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Websérie “Salve Sobrevivente” mistura ficção e realidade durante a pandemia no Capão Redondo

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Pandemia, território e identidade são elementos presentes na série virtual criada por jovens do Capão Redondo durante este ano e todos os episódios já estão disponíveis para maratonar. 

Protagonizado por jovens do Capão Redondo, a websérie “Salve Sobrevivente” mostra a quebrada vivendo a pandemia de Covid-19. Combinando situações reais e outras fictícias, a produção conta com seis episódios e está disponível no Youtube. A direção é do ator Ícaro Rodrigues e o fotógrafo Fernando Solidade faz a direção de fotografia e edição.

Pensada inicialmente como um espetáculo de rua, a proposta se adaptou ao contexto de distanciamento social e se transformou em uma websérie, como explica Ícaro: “De alguma forma, a gente lida com a questão da pandemia porque foi o momento que essa obra foi criada. Não tinha como ignorar tudo que a gente viveu e ainda está vivendo”. 

“Para nós, o fim do mundo chega mais cedo”  

Música, poesia e futurismo se reúnem na produção que tenta abarcar a multiplicidade de linguagens do território do Capão Redondo. O processo de pesquisa da produção começou no início do ano e partiu da leitura do livro de Ailton Krenak “Ideias para adiar o fim do mundo”, lançado em 2019. Refletindo sobre as ideias e relações entre território e identidade propostas pelo autor indígena, a produção traz reflexões e relatos sobre o Capão Redondo a partir da visão dos jovens.

A gente percebeu que no decorrer do ano essa ideia de fim de mundo ficou cada vez mais latente. E a gente chegou na fábula que o fim do mundo tinha chegado e só sobrou o Capão Redondo. A gente pensou também que fosse um trabalho que transitasse entre a linguagem ficcional e a documental, trazendo o ponto de vista dos jovens e das jovens do Capão. […] O Krenak fala que o fim do mundo já chegou para os povos indígenas e os jovens fizeram essa relação com o povo periférico, porque de alguma forma, o nosso fim chega cedo também.

Ícaro Rodrigues

Todos os episódios já estão disponíveis e é possível acompanhá-los na sequência: 

Episódio 1 – O meu Capão é meu lugar de fala

Episódio 2 – Salve, Sobrevivente!

Episódio 3 – Constituição

Episódio 4 – Reizinho

Episódio 5 – Menina Água

Episódio 6 (final) – Reina sobre nós

Inteligência periférica: “No começo da pandemia foi um choque, me senti desempregada”

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Na última história de 2020 da série “Inteligência periférica”, conversamos com a Valdirene Rodrigues, costureira e moradora da região leste de São Paulo, que durante a pandemia passou a produzir um dos itens essenciais para sair às ruas depois da chegada da covid-19, as máscaras de tecido.

Nascida em Pilão Arcado, Bahia, e hoje moradora da zona leste de São Paulo, no distrito de Sapopemba, a costureira Valdirene Rodrigues, 47, transformou totalmente seu ateliê de costura Val Atelier, que tem pensado em uma costura que respeita às medidas do corpo, para um espaço de confecção, distribuição e comercialização de máscaras no território.

A costureira está na área informal há mais de dez anos, vivendo da costura que chega a ser quase um artesanato de tão manual. “É um trabalho literalmente manual, se torna até digamos um artesanato, porque eu faço a roupa desde a modelagem até a confecção, a entrega dela embalada e passadinha”.

Valdirene conta que a pandemia afetou sua forma de trabalhar e sua lucratividade. “No começo da pandemia foi um choque, eu me senti desempregada, porque eu não poderia levar mais as roupas até as pessoas e nem receber elas aqui em casa, então ficou difícil.”

Com a queda da sua lucratividade, a costureira teve de encontrar outras formas para continuar gerando renda e continuar com seu negócio. “Eu fiquei um tempo parada, até onde eu tive a ideia de fazer máscara, aí eu comecei com o material que eu tinha aqui em casa, fazendo para doar, eu fiz muita máscara para doar, aí depois a situação começou a ficar difícil eu comecei a vender, e optei isso por um financeiro, porque não tinha outra coisa para fazer, aí virou um financeiro, e eu tô fazendo até agora e continuo doando também”, conta a costureira.

A carga horária de trabalho também foi algo que mudou durante o período da pandemia para a profissional, mas o aumento da carga de trabalho não foi equivalente aos ganhos financeiros. “A lucratividade diminui muito, nunca vai chegar no nível que é vender uma roupa, diminuiu muito financeiramente. Tenho que trabalhar mais, porque é um produto de menor custo e você tem que dar conta de fazer aquele produto porque é aquilo que a população tá precisando no momento, a carga horária de trabalho aumentou bastante, mas financeiramente não”.

Valdirene questiona o auxílio do poder público e medidas de suporte que aparentemente não têm sido efetivas para os microempreendedores das periferias. 

Valdirene Rodrigues, costureira. Arte: Flávia Lopes

Para a costureira, a flexibilização da quarentena não trouxe grandes mudanças, mas relata que o preço dos tecidos aumentaram muito, então continua difícil, pois se aumentar o preço de suas máscaras e roupas, corre o risco de não vender.

“A flexibilização do comércio na verdade não teve muita alteração para mim, mas uma coisa que percebi é que as pessoas voltaram a encomendar roupa, seja porque voltaram a trabalhar ou a sair. Mas como costureira eu continuo pegando o serviço que aparece né, para mim continua não estando nada normal, no que se diz a um retorno financeiro”, afirma Valdirene.

O aumento da precarização durante a pandemia

Pesquisa Seade – Janeiro 2020 / Elaboração: Flávia Lopes – Info Território

Dentro de um cenário que já não se apresentava nada positivo, com a crise da covid-19, muitos moradores das periferias não tiveram a opção de ficar em casa com suas famílias. Para muitos, ficar em casa significaria não ter a certeza de que conseguiriam ter a refeição do dia seguinte garantida, sem contar que são esses trabalhadores que fazem a cidade girar.

“O fato de uma das primeiras mortes por covid-19 no Brasil ter sido de uma empregada doméstica foi triste e emblemático, evidenciando que, quando o trabalhador/a não tem seus direitos assegurados, o patrão coloca o mesmo em risco e nada acontece”, analisa o núcleo de Trabalho do Centro de Estudos Periféricos – CEP, que lembram também do importante significado por trás do primeiro caso diagnosticado no Brasil.

O grupo de estudo complementa: “o Estado brasileiro não garante o suporte material necessário para que os trabalhadores informais possam ficar em casa durante a pandemia. Isso implica que essas pessoas estão arriscando sua saúde e sua vida para garantir sua renda”.

Valdirene Rodrigues, 47, transformou totalmente seu ateliê de costura Val Atelier.

O desemprego, a informalidade, a falta de segurança física, emocional e financeira já existiam antes da pandemia para a população negra e periférica, e com o avanço da doença também houve o avanço da falta do Estado para essa população.

“A pandemia e o consequente isolamento social só aprofundaram as carências que já existiam. Mas agora muitos trabalhadores não possuem um guarda-chuva social que os proteja, aumentando o número de desempregados e se intensificando a economia dos bicos, principalmente nas periferias”, analisa o núcleo de pesquisa.

Os pesquisadores também apontam que os moradores dos territórios periféricos se movimentam para lidar com os impactos gerados pela pandemia, movimentações que já aconteciam de forma independente antes do contexto da covid no Brasil, sempre buscando cobrir lacunas deixadas pelo Estado.

“Também houve reações, algumas iniciativas, ainda que pontuais, tais como vaquinhas para financiar a compra de bicicleta para entregadores, ações voltadas a criar e ensinar a usar as redes sociais comercialmente, tal como montar uma loja, são exemplos de ações de colaboração que aconteceram nas periferias. Também ocorreram interações nas redes sociais com a finalidade de promover o comércio local. O Fórum Paulista de Economia Solidária construiu de forma colaborativa um market place que será lançado em breve para os empreendimentos de economia solidária”, conclui o núcleo.

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“Não Podemos Esperar” é o título do mais novo conto de Israel Neto

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 Morador da Brasilândia, escritor, produtor cultural e educador, Israel Neto, escreve e lança conto afrofuturista em meio à pandemia. Seu intuito é disputar a imaginação e provocar leitores a sonharem com novos futuros.

Israel Neto, escritor e morador da Brasilândia. Foto: acervo Literatura Suburbana.

Israel Neto, 33, nasceu, cresceu e mora na Brasilândia, distrito da zona norte de São Paulo. Para a criação do hábito de leitura teve como maior incentivadora sua mãe. Ela o colocava para ler os rótulos dos alimentos e também deixava ele ler os livros do Arquivo-X que possuía, ela gostava muito de ficções, conta Israel, o que contribuiu para ele desenvolver sua imaginação. Outra força para a sua entrada no mundo fantástico foi a TV, “…pela enxurrada de programas japoneses que a gente tinha das 16h até às 19h e a partir disso eu comecei a escrever as minhas versões desses desenhos.” – lembra Israel. Para ele, neste princípio de desenvolvimento criativo existia muito prazer e disposição para criar suas próprias histórias.

Quando questionado se ele vê sua escrita como uma arma, discorda dizendo que é ferramenta, pois seria como “…um instrumento que a gente pode tocar para disputar o imaginário da nossa galera e dialogar sobre as nossas coisas, sendo uma ferramenta para discutir a nossa realidade e projetar o futuro, mas por outro lado, é também um alimento simples, é um arroz e feijão, porque ela mexe nas nossas emoções, na nossa felicidade, então hoje eu trabalho a minha escrita nestes dois segmentos. A arma acaba sendo algo com uma única finalidade, já a ferramenta, não. A ferramenta é um termo genérico que pode servir pra apertar, pra despertar, pra bater, pra atirar, pra ajustar, pra moldar. A arma só tem uma função”, conclui Israel.

A escrita de “Não Podemos Esperar”, conto publicado pela Editora Nua, levou apenas surpreendentes três dias, mas se engana quem pensar que o tempo de trabalho no processo criativo levou apenas esse tempo. Como Israel mesmo conta: “…a escrita deste livro começou com a pandemia, eu terminei um outro trampo que vai sair no ano que vem, e eu estava lendo muita coisa, dois livros do James Baldwin e assisti uns filmes que foram feitos a partir dos livros dele. Falei: caramba! Esse cara consegue trazer umas questões tão sensíveis nos livros dele com temas tão duros. E ele sempre falando na primeira pessoa, daí eu pensei: quero ver se eu consigo fazer esse negócio aí também. Me organizei pra escrever esse material num final de semana. Peguei sexta-feira, comprei um caderno e comecei a escrever e fiquei literalmente três dias internado, escrevendo, eu falei: tem que sair, tem que sair. E aí rolou, deu certo”, relata Israel.

Felipe Baldino, leitor.

Sua trajetória como escritor já vem há mais de uma década, quando essa bagagem começou a ser carregada e este conto, lançado agora, começou a existir, mesmo sem a intenção, em 2011, quando lançou o livro “Amor Banto Em Terras Brasileiras”, livro que levou dois anos para ficar pronto, a diferença, como Israel mesmo explica, é que “…o escritor é alguém que trabalha todo dia. Não existe pedreiro que num dia trabalha e no outro não, não existe arquiteto que num dia desenha e no outro não. E o escritor não pode ser também aquela pessoa que precisa receber uma entidade para poder escrever. Ela tem que praticar a escrita todo dia. E a escrita não é necessariamente escrever, é ler, estudar. Pesquisar para poder escrever. Em 2009 eu comecei a estudar para conseguir escrever o “Amor Banto Em Terras Brasileiras” e publicá-lo em 2011, só que esse material do ‘Não Podemos Esperar’ já é algo que ficou acumulado, vinha estudando e meio que já estava pronto e saiu de maneira mais espontânea”.

Nessa publicação mais recente a intenção de Israel é abrir caminhos para o sonhar com outro futuro, conforme ele relata, tendo a arte como essa ferramenta poderosa, como quando em “Star Trek” muitas tecnologias apresentadas ali naquela ficção não existiam, mas abriram a possibilidade de outras pessoas se desafiarem a tentar realizar o que a ficção apresentava. 

Por isso, Israel diz que está se “…desafiando todo dia pra poder deixar esses campos de interpretação abertos, porque quando uma poesia ou um conto é muito duro ele não dá possibilidade de você encontrar coisas no seu texto que você colocou lá mas colocou inconscientemente. Assim, o ‘Não Podemos Esperar’ é um grito ao pensar o agora, a se mobilizar. Não tem amanhã, é hoje. E ele dialoga também pelo sonho. E quem leu o livro sabe que a unidade africana precisou tomar medidas drásticas. Na história levou 50 anos para chegar nesse ponto. E, mesmo assim, a gente ainda vai ter que se arriscar para continuar desfrutando daquilo que a gente conquistou. Enquanto coletividade, me parece algo que pode estimular as pessoas a se perguntarem… será que a gente pode mesmo? Acho que sim, acho que é possível”, reflete Israel.

Guiniver Santos, escritora e uma das leitora do livro “Não Podemos Esperar” de Israel Neto.

Uma das leitoras do conto, Guiniver Santos, 41, que também é escritora, deu seu relato sobre a leitura: “Israel Neto faz com primazia um trançado entre raízes fartas de saberes ancestrais e o futuro que desejamos produzir. Neste livro me trouxe inquietações, pois fomos desconectados física e simbolicamente de nossos saberes e essa busca muitas vezes me pareceu ainda estar aqui no raso das minhas denúncias literárias. Israel me plantou um chip de afrofuturismo e me permitiu alcançar sonhos de um amanhã onde eu ainda exista para além de trajetórias catárticas de um futuro que tentaram adiar. Me lançou à Máquina do Tempo onde pretos e pretas avançam e não podemos esperar”

Um conto que sonha possibilidades futuras não deixa de ser uma história também disparadora de questões atuais. Em um trecho do conto, Mateus, um dos protagonistas, diz: “Estudamos o dobro, trabalhamos o dobro, pagamos o dobro, vivemos o mínimo e eles se livram de nós assim?” (p.39). 

Questionado sobre qual a discussão presente nessa fala, Israel diz que aqui a ideia é levantar a discussão sobre o lugar do corpo do homem negro na sociedade atual em que seu corpo é percebido como algo que pode ser violado a qualquer momento, em um enquadro, pela origem, pela cor da pele, sendo que isso está no corpo do homem negro. “O homem negro foi o cara que teve que sair pra trabalhar muito cedo, um cara que trabalhava no campo, que não tinha contato com os filhos, o cara que tem que trazer o sustento, literalmente com dificuldade de vivenciar o afeto.”

Afinal, o que é o afrofuturismo e porquê criar esse segmento literário? 

Israel explica que o afrofuturismo é algo que sempre esteve presente nas sociedades africanas e que para o tempo presente seria o “pensar o mundo a partir da visão preta, pan africanista, é um movimento que está na arte, está na moda, está na música, na literatura, no cinema, em todas as áreas, que é a projeção dos corpos negros no futuro, utilizando as tecnologias e todos os meios de produção a partir das nossas raízes, então é um movimento que projeta o futuro mas ao mesmo tempo vai inserindo as conquistas de nosso passado”. Para ele, o papel da ficção nesse universo é justamente projetar o futuro, “…se o que foi pensado vai acontecer ou não, a gente não tem obrigação com isso, mas se a gente não projetar elas, não propôr, ninguém vai fazer lá na frente”.

Israel Neto. Foto: acervo Literatura Suburbana.

Como exemplo desses movimentos afrofuturistas, Israel traz alguns exemplos. Na música ele cita George Clinton do Parliament-Funkadelic que no disco “Mothership Connection” (1975), apresenta uma nave que chega na Terra trazendo o funk. “Aqui no Brasil a gente tem um filme: Branco Sai Preto Fica, que é um filme feito na Ceilândia e que conta a história de um viajante no tempo, negro, que vem pegar provas para acusar o governo brasileiro de genocídio contra os negros e as populações periféricas”, conta Israel. 

Já na moda, Israel traz as influências do visual de Michael Jackson, Prince, as estéticas africanas, os povos de toda África. Para ele, é um movimento multicultural e político também, inclusive de resistência. Especificamente na literatura Israel fala que a influência afrofuturista, na opinião dele, vem para trazer “…um novo respirar para a literatura negra que nos últimos anos se tornou algo muito tangível enquanto protesto, exaltação das raízes africanas, mas talvez abriu mão de viajar para outros mundos, de filosofar sobre outros acontecimentos, de projetar outras terras, de criar fantasias, de trabalhar os seus medos de forma lírica, e o afrofuturismo vem trazer isso, inclusive para atingir um público que talvez não leia poesia, crônica, é um leitor que quer um universo mais dinâmico”.

A leitura de “Não Podemos Esperar”, certamente é uma abertura para diversas reflexões e questões. Fica o convite para perceber como Israel Neto projeta o futuro e disputa o imaginário e, quem sabe, participar da construção coletiva deste futuro.

Periferia, protagonismo nas eleições de SP

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Nessas aventuras e desafios que o dia a dia apresenta, vou contar minha travessia como cocanditada no pleito político para vereança de São Paulo com o Coletivo mais direito a cidade.

Vila Cais, zona sul de São Paulo. Foto: @menino_do_drone

Fui convidada a compor esse coletivo com mais cinco nomes importantes em movimentos sociais pela cidade, Gil Marçal, Beto Custodio, Evaniza Rodrigues, Iracema Araujo e Rayssa Cortez, além do nosso candidato de urna Nabil Bonduki, que tem uma trajetória política importante para cidade, além de ser um urbanista renomado, com vários títulos importantes publicados.

Quem me conhece sabe que nunca fui filiada a nenhum partido, que meu ativismo sempre se deu por outros caminhos conectados com o movimento social e cultural da periferia sul, mas o momento político pedia uma ação. Talvez eu acreditasse que o fato de não haver renovação de candidaturas políticas tenha me colocado nesse pleito, mas o provável é que já estamos tão acostumados a concorrer na vida através de editais sociais e culturais para desenvolver as ações que acreditamos, que esse parecia um desafio familiar demais para não ser aceito.

Não foi fácil aprender esse caminho, pois no macro as ações que desenvolvemos tem pouca visibilidade, muito menos as ações desenvolvidas por mulheres. Continuei sendo mãe trabalhadora nesse processo, isso torna tudo muito cansativo. O Covid-19 também era um risco eminente e dificultou muito o trabalho de encontro e construção nas bases da cidade.

Conheci os cocandidatos na formação do coletivo, alguns eu conhecia por nome pela importância da sua militância na cidade, alguns eu já conhecia como Gil Marçal, meu amigo da juventude, e Nabil Bonduki, pelos seus projetos de lei como o VAI e suas campanhas em outros pleitos. Houve um grande encontro entre pessoas que militam em diversas áreas, mas que tem um compromisso ético na construção de políticas públicas para população.

São muitas mãos que constroem uma candidatura, comunicação, mobilização, finanças, parceiros, doadores, voluntários, tudo muito familiar para quem trabalha na área social, seus alicerces são bases construídas ao mesmo tempo em que as pessoas vão se conhecendo e se apropriando da proposta.

A possibilidade de trabalhar coletivamente pela cidade parecia uma aposta muito coerente, principalmente depois de anos atuando em coletivos. Sabemos que as periferias mostraram que essa é uma forma forte e potente de trabalho e aqui na zona sul foi esse o fermento que fez a cultura periférica tomar o destaque nas grandes mídias de forma nacional e internacional movimentando hoje a economia criativa das quebradas. Hoje olhamos a debilidade que os governos deixaram os artistas durante esse período de pandemia, isto não combina com o alcance social e político dessa produção, mas isso já é assunto para um novo texto.

Com novas propostas, além das que eu participei, outros coletivos também concorreram e foram eleitos, os que carregam de forma restrita pautas das lutas sociais, das mulheres, LGBTQIA+, Antirracismo, entre diversas outras pautas importantes e fundamentais, em um momento de corte de direitos promovido pelo governo Bolsonaro e validado por São Paulo e seus empresários políticos que estão vendendo a cidade. Foi um pleito político curto, uma corrida com a ideia de deixar evidente a necessidade de transformar o panorama político para melhorar a vida da população.

Nossa campanha foi sincera, bonita e com projetos reais para luta na câmara dos vereadores, mas as grandes bandeiras, a urgência das lutas sociais conectadas a imagem de um candidato majoritário forte, não possibilitou nossa eleição. A eleição do Bruno Covas anuncia mais alguns anos da falta de diálogo público, da privatização da cidade, entre outros problemas. Perdemos o pleito, mas não fomos derrotados, até porque, as bandeiras foram eleitas por outras chapas coletivas importantes, como o Quilombo Periférico, um projeto político importante na luta antirracista e pela melhoria de vida da população periférica.

Foi uma grande experiência conhecer a cidade de forma ampla, os coletivos que estão na luta política no dia a dia da cidade, como se constrói um candidato, uma candidatura, o papel do partido, o impacto de sua visão na candidatura.

Hoje, a Martinha, minha vizinha, me disse uma coisa muito interessante, “São Paulo é aquele vizinho que vive numa situação ruim de moradia, mas que passa todos os dias lustrando o carro, porque não compreende a situação precária que ele e sua família vivem, o que importa são as aparências”.

Esse vizinho é São Paulo. Aparentemente cosmopolita, quando na verdade, o racismo e a xenofobia não combinam com a diversidade global. Moderno, que não respeita as escolhas de gênero e cultura da população. Trabalhador, que se rende a terceirização e sucateamento dos direitos trabalhistas. Cristão, que não tem resiliência pela pobreza, pelos sem teto, pelos moradores de rua, pelo genocídio do Estado e criminalização da pobreza. Essa caricatura grotesca paulistana tem sido mais respeitada em seu carro lustrado, do que aquele que luta, sem carro, pelo seu direito à moradia digna, pelos direitos trabalhistas e pela possibilidade de uma vida melhor para todos, todas e todes.

O pleito político de 2020 foi muito importante para a insurgência de novas formas de garantir o avanço político na luta por uma cidade melhor, por uma cidade para as mulheres, de uma metrópole antirracista, mas também ficou latente que temos muito o que lutar para conseguir vencer Bolsonaro e seus clones na eleição à presidência.

Pessoas acordadas para a urgência de uma renovação estrutural política, elegeram cidadãos periféricos de gênero e raça diversos, fincamos essas bandeiras na câmara dos vereadores, mesmo que ainda não conseguimos o cargo majoritário da cidade, conseguimos forças para construção dessa possibilidade. Fico feliz em ter, com o Coletivo Mais Direito à Cidade, feito muita gente sonhar, acreditar e ter esperança, mais de 16 mil sonhadores em tempos tão áridos e muitos outros milhões em nossa cidade com todas as candidaturas que acreditam no direito à cidade.

Empresária dos Racionais MC’s, Eliane Dias conta sobre desafios da crise no Empreende Aí Cast

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A empresária do mundo da música e empreendedora no setor de moda conta no quarto episódio do podcast sobre as adaptações dos negócios durante a pandemia, além de sua trajetória profissional à frente da Boogie Naipe e da Yebo  

Foto de Marcus Steinmeyer/UOL

 O Empreende aí Cast, o programa de podcast da escola de negócios da periferia para a periferia, convida Eliane Dias para um bate-papo sobre como adaptar seu negócio durante crises. A partir de suas vivências, Eliane conta um pouco sobre as estratégias adotadas neste período de pandemia e como tem sido o trabalho da Boogie Naipe, empresa de gestão de carreira de diversos artistas, como Racionais MC’s e Liniker, e a Yebo, marca de moda feminina criada pela empreendedora.

Além disso, neste bate-papo a convidada traz exemplos de métodos que utilizou e ainda utiliza para conquistar novas oportunidades. “Não sei se teve outra pessoa antes de mim a colocar um show de rap em uma casa A”, conta Eliane Dias sobre a produção dos shows dos Racionais MC’s em espaços elitizados como no Credicard Hall (atual Unimed Hall) e no Espaço das Américas. A partir desse exemplo, a convidada conta que é preciso estar em busca de inovação dentro do setor que se atua, algo muito importante para manter-se dentro da competitividade dos negócios. 

Compartilhando histórias de mulheres inspiradoras 

Com o objetivo de auxiliar as empreendedoras das quebradas com histórias inspiradoras de mulheres que criaram o seu próprio negócio e também compartilhar dicas práticas para executarem em seus negócios, a Empreende Aí (Escola de Negócios da Periferia para Periferia) lança seu primeiro podcast nas plataformas do Spotify e do Youtube, o Empreende Aí Cast. Confira:

Criado por Luís Coelho e Jennifer Rodrigues, moradores da periferia do Jardim São Luís, zona sul de São Paulo, a Empreende Aí é uma iniciativa que busca motivar pessoas das quebradas na criação de seus negócios e na sua capacitação profissional no mundo do empreendedorismo. Neste conteúdo em formato podcast, a ideia é inspirar quem já pensa em criar seu próprio negócio ou quem deseja aprender como melhorá-lo. O podcast está disponível nas plataformas do Spotify e do Youtube.

Com mais de cinco anos de atuação, o Empreende Aí já realizou diversos cursos e palestras nas periferias e conta com a parceria do Itaú Mulher Empreendedora e a International Finance Corporation (IFC), organismo do Grupo Banco Mundial, para a realização do Empreende Aí Cast.

Inteligência periférica: Como é ser mulher, mãe e empreendedora na quebrada sem o suporte do Estado?

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Na quarta reportagem da série “Inteligência periférica”, contamos a história da artesã Thamyrys Tamer, que participava de muitos eventos com seu trabalho, mas com o início da quarentena precisou se readaptar e buscar novas formas de vender seus produtos.

Thamyrys Tamer Gonçalves, 30, usa uma das técnicas mais antigas que existem: o crochê, que é a sua fonte de renda. A empreendedora gere o Ateliê Herança de Vó, que confecciona peças de decoração usando fios de resíduo têxtil, produzindo desde cestos a almofadas, no Jardim Joana D’arc, Tremembé, na zona norte da cidade.

“Eu já trabalho na área informal praticamente há dez anos, e atualmente vivo apenas do meu negócio, eu sou parda e acredito que em relação a cor eu não sofra tanta negligência diretamente, eu acho que tem mais haver com meu gênero, as pessoas acham que não, mas a questão da mulher ser independente, mãe e solteira pesa muito no mercado”, compartilha a artesã.

A decisão de sair da carteira assinada para Thamyrys vem do fato de conseguir sobreviver e sair do ciclo de ser um robô de grandes empresários. “Eu comecei a trabalhar informal, como autônoma, porque eu me via muito como um robô em um período da minha vida. Quando eu encontrei um meio de ter uma renda extra informal, me fez sair um pouco dessa robotização, e conseguir sobreviver com um pouco de flexibilização.”

Para Tamer, o governo acaba fazendo com que as pessoas desistam de suas ideias e projetos devido às burocratizações que impõem para os profissionais se formalizarem no mercado. 

“Acho que para qualquer pessoa que está começando a empreender hoje e para quem está empreendendo a mais tempo, o que falta é encontrar um passo a passo, o governo enche de burocracia, não tem uma informação clara, é a aquela famosa expressão parece que eles dificultam justamente para fazer com que você pague o pato”

coloca a profissional.

A pandemia da covid-19 gerou uma queda de mais de 90% dos eventos que o ateliê participava. Antes se sustentava principalmente com a venda para os eventos, mas com a crise da covid-19 começou a focar suas vendas de forma totalmente online e pelas redes sociais.

“Com a pandemia, realmente foi um surto, porque quando o mercado de eventos ia começar a aquecer que seria em março, parecia um boliche, vários eventos um atrás do outro caindo, cancelando, sem previsão de retorno. A renda foi de 100% para 10%, não era mais nem pra dar certo, era pra sobreviver mesmo, aí a gente começou a buscar outros meios de ter um retorno financeiro estando dentro de casa”, relata a empreendedora.

A artesã enfatiza que o poder público não está ajudando em nada o comerciante neste momento, e sem isso a economia só tende a quebrar. “O governo deveria ajudar nesse momento, mas continua dificultando muito, acho que tem que partir deles essa informação clara, e auxiliar o empreendedor, fazer com que ele caminhe, desenvolva e cresça, porque é esse empreendedor que vai custear boa parte dos impostos, ajudar a população na economia, na saúde, na educação”.

Thamyrys Tamer, artesã. Arte: Flávia Lopes

A pandemia trouxe uma demanda de criar estratégias para alavancar as vendas no mundo online. A artesã conta que precisou ter mais foco nas vendas online, pensar com mais familiaridade em cadastrar produto, criar estratégia de venda e criar produtos novos: “As pessoas em casa começaram a reparar melhor que elas precisam de itens para decorar e organizar a casa, ter esse olhar mais crítico para o lar delas, e aí com isso gerou uma demanda maior de vendas”.

Para Thamyrys, muitas pessoas se agitaram com a reabertura e volta de algumas atividades, mas o olhar mais humano para o lar, enxergando a casa como seu templo, seu lugar de reconhecimento e de paz, continuou o mesmo.

“Com isso as minhas vendas continuaram no mesmo patamar, e ainda eu consegui ter alguns picos de venda, com as datas especiais como dia das crianças. A black friday, o natal, então eu já to vendendo coisas de natal desde de setembro, porque as pessoas já querem começar a decorar, a se sentir em um ambiente confortável, as minhas vendas aumentaram nesse período”

compartilha a artesã que acredita ter sido o ponto de partida do aumento de suas vendas as pessoas terem se familiarizado e enxergado benefícios na compra online, evitando ir até o estabelecimento.

Após alguns meses se readaptando ao novo cenário que a pandemia gerou, a artesã contratou três profissionais para auxiliar na produção e relata que hoje conseguiu mudar o olhar para o seu trabalho de apenas um serviço ou produto que estava fazendo para gerar renda, para pensar também no sentido de um negócio, e fazer crescer.

“Para empresa crescer como um todo, eu precisava começar a enxergar que eu precisava de uma produção maior para dar conta da demanda, e aí eu comecei agora uma formação com mulheres, que também são mães, que também não tem como sair porque dependem de ficar em casa”, conta Thamyrys.

Além de gerar renda para sua família, a artesã passou a ter uma equipe: “Que nem agora, eu tô com uma mulher que ela precisa cuidar da mãe que tem alzheimer, eu tenho uma outra mãe trabalhando comigo que tem três filhas pequenas, então eu comecei a pegar pessoas do mesmo tipo de realidade que eu, que precisava trabalhar, que era mãe solo, precisavam estar em casa, então comecei a buscar pessoas que tem esse tipo de anseio de precisar de uma renda, mas não ter como trabalhar fora, para me ajudar com a produção”, finaliza.

Na próxima reportagem, compartilhamos a última história da série “Inteligência periférica” de 2020. Você vai conhecer a Valdirene Rodrigues, costureira e moradora de Sapopemba na região leste de São Paulo, que durante a pandemia passou a produzir um dos itens essenciais para sair às ruas depois da chegada da covid-19, as máscaras de tecido.

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Três personalidades periféricas que marcaram a web em 2020

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Podcaster, Youtuber e fotógrafo, essas são as profissões de três personalidades periféricas que ficaram conhecidas na internet, devido à produção de conteúdo digital sobre política, filosofia e cultura.

Três personalidades periféricas que marcaram a web em 2020
Imagem: Desenrola E Não Me Enrola

Devido à pandemia, o ano de 2020 foi marcado por um extremo processo de virtualização da vida. Nesse contexto, o consumo de entretenimento digital cresceu muito nos territórios periféricos. Inúmeras iniciativas surgiram para viabilizar que os moradores das periferias tivessem acesso à internet, junto com esse movimento, surgiram também produtores de conteúdo digital que ganharam visibilidade e relevância por produzir narrativas sobre a transformação do estilo de vida dos moradores das periferias e favelas.

Um exemplo dessas personalidades que produzem conteúdo digital é o fotógrafo Marcelino Melo, mais conhecido nas quebradas da zona sul de São Paulo como Menino do Drone. Ele começou o ano realizando um registro de imagens áreas do cemitério São Luís, que mostrava a transformação do espaço com o crescente número de abertura de covas, para abrigar vítimas da pandemia de coronavírus.

O Menino do Drone chega ao final deste ano conhecido nas redes sociais por seu trabalho como artista plástico, onde ele reproduz miniaturas de moradias das periferias, criando uma riqueza de detalhes sobre a cultura de construção civil da quebrada. “A miniatura surgiu antes de ter o nome quebradinha, ai depois que vem o nome, se intensifica a coisa, aí eu acabo colocando mais conceito em cima”, relembra Marcelino, abordando o processo de consolidação do seu trabalho com criação de casas em miniatura.

Em 2020, o trabalho artístico de Marcelino foi destaques em vários perfis de entidades culturais, como a Bienal de São Paulo, além disso, o jovem artista foi tema de diversas matérias na imprensa paulistana. Ele conta que uma das principais características do seu trabalho é a provocação sobre a releitura do imaginário periférico.

“Eu acredito que eu atuo no território com um lugar de imaginário, em todas essas frentes que eu atuo no imaginário e a narrativa periférica acaba sendo a principal ferramenta. É uma disputa para desconstruir e construir outras paradas”, explica Melo. 26, que é morador do bairro do Campo Limpo.

A inspiração para desenvolver as casas em miniaturas tem uma contribuição forte de outra paixão de Marcelino que é a produção de fotografias aéreas, onde ele registra o formato do telhado e das casas nas periferias e favelas vistas do céu.

“Quando eu fiz o telhado que eu coloquei a caixa d’água eu gostei muito do resultado porque aquela influência era diretamente vinda do drone, da fotografia aérea, que é quando eu pego dois elementos muito forte na fotografia aérea de favela que é a caixa d’água e o telhado de Brasilit, ai eu reproduzi isso”, conta Marcelino.

A partir disso, o jovem artista começou a entender que essas influências precisavam ser contadas dentro do universo digital, então ele decidiu fazer um perfil no Instagram para expor sua arte e inquietações realizando lives e bate papos com os seguidores. Hoje, o perfil já tem mais de 50 mil seguidores que interagem com o seu trabalho. “Nunca pensei em estratégias de publicação, as pessoas foram chegando e ficando, e foi ganhando um prestígio cada vez maior, e isso só porque é de verdade, é sincera a coisa, então é completamente orgânico, eu nunca impulsionei nada”, descreve o artista sobre o processo de crescimento do seu perfil nas redes sociais.

Entre os momentos marcantes da sua trajetória nas redes sociais está a sua participação num vídeo do comediante Thiago Ventura, conhecido por fazer shows que exaltam a cultura periférica como um dos principais temas de suas apresentações de standup. 

600 moradores assinam conteúdo de podcaster do Capão Redondo

A iniciativa Manda Notícia foi criada pela jornalista e educadora Gisele Alexandre, 38, moradora do Parque Munhoz, zona sul de São Paulo. Ver o seu território se movimentando e criando soluções para combater as desigualdades sociais geradas pela pandemia de coronavírus foi também um estimulo para a comunicadora criar novas formas de informar a população local e combater Fake News, por meio de um podcast distribuído nas redes sociais e no Whatsapp.

“O Manda Notícias surgiu em março desse ano, muito motivado pela minha vontade e necessidade de gerar informação para os moradores da periferia onde eu atuo principalmente o vizinho e meu amigos”, explica a jornalista, que durante a pandemia começou a produzir conteúdos que levam informação de qualidade para moradores da sua rede de contatos nas periferias localizadas nos distritos de Capão Redondo e Campo Limpo.

Ao longo desse processo, ela percebeu que a distribuição de notícias contínuas foi contribuindo para aumentar o número de pessoas cadastradas em sua lista de transmissão, que hoje tem cerca de 600 pessoas. “O podcast ganhou uma conta e número exclusivo no whatsapp, a gente também abriu uma conta nas redes sociais e atualmente a gente já produziu mais de 80 episódios, que são enviados via lista de transmissão e também por meio de redes sociais como Facebook, Instagram e Twitter”, complementa a comunicadora.

Após o encerramento da primeira temporada no primeiro semestre do ano, a jornalista se organizou com mais dois produtores de conteúdo digital da quebrada e começaram a elaborar a segunda temporada do Manda Notícias, trazendo episódios sobre notícias cotidianas da quebrada às terças-feiras, e às quintas feiras os temas de destaque giram em torno da cultura periférica, enfatizando a visibilidade de artistas periféricos.

Se aventurar como podcaster é um processo novo na vida da jornalista e simboliza uma nova cultura de consumo de informação para ela e para o seu público. “Eu não era uma consumidora de podcast eu me tornei uma consumidora de podcast, então eu também to no momento de desenvolvimento, é tudo uma construção, a primeira temporada tá bem diferente da segunda temporada, que eu espero que seja diferente da terceira, e a gente tem inovado a cada tempo, sem perder nossa identidade”.

Para Alexandre, construir e fortalecer uma identidade periférica para inseri-los no conteúdos é algo fundamental para preservar o jeito da quebrada se comunicar. “Eu acho que é o mais importante é ter essa identidade no podcast, que é um formato que a gente consegue manter a nossa maneira de falar com as pessoas que são próximas da gente”.

Ela enfatiza que identidade dos conteúdos é também uma forma de valorizar a cultura do jornalismo periférico. “Só faz sentido pra eu trabalhar no jornalismo se for falando da quebrada, eu tenho 38 anos, então eu já trabalhei bastante ao longo da minha carreira, eu sempre quis trabalhar com isso eu foi difícil eu conseguir viver trabalhando com jornalismo periférico”.

A Jornalista compartilha os planos e sonhos para 2021, esperando crescer ainda mais no universo digital dos podcasts e alcançar mais apoiadores para o projeto jornalístico. “Para 2021 eu espero trabalhar como podcaster, quando eu digo trabalhar é ganhar pra isso também, porque isso é importante, então hoje no Manda Notícias somos um projeto independente, então ano que vem eu espero que a gente consiga um apoiador”, finaliza ela.

Traduzindo Karl Marx para gírias paulistana

O estudante de sociologia e morador do Conjunto Habitacional Vida Nova, localizado na periferia de Paulínia, Marcelo Marques, 19, ficou conhecido como Aldino Vilão, criador do canal de You Tube que faz tradições da obras de grandes filósofos, utilizando gírias bem utilizadas pela juventude periférica.

Um dos seus vídeos mais comentados que viralizaram em 2020 foi intitulado de ‘Traduzindo Karl Marx para gírias paulista’, trazendo uma linguagem com essência periférica para falar de filosofia. O intuito do canal é trazer esse conteúdos de uma maneira informal, na gíria, conversando no sotaque paulista, trocando ideia de uma forma descontraída, sem usar aquelas expressões acadêmicas e engessadas.

O criador do canal explica que um dos seus principais objetivos é atingir alunos de escolas públicas. “Eu viso muito o ensino público, eu viso muito escola pública, como a que eu estudei, por exemplo, escolas muitas vezes depredadas, esquecida pela município, esquecida pelo governo do estado”, afirma o Youtuber.

O jovem entende que os conteúdos produzidos por ele expressa e se relaciona diretamente com sua vivência do cotidiano da quebrada. “Valorizar os arquétipos da quebrada, com uma linguagem, uma coisa que não é forçada, é uma coisa que eu uso no meu cotidiano, que eu uso para falar com minha namorada, que eu uso pra falar com meu amigos, que eu uso pra falar com meus parentes”, explica Marcelo.

Ele enfatiza que após a viralização do seu trabalho é compreensível o fato do seus conteúdos conseguir acessar tantas pessoas “Eu vi muito professor chegando pra mim no direct do Instagram e muito aluno mandando print pra mim de atividades de professor que envolvem meu material, e o professor colocando meu vídeo na aula online do Ead, e professor colocando meu vídeo como citação em exercício, e professor usando meus vídeos como material de referência de estudo das provas”, conta o Youtuber, ressaltando que além da viralização, o seu trabalho ganhou uma utilidade pública na educação de jovens.

Para 2021, Marcelo pretende se aprofundar mais em outras matérias além da filosofia, como história, antropologia, bibliografias, porém ele ressalta que seu foco é na valorização cultural da periferia. “Eu valorizo essa cultura, por isso que a quebrada ela se identifica, por isso que essa galera de quebrada curte mais, entende mais, porque nós pertencemos ao mesmo nicho cultural, então o sentido do meu conteúdo é para ensinar, mas o método que eu uso pra ensinar é ‘freireano’, então eu valorizo a minha cultura como moleque de quebrada, na gíria, na minha roupa, no jeito que eu me expresso, no jeito que eu sou”, conclui.

Coletiva cria plataforma de streaming para fortalecer o cinema periférico

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 Criada para distribuir filmes e séries produzidas por cineastas das periferias, a plataforma daQbrada é uma iniciativa focada no cenário do cinema de Borda, Periférico e de Guerrilha.

Creditos Shaiene Assis

 Uma plataforma de Streaming independente totalmente livre, que concentra apenas produções audiovisuais feitas por moradores das periferias. Essa é a daQbrada, iniciativa criada pelo Coletivo Transformar, um grupo de 10 moradores de diversos bairros das periferias de São Paulo.

Enraizado na cultura de projeções de filmes ao ar livre em locais como becos, vielas e escadões e na produção de curtas-metragens, o coletivo decidiu ir além e apostar num novo projeto que explora o ambiente virtual como forma de democratizar o acesso ao cinema aos moradores das periferias e dar visibilidade as produções independentes da quebrada.

A ideia de construir a primeira plataforma de streaming dedicada a produções do cinema de Borda, Periférico e de Guerrilha partiu de Jonas Amaral, 29, integrante do coletivo Transformar que mora no distrito de Sapopemba, zona leste de São Paulo.

Segundo Amaral, a ideia consiste em agregar o trabalho de vários coletivos. “A gente que tá aqui na leste vai ter oportunidade de ver produções de coletivos diversos”, ressalta ele, afirmando que além de reunir inúmeras produções, a plataforma vai fortalecer as redes de audiovisual das periferias. Ele define o projeto como “um espaço de convergências das produções periféricas”.

E a partir desta perspectiva sobre o projeto, o produtor complementa apontando que a finalidade é ter também um ambiente não apenas para consumo de conteúdo, mas de troca. “Ao mesmo tempo ela é um espaço de quem quer assistir uma produção e tals, e que você vai encontrar muito mais fácil que no YouTube, ela acaba sendo um espaço de troca muito bom”.

A daQbrada levou um mês para ser elaborada. O responsável por desenvolver essa tecnologia é Marcio Rodrigues, 35, morador de Sapopemba. Ele é vizinho de Jonas e integrante do Coletivo Transformar. “Durante a quarentena fazendo home office acabava sobrando, aquele tempo que a gente gasta no transporte. Acabava pensando em outras coisas né, e executar também”, conta o desenvolvedor, descrevendo como aproveitou que o tempo extra em sua rotina, para pensar em novas tecnologias para seu território.

Rodrigues afirma que começou a desenvolver algo parecido com um repositório de filme, mas com o avanço do processo de elaboração, ele percebeu que o desenvolvimento de uma plataforma streaming seria a melhor opção, pós juntaria todos os propósitos do coletivo dentro de um ambiente virtual.

Durante o processo de desenvolvimento a maior dificuldade foi pensar como o usuário que é morador da periferia iria se sentir com a usabilidade da plataforma. “Você tem que estar preocupado aonde o pessoal vai acessar, aonde vai ser publicado esse vídeo, qual servidor, o servidor vai ter capacidade, vai ter o acesso das pessoas simultaneamente, como vai ser essa performance do vídeo”, explica Rodrigues.

Ele enfatiza a sua preocupação para produzir uma plataforma onde “os produtores da quebrada consigam exibir e seja acessível para pessoas que vivem nesses lugares, para elas conseguirem também assistir”, diz o desenvolvedor.

 Preconceito Digital

 Durante o processo de elaboração, o desenvolvedor foi surpreendido com o sistema de validação dos algoritmos, que impediram a publicação da plataforma com o nome daQbrada. Segundo Rodrigues, o sistema reconheceu como um site que distribui conteúdo que poderia prejudicar as pessoas que têm acesso a ele.

“O nome do site foi bloqueado por ter o daQbrada e ser visto como uma coisa que oferece risco pra quem está acessando”, relembra o desenvolvedor, denunciando como os algoritmos podem influenciar negativamente quando a linguagem é periférica. Ele relata que o problema continuou acontecendo com sistemas antivírus. “Mesmo assim ele acabou sendo bloqueado por diversos dispositivos de antivírus”.

Após vivenciar esses acontecimentos, Marcio faz uma reflexão sobre como os algoritmos podem impactar no esquecimento de territórios periféricos e seus moradores. “As pessoas querem sim consumir tecnologias que só estão disponíveis no centro, em São Paulo mesmo”, afirma fazendo uma comparação com a tecnologia disponível em seu bairro. “Na rua de cima o Uber chega, mas na rua de baixo a pessoa tenta chamar é não acessa, porque muitas vezes as empresas de tecnologia olham superficialmente pra esses lugares, elas não conhecem realmente o lugar e a demanda”.

 

Uma rede do cinema periférico

Ilustração da plataforma daQbrada

Após a criação do projeto, a plataforma torna-se uma comunidade livre, onde os próprios produtores e usuários alimentam seus conteúdos e fazem a daQbrada criar uma identidade própria, repleta de diversidade de narrativas que surgem em meio aos territórios periféricos. “A gente tá pensando trazer outros coletivos pra estar junto, e a gente se fortalecer enquanto coletivo e ao mesmo tempo fortalecer outros, a ideia é fazer um crescimento junto mesmo, mão com mão”, destaca Jonas, argumentando a importância de criar uma rede de produções periféricas.

Segundo ele, essa cultura de compartilhar experiências e conteúdos impacta também na qualidade das produções. “Esse compartilhamento de ideia ajuda também na melhora das produções”. Para o

Integrante do Coletivo Transformar, a plataforma serve como rede forte de produtores audiovisuais da periferia, visando combater e lidar com o monopólio das plataformas de streaming convencionais.

“As plataformas têm os objetivos comerciais delas, que não batem necessariamente com que a gente tá fazendo, porque você tá fazendo um curta que não tem necessariamente um objetivo comercial, na plataforma ele não roda legal, porque ele não atende o público que a plataforma se propõe a atender”, afirma Jonas.

A daQbrada ainda está em fase de teste e ao mesmo tempo está captando produtores para expor seus vídeos. “Essa questão da monetização a gente tem que estudar o que algumas plataformas livres tem feito né, o pessoal tem trabalhado com a estrutura de crowdfunder né, mas de uma forma que não seja algo restritivo”, explica o produtor audiovisual.

Neste momento, o grupo está pensando em um modelo de negócio que possa fortalecer produções audiovisuais das periferias e disponibilizar um conteúdo totalmente gratuito para seus usuários. “O audiovisual é caro né, a gente tem pensado muito como produzir”.

Em meio à fase de testes, o coletivo já planeja lançar um aplicativo da plataforma, pois percebe que conteúdos em dispositivos móveis são bem mais acessíveis para moradores das periferias, e para lidar com o viés dos algoritmos das plataformas convencionais o desenvolvedor já planeja fazer o aplicativo da plataforma. “No momento, tem como se trabalhar com algoritmos, tem como trabalhar com algoritmos do bem”, finaliza.

“Eu venho descobrindo essa parada de jogo de celular agora”, diz gamer da quebrada

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O Free Fire é um jogo eletrônico mobile de ação e aventura que faz parte do cotidiano de jovens e crianças que moram nas periferias e favelas, pelo favor de incentivar a criação de comunidades virtuais, propiciar experiências coletivas e fomentar a cultura gamer na quebrada.

creditos Beatriz Santos

 Jogar Free Fire pra curtir um lazer na quebrada, passar o tempo pra fugir das neuroses e ainda chamar os parças da família para formar o time e colaborar na criação das táticas que só eles conhecem. Esses podem ser os principais atrativos para muitos jovens da quebrada, que estão tendo oportunidade de acessar o universo gamer, a partir da popularização do acesso ao celular nas periferias e favelas de São Paulo.

Um dos jovens que fazem parte desta cultura é Yago Brito, 21, morador do Jardim Santa Lúcia, bairro localizado na zona sul de São Paulo. Ele lembra que a sua namorada lhe apresentou o jogo e logo em seguido fez o download, mas mesmo assim não foi possível jogar devido a problemas com o seu dispositivo.

A cultura gamer sempre esteve distante das periferias, devido alto valor dos consoles e dos jogos. Como o Free Fire é um jogo eletrônico disponível para ser jogado em dispositivos mobile, isso o aproximou e cativou muitos jovens como Yago, que transformou o jogo em um hábito que faz parte da sua rotina dentro da quebrada. “Eu fui me aprofundando, me especializando cada vez mais, e fiquei viciado no Free Fire”.

Ele conta que por dia passa em média de duas a três horas por dia jogando Free Fire, porém esse tempo fica relativo, quando percebe que não ultrapassou seus próprios limites. “Tem vezes que eu acho que não to numa média boa, que eu to ruim, aí eu me esforço mais, eu fico algumas horas a mais”, afirma.

O jovem conta que hoje sua patente é a Diamante 2, pontuação no jogo que serve para classificar por posição os jogadores com mais habilidades. Yago está a 2 posições do mestre, uma das mais altas patentes do jogo. “Toda jogada você sobe de uma patente, e você tem a maior patente que é o mestre e o objetivo é alcançar ela, eu to quase lá, uma hora eu chego lá”, descreve.

 Cultura gamer, família e amigos

creditos Beatriz Santos

A possibilidade de criar uma comunidade virtual formada por amigos e parentes no Free Fire é um dos principais atrativos avaliados por Yago, que o faz passar horas em frente à tela do seu celular. Outros pontos bem importantes observados por ele é a qualidade da computação gráfica que está acessível na tela de celular e a jogabilidade que o jogo oferece.

Essa experiência de ter uma patente Diamante e estar em busca de conseguir a classificação de mestre está sendo vivenciada há apenas um ano, pois foi em 2019 que Yago conseguiu acessar essas tecnologias e vivenciar a cultura gamer na quebrada.

“Eu venho descobrindo essa parada de vídeo-game e jogo de celular agora sabe, antes na minha infância meu pai e minha mãe não tinham condições de proporcionar um vídeo-game, e um celular para que eu e meus irmãos pudéssemos jogar. Foi depois que eu fiquei mais velho, que pude ter essas paradas sabe, e foi agora que foi despertando esses interesses”, argumenta o jovem.

 Yago atribui todas as suas conquistas no universo gamer de Free Fire à sua equipe, composta por amigos e familiares que moram próximo da sua quebrada. “É um grupo de quatro pessoas formado por eu, meu amigo Christopher, meu sobrinho Cameron e o Kauan”, detalha ele, considerando que o fato do jogo ser coletivo o torna muito mais proveitoso, pois em equipe ele tem a oportunidade de formar táticas contra seu oponente.

Mas de tempos em tempos o jovem precisa interromper seus jogos devido à falta de internet ou de um plano de qualidade em seu território, para proporcionar uma boa experiência. “Eu já tive bastante problema com a internet, hoje em dia eu consegui contratar um plano de internet pra minha casa, mas antes tinha que usar a do vizinho, já tive que ficar vários dias sem jogar por conta de não ter internet”, relembra.

Quando está chegando o dia 5 de cada mês é sempre uma apreensão para o gamer. Caso ele atrase um dia o pagamento do boleto, a internet pode ser cortada. “Eu tenho um plano aqui que o negócio é meio loco. Eu tenho que pagar até dia 5, quando o boleto vence. Passou do dia 5 se não pagar já era, a internet fica zoada até quitar”, explica.

Mesmo com as dificuldades para manter a conectividades, Yago conta que se tivesse a oportunidade de se profissionalizar e ganhar uma grana com algo que gosta, que é jogar Free fire seria um sonho. “Se eu tivesse essa chance de poder viver dos jogos, de uma parada que eu gosto de fazer né, seria ótimo, seria bacana demais, porque aí eu ia trabalhar com uma coisa que eu gosto, não tem nada melhor que ganhar dinheiro fazendo uma coisa que você goste né “.

Inteligência periférica: Durante a quarentena a rua continuou sendo um meio para gerar renda

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Na terceira reportagem da série “Inteligência periférica”, vamos contar a história da Edilene Protásio, confeiteira e moradora da zona oeste de São Paulo, que assim como muitos moradores das periferias, não pôde parar de sair nas ruas para trabalhar.

A confeiteira Edilene Protásio, 24, moradora do Rio Pequeno, na zona oeste de São Paulo, tem o Mimos da Leny como sua principal fonte de renda. Edilene começou no mercado informal ainda menor de idade, trabalhando com vendas de artesanatos, sorvetes, cosméticos e hoje vende bolos de potes. Ela usa sua voz como potência para sua venda.

Edilene se considera negra e acredita que a cor da sua pele não interfere em sua atuação no trabalho informal. “Trabalho informal a mais de 10 anos, eu era menor de idade ainda, comecei e fiquei. Vendia sorvete, já vendi miçanga que eu mesma produzia, com venda de cosméticos, de um tudo um pouco. Hoje eu saio gritando na quebrada, ‘oh bolo de pote, oh bolo de pote 5 reais’. Também vendo pelas redes sociais, mas o foco mesmo é na quebrada, movimentação, olho no olho, cara na cara”.

A confeiteira afirma que entrou no mercado de trabalho informal porque é difícil ser uma mulher preta e mãe com carteira assinada. 

Relata Edilene sobre o trabalho no mercado formal com carteira assinada. Arte: Flávia Lopes

Com a chegada da quarentena, Edilene não pôde parar com as vendas nas ruas, pois precisava garantir a entrada do dinheiro. “Com a quarentena tá bem mais difícil, eu tenho quatro crianças pequenas, as creches estão fechadas, as escolas estão fechadas e eu tenho que me organizar com horário delas e com o da minha mãe, que é ela que me ajuda. Agora tenho que andar com duas na rua correndo risco, mas eu não posso ficar parada porque precisamos comer”.

Para a confeiteira, ir para as ruas trabalhar no período que o governo fala sobre distanciamento social, mas não fornece possibilidades para a população periférica, representa garantir o sustento para si, e seus filhos. “Eu sei que estou correndo risco e me expondo, mas ou é isso, sair e vender o bolos, ou é passar fome, tá muito mais difícil agora”, compartilha .

Edilene frisa que não vê o poder público interessado em ajudar as pessoas a se erguer neste momento, muito menos quem é comerciante. “Os políticos dão 600 reais achando que resolveu todo problema, eu não tô na rua porque eu quero, mas porque eu preciso comer, neste momento tem que ter ação de verdade desses que falam muito”.

Em maio desse ano, o lançamento do Plano São Paulo pelo governo do Estado passou a nortear a reabertura de alguns serviços não essenciais que começaram a retomar as atividades com a capacidade reduzida conforme cada fase do plano. Os avanços na reabertura e recente retrocesso afetou de formas diferentes cada profissional. 

Para a confeiteira, a reabertura de parte dos serviços não essenciais não trouxe grandes mudanças. “Eu tive que me adaptar mais ainda, não consigo mais sair com tanta frequência, porque as crianças estão sem escola, e quando estão comigo não consigo ir para longe, agora meu irmão tá olhando elas, mas mesmo assim. E ainda que tá calor esses dias, eu tava fazendo gelinho gourmet, tô fazendo também pão, bolo de pote. Vou colocar mais mercadoria, mais produto, para aumentar esse retorno financeiro, que mesmo com essa abertura só tem diminuindo a volta do dinheiro”, conta a profissional.

“Para o ambulante essa reabertura não mudou em nada, está normal, não teve pandemia para quem trabalha na rua, quem trabalha na rua foi trabalhar, quem trabalha com comércio foi trabalhar, a reabertura abriu os comércios grandes, o ruim que quem é mãe os filhos estão sem escola e isso é a maior dificuldade” 

O valor do auxílio fornecido pelo governo não foi suficiente para muitos moradores das periferias conseguirem suprir suas demandas. Assim como Edilene, muitos continuaram o corre para garantir seu acesso a direitos e a serviços que não chegaram de forma eficiente através do Estado nos territórios periféricos.

Na próxima reportagem da série “Inteligência periférica”, vamos conhecer a Thamyrys Tamer, artesã e moradora do Jardim Joana D’arc, Tremembé, na região norte de São Paulo, que se readaptou a nova forma de vender seu produtos durante a pandemia e conseguiu fortalecer outras mulheres durante esse processo.

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