Padre Eduardo e padre Jaime, dois irlandeses de origem, dedicaram suas vidas a caminhar com os empobrecidos no Brasil. Se tornaram educadores populares, corporificando as palavras pelo exemplo de vida.
A periferia sul de São Paulo durante décadas teve em sua defesa dois guerreiros de primeira hora: Padre Eduardo e padre Jaime, dois irlandeses de origem, dedicaram suas vidas a caminhar com os empobrecidos no Brasil. Se tornaram educadores populares, corporificando as palavras pelo exemplo de vida.
Pelo modo simples de viver e caminhar, Eduardo e Jaime usaram o corpo para conscientizar as pessoas, nos mais difíceis, arriscados e polêmicos momentos, lá estavam caminhando com o povo em busca de mudanças. Exemplos da práxis freiriana, assumiram uma fé engajada desde a década de 1970.
Assim, com os pés no barro ao lado povo, fizeram das igrejas as quais eram responsáveis, espaços de acolhida, de cuidado, de encontros, de formação e organização popular, como as Comunidades Eclesiais de Base, os Clubes de Mães, as Caminhadas pela Vida e Pela Paz, as Escolas de Cidadania, o Fórum Social Sul, e tantas outros trabalhos e lutas.
Participaram incansavelmente de atos e manifestações por melhorias sociais, por moradia, por transporte, pela democracia, por educação, pelo fim do genocídio, além do apoio aos movimentos sociais, a famílias, aos jovens e tantos outros grupos ou pessoas que frequentava ou procura a paroquia ou sociedade Santos Mártires.
Dessa forma, Jaime e Eduardo alteraram as realidades em que estavam inseridos, transformaram as periferias onde atuaram em espaço de luta e esperança. Nas localidades marcadas por violência, pobreza e incerteza, a presença desses dois irmãos de fé se tornava luz, porto seguro para muitos grupos, referência para movimentos e ativistas sociais.
A casa deles era a casa de tantas pessoas em situação de rua e violência, ponto de encontro de freiras, leigos e tantos outros que professavam outro credo religioso ou nenhum credo, centro de pesquisas e formulação de políticas públicas.
Agora, é chegada a hora de agradecermos a esses combatentes e deixá-los partir com a certeza de que realizam o melhor trabalho possível. Depois de quase 100 anos (soma dos anos de Jamie e Eduardo no Brasil) dedicados ao Brasil e ao povo periférico, eles decidiram voltar à terra de seus familiares.
Contudo, o legado deixado é enorme, milhares de pessoas atendidas nos equipamentos que eles ajudaram a levantar, dezenas de movimentos e fóruns que discutem e lutam pelos periféricos, centenas de leigos e lideranças políticas formadas na escola da vida e de luta de Jaime e Eduardo.
Dos principais ensinamentos desses mestres, fica que a prática religiosa que caminha com as questões sociais e políticas, salva vidas e transforma realidades, nos ensinaram também que a busca pela sociedade do bem viver exige diálogo entre grupos diversos, religiosos e não religiosos. Mas sem dúvida a maior herança deixada por eles, é a ESPERANÇA. Devemos continuar mantendo a chama da esperança acesa!
Portanto, a partida de Eduardo e Jaime nos traz a responsabilidade e o compromisso de darmos continuidade as lutas por eles assumidas durante décadas. Mais do que nunca, neste período de retrocesso dos direitos sociais que estamos vivendo, os ensinamentos desses mestres precisam prevalecer: conscientizar o povo, lutar com povo, colocar o pé no barro (“a cabeça pensa onde os pés pisam”, lembram), e ter ESPERANÇA.
Eduardo e Jaime, partam com a certeza de que vocês foram os melhores professores que podíamos ter tido, seguiremos a história, emanem energias de onde vocês estejam, continuaremos JUNTOS! Gratidão!
Viva padre Eduardo, Viva Padre Jaime, Viva a luta do povo Periférico!
Rafael Cícero de Oliveira e Thaís Cizauskas