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Direito à moradia: Um cantinho pra chamar de seu

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Todo mundo tem direito a um lar. Entenda o que o poder público tem feito para garantir moradia – e como a mobilização de moradores nas periferias da Zona Sul de São Paulo resultou em conquistas para todos

Foto: Pablo Pereira

Reportagem de Ana Luíza Araújo, Rebeca Motta e Riviane Lucena. Fotos por Pablo Pereira. Edição de texto por Thiago Borges. Design por Camila Ribeiro.

A vida de Altamiro é feita de mudanças. Em 50 anos de vida, já morou em diferentes casas e bairros. Mas há quase 06 anos ele firmou sua esperança com lona de plástico e estacas de madeira no fundão do Jardim Ângela: na expectativa de parar de sofrer com o preço alto do aluguel e conseguir uma casa própria, Altamiro cercou um lote na ocupação Vila Nova Palestina. “Tudo a gente consegue com luta, né? Nada é fácil hoje em dia”, diz.

A situação de Altamiro é parecida com a de muitos brasileiros: com salários baixos ou desempregados, ter um teto pra dormir embaixo e um pedaço de chão pra chamar de seu é uma realidade distante e que atravessa o tempo. Desde a chegada dos portugueses ao Brasil, a terra é alvo de disputas e os mais pobres sofrem por falta dela. Depois do fim da escravidão, os negros conseguiram a liberdade mas não tinham posse da terra. E muitos nordestinos migraram para o sudeste por não conseguirem se sustentar na terra natal.

O Artigo 6ª da Constituição Federal de 1988 tenta resolver o problema ao garantir a moradia como um direito social, como é o caso da educação, saúde ou alimentação. É básico: uma casa dá segurança física, emocional e afetiva para as pessoas. Permite fazer planos e sonhar. Mas esse direito ainda não está assegurado pelo poder público. “Muitas pessoas moram na periferia, mas ainda assim não têm suas casas próprias”, afirma Jussara Basso, líder da ocupação Vila Nova Palestina.

Uma vida por um teto


“O sonho de qualquer cidadão é ter uma moradia. Poder deitar a cabeça no travesseiro e falar: ‘é meu!'”, resume dona Ana Maria Gomes Santos. A auxiliar de serviços gerais busca essa realização para seus 05 filhos: um canto para ficar. E essa história atravessa sua vida inteira. Nascida em Caraí (norte de Minas Gerais), ela começou a trabalhar aos 06 anos na lavoura e logo depois de atingir a maioridade migrou para São Paulo com dois filhos pequenos. Foi para o Rio de Janeiro, voltou para São Paulo e morou por 05 anos em uma casa alugada no Jardim Maria Sampaio (Campo Limpo).

Com o dinheiro curto e o desejo de ter uma moradia própria, em 2006 ela comprou por R$ 2.000 um lote irregular no Jardim Gaivotas (bairro no Grajaú, às margens da represa Billings). Pela primeira vez, dona Ana e outras 103 famílias vizinhas dormiram com a sensação de ter realizado o sonho da casa própria. Mas a alegria durou pouco. Sem a posse da terra, um ano após a construção a Subprefeitura da Capela do Socorro determinou a remoção das casas e todas as famílias foram despejadas.

Enquanto alguns se abrigaram com parentes, 11 famílias ficaram na rua – incluindo dona Ana e seus filhos. A Subprefeitura improvisou um abrigo com barracas de lona em um campo de futebol até encaminhá-los a um hotel em Interlagos, onde ficaram por 03 meses. “Durante esse tempo, a gente ia a pé pra dormir na porta da Subprefeitura cobrando uma solução, até que eles resolveram pagar a parceria social”, lembra Dona Ana.

Essa parceria social é uma espécie de auxílio-aluguel com um contrato de 30 meses de duração. Com manifestações, a Prefeitura renovou o benefício por mais 30 meses. As famílias atendidas recebiam R$ 300 por mês, insuficiente para pagar o aluguel. Depois desse período, a Secretaria Municipal de Habitação (Sehab) transferiria os beneficiários para o auxílio-aluguel, mas isso não aconteceu.

Dona Ana morava com a família em uma casa alugada no Cantinho do Céu, também no Grajaú. Mas há 03 anos, com o desemprego e sem receber o auxílio-aluguel que a Prefeitura prometeu, ela teve que voltar para a ocupação no Jardim Gaivotas. Dessa vez, construiu a casa com madeirite. Enquanto o direito à moradia não é garantido, ela segue denunciando a situação de mais de 200 famílias. Seus relatos escritos à mão chegaram até a Universidade Federal do ABC (UFABC) e na Universidade de Michigan (nos Estados Unidos). Os universitários ajudam a comunidade com palestras, mutirões e melhorias como um campo de futebol e parquinho para as crianças. A casa ainda é uma incerteza.

Quando a comunidade se junta, a conquista acontece
Enquanto a luta segue no Jardim Gaivotas, do outro lado da Zona Sul o momento é manter as conquistas. Há 52 anos, Maria Cecília de Luna chegou no Jardim Casablanca. Era puro mato, não tinha asfalto, luz elétrica, nem água ou esgoto encanados. Conhecida como Dona Lurdes, ela contava 03 nascentes no quintal de casa.

A paraibana estabeleceu raízes na Zona Sul de São Paulo com o marido e 02 filhas. Longe de tudo, foi nas missas de domingo e nas novenas com a vizinhança que ela passou a atuar politicamente na região onde hoje é uma referência. Na época da ditadura militar, a igreja era o único lugar seguro para reunir grandes grupos de pessoas sem sofrer repressão. Mais do que a oração, o espaço serviu para que as mulheres falassem dos problemas do dia a dia e dos direitos que eram negados.

Muitos objetivos foram alcançados, como creches e linhas de ônibus, e o Clube de Mães ampliou a luta. Mesmo com uma casa própria, Dona Lurdes se solidarizou com as pessoas que moravam na favela do Puma, na beira do córrego do S. Quando chovia muito, o córrego inundava e a enchente atingia as casas dessas famílias, que precisavam se abrigar em escolas e igrejas. Então, as mulheres passaram a cobrar a Prefeitura para conseguir um terreno e ouvir as necessidades dos moradores. Assim, foi criada a Associação Amigos do Bairro, que ajudou ocupações irregulares a conquistar o Conjunto Habitacional Manet, que fica no Jardim Macedônia.

Hoje, Dona Lurdes tem 85 anos mas não para de atuar: ela é responsável por 04 hortas comunitárias que cultiva no CEU Casablanca, com o objetivo de conscientizar as pessoas da região sobre a alimentação saudável. Além disso, faz encontros semanais sobre costura e geração de renda com mulheres em sua própria casa. Ela continua acreditando no poder da comunidade.

Em busca da casa própria
A luta de Dona Lurdes no passado se repete no presente. Com a alta dos aluguéis e a omissão do poder público, em novembro de 2013 o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) ocupou um terreno na Estrada do M’Boi Mirim (Zona Sul de São Paulo) para reivindicar moradia. Domésticas, seguranças, motoristas de ônibus, assalariados ou gente que recebe Bolsa Família: a ocupação Vila Nova Palestina virou alternativa para mais de 8.000 famílias – atualmente, 2.000 famílias continuam cadastradas pelo movimento e também estão nas listas de programas habitacionais da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano) e COHAB (Companhia Metropolitana de Habitação). Algumas há 50 anos na fila da moradia.

O terreno foi escolhido também com base na Constituição, que estabelece que a propriedade deve cumprir uma função social. Ou seja, a terra estava sem uso. Mas para ser habitada, ela precisaria se transformar em uma ZEIS (Zona Especial de Interesse Social)

Em 2014, moradores da ocupação acamparam por 07 dias em frente à Câmara Municipal para conseguir liberação da área da ocupação Vila Nova Palestina. Depois, apresentaram um projeto na Caixa Econômica Federal e no antigo Ministério das Cidades para financiar a construção das casas e transformar a ocupação em um bairro planejado. Mas desde 2016, o programa Minha Casa Minha Vida do governo federal não financia entidades e o projeto não saiu do papel.

Enquanto a casa própria não se concretiza, as famílias da ocupação seguem regras básicas de convivência baseadas no respeito mútuo. Mais do que moradia, o movimento discute a preservação ambiental; a ocupação tem aulas de reforço para crianças, alfabetização e pré-vestibular para jovens e adultos; oficinas de comunicação, artesanato e geração de renda; e as hortas e cozinhas atendem tanto ao uso pessoal quanto coletivo.

Do lado de fora, as famílias participam da mobilização de vizinhos contra o fechamento de AMAs (Assistências Médicas Ambulatoriais); reivindicam saneamento básico e melhorias no Hospital M’Boi Mirim; e luta contra as mudanças e cortes de linhas de ônibus da região.
A luta continua a mesma: é pelo direito de morar.

Esta reportagem faz parte do projeto #NoCentroDaPauta, uma realização dos coletivos Alma Preta, Casa no Meio do Mundo, Desenrola e Não me Enrola, Imargem, Historiorama, Periferia em Movimento, TV Grajaú, Dicampana e Nós, Mulheres da Periferia, com patrocínio da Fundação Tide Setúbal.

Dos anos 90 ao século XXI: o acesso da juventude periférica ao mercado de trabalho

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Das agências de emprego aos portais de recrutamento e seleção. O que mudou, melhorou e regrediu no cotidiano do jovem periférico que está em busca da primeira oportunidade no mercado de trabalho? A reportagem do Desenrola apresenta olhares de personagens que viveram esse processo em épocas diferentes, mas enfrentaram desafios semelhantes. 

Vila das Belezas – zona sul, São Paulo 2019 (Foto: Dicampana FotoColetivo)

Na década de 90, a taxa de desemprego na grande São Paulo chegou a 19,3%, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), acarretando numa crise que afetou milhões de trabalhadores na época.

Essa instabilidade econômica impactou principalmente a população que procurava a primeira oportunidade de atuação profissional entre os anos de 94 a 99. Neste contexto, os jovens moradores das periferias vivenciaram uma série de situações constrangedoras para entrar no mercado de trabalho.

Assista a vídeo-reportagem.

Casos de racismo e discriminações devido ao tipo de vestimenta, porte físico e estético, além do rótulo negativo pela região de moradia representam histórias de moradores que participaram de processos seletivos numa época, na qual a agência de emprego era o principal elo entre candidato e empresa. Além disso, nos anos 90 os jovens das periferias conviviam com a inexistência de políticas públicas de acesso as universidades, o que dificultava ainda mais a conquista do primeiro emprego.

Quanto tinha 20 anos, Fabiana Alves, pedagoga e moradora do Grajaú, zona sul de São Paulo, sonhava com o primeiro emprego, mas as exigências e a forma como as agências procediam em relação ao atendimento dos jovens na época, era segundo ela um completo desrespeito e muito preconceito. Hoje, com 44 anos e mãe de dois filhos, a pedagoga se emociona ao recordar as situações de conflito racial que a sua geração enfrentou na década de 90.

“Naquela época você tinha que ser impecável, porque se você não fosse uma pessoa impecável, você não tinha valor, você não conseguia entrar no mercado de trabalho. Pelo fato de você ser negra, tudo se tornava mais difícil, então assim, você tinha que sair de social, tinha que estar com o cabelo impecável e arrumado”, descreve ela, detalhando as exigências e critérios estéticos que ficavam expostas na porta das agências de recrutamento.

“Tinha uma placa gigante ensinando como o homem deveria se vestir para procurar emprego e como a mulher deveria se vestir. O preconceito por causa da sua cor era muito grande. Eu derramei muitas lágrimas principalmente por causa de preconceito, porque assim, você acha que isso ainda não acontece, mas isso acontece hoje, e os jovens não percebem isso às vezes, mas hoje está diferente: você pode falar da sua cor, do seu cabelo, pode usar o que você quer, mas naquela época não”.

lembra Fabiana Alves.

Fabiana ainda ressalta que a geração de jovens de hoje possui acesso a informação com a era da internet, bem como às políticas públicas que auxiliam os jovens a ingressar na universidade e o jovem aprendiz, que é um grande passo para colocar a juventude em contato com o primeiro trabalho, coisa que não existia em sua época.

“Você não tinha as informações que você tem hoje, antigamente você tinha que sair de agência em agência e de porta em porta, hoje não. Hoje os jovens têm a internet pra você procurar emprego, você tem o programa de jovem aprendiz, coisa que não existia naquela época. Não existia o PROUNE, FIES e ENEM. Minha meta era entrar na faculdade para conseguir emprego, essa era a meta de muitas pessoas naquela época. Você entrava na universidade e ficava no mínimo seis meses pra conseguir emprego. Você passou na experiência dos 90 dias? Pronto. Pode sair da faculdade agora, e seja o que Deus quiser”, explica.

19 anos após o final da década de 90, a juventude periférica ainda continua enfrentando grandes desafios para acessar o mercado de trabalho. Entre 2013 e 2018, a taxa de desemprego se manteve acima de 10% no estado de São Paulo. Em 2017, o Dieese registrou uma alta de 18%, um cenário de crise bem próximo do que foi vivenciado pela moradora do Grajaú, nos anos 90.

Segundo o economista e também morador da periferia Alex Barcellos, a era da tecnologia possibilitou aos jovens terem um maior acesso ao primeiro emprego. Ele também ressalta a importância de fazer a distinção entre trabalho e emprego. “O trabalho é uma profissão em si, o jovem tem uma perspectiva em cima de uma profissão, já o emprego é emergencial, estamos numa conjuntura que não favorece.”

Barcellos também compara os dias atuais com anos 90, enfatizando que à época não existia essa facilidade do acesso tecnológico. “Hoje existem avanços em acessos, mas ainda existem muitas dificuldades e desafios para esse jovem que está na periferia. Você consegue hoje ter condições mínimas de possibilidades e perspectivas para a juventude, mas pela conjuntura atual elas podem ser desconstruídas, talvez a gente regresse em um passado, que não foi trabalhado na perspectiva de juventude.”

Já para a jovem Vitória Guilhermina, 19 anos, moradora do Rio Pequeno, território periférico da zona oeste de São Paulo, a tecnologia possibilita o acesso da sua geração a se conectar com diversas vagas de emprego, porém, as exigências de experiência e formação profissional em diversos aspectos para a mesma vaga não favorece ao jovem disputar esses espaços.

“Esse fácil acesso facilita e desmotiva o jovem. Facilita porque você envia seu currículo online, mas desmotiva porque você não vai conseguir aquele emprego. Você faz inscrição para 30 sites e nenhum te chama pra fazer uma entrevista se quer e isso é deprimente”.

reconhece Vitória Guilhermina.

Vitória conseguiu seu primeiro emprego como Jovem Aprendiz no banco Itaú e atualmente trabalha como jovem monitora cultural, por meio do programa Jovem Monitor Cultural (PJMC), programa de formação e experimentação profissional em gestão cultural para as juventudes, realizado pela Secretaria Municipal de Cultura (SMC) da Prefeitura de São Paulo.

“Acho muito importante você dar essa oportunidade para um jovem que nunca entrou no mercado de trabalho, acho que a gente precisa ter essa oportunidade para poder ter essa experiência que eles exigem. E o jovem monitor é isso. O jovem monitor eu acho que é mais importante, por essa questão de envolver a cultura, a gente fica ligado à cultura do nosso bairro, a espaços culturais, você dá o espaço desse jovem produzir dentro do espaço dele, dentro de onde ele mora, do bairro dele”, argumenta Vitória.

Desafios que persistem

Mais de 20 anos após o final da década de 90, a juventude periférica ainda continua enfrentando grandes desafios para acessar o mercado de trabalho. Entre 2013 e 2018, a taxa de desemprego se manteve acima de 10% no estado de São Paulo. Em 2017, o Dieese registrou uma alta de 18%, um cenário de crise bem próximo do que foi vivenciado pela moradora do Grajaú, nos anos 90.

Segundo o economista e também morador da periferia Alex Barcellos, a era da tecnologia possibilitou aos jovens terem um maior acesso ao primeiro emprego. Ele também ressalta a importância de fazer a distinção entre trabalho e emprego. “O trabalho é uma profissão em si, o jovem tem uma perspectiva em cima de uma profissão, já o emprego é emergencial, estamos numa conjuntura que não favorece.”

Barcellos também compara os dias atuais com anos 90, enfatizando que à época não existia essa facilidade do acesso tecnológico. “Hoje existem avanços em acessos, mas ainda existem muitas dificuldades e desafios para esse jovem que está na periferia. Você consegue hoje ter condições mínimas de possibilidades e perspectivas para a juventude, mas pela conjuntura atual elas podem ser desconstruídas, talvez a gente regresse em um passado, que não foi trabalhado na perspectiva de juventude.”

Já para a jovem Vitória Guilhermina, 19 anos, moradora do Rio Pequeno, território periférico da zona oeste de São Paulo, a tecnologia possibilita o acesso da sua geração a se conectar com diversas vagas de emprego, porém, as exigências de experiência e formação profissional em diversos aspectos para a mesma vaga não favorece ao jovem disputar esses espaços.

“Esse fácil acesso facilita e desmotiva o jovem. Facilita porque você envia seu currículo online, mas desmotiva porque você não vai conseguir aquele emprego. Você faz inscrição para 30 sites e nenhum te chama pra fazer uma entrevista se quer e isso é deprimente”, reconhece Guilhermina.

Vitória conseguiu seu primeiro emprego como Jovem Aprendiz no banco Itaú e atualmente trabalha como jovem monitora cultural, por meio do programa Jovem Monitor Cultural (PJMC), programa de formação e experimentação profissional em gestão cultural para as juventudes, realizado pela Secretaria Municipal de Cultura (SMC) da Prefeitura de São Paulo.

“Acho muito importante você dar essa oportunidade para um jovem que nunca entrou no mercado de trabalho, acho que a gente precisa ter essa oportunidade para poder ter essa experiência que eles exigem. E o jovem monitor é isso. O jovem monitor eu acho que é mais importante, por essa questão de envolver a cultura, a gente fica ligado à cultura do nosso bairro, a espaços culturais, você dá o espaço desse jovem produzir dentro do espaço dele, dentro de onde ele mora, do bairro dele”, argumenta Vitória.

Esta reportagem faz parte do projeto #NoCentroDaPauta, uma realização dos coletivos Alma Preta, Casa no Meio do Mundo, Desenrola E Não Me Enrola, Imargem, Historiorama, Periferia em Movimento, TV Grajaú – SP, DiCampana Foto Coletivo e Nós, mulheres da periferia, com patrocínio da Fundação Tide Setubal.

Financiamento coletivo pode levar escritor de Pirituba para viagem ao Egito

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As doações podem ser realizadas até o dia 07 de outubro, ás 23h59. Através da campanha, o autor terá a oportunidade de palestrar no Depto. de Língua Portuguesa da Aswan University, a convite do professor Maged ElGebaly.

Escritor Michel Yakini (Foto: Divulgação)

Os interessados em colaborar com a campanha serão responsáveis por apoiar diretamente o trabalho do escritor, educador e poeta Michel Yakini, um agente da literatura periférica que propaga saberes literários em diversos países da América Latina.

Autor de três livros e com participação em uma série de antologias, Michel Yakini lançou recentemente uma campanha de financiamento coletivo na plataforma do Cartase para viajar ao Egito e participar da 5ª edição do Tanta International Festival of Poetry, um festival de literatura realizado anualmente em outubro e que reúne escritores de diversas partes do mundo.

As doações podem ser realizadas até o dia 07 de outubro, ás 23h59. Através da campanha, o autor terá a oportunidade de palestrar no Depto. de Língua Portuguesa da Aswan University, a convite do professor Maged ElGebaly.

Além da oportunidade da apresentação profissional e intercâmbio cultural, o escritor pretende se aprofundar em suas pesquisas sobre Filosofia Hermética do Antigo Egito, que é base de um livro que ele está escrevendo e que em breve será lançado.

Clique aqui para realizar o seu apoio.

https://www.michelyakini.com/publicaes

Na ausência de grandes operadoras, fibra óptica chega às quebradas de SP

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Você já ligou numa operadora de internet para solicitar um pacote de dados melhor e recebeu como resposta que na sua área não tem alcance de rede? Essa é uma rotina comum na vida de moradores das quebradas de São Paulo. Em resposta a essa questão, as periferias estão vivenciando o surgimento de pequenos fornecedores de fibra óptica para suprir essa lacuna deixada pelas grandes operadoras.

Funcionário da empresa Express Network na central de distribuição de fibra óptica (Foto: Divulgação)

Atento a esse cenário, o empreendedor Ascanio Caracciolo viu uma oportunidade de negócio na sua vizinhança, para levar o serviço de fibra óptica até os moradores do Jardim Planalto, bairro da zona sul de São Paulo. Essa percepção de mercado deu origem a Express Network, empresa que oferece planos de internet acessíveis na região.

Tudo começou em 2007, quando Caracciolo comprou um notebook. Nesta época ele já tinha o interesse de usar sua internet em outros lugares e que não precisasse de conexão com fios, e resolveu pesquisar e achou uma antena chamada Omni, uma antena omnidirecional, que permite aumentar o alcance de sinal da rede.

O login da rede tinha o mesmo nome do empreendedor e por consequência da sua popularidade no bairro, os vizinhos começaram a perguntar se ele distribuía a internet. A partir daí começou o seu primeiro modelo de negócios baseada na venda de internet, que resultaria mais tarde no surgimento da Express Network.

“Nesse tempo eu montei uma torre de distribuição de internet, o com o tempo o pessoal ia me pagando, eu passava de porta em porta”, relembra Caracciolo, sobre o começo da empresa

Durante esse período ele observou uma riqueza que ainda não era explorada por grandes empresas de internet na periferia: tinha muita procura e pouca oferta de que serviços de banda larga de qualidade na região, assim ele decidiu ir atrás de recursos para conseguir expandir a atuação na região.

Primeiro ele tentou uma liberação de crédito com os bancos, mas não foi aceito. Mesmo assim, não desistiu e começou a investir todo seu salário no final do mês em seu sonho. Na época, o empreendedor trabalhava no suporte técnico da Telefônica, umas das maiores fornecedores da internet no Brasil.

Com o tempo a empresa foi ganhando credibilidade, conquistando territórios e principalmente se regularizando. No início, a estrutura dos serviços era realizada à base de internet via cabo. Segundo Ascanio, esse formato tem suas desvantagens, pois com o tempo ela queima com as descargas elétricas e causa muitos prejuízos.

Dois anos atrás, ele deu inicio ao processo de migração para fibra óptica, mudança de operação que trouxe um crescimento exponencial para a empresa. “A gente já investiu bastante. Montamos uma sede e estamos até atendendo outros municípios”, afirma, ressaltando o impacto da implementação da fibra.

Atualmente, a empresa atende bairros do extremo sul de São Paulo, que pertencem aos distritos Jardim Ângela e Capão Redondo. O município de Itapecerica da serra também faz parte do raio de atendimento da Express. Para o futuro, o empreendedor já almeja expandir para regiões do interior de São Paulo, em locais onde as grandes operadoras não consideram relevante sua presença.

A fornecedora de fibra óptica conta hoje com uma média de dois mil clientes, que utilizam os planos que variam de 40 a 90 megas de velocidade. O plano mais barato custa R$ 79,99 e o mais caro sai por R$ 179,99.

“O nosso forte é atender aonde as operadoras não chegam”, diz Ascanio, enfatizando que um dos diferenciais da sua atuação é a agilidade no atendimento, devido ao fato de seus clientes residirem próximos ou ate mesmo na mesma rua do escritório da empresa, o que facilita atender e dar um suporte com maior rapidez. Para isso, a Express conta 12 funcionários que realizam suporte técnico.

Outra medida tomada pela empresa para garantir ainda mais agilidade para sanar dúvidas e realizar suportes técnicos foi adotar o uso do WhatsApp como um canal direto de comunicação com os clientes.

“Quando o cliente liga a gente já responde na hora, tem o pessoal do escritório que fica no WhatsApp, porque se você liga na operadora às vezes você fica na linha mó tempo e passa por um robô. Aqui em meia hora o técnico já está na casa do cliente”, finaliza Ascanio, abordando a importância de tranqüilizar o cliente oferecendo um atendimento à base da agilidade da sua equipe.

Sarau Apoema celebra aniversário de um ano no Jardim Ângela

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O evento conta com participações especiais de artistas que valorizam a relação com o território para produção de suas obras, entre eles estão o escritor José Sarmento, autor do livro.

Maga Slam na Escola Luis de Magalhães (Foto: Divulgação)

A festa de aniversário do Sarau Apoema acontece neste sábado (05), a partir das 18h na Sociedade Santos Mártires, localizada no Jardim Ângela, zona sul da cidade.

O evento também marca o lançamento da marca “Sarau Apoema”, com a produção da primeira peça de camiseta que coletivo. Além disso, o sarau fará uma homenagem ao Padre Jaime e Padre Antônio Lellis, por sua trajetória e importância no contexto sociopolítico do Jardim Ângela.

Criado em 2018 e formado por jovens que visam transformar a realidade social de moradores de territórios periféricos, por meio de ações culturais e educacionais, o Sarau Apoema tem o intuito de promover espaços de encontro e fortalecimento das juventudes, por meio de encontros literários nos territórios do Capão Redondo, Jardim São Luis e Jardim Ângela.

Confira um pouco mais sobre o Sarau Apoema!

Agenda
Dia: 05 de outubro de 2019, a partir das 18h
Local: Sociedade Santos Mártires (Rua Luís Baldinato, 09)
Mais informações:
Página do Sarau: https://www.facebook.com/sarauapoema/
Página do evento: https://www.facebook.com/events/408137119905447/

Começa hoje a II Semana de Literatura da EMEF Cantos do Amanhecer

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Atividades como palestras, rodas de conversa, oficina de escrita, contação de histórias, sarau e peças teatrais fazem parte da programação que contará com 15 convidados especiais durante três dias.

Encontro realizado na tarde desta terça-feira com o rapper Jairo Periafricania. (Foto: Fábio Roberto)

Entre os dias 24, 25 e 26 de setembro, a EMEF Cantos do Amanhecer, localizado no complexo educacional do CEU localizado no Jardim Eledy, zona sul de São Paulo, promove a II Semana de Literatura, iniciativa engajada em promover uma imersão dos alunos da unidade escolar no universo da produção literária das periferias, em suas mais variadas linguagens e temáticas.

Ao todo 24 atividades serão realizadas conectando os estudantes ao movimento literário que não para de crescer nas periferias de São Paulo, ganhando sempre novos contextos culturais que fomentam o contato com a escrita, leitura e o senso crítico das juventudes.

Os convidados desta edição atuam com diversas abordagens literárias. Um bom exemplo é a participação do escritor Allan da Rosa, finalista do Prêmio JABUTI de 2018 e autor de uma série de obras que retratam a potencia da cultura de matriz africana.

Outro convidado especial para o encontro literário com os estudantes é o escritor Ni Brisant, que já vendeu mais de 14 mil livros de mão em mão e é um dos criadores do Sarau Sobrenome Liberdade do Grajaú, distrito da zona sul da cidade.

O Slam também ganha destaque na programação do evento com a participação da poeta e articuladora cultural Carol Peixoto, uma das idealizadoras do SLAM das Minas SP e dos Poetas Ambulantes e do SLAM do 13.

Integrantes da Cooperifa, um dos maiores exemplos de coletivo de literatura das periferias de São Paulo, também estão confirmados na programação com a presença dos rappers Cocão A Voz e Jairo Periafricania e do professor e articulador cultural Márcio Batista.

A programação ainda conta com a participação da poeta Nicoly Soares do Sarau do Binho, das artistas visuais Camilo Solano e Linoca Souza, ilustradora dos textos de Djamila Ribeiro na Folha de São Paulo, do grupo Nzinga, de contos ritmados e das contadoras de histórias Sandra, Elaine, Kátia Cristina Freitas e Simone Xavier.

Pense Grande Sua Quebrada: concurso cultural premia fotografias de quem transforma periferias de SP

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Entre 03 e 30 de setembro, jovens de 15 a 29 anos, moradores e moradoras de territórios periféricos da cidade de São Paulo podem inscrever fotografias que abordem o empreendedorismo social. O concurso irá selecionar fotos de cinco concorrentes, que serão premiados com um celular no valor de R$ 1.000.

Foto: Thais Siqueira

Você conhece grupos, coletivos ou organizações que ajudam a resolver problemas sociais na quebrada onde mora? Pois esse é o foco do primeiro Concurso Cultural Pense Grande Sua Quebrada, que traz como tema “Fotografe quem transforme sua quebrada”. Para participar do concurso clique aqui e confira o regulamento.

A partir desta terça-feira (03), jovens de 15 a 29 anos que moram em regiões periféricas da cidade de São Paulo podem se inscrever no concurso que vai premiar 05 fotografias sobre o empreendedorismo social em periferias paulistanas. Os selecionados irão ganhar um celular no valor de R$ 1.000 cada um. Faça aqui sua inscrição.

Cada participante tem a possibilidade de enviar até 02 fotografias, mas somente 01 poderá ser premiada. As fotos devem ser feitas com aparelho celular e não podem sofrer alterações, como uso de filtros de imagem. Jovens com menos de 18 anos completos precisam ter autorização de um responsável, conforme o regulamento.

Quem faz o Pense Grande Sua Quebrada

O concurso cultural é promovido pelos coletivos de comunicação Alma Preta, Agência Mural de Jornalismo das Periferias, Desenrola E Não Me Enrola, Historiorama e Periferia em Movimento, com o apoio da Fundação Telefônica.

O objetivo é retratar quem forma ou fomenta uma cultura empreendedora capaz de gerar impacto social ou ambiental por meio de perspectivas diferentes e criativas. Além da premiação aos concorrentes, as fotografias selecionadas vão inspirar a produção de 05 reportagens multimídia pelos coletivos realizadores do concurso.

Quem pode participar?

Outro ponto importante do concurso é o protagonismo de jovens periféricos. Por isso, os interessados em participar devem residir nos distritos com mais de 20% dos domicílios com renda per capita de até meio salário mínimo: Anhanguera, Brasilândia, Cachoeirinha, Campo Limpo, Cangaíba, Capão Redondo, Cidade Ademar, Cidade Dutra, Cidade Tiradentes, Ermelino Matarazzo, Grajaú, Guaianases, Iguatemi, Itaim Paulista, Itaquera, Jaçanã, Jaraguá, Jardim Ângela, Jardim Helena, Jardim São Luís, José Bonifácio, Lajeado, Marsilac, Parelheiros, Parque do Carmo, Pedreira, Perus, São Mateus, São Miguel, São Rafael, Sapopemba, Tremembé, Vila Curuçá ou Vila Jacuí.

A delimitação leva em conta os parâmetros utilizados na aplicação do Programa de Fomento à Cultura da Periferia, da Prefeitura de São Paulo. Também consideram-se para esses fins bolsões com mais de 10% dos domicílios com renda mensal per capita de até meio salário mínimo localizados em trechos dos distritos de Brás, Bom Retiro, Pari e Sé.

As inscrições ficam abertas até as 23:59 do dia 30 de setembro. O resultado final será anunciado no dia 21 de outubro de 2019.

#PenseGrandeSuaQuebrada é um esforço coletivo do Programa Pense Grande, iniciativa da Fundação Telefônica Vivo, em parceria com o Alma Preta, Desenrola e Não Me Enrola, Historioriama, Periferia em Movimento e a Agência Mural com o objetivo de democratizar a linguagem e o acesso das juventudes periféricas ao ecossistema de #EmpreendedorismoSocial

Homenagem a Tula Pilar e Marco Pezão marcam a programação da V Feira Literária da Zona Sul

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Ao longo de duas semanas, a FELIZS irá promover uma série de ações gratuitas e abertas ao público, como a caminhada literária, contação de histórias, encontros com autores, exposições, intervenções poéticas, dança e teatro, além de shows musicais, em espaços de cultura e educação do Campo Limpo e bairros vizinhos.

Caminhada Literária realizada na quarta edição da Feira Literária da Zona Sul, em 2018. (Foto: Will Cavagnolli)

Com o tema “Meu Corpo, Minha Marca No Mundo”, a quinta edição da Feira Literária da Zona Sul (FELIZS) acontece de 8 a 21 de setembro. Em 2019, a dramaturgia foi a linguagem escolhida pelos curadores da maior feira literária das periferias de São Paulo para permear parte das atividades da programação. A escolha tem uma ligação direta com os artistas que serão homenageados nesta edição.

Entre eles estão o escritor e dramaturgo Marco Pezão, um amante da cultura do futebol de várzea das periferias e curador do Sarau A Plenos Pulmões, que acontece mensalmente na Casa das Rosas, e a escritora e atriz Tula Pilar, uma personagem marcante na história do Sarau do Binho e da produção literária das periferias brasileiras, que faleceu em abril deste ano.

“Homenagear esses artistas é uma forma de destacar uma dramaturgia enraizada no contexto histórico do morador da periferia, um personagem que dificilmente tem seus traços, corpos e leituras de mundo retratado com fidelidade nos grandes espetáculos da indústria cultural”, explica Silvia Tavares, uma das curadoras da programação da FELIZS.

A abertura oficial do evento será realizada no domingo (8) no SESC Campo Limpo, com show da cantora e compositora Renata Rosa e de Geraldo Magela, músico, compositor e fundador do grupo Candearte, de Taboão da Serra.

Na segunda-feira (9), a dramaturgia marca presença no encontro poético promovido pelo Sarau do Binho com a apresentação de uma esquete teatral do Grupo Clariô de Teatro. Com uma série de intervenções poéticas, o sarau celebra oficialmente a abertura da FELIZS no espaço de teatro, localizado em Taboão da Serra.

Parte das atividades da FELIZS acontecerá em parceria com o SESC Campo Limpo. Lá, o espaço para a dramaturgia está garantido com rodas de conversa, intervenções de teatro com monólogos e espetáculos de dança, além de oficina de escrita literária.

Meu Corpo, Minha Marca No Mundo

Diane Padial, idealizadora da FELIZS destaca que ao completar cinco anos, o evento se torna um marco no calendário cultural da cidade e do território do Campo Limpo. “Num momento onde os apoios a projetos culturais estão cada vez mais escassos, produzir uma feira literária com mais de 100 atividades gratuitas e abertas ao público é sem dúvida nenhuma um feito histórico.”

Ela enfatiza que o fato da equipe de curadoria e de produção ser composta majoritariamente por mulheres revela a dedicação de pessoas que estão engajadas em fomentar oportunidades de transformação social por meio de encontros entre público e autores. “A nossa equipe possui uma jornada tripla e às vezes quádrupla. Somos mães, professoras, produtoras, pedagogas, artistas, e ainda assim, reservamos um horário todos os dias para nos reunir e organizar a FELIZS e ainda dar conta de outros afazeres.”

Segundo Padial, não dá para pensar a programação da FELIZS sem refletir sobre as dinâmicas sociais que impactam a vida destes corpos. “Nós escolhemos esse tema, para provocar encontros e debates que discutam questões de gênero, homofobia, gordofobia, racismo, a partir da vida e obra de cada convidado”, acrescenta.

No encerramento da FELIZS, no dia 21, a Praça do Campo Limpo será transformada em uma grande mostra de arte, com tendas literárias, shows e intervenções artísticas espalhadas por toda a extensão do espaço público. Um dos destaques será o espaço Tula Pilar, que terá uma exposição com livros, fotos e objetos sobre a vida da autora.

Literatura infantil e equipamentos públicos de educação

Para contemplar a participação de crianças e pré-adolescentes como protagonistas de suas atividades, a FELIZS promove uma série de atividades que contemplam a infância e a literatura, como contação de histórias, intervenções poéticas e espetáculos de teatro em espaços públicos e independentes de educação e cultura, como unidades do CEU, escolas e bibliotecas públicas, e organizações sociais da zona sul de São Paulo.

“A leitura é um hábito que ganha ainda mais sabor com elementos de representatividade. Nas periferias, existem várias referências de autores e autoras que, por tratarem de temas, personagens e cenários semelhantes aos vividos pelas crianças, podem despertar nelas o gosto pela leitura e escrita. Por isso, a FELIZS está construindo esse espaço de diálogo, onde elas, as crianças, terão vez e voz para compartilhar suas experiências com o livro entre outras crianças”, explica Juliana da Paz, curadora da programação de literatura infantil.

A articulação da FELIZS com espaços públicos e independentes de educação remonta ao seu ano de criação, em 2015. Para Juliana, essa é uma premissa fundamental na organização do evento. “As crianças não só consomem, mas criam também. E elas precisam de espaços para compartilhar essas vivências com os seus pares.”

Confira aqui a programação completa: www.felizs.com.br .

Doação de notebooks transforma vida universitária de jovens das periferias de São Paulo

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Inclusão digital, melhor aproveitamento em sala de aula e autonomia para produzir trabalhos acadêmicos são alguns dos impactos gerados na vida de jovens das periferias pela InfoPreta, iniciativa que recicla notebooks para doar a estudantes universitários da quebrada. O projeto já recebeu cerca de três mil e-mails solicitando doações de computadores. 

Graziele Araújo, moradora de Mauá, usa o notebook para no curso de Química Industrial. (Foto: InfoPreta)

A campanha “notes solidários da Preta”, um projeto de doações de notebooks para estudantes universitários de baixa renda está contribuindo para inclusão digital e o processo de aprendizagem de jovens que moram nas periferias de São Paulo.

Graziele Araújo, moradora de Mauá, iniciou os estudos em química industrial na Universidade Federal de São Paulo, em Diadema. O curso exigiu dela um ano de preparação para a prova, com isso, ela ia todos os sábados para o cursinho popular Uneafro e na semana estudava em casa.

Porém, a falta de um computador fez com que Graziele tivesse dificuldades para organizar a entrega de trabalhos, motivando ela se inscrever no projeto da Info Preta. “Eu tinha que fazer com algum amigo para conseguir entregar o trabalho. Então foi um semestre complicado”, relata a estudante, afirmando que recebeu a doação do seu notebook há um mês.

A InfoPreta foi criada há 4 anos atrás por Akin Abaz, homem negro, transexual e que usa seu conhecimento profissional e experiência de vida, para fazer de sua profissão um instrumento de inclusão de pessoas negras e lgbts no mercado de trabalho da tecnologia. A empresa tem atuação dedicada à manutenção de Hardware e Software de computadores e atua hoje no bairro de Pinheiros, zona oeste de cidade.

A ideia começou com a experiencia que Akin vivenciou dentro da graduação, onde encontrou dificuldades para fazer o curso devido à falta de um computador próprio. Após tomar conhecimento de histórias de amigos que também não tinham condições de adquirir um notebook, percebeu as dificuldades e as barreiras que um jovem morador da periferia precisa passar para realizar as atividades acadêmicas.

Recentemente a campanha “notes solidários da Preta” viralizou, motivo que impactou diretamente a interação do público que faz e solicita doações. “Tem um tempinho que o projeto viralizou e a gente recebeu cerca de três mil e-mails”, relata a equipe do InfoPreta, um grupo de homens e mulheres que fazem questão de responder juntos as perguntas realizadas pela repórter do Quebrada Tech. O ato coletivo revela a cultura de relacionamento dentro da empresa.

Com o crescimento do número de doações, os critérios de seleção ajudam definir os destinatários das doações de notebook. Estudantes universitários de baixa renda com prioridade para mulheres, mães, pessoas negras, lgbt+ e portadores de deficiência representam o principal público que recebe as doações da InfoPreta.

“Nós sabemos que a graduação já não é fácil para essa galera que é o nosso público. Muitas vezes a universidade é um ambiente hostil, então se a gente puder auxiliar um pouco nessa etapa, já é ótimo”, enfatiza a equipe em tom de entusiasmo com os impactos que o projeto vem causando na vida dos estudantes.

Lucas Alves, morador de Guarulhos conheceu por meio da sua professora, quanto estava fazendo tratamento de câncer no Hospital GRAAC. Quando o estudante descobriu a doença, ele estava começando o curso de licenciatura em Letras, no Instituto Federal de São Paulo.

Alves tentou conciliar o estudo com o tratamento, porém teve que trancar a faculdade devido as altas exigências que o tratamento causou, e o notebook doado pela InfoPreta foi essencial para lidar com momentos de tédio e preocupação.

“Quando o notebook chegou, eu estava mal, e sem nada pra fazer. Ele me ajudou a ocupar a minha mente num momento difícil e a estudar um pouco”, relembra.

Durante o tratamento, ele teve aulas de Inglês, biologia, química e física dentro do hospital. Nesse processo, o notebook se tornou a sua principal ferramenta para sanar dúvidas e curiosidades.

“Eu uso bastante o Opera pra fazer pesquisas, Word e PowerPoint. Porque eu ainda tenho aulas com os professores no hospital”, diz Alves, descrevendo com simplicidade os programais mais usados por ele para produção de texto e criação de apresentações.

Os equipamentos doados, ou seja, que chegam até as mãos da equipe da InfoPreta para manutenção são avaliados para saber o que está funcionando. Em meio a esse processo, eles avaliam se vale apena fazer a manutenção ou reutilizar as peças, dividindo as tarefas conforme tipos de equipamentos, peças e tempo.

“Tem uma moça que fez a graduação com um notebook que doamos e agora ela está fazendo a pós-graduação com outro que doamos pra ela também”, conta a equipe, ressaltando que o acesso a um equipamento simples permite uma transformação estruturante na vida universitária de jovens moradores de territórios periféricos.

Produzida na periferia, arte tecnológica muda cenário de espaços urbanos

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A partir de intervenções de vídeo projeção, pixo e grafiti digital, o coletivo Coletores transforma espaços urbanos comuns na vida de moradores de São Paulo em locais de vivência cultural e contato com novas tecnologias.

Arte Coletivo Coletores, criada para a exposição ‘Resista São Mateus’, realizada na Vila Flávia. (Foto: Coletivo Coletores)

Projetada na parede da casa de moradores da Vila Flávia, bairro localizado no distrito de São Mateus, Zona Leste de São Paulo, a intervenção “Resista São Mateus”, criada pelo coletivo Coletores, exibe a imagem da Marcha de Selma, liderada pelo ativista dos direitos humanos Martin Luther King, em 1965 nos Estados Unidos.

Para quem mora nas periferias de São Paulo e convive rotineiramente com o cenário de moradias aglomeradas, transitando por ruas estreitas, becos, vielas e escadões que estruturam parte desses espaços urbanos, intervenções culturais como esta proposta pelo Coletivo Coletores, tende a provocar uma série de reflexões nos moradores sobre o acesso a tecnologia na quebrada e a subjetividade do território.

“As intervenções com vídeos projeções, seguidas de oficinas e vivências em arte e tecnologia formam a base para se discutir o acesso ao potencial tecnológico da periferia e a produção artística em espaços marcados pela desigualdade e exclusão”, explica o professor Flávio Camargo, integrante do Coletores.

De acordo com Carmargo, o Coletores nasceu da proposta de trabalhar a cidade como meio e suporte para suas ações, a partir de conceitos como arte e jogo, arquitetura do precário, design social, arte interativa e arte relacional, empregando diversas linguagens artísticas, entre elas a instalação, stêncil, web art, fotografia, interfaces de baixas tecnologias, game art, vídeo mapping e publicações impressas.

“Sentimos que ao longo dessa trajetória cresceu o interesse por tecnologia, por arte tecnológica e principalmente pela produção de conteúdo local, apesar das barreiras estruturais impostas. Gostamos de pensar que os impactos da tecnologia não se restringem a nossa poética, mas sim nas formas de pensar a informação e a produção do conhecimento”, argumenta.

Conceitos, linguagens e exposições

Pioneiro em desenvolver intervenções tecnológicas de grande escala nas periferias da zona leste de São Paulo, o coletivo está a 11 anos criando espaços para produção, pesquisa e difusão de novas linguagens artísticas, em ações que circulam tanto as periferias como as regiões centrais da cidade de São Paulo e outros estados.

Intervenção ‘Transmemorial’ que usa vídeo mapping, realizada junto a FLIP 2018 pelo SESC Partaty 2018.

A partir de suas experiências, o Coletores criou uma série de conceitos que se aplicam a construção de novas linguagens artísticas, como o Pixo Digital, Graffiti Digital e a Vídeo Projeção. “Desenvolvemos conceitos que procuram dialogar diretamente com os espaços e a gama de processos artísticos presentes nos grandes centros urbanos”, diz Toni Santos, um dos criadores do coletivo.

Para reinventar a forma como as pessoas interagem e admiram o grafiti e o pixo na cidade, o coletivo usa o Vídeo Mapping, tecnologia que produz projeções em áreas urbanas com superfícies irregulares sem depender de um fundo adequado para exibições de conteúdo audiovisual. Com isso, eles podem usar qualquer estrutura física, independente do local da cidade, para realizar suas intervenções digitais.

Com um histórico de exposições que representam a potência, intelectualidade e a diversidade do seu trabalho, o Coletores já teve suas obras reconhecidas e expostas no Festival Internacional de Linguagem Eletrônica (FILE), FONLAD FESTIVAL – Festival On Line de Artes Digitais de Portugal, SESC São Paulo, Intercâmbio Brasil/Colômbia, SP Urban, Festival 20 Dimensão em Natal, no Rio Grande do Norte, além de ações educacionais em espaços com Fundação Bienal de SP, SENAC e Instituto Tomie Ohtake.

“Dessas experiências podemos citar entre as mais emblemáticas a série de intervenções em São Mateus, na Vila Flávia, o trabalho ‘Transmemorial’ que realizamos junto a FLIP 2018 pelo SESC Partaty, bem como nossas participações na Bienal de Arte contemporânea de Dakar e na 11ª Bienal de arquitetura de São Paulo”, relembra Santos.

Santos acredita que o grande desafio de produzir tecnologia nas periferias continua sendo o limitado uso dos dispositivos. “Produzir tecnologia na periferia é em primeiro plano, um desafio de romper com os usos habituais dos dispositivos tecnológicos em circulação, como por exemplo: compreender que até o ‘aparelho celular mais simples’ pode ser um meio ou uma ferramenta de criação e produção artística”, avalia.

Ele ressalta que outro desafio consiste na ausência de espaços voltados ao uso de tecnologia nessas regiões. “As poucas iniciativas nessa área seguem sobrecarregadas ou já defasadas em relação ao desenvolvimento das tecnologias de uso pessoal”, aponta ele.

Segundo o integrante do Coletores, uma alternativa sólida para ultrapassar essas barreiras de produção surge no formato do o trabalho em rede que pode possibilitar o compartilhamento de tecnologias, por meio de iniciativas coletivas. “Para romper com a estrutura hegemônica não basta apenas pesquisar e estar atuando em campo é necessário também um trabalho de base pedagógica, socializando a informação e o conhecimento, o que chamamos de pedagogias urbanas”, finaliza.