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“Homens não gemem”: Lena Silva e BiXop enfrentam a caretice com novo videoclipe

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Chega de gemido entalado na garganta! Esse é o chamado do casal Umsoh neste novo lançamento.

É preciso coragem – e muita disposição – para enfrentar alguns temas que ainda são tabu em uma sociedade machista, conservadora e racista. Mas o casal rapper Lena Silva e BiXop decidiram enfrentar a caretice e provocar neste novo single, com um videoclipe que esbanja beleza e bom gosto, em seu canal deYouTube, o Umsoh. 
Em “Homens não gemem”, Lena Silva e BiXop mostram que bom é quando homens e mulheres sentem prazer juntos e demonstram isso com afeto e muita gemeção: “Homem que sabe gemer é luxo/ Compomos uma sinfonia juntos”.

Porque a gente sabe como a coisa funciona no dia a dia, né? Em relações sexuais heteronormativas, é fácil identificar os papéis a serem cumprimidos: mulher se entrega, homem penetra, mulher dá, homem põe e tira. Mulher geme, homem jamais! E assim nos arrastamos, feito robôs, cheios de condicionamentos obsoletos, limitando e despotencializando o que temos de mais sagrado: a nossa sexualidade.

Muitos homens cisgêneros heterossexuais não gemem, pois temem revelar fragilidades que não ornam com o espectro machão que lhes é esperado. Tais regulações permeiam nossa subjetividade, e se manifestam de forma negativa nos relacionamentos.

Se esses homens soubessem que a virilidade ganha um charme todo especial quando abarcada pela vulnerabilidade, as relações ganhariam outra intensidade. Gemer parece um ato simples, mas não é. Requer entrega e autoconfiança. E uma boa trepada precisa disso. Gemer é a poesia do c*, da x0t@, da cabeça da p!r0c@. Emerge das entranhas, das sutilezas, do desejo latente.

Deixo aqui minha provocação pros macho cis de plantão: gemam aos quatro ventos, até ensurdecer as paredes. Chega de gemido entalado na garganta! Deixem o bagulho entornar, a volúpia dar as cara – e o s&x0 cumprir sua função: nos arrebatar, para enfim, nos libertar.
Essa música, comandada pela voz potente e sensualíssima de Lena Silva, além de dar um put@ t3sã0 na x0t@ e no coração, conta ainda com a participação de Deborah Crespo, que chega somando pesado, cheia de presença e personalidade, diretamente da zona sul de São Paulo. E BiXop mil grau colando pra fazer a parada estremecer, como deve ser!

Que o casal Umsoh siga provocando e abrindo caminhos para novas reflexões e formas de nos relacionarmos.

Muito amor e muita luz,

Abhiyana

*Esse texto conta com a colaboração de Tainã Bispo, da editora Claraboia.

Assista ao videoclipe: 

Hamburgueria surpreende clientes com sorteio de leite e óleo de cozinha no Capão Redondo

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Apesar de cômica, a ação faz parte de um movimento contra a carestia e chama a atenção para a insegurança alimentar enfrentada por 33,1 milhões de brasileiros.  

Durante transmissão ao vivo no Instagram, Carlos Rogério, proprietário da hamburgueria Fogo de Rua, anuncia a ganhadora do litro de leite. (Foto: Arquivo Pessoal)

Desde julho deste ano, a Hamburgueria Fogo de Rua, localizada no Jardim São José, no Capão Redondo, na zona sul de São Paulo, tem realizado sorteios de alguns itens da cesta básica entre os clientes do estabelecimento como forma de fazer uma crítica social e satirizar o alto preço dos alimentos encontrados no mercado.

O proprietário da Fogo de Rua, Carlos Rogério Souza, 39, morador do Capão Redondo, conta que a ideia de realizar os sorteios surgiu após uma ida rápida ao supermercado da região para comprar pão para o café da tarde da família. O valor da compra de um litro de leite, dez unidades de pão francês, e duzentos gramas de mortadela foi de R$16 reais.

“Hoje um pai de família que é assalariado tem que fazer uma escolha: ou ele compra o pão, ele almoça ou ele janta. Com esses dezesseis reais eu poderia ter comprado 1kg de frango à passarinho ou filé de frango. Infelizmente é um problema econômico que a região está enfrentando e foi dessa indignação que veio a ideia de fazer, com sarcasmo, essa crítica ao que vem ocorrendo”

Carlos Rogério, empreendedor e idealizador do sorteio. 

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Encarecimento do custo de vida impulsiona novos movimentos contra a carestia nas periferias

O desmonte de políticas públicas aliado a pandemia da covid-19, aumentaram o cenário de carestia – encarecimento do custo de vida – nas periferias, impulsionando a luta contra a inflação, historicamente liderada por movimentos populares e de mulheres.


https://desenrolaenaomenrola.com.br/contextos-perifericos/encarecimento-do-custo-de-vida-impulsiona-novos-movimentos-contra-a-carestia-nas-periferias

Foto: Rebeca Motta

Uma das ganhadoras do sorteio foi a Cristiane Lauton, 38, moradora do Jardim Copacabana. Premiada com um litro de leite, a administradora de empresas afirma que ficou surpresa com a ação da hamburgueria. “Achei o máximo a ideia da Fogo de Rua em sortear alguns alimentos como prêmio ironizando os preços do mercado. Recebi meu litro de leite, mandei um boomerang (vídeo curto do instagram) agradecendo e ainda dou risada do fato”, conta.

Carlos Rogério conta que a ideia foi bem absorvida pelos clientes e amigos. O empreendedor diz que a brincadeira é levada a sério com direito a fogos de artifício, carro de som e transmissão ao vivo pelas redes sociais da Fogo de Rua, além da entrega do prêmio em domicílio.

Ao todo ,72 clientes participaram dos dois sorteios realizados até o momento que premiou um litro de leite e um litro de óleo de soja.  “A reação dos clientes era cômica. Até quem não consumia na loja virou cliente para participar da ação porque a galera sabe que tá tudo caro”, diz o empreendedor.

Foto: Rebeca Motta

Gastronomia na periferia 

A Hamburgueria Fogo de Rua começou com um trailer que era 90% reciclado e com o sonho do Carlos, que sempre morou nos entornos do Capão. Com muita luta ele conseguiu comprar o terreno que abriga o espaço físico da loja.

A decoração segue a tradição antiga feita em 70% de material reciclado. O negócio expandiu nos últimos anos e além da hamburgueria é também um bistrô, que oferece ao público comida de qualidade, como risotos, moquecas, bacalhau, entre outros pratos servidos no local.

“Se você for nos restaurantes chiques, nomeados, quem vai estar cozinhando são os filhos de baianos, nordestinos, é o cara que mora na quebrada, então porque não trazer essa gastronomia pra periferia? Essa é a ideia do Fogo de Rua”, afirma o empreendedor.

Ações contra a carestia 

Em uma pesquisa realizada pela nossa equipe de reportagem, verificamos que o preço do óleo de cozinha e o litro do leite, produtos sorteados pela hamburgueria, variavam de R$ 10 a R$ 15 nos meses de junho e julho, em comércios das periferias da zona sul de São Paulo, Taboão da Serra e Embu das Artes.

No primeiro trimestre de 2022, a Rede PENSSAN, divulgou os dados da nova edição da pesquisa Olhe para a fome, que aponta para o aumento da insegurança alimentar na casa dos brasileiros.

Segundo o relatório, o número de famílias sem ter o que comer todos os dias saltou de 19,1 milhões de pessoas em 2021 para 33,1 milhões de pessoas em 2022. São 14 milhões de novos brasileiros sem o direito à alimentação garantido em pouco mais de um ano.

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“Substituo por salsicha”: moradores relatam insegurança alimentar em crianças nas favelas da zona oeste de SP

Carestia, desemprego e ausência de políticas públicas aumentaram a insegurança alimentar de famílias, moradores de favelas da zona oeste de São Paulo. Ações solidárias minimizam os impactos da fome, mas não resolveram o problema que permanece afetando crianças e adultos da região.  


https://desenrolaenaomenrola.com.br/series-e-especiais/substituo-por-salsicha-moradores-relatam-inseguranca-alimentar-em-criancas-nas-favelas-da-zona-oeste-de-sp

Em meados da década de 70, o Brasil também passava por um momento de alta da inflação impulsionada pela Ditadura Militar. Nas periferias da Zona Sul de São Paulo, um grupo de mulheres se organizou para criar o Movimento Contra a Carestia, a ação ficou conhecida como um dos maiores movimentos populares do país e coletou, de porta em porta, mais de 1 milhão e 300 mil assinaturas num abaixo-assinado contra o alto custo de vida na época.

O economista e pesquisador do Centro de Estudos Periféricos[2] [3] , da Unifesp, Cleberson da Silva Pereira, explica que o aumento no preço do óleo de cozinha está ligado à diminuição da oferta do petróleo, isso porque o óleo de soja também pode ser utilizado para produzir biocombustíveis, uma opção mais barata em relação a gasolina e ao diesel.

No caso do leite, o professor explica que o aumento desse item se dá porque o preço da ração das vacas também aumentou e consequentemente ficou mais caro para o produtor manter os animais, e o custo dessa demanda foi, inevitavelmente, repassado para o consumidor final.

De um modo geral, mudanças climáticas, alto custo de produção, diminuição da oferta de matéria prima por causa da guerra entre Rússia e Ucrânia têm impactado o preço desses produtos.

“Além das causas já citadas para o leite e óleo de soja, a cesta básica aumentou porque o preço dos combustíveis estava muito alto, especialmente o óleo diesel. Esse item impacta toda a cadeia logística e o preço final dos produtos. Quem acaba sofrendo com o aumento do preço dos itens da cesta básica é a população que ganha até 3 salários mínimos preferencialmente”, finaliza o economista.

4° Festival de Teatro Adolescente abre inscrições para jovens de 13 a 20 anos

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 O evento convida artistas adolescentes, atuando de forma solo ou em coletivos de todo o Brasil, para integrar a programação.

Coletivo Zefiro Norte. Foto de Sueli Almeida

De 02 a 06 de novembro de 2022, acontece o 4º Festival de Teatro Adolescente “Vamos que Venimos Brasil”, versão brasileira do festival criado na Argentina, com sede em Santo André (SP), que nesta edição adotará ações formativas em formato virtual e apresentações presenciais.

Até o dia 12 de setembro de 2022, estão abertas as inscrições para artistas de todo o Brasil, com idade entre 13 e 20 anos (completos até o momento da realização do festival), solo ou em coletivos, que queiram fazer parte da programação presencial do festival, que será realizada em Santo André (SP).

Podem participar artistas e grupos teatrais com no mínimo 70% de integrantes com essa faixa etária, e que estejam vinculados a escolas regulares, oficinas, pequenos cursos ou até provenientes de grupos e processos independentes de teatro jovem. As inscrições são gratuitas e o formulário está disponível no site do evento.

Além da modalidade “obra completa”, é possível inscrever trabalhos artísticos que ainda estão em processo. Essa foi uma forma encontrada pela organização do festival de valorizar cada etapa da formação artística e da criação como um todo.

Na edição passada, realizada em 2021, o festival reuniu 111 adolescentes com idade entre 13 e 20 anos, e 16 produtores com idade entre 16 e 24 anos, das cidades de Guareí, Mauá, Santo André, São Paulo, Salvador e Osasco, participando da “Produção Jovem” da execução do festival.

A iniciativa atua como uma espécie de estágio de produção cultural com adolescentes selecionados através de um chamamento público, que receberam uma bolsa auxílio para participar das etapas de realização do evento.

Serviço 

Convocatória para o 4º Festival de Teatro Adolescente Vamos que Venimos Brasil

Inscrições: até 12 de setembro de 2022 – Valor: grátis

Quem pode participar: grupos, coletivos e solos de artistas adolescentes, de qualquer cidade brasileira.

Faixa etária: de 13 a 20 anos 

Informações da Convocatória e ficha de inscrição, clique aqui.

Mais informações: Instagram e Facebook

Simbologias da orixá Nanã são tema de espetáculo de teatro em Taboão da Serra

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Espaço Clariô de Teatro recebe o espetáculo “Lama” do grupo Ajeum neste sábado. Há também apresentações no interior e centro de São Paulo.

Cena do espetáculo “Lama” do Núcleo Ajeum. (Foto: Verônica Pereira)

O Núcleo Ajeum apresenta o espetáculo “Lama”, inspirado nas simbologias de Nanã, Orixá que detém os poderes e mistérios da vida, morte e seu ciclo de existência. O espetáculo será apresentado neste final de semana, nos dias 03 e 04 de setembro em Taboão da Serra e Pindamonhangaba com entrada gratuita.

O espetáculo é apresentado pelo Núcleo Ajeum, um grupo de artistas negros, periféricos e LGBTs, sob direção de Djalma Moura. Com sede localizada entre as regiões do Jardim São Luis, Campo Limpo e Capão Redondo, o grupo pratica dança contemporânea e investiga a sua relação com as narrativas africanas e afro-brasileiras.

“O espetáculo ‘Lama’ traz como proposta de investigação as possibilidades de reinvenção do corpo e seu retorno para uma reelaboração de comunidade matrigestora que compreende o gestar e a pulsão feminina de existência enquanto estratégia de renascimento”

Djalma Mour é responsável pela direção do Núcleo Ajeum. 

As obras coreográficas do grupo têm sido criadas a partir da conexão entre fisicalidade e emoção, onde o corpo das danças negras dos terreiros de candomblé são ressignificados em suas múltiplas possibilidades de descoberta pela dança contemporânea.

O Núcleo Ajeum, que tem como foco a pesquisa o corpo negro e sua cosmovisão de mundo, investiga o universo pluridimensional dos terreiros de candomblé, as liturgias africanas e afrobrasileiras e os seus orixás. Neste processo, tem se interessado nas transformações corporais e emocionais que estes espaços de celebração e resistência negra dão às incorporações, aos transes e ao corpo que se manifesta no coletivo.

Agenda

Espetáculo “Lama” – Núcleo Ajeum

Quanto: entrada franca

Classificação etária: 12 anos

02 de setembro, às 20h

Grupo Caixa Preta de Teatro – Previdência, 531, R Rua Meraldo Previdi, 531 – Centro Registro SP.

03 de setembro às 20h

Grupo Clariô de Teatro – R. Santa Luzia, 96 – Vila Santa Luzia, Taboão da Serra.

04 de setembro às 18h

Espaço Cultural Teatro Galpão – R. Jadir Figueira, 2750 – Jardim das Nações, Pindamonhangaba.

14 e 15 de setembro

Centro de Referência da Dança da Cidade de São Paulo – Galeria Formosa Baixos do Viaduto do Chá s/n, Praça Ramos de Azevedo – Centro Histórico de São Paulo, São Paulo.

27 e 28 de setembro às 19h

Sesc Pinheiros – R. Pais Leme, 195 – Pinheiros, São Paulo.

Aplicativo aproxima moradoras de empregos e cursos nas periferias de São Paulo

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80% dos usuários do aplicativo Akiposso+ são mulheres e 20% delas são mães solo e chefes de família.

A iniciativa foi criada na pandemia para combater os impactos causados pelas desigualdades sociais no cotidiano dos moradores. (Foto: Divulgação)

A startup Akiposso+ surgiu em abril de 2020, período de intensificação das desigualdades sociais nas periferias e favelas, causadas pela crise econômica que tirou o emprego e a renda dos moradores. Disponível para dispositivos Android e IOS, o principal objetivo do aplicativo é promover soluções de inclusão social por meio do mapeamento dos problemas que surgiram nos territórios periféricos das regiões leste, oeste e sul de São Paulo durante a pandemia.

Uma das usuárias é a manicure Mirlei Souza Fernandes, 36, que vive com a família no Jardim São Luiz, zona sul de São Paulo. Ela conta que soube do aplicativo por meio de uma cunhada que também mora na região. A dona de casa afirma que encontrou no aplicativo uma forma de transformar a realidade em que vivia desde que a filha mais velha, hoje com 11 anos, nasceu.

“Comecei a acessar o app durante a pandemia quando eu e meu esposo ficamos desempregados. Começamos a procurar Ongs que distribuem alimentos porque só a cesta básica fornecida pela escola não estava dando conta. Fiz o cadastro e não demorou muito para que eu fosse chamada para retirar os alimentos em um dos pontos de distribuição perto de casa”

 Mirlei Souza Fernandes é moradora do Jardim São Luiz, zona sul de São Paulo.

Além do cadastro para acesso a banco de alimentos fornecidos por empresas parceiras do aplicativo, os usuários também encontram uma série de oportunidades de emprego, cursos de empreendedorismo, educação financeira, técnicas de vendas e marketing, em parceria com o SEBRAE.

Mirlei relata que apesar de ter procurado o app em busca de uma ajuda pontual, continuou acessando outras coisas dentro da plataforma. “Fiz muitos cursos dentro do aplicativo: manicure, designer de sobrancelha e designer de unhas. Através do app comecei a fazer curso em outros lugares e isso me instigou a querer voltar a estudar”, revela orgulhosa a empreendedora que conta ainda que já prestou vestibular para pedagogia e tem planos de ingressar na universidade no primeiro semestre de 2023.

Mirlei Souza Fernandes passou a usar o app e conquistou uma série de mudanças positivas na carreira profissional. (Foto: Aquivo Pessoal)

“Conhecer esse app expandiu meus horizontes. Estava há 10 anos em casa sem trabalhar e isso me fez ficar muito introspectiva, quando minha segunda filha nasceu isso se intensificou – não queria mais sair de casa. Hoje eu sei que consigo estudar, trabalhar e cuidar das minhas filhas” 

Mirlei Souza está se preparando para ingressar no curso de pedagogia.

Dados e impacto social

Segundo levantamento realizado pela equipe do Akiposso+, 80% dos usuários cadastrados na plataforma são mulheres e 20% delas são mães solo e chefes de família, que assim como a Mirlei estão encontrando um novo caminho por meio do empreendedorismo social.

Outro trabalho realizado pelo App é a interação com os moradores dos territórios em que atua. O desenvolvimento dessa conexão dentro das comunidades é realizado pelos Agentes de Transformação ou Anjos como também são chamados os responsáveis pelo mapeamento com os moradores.

“A equipe nunca vem às comunidades sem antes ter uma ponte, no caso do meu território foi através da Associação dos trabalhadores e moradia popular, que virou centro de distribuição de doações: alimentos, fraldas descartáveis, produtos de higiene, entre outros”

Leila da Silva Bonfim é moradora do Jaraguá e componente do Anjos desde 2020.

Além do trabalho que realiza como agente de transformação, Leila também se formou em assistente administrativo, logística e controladora de acesso em uma instituição parceira do app. Para ela é importante que as iniciativas não sejam apenas assistencialistas e defende que levar educação para as pessoas é fundamental para quebrar ciclos de dependência. Leila também foi premiada com uma bolsa de iniciação científica pelo CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) para incentivo à pesquisa no Brasil.

Uma das criadoras do aplicativo Akiposso+ é Priya Patel, 49, moradora do Jardim Panorama, na zona eeste da capital paulista. Ela nasceu na África do Sul e veio para o Brasil com a família na época do Aparthaide, regime político de segregação racial que assolou negros e indianos que viviam na África do Sul em meados da década de 50.

Por conta da origem e de tudo que viu nos países por onde passou, não hesitou em reunir os amigos que conhecia para mobilizar ações de combate à fome durante a pandemia. Com 23 anos de experiência em grandes empresas do mundo corporativo, ela sabia quem poderia ajudar naquele momento.

“Começamos o mapeamento em quatro comunidades para entender o grau de vulnerabilidade nesses territórios: Jd. São Luiz, na Zona Sul; Jd. Jaraguá, na Zona Oeste; Jd Pantanal e Jd Helena, na Zona Leste – os últimos dados do censo foram colhidos em 2010 e quando se tem dados muito antigos você não consegue aplicar Políticas Públicas, entender as necessidades, dar acesso às oportunidades e conectar com parceiros”

Priya Patel é moradora do Jardim Panorama, na zona oeste de São Paulo. 

Priya conta que o mapeamento foi importante para revelar que as pessoas não queriam apenas o alimento, eles tinham necessidade de educação e cultura e foi aí que a questão da assistência social foi além, abrindo parcerias para ongs e instituições de ensino.

“Nos definimos como uma startup de tecnologia social – a gente trabalha com muitos dados, fomos atrás para entender o que de fato as pessoas precisavam não só durante a pandemia. Quem está fora tende a achar que quem está em situação de vulnerabilidade quer um assistencialismo, mas as pessoas querem chances para desenvolver suas habilidades. O aplicativo é justamente para esse fim: conectar e unir isso em um só lugar”, explica a desenvolvedora.

Saiba mais: 

Para conhecer mais sobre as oportunidades oferecidas pelo aplicativo, faça o download pela Google Play Store ou acesse neste link.

Sem trabalho e renda, moradores das periferias dependem do Bom Prato para se alimentar

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Algumas unidades do serviço público não funcionam nos finais de semana. A medida tem impactado moradores que ficam dependentes de ações solidárias de vizinhos e organizações sociais.

Unidades do Bom Prato nas periferias da zona sul de São Paulo só abrem de segunda-feira a sexta-feira. Foto: Patricia Santos

Como os preços dos alimentos estão aumentando cada vez mais, moradores das periferias de São Paulo deixam de ir ao mercado e feiras livres, por falta de dinheiro, e recorrem ao Bom Prato como alternativa para realizar refeições essenciais como café da manhã, almoço e jantar. Esse é o caso do senhor Antônio Inácio de Lima, 65, que vai todos os dias para almoçar e jantar na unidade do Bom Prato Capão Redondo, na zona sul de São Paulo.

O morador do Capão Redondo vive sozinho há 15 anos, desde o falecimento da esposa. Ele ainda não conseguiu se aposentar pelo fato da documentação estar incompleta. Neste momento, Lima está tentando reunir todos os documentos necessários, como a certidão de nascimento que se encontra em Pernambuco, estado onde nasceu. Enquanto isso, ele usa o pouco recurso que consegue com a ajuda de vizinhos e amigos para pagar as refeições no Bom Prato.

“O dinheiro que eu tenho é só para comer aqui. A minha salvação é essa, não tem outra coisa para mim. Se eu for comer em um bar por aí é R$ 20 ou R$ 30 no almoço, eu não tenho e a comida daqui é maravilhosa”

Antônio Inácio é morador do Capão Redondo, zona sul de São Paulo.

Custando R$ 1 real a cada refeição, e R$ 0,50 o café da manhã, o Bom Prato se tornou a principal alternativa viável para moradores das periferias que não tem condições de comprar alimentos ou pagar por refeições em estabelecimentos comerciais.

Sem renda e sem condições físicas para trabalhar, o senhor Antônio conta com a ajuda de vizinhos, que dão algumas moedas para ele conseguir comprar a comida no restaurante popular. Para suprir a necessidade do café da manhã, ele recebe o auxílio dos moradores a sua volta, que oferecem diariamente dois pães e o café preto. “Os vizinhos me dão algumas moedas pra comprar comida, eu não tenho renda nenhuma e também não consigo trabalhar, não tenho mais saúde pra isso.”, explica Antônio.

Nas unidades fixas, as refeições são servidas no próprio espaço e no jantar marmitas podem ser retiradas até as 18h. Foto: Patricia Santos

Renda insuficiente 

Segundo o DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), a cesta básica em São Paulo no mês de julho custava cerca de R$ 777,01. Esse valor destinado à alimentação de uma família de quatro pessoas corresponde a 64% do salário mínimo.

A Constituição Federal Brasileira estabelece que o salário mínimo deve ser suficiente para suprir as necessidades e despesas da família com relação à alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene e lazer.

No entanto, a realidade mostrada pelo estudo econômico do DIEESE mostra que o valor do salário necessário para cobrir essas e outras demandas de uma família com quatro pessoas, deveria ser de R$ 6.527,67, ou 5,39 vezes o valor atual do salário mínimo que é de R$ 1.212,00.

Os estudos do DIEESE tem forte conexão com a realidade vivida diariamente por Marcela Silva de Souza, 53, moradora do Capão Redondo, que tem apostado na atividade de catadora de recicláveis, como uma alternativa para gerar renda e conseguir levar alimentação para os 3 filhos e dois netos.

O preço dos alimentos nos mercados e feiras livres são incompatíveis com a realidade financeira vivida por Marcela e a família. O Bom Prato surge como a única solução de fácil acesso que permite a ela se organizar financeiramente.

“Em dias bons eu consigo fazer dinheiro suficiente pra dar comida pra todo mundo, mas tem dias que temos que dividir pra não faltar no dia seguinte”, conta a catadora de recicláveis, apontando que a cultura de dividir para não faltar já faz parte do cotidiano dos filhos e netos, que ainda são crianças.

Moradoes formam filas que dão a volta no quarteirão no Bom Prato do Capão Redondo.  Foto: Patricia Santos.

Expediente do Bom Prato 

Segundo a Secretaria de Desenvolvimento Social (SEDS) do Estado de São Paulo, durante a pandemia de Covid-19, o Programa de Segurança Alimentar Bom Prato teve um aumento de 23,1% na distribuição de refeições. Entre 2020 e 2021, foram distribuídas mais de 78 milhões de refeições. Já nos anos de 2017 a 2019, o programa distribuiu 63 milhões de refeições.

Atualmente são servidas mais de 114 mil refeições por dia nas 83 unidades do Bom Prato. Dessas, 22 unidades estão localizadas em endereços fixos e outras dez estão em unidades móveis na cidade de São Paulo. As unidades do programa de segurança alimentar localizadas na 25 de Março, Brás, Campos Elíseos, Guaianazes, Lapa e São Mateus, abrem sete dias por semana.

No entanto, as demais unidades instaladas em endereços fixos das regiões norte e sual do municipio atendem de segunda-feira a sexta-feira. Esse expediente não considera a demanda da população local que precisa se alimentar no sábado e domingo. Desta forma, o senhor Antônio e a Marcela são afetados diretamente pelo fechamento destas unidades.

“Chega sexta-feira eu pego duas marmitas: uma pra jantar e uma pra comer no sábado. No domingo os vizinhos me dão comida, com fome eu não fico, graças a Deus e a eles, mas seria bom se abrisse no domingo, não ia ficar dependendo só deles pra comer”

Antônio Inácio tem 65 anos, mas não é aposentado e não tem renda fixa.

No caso da Marcela, mesmo pegando duas marmitas (o limite permitido por vez), ainda é pouco para alimentar seis pessoas por mais dois dias. “Já cheguei a ir até Santo Amaro pegando carona nos ônibus pra pegar marmita, mas é muito difícil, nem todo motorista quer dar carona”, relata.

A periferia no combate à fome 

Marisa Mateus (de verde), e as cozinheiras do Cozinheiras da OnG O Amor Agradece do Núcleo Carumbé que servem servem todos os domingo cerca de 250 marmitas aos moradores do bairro. Foto: divulgação.

 Marisa Mateus, 64, é moradora do Jardim Carumbé, bairro localizado na Brasilândia, zona norte de São Paulo. Ela atua como coordenadora do Núcleo Carumbé da organização social “O Amor Agradece”, que entrega marmitas aos domingos para moradores da Ocupação Nova Carumbé.

A organização existe há quatro anos, mas o Núcleo Carumbé, responsável pela distribuição de refeições, surgiu durante a pandemia de Covid-19, mesmo período no qual o Bom Prato teve um aumento considerável na distribuição de refeições.

“Em abril de 2021 eu recebi uma ligação de uma amiga, dizendo que um grupo que distribuía marmitas estava precisando de um carro para fazer o recolhe. Eu disse que poderia, sim fazer, mas distribuiria aqui na minha comunidade, pois temos uma ocupação de moradia em situação de vulnerabilidade. Assim conheci a Rute Correia, que é coordenadora da ONG “O Amor agradece.”, relembra.

Em 2021, a pedido de Rute Correia, Marisa passou a cozinhar junto com as irmãs e vizinhas do bairro onde mora, e hoje somam juntas dez cozinheiras e algumas ajudantes no coletivo. Elas cozinham em suas casas e o projeto recolhe e distribui na região.

As quentinhas são preparadas nas casas das cozinheiras que são voluntárias e retiradas por integrantes do núcleo para distribuição. Foto: Marisa Mateus.

“Hoje são 250 marmitas distribuídas para aqueles que estão na fila todos os domingos. O critério para distribuirmos nesta região é a proximidade. A comida chega quentinha ao nosso público.”,

Marisa Mateus, coordenadora do Núcleo Carumbé, localizado na Brasilândia, zona norte de São Paulo.

O Bom Prato localizado na Brasilândia também funciona de segunda-feira a sexta-feira, com isso, os moradores do territórios ficam vulneráveis com a falta de alimentação nos finais de semana, fato que reforça a importância da atuação da organização social na região.

Segundo a SEDS, as unidades do Bom Prato que funcionam aos fins de semana são definidas de acordo com a demanda de usuários da região. “A frequência de abertura e funcionamento das 83 unidades do Bom Prato são determinadas através de um mapeamento de demanda. Há três opções de abertura que atendem a frequência dos clientes e pessoas em situação de rua em seus diferentes territórios do estado: segunda-feira a sexta-feira, segunda a sábado, e segunda a domingo.”, explica a secretaria de governo do estado. 

Batalhas de poesias reforçam o direito à cidade

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Os slams, competições de poesias faladas, se espalharam pelas periferias e hoje grande parte dos grupos realizam suas edições ocupando espaços públicos da cidade.

A cena do slam, batalha de poesia falada que se tornou popular no Brasil principalmente através do ZAP! Slam, criado por Roberta Estrela D’Alva, teve início na década de 1980, em Chicago, nos Estados Unidos. Desde então, o movimento tem se espalhado pelas periferias e ocupado espaços públicos através da poesia falada, usada como instrumento para performances que abordam desde o amor à desigualdades sociais.

“Entendemos que o Terminal Santo Amaro ainda é quebrada, por mais que queiram elitizar, a região ainda é periferia e é caminho para todas as quebradas da sul, e chamamos de 13 por causa do metrô”

explica Thiago Peixoto, poeta e coordenador do Slam do 13, batalha que em 2022 completou nove anos de atuação na zona sul de São Paulo.

Em outra ponta da cidade e também realizada nas redondezas de uma estação de trem, acontece o Slam Oz, batalha de poesia com edições toda última quarta-feira do mês, na saída da estação Osasco, região metropolitana de São Paulo. Os criadores afirmam que o local foi escolhido por conta da facilidade de retorno dos poetas e público para suas casas.

“A importância de se fazer eventos poéticos e culturais em locais públicos é gigantesca, principalmente porque nem todos têm acesso quando ocorrem em espaços privados”

afirma o poeta Lucão, integrante do Slam Oz e morador de Carapicuíba, município vizinho de Osasco.

Já no distrito da Vila Matilde, na zona leste de São Paulo, acontece o Slam Tiquatira, realizado todo último domingo do mês, em frente a estação Vila Matilde, na linha vermelha do metrô. 

“É um espaço muito democrático. As pessoas que estão passando para trabalhar, para sair, podem ver o Slam, parar um pouquinho para apreciar as poesias e ir embora”

comenta Nicole Amaral, matemática do Slam Tiquatira

Durante as batalhas de poesias, são escolhidas pessoas do público para serem os jurados e atribuírem notas as apresentações dos poetas.
O público nos slams vai desde crianças até pessoas mais velhas. Espaços abertos que acolhem o público que quiser colar. Slam Oz realizado em julho de 2022.
Moradora do Campo Limpo, zona sul de sp, Jéssica Amorim, 25, foi pela primeira vez em um slam a convite de uma amiga. No Slam do 13 viveu de tudo: sorriu, se emocionou, ganhou livro e cogita levar os versos que escreve nas próximas idas. “Me despertou a curiosidade de frequentar mais vezes e quem sabe até mostrar os versos que escrevo”, reflete Jéssica.
Desde a sua primeira edição em 2013, o Slam do 13, que acontece toda última segunda feira do mês dentro do Terminal Santo Amaro, zona sul de São Paulo, tem sido um espaço de fortalecimento de poetas, sejam iniciantes ou veteranos na cena.
Nascido na Bahia e atualmente morador de Osasco, o poeta CJ, 22, escreve poesias desde os 8 anos. “A poesia é a saída para esses sentimentos e através dela pude começar a dar um sentido para aquilo que até então eu mal entendia”, conta o poeta que participou na edição de julho do Slam do 13.

Direita

Da zona sul para zona leste: King a Braba é moradora de Itapecerica da Serra, e foi a campeã da edição de julho de 2022 do Slam Tiquatira.
Kenyt, morador de Ermelino Matarazzo, zona leste, é poeta formador do Slam da Guilhermina e autor do livro “Inté Aqui – Pode me Chamar de Kenyt”. Participação do poeta no Slam Oz, realizado em Osasco, em julho de 2022.
Brenalta, é poeta caiçara, morador de Boiçucanga, litoral norte de São Paulo, e foi um dos finalistas da edição de julho de 2022 do Slam Tiquatira.
Naiá Curumim, é poetisa e moradora de Carapicuíba, região metropolitana de SP. Em julho de 2022 participou do Slam Oz, batalha com edições toda última quarta-feira do mês, na saída da estação Osasco, região metropolitana de São Paulo.
Atualmente existem mais de 200 grupos de slams no Brasil, espalhados em pelo menos 20 estados. Cada slam realiza mensalmente suas batalhas de poesia, sendo que anualmente classificam um poeta representante para batalhar no Slam SP. O ganhador da batalha em São Paulo, se classifica para a final do Slam BR, competição com slams de todo país, e o vencedor representa o Brasil na Copa do Mundo de Slam, realizada em Paris.

Cooperativa de educadores engaja estudantes periféricos em novo modelo pedagógico

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Criada por professores da zona leste de São Paulo, a Cooperativa Bamboo atua através de um modelo pedagógico que vai além de suprir ausências educacionais.

Samuel e Leandro são professores na rede pública e juntos criaram a Cooperativa Bamboo. Foto: Rafaela Araújo

Em duas salas comerciais com cerca de 30 m², são organizadas atividades pedagógicas que atendem crianças, adolescentes e adultos no bairro Cohab II, no distrito de José Bonifácio, zona leste de São Paulo. É através desse espaço, organizado por professores da rede pública, que acontecem as ações da Cooperativa Bamboo, pensada para atender demandas educacionais do território.

Criada em 2016, no distrito de José Bonifácio, a Cooperativa Bamboo atende moradores da região, mas também de territórios vizinhos, como Guaianases, Cidade Tiradentes, Parque do Carmo, Poá e Ferraz de Vasconcelos. 

“Pensar um trampo que primeiro ninguém explora ninguém, e que também não explore a comunidade. Que seja horizontal, todo mundo fizesse parte, que as decisões fossem tomadas juntas”, é a partir desse lugar que nasce o projeto, como conta Samuel Chaves Neto, 37 anos, morador da Cohab II, professor da rede municipal, formado em Geografia pela USP e co-fundador da Cooperativa Bamboo.

Samuel narra que o espaço não surge apenas para suprir ausências do poder público na questão educacional, mas para pensar de forma tecnológica aprendizados para a quebrada. “Um projeto aberto, comunitário e de um aprendizado de movimento social mesmo, de quem vai dar as respostas para os nossos problemas é a gente”, afirma.

Leandro Chaves, 40, irmão de Samuel, é formado em história, co-fundador da cooperativa e professor na rede pública, aponta que sente desde muito tempo essas ausências no território. Uma das influências dos irmãos no campo da educação é a mãe deles, que também é professora. 

“Essa discussão me veio muito a partir de cursinho comunitário e dos movimentos sociais. Boa parte das pessoas que viraram professores aqui, que são nossos amigos, vieram de contatos do movimento social”

Historiador Leandro Chaves

Entre tutorias, cursinhos e aulas de idiomas, o espaço já funcionou de várias formas: com aulas por valores sociais e com bolsas, mas foi um formato que não deu certo. O professor conta que o plano da Cooperativa era conseguir sair de uma lógica de exploração, tanto na hora de oferecer o serviço para comunidade, como no momento de remunerar os professores.

“Oferecer um trampo com um preço social, remunerar decentemente, e chegar na comunidade com um preço que não existe. Tentamos fazer isso até a pandemia, só que não funcionou, então fomos vendo que funcionava no modo voluntário mesmo”, aponta Samuel, reforçando que hoje estão com uma turma mantida com doação e conseguiram abrir mais uma turma de tutoria. 

 “Eu queria que a minha escola fosse como aqui”

Uma das formas de atuação dos professores na Cooperativa é a tutoria, que funciona a partir da identificação das necessidades de cada aluno, para assim definir um caminho que desperte o interesse do grupo.

(Fotos: Rafaela Araujo)

Rodrigo dos Santos, Murillo Henrike e Pedro Henrique, ambos com 10 anos de idade, fazem aulas de tutoria na cooperativa. Eles contam que fizeram uma pesquisa sobre futebol e que isso os levou a discutir sobre história.

“Ontem pesquisamos sobre a 2° Guerra Mundial, começamos a pesquisar sobre futebol, fomos atrás dos países de cada time, daí a gente queria pesquisar sobre a Alemanha que tem aquele goleiro famoso, e chegamos nas guerras”

Rodrigo de 10 anos.

Ele afirma que a forma como aprende na Cooperativa é diferente da abordagem na escola. “É muito difícil ser jogador, tem que saber ler, escrever, matemática e tem que trabalhar em equipe, aí a gente aprende falando do que a gente gosta, é muito diferente da escola, lá é chato”, afirma Rodrigo.

Já Pedro, conta que queria aprender na escola como aprende na Cooperativa. “Também queria que a minha escola fosse assim, legal. Aqui tem o boliche, tem o computador, tem uma sala, um montão de livro, mas eu ainda não gosto de ler”, finaliza contando sobre suas vivências no espaço.

Alexandre da Silva, 19 anos, morador da Cohab II, é ex-aluno da cooperativa e começou com as aulas de reforço quando estava na 6° série. O jovem fez as tutorias no espaço, cursinho, e atualmente estuda licenciatura em Física na Unicamp. Ele conta que se descobriu como professor dentro da cooperativa e a partir das trocas com os professores. 

“Eu digo que a licenciatura na minha vida tem total influência deste último professor que me deu aula aqui no espaço, o Wesley. E diferente desse sistema decoreba que muitas vezes é o vestibular, esse professor me ensinou que ciências naturais estão de forma prática nas nossas vidas, que dá para aprender e é prazeroso”

Alexandre Silva, ex aluno. 

O jovem conta que a cooperativa possibilitou que ele tivesse um sonho e um caminho para seguir, que segundo ele é dentro da educação. “Quando eu era mais novo eu não tinha um sonho, uma pretensão de vida, mas quando eu entrei aqui e comecei a crescer e ver as coisas do mundo, surgiu uma paixão pela educação dentro de mim”

Alexandre Silva, ex aluno. Foto: Rafaela Araújo

“Queremos ter um projeto de educação que saía desse lugar de suprir só a ausência”

Leandro Chaves, co-fundador da cooperativa, relata que durante a pandemia a Cooperativa teve uma crescente procura por tutorias e acompanhamento escolar, para ele isso evidencia a carência do ensino público.

“Durante a pandemia se evidenciou o lugar de que os estudantes de escola pública precisavam muito mais de um acompanhamento escolar, começamos abrir grupos de acompanhamento escolar e teve um boom muito grande”, aponta Leandro.

Samuel Chaves afirma que a busca é por um projeto de educação que dialogue com o que tem de mais moderno no ensino. “Com eixos de educação não violenta, humanizada, cooperação, respeito, equidade e transformação, que pedagogicamente seja avançado, que saía desse lugar de suprir só a ausência”, reflete.

“Um projeto que pense novas práticas, e também uma organização de trabalho de outra maneira, por isso que é a cooperativa”

Samuel Chaves,  professor da rede municipal e co-fundador da Cooperativa Bamboo.

Ele ainda afirma que as crianças e adolescentes precisam de um sistema educacional que acredite nelas, de pessoas que confiem no que elas querem e estão falando. “Alguém para acreditar neles, ouvir, trocar ideia mesmo, acreditar no sonho deles, isso é fundamental no processo de educação, permitir que eles sejam vistos”, afirma o professor.

“A gente nunca teve investimento nenhum, zero investimento sabe, funcionou sempre na loucura. Até para reformar aqui eu pedi um empréstimo no meu CPF, e a maior parte do rolê sempre foi voluntário mesmo”

relata Samuel

Samuel conta que estão pensando outras formas de manter o projeto que não seja com a mensalidade. “Esses grupos de tutoria, que são quatro, conseguimos apoio de pessoas que contribuem mensalmente e financiam esses grupos, e agora estamos buscando outras formas, como editais, apoios, benfeitorias”, aponta.

Atualmente a cooperativa se mantém de forma semipresencial, com quatro turmas de tutorias de forma gratuita, financiadas por professores parceiros, que contribuem mensalmente com os custos de espaço, sendo duas turmas onlines e duas turmas presenciais.

Além das turmas de idiomas aos sábados por um valor social de 80 reais mensais, as turmas dos cursinhos estão sendo re-planejadas, em busca de apoios financeiros.

Para Alexandre, ex-aluno do projeto e hoje estudante de Física, a Cooperativa foi uma possibilidade não só para sonhar, como realizar. “Eu digo que a cooperativa me entrega algo para acreditar, me deram a possibilidade de sonhar”, afirma.

No início de agosto a cooperativa abriu inscrições de bolsa de estudos para as tutorias voltadas as estudantes das redes públicas de ensino.

A cultura fora do senso comum

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Um texto que escrevi no livro “Nenhum passo atrás!” do Fórum de Cultura da Zona Leste, que retrata várias lutas por direitos nas regiões periféricas da zona leste e além dela.

Encontro agentes culturais das periferias. Foto: Arquivo Fórum de Cultura da Zona Leste

Oprê! Salve queride, tudo bem contigo? Espero que sim. O texto que segue é uma escrita de uns anos atrás no livro “Nenhum passo atrás!” do Fórum de Cultura da Zona Leste (FCZL). O nome do livro é uma feminagem / homenagem a um grito de guerra e uma música composta por Daniel Marques Sundiata, grande poeta e ativista negre e LGBTQIA+.

Este livro é bem bacana, retrata várias lutas por direitos nas regiões periféricas da Zona Leste e além dela. A publicação dá uma amostra de como as periferias das diferentes regiões da cidade se organizaram para fundar o Movimento Cultural das Periferias e, além de outras tantas ações, criar de forma popular a Lei de Fomento à Cultura das Periferias (lei 16.496/16), política pública que descentraliza recursos financeiros para a cultura. A lei é vigente na cidade de São Paulo e foi construída de forma suprapartidária e escrita a muitas mãos periféricas.

O livro tem protagonismo plural e foi organizado pela articuladora cultural Elaine Mineiro, pela gestora cultural Mônica Gomes e pela poeta e artesã Queila Rodrigues. São vários textos nessa publicação, estou deixando por aqui a minha contribuição no livro, mas vale muito você conferir ele por completo porque tem várias ideias de manas, manos e de movimentos culturais deste e de outros tempos nas quebradas de Éssepê.

Cultura 

Oprê! Me deram a honra de escrever sobre a importância das discussões culturais do Fórum de Cultura da Zona Leste (FCZL). Para isso darei alguns passos atrás para rascunhar aqui um desenho do que seria cultura e que valores comumente se atribuem a ela.

Cultura: do latim “colere”. Cultura significa cultivar. Em relações humanas teria então o sentido de cuidado com o meio (social ou cultural). Cultura é a relação do humano com o meio nas mais variadas formas: na relação com a natureza (agricultura), na comunicação com os outros seres (linguagens), nos costumes de um povo ou grupo, nas cosmovisões (nos cosmo sensíveis, nas fés dos sagrados afrikanos, como diria Sidnei de Xangô) e, por último e não menos importante, na criação de interações com o meio para cuidar do futuro que é comum a todos.

Resumindo muito, cultura é um “guarda-chuva” que cobre muitas áreas do pensamento e do comportamento coletivo, inclusive o pensamento crítico e político. Para o senso comum atual, muitas vezes cultura é vista como acúmulo, ou como quando se pergunta se “fulana ou ciclano tem cultura”: “foi ao teatro?”, “leu tal e tal livro?” e por aí vai.

Dessa forma, muitas vezes o termo cultura se desprende do cotidiano e, de certa forma, no senso comum vira algo que “está fora”, que precisa ser alcançado, que uns têm e outros não. O Estado e os meios de comunicação têm papel fundamental nessa distorção do que vem a ser cultura.

Estado e Cultura

Foi o Estado que durante muitos e muitos anos apartou a população do direito de discutir e escolher quais caminhos deve trilhar em sociedade. Estamos falando dessa sociedade: a sociedade “brasileira”.

Coloco “brasileira” entre aspas porque um território que não reconhece os direitos humanos essenciais de parte da população (povos originários, negres, mulheres e LGBTQI) não merece ser chamada de nação.

Friso que para mim (e pra muites) não existe Brasil. Nunca existiu. É uma fábula. Foi o Estado Brasileiro que, para justificar seus atos e “pelo progresso da nação”, inventou que povos originários (para eles indígenas) não tinham cultura, por isso mereciam ser subjugados.

Foi o Estado brasileiro que comercializou e escravizou pessoas negras. Foi e é o Estado Brasileiro que não reconhece direitos individuais e coletivos de povos originários, negres, mulheres e população LGBTQI, fazendo que estejam aquém de suas potencialidades.

Este Estado não por acaso, na Ditadura, apartava a população de linguagens culturais, que eram vistas como emancipadoras ou questionadoras do estado geral das coisas. Assim, a população “brasileira” quase nunca se via como detentora do poder de mudança cultural, logo não pôde mudar a política, que segue com poucas mudanças estruturais.

Não era a população que decidia antes da democratização e, após ela, tivemos e temos uma democracia tímida na qual apenas de quatro em quatro anos se pode votar em alguém que quase sempre é membro da “elite” dessa sociedade (geralmente homens brancos), ou seja, esses eleitos geralmente ignoram as particularidades e necessidades de outros meios sociais em que não conviveram. 

E cultura, cultura também é convívio. Convívio e empatia.

Há bibliografia vasta que pode confirmar as afirmações aqui descritas. De Clóvis Moura, Abdias do Nascimento, Lélia Gonzalez e Joel Rufino dos Santos nos anos 70/80, passando por Sueli Carneiro e Rosane Borges nos anos 2000 até chegar a Djamilla Ribeiro, Joice Berth ou Silvio de Almeida na recente coleção Feminismos Plurais.

Apesar das provas estatísticas e das teses dos “excluídos da nação” estarem há anos registradas e editadas em diversos livros, o epistemicídio e a pouca abertura dos meios de comunicação mantém abafadas estas tantas vozes: as vozes da maioria minorizada.

A periferia e o trânsito de ideias

Por outro lado, desde sempre houve e haverá grupos organizados para alterar o estado geral das coisas, alterar o dito “status quo”, que é geralmente eurocêntrico e novamente rendido a um fanatismo e a valores e interesses estadunidenses.

Neste sentido, movimentos sociais, organizações comunitárias, alguns grupos religiosos, grupos de mulheres ou comunidades tradicionais afro-brasileiras e “indígenas” sempre se debruçaram sobre como sobreviver numa sociedade que não foi fundada para reconhecer suas presenças, direitos e suas necessidades específicas.

Acredito que na atualidade, após a explosão dos saraus, slams e depois de um maior acesso da classe trabalhadora às Universidades Públicas, as periferias têm sido um dos catalisadores e organizadores de uma frente ampla por uma sociedade mais justa, igualitária, uma sociedade que busque equidade entre todes, todas e todos membros de seu meio.

Eu acredito que é justamente nesse tipo de atuação que os encontros e eventos organizados pelo Fórum de Cultura da Zona Leste estão inseridos.

Por estarmos na era da internet, vez ou outra este tipo de iniciativa é visibilizada para outras regiões da cidade e o resultado é o trânsito de ideias de uma periferia a outra, o que faz com que uma experiência seja replicada de quando em quando em regiões diferentes da cidade.

Eu pude nos últimos 5 anos ser testemunha ocular e um colaborador ativo em coletividades que têm garantido redes de proteção de direitos e que, a duras penas e com poucos recursos, fazem com que as pessoas tenham consciência do tipo de sociedade em que vivemos.

As experiências das quais estive mais próximo foram a do FCZL e do Movimento Cultural das Periferias, este último, organização que congrega diversas coletividades das periferias.

Durante o ano de 2017, o FCZL se debruçou sobre temas e temáticas importantes, garantindo visões de articuladoras e articuladores das mais variadas atuações. Esses encontros foram fruto de outras tantas articulações, feitas por coletivos de periferia nos últimos 4 anos.

Cada um dos encontros deu conta da paridade de gênero e étnico-racial, de forma que a pluralidade (e não só a diversidade) enriquecesse os temas e as conversas, que tinham participação ativa da comunidade e facilitadores mulheres, negros, bichas, lésbicas, indígenas etc.

Os temas perpassaram questões estruturais como a economia, a população negra no mercado de trabalho, racismo nas artes e na cultura, machismo, sexismo, patriarcado, genocídios e cartografias da exclusão. Todo esse material é disponibilizado em vídeo na página do facebook, incluindo, além das falas de convidadas, as perguntas e comentários do público.

O FCZL junto de centenas de coletivos e organizações de periferia vem fazendo um trabalho que estimula o convívio comunitário e discussões amplas, que provam que cultura é política e que a população de quebrada muitas vezes tem alternativas de pensamento além do senso comum e do que é veiculado na mídia tradicional.

É importante que você, que lê esse livro periférico, visite outros bairros e amplie o leque de opções de diálogo e de organização: pelo direito à cidade e por uma cidadania realmente participativa na cultura e na política! Saravá às mudanças!

E aí, curtiu o texto? Deixa um comentário por aqui pra eu saber o que achou e me diz aí o que a cultura é pra você, na sua vida, na sua vivência, na sua quebrada. 

Valeu! Até mês que vem!

Saravá as mudanças !

Feira cultural e agroecológica reúne empreendedoras das periferias no Butantã

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Com mais de 30 expositoras de produtos e artes, o evento é aberto ao público e conta oficinas para crianças e adultos e show de forró.  

Edição da Feira Agroecológica e Cultural de Mulheres no Butantã realizada em junho de 2022. (Foto: Ana Luiza Sanches)

Neste domingo (21), mulheres de diferentes territórios periféricos da capital paulista vão expor seus produtos e artes das 10h às 17h em uma feira no Viveiro 2 do Butantã, uma grande área verde localizada na zona oeste de São Paulo cercada por moradias populares.

O evento faz parte do projeto Conexões PeriFeira, iniciativa criada pela Feira Agroecológica e Cultural de Mulheres no Butantã, com apoio do Programa para a Valorização de Iniciativas Culturais (VAI), uma política pública de fomento a cultura nas periferias da Secretaria de Cultura do Município de São Paulo.

“A nossa expectativa é que a PeriFeira seja uma experiência positiva para essas mulheres e possa inspirar naquelas que nunca tinham participado de feiras solidárias, o desejo e a coragem de se organizarem e multiplicarem iniciativas como essa em seus territórios”, conta Merilin Soares, coautora do projeto e integrante da Feira Agroecológica e Cultural de Mulheres no Butantã.

Um dos principais objetivos da feira é apresentar a diversidade das produções e serviços oferecidos por empreendedoras periféricas, como terapias holísticas, cosméticos e temperos naturais; roupas em tecidos africanos; bordados à mão; colares em macramê; bonecas de pano; peças em tear e cerâmica, além de comidas e alimentos frescos vindos direto da agricultura familiar. 

“É uma maneira da gente mostrar nosso trabalho fora do nosso local e de gerar renda também”

Tallita Leandro é designer em peças de macramê e expositora da PeriFeira.

A feira reúne mais de 30 empreendimento de mulheres das periferias de São Paulo. (Acervo / Feira Agroecológica e Cultural de Mulheres no Butantã)

O evento também se destaca em sua forma de organização. Diferente de outros espaços de comercialização, onde as expositoras chegam no dia marcado para venda mediante a compra de um stand ou espaço na feira para comercialização, o planejamento e produção da PeriFeira vem sendo construídos coletivamente pelas participantes juntamente com a Feira Agroecológica e Cultural de Mulheres no Butantã.

“A gente sabe que muitas vezes o nosso produto não consegue ser comercializado na periferia por conta de outras demandas que a galera da periferia tem mesmo. Então, é uma oportunidade de mostrar a nossa cara, a capacidade da periferia; e também, pra mim, é a questão da rede, de poder me conectar com outras manas pra pensar formas de manter um apoio e trocas entre a gente”, comenta Tallita Leandro, designer em peças de macramê, apontando a importância de participar do evento.

Ela ressalta que a proposta de autogestão proposta pelo coletivo que organiza a feita também é um diferencial para contemplar e incluir a visão e vivência de diferentes mulheres das periferias.

“As conversas nas nossas reuniões sempre trazem mulheres com experiências incríveis. E o fato também de que todas essas manas são da periferia rola uma identificação maior. Apesar das realidades entre periferias serem muito distintas, eu consigo visualizar um pouco melhor na fala dessas manas o meu contexto e pensar em coisas para aplicar no meu empreendimento”, argumenta a designer.

Show do Quarteto Mahina na edição de agosto de 2022 da Feira Agroecológica e Cultural de Mulheres no Butantã. (Foto: Luciano Botosso)

Além das exposições de empreendedoras das periferias, o evento conta com uma programação especial, oferecendo atividades para crianças e adultos, que vão desde práticas para o corpo até oficinas de artesanato e alimentação. Uma das atrações culturais é o show com o trio de forró Cabra é Fêmea, que acontece às 16h. Tanto a entrada como a participação nas atividades são gratuitas.

Desde 2017, a Feira Agroecológica e Cultural de Mulheres no Butantã atua como um coletivo de produtoras culturais que promove um evento mensal de comercialização solidária e promoção cultural. Com mais de 50 empreendimentos cadastrados, a rede é composta por agricultoras familiares, artesãs, costureiras, cozinheiras e arte-educadoras.

Confira a programação: 

● 10h30 | Yoga e Meditação com Asha Donini

● 11h30 | Oficina de PANC (Plantas Alimentícias Não Convencionais) e Aproveitamento integral de Alimentos com Panc no gueto

● 13h | Oficina infantil de bambolê com Carla Pena

● 14h30 | Oficina de macramê com Artigiana Macramê

● 16h | Show de forró com o trio Cabra é Fêmea Serviço: O que: Conexões PeriFeira Quando: 21/08 (domingo)

Horário: Das 10h às 17h

Local: Viveiro 2 – Rua José Álvares Maciel s/n (Altura do nº 847), Butantã – SP

Entrada:  Gratuita bem como a participação nas oficinas.