Eu, que gosto muito de metáforas, resolvi fazer uma comparação entre panelas de pressão e adolescência nesse texto. Justamente porque muitas pessoas gostam de dizer que a adolescência é uma panela de pressão prestes a explodir, mas o que não dizem é como cuidar para que a panela não exploda.
Então, pensei em dar algumas possibilidades de cuidado com adolescentes que se baseiam nos cuidados com a panela de pressão.
Só para contextualizar: Quando eu era criança (lá pelos 10 ou 11 anos de idade), a panela de pressão da minha casa explodiu, literalmente!
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A telha brasilit que cobria o único cômodo em que minha família e eu morávamos, se estilhaçou em vários pedaços e fez um buracão no teto. Ninguém se machucou, por sorte estávamos perto da porta que dava para o quintal, mas voou comida e telha para todos os lados.
Desde esse dia, eu passei a ter cuidado e respeito pela potência da panela de pressão. Fui aprendendo a me aproximar dela com respeito e sem duvidar de uma possível explosão.
Eu não deixei de conviver com a panela de pressão em casa, afinal adoro um feijãozinho fresco e uma carne cozida com legumes.
Ah pois… Assim como panelas de pressão que para se abrir precisam de tempo para chiar e esfriar, adolescentes precisam de espaços para o desabafo. Adolescentes precisam de espaço para reclamar.
Re-clamar.
Clamar por escuta, clamar por acolhimento, clamar, clamar e re-clamar… quantas vezes for preciso. É importante termos paciência para dar suporte ao chiado da panela-de-pressão-adolescência. E mesmo com medo da possível explosão, você precisa estar por perto até que a panela esfrie.
Não precisa ficar em cima do adolescente ou da panela, você pode dar um espacinho, mas não saia e a deixe sozinha (nem a panela, nem a adolescência).
Atenção! Não se pode jogar água no chiado da panela, nem da adolescência, porque o perigo de explosão é alto. É fundamental ficar perto, mas fique perto escutando. Fique ali e escute!
É importante perceber que o chiado diminui com o tempo e se transforma em possibilidades de abertura. A panela se abre quando não há mais pressão interna e externa. A adolescência também é assim: sem pressão e com paciência, é possível se abrir.
Não deixe que o medo da explosão te afaste da convivência com adolescentes. Não deixe que o medo da panela te afaste da possibilidade de uma alimentação saudável.
Tente usar o medo como um parceiro e não um limitador. É difícil fazer feijão quando o medo da panela é maior que o desejo do alimento. É difícil construir uma relação quando o medo da adolescência é maior que o desejo de uma boa convivência.
Sou educadora em sexualidade e uma das coisas que faço é escutar os chiados da adolescência por dias, semanas, meses. E só depois, bem depois, é que adolescentes se abrem para acrescentar novos temperos à vida.
Como diz a canção de Luli e João Ricardo: “Se eu não entender, não vou responder, então escuto… Fala!”.