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Jornada das pretas: encontro promove trocas sobre comunicação para campanhas eleitorais de mulheres negras

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O segundo encontro da Jornada das Pretas 2023, que aconteceu em formato virtual no dia 21 de outubro, iniciou no ritmo do Cacuriá, dança típica maranhense, apresentada pelo coletivo Cacuriá de Dona Teté. A dança abriu os caminhos para as trocas de ideias que se estenderam pela manhã de sábado, e que teve como tema principal as estratégias de comunicação para campanhas eleitorais.

Desde 2021, a Oxfam Brasil, em parceria com o Instituto Alziras, Mulheres Negras Decidem e o Instituto Marielle Franco, reúnem organizações, especialistas e mulheres negras atuantes na política partidária, com o objetivo de promover espaços de formação e fortalecimento de agendas políticas lideradas por mulheres negras cis, trans e travestis de várias regiões do Brasil.

O segundo encontro da Jornada contou com a mediação de Mônica Oliveira, assessora parlamentar e integrante da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco, que em sua fala inicial apresentou um resumo de como foi o encontro anterior.

As convidadas que trocaram sobre o tema foram Mariana Nogueira, profissional da área de marketing, que pesquisa sobre política e já atuou em campanhas, e Jheniffer Ribeiro, coordenadora de comunicação do Mulheres Negras Decidem.

Ao longo do encontro, as convidadas apontaram estratégias, exemplos teóricos e práticos sobre como fazer o planejamento de comunicação para campanhas. Nesse processo, ressaltaram as particularidades e as possibilidades das candidaturas de mulheres que possuem limitações de recursos e de tempo.

Mariana Nogueira apontou que o período de pré-campanha – que vai até o dia 16 de agosto de 2024 – já começou, e com isso, vários homens, especialmente homens brancos, já estão fazendo campanha desde a última eleição. “[Eles] não param porque têm toda uma rede de apoio, de recursos, que faz com que possam se dedicar exclusivamente à política”, coloca a especialista em marketing.

Definição de estratégias

Em sua fala, Mariana menciona que para começar uma pré-campanha é importante que as pré-candidatas e a equipe de comunicação estejam cientes e atualizadas sobre a lei de comunicação eleitoral que muda com frequência.

A profissional explica que é proibido pedir voto no período de pré-campanha, assim como transmissão ao vivo por emissoras de rádio das prévias partidárias. Outro ponto que é vetado, é a realização de publicidade por meio de outdoor, seja físico ou eletrônico, tanto na pré-campanha, como no período eleitoral, que acarreta em multa no caso de descumprimento das regras. 

Mariana também apresentou o que é permitido e recomendado: fazer menção à candidatura e exaltar as próprias qualidades como alguém que vai se colocar como candidata, não configura como campanha antecipada. 

“Participar de entrevistas, programas e de encontros para debater o que essa candidata defende, quais são as suas ideias, participar de debates em rádio, televisão e internet também é permitido. Discutir políticas públicas, planos de governo e alianças partidárias, essas coisas também podem ser divulgadas”, exemplificou Mariana.

A construção de imagem também é uma das etapas da comunicação. Essa é uma fase que antecede a divulgação da pré-campanha, segundo Mariana: “É preciso traçar estrategicamente a imagem dessa pessoa que vai concorrer à eleição, que não necessariamente deve ser a mesma imagem que você propaga em alguns ambientes da sua vida pessoal”. A profissional do marketing também destaca que essa imagem precisa ter permanência e coerência.

Segundo Mariana, a permanência tem a ver com símbolos adquiridos ao longo da trajetória e que as pessoas associam à imagem da candidata, como alguma pauta social. “É importante construir essa permanência porque as pessoas vão saber que, de fato, você é uma pessoa que faz política mesmo antes da eleição”, coloca. 

No aspecto da coerência, a especialista em marketing explica: “Ainda que a sua imagem enquanto candidata não seja a mesma que você propague em determinados ambientes do âmbito familiar ou da sua militância, essa imagem precisa ter uma coerência com aquilo que você é, com aquilo que você representa, com o que você acredita e as suas atitudes”, pontua.

Jheniffer Ribeiro salienta a importância de traçar um planejamento de comunicação com foco na construção de uma narrativa. 

“Ter esse controle da narrativa de nós mesmas, [é importante para definir] o que a gente quer colocar na rua e como a gente quer conversar com o nosso eleitorado”

Jheniffer Ribeiro é coordenadora de comunicação do Mulheres Negras Decidem

A coordenadora ressalta que o planejamento traz a liberdade de ter, a partir da narrativa, o controle do que se deseja transmitir. Para ela, um diferencial potente que há nas campanhas de mulheres negras são as narrativas. “É como as nossas histórias, em alguma medida, se aproximam do nosso eleitorado”, menciona.

Mariana afirma que toda campanha precisa ter pelo menos um público-alvo e uma pauta principal bem direcionada. “Para [saber] como a gente atinge o eleitorado que a gente quer trazer para perto”. 

Jheniffer aponta que é preciso ter um foco na comunicação. “Se você falar de tudo não consegue focalizar e ser explícita e objetiva [sobre] onde a sua campanha vai levar as pessoas, porque as pessoas têm que votar em você”, pontua.

“É importante que você defina com quem quer falar e a partir disso [desenvolva] estratégias para poder conversar com essas pessoas, porque essas estratégias não são uma coisa uníssona”

Jheniffer Ribeiro

Ambas as convidadas apontaram sobre a necessidade de traçar um projeto político que demonstre como se pretende melhorar a vida das pessoas. Definir o eleitorado também foi um ponto destacado pelas comunicadoras.

Possibilidades na comunicação online

Mudar o nome da rede wi-fi pelo o nome e número da candidata, pois isso pode se espalhar entre os vizinhos. Estar em eventos, não necessariamente políticos, ajuda a furar a bolha de contatos. Criar núcleos de apoiadores locais que fortaleçam e ampliem o alcance das propostas de campanha. Essas foram algumas das dicas para a comunicação tanto online, como nas ruas.

Jheniffer trouxe táticas voltadas para a comunicação online, além do planejamento amplo de campanha. Segundo ela, é preciso ter um planejamento das redes sociais com cronograma e postagens regulares. Ela aponta que nas redes, as informações essenciais sobre o projeto político e sobre a trajetória da candidata precisam estar em destaque, assim como o número da candidatura. 

“As pessoas passam a associar a sua campanha a determinadas cores, a um jeito de falar e isso também vai criando mais conexão com o seu eleitorado”, comenta a comunicadora, que também colocou sobre dar preferência aos vídeos na produção de conteúdo, sendo a comunicação visual um elemento que dialoga com o eleitor.  

“A chave para uma campanha eleitoral eficaz é a autenticidade e a conexão com o eleitorado. É importante manter uma comunicação clara, ética e focada nos valores e propostas das candidatas, demonstrando comprometimento com a melhoria da vida das pessoas e a defesa dos direitos humanos”, ressalta Jheniffer.

Comunicação associada às vivências

Após as falas das convidadas, as 37 participantes foram divididas em quatro salas para que pudessem compartilhar suas experiências e percepções sobre o tema. Após essas trocas em grupos, todas voltaram a se reunir, e uma representante de cada grupo listou os principais pontos que surgiram dessas interações. 

A dificuldade de falar sobre si foi uma questão que surgiu em todos os grupos e também na fala de Gabriella Borges, que em entrevista, comentou que no início de sua candidatura tinha muita dificuldade para falar em público.

Gabriella Borges, mulher preta, travesti e moradora da periferia de Porto Seguro. (foto: Lorena Nubia)

“Foi um desafio enorme para mim fazer campanha, pedir voto, falar, porque eu tenho uma disforia da minha voz, mas hoje eu estou conseguindo me libertar dela e me superar”, comenta Gabriella, 43, mulher preta, travesti, moradora da periferia de Porto Seguro, cidade da Bahia, estudante universitária de química e que foi a primeira travesti eleita a presidenta de um partido político no Brasil.

Gabriella iniciou sua trajetória política em 2020, e no mesmo ano saiu como cabeça de chapa em uma campanha coletiva concorrendo ao cargo de vereança. Em 2022, concorreu às eleições como deputada estadual, e pretende se candidatar para as eleições de 2024. 

Durante o encontro, Mariana citou como essa dificuldade de falar de si é uma questão estrutural, fruto dos processos de racismo e da misoginia, e indicou o que pode ser feito diante dessa dificuldade. “Sempre tem um público que vai se conectar com aquilo que a gente tem de vivência e isso é muito importante para vocês que são candidatas, porque isso cria laços afetivos”, afirma. 

Jheniffer trás que as vivências e história das mulheres são diferenciais nessa comunicação. “O que tem de diferencial nas nossas campanhas é a nossa própria trajetória. Como nós chegamos até aqui, o que fez com que a gente chegasse até aqui, como isso se aproxima de um projeto de país, que de fato mude a vida das pessoas. Então é muito importante que você se apresente. Não tenha vergonha de contar sua história”. 

Estratégias de comunicação offline

Mariana trouxe indicações que podem ser colocadas em prática presencialmente, como o lançamento de campanha com panfletos e em lugares estratégicos. “Fazer um panfletaço é você se colocar enquanto um candidato presente que está próximo dos problemas daquela localidade em que você vai concorrer”, comenta.

Esse foi um ponto em comum apresentado entre os grupos, a importância de realizar ações de campanhas presenciais e estar perto do eleitorado. Em entrevista, Gabriella comenta que conseguiu expandir o alcance de suas propostas de candidatura através do apoio e do seu envolvimento com os movimentos sociais. Ela aponta que com o apoio da Coalizão Negra por Direitos, pode circular em diferentes regiões da Bahia, na pré-campanha, acompanhando os comitês antirracistas.

Através de sugestões das participantes, Mariana trouxe uma estratégia que foge da lógica das redes sociais, que é a possibilidade do uso da mala direta, considerando que nem todo mundo de fato tem acesso à internet. Ela também aponta sobre a relevância da TV nas campanhas. “O meio de informação mais utilizado pelo brasileiro é a televisão, a televisão ainda não foi superada por nenhum outro veículo de comunicação”, pontuou Mariana.

Ludimilla Teixeira, em 2020, concorreu a uma vaga na câmara municipal, e em 2022, disputou uma eleição para deputada estadual. (foto: Renan Peixe)

Em entrevista, Ludimilla Teixeira, coloca que, para ela, as campanhas presenciais são essenciais nas periferias. “Eu acredito que as rodas de conversa dentro das comunidades, o boca a boca, o disse me disse e o WhatsApp hoje consegue atingir melhor as pessoas que estão nas periferias, nos bairros mais empobrecidos e mais precarizados do que a gente ficar focado em rede social e internet”. Ela complementa: “Se possível brigar no partido pelo horário eleitoral também, porque engana-se quem acha que as pessoas não assistem”.

Mulher negra, de origem periférica, Ludimilla, 41, é natural de Salvador, na Bahia, graduada em publicidade e propaganda, e atua como servidora pública federal do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Ludimilla é fundadora do grupo Mulheres Unidas Contra o Bolsonaro, que deu origem ao movimento Ele Não, em 2018.

Ludimilla Teixeira criou o grupo Mulheres Unidas Contra o Bolsonaro, que deu origem ao movimento Ele Não. (foto: arquivo pessoal)

Em suas ações políticas, Ludimilla, que foi candidata à vereança em 2020, e em 2022, ao cargo de deputada estadual, destaca sua preocupação em falar de modo acessível com mulheres.

“Eu quero falar com aquela parte da população feminina que está perdida aí na alienação do patriarcado. E a gente vai falar sobre Simone de Beauvoir e Angela Davis? Não, eu vou falar da minha mãe com ela, eu vou falar das mais velhas da comunidade”

Ludimilla Teixeira

Ludimilla comenta, com exemplo próximo a estratégia apresentada pela Mariana e Jheniffer sobre a adaptação da comunicação de acordo com o público-alvo.

Formar redes de apoio foi mais uma das estratégias citadas pelas convidadas e pelas participantes. Nesse sentido, Ludimilla diz que caso não concorra à eleição em 2024, irá ajudar na campanha de outra mulher. “Não sendo candidata, pretendo estar trabalhando ativamente na campanha de alguma companheira, porque não adianta só ter uma de nós lá”, comenta.

Ainda teremos uma mulher negra Ministra do STF?

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Quero começar perguntando se você poderia fazer um exercício de imaginação. Imagine um país chamado “Democracia”. Neste lugar, vivem famílias diversas de raça e cor, sexualidade e gênero. Em “Democracia”, pessoas negras, junto com todas as outras, têm o privilégio de participar ativamente das decisões públicas em todos os níveis da sociedade. As oportunidades são igualmente distribuídas e a harmonia reina.

Neste Estado, a representação nos três poderes é diversa e inclusiva, com pessoas negras ocupando diferentes cargos, inclusive, cargos comissionados e liderando com sabedoria. O país prospera graças à colaboração de todos, independentemente de sua cor de pele, porque por onde se olhava, se via o povo representado. Todos se uniam em busca de um futuro sempre justo e igualitário.

Poderíamos confundir o país fictício com a foto da composição do poder proposta pelo Partido dos Trabalhadores com Lula ao subir a rampa do palácio do planalto na cerimônia de posse da presidência, um grupo de 8 pessoas.

Quem acompanha a política sabe que há personagens passageiros no trajeto do poder, e há outros que compõem a montagem do cenário do poder em diferentes épocas, atravessando gerações.    

Podemos dizer que há personagens que acumulam poder e há aqueles que consomem o poder. No segundo caso, falta um elemento, o capital político. É ele quem determina a duração de um indivíduo ou um grupo no poder.

O capital político refere-se ao grau de influência, respeito e poder que um indivíduo ou grupo possui no campo político. Ele funciona como uma régua que mede a capacidade de uma pessoa ou organização de influenciar a tomada de decisões políticas e alcançar seus objetivos por meio de sua posição, recursos, apoio popular ou conexões.

O capital político pode ser acumulado ao longo do tempo, muitas vezes por meio de ações políticas bem-sucedidas, conquistas, alianças estratégicas e o apoio de eleitores ou outros atores políticos influentes.

Ter capital político pode facilitar o avanço de agendas políticas, a obtenção de cargos públicos e a capacidade de moldar políticas públicas e legislações.

É importante destacar que o capital político não é estático e pode aumentar ou diminuir com base nas ações e eventos políticos. É como disse antes, há quem permanece e quem é passageiro.

Além disso, o capital político pode variar de pessoa para pessoa e de grupo para grupo, dependendo de fatores como popularidade, recursos financeiros, redes de contatos e habilidades de negociação.

Contudo, diria com muita objetividade, o petismo, assim como outros atores políticos da esquerda, mas, o petismo com o maior capital dentre outras siglas da esquerda, não vê negras e negros como um grupo dotado de capital político organizado e capaz de negociá-lo para acessar determinadas pautas e espaços de poder.

Porque uma mulher negra no STF?

A corrida para as indicações ao Supremo Tribunal Federal (STF) está repleta de nomes em destaque, cada um com seus próprios motivos que os tornam candidatos em potencial. A ministra Rosa Weber, deixou uma vaga que muitos veem como uma oportunidade para ampliar a diversidade no STF. 

Atualmente, o tribunal carece de representatividade negra, com apenas uma mulher negra entre os nomes cogitados. 

Esta falta de diversidade no STF revela a necessidade de equidade e inclusão no sistema judicial, com a nomeação de uma ministra negra sendo vista como um passo crucial nessa direção.

No entanto, as chances de uma ministra negra ser indicada para o STF são incertas, pois nunca houve uma ministra negra na Corte. A disputa nos bastidores está repleta de nomes influentes, incluindo políticos, membros do governo e juristas de destaque. E, contudo, um fator determinante: são brancos.

Entre eles, a advogada Vera Lúcia Santana é a única mulher negra na lista de indicados, e seu apoio público é notável. No entanto, a decisão final dependerá da decisão do presidente, que já deixou claro que raça e gênero não serão fatores considerados.

Além disso, outros candidatos incluem Bruno Dantas, Rodrigo Pacheco, Regina Helena Costa, Simone Schreiber, Benedito Gonçalves e Luís Felipe Salomão. Cada um deles tem suas próprias conexões políticas que os colocam como candidatos competitivos. 

No entanto, a escolha do próximo membro do STF terá um impacto significativo no equilíbrio de poder e na orientação das decisões judiciais no Brasil, e a questão da representatividade racial e de gênero é um fator importante a ser considerado nesse processo.

A campanha #PretaMinistra, liderada pelo Instituto de Defesa da População Negra (IDPN) e pela Coalizão Negra por Direitos, lança um grito de alerta para a ausência de uma ministra negra no Supremo Tribunal Federal (STF) e expõe a falta de ação efetiva do governo brasileiro na promoção da igualdade racial.

Em 132 anos de existência do STF, nunca houve uma representante negra, evidenciando a falta de diversidade e representatividade nas instituições de poder.

Essa campanha não apenas denuncia o fracasso do governo em promover uma justiça verdadeiramente inclusiva, mas também aponta a necessidade urgente de enfrentar o racismo sistêmico no Brasil. 

A população negra compõe a maioria do país, mas continua sendo sub-representada nas esferas de poder, incluindo o Judiciário. A ausência de uma ministra negra no STF é um sintoma de um problema mais amplo que o governo precisa abordar.

É fundamental que o governo brasileiro assuma uma posição firme em relação ao racismo e tome medidas concretas para garantir que todas as vozes sejam ouvidas e todas as pessoas sejam representadas em todos os níveis do sistema judicial. 

A campanha #PretaMinistra é um chamado à ação, um lembrete de que a democracia só pode ser verdadeiramente eficaz quando todos os cidadãos são tratados com igualdade e justiça, independentemente de sua origem racial.

É hora do governo agir e abraçar a luta contra o racismo como uma prioridade nacional.

Infelizmente, no Brasil real, estamos longe de um ideal de justiça racial. A ausência de uma ministra negra no Supremo Tribunal Federal (STF) reflete a profunda desigualdade racial e a falta de comprometimento do governo com a promoção da diversidade e justiça.

No entanto, enquanto debatemos a necessidade de representatividade no STF, questões importantes como o conflito entre Israel e o Hamas e a emergência climática causada pela seca no rio Amazonas desviam a atenção desse assunto de interesse público. 

Essas são questões cruciais, mas não podem servir como desculpa para negligenciar e camuflar o debate da luta contra o racismo e a necessidade de ter uma ministra negra no STF.

A campanha #PretaMinistra serve como um lembrete de que o governo deve priorizar a igualdade racial e garantir que todos os cidadãos, independentemente de sua origem racial, tenham a oportunidade de participar plenamente das instituições de poder. 

É hora de o governo assumir uma posição firme em relação ao racismo e tomar medidas concretas para corrigir essa desigualdade profunda, para que um dia possamos nos aproximar do cenário de “Democracia” que imaginamos. 

É um chamado à ação que não pode ser ignorado.


Este é um conteúdo opinativo. O Desenrola e Não Me Enrola não modifica os conteúdos de seus colaboradores colunistas.

Rede Ubuntu prepara juventude periférica para vestibular e Enem

Fomentar uma educação reflexiva e popular, e proporcionar condições para que jovens das periferias ingressem no ensino superior, são alguns dos objetivos dos cursinhos populares, na formação e preparação da juventude preta e periférica para o vestibular e Enem. O Você Repórter da Periferia foi até o polo Santo Dias, da Rede Ubuntu, localizado no Jardim Ângela, zona sul de São Paulo, para acompanhar um dia de atividades do cursinho, formado por professores e voluntários que atuam em prol da educação popular.

Confira a videorreportagem produzida pelos alunos da 7ª edição do Você Repórter da Periferia – programa de educação midiática antirracista promovido pelo Desenrola e Não Me Enrola.

 

Psicóloga, Dejanira Oliveira explica o conceito da não-monogamia: “somos livres para amar” 

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Em uma sociedade moldada pela monogamia como norma, a psicóloga Dejanira Oliveira, formada em cannabis medicinal pela Unifesp e em direitos humanos através da Anistia Internacional, explica em entrevista ao Desenrola Aí o conceito da não-monogamia e destaca como a sociedade ainda enfrenta tabus relacionados a essa abordagem.

Dejanira também esclarece como essas diferentes formas de relacionamento desafiam as normas convencionais e ressalta a influência da colonização em nossa percepção de cultura de se relacionar.

É importante frisar que nós somos um país, um país colonizado por europeus. Então, essa questão da colonização, ela interfere muito no que nós consideramos a cultura que é válida, percebe esse lugar? Então, assim, se você olhar a história aí do nosso país, antropólogos falando sobre o assunto, eles vão dizer que os povos indígenas já tinham relações poliamorosas. Óbvio que assim também tinha a monogamia, mas não com esses nomes. Esses eles vão sendo dados por quem colonizou […]  nós somos todas e todos livres para amar. Então vamos aproveitar esse lugar e quebrar os preconceitos.

Dejanira Oliveira, psicóloga.
Psicóloga, Dejanira Oliveira e a jornalista, Thais Siqueira durante gravação do programa, Desenrola Aí. Foto: Maxuel Mello/Outubro de 2023.

Sobre o Desenrola Aí

O Desenrola Aí é um programa quinzenal que visa trocar ideias com especialistas da quebrada, descomplicando assuntos relevantes, que afetam o cotidiano da população negra e periférica e os direitos humanos, que é a essência da nossa existência e convivência enquanto sociedade. Nessa segunda  temporada vamos abordar sobre Descontruir Tabus: corpo e sexualidade. O programa do Desenrola Aí tem como realização o Desenrola e Não Me Enrola e Fluxo Imagens.

Documentário “Trajetos y Afetos” aborda migração nordestina nas periferias de São Paulo

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Lançado em agosto de 2023, o documentário “Trajetos y Afetos” narra a trajetória de mulheres nordestinas que migraram e que hoje moram nas periferias de São Paulo. Destacando a ligação entre elas e seus territórios de origem, o documentário evidencia a construção de afetos a partir da música, da gastronomia e da costura. 

Foto de parte do cenário do documentário Trajetos y Afetos.
Cenário utilizado em parte das cenas gravadas para o documentário “Trajetos y Afetos”. Foto de Nathalia Ract.

O documentário, produzido pelo coletivo Curvas Produções, que é formado por pessoas LGBTQIAP+, filhas de migrantes nordestinas e moradoras das periferias de São Paulo, está sendo exibido em diversos espaços de cultura e educação. O trailer está disponível no youtube e a agenda de exibição é divulgada nas redes do coletivo.

“A ideia partiu de inquietações de criar novas formas de registro de memórias e reconhecimento de identidades culturais das mulheres que constroem a cidade de São Paulo, e que encontram em suas movimentações formas de sobreviver e manter viva sua trajetória”.

Curvas Produções, coletivo realizador do documentário “Trajetos y Afetos”

Desde a migração de diferentes estados do nordeste até as periferias das zonas norte, sul, leste e oeste de São Paulo, o filme registra a história de 4 mulheres – Noemia Oliveira, Shirlayne Kelly, Silene Ferreira e Valdirene Rodrigues – que exercem atividades que as unem a um resgate histórico do território de onde vieram, mantendo viva em São Paulo a sua origem e ancestralidade.

A alimentação, a costura e a música são elementos de ligação entre as mulheres migrantes e seus territórios de origem. Foto de Nathalia Ract.

Jornada das Pretas: organizações e mulheres negras atuantes na política partidária dialogam sobre Fundo Eleitoral

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“Não é de hoje e não vai acabar agora, vamos invadir teus discursos, recriar nossas memórias”. Foi com versos como esse, da canção “Contrato Assinado”, que Jaísa Caldas, artista piauiense, abriu a Jornada das Pretas 2023. A iniciativa, que está na 3ª edição, é uma realização da Oxfam Brasil em parceria com o Instituto Alziras, Mulheres Negras Decidem e o Instituto Marielle Franco.

O primeiro encontro da iniciativa ocorreu na manhã do dia 07 de outubro, online,  e reuniu 37 mulheres de vários estados do Brasil envolvidas e atuantes na política nacional, para trocarem experiências e dialogarem sobre o Fundo Eleitoral, tema central do primeiro encontro. A Jornada continua nos dias 21 e 28 de outubro.

“São mulheres negras de todo o Brasil, trans, cis e travestis, que desejam fortalecer as suas agendas políticas, que desejam um espaço seguro e fortalecedor para falar sobre participação política de mulheres negras”, menciona Bárbara Barboza, coordenadora da área de Justiça Racial e de Gênero da Oxfam Brasil.

Iasmin Barros, representante do Mulheres Negras Decidem, fala como o movimento se relaciona enquanto parceiro da Jornada, e menciona o objetivo geral da iniciativa. “Tentamos qualificar e promover agendas lideradas por mulheres negras buscando fortalecer a democracia e acreditamos que esses espaços de formação são fundamentais para que isso aconteça”, coloca.

“A gente sabe o quanto é difícil mulheres negras chegarem na política e aqui a gente vai tentar desmontar essas barreiras, tanto com a formação política, mas também com acolhimento”

Iasmin Barros, representante do Mulheres Negras Decidem.

O encontro, que teve como temática central o Fundo Eleitoral e como garantir o cumprimento da lei eleitoral no que se refere às cotas para as mulheres negras, contou com a participação de diversas mulheres que atuam no tema, como Mônica Oliveira, integrante da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco e facilitadora da Jornada das Pretas, além das convidadas Carmela Zigoni, assessora política do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc); Tauá Pires, diretora do Instituto Alziras, e Estela Bezerra, assessora especial de articulação interministerial do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), que também foi deputada estadual com mandatos entre 2015 a 2022.

LINHA DO TEMPO

Antonieta de Barros, Luiza Bairros, Beatriz Nascimento, Benedita da Silva, Creuza Oliveira, Marielle Franco e outras mulheres negras, atuantes na política, foram lembradas e tiveram suas falas citadas no vídeo intitulado Mulheres Negras – Consciência Negra, apresentado por Carmela Zigoni, antes do início de sua fala, referenciando mulheres que lutaram e abriram caminhos na política para outras mulheres negras.

Assim como outras convidadas, Carmela traçou uma linha do tempo para apresentar a trajetória com os principais pontos sobre o Fundo Eleitoral. “Foi em 2014 que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) passou a pedir a declaração de raça, cor, segundo as categorias do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), para as candidaturas, e isso é um marco importante, porque é a partir dessa estatística que a gente começa a dar conta de pedir mais direitos nos processos eleitorais, maior democratização e institucionalidade”, menciona Carmela. 

Tauá Pires, relembrou que em 2015, aconteceu uma reforma política que proibiu o financiamento de campanhas por empresas. “E aí vem esse debate sobre ter um fundo público que permita o financiamento de campanhas e a gente vai ver o quanto isso é importante para o aprofundamento da democracia e para a participação de mulheres negras”.

O que é o Fundo Eleitoral? Exclusivo para o financiamento de campanhas, é um recurso distribuído para os partidos apenas no ano de eleição. A definição do fundo eleitoral é feita pela LOA (Lei Orçamentária Anual) e ele é transferido pelo Tesouro Nacional para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), conforme explicou Tauá durante o encontro.

Na eleição de 2016, para cargos de vereança e Prefeituras, Carmela menciona que foi fixada a regra dos 30% de cotas para as mulheres. “Mas ainda não tinha uma regra específica para o financiamento de campanhas. Menos de 1% das candidaturas de mulheres negras nesse pleito, e menos de 0,1% de declaradas pretas”, conta.

Em 2018, uma nova regra do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) definiu que os partidos deveriam repassar 30% dos recursos do fundo especial de financiamento de campanha para as candidaturas de mulheres.

Tauá, Carmela e Estela relembraram a importância de Benedita da Silva, que atualmente é deputada federal e referência no que diz respeito às conquistas de espaços e direitos de mulheres negras na política. Junto aos movimentos negros, em 2020, Benedita fez com que fosse direcionada uma parte do fundo eleitoral para as candidaturas de mulheres e pessoas negras, conforme a proporcionalidade total dessas candidaturas no partido. 

“Benedita realizou uma consulta ao TSE em 2019 e o TSE acatou a aplicação, mas para eleição de 2022. E aí o STF interferiu e determinou que [a decisão] já seria para eleição de 2020”, relata Carmela. Segundo a assessora política do Inesc, os partidos, por sua vez, alegavam não saber como aplicar a sobreposição de cotas de mulheres e de pessoas negras, o que gerou uma desigualdade ainda mais acentuada nas candidaturas. 

Carmela aponta que enquanto o recurso para as pessoas brancas foi liberado no primeiro dia de candidatura, o de mulheres e pessoas negras demorou cerca de 15 dias para ser repassado, o que é um prejuízo significativo, considerando o tempo de campanha de 45 dias para o primeiro turno.

“Mesmo com essa identificação do problema que se deu internamente nos partidos para fazer o repasse, os partidos entraram com uma PEC, um Projeto de Emenda Constitucional, para anistiar os partidos, ou seja, para perdoar os partidos que não tinham feito repasse corretamente e foi aprovado”, conta Carmela sobre os desdobramentos que ocorreram após as eleições de 2020. 

Em sua fala, Carmela menciona também que houve a tentativa de implementar  uma minirreforma eleitoral, que não foi aprovada, e portanto, não vale para a próxima eleição. Mas ela pontua o que estava em jogo nessa proposta. 

“A cota seria por coligação e não por partido, teria uma redução de 20% dos recursos para mulheres e pessoas negras. Os recursos para mulheres poderiam ser utilizados por candidaturas de homens. Essa minirreforma favoreceria partidos maiores”, conta Carmela, demonstrando que direitos conquistados ainda não são garantias e seguem em disputa. 

Com falas complementares que apresentavam perspectivas e acontecimentos relacionados ao fundo eleitoral, as convidadas mencionaram que ter acesso aos dados, conhecimento sobre como os partidos políticos funcionam, se articular em coletivo para os enfrentamentos de disputas, construções dentro e fora dos partidos e manter-se informadas são estratégias fundamentais para as mulheres que querem ser eleitas. “A gente tem que ter conhecimento para poder viabilizar as nossas candidaturas”, aponta Estela.

COTA DO FUNDO ELEITORAL PARA MULHERES NEGRAS

Ao longo do encontro, as participantes puderam expor suas questões e experiências a partir de algumas perguntas orientadoras acerca dos desafios para acessar o Fundo Eleitoral. Algumas participantes compartilham os mesmos desafios em sua atuação, como a insatisfação de se sentirem usadas apenas para a garantia de um coeficiente da legenda do partido na obtenção de recursos. 

“Há uma falta de responsabilidade com a candidatura das mulheres. Porque os partidos políticos nos querem candidatas, mas eles não nos querem eleitas. Eles precisam da cota de mulheres para poder garantir a [campanha] de homens, mas eles não dão condições para que a gente vá para uma disputa de igualdade, para que a gente minimamente consiga ter uma votação expressiva”, aponta Ana Cleia Kika, liderança da região Norte e que vem refletindo sobre a sua experiência como mulher negras acessando os recursos do fundo eleitoral.

Foi em 2020, quando se candidatou pela primeira vez, concorrendo ao cargo de vereadora e passou a participar da Jornada das Pretas, que Kika pôde entender melhor como tudo isso funcionava na prática.

“Não temos as mesmas condições que os homens brancos têm dentro dos partidos, de ter apoio político, mas foi através dos movimentos sociais, através da Jornada das Pretas, do Estamos Prontas que está ligado ao Instituto Marielle Franco e outras organizações, que eu vim entender como que os partidos políticos funcionam”

Ana Cleia Kika

Ainda durante o encontro, Tauá apresentou dados sobre as desigualdades entre os financiamentos de campanhas. “Segue sendo muito determinante a questão do autofinanciamento. Ou seja, pessoas ricas, que já estão na política tradicionalmente, muitas vezes são filhos, netos, pessoas que se perpetuam na política e conseguem fazer o autofinanciamento da campanha”. 

Tauá aponta que existe um limite de 10% do teto previsto para cada cargo em disputa. Mas, segundo ela, os candidatos investem em média 36,3 milhões em dinheiro do próprio bolso para campanha. “Quais mulheres negras têm recursos próprios para poder fazer um auto financiamento?”, questiona a diretora do Instituto Alziras.

Durante o encontro, com base na pesquisa realizada pelo Inesc, Carmela comentou sobre a diferenciação de financiamentos conforme classe social, gênero e raça. “2020 foi o ano principal da pandemia, e identificamos, cruzando os dados da Receita Federal com [os dados do] auxílio emergencial, que muitas candidatas negras estavam acessando o auxílio emergencial porque precisavam, [sendo que] 30% das candidatas negras recorreram a esse auxílio. Elas realmente precisavam desse benefício”, aponta Carmela. 

Com relação a necessidade de auxílio financeiro, em entrevista, Kika conta sobre uma situação semelhante que passou em 2022, quando se candidatou a deputada estadual. “Era bolsista do mestrado e quando registrei a minha candidatura perdi a bolsa, aí fiquei em um desespero só e tomando de conta da campanha”, conta.

Ana Cleia Kika no Encontro Nacional do Estamos Prontas Rio de Janeiro 2022 (foto: Ludmila Almeida)

Ela relata que o que ajudou nesse momento foi a seleção que participou através do Instituto Marielle Franco e do movimento Mulheres Negras Decidem, para ser uma liderança do projeto Estamos Prontas. “Cada estado tinha uma liderança, que era apoiada pelo Instituto e a gente tinha uma bolsa de auxílio financeiro. Inclusive, para ajudar a gente nesse período de pré-campanha, porque muitas de nós às vezes acaba passando dificuldades, sendo que às vezes não tem nem o que comer”, pontua.

Kika foi uma das mulheres negras prejudicadas por não receber o fundo eleitoral de forma adequada. “Eu participei de várias reuniões e eles [integrantes da secretaria de finanças do partido] falavam assim: ‘vai ser depositado inclusive adicional das candidaturas negras’. E esse adicional não foi depositado. Só foi depositado a primeira distribuição que foi da cota de gênero, eles depositaram uns 15 dias depois que tinham começado as eleições, então eu saí em desvantagem em relação a outros candidatos”, aponta. 

Andreia Deloizi, liderança pernambucana, mulher negra trans, quilombola, sacerdotisa, se candidatou em 2022 à deputada estadual, sendo cabeça de chapa em uma candidatura coletiva. Andreia também faz parte da Jornada das Pretas desde 2022 e enfrenta desafios semelhantes para acessar o fundo eleitoral.

Andreia Deloizi participou do primeiro encontro da Jornada das Pretas 2023, que teve como tema o Fundo Eleitoral.
Andreia Deloizi, liderança pernambucana, mulher negra trans, quilombola, sacerdotisa, candidata em 2022 à deputada estadual (foto: Bira Fotógrafo Caruaru).

Ela conta que ainda não sabe se vai se candidatar para as eleições de 2024, e relata que a experiência não é tão boa. “Fazer política sendo uma pessoa periférica, quilombola, em uma cidade que para política é muito violenta e para vereadora é mais violenta ainda, isso requer cuidado”, finaliza Andreia, que também confirma a participação nos próximos encontro da Jornada das Pretas.

Corre Coletivo usa história em quadrinhos para transformar educação de jovens nas periferias

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O Corre Coletivo, grupo localizado no distrito do Grajaú, zona sul de São Paulo, está transformando processos pedagógicos para educar jovens nas periferias, por meio da introdução de história em quadrinhos para promover letramento crítico e social. A iniciativa também aposta na criação de uma comunidade voltada para o acolhimento e troca de artistas iniciantes na área de arte educação.

“Nós temos uma enorme possibilidade de utilizar quadrinhos como uma linguagem pedagógica, porque ela é acessível para a juventude”, explica Wesley Silva, coordenador pedagógico do O Corre Coletivo.

Segundo Silva, quadrinhos como a Turma da Mônica ajudaram a alfabetizar muita gente, fora os clássicos, como Ziraldo, mas o universo digital possibilita outras abordagens de impacto nos leitores. “Além deles, têm os quadrinhos digitais que chegaram com muita força, principalmente as webtiras”, afirma.

Wesley Silva, o Lelo, como é conhecido nas periferias do Grajaú, é formado em artes visuais, pós-graduando em Arte educação: Teoria e Prática na ECA-USP e atua em rede com outros coletivos de arte educação nas periferias do Grajaú, um território com grande diversidade de saberes territoriais.

Cofundador do Corre Coletivo, Lelo foi o idealizador do projeto que deu vida à HQ Inimigo Invisível. Foto: Ana Pra Rua

Combate à desinformação

Em 2020, no auge da segunda onda de Covid-19, O Corre Coletivo, em parceria com o SESC Interlagos, criou o projeto ‘Inimigo Invisível’, iniciativa no começou como uma reunião de artistas para criação de desenhos para colorir, distribuídos para crianças, mas durante o avanço da pandemia de Covid-19, tornou-se uma HQ com super heróis que explica os riscos, traz dados e apresenta métodos de segurança para prevenção de contágio com o vírus.

“Para além de ser um quadrinho, ele ainda é muito educativo. Eu trago a política nas coisas que eu faço, para fazer com que as pessoas reflitam. Só que ao mesmo tempo, eu to ligado que a galera gosta de consumir comédia, besteirol. Eu quero criar coisas assim, que as pessoas achem da hora, só que ao mesmo tempo elas se vejam, porque no geral a gente não se vê, não são feitas por nós, nem para nós”, conta Ciano Buzz, educador e artista visual que participou da criação do Inimigo Invisível.

Ilustrador desde a infância, Ciano atua como educador de desenho e quadrinhos desde os 16 anos. Foto: Corre Coletivo

O artista visual Ciano, morador da Cidade Líder, zona leste de São Paulo, se define como um “griô do futuro” e busca trazer para dentro de processos educativos em escolas públicas uma visão multisciplinar em relação a arte e ao contexto de ancestralidade da população negra e periférica.

A HQ teve tanto sucesso que recebeu o chamado Oscar dos Quadrinhos, o troféu HQ Mix, na categoria Projeto Especial na Pandemia. Com isso, abriu espaço para o coletivo incentivar novas ações que não somente educassem crianças e jovens por meio dos quadrinhos, mas também abrisse um espaço de diálogo para que eles também pudessem contar suas histórias por meio das HQs, ampliando a representatividade nesta mídia.

Selo Lajota

A Base Nacional Comum Curricular, o BNCC, documento que define os direitos de aprendizagem de todos os alunos das escolas brasileiras, aponta que as HQs podem ser utilizadas, do 1º ao 5º ano do ensino fundamental para “Construir o sentido de histórias em quadrinhos e tirinhas, relacionando imagens e palavras e interpretando recursos gráficos (tipos de balões, de letras, onomatopeias)”.

Foi assim que nasceu, em 2023, o selo Lajota, espaço dedicado a ser uma comunidade de acolhimento para jovens que produzem histórias em quadrinhos nas periferias e que possuem o desejo de contar suas próprias histórias por meio dessas revistinhas. Além disso, é uma iniciativa editorial que democratiza o acesso por meio das webcomics, HQs online acessadas gratuitamente por meio do aplicativo Funktoon.

“O momento que eu juntei ciência na arte foi no quadrinho que eu estou produzindo agora [no selo Lajota], uma webcomic chamada ‘Mizu’, que é sobre uma menina gamer que retrata que a sua quebrada está passando por uma grande seca”, conta o biólogo e ilustrador, Lucas Andrade, o Lukera, um dos criadores da HQ Inimigo Invisível.

“Eu tento fazer isso no sentido da periferia se apropriar da pauta ambiental, porque eu acredito que é para ontem isso. Quando acontecem secas, somos os mais afetados por rajadas de vento, alagamentos”, contextualiza Andrade.

De forma pedagógica, cuidadosa e sensível, o Corre Coletivo busca construir diálogos com jovens estudantes de escolas públicas nas periferias, partindo de elementos culturais presente na construção da identidade cultural dos jovens.

“A gente procura chegar em uma zona próxima para falar de coisas importantes. Quando a gente fala do Miles Morales, um homem aranha negro caribenho, a gente consegue falar sobre esse recorte de ser uma criança preta na adolescência que gosta de grafiti e hip hop e está em descoberta, se sente abandonado e sozinho, e dialoga muito com o que a juventude vive”, explica Lelo.

A premissa de abordar um contexto cultural e social vivenciado pelos jovens moradores das periferias também é apontada pela a quadrinista Marília Marz, criadora da HQ curta “Zebra”, que fez parte da 8ᵃ edição da revista Ragu, vencedora do prêmio HQ MIX 2022 na categoria “Projeto Editorial”.

Para ela “pessoas negras, periféricas, indígenas e lgbtqiap+ , estão acostumadas a se verem representadas nas mídias pelo olhar, muitas vezes enviesado. A história em quadrinhos é um recurso muito importante para que as pessoas possam se enxergar, possam enxergar as próprias histórias e as próprias vidas”, conclui.

O que a nossa alimentação tem a ver com a emergência climática? #19

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Nesse episódio falamos sobre como o plantio do alimento impacta os processos ambientais, e de que forma iniciativas de mulheres que trabalham a partir da agroecologia atuam nesse contexto.

O papo é com a Luzia Souza, agricultora e integrante da ⁠Rede de Agricultoras Paulistanas Periféricas Agroecológicas⁠ e com a ⁠Helen Souza⁠, geógrafa, e atua com áreas protegidas, povos e comunidades tradicionais através da agricultura e meio ambiente.

O Cena Rápida tem episódios novos quinzenalmente, sempre às quartas, disponivel gratuitamente no Google Podcasts, Spotify e Youtube.

*Este conteúdo faz parte da campanha Planeta Território, uma iniciativa do Território da Notícia com apoio do Instituto Clima e Sociedade (iCS)
Ficha técnica:
Roteiro, apresentação e entrevistas – Evelyn Vilhena
Distribuição – Samara da Silva e Thais Siqueira
Produção audiovisual – Pedro Oliveira 
Identidade visual – Flávia Lopes
Vinheta e edição – Jonnas Rosa

Casa Ilera promove culinária afro-brasileira em Guaianases

Durante a Vivência Caruru promovida pela Casa Ilera no sábado, (07) de outubro, em Guaianases, zona leste de São Paulo, os moradores e artistas participaram dos processos de preparo do prato ancestral e celebração a vida.

O Você Repórter da Periferia acompanhou todo o processo que conecta mulheres, jovens e crianças do território na celebração ancestral, por meio da comida que carrega consigo os saberes e resgate da cultura afro-brasileira e a culinária afroindígena.

De menino à fase adulta: como os homens descobrem a sexualidade?

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A predominância do machismo influencia e molda as percepções da sexualidade masculina e as atitudes dos homens dentro do tecido social? Quais os cuidados em relação à educação com meninos até a fase adulta e como os homens descobrem a sexualidade? 

Em entrevista ao Desenrola Aí, Rafael Cristiano, dramaturgo, ator, educador e co-criador do coletivo Masculinidade Quebrada, que desde 2018 promove rodas de masculinidade para meninos e homens periféricos, explica como essa construção de domínio da heteronormatividade se estabelece e os caminhos para pensar novas possibilidades. 

A ideia de que esse menino é um menino e que ele precisa ser protegido, que ele precisa ter os direitos garantidos, essa ideia precisa ser defendida. A gente não pode compactuar com a ideia racista de que esse menino precisa responder como um homem adulto, que esse menino já é um homem que tem responsabilidades de homem. Ele é um menino e precisa ser tratado como menino. E pra ser tratado como menino, ele precisa ser educado. A minha grande questão para os homens é como estamos educando os nossos meninos? Como nós homens estamos educando os nossos meninos? Ou a gente ainda está jogando essa responsabilidade nas nossas mulheres? Como estamos sendo bons exemplos? […] Eu acho que essa é a grande questão

Rafael Cristiano, dramaturgo, ator, educador e co-criador do coletivo Masculinidade Quebrada.
Rafael Cristiano e a jornalista Thais Siqueira durante a gravação do Desenrola Aí. Foto: Maxuel Mello/Agosto 2023.

Sobre o Desenrola Aí

O Desenrola Aí é um programa quinzenal que visa trocar ideias com especialistas da quebrada, descomplicando assuntos relevantes, que afetam o cotidiano da população negra e periférica e os direitos humanos, que é a essência da nossa existência e convivência enquanto sociedade. Nessa segunda  temporada vamos abordar sobre Descontruir Tabus: corpo e sexualidade. O programa do Desenrola Aí tem como realização o Desenrola e Não Me Enrola e Fluxo Imagens.