Culpa e paternidade

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Sei que me dei conta desse “estado de ser” chamado culpa e que daqui, sigo desorganizando para me organizar.

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Favela Monte Azul, Jardim São Luís – Zona Sul – SP/16 – Foto: Dicampanafotocoletivo

Nos últimos meses tem sido difícil conseguir escrever, compartilhar das vivências por aqui. Um pouco de desejo de saber como tem ressoado em quem lê e um pouco de conseguir falar mais abertamente, sem necessariamente falar das experiências com Malik.

Vou me ater mais um pouquinho às nossas experiências, por que, enfim, consegui me dar conta do sentimento que também vem contribuindo para esse bloqueio na escrita, A CULPA. Tamdamdam (imaginem esse som clássico rs)

Quando Malik nasceu, havia um cronograma bem delineado, no qual buscava seguir, pra auxiliá-lo em seu desenvolvimento, mas também para ter algum tempo entre cuidar-se e preparar as coisas pra quando ele acordasse. Foi seguindo por um tempo, iniciou na creche, então ganhamos um respiro, mas aí se instaurou logo, poucos meses depois do início da creche, a pandemia.

Foram momentos de muitas reorganizações emocionais, afetivas e uma tentativa de entendimento de por onde e como as coisas iriam se dar… a gente deprime, cansa o corpo, as contas começam a se embolar e as agendas começam a não serem mais as mesmas.

Tem horas que o cansaço físico e mental batem de uma tal forma, que junta com a comida que ainda não está pronta, com o atraso que tu deveria ter acordado um pouco mais cedo e a ansiedade começa a bater, a criança começa a demandar e bate aquela angústia, aquela culpa, de “eu tinha que ter acordado mais cedo'”, “ontem eu deveria já ter adiantado algumas coisas”.

Pense, na real está tudo bem. Tudo bem se naquele momento quebrou o fluxo da agenda. Mas isso passa a afetar o humor, estressa e instaura um autojulgamento.

Dissabor, somos impermanentes, mas como fomos pouco instruídos, fomos educados a lidar com nossas frustrações? Como é que podemos acreditar lá no fundo de nós, que temos que ser perfeitos? Afinal, sabemos conscientemente que não rola essa tal de perfeição, ritmos e agendas impecáveis.

Mas o monstrinho tá lá cutucando, dizendo: tu podia ser melhor, fazer melhor, se adiantar, se organizar, mesmo quando a organização chega a preencher as paredes de anotações e horários idealizados.

Voltemos ao dissabor. Minha povaria, esse ser, vai se impregnando no corpo tempo, a criança começa a brincar com uma borboleta e tu não vê, diz seu nome três vezes e tu só ouve na quarta, ai tu fala: “o filho, num chora, é só chamar o pai”, mas a cria já chamou três vezes e tu só ouviu na quarta. Ai a cabeça entra em parafusos, porque tu queria que a criança não ficasse nervosa a toa, mas tu não prestou atenção e se contradisse.

Ai tu para pra conversar com as pessoas sobre isso e percebe que isso acontece, é comum, e que o dissabor virou culpa e a culpa te consumiu tempo e apreciação. E se a gente não se dá conta ela nos toma conta por dias, perdemos por esses dias o encantamento, a troca, a surpresa, só operamos no café da manhã, almoço, janta, sonecas e banhos. Robóticamente está tudo certo.

Não acho que tem uma receita, não sei se deu pra sentir a agonia que essa nóia dá!?

Sei que me dei conta desse “estado de ser” chamado culpa e que daqui, sigo desorganizando para me organizar.

Sigo conversando comigo, me acolhendo pra me reconectar em fazer coisas que me dão prazer e compartilhar isso com ele. Os preparos da comida, o banho junto, havia até me esquecido que ele não gosta de comer sozinho, que é um desafio imenso dar comida pra ele e um prazer enorme, comer junto com ele.

Tenho curiosidade de saber, tu que me lê, quais suas experiências? Comenta aqui! 

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