Tambor do Divino Espírito Santo

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Vou dar o start nessa coluna me apresentando e contando um pouco da minha caminhada.

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Jô Maloupas – Foto: arquivo pessoal

Meu nome é Georgette Maloupas (mais conhecida como Jô), sou formada em Direito e trabalho há 19 anos em uma Metalúrgica. Sou nascida e criada no bairro do Brás e frequentadora assídua do centro de SP.

Mas a pergunta é: quem é a Jô Maloupas? 

Sou filha de um grego com uma brasileira interiorana, cantora, compositora, articuladora cultural, mãe, filha, empresária do aço, vendedora, poetiza e tudo que a arte me permitir ser. Minha música e estilo são provas de todas as influências urbanas possíveis.

Minhas primeiras letras foram escritas em 2002, sempre tive facilidade com a música e fazia muitas paródias com o pessoal do bairro, porém minha efetiva descoberta como MC “mestre de cerimônia” , foi em 2005, na Galeria Olido, local de encontro e consagração de vários rappers espalhados por SP.

Nestes encontros na Olido, juntamente com minhas amigas Robertta Muniz (Roniz) e Manchinha (Afro Let), conhecemos uma galera do Hip Hop. A gente era andarilha, bicho solto, sem rótulos, sem amigos influentes, sem grana e sem vergonha também (no bom sentido), éramos livres. Fizemos muito rolê a pé somente com o dinheiro para tomar um cantinho do vale e fumar um tabaco.

E foi nas quintas da Olido que nós três e nossos tambores do DIVINO ESPÍRITO SANTO criamos laços, elos e músicas. A gente fazia o beat com nossos instrumentos musicais e várias pessoas rimavam em cima da nossa batida imperfeita.

Descobrimos a arte do freestyle. E todo rolê era rima, rima, rima e mais rimas. Sabe aquela galera que fica cantando em cima das músicas que toca nos bailes? Nas rodinhas? Então, a gente também era assim…rs.

Era passar por baixo do busão, ser as primeiras a entrar nas festas para não pagar a entrada e as últimas a sair por conta do transporte público. Rolês ecléticos do forró ao black music, do DUB ao samba de roda, botecos e praças, no vale com as parças. 

Fomos construindo nosso nome e firmando nosso bonde.

Em 2004, iniciamos um projeto dentro da escola da família lá no Heliópolis, chamado: Família Batucada. Nós íamos até o colégio, produzíamos os tambores em latas de tintas e após esse processo de criação, partíamos para um workshop de rimas e melodias. Ficamos um ano com esse especial projeto.

De 2005 a 2007, participei do grupo Contrabando Sonoro, no qual tive meu primeiro contato com estúdio e gravadora. Com esse projeto gravei minhas primeiras canções. Fiz também na mesma época participação no grupo de reggae Guerreiro de Sião.

É tanta vivência e história para contar que daria um livro. Tudo que vivi nas ruas foi formação e sou grata a cada pessoa que passou por minha caminhada e contribuiu para o meu conhecimento e crescimento.

Finalmente em 2008, em um rolê de rap, eu e a Manchinha (AfroLet) conhecemos a Chai. Sintonia e encontro de almas. E foi a partir desse encontro que realizamos o sonho das três. Formar nosso grupo de rap/reggae/ragga: ODISSEIA DAS FLORES. De cantar, compor e viver nossa realidade. 

É tão importante a representatividade. Fui em muitos shows de rap, comprei várias fitas K7, seguia e ouvia muitos grupos e poder cantar, ser vista, ser ouvida e representada nas músicas é algo importante e necessário.

O rap sempre foi muito masculino e patriarcal. As mulheres conquistaram seu espaço na marra. Com muita resiliência e pé na porta. Nada foi dado. Tudo foi conquistado. E ainda temos muito o que conquistar.

Nesse ano de 2022, completamos 14 anos de estrada, amor, dedicação, abdicação, ensinamentos e aprendizados.

Nesses 14 anos, casei, me tornei mãe, senti o peso da solidão pós parto e o peso de se desdobrar em várias para atender as demandas de casa, do trabalho, do lar e da música.

Nesses 20 anos de música, conheci pessoas, posses, coletivos, famílias, amigos e quebradas. Se não fosse a arte, não sei como eu estaria hoje.  

Nesses 20 anos, participei de projetos extraordinários e vou deixar registrado aqui minha gratidão: Odisseia das Flores, São Mateus em Movimento, Associação Cultural do Veio, Quilombaque, Ação Educativa, Frente Nacional de Mulheres no Hip Hop, SNP-Som Na Praça, Favela Galeria, Linha 3, Mente Blindada, Rude Girls, Divas do Reggae, Guerreiros de Sião, Seleção Brasileira de Rima e Breshow Hip Hop.

Quero agradecer em especial minha mãe e meu companheiro Negotinho por serem meu porto seguro e braço direito e esquerdo. Quero pedir desculpas aos meus filhos por tantas vezes eu estar ausente nesse corre loco que é a arte independente e dizer que meu amor é infinito e incondicional. 

Vamos juntes com amor, respeito e empatia. 

Desenrola e não me enrola, vamos nessa!!!

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