte Clube Ipanema e Complexo Vila Piauí, que já realizavam ações solidárias há muito tempo, mas devido à pandemia precisaram reinventar a sua forma de articulação com os moradores do território. Essas iniciativas estão transformando suas vivências comunitárias em inteligência e estratégia para reduzir o colapso social que já está afetando as periferias e favelas. 

Com mais de 140 mil habitantes, o Jardim Miriam é o bairro mais populoso do distrito de Cidade Ademar, região sul de São Paulo. Várias famílias que residem na região estão em alta situação de vulnerabilidade social, sem a garantia de acesso a recursos básicos para sobreviver. Consciente do seu papel comunitário e político, a comunidade de samba Pagode Na Disciplina está tentando minimizar a falta assistência social no território neste momento de pandemia.

Segundo Luana Vieira, integrante da comunidade de samba, a realização de ações solidárias tiveram início porque muitas famílias e moradores de rua estavam com dificuldades para se alimentar. “Muitos moradores de rua se localizam no bairro. O Bom Prato mais próximo daqui é na Vila Joaniza, que andando daria cerca de 40 minutos. Esses moradores não estão tendo condições de se alimentar, muitos dependem dos depósitos de reciclagem para venderem o que conseguem pegar na rua, os mesmos estão fechados”.

Luana Vieira preparando a entrega de marmitas para moradores do Jardim Miriam. (Foto: Thiago Fernandes)

Além da distribuição de marmitas e cestas básicas que já ultrapassam as 250 unidades doadas, dado consolidado até o fechamento desta matéria, a comunidade de samba foi uma das poucas iniciativas que tiveram apoio do poder público no levantamento realizado pelo Desenrola. Érica Malunguinho, eleita a deputada estadual por São Paulo em 2018 se solidarizou com as ações da comunidade, que também é parceira da Uneafro Brasil, organização de direitos humanos que promove um debate nacional sobre injustiças raciais que afetam principalmente a população negra e periférica.

“A iniciativa começou por conta dos moradores de rua, mas tomou uma proporção maior, pois as famílias estão vindo retirar porque não tem alimento, não tem gás e estão sem se alimentarem”, explica Vieira.

Com a mesma proposta do Pagode da Disciplina, mas sem nenhum tipo de apoio de representantes do poder público, o projeto Favela Venceu que atua no Jardim Jacira, zona sul da cidade, na divisa com Itapecerica da Serra, tem realizado uma série de ações solidárias contando apenas com a parceria de comerciantes locais e moradores que não conseguem ver a quebrada ser impactada pela pandemia e não reagir.

A iniciativa já atendeu mais de 350 famílias e distribuiu quase 400 cestas básicas. Para Diego Souza, um dos integrantes do movimento comunitário Favela Venceu, a ideia era entregar 100 cestas, mas hoje não há mais um limite para atender a demanda de moradores. “Somos seres humanos e dói sentir fome. Não imagino passar fome, então se temos um pouco, temos que dividir. A meta era atender no máximo 100 famílias, mas hoje já não temos prazo para terminar”.

Zona Oeste: ações solidárias articuladas pelo futebol de várzea 

Na favela do Jardim Ipanema, localizada no distrito do Jaraguá, zona oeste de São Paulo, o Esporte Clube Ipanema realiza anualmente uma feijoada comunitária para os moradores do território, como forma de criar um momento de lazer de maneira autônoma baseado nos valores culturais de quem mora na região há muitos anos.

Entrega de cestas básicas no Jardim Ipanema_zona oeste de SP. (Foto: Ademir Ferreira)

Diante da pandemia, os integrantes da equipe que se responsabilizam pelas ações comunitárias do time varzeano mudaram totalmente o foco do seu trabalho. “Todo ano fazemos uma feijoada comunitária onde arrecadamos alimentos, mas esse ano não foi possível, por causa da pandemia. Aí resolvemos agir montando cestas para o povo. Não sabemos se iremos conseguir atender a todos, mas faremos esforço para atender o maior número possível”, diz Ademir Ferreira, articulador comunitário que integra a direção do Ipanema. Até o momento, a equipe já atendeu mais de 300 famílias, distribuindo cestas básicas e kits de higiene.

O distrito do Jaraguá faz divisa com o município de Osasco. Lá, Alex Stratorski, outro articulador comunitário que integra a diretoria do time Complexo Vila Piauí, está organizando o cadastro de famílias em situação de vulnerabilidade na favela da Brahma, ocupação de moradia no território que vem sofrendo inúmeras ações de reintegração de posse.

Distribuição de refeições na sede do Pagode Na Disciplina, no Jardim Miriam, zona sul de São Paulo. (Foto: Thiago Fernandes)

Embora esteja em fase inicial, a iniciativa já atendeu quase 40 famílias. Segundo Alex, a parceria com a Central Única das Favelas foi importante para dar início às ações. “Através da CUFA, começamos a repassar doações e distribuir na comunidade. Queremos atender 50% das pessoas que precisam”, afirma

Diferente dos coletivos culturais e organizações sociais que afirmaram não ter apoio de poder público, o levantamento identificou que os times de futebol da zona oeste têm parcerias com vereador locais, para apoiar a logística das doações. 

Quem tem o direito de decidir sobre quem vive e quem morre?

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Brevíssimas reflexões

Somos filhos do nosso tempo. Que tem sido marcado pela morte desnecessária. Nós nascemos em um mundo marcado pelo pós-Guerra. Qual foi o aprendizado que a humanidade obteve com as guerras? Quantos soldados mortos e com qual propósito? Quem venceu? A morte prematura, a solidão e a dor na memória de quem sobreviveu.

Quando a morte chega naturalmente a dor se apresenta a quem fica, mas, aos poucos se vai. Em uma das muitas aulas que ministrei no ensino médio a questão norteadora era a seguinte:

Quem tem o direito de decidir sobre quem vive e quem morre?

Os alunos eram convidados a refletir e dissertar. O texto base era o do grande pensador Adorno, um trecho do seu celebre livro – Educação e emancipação, que trata de uma educação após Auschwitz. O debate, em algumas turmas, normalmente chegava à conclusão que ninguém tem esse direito.

Estamos em meio a uma pandemia e diariamente somos levados a pensar: Quanta dor? Quanta perda? Quanto desatino em um governo, que insiste em colocar a máquina do governo a disposição de um mercado que não possui a função de suprir as necessidades básicas de um povo.

Não parece óbvio que a dor e a angústia do momento seria menor se o governo fosse efetivo em equacionar as questões que nos afetam desde sempre, a saber:

1- a ausência de uma universalização da moradia;

2- a ausência de uma universalização do saneamento básico;

3- a ausência de uma universalização de uma renda básica;

4- a ausência de uma redução da jornada de trabalho (sem redução salarial) com o intuito de incorporar os desempregados;

Quantas vidas seriam poupadas se essas ausências fossem supridas?

Quantos de nós estaríamos desfrutando do prazer da companhia de um familiar, de um

parente, de um amigo, com a certeza de que ele teria condições para os cuidados necessários à vida. Neste momento sabemos da importância do isolamento social. Sabemos que o contágio se dá de pelo contato humano, sabemos que aglomerações, como ônibus cheio, trem lotado, ruas movimentadas, ampliam exponencialmente o contágio. Sabendo disso, o que um governo consciente do seu dever deviria fazer? Como ele deveria se portar? Imagine um mundo no qual:

1- Moradia foi universalizada,

2- Saneamento básico e água potável foram universalizados;

3- Renda básica, redução da jornada de trabalho e o pleno emprego são realidade. Considerando os três pontos acima e a sua vida atual,

Em qual mundo você deseja viver? No mundo vigente atual, onde a vida não possui valor ou em mundo possível pelo qual nós temos que lutar e construir, no qual a vida determinará o sentido de tudo?

Sou pelo primado da vida! E você?

Moradora quer levar internet gratuita para 500 famílias do Fundão do Ipiranga

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A poeta Maria Nilda, também conhecida como Dinha entre os movimentos sociais e culturais atuantes no território conhecido como Fundão do Ipiranga, criou a campanha ‘Conexões Contra o Covid’, iniciativa focada em criar uma solução que democratiza o acesso à internet para 500 famílias que foram afetadas pela falta de entretenimento e informação durante a pandemia de coronavírus.

Região do Fundão do Ipiranga. (Foto: Sandrinha Alberti)

Criar uma infraestrutura de internet livre, comunitária e de qualidade para atender 500 famílias que moram na região do Fundão do Ipiranga, zona sul de São Paulo. Essa é a ação solidária colocada em prática pela moradora Maria Nilda, mais conhecida como Dinha entre os movimentos culturais e sociais do território. Ela lançou nas redes sociais o movimento ‘Conexões Contra o Covid‘, que visa arrecadar fundos para viabilizar o projeto.

As famílias que irão usufruir do aceso à internet residem nos arredores do Parque Bristol e Jardim São Savério, ambos os bairros fazem parte da região conhecida como Fundão do Ipiranga. O objetivo é impactar a vida de núcleos familiares que tiveram o acesso à informação no cotidiano afetado devido à pandemia de coronavírus.

A poeta Dinha acredita que a internet pode ajudar as famílias a passar por esse momento de isolamento, e observou isso quando ficou sem acesso à rede dentro de casa, com poucas escolhas para distração e trabalho.

“Me senti sozinha e violentada, sem direito à comunicação, sem poder trabalhar, sem acesso a lazer, sem saída. Então eu recebi ajuda de umas amigas que sabiam da minha dificuldade. Recebi 150 reais e paguei as contas pendentes”, relata a moradora, descrevendo a sua situação ao ficar por alguns dias sem internet em casa.

Com poucos recursos para se distrair, a professora focou seu tempo em ler livros e planejar como poderia mudar essa situação, não só a sua, mas dos moradores do território onde mora. “Li, escrevi e planejei a campanha”, relembra.

Dinha iniciou uma mobilização no bairro para colocar o projeto ‘SP – Conexões Contra o Covid’ em prática. A iniciativa vai atender 500 famílias que vivem em habitações precárias à beira do córrego São Francisco, que faz a divisão de dois bairros: Parque Bristol e Jardim São Savério. Com os recursos arrecadados, será construído um “espaço virtual”, onde a senha do wifi será a mesma e todos os moradores do bairro poderão acessar. Até o momento, a iniciativa já arrecadou 16% do valor necessário para montar a infraestrutura de internet comunitária.

Foto: Sandrinha Alberti

“O acesso à internet pode salvar vidas”

“Nesse momento, além de informar, formar, comunicar, proporcionar lazer e acesso à cultura, o acesso à internet pode salvar vidas, pois permite que se tenha algo pra fazer, mesmo no reduzido espaço dos barracos, sabe?”, afirma a poeta, enfatizando suas observações, que levaram a pensar na criação dessa rede aberta de internet.

Ela lembra que essa ideia não surgiu com a pandemia e que já era uma prática comum em sua vida no bairro. “Durante anos eu tive uma rede de internet livre em casa, o nome da minha rede era ‘Libere seu wi-fi’ e não tinha senha. A vizinhança meio que se amontoava no meu portão pra aproveitar o sinal”.

Segundo a moradora, essa época foi marcante porque a fez enxergar a realidade, se referindo à falta de acesso de internet de qualidade no seu bairro. “Depois eu tive que mudar de casa. Hoje eu uso a internet dos meus parentes que moram perto de mim. Não tenho uma rede pra deixar liberado o acesso”.

Em relação aos moradores que já tem internet, a poeta conta que fará melhorias na sua rede com recursos da campanha, deixando-os isentos de pagar mensalidades. Junto com Nilda, o projeto tem parceria com os coletivos Posse Poder e Revolução, Edições Me Parió Revolução, União de moradores do Parque Bristol e Jardim São Savério.

“Nós somos basicamente cerceados ao aprisionamento em canais abertos”

Conversamos com o morador Roberto Oliveira, 35, que reside no Jardim São Savério e divide a internet com seu vizinho, pagando todo mês R$ 30 reais. Ele expressa seu descontentamento com o uso da rede, porque como ele mesmo diz: “É péssima. Sempre cai”.

Para Oliveira, essas alternativas podem expandir o horizonte de informação dos moradores do bairro. “Nós somos basicamente cerceados ao aprisionamento em canais abertos, onde os conteúdos basicamente não agregam nada para nós. Penso que com a alternativa da inclusão, nossos caminhos teriam muito mais oportunidades. Tanto educacional profissional e de lazer”, conta o morador.

Diante da possibilidade de ter uma internet de qualidade, com o apoio do projeto, Oliveira imagina como usufruiria desses recursos. “Se fosse de qualidade, creio que será um recurso de grande potencial nos quesitos de interação e comunicação. Poderemos nos expressar mais, fazer visitas virtuais a museus, ver filmes, documentários, “escolha” de conteúdos, envio de currículos, vendas virtuais, são exemplos”, descreve ele, afirmando que hoje não é possível fazer isso com a sua rede.

Com os trinta reais que economizaria com o dinheiro da sua internet de má qualidade, o morador relata que direcionaria para suas construções pessoais. “É um valor que poderia ser convertido em material de construção, para bater a laje de casa”.

“Agora que as crianças precisam estudar pela internet tá difícil”

Próximo a casa de Oliveira, reside Angelina Mota, 31, moradora do Jardim São Savério. Ela também divide sua internet com o vizinho, pagando dez reais. Em sua casa reside seu marido e seu filho. No final do mês a conta fica R$ 30 reais, mas o valor investido no serviço não tem retorno para a usuária, devido à qualidade da conexão. “A internet é muito lenta, trava muito”, conta a moradora.

Mota complementa falando como está tentando se ocupar nessa quarentena. “Eu estou muito na cozinha aprendendo novas receitas, então uso muito para isso e agora estou ajudando meus filhos na escola, agora que as crianças precisam estudar pela internet tá difícil”.

Ela ressalta que durante a quarentena ficou desempregada, então as despesas de sua casa estão sendo direcionada apenas para suprir recursos essenciais. Ela acredita que o ‘espaço virtual’ ajudaria muito a sua família a conter gastos e melhorar a velocidade de conexão. “Pra mim seria ótimo, iria me ajudar e ajudar os meus amigos, e na economia seria muito bom, já usaria para as despesas do mês porque com esse covid-19 a gente não sabe como vai ficar daqui pra frente”.

Favela Maker apoia agentes de saúde do Jardim Ângela com doação de equipamentos de proteção

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Através da campanha ‘Favela Maker’, pautada na mobilização de doadores de matéria-prima para fabricação de máscaras de proteção facial, equipamento indispensável utilizado por profissionais de saúde e líderes comunitários que estão na linha de frente no combate ao Covid-19, o Lab Periferia Sustentável, projeto de tecnologias sustentáveis e energias renováveis localizado no Jardim Nakamura, no distrito de Jardim Ângela, zona sul de São Paulo, está apoiando o trabalho de agentes de saúde que atuam em unidades básicas de saúde situadas em bairros da região da M´Boi Mirim. 

Profissionais de saúde utilizam as máscaras fabricadas pelo projeto Periferia Sustentável. (Foto: Divulgação)

Inspirado pelo poder transformador das tecnologias open source, o músico e inventor Fabio Miranda, 41, morador do Jardim Nakamura, distrito de Jardim Ângela, zona sul de São Paulo, responsável pela criação do Lab Periferia Sustentável, projeto de tecnologias sustentáveis e energias renováveis, olhou para a sua impressora 3D e a máquina de corte a laser e decidiu produzir máscaras Face Shield para fortalecer o trabalho de enfermeiros, médicos, agentes comunitários de saúde e promoção do meio ambiente, profissionais que estão na linha de frente do combate ao Covid-19 nos territórios periféricos.

O laboratório do projeto Periferia Sustentável está situado no mirante da favela do Jardim Nakamura. A iniciativa integra os projetos realizados pelo Instituto Favela da Faz, organização social que mantém há mais de 20 anos um espaço sociocultural com diversos projetos que difundem novas culturas de educação, preservação do meio ambiente, produção musical, alimentação e novos paradigmas de relações humanas e produção de energia.

Segundo Miranda, o movimento do ‘faça você mesmo’ estimulou o processo criativo para produção dos equipamentos de proteção. “A inspiração realmente veio desse espaço, esse movimento Maker, essa rede colaborativa que hoje é o faça você mesmo e tá aberta para todo mundo, foi dessa forma que eu realmente acessei a rede, e a gente começou a produzir essas máscaras e consegui realmente trazer um apoio ou segurança para os profissionais da saúde”, conta.

O inventor usou sua habilidade para pesquisar e criar soluções para ajudar profissionais que atuam em Unidades Básicas de Saúde (UBS) da região. O ponto de partida inicial surgiu com um projeto de cultura maker chamado Espaço MeViro, que disponibilizou em sua redes sociais e site um arquivo aberto para quem quiser e tiver cortadoras a laser, produzir máscara no formato face shield.

Como já tem a cortadora a laser no laboratório, o inventor em parceria com amigos criaram a campanha ‘Favela Maker’ para captar doações de matéria prima, como placas de petg, placas de acrílico 3mm e rolos de elástico de 9mm, para iniciar a produção das máscaras.

No momento, a iniciativa já conseguiu distribuir mais de 350 unidades de face shields para agentes de saúde que atuam em cinco Unidades Básicas de Saúde da região. E como critério de seleção, a campanha selecionou os equipamentos públicos de saúde que apresentam mais desfalques no estoque de equipamentos de proteção individual.

“Já teve situação de enfermeiro chorar e agradecer pelo apoio. Acho que é isso, você colocar a cabeça no travesseiro e falar: caramba ganhei meu dia hoje com aquele profissional sabe”, diz o inventor, relembrando um dos impactos causados pela campanha, durante o momento de doação dos equipamentos de proteção.

Sentimento de gratidão

“Sentimento de gratidão foi o que a equipe sentiu com o recebimento desta doação”, afirma Alexandre Neves, responsável pela área de promoção ambiental do Programa Ambientes Verdes e Saudáveis (PAVS/CEJAM), na Unidade Básica de Saúde do Jardim Nakamura. Segundo o agende de saúde, os profissionais consideraram de ‘ótima qualidade’ os equipamentos de proteção individual que foram doados.

Alexandre atua como articulador nas Unidades Básicas de Saúde do Jardim Ângela, construindo parcerias com catadores de materiais recicláveis e realizando o acompanhamento de casos de notificação pela SUVIS (Animais Sinantrópicos e Mordedura), em institutos, escolas, igrejas e equipamentos comunitários de assistência social, como o Centro para Crianças e Adolescentes (CCA) e o Núcleo de Convivência de Idosos (NCI).

Neves ressalta que a iniciativa da campanha Favela Maker não está apoiando somente enfermeiros e médicos, mas também todos o profissionais que contribuem fazendo um trabalho educacional no território durante a pandemia, orientando sobre os cuidados em relação ao combate ao COVID-19.