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Campanha Elas Transformam: construindo caminhos e ações

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O movimento Elas Transformam é uma iniciativa do projeto MUDE com Elas que mobiliza ações e campanhas de combate ao racismo e ao sexismo no processo de inserção juvenil no mundo do trabalho.

Antes de tudo peço licença aos leitores de minhas colunas, meus temas são gerais e desde 2020 busquei trazer reflexões para possíveis debates, contudo, resolvi também falar sobre ações que implementam importantes mudanças e podem ser nossa nova forma de criar diálogos com as juventudes.

Sendo assim, vim apresentar o Mude com Elas, um projeto que nasceu em 2020 e é implementado pela Ação Educativa, tem colaboração com a Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha em São Paulo (AHK São Paulo) e possui apoio da Terre des Hommes Alemanha (TDH), responsável pela coordenação geral do projeto e co-financiadora junto com o Ministério para Cooperação e Desenvolvimento da Alemanha. 

O projeto foi planejado pensando a entrada desigual dos jovens no mundo do trabalho e junto a isso os marcadores de gênero e raça, dentro do cenário da falta de políticas públicas, inserção desigual, sobrecarga, racismo entre outros, seria necessário criar estratégias para garantia dos direitos dos jovens e principalmente das jovens mulheres negras que são extremamente afetadas negativamente por essa dinâmica.

Assim o Mude se estruturou em algumas frentes envolvendo: incidência com a criação de uma parceria multiatores, envolvendo a sociedade civil, poder público e setor privado, e também uma iniciativa piloto de inserção de jovens mulheres negras nas empresas parceiras da AHK, prevendo formação técnica e cidadã e sensibilização de colaboradores de empresas alemãs.

Desde o lançamento, o projeto vem se unindo a diferentes atores sociais e políticos, além de refletir sobre a formação das jovens que fizeram parte desse aprendizado e suas entradas no mercado de trabalho.

Em 2021, o projeto conseguiu atuar para a criação de uma Subcomissão de Juventude dentro da Comissão de Finanças e Orçamento e desde então a Comissão instalada tem sido uma maneira de levar até o poder público as problemáticas enfrentadas pelos jovens de periferia, em especial as jovens mulheres negras.

Pensando em toda essa trajetória, o projeto construiu a maravilhosa Campanha Elas Transformam que foi lançada em 1 de Maio, o dia do trabalhador.

O movimento Elas Transformam é uma iniciativa do projeto MUDE com Elas que mobiliza ações e campanhas de combate ao racismo e ao sexismo no processo de inserção juvenil no mundo do trabalho. O projeto MUDE com Elas tem como realizador a Ação Educativa, Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha em São Paulo (AHK São Paulo) e o escritório de Terre des hommes Alemanha (Tdh).

A Campanha busca um diálogo com as empresas e seus pares para que sejam realizadas mudanças efetivas dentro do mercado de trabalho como um todo, não somente no RH.

Falar sobre jovens mulheres negras e mercado de trabalho também é tocar na trajetória das nossas jovens de periferia que estão agora iniciando a sua jornada. Então convido aos leitores interessados a procurarem e apoiarem essa luta! 

Por fim, deixo o convite para o evento “Encontro de Juventudes “Orçamento e Políticas Públicas” que acontecerá no dia 24 de Junho de 2023, das 13h30 às 17h, no Auditório 1º de Maio, no 1º andar da Câmara Municipal de São Paulo: Viaduto Jacareí, 100 – Bela Vista, São Paulo – SP, Palácio Anchieta. 

Que um dia nossos jovens possam sonhar

Que a morte desencontre nossa vida

Para que o horizonte seja um passo para construção 

E não o fim cinza

Agnes Roldan

“Através da pipa parei de beber”: brincadeira de infância muda estilo de vida de morador da periferia

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Em um final de semana, a equipe Pipeiros do Ipava, reúne cerca de 30 pessoas para praticar a tradicional brincadeira de infância de empinar pipa em um terreno no Jardim Jacira, em Itapecerica da Serra, na Região Metropolitana de São Paulo. Para Adriano Magalhães, co-fundador do coletivo de pipeiros, a atividade é uma questão de autocuidado.

O objetivo no início era resgatar a brincadeira de infância, um costume de diversão que, embora tenha marcado sua vida, não era aprovado pelo pai, que considerava que isso era coisa “de quem não tinha o que fazer”.

“A sensação de correr atrás do pipa é de liberdade, sinto que vai me fazer bem”, afirma Magalhães, morador da Cidade Ipava, periferia da zona sul de São Paulo.

“Três varetas, papel de seda e a rabiola são a diversão da periferia”

Adriano Magalhães de Siqueira, presidente da equipe Pipeiros do Ipava
Adriano transformou os finais de semana ao lado da Equipe Pipeiros do Ipava em momento de autocuidado e bem estar com amigos e filhos. (Foto: Arquivo Pessoal)

Com a notícia da criação da equipe Pipeiros do Ipava se espalhando, novos membros chegaram – hoje são cerca de 80 – e empinar pipa passou a mudar para melhor a rotina dos finais de semana do grupo de amigos.

“Através da pipa mudei o estilo de vida pra melhor, parei de beber, não falo palavrão, me tornei mais educado”, afirma Magalhães, que durante 10 anos ingeriu bebida alcoólica excessivamente.

“Nos festivais que faço com a minha equipe não tem nenhum tipo de bebida, por exemplo, justamente por todos saberem do que já passei — e alguns deles também. Todo mundo respeita muito”, conta o pipeiro.

Adriano incentiva o resgate de brincadeiras de infâncias para mostrar as crianças que existem outras formas de diversão e interação, além do celular. (Foto: Arquivo Pessoal)

Resgate de infâncias

Para Magalhães, presidente da equipe Pipeiros do Ipava, o resgate da infância é um impacto importante provocado pela pipa nas crianças de hoje. Para ele, vê-las brincando na rua e saindo da frente das telas de celular e televisão é primordial para o desenvolvimento e criação de memórias desta fase da vida.

“Minha filha tem 11 anos e hoje tem o celular da moda, mas na minha época era diferente, minha diversão era outra e eu fico feliz quando vejo que ela faz coisas que eu fazia, como cair de bicicleta e se machucar, ela tá vivendo”, relata o pipeiro.

“Quero mostrar como é bom ser feliz e com pouco, trazer de volta a essência das brincadeiras do passado”

Adriano Magalhães de Siqueira, pipeiro

Além do resgate do que foi a sua própria infância com os amigos nas ruas e lajes das periferias da zona sul de São Paulo, o presidente da equipe Pipeiros do Ipava entende que sua missão é apresentar outras brincadeiras para as crianças, que sejam interativas e sem um grande custo para os pais.

“Com 1 real o moleque já pode ter uma pipa e se divertir. Eu comento sempre com a minha esposa sobre isso de a gente querer trazer isso de volta, pedra por pedra e quem sabe construir um castelo. E não é só sobre pipa, estamos trazendo brincadeiras das antigas: esconde-esconde, pega ladrão e são brincadeiras que não tem um custo, mas tem valor”, finaliza.

Terra enquanto direito: sem demarcação, não existe democracia #10

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Trocamos uma ideia com o Juão Nÿn e o Dustin Farias, artistas que fazem parte do Coletivo Estopô Balaio, que falaram sobre a peça Reset Brasil, uma produção que reflete sobre a memória e luta indígena no território da zona leste de São Paulo.

A partir dessa troca, o episódio reflete sobre o direito à terra a partir da perspectiva da população que é anterior ao que chamamos de Brasil, o olhar de quem já estava aqui, os povos indígenas. 

O Cena Rápida tem episódios novos quinzenalmente, sempre às quartas, disponivel gratuitamente no Google Podcasts, Spotify e Youtube

Ficha técnica:
Roteiro, apresentação e entrevistas – Evelyn Vilhena
Distribuição – Thais Siqueira e Samara Santos
Produção audiovisual – Pedro Oliveira
Identidade visual – Flávia Lopes
Vinheta e edição – Jonnas Rosa 
Nesse episódio usamos trechos do áudio “Trem-Ato” que faz parte da peça Reset Brasil do Coletivo Estopô Balaio que teve Direção Musical, Edição e Mixagem por Rodrigo Caçapa
Voz no trecho exibido – Ane Pankararu
Foto da arte – Cassandra Mello

Educadora aponta limitação de políticas públicas para pessoas com deficiências ocultas nas periferias

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Luciana Viegas fala sobre a importância de pensar políticas públicas para pessoas com deficiências ocultas levando em conta as relações entre raça, gênero e território.

“O autismo é uma pauta muito mercadológica, porque envolve terapeuta, envolve psicólogo, envolve saúde, medicina privada”, segundo Luciana, essa é uma das dificuldades que pessoas com deficiências ocultas enfrentam ao longo da vida. Luciana Viegas, é uma mulher negra, ativista dos direitos humanos, educadora popular, autista nível de suporte um e também fundadora do movimento Vidas Negras com Deficiência Importam (VNDI).

Luciana atribui o seu diagnóstico tardio, aos 25 anos, como parte dessa característica mercadológica do autismo. “Eu tive rede e capital financeiro para bancar uma avaliação caríssima. Eu juntei dinheiro porque eu não aguentava mais. Eu precisava saber”, afirma Luciana, 29, que é moradora da favela do Mangue, em Pirituba, região norte de São Paulo.

Durante esse tempo todo que eu fiquei sem diagnóstico, [foi] muito por ser uma mulher negra, isso eu tenho muito certo na minha cabeça, porque quando a gente fala em autismo, você não vê uma pessoa preta autista. 

Luciana Viegas, educadora popular, autista nível de suporte um e fundadora do movimento Vidas Negras com Deficiência Importam (VNDI).

A educadora afirma que quando identificou a violência por trás desse processo do diagnóstico, compreendeu o racismo presente nesse contexto. “Aquele olhar violento que os médicos tinham sobre mim tinha um fator de raça e gênero fundamental. Ser uma mulher negra autista tem impacto, porque a gente não tem acesso ao diagnóstico”, aponta.

O termo deficiência oculta abrange todas as deficiências que não são aparentes e que por conta disso se tornam invisibilizadas. Como surdez, autismo, transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), esquizofrenia, uso da bolsa de colostomia, fibromialgia, entre outras.

Luciana pontua que quando esse contexto mercadológico envolvendo deficiências se choca com as realidades que há nas periferias “é desesperador”. 

A educadora conta sobre a dificuldade também no processo de diagnóstico do seu filho Luiz, de 6 anos. “O médico falou ‘se seu filho não tiver uma terapia de 40 horas, ele não avança.’ E a terapia de 40 horas é 7.000 reais por mês. Como que a mãe pobre e periférica vai pagar?”, questiona a fundadora do Vidas Negras com Deficiência Importam (VNDI), que também é mãe da Elisa, de 4 anos.

Luciana afirma que a prioridade no desenvolvimento de seu filho Luiz, que é um menino negro, com autismo de nível três de suporte, está pautada em uma questão de sobrevivência. 

“Uma das coisas que a gente mais pega firme com ele [Luiz] é a comunicação. Ele precisa [se] comunicar, porque se ele for parado por alguma batida policial, ele precisa comunicar de alguma forma, ele não fala, essa é a minha maior preocupação. Só preciso que meu filho volte vivo para casa”, afirma. 

Políticas públicas

Nesse processo, Luciana Viegas menciona sobre os cordões de identificação de pessoas com deficiências ocultas que estão em circulação. “O cordão ajuda sinalizar publicamente que você é uma pessoa com deficiência”, afirma.

Junto a isso, há também a sinalização de atendimento prioritário, com a adição do símbolo do Transtorno Espectro Autista, mais conhecido como TEA ou apenas autismo.

O cordão com figuras de quebra-cabeça e o símbolo do infinito, ambos coloridos, são para identificar especificamente pessoas autistas. O Cordão de Girassol abrange todas as deficiências ocultas.

Luciana afirma que para compreender o que essas sinalizações significam é preciso entender o que é deficiência.“Deficiência é a limitação em contato com a sociedade e [a partir disso] se cria uma barreira. Um exemplo: eu sou autista, não falo, só que eu estou numa sociedade completamente oralizada. Então, quando a sociedade só tem uma forma de comunicação, mesmo existindo outras, a sociedade criou uma barreira comunicacional e esse contato gera a deficiência”, aponta.

Além do acesso ao acompanhamento médico, pessoas com deficiências ocultas precisam lidar, principalmente, com equipamentos públicos que ainda não oferecem o suporte necessário.

No transporte público de São Paulo, por exemplo, alguns ônibus circulam com uma sinalização para identificar prioridade para as pessoas, mas Luciana aponta uma grande brecha nessa comunicação.

Aquela fita com o quebra-cabeça, aquilo foi criado por pais de autistas lá nos Estados Unidos, fazendo com que eles colocassem o autismo como um problema a resolver. Por isso o quebra-cabeça com as peças [que] precisam encaixar. [Assim] você trata a subjetividade da pessoa autista como um problema, então aquilo não é representativo.

Luciana Viegas é autista e fundadora do movimento Vidas Negras com Deficiência Importam (VNDI).
No Brasil, o cordão de identificação de pessoas com deficiência oculta foi regulamentado em apenas alguns estados. Em São Paulo, o Projeto de Lei (PL) 12/2023 está em tramitação e prevê a regulamentação do Cordão de Girassol. 

A Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência (SMPED) aponta que, no momento, a única identificação regulamentada na cidade de São Paulo é a da Pessoa com Transtorno do Espectro do Autismo. A cidade regulamentou em 2022 a emissão da Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista – CIPTEA. O documento é emitido gratuitamente pela SMPED através do Portal SP 156 e nos postos de atendimento presencial do serviço Descomplica SP.   

Estabelecimentos públicos e privados que disponibilizam atendimento prioritário, conforme a lei estadual nº 16.756, de 2018, devem incluir nesse atendimento pessoas com autismo e sinalizar isso, assim como a sinalização que há em assentos preferenciais nos transportes públicos de São Paulo, que agora também contêm a figura da fita com quebra-cabeça, símbolo mundial da conscientização sobre o TEA. Essas sinalizações são exclusivamente para pessoas com autismo e não incluem outras deficiências.

Luciana ressalta a efetividade do uso do cordão de girassol, mas pontua que a população de modo geral não sabe o que o cordão significa. No entanto, a função do cordão não se esgota apenas no sentido da identificação perante a sociedade, o uso do cordão contribui, principalmente, como parte de um processo de auto identificação.

“Entender a importância do cordão e o uso dele por quem de fato tem deficiência é um processo de auto identificação. Um processo não só político, mas de identidade. Então, sim, você pode ter acesso [ao cordão] em qualquer lugar, mas aquilo precisa ser usado por pessoas que de fato têm uma  deficiência”, coloca Luciana Viegas, ativista dos direitos humanos e educadora popular.

Luciana ainda chama a atenção para a importância de escutar as pessoas com deficiência sobre barreiras e necessidades, sendo essencial que essas narrativas sejam consideradas nos processos de tomadas de decisões. “Não deixar as pessoas com deficiência falar gera um impacto muito profundo no pensamento de políticas públicas”, finaliza.

Vênuz Capel aponta os desafios de inclusão da linguagem neutra na sociedade

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Para desenrolar sobre como o debate da linguagem neutra impacta a sociedade, sobretudo a comunidade LGBTQIAPN+, o Desenrola Aí entrevista Vênuz Capel, comunicadore social e pessoa não binárie, para compreender de forma mais profunda a importância da linguagem neutra e  por quê ela existe. 

Quando falamos em linguagem neutra logo pensamos nas mudanças gramaticais, mas será que é somente sobre isso que se trata? O debate em relação à linguagem neutra tem sido discutido no Brasil e defendido pelo movimento LGBTQIAPN+ como um meio de inclusão das pessoas não binaries na sociedade. 

O tema é alvo de ataques conservadores e fake news, o que tem dividido opiniões sobre o assunto, principalmente com dois projetos de Lei 5198/20 e PL 198/23 que seguem em análise no congresso nacional.

Segundo Vênuz, a linguagem neutra, não se trata de uma língua construída para pessoas trans, mas sim, uma forma de inclusão e normalidade de todos os gêneros ao serem retratados.

“Quando a gente usa linguagem neutra, quando a gente fala todes, a gente tá englobando todas aquelas pessoas, isso é linguagem neutra, é uma forma de tratar um grupo de pessoas de uma forma realmente neutra”

Vênuz Capel, comunicadore social

Este é o quarto episódio da primeira temporada do Desenrola Aí, o programa de entrevistas do Desenrola e Não Me Enrola que busca descomplicar assuntos relevantes para a vida da população negra e periférica. Nesta temporada, vamos abordar sobre o direito à vida e a luta da população LGBTQIAPN+ nas periferias. O Desenrola Aí tem como realização o Desenrola e Não Me Enrola e a Fluxo Imagens. 

Sobre o Desenrola Aí 

​O Desenrola Aí é um programa quinzenal que visa trocar ideias com especialistas da quebrada, descomplicando assuntos relevantes, que afetam o cotidiano da população negra e periférica e os direitos humanos, que é a essência da nossa existência e convivência enquanto sociedade. 

Nessa primeira temporada vamos abordar sobre os direitos, à vida e a luta da população LGBTQIAPN+ nas periferias. O Desenrola Aí tem como realização o Desenrola e Não Me Enrola e Fluxo Imagens.

Aplicativo conecta moradores com empregos nas periferias de São Paulo

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Atualmente, três mil vagas de empregos nas periferias estão abertas em São Paulo, localizadas principalmente nas zonas norte e leste da cidade. Para acessar e compartilhar as vagas, basta fazer o download do aplicativo Trampolim no link: trampolim.app/aplicativo. O serviço é gratuito e está disponível para smartphones com sistema Android e IOS.

Na prática, os usuários se cadastram na plataforma e, além de acessar vagas de seu interesse por região e área de atuação, podem compartilhar oportunidades que beneficiem outros profissionais – daí o caráter colaborativo.

Qualquer pessoa pode fotografar vagas anunciadas em vitrines comerciais nos territórios periféricos ou grupos online e replicar no aplicativo a quem possa interessar. Mais de 30 mil usuários já participam dessa corrente do bem.

Vagas de emprego anunciadas em muros e comércios das periferias são compartilhadas no aplicativo Trampolim. (Crédito: Reprodução Facebook)
Vagas de emprego anunciadas em muros e comércios das periferias de São Paulo são compartilhadas no aplicativo Trampolim. (Crédito: Reprodução Facebook)

Desemprego na quebrada

O desemprego é uma realidade presente na vida das pessoas que moram em regiões afastadas do centro da capital. A zona sul de São Paulo, uma das mais distantes do centro da cidade, é a que registra o maior índice de desempregados, 15,5%.

Em segundo lugar, vem a zona norte, com 13,9% e em terceiro a leste, com 12,1%. Os índices de desemprego são menores na região central de São Paulo (10,1%). A taxa de oferta de emprego formal chega a ser 200 vezes maior no distrito da Barra Funda, por exemplo, do que em Cidade Tiradentes, segundo o Mapa da Desigualdade 2022.

Sustentabilidade

Além da plataforma beneficiar diretamente moradores das periferias que estão em busca de uma nova oportunidade de trabalho, o aplicativo possui uma ferramenta voltada para empreendedores que precisam contratar funcionários nas periferias.

“O aplicativo nasce como uma ferramenta para facilitar a contratação desse público que, normalmente, não possui um profissional de recursos humanos responsável pelos processos seletivos ou recursos financeiros para anunciar em sites pagos”, afirma Bruno Rizzato, um dos desenvolvedores da solução.

O ferramenta Trampolim Empresas, integrada aplicativo também auxilia comércios informais a receber e filtrar currículos, sem a necessidade de cadastrar um CNPJ – realidade de 71% dos empreendedores no país, conforme dados do Data Favela. Entre os negócios abertos nas comunidades brasileiras, os tipos mais comuns são restaurante (15%) e salão de beleza (10%).

Música preta e periférica: quais produções são favorecidas pelo mercado musical? #09

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Junto com o Obigo, que é cantor e compositor, e com a Thaynah Gutierrez, que é administradora pública e pesquisa cultura e música na quebrada, vamos falar sobre quais produções são impulsionadas pelo mercado musical e como, em geral, produções musicais pretas e periféricas só são valorizadas quando são embranquecidas ou estão em espaços elitizados.

A ideia é a gente pensar como determinadas manifestações culturais – dentro desse contexto da música – ao mesmo tempo que reforçam uma identidade, também são manifestações intencionalmente deixadas de lado pelo mercado.

O Cena Rápida tem episódios novos quinzenalmente, sempre às quartas, disponivel gratuitamente no Google Podcasts, Spotify e Youtube.

Ficha técnica:
Roteiro, apresentação e entrevistas – Evelyn Vilhena
Distribuição – Samara da Silva e Thais Siqueira
Produção audiovisual – Pedro Oliveira
Foto da arte – Patrícia Santos / Bloco Afro ÉdiSanto
Identidade visual – Flávia Lopes
Vinheta e edição – Jonnas Rosa

“A demarcação de terra é baseada no modo de vida do não indígena”, denúncia Thiago Djekupe

Luta pela demarcação de terras criminaliza povos indígenas e impede ações coletivas, que poderiam unir as periferias, favelas e quilombos. (Foto: Dan Agostini)
Manifestação reúne lideranças indígenas guarani para protestar contra o Marco Temporal. (Foto: Dan Agostini)

Na última terça-feira (30/05), a Câmara dos Deputados, em Brasília, aprovou o projeto de lei 490, que estabelece o Marco Temporal, um conjunto de regras jurídicas que dificulta a demarcação de terras indígenas. No mesmo dia, em reação a esta decisão, inúmeros protestos dos povos indígenas se espalharam pelo Brasil.

Em São Paulo, lideranças indígenas guaranis do território Jaraguá, localizado na região noroeste da cidade, ocuparam a Rodovia dos Bandeirantes e foram brutalmente repreendidos pela polícia militar.  

“A demarcação de terra é baseada no modo de vida do não indígena, na sua crença geográfica, porque nós se entendemos como um povo livre e não proprietário de terra, nos entendemos como parte da terra, parte de toda vida que se encontra aqui”

Thiago Djekupe, liderança guarani do território indígena Jaraguá

O texto do projeto de lei do Marco Temporal só reconhece as terras indígenas legalmente ocupadas ou que estavam em disputa para serem demarcadas quando a Constituição Federal foi promulgada, em 5 de outubro de 1988, momento reconhecido na história do país como período de redemocratização após o fim da ditadura militar.

Com 283 votos a favor do Marco Temporal, os parlamentares do PL, PSD, PP, PSDB, PODE, MDB, AVANTE, PV, PSC, PDT, União Brasil, Republicanos, Cidadania, Patriota e Solidariedade, partidos que representam o centrão e a extrema direita, contribuíram para o PL 490 avançar para o Senado Federal. Agora, o projeto de lei tramita com a numeração 2.903/2023.

A terra indígena Jaraguá possui 1,7 hectares, ou seja, mais de 10 mil metros quadrados. Essa região é cercada pelo Rodoanel, Rodovia dos Bandeirantes e Anhanguera. Atualmente, os povos indígenas desta região seguem na disputa política para demarcação dos 534 hectares, uma luta coletiva e  histórica que pode ser completamente inviabilizada pela aprovação em definitivo do Marco Temporal.

“O pico do Jaraguá é sagrado para nós. Chamamos de Itawera, porque o ‘Ita’ é das pedras e o ‘wera’ é a força dos raios. O pico do Jaraguá no mundo é o lugar que mais tem ascendência do raios, que diverge né, ao invés de ele descer, ele sobe, e para nós, isso é o natural, e nós caminhamos sempre em busca da Yvy marã e’ỹ, que significa ‘Terra Sem Males’. Então esse é o caminho que fazemos seguindo a espiritualidade, seguindo a nossa fé”, contextualiza o líder indígena do povo Guarani.

A sobrevivência dos ancestrais do presente

O líder indígena Thiago Jekupe lembra que a sobrevivência faz parte da sua infância, momento em que uma família de empresários imobiliários tentou se apropriar de forma criminosa das terras sagradas do Jaraguá.

“Quando eu era criança, a família Pereira Leite veio aqui para tentar comprar a terra com uma mala de dinheiro. Colocou aqui um monte de homens armados com fuzil, metralhadora, calibre 12, cercaram nossa comunidade para nos ameaçar, e eu era só uma criança, e mesmo no tempos de agora com a gente provando que a nossa existência que garante as demais vidas, a gente teve o governo do estado, governador do palácio dos bandeirantes, um bandeirante chamado Geraldo Alckmin, entrou com um mandado de segurança contra o processo de demarcação da terra indígena Jaraguá”, revela.

“Lutar por demarcação é lutar pelo pouco que sobrou para que sobrevivamos. Quando estamos falando de demarcação, não é só demarcação de terra indígena, tem que se lembrar que as terras quilombolas mal são faladas. Não se fala sobre demarcação de terra quilombola, terra caiçara, vários movimentos têm a visão e movimento de querer aquilombar a periferia, mas não querem garantir os quilombos”

Thiago Djekupe, liderança guarani

A demarcação da terra indígena Jaraguá foi conquistada em 2015, reconhecendo os 532 hectares como área pertencente ao povo guarani, mas logo em seguida aconteceu o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, um fato que mudou totalmente a vida dos mais de 1 mil indígenas que viviam no território naquela época.

Neste contexto, o Ministro da Justiça, Torquato Jardim, do governo do presidente sucessor Michel Temer, revogou a Portaria Declaratória n°581, de 2015, que reconhecia os 532 hectares de ocupação guarani na região metropolitana de São Paulo. Desta forma, o território passou a ter somente 1,7 hectares.

Periferias, favelas e territórios indígenas juntos pelo direito à terra

Luisa Silva Rafacho, 24 anos, agente cultural e ambiental, moradora do Jaraguá, afirma que as periferias têm uma forte relação na luta pelo direito com os territórios indígenas. “Eu acredito que as lutas por terra na quebrada e na aldeia se relacionem ao ponto que são formas de pensar em futuros coletivos, em soluções de reflorestamento, de bioconstruções, e principalmente a forma que você constrói sua casa, capta água e luz, poderia ser uma luta muito mais compartilhada, principalmente no campo das políticas públicas”, argumenta.

Para a agente ambiental, essa seria uma forma coletiva de promover um desenvolvimento cultural e ambiental que poderia evitar a separação destas lutas dentro da cidade. “Ser uma pessoa preta e periférica vivendo em um território de preservação dos últimos remanescentes da mata atlântica do Brasil, e ainda ter a cidade como parte disso, é compreender essa relação que a cidade está inserida dentro da mata, e foi crescendo assim, e só de pensar nisso, eu me adapto nessa condição, acredito que a floresta pode ser o futuro”, ressalta a moradora do Jaraguá. 

Jekupe também acredita nessa correlação de luta e diz que a quebrada se unir à demarcação também é uma forma de independência das periferias. “Imagina a periferia aproveitando seus espaços para trazer saneamento ecológico, saneamento barato, prático, se você tem agrofloresta na quebrada, entende que pode se investir em placas solares e parar de pagar energia, você sai da mão dos bandeirantes, da mão do palácio dos bandeirantes, eles não querem que a periferia entenda que a quebrada forte, que uma memória pode despertar a independência do seu território”, analisa.

Ao parar por alguns momentos e refletir sobre tudo o que tem acontecido no contexto do Marco Temporal, o líder indígena faz uma comparação sobre o impacto da criminalização da vida nas periferias, favelas e nos territórios indígenas.

“Nós estamos em situação precária que nem nas favelas e nas quebradas, sem saneamento básico, abandono de animais, por isso temos que lutar juntos e não dividir nossas lutas, as pessoas nos criminalizam pra dividir, a gente só tá buscando uma terra sem mal, e porque o não indígena não pode também buscar uma terra sem mal?”, questiona o líder guarani.

Coletivo registra memórias de trabalhadores da zona leste que construíram São Paulo

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Na zona leste da capital, o resgate e preservação das memórias da região são feitos pelo Centro de Pesquisa e Documentação Histórica Guaianás, iniciativa que desde 2012 investiga as histórias de bairros do extremo leste, mais especificamente dos distritos de Lajeado, Guaianases, Cidade Tiradentes e São Mateus.

Atualmente, o projeto conta com acervo documental, história oral e programas de formação e difusão de memórias. Renata Eleutério, 37, moradora do Jardim Lourdes, distrito de Guaianazes, é cientista social, pesquisadora, idealizadora e co-fundadora do CPDoc Guaianás.

“A história do bairro de Guaianazes sempre foi narrada por italianos, espanhóis e portugueses”

Renata Eleutério, co-fundadora do Centro de Pesquisa e Documentação Histórica Guaianás
Entrevistar moradores que são migrantes nordestinos ou sudestinos é uma estratégia do coletivo para registrar memórias dos trabalhadores que construíram os bairros da zona leste de São Paulo. (Foto: Allan Cunha)

Visando mostrar os moradores como protagonistas de suas histórias, o CPDoc passou a mapear o território e pessoas para entender quais eram esses lugares de luta, de importância sem necessariamente serem lembrados por dores e violências.

“Onde está a história dos trabalhadores, dos nossos pais migrantes da Bahia, Paraná, Ceará, Minas. População que sempre marcou com sangue da força do seu trabalho na construção dessa cidade chamada São Paulo?”, questiona Renata.

Uma das primeiras iniciativas foi o registro oral dessas informações, indo até os detentores do conhecimento da região: os moradores mais velhos. Um trabalho de pesquisa foi feito com um núcleo de idosos e a partir disso surgiu o “Histórias do Meu Bairro”, um projeto focado na população comum que narra sua própria história.

“A gente criou o Histórias do Meu Bairro, que é um projeto onde a gente vai até um ponto específico nesses bairros, onde a população está passando e é focado na população comum, como ela vê o bairro, lugares que são importantes para ela, o que ela acha que tem que ser preservado na história do bairro”

Renata Eleutério, cientista social e pesquisadora
Os pesquisadores periféricos que integram o Coletivo CPDOC Guaianás são cientistas sociais, historiadores, fotógrafos, museólogos e educadores populares.

Mesmo sendo uma referência em pesquisa, documentação e investigação para a região da zona leste, atualmente o CPDoc não possui espaço físico de atuação e de exposição de todo o acervo que possuem, o que limita a possibilidade de disseminar ainda mais essas informações dos trabalhadores que fizeram a região ser o que é.

“Durante a pandemia precisamos sair do CEU Jambeiro, porque virou uma sede de abrigo, e as perspectivas de futuro são justamente essas: ter uma sede fixa para ser uma referência para a população de modo geral nos encontrar e fomentar, junto com ela um museu da história desses trabalhadores do extremo leste da cidade de São Paulo”, avalia uma dos criadoras do centro de pesquisa e memórias.

O projeto Histórias do Meu Bairro é uma das produções audioviais do CPDOC Guaianás com depoimentos de moradores das periferias da zona leste de São Paulo.

Com atividades em formatos diferentes, o CPDoc atua com projetos de participação ativa dos moradores da zona leste, propondo formação com especialistas de áreas científicas para o coletivo e para a população de forma gratuita, além de jornadas fotográficas pelo bairro e grupo de estudos.

“São com esses questionamentos que nasce o CPDOC Guaianás, a fim de marcar essa história dos Silvas, Oliveiras, Souzas, Batistas, Santos, entre tantos outros que o sobrenome nunca foi tão importante para ganhar um busto na praça e ou um nome de rua, a não ser quando eles mesmos puderam nomear as ruas”, finaliza Renata.

A Virada Cultural de 2023 “moio” para os artistas periféricos

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Com um investimento de 40 milhões e sob fortes chuvas, a virada cultural de 2023 aconteceu em meio a inúmeras contradições. Primeiro porque a ideia inicial da Secretária de Cultura Aline Torres era a “Virada do Metaverso”.

Metaverso?

Explico: a intenção era destinar cerca de 10 milhões de reais para empresas de tecnologia utilizarem o espaço cibernético para promover atrações culturais. Medida que foi sabiamente barrada pelo Tribunal de Contas do Município.

Muito se falou sobre a descentralização dos palcos. E como os territórios periféricos foram agraciados por atrações de renome. Mas nada se falou sobre a falta de representatividade nas atrações. 

Uma coisa é trazer artistas e outra é promover as iniciativas locais. 

Não vimos por exemplo a cultura popular em sua manifestação mais pura. As comunidades de samba? não teve. A literatura periférica? também não. Os blocos afros e maracatus? tão pouco.

A segurança pública foi outro ponto bastante polêmico. O fantasma dos arrastões e assaltos nas madrugadas do centrão foram diminuídos por uma ação bem básica: um único palco no vale dos 100 milhões (Vale do Anhangabaú).

Com grades e mais policia do que público, o único palco do centro de São Paulo, que teve 24 horas de atrações, promoveu um verdadeiro apartheid social. De um lado víamos a população em situação de rua e do outro lado os munícipes curtindo.

Já na quebrada, vimos como os shows serviram para uma verdadeira campanha política antecipada.  

De hora em hora os microfones anunciavam agradecimentos para a prefeitura, secretaria de cultura e sub-prefeitura e, como de praxe, vereadores “figurões” da direita. A ordem da prefeitura era para que as equipes vinculadas aos vereadores estivessem na produção dos eventos nas comunidades, tudo bem dividido para a base aumentar a popularidade do Ricardo Nunes.

Outro ponto importante é que diferente do “centrão”, na quebrada os shows não atravessaram a madruga. A “virada” acabou às 22h e retornou na manhã do domingo.

Bateu dez e um e a galera já havia sido dispersada das ruas. A prefeitura deixa bem explícito que atrações na quebrada tem hora para acabar, não diferente do carnaval e outras comemorações locais.

A cortina de fumaça da virada cultural não vai apagar a gestão higienista que Ricardo Nunes defende para a cidade. 

O recado dele é: nós aqui e vocês lá, cada um no seu lugar.

Uma virada cultural inclusiva precisa entender o momento social que estamos passando. Artistas independentes precisam ser valorizados pois a responsa de aquecer os corações e cativar o povo não é somente em 24 horas, é o ano inteiro.