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Cidade Tiradentes e Jardim São Luís ganham videocasts comunitários

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Derivado do formato do podcast, o videocast chega às periferias, por meio de iniciativas que querem revelar novos talentos artísticos na quebrada e desenvolver uma visão empresarial na comunicação digital nas periferias.

creditos: Clessio Meireles

Foi observando os assuntos mais comentados por moradores em grupos de Facebook e em Lives, que o autônomo Maykon Telles, 25, morador Jardim Bandeirantes, na zona sul de São Paulo, decidiu criar o videocast Papo de quebrada, um programa de entrevistas que destaca a participação de artistas independentes e personalidades das periferias.

O que chama a atenção na história de Maykon é a forma como ele construiu a ideia do videocast. Ele conta que foi a partir da produção de lives dentro do seu carro que surgiu os primeiros experimentos digitais para sentir a receptividade do público na internet.

“Eu tinha um carro, um palio 97, aí eu comecei a fazer as lives nesse carro, e meu eu gostava tanto, eu comecei a fazer muito sucesso nesses grupos do Facebook fazendo live e trocando ideia com eles. Mano foi um bagulho muito legal”, relembra o produtor de conteúdo.

A partir destes experimentos de produção de lives dentro do seu carro, ele percebeu que poderia produzir seus próprios conteúdos e ser referência para outras pessoas do bairro usando plataformas digitais de produção de narrativas.

Uma das inspirações para Maykon lançar o Papo de Quebrada foi assistir o já consolidado videocast Podpah, programa de entrevistas que recebe personalidades da música brasileira no Youtube.

“Comecei assistir o Podpah, aí eu comecei a entender mais sobre isso, e daí eu tive essa ideia de fazer um programa chamado cozinhando e resenhando”

Maykon Telles, criador do videocast Papo de Quebrada

A ideia inicial do produtor de conteúdo consistia em criar um podcast diário com a participação de MC´s de rap e funk para bater papo, enquanto eles cozinhavam algum prato. “Seria tipo uma ‘Ana Maria Braga’ aí eu chamaria os MC´s para ficar trocando ideia e fazendo comida”, relata ele, enfatizando que esse formato não foi para frente, devido à falta de dinheiro para bancar a produção do programa.

Ao entender que essa história de podcast iria gerar muitos gastos diário, Maykon passou a desenvolver também um olhar de negócios para o seu projeto.

“Mano imagina pegar e comprar comida todo o dia? Eu não tinha a noção que eu tenho hoje, se eu tivesse a noção que eu tenho hoje, esse pouco tempo de podcast, eu aprendi sobre marketing, sobre tanta coisa velho, se eu tivesse o conhecimento que eu tenho hoje eu até conseguiria um parceiro para me conceder comida todos os dias “, afirma.

Ao final desse processo, Maykon optou por um formato de gravação em estúdio, saindo do seu Palio 97, para ocupar a casa da sua vó. “Eu tinha a casa do meu pai e da minha mãe só que nenhuma dessas casas chegava internet suficiente ao ponto de fazer live com qualidade boa, então eu peguei e fui conversar com minha avó, que era a única que tinha internet que conseguia suprir o que a gente precisava”, explica.

Além de seus familiares, ele teve apoio de seus amigos que acreditaram na ideia e investiram com o empréstimo de equipamentos de áudio, que hoje são a base do seu videocast Papo de Quebrada

“Eu precisava de um equipamento de áudio e tem o Alemão, um amigo meu que a gente conversa todos os dias, e trocando ideia com ele sobre o projeto ele falou pra mim: Maykon eu tenho 5 microfones, uma potência e uma mesa de som, eu consigo estar te ajudando”, comenta ele, que mesmo sem capital de giro para colocar o projeto em prática, contou com ao apoio de familiares e amigos para tirar a ideia do papel.

creditos: Clessio Meireles

Desmistificar que a periferia só tem coisas ruins em seu cotidiano é um dos principais objetivos do videocast. Papo de Quebrada. “Como a mídia só mostra o lado ruim da quebrada, eu fiz o programa para mostrar o lado bom da quebrada, mostrar os artistas que a quebrada tem “, conta.

Ele acredita na importância dos artistas ‘da ponte pra cá’ serem mais vistos e valorizados nas redes sociais. “Claro que vai vir uns caras famosos para impulsionar o canal, só que o foco é ajudar os caras que tá na quebrada e tem muitos que são bons e não estão sendo vistos”, argumenta.

A visão de Maikon de valorizar artistas independentes da periferia que tem pouco espaço na mídia caminha junto do propósito empresarial do produtor de conteúdo. Segundo ele, é preciso construir uma mudança no formato de investir na quebrada.

“Vamos colocar uma filosofia diferente na cabeça das pessoas, pegar um empresário e colocar na cabeça dele que não precisa só empresariar jogador de futebol, que a quebrada não tem só jogador bom de futebol, ele pode empresariar a carreira de um MC, a carreira de um ator, a carreira de seja lá o sonho que a pessoa tiver, então eu fiz no intuito disso o podcast”, complementa.

Atualmente o estúdio do Papo de Quebrada está localizado no Parque Santo Antônio, bairro localizado no distrito do Jardim São Luís, zona sul de São Paulo. O espaço onde rola as gravações do videocast ganhou uma nova estrutura. “A gente conseguiu fazer um estúdio com sistema Chroma-key, aquele fundo verde que a gente coloca uma favela pro pessoal quando tiver em casa assistir a gente. Essa tecnologia ficou bem legal”, conta Maykon, demonstrando que o sonho cresceu e cada vez mais ganha mais apoiadores.

Em menos de seis meses de atuação, o videocast Papo de Quebrada já acumula muitas parcerias com comerciantes da região. “A gente tem parceria com pizzaria, hamburgueria, adega, tabacaria e tem umas parcerias que mandam coisas pra minha casa entendeu”, revela Maykon.

 “Nenhum de nós sabia lidar com equipamentos e tudo mais”

creditos: Anderson Alves

O morador do Parque do Carmo Anderson Alves é apresentador e investidor do No Fundão, um videocast com estúdio localizado na Cidade de Tiradentes, extremo leste de São Paulo. Mesmo com os desafios de infraestrutura, como acesso a equipamentos e principalmente de acesso à internet de qualidade, o projeto virou uma realidade que demorou apenas duas semanas para ser colocada em prática.

“Duas semanas depois de tomar a decisão de produzir o videocast eu já estava comprando tudo, aí a gente tinha só o desafio de encontrar o lugar. Eu sempre quis que fosse na Cidade Tiradentes, a gente até chegou a cogitar em ir pra outros bairros, por questões técnicas de infraestrutura, pelo fato de a Cidade Tiradentes não ter uma estrutura legal “. relata o apresentador do programa.

Ele considera a missão de produzir conteúdos digitais nos territórios periféricos um desafio difícil pela dificuldade em encontrar um serviço de internet de qualidade na região da Cidade Tiradentes.

“Primeiro que a gente não achou uma empresa que tenha internet no nível que o programa exige, uma internet boa para ficar uma transmissão legal, isso é uma coisa que tá limitando a gente agora, é um dos maiores desafios nossos”, afirma Alves, que segue em busca de serviços de internet adequados a realidade de consumo de dados do projeto de videocast.

Mesmo com os desafios de conexão, que acabam gerando uma série de gargalos na evolução do projeto, o apresentador revela que descobrir os talentos artísticos da quebrada acaba sendo uma grande fonte de energia para manter o projeto de pé.

“A gente acabou descobrindo que tem muito mais que a gente imaginava, tem muito talento descoberto, tem muita voz calada, e a gente tá dando um pouquinho de espaço pra cada um, a maioria tá ali na luta buscando um espaço na mídia, é o sonho de todo artista seja qual for o nicho dele” 

Anderson Alves, apresentador e investidor do videocast No Fundão

Outro desafio apontado por Anderson é o fato dele e da sua equipe estar em processo de aprendizado para mexer nos equipamentos do estúdio, entendendo a técnica dos aparelhos eletrônicos de áudio na prática. “O aprendizado maior foi fazer a coisa acontecer, mexer em um programa não é fácil não”, revela.

Ele conta que no momento não tem um profissional técnico de áudio ou formado em produção de conteúdo digital na sua equipe para mexer nos equipamentos, e que a saída tem sido pedir suporte para os amigos que tem mais experiência no ramo.

“Pedimos muita ajuda de gente que entende e que é técnico, por meio de ligações pelo telefone ou chamado de vídeo. Eles dizem: ‘faz assim ou assado que na internet tem um programinha que faz isso’. Mas nenhum de nós sabe lidar com equipamentos e tudo mais, acho que é a maior dificuldade também”, diz o apresentador, que investiu no projeto e acredita no potencial do programa.

Com uma proposta de valor semelhante ao Papo da Quebrada, o No Fundão já está recebendo investimentos de comércios das periferias da zona leste. “A gente está conseguindo fechar patrocínio, essa semana inclusive a gente conseguiu fechar nosso primeiro patrocínio, fechamos um patrocínio por 15 dias, aí vamos rodar esse comercial. Estamos correndo atrás de um outro patrocinador e assim por diante”, conta Anderson, enfatizando que o propósito editorial do programa chama a atenção dos parceiros, pelo fato de valorizar os artistas dos territórios periféricos.

Ele e sua equipe ainda estão aprendendo a mexer nos equipamentos, mas os planos de futuro são promissores, pelo fato de já ter montado o próprio estúdio e conseguir parceiros para apoiar a produção do programa.

“Durante esse tempo a coisa que eu não imaginaria fazer é dar conta de conduzir um programa, querendo ou não a gente já trabalha com audiovisual, é imagem e áudio né, agora que tá vindo um podcast com formato de vídeo, a gente por nunca ter feito foi uma descoberta nova pra gente, mas a gente vê que agora que somos capazes de fazer o que a gente quiser, a gente é capaz de testar, se adaptar e aprender qualquer coisa”, finaliza o apresentador.

Celular e televisão viram válvula de escape para distrair filhos na pandemia, diz mãe solo do Grajaú

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Bolinha de gude, soltar pila, brincar de boneca, ir ao parque, passear na praça e dormir na casa dos amigos, são alguns exemplos de simples ações de lazer que fazem parte do cotidiano de famílias periféricas que tem filhos na fase da infância, que deixaram de existir e deram lugar a novos hábitos de diversão na pandemia.

Creditos: Natasha Navarro

“As mães são guardiãs dos nossos lares e das nossas crias”, define a produtora audiovisual Natasha Navarro, 21, moradora do Cantinho do Céu, distrito do Grajaú, zona sul de São Paulo.

Essa visão de mundo é uma referência direta ao documentário “Guardiãs”, um curta metragem que ela produziu há um ano atrás, retratando o cotidiano de mães, que assim como ela estão desempenhando durante a pandemia um papel ainda mais difícil de ser uma ‘guardiã’ para proteger seus filhos.

No filme, Natasha se coloca também como personagem, a mãe de Elis de 1 ano e 9 meses e de Alice de 4 anos. As duas filhas da vida real estão ao seu lado durante 24 horas, porém ao longo da pandemia, um período forjado por muitas desigualdades sociais para mães das periferias, a produtora audiovisual viu seu papel de mãe se transformar em uma alucinada rotina puxada pelo desafio de gerenciar o tempo entre a vida profissional e a pessoal.

“Tem dia que a gente consegue da conta de tudo realmente, e tem dia que não dá, tem dias que a gente consegue fazer o básico que é alimentar as crianças, dar banho nelas sabe, e conciliar o trabalho também é difícil “, conta a moradora do Cantinho do Céu.

Ela argumenta que faz muita coisa ao mesmo, e por conta disso vive um dia de cada vez. Nesse cenário, a jovem mãe acaba tendo inúmeras barreiras para tirar um tempo para cuidar de si própria. 

“É bem confuso isso porque a gente acaba esquecendo de nós mesmas, às vezes a gente acaba vivendo tanto nesse looping né que vira uma rotina muito cansativa aonde a gente nem se lembra da gente”, diz.

O cenário começa a se complicar para Natasha quando essa falta de tempo acaba se transformando em uma culpa e elevada auto cobrança. 

“É muita responsabilidade para a gente. A gente tem essa preocupação que poxa eu tenho que me manter focada no trabalho, tenho que dar conta das crianças, tenho que deixar a casa minimamente organizada, só que a gente não é robô, então de um tempo para cá eu comecei a fazer a o que dá”, desabafa.

Em meio a esse contexto difícil e desigual para uma mãe solo cuidar de duas filhas Natasha revela o impacto de aparelhos eletrônicos como a televisão e o celular na rotina da vida dela e das filhas.

 “Tem justamente esse momento do celular, eu tento podar isso e não deixar muito tempo porque eu sei que às vezes o que elas estão consumindo não é uma coisa educativa, não é uma coisa que vai trazer um aprendizado para ela”, afirma.

Como ela mesmo define, o momento do celular é quando ela consegue fazer outras coisas em casa, porém ela tem muitas críticas aos conteúdos acessados pelas crianças. 

“Às vezes elas gostam de ver uns vídeos de alguém abrindo uns brinquedos, e outras vezes elas pedem esse brinquedo pra mim”, relata Natasha, enfatizando que quando isso acontece ela não tem o dinheiro para comprar. “Eu fico meio monitorando o que elas estão vendo e tentando colocar horários, mas é muito difícil na realidade, eu só ligo a tv lá, coloco um desenho e elas ficam quietas assistindo.”

Durante a entrevista, a filha mais nova de um ano e nove meses diz que prefere assistir conteúdo no celular ao invés da televisão. 

“Tem a questão da TV, ela falou agora e eu lembrei que ela não gosta de assistir na televisão porque ela não escolhe o que ela vai ver, e no celular como está na mão dela, ela consegue ver tudo, ela consegue mudar, ela consegue escolher, ela fica mudando toda hora, e na tv não”, descreve Natasha sobre o comportamento da filha mais nova.

Ela conta que esse comportamento da filha já reflete o desenvolvimento de uma malícia para entender quais meios eletrônicos são mais interessantes para ter autonomia de escolha dos conteúdos. 

“A mais velha que já tem quatro aninhos e ela já consegue brincar no mundinho dela, ela já consegue ficar mais de boa sem depender tanto, mas agora a mais nova não tem jeito, ou coloca uma Galinha Pintadinha, um Joãozinho, alguma coisa pra eles assistir, ou é total atenção sabe, não que isso seja uma coisa ruim, mas a gente precisa trabalhar, a gente precisa fazer nossas coisas né, então eu acho que ia ser um pouco mais difícil , se não tivesse”, enfatiza Natasha, apontando que apensar do malefícios, os aparelhos eletrônicos e digitais cumprem um papel de aliviar a carga de trabalho das mãe solo.

Ela finaliza a entrevista afirmando que quando não está dedicada ao trabalho, todo o tempo livre é voltada para as suas filhas.

“Eu tento que desvincular isso, por exemplo, na hora de dormir acabou televisão e acabou celular, acabo tudo! Então a comecei a dar livros para elas, sem ser esse meio digital. Eu percebi que no começo elas gostavam mais, mesmo sem entender tanto, mas isso não prendia elas, o celular e a televisão infelizmente acaba sendo uma válvula de escape para mim”. 

Natasha finaliza lembrando que por muitas vezes tentou outros formatos de entretenimento para suas crianças para fugir do universo digital, porém esse ainda é o tipo de conteúdo que mais prende a atenção delas.

Culpa e paternidade

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Sei que me dei conta desse “estado de ser” chamado culpa e que daqui, sigo desorganizando para me organizar.

Favela Monte Azul, Jardim São Luís – Zona Sul – SP/16 – Foto: Dicampanafotocoletivo

Nos últimos meses tem sido difícil conseguir escrever, compartilhar das vivências por aqui. Um pouco de desejo de saber como tem ressoado em quem lê e um pouco de conseguir falar mais abertamente, sem necessariamente falar das experiências com Malik.

Vou me ater mais um pouquinho às nossas experiências, por que, enfim, consegui me dar conta do sentimento que também vem contribuindo para esse bloqueio na escrita, A CULPA. Tamdamdam (imaginem esse som clássico rs)

Quando Malik nasceu, havia um cronograma bem delineado, no qual buscava seguir, pra auxiliá-lo em seu desenvolvimento, mas também para ter algum tempo entre cuidar-se e preparar as coisas pra quando ele acordasse. Foi seguindo por um tempo, iniciou na creche, então ganhamos um respiro, mas aí se instaurou logo, poucos meses depois do início da creche, a pandemia.

Foram momentos de muitas reorganizações emocionais, afetivas e uma tentativa de entendimento de por onde e como as coisas iriam se dar… a gente deprime, cansa o corpo, as contas começam a se embolar e as agendas começam a não serem mais as mesmas.

Tem horas que o cansaço físico e mental batem de uma tal forma, que junta com a comida que ainda não está pronta, com o atraso que tu deveria ter acordado um pouco mais cedo e a ansiedade começa a bater, a criança começa a demandar e bate aquela angústia, aquela culpa, de “eu tinha que ter acordado mais cedo'”, “ontem eu deveria já ter adiantado algumas coisas”.

Pense, na real está tudo bem. Tudo bem se naquele momento quebrou o fluxo da agenda. Mas isso passa a afetar o humor, estressa e instaura um autojulgamento.

Dissabor, somos impermanentes, mas como fomos pouco instruídos, fomos educados a lidar com nossas frustrações? Como é que podemos acreditar lá no fundo de nós, que temos que ser perfeitos? Afinal, sabemos conscientemente que não rola essa tal de perfeição, ritmos e agendas impecáveis.

Mas o monstrinho tá lá cutucando, dizendo: tu podia ser melhor, fazer melhor, se adiantar, se organizar, mesmo quando a organização chega a preencher as paredes de anotações e horários idealizados.

Voltemos ao dissabor. Minha povaria, esse ser, vai se impregnando no corpo tempo, a criança começa a brincar com uma borboleta e tu não vê, diz seu nome três vezes e tu só ouve na quarta, ai tu fala: “o filho, num chora, é só chamar o pai”, mas a cria já chamou três vezes e tu só ouviu na quarta. Ai a cabeça entra em parafusos, porque tu queria que a criança não ficasse nervosa a toa, mas tu não prestou atenção e se contradisse.

Ai tu para pra conversar com as pessoas sobre isso e percebe que isso acontece, é comum, e que o dissabor virou culpa e a culpa te consumiu tempo e apreciação. E se a gente não se dá conta ela nos toma conta por dias, perdemos por esses dias o encantamento, a troca, a surpresa, só operamos no café da manhã, almoço, janta, sonecas e banhos. Robóticamente está tudo certo.

Não acho que tem uma receita, não sei se deu pra sentir a agonia que essa nóia dá!?

Sei que me dei conta desse “estado de ser” chamado culpa e que daqui, sigo desorganizando para me organizar.

Sigo conversando comigo, me acolhendo pra me reconectar em fazer coisas que me dão prazer e compartilhar isso com ele. Os preparos da comida, o banho junto, havia até me esquecido que ele não gosta de comer sozinho, que é um desafio imenso dar comida pra ele e um prazer enorme, comer junto com ele.

Tenho curiosidade de saber, tu que me lê, quais suas experiências? Comenta aqui! 

Alegrias e desafios da maternagem são temas do novo livro de Juliana da Paz

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 “Seria cômico se eu não fosse a mãe”, lançado pelo Selo Sarau do Binho, relata as experiências de gerar e cuidar de crianças, explorando a multiplicidade de emoções e descobertas da autora sobre o cuidado diário com seus filhos.

 Com uma série de crônicas sobre como é ser mãe, mulher afroindígena e de periferia, o livro “Seria cômico se eu não fosse a mãe”, de Juliana da Paz, será publicado por meio do Selo Sarau do Binho durante a programação Intercâmbios Culturais da FELIZS – Feira Literária da Zona Sul deste ano. O lançamento será no dia 27, às 19h, durante a realização virtual do Sarau do Binho.

A ideia da publicação é compartilhar as experiências de maternidade, vivências ligadas à gestação e ao parto, e também da maternagem, termo que abrange os cuidados com a criança depois do parto e que também pode envolver outras mulheres. 

O projeto gráfico, a diagramação e as colagens de “Seria cômico se eu não fosse a mãe” foram feitas pela Kacili Zuchinali e o texto foi revisado pela Sônia Bischain.

“Quem vê de fora, elogia, acha legal. Ou depois que a história passa, a gente acha graça de determinadas situações. Mas no momento que a gente vivencia é tudo dolorido e pesado”, afirma a autora Juliana da Paz, 37, mãe, pedagoga e moradora do Capão Redondo, zona sul de São Paulo.

Ela relata que a ideia de contar suas vivências neste formato de livro surgiu em 2015, quando engravidou do seu primeiro filho, Joaquim. Em 2021, nasceu Vicente, seu segundo filho, e o desejo de compartilhar suas vivências se fez ainda mais presente. 

Ser mãe na sociedade que a gente vive inclui sentir culpa por não conseguir fazer tudo. E quanto mais você estuda, mais culpa você sente por não ser uma mãe perfeita. Inclui medo de errar, de cometer enganos. É um lugar de muita tomada de decisão. E também tem uma sobrecarga emocional, psicológica e física imensa. Isso porque, geralmente, tudo que dá errado é culpa da mãe.

“A criança é um sujeito forjado na sociedade, no meio, na família” 

Além de pedagoga, Juliana é pesquisadora na área da infância e conta que a maternidade e a maternagem, surgiram também como uma possibilidade de vivenciar seus estudos a partir de outra perspectiva. “Eles [filhos] enriqueceram meu repertório muito mais do que eu consegui aplicar o que eu estudei”.

As alegrias da maternagem convivem com a sobrecarga física e emocional, além da constante preocupação de criar crianças em uma sociedade machista. A partir da perspectiva feminista, a autora também sente a responsabilidade de quebrar os padrões machistas no dia a dia da educação de seus filhos.

Na nossa conjuntura social, geralmente quem cuida é a mulher, é a mãe ou a mãe da mãe. Essas pessoas deveriam ter mais tempo ou serem remuneradas para realizar esse trabalho. Porque, no final das contas, nós estamos produzindo a mão de obra para o capital, cidadãos para a nossa sociedade. Somos nós que estamos criando e cuidando dessas pessoas. Isso é muito pouco valorizado

Juliana ainda grávida de Vicente ao lado de Joaquim, seu filho mais velho.

Intensa produção literária 

A ligação com a escrita vem de muito tempo em sua vida. Incentivada por amigos e professoras, ainda na pré-adolescência, Juliana participou da criação do jornal da escola, onde publicou sua primeira poesia. “Tinha muita vergonha de assumir que quem escreveu fui eu e criei um pseudônimo para a autoria do poema que foi Luciana Viana”, lembra a autora com carinho de sua conquista aos 13 anos.

Alagoana, Juliana esteve em São Paulo pela primeira vez entre seus 12 e 17 anos. Neste período, morava no Jardim Monte Azul, zona sul de São Paulo e teve contato com a literatura por meio da escola pública que estudava e de organizações do território, como a Associação Cultural Monte Azul e a Tropis, na qual ajudou a fundar. Foi frequentando estes espaços que a autora conheceu o Sarau do Binho.

Mesmo voltando para Maceió, a autora participou do Sarau do Binho e das atividades da Felizs quando vinha de férias a São Paulo. Há alguns anos, retornou definitivamente para a capital paulista e estreitou seus vínculos com o movimento literário, atuando na equipe de produção da Felizs durante alguns anos. “O Sarau do Binho está na minha trajetória como este espaço de estímulo à produção da literatura na periferia. E também vejo ele engajado com muitas causas sociais”, afirma.

Seja por meio da escrita artística ou da produção literária acadêmica, Juliana se manteve sempre escrevendo. Participou da organização de livros lançados pela EDUFAL – Editora da Universidade Federal de Alagoas, universidade na qual fez sua graduação em Pedagogia, além do mestrado e doutorado em Educação.

Em 2020, Juliana ajudou a fundar o blog “Elas contra Tebas”, que publicava textos produzidos por diversas mulheres, entre eles, textos inéditos de sua autoria. Durante o processo de produção de textos para o blog, as autoras compartilhavam entre si os desafios da escrita enfrentados por mulheres, principalmente em livros impressos.

Dessa troca, surgiu a ideia de criar a editora Vicença Editorial e convidaram Juliana para lançar o livro de estreia. “O principal mote da editora é lançar livros de mulheres com trajetórias parecidas com a minha, que moram na periferia, que são mães, trabalhadoras e que têm dificuldade de encaixar uma obra no mercado editorial, em editoras maiores”, conta.

A editora é formada por Arlete Mendes, Jesuana Sampaio, Carol Tomoi, Ana Karina Manson, Juliana da Paz e Celane Tomaz. A publicação “Um ano sem roupa: textos sobre como amar é difícil e bom” é o livro que abre os trabalhos da editora e nele Juliana reflete sobre as questões das mulheres, autoconhecimento e amor próprio.

“Quero explorar a minha complexidade”, diz Fábio Feijão sobre seu primeiro livro

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Lançado pelo Selo Sarau do Binho, “Âncora de Isopor” traz o múltiplo universo das emoções do autor e é um dos lançamentos publicados este ano pelo selo durante a programação Intercâmbios Culturais da Felizs, Feira Literária da Zona Sul.

“Âncora de Isopor”, livro de estreia de Fábio Feijão, reúne contos, poesias e debate sobre questões raciais, masculinidade, caos político e relações humanas. O lançamento do livro está marcado para o dia 27, às 19h, durante a realização virtual do Sarau do Binho e é um dos lançamentos publicados pelo Selo Sarau do Binho durante a programação Intercâmbios Culturais da Felizs, Feira Literária da Zona Sul, deste ano.

O livro “Âncora de Isopor” foi diagramado por Gastão Cavernoso, tem capa de Daniel Minchoni e revisão de Tatiana Minchoni.

Fábio Feijão, 39, é morador de Taboão da Serra, região metropolitana de São Paulo, poeta, fotógrafo, educador e instrutor de Hatha Yoga. O artista frequenta o movimento literário Sarau do Binho desde 2006 e reconhece neste espaço um ambiente de troca, diálogo e contato com as diversas linguagens artísticas. “O sarau para além da produção artística do território, tem uma coisa muito importante que é a questão do afeto”, compartilha Fábio.

Essa rede de amizades e apoio criada por intermédio da poesia foi essencial para que ele reunisse algumas produções antigas e também produzisse novos conteúdos para seu primeiro livro. “Eu venho pensando no livro há alguns anos e também fazem alguns anos que pessoas que fazem parte da cena, outros poetas, produtores e produtoras vem me cobrando, me incentivando”, afirma.

A obra foi escrita parcialmente durante a pandemia de covid-19 e a distância da sua rede de amigos, seguindo os protocolos de isolamento social. Fábio revela que este momento foi desafiador para sua produção literária. “Isso acabou me afetando de uma forma que eu nem sei ainda e que no futuro eu vou descobrir.” 

Desde sempre fascinado pela escrita 

Encantado pelas possibilidades de troca e relações promovidas pelo sarau, o autor se conectou com o movimento literário periférico por sentir que ele instiga ainda mais seu instinto criativo. “A minha maior alegria na escola, dentro do que o currículo escolar me oferecia, era a literatura, escrever texto, fazer redação, criar histórias”, conta ele sobre o início da sua paixão pela criação literária.

Fábio Feijão permaneceu imerso na literatura durante a adolescência devido à sua ligação com o rock, estilo musical que proporcionou o encontro com amizades e com a produção artística.

“Eu comecei a escrever ali já na adolescência, como se fossem letras de música. Então, eu imaginava um ritmo, geralmente era tudo rimado. Inclusive, mexendo nas minhas caixas recentemente, encontrei muita coisa escrita daquela época. Por isso, eu percebi que nunca deixei de escrever, mesmo que tivesse um intervalo muito grande”.

Foi nesta época também que iniciou seu contato com o audiovisual por meio dos videoclipes das bandas que gostava. Hoje, ele e seu amigo Gastão Cavernoso, jornalista e que também fez a diagramação de “Âncora de Isopor”, são responsáveis pela produtora audiovisual Pasta Base.

Com uma vontade pulsante de se expressar e de produzir arte, o autor se lançou como fotógrafo e produtor audiovisual. Ainda atuou como educador de fotografia em diversos espaços, sempre buscando desenvolver o senso estético e crítico nos jovens atendidos.

O contato com a escrita e a música proporcionou a Fábio Feijão uma rede de amigos e, por intermédio de seu irmão, conheceu o movimento literário das periferias. 

“Eu imaginava o sarau uma coisa muita antiga, de escritores antigos. Quando eu chego e me deparo com um sarau, que era o Sarau do Binho, ali no Campo Limpo, próximo da minha casa, que eu ia andando, vejo uma diversidade de pessoas incríveis. Tinha um palco onde todas as pessoas que estavam ali podiam se manifestar. E, de brinde, ainda era um bar.”

O artista conta que o ambiente que encontrou dentro do movimento literário o encantou, e que carrega consigo até hoje as relações estabelecidas nesses encontros. “Eu podia tomar cerveja e ouvir tudo o que as pessoas ali tinham pra falar. Eu tinha um fascínio pela diversidade de coisas que aconteciam ali”, e assim passou a frequentar o sarau e a tirar seus escritos da gaveta.

“Procuro decepcionar as pessoas que esperaram que eu por ser um cara preto da periferia falasse só das mazelas da vida”

Apesar dos moradores das periferias enfrentarem diversos problemas que ainda persistem devido a estruturas historicamente desiguais, Fábio considera que o movimento do hip hop dos anos 90 conseguiu denunciar o cotidiano de violência e abriu novas possibilidades para os jovens negros se manifestarem, recuperando a autoestima e criando espaço para a expressão artística. “Hoje, se a gente pode falar do que quer é porque lá atrás teve muita gente fazendo esse corre”, afirma.

“Eu estou vivo e o meu livro é a prova disso. Todas as pessoas que desacreditaram de mim e de pessoas que têm a mesma origem que eu vão ter que lidar com isso.”

Fábio também considera que a prática corporal da Yoga é um outro espaço de diálogo e comunicação com as pessoas, assim como a produção literária e a realização de oficinas de fotografia.

“A prática do Yoga olha para este corpo que produz arte, que leva a arte para os lugares e traz referências e pensamentos. Sem dúvida, está tudo interligado”, conta o autor que há mais de 10 anos pratica Hatha Yoga, uma prática corporal milenar, e hoje é instrutor da atividade.

Fábio Feijão pratica Hatha Yoga há mais de 10 anos. “A história do Hatha Yoga mostra ela que é uma prática muito mais transgressora do que muita gente pensa”, conta ele.

Publicar o próprio livro é para Fábio um dos seus maiores atos de resistência e coragem. Receber o reconhecimento de amigos, familiares, de pessoas do movimento literário e o lançamento do livro energizou o autor e o fez planejar novas possibilidades artísticas.

“Essa obra foi um disparador para eu querer colocar mais coisa no mundo. Quero trabalhar com vídeo poesia também, junto com meu camarada Gastão. A gente vem com tudo”, finaliza. 

Periferia espacial

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Já estamos em julho, metade da jornada deste ano. Eu queria falar de muita coisa, mas não está fácil organizar as ideias. Poderia ser um efeito pós covid-19, acredito que seja, mesmo não me contaminando com vírus.

Favela do Pulman – Foto: @menino_do_drone

Eu realmente acredito na ciência. É uma fé. É uma reverência semelhante à religião. Entretanto, como sempre dizemos, é diferente da religião porque, pelo o que podemos deduzir, existe fora de nós. Tem uma qualidade objetiva, o processo da ciência.

Bill Nye

A vida ficou mais confusa, na prática continuamos trabalhando, estudando, muitos se relacionando, por conta do afastamento social que diminuiu. Entretanto, depois de tantas mortes, sentimos que algo nunca mais será como antes, afinal, minha geração nunca viveu algo tão fulminante.

Acredito que nunca se falou tanto em ciência, sua eficácia, investimento, credibilidade, etc., deixa a gente confuso entre gripe, vírus, anticorpos, saúde e fake news.

Aqui na periferia, ainda existe uma outra dimensão, a ciência ancestral, o benzimento, as garrafadas, entre outras curas equivalentes, pois, vivemos holisticamente, não na tese, mas na crença.

Entre nossas diferenças, de crenças e olhares, gostaria de poder afirmar que estamos indo para um lugar melhor, que a pandemia ensinou que somos todos iguais, mas na verdade essa avalanche histórica ampliou as margens do rio que divide humanidade e humanos.

A humanidade é moderna, usa tecidos não poluentes, come alimentos sem agrotóxico, bebe água mineral e vai passear no espaço. Os humanos vivem as mudanças climáticas provocadas pelo aquecimento global, a poluição que devasta a fauna, a flora, e a exploração desmedida do trabalho.

Os humanos andam pelas ruas, a humanidade nas redes sociais em propagandas bonitas e interessantes. Vale a pena trabalhar para ser a humanidade, apesar da conta aqui em casa não cobrir esse tipo de imprevisto.

A maior potência humana é a descoberta, a ciência trabalha nessa chave, e eu como parte da espécie humana, quero também usufruir das benesses da humanidade cheia de consciência ecológica e política, mas ela ainda é pouco acessível à periferia.

Alguns projetos promovem táticas de acesso a alimentação saudável, consciência ambiental e reaproveitamento, mas a luta contra a indústria e o capital rapidamente em uma crise econômica como essa, nos coloca a mercê de suas mercadorias de preço baixo, para ter o mínimo no prato.

Os cientistas nos contam que a luz demora muito tempo para viajar pelo universo, portanto, se nós tivéssemos a capacidade de viajar anos luz pela galáxia e com um super telescópio olharmos de volta para a terra, não veríamos nós, no século 21, mas sim, dependendo do local no universo, talvez os dinossauros, as pirâmides sendo construídas, ou até o big bang. Isso quer dizer, que toda a história humana está gravada na luz atravessando o espaço, nos imortalizando como terráqueos.

Isso me remete ao que chamamos de ancestralidade, pois de alguma forma nossos antepassados vagam no espaço, com nossas dores e lutas, vendo e revendo em lupim as tragédias expostas no universo.

Nos olhos dos mais velhos, posso ver nosso passado, neles contém um universo de sentimentos e vivências, algumas se repetem comigo, algumas lutas foram herdadas, algumas conquistas realizadas, eles são nosso universo. Muitos se foram nessa pandemia, antes que suas histórias pudessem ser vistas por nós em nossa viagem pelo universo periferia.

A ciência é fundamental para mudar nossas vidas, sem dúvida, acreditar na história, na filosofia, na sociologia, na antropologia, na biologia e seus campos de estudos, trazem respostas importantes sobre nossas mazelas, pois se nós criamos as divindades, assim também somos os criadores das atrocidades.

Eu como socióloga não perdi minhas crenças nas divindades, curas ancestrais, mas aprendi que a ciência também tem seu lugar no divino quando nos retira do obscurantismo, da mentira, fake news, da morte vendida em caixas. A ciência como tudo no mundo, pode ser ponte ou abismo dependendo de quem tem a palavra.

Que nossa palavra seja nossa ciência em busca de uma mudança que proponha uma humanidade para os humanos, todos nós, mulheres, negros e negras, indígenas, pobres dessa terra.

“É importante ressaltar que emoção, a subjetividade e outras atribuições dadas ao nosso discurso não implicam na renúncia à razão, mas, ao contrário, num modo de torná-la mais concreta, mais humana e menos abstrata e ou metafísica. Trata-se, no nosso caso, de uma outra razão.”

Lélia Gonzalez, 1979

Jovens do movimento negro são candidatos ao Conselho Municipal dos Direitos da Juventude

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Entre os objetivos da candidatura está a promoção da continuidade e eficiência do ECA, visando as especificidades das crianças e dos jovens negros

Phelipe da Silva Nunes, 18 anos, e Stephanie Felicio da Silva, de 21 anos. Foto: Uneafro Brasil

Nos próximos dias 17 e 18 de julho, São Paulo realizará a votação dos representantes do Conselho Municipal dos Direitos da Juventude (CMDJ), espaço de elaboração e discussão de políticas públicas voltada às juventudes da cidade de São Paulo. Ao todo, são 21 cadeiras pleiteadas para temas, como educação, trabalho, emprego e geração de renda, esporte e lazer, entre outras. Para a cadeira de Juventude Negra, Phelipe da Silva Nunes, 18 anos, e Stephanie Felicio da Silva, de 21, se candidataram a titular e suplente, respectivamente, como representantes da Uneafro Brasil, organização que integra o Movimento Negro brasileiro.

Ao ocupar este espaço de tomada de decisão, os candidates têm como objetivo levar as demandas dos jovens negros, construindo propostas de políticas públicas a partir do olhar e da realidade dos coletivos. Todo o programa da dupla é fundamentado no trabalho de base realizado em territórios periféricos pela juventude da Uneafro, e em especial, pelos representantes inscritos.

Em prol da juventude negra

Entre as principais demandas dos candidates está o conjunto de ações para o enfrentamento ao extermínio da juventude negra e periférica, como o fim da violência policial, a discussão, divulgação e implementação da lei 10.639/03, que orienta sobre o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana, no município de São Paulo; a permanência de cotas raciais e de outras políticas afirmativas para a população negra; a manutenção e ampliação das redes de cursinhos pré-vestibulares e comunitários, principalmente nos territórios periféricos e a promoção das garantias de continuidade e eficiência do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) – que completou 31 anos nesta terça (13/07), visando as especificidades das crianças e dos jovens negros de São Paulo 

“A cadeira de Juventude Negra precisa ser do movimento negro, esse é o nosso lema. Este é um lugar de representatividade. Portanto, quem ocupá-lo precisa estar atento às demandas da sociedade. Ninguém melhor que o movimento negro organizado para isso. O que queremos é reverter o significado do termo representatividade, que hoje, nos espaços de tomada de decisão, é usado indevidamente por alguns grupos políticos em prol do apagamento das construções coletivas”

Afirma Phelipe da Silva Nunes, que desde 2019 atua na Uneafro Brasil, na região do Itaim Paulista, zona leste de São Paulo. 

Durante a pandemia, ele tem atuado na assistência dos moradores da região e entorno, mapeando necessidades da comunidade e distribuindo cestas básicas, materiais de higiene e limpeza. Também, em denúncia ao racismo ambiental e a produção de alimentos com agrotóxicos, passou a representar o projeto de Hortas Comunitárias da Uneafro Brasil, idealizado pelo Núcleo Ambiental, no extremo da zona leste.

Também com a atribuição de garantir direitos, o CMDJ é fundamental para garantir a integridade do setor público para com os jovens negros, guardiões e guardiãs de um novo futuro e que assim também façam pelas políticas públicas.

Segundo o Atlas da Juventude, nas duas últimas décadas, o Brasil foi lar de quase 50 milhões de pessoas com idade entre 15 e 29 anos (¼ da população) – faixa etária dos eleitores do CMDJ -, a maior geração de jovens que o Brasil já teve. Mas, a partir deste ano, o País verá essa população reduzir, podendo chegar ao fim do século reduzida quase à metade de sua magnitude atual. Em 2060, um em cada quatro brasileiros terão 60 anos ou mais.

Segundo os pesquisadores, é urgente a criação de oportunidades para qualificar os jovens e garantir que eles tenham pleno desenvolvimento. Vale destacar que a pesquisa aponta para as diversas desigualdades vividas pelo jovem negro no mercado de trabalho, escolaridade, entre outros obstáculos impostos para estes jovens. De cada cinco trabalhadores informais, por exemplo, 4 são negros. Ainda conforme o Atlas da Juventude, existe mais consciência política e um sentimento de forte exclusão e de preconceitos dirigidos aos jovens periféricos, pobres e negros.

“É por tudo isso e por nossos e nossas jovens da periferia de São Paulo que pleiteamos essa cadeira. Queremos ocupar este espaço para alimentar a esperança e a vida das juventudes pretas, dos coletivos, das comunidades, e principalmente, no trabalho aquilombado da Uneafro, que se propõe todos os dias a constituir base e futuro, como fizeram nossos ancestrais”

Afirma Stephanie Felicio da Silva, estudante dos cursinhos da Uneafro desde 2016 e, desde 2019, coordenadora do Núcleo Uneafro Dona Nazinha, em Sapopemba. Também é articuladora da Rede Literasampa, na Biblioteca Comunitária Ademir dos Santos, pertencente ao Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (Cedeca) Sapopemba.

Vote! 

A votação acontece neste sábado e domingo, dias 17 e 18 de julho, de forma virtual pelo site da prefeitura de São Paulo. Podem votar jovens entre 15 e 29 anos, moradores da cidade de São Paulo. 

Mãe sente dificuldade para acessar kit escolar da prefeitura de SP com aplicativos

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Entrevistamos uma mãe de três filhos, moradora da periferia de São Paulo, que está sempre correndo contra o tempo para saber como ela pode usar o novo método de distribuição de kit de material escolar e uniformes, fornecido pela prefeitura de São Paulo, por meio de dois aplicativos móveis.  

Silvana Borges e mãe de três filhas e duas delas são alunas de uma escola publica municipal na zona sul de SP.

O Desenrola acompanhou a luta de Silvana Borges, 37, moradora do Chácara Santana, bairro da zona sul de São Paulo. Ela é mãe de três filhos, sendo que dois estão frequentando a escola pública municipal, por meio da plataforma de ensino remoto, para acessar os conteúdos didáticos.

Silvana faz parte de um grupo de mães da quebrada que estão com dificuldades para comprar os materiais escolares dos filhos, por meio de dois aplicativos fornecidos pela prefeitura de São Paulo, para realizar compras de materiais e uniformes em lojas credenciadas.

“Eu fiquei sabendo através do contato da escola, que mandou mensagem no meu WhatsApp “, conta ela, lembrando a maneira como ficou sabendo do novo formato de aquisição de uniformes e materiais escolares.

Após o comunicado, a mãe conta que para entender como o aplicativo funciona foi preciso pesquisar nas redes sociais e em grupos de amigos. “A escola me passou o comunicado, informando que que estava disponível, mas as dúvidas que eu tinha eu tirei na internet mesmo, com as pessoas que teve acesso já ao material e o uniforme”, diz.

Já noticiamos aqui em outras entrevistas e reportagens que o letramento digital é um problema estruturante entre os moradores e moradoras das periferias com idade acima de 35 anos. E no caso de Silvana esse cenário não é muito diferente.

“Eu não estava entendendo muito o negócio do Mercado Pago, porque eu tive que ligar para saber os valores dos materiais e uniformes”, descreve ela, com um tom de desânimo, devido aos constrangimentos para usar o aplicativo.

Decepcionada com o atendimento da escola para tirar suas dúvidas sobre o aplicativo e as formas de pagamento, ela desabafa sobre a sua frustração. “Sabe eles não têm aquele carinho de passar a informação correta.”

A partir de 2021, pais de alunos da rede municipal de ensino de São Paulo receberão o kit de material escolar e uniformes por meio de um benefício de crédito, para fazer compras em lojas credenciadas pela prefeitura. O valor do auxílio varia conforme a etapa do ensino dos estudantes.

Os responsáveis pelos alunos com os dados cadastrais completos receberão um e-mail onde será informado o valor do benefício. Além disso, os pais, que não tiverem com os dados completos devem fazer atualização diretamente na escola ou na internet acessando esse site aqui .

Devido a experiência passada que vem tendo com a solução digital oferecida pela Prefeitura de São Paulo, Silvana acredita que a ideia é boa, porém a falta de acesso à tecnologia torna inacessível esse modelo de distribuição de um benefício importante para os pais e alunos.

“Eu acho que esse tipo de conceito de aplicativo é uma boa ideia sabe, mas nem todo mundo tem acesso à internet, nem todo mundo entende, tem pessoas que só tem celular mesmo pra fazer ligação, eu preferia do modo de antigamente, pra ser bem sincera”, enfatiza.

Apuramos que poucos pais sabem que o processo de compra do uniforme é diferente da maneira de compra do material escolar, esse último item é comprado por meio do aplicativo BluPay , já o uniforme escolar é adquirido por meio da instalação do aplicativo do Mercado Pago.

Para usar o Mercado Pago é necessário criar uma conta inserindo dados do CPF e e-mail do usuário responsável pela compra. Esse usuário precisa constar no cadastro do(a) estudante. A realização das compras só pode ser realizada após a liberação do saldo em ambos os aplicativos.

Diante das dificuldades para obter informações para uma boa experiência de usuária dos aplicativos, Silvana conta que uma das suas maiores dificuldades foi conseguir alguém que estava disposta a ajudá-la em suas dúvidas.

“Eu achei bem complicado. Eu ia buscando informação aqui e ali na internet, buscando informações no Google, para eu conseguir descobrir como que eu fazia, para poder descobrir onde que tinha os uniformes”, finaliza a mãe, relembrando a sua saga para compra de materiais e uniformes escolares para os seus dois filhos.

O Desenrola procurou a Secretaria de Educação do Município de São Paulo para entender o que a Prefeitura estava fazendo a respeito do caso dos pais e responsáveis que não estão tendo um suporte correto para usar o aplicativo para compra de materiais e uniformes escolares. Após o nosso, contato, a assessoria de comunicação informou a seguinte nota: 

A Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal da Educação (SME), esclarece que as famílias recebem os créditos para aquisição dos materiais e uniformes através dos aplicativos BluPay e MercadoPago. A SME reforça a importância da atualização cadastral para que o benefício seja concedido o quanto antes. Para isso, rotineiramente, as Diretorias Regionais de Educação são orientadas para que todas as escolas possam instruir as famílias.

A SME disponibiliza páginas exclusivas no portal com o passo a passo para a utilização dos créditos, tanto do material escolar quanto do kit uniforme. Há também vídeos explicativos e o contato via e-mail ou telefone, casos os solicitantes encontrem algum tipo de problema no momento da solicitação.

Vale reforçar que a inovação da compra via aplicativo é vantajosa pela praticidade que representa às famílias, além de permitir que a Pasta tenha controle sobre as entregas, já que as compras podem ser realizadas apenas nos fornecedores credenciados e as transações são feitas apenas pelo aplicativo. A aquisição descentralizada dá maior poder às famílias, que vão poder utilizar a verba para adquirir os itens que realmente precisam e escolher corretamente os tamanhos, no caso dos uniformes.

Sobre o caso específico relatado, a pasta foi impedida de apurar adequadamente uma vez que informações essenciais como o nome completo da responsável pelas estudantes não foram encontrados. Há homônimos no cadastro da rede. A EMEF Mauro Faccio Gonçalves Zacarias realizou três reuniões de pais por turma via Meet ao longo desse ano, onde foram repassadas as informações e esclarecidas as dúvidas. Além disso, divulgamos o tutorial na rede social (Facebook) da escola e nos grupos de Whatsapp das turmas.

Há também um informativo impresso na secretaria da escola, que é entregue às famílias que buscam o apoio para esse fim. Uma equipe gestora e todos os funcionários da secretaria estão empenhados para atender toda a comunidade. Com relação ao atendimento dessa família em especial, fomos informados que o problema de falta de acesso aos aplicativos do material e do uniforme já foram resolvidos.

Centro de Estudos Periféricos publica medidas de combate ao coronavírus nas periferias

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Motivados pelo objetivo de produzir conhecimento para garantir o bem estar da população que reside nas periferias e favelas, o Centro de Estudos Periféricos, iniciativa composta por um grupo de pesquisadores que atuam junto ao campus da Unifesp na Zona leste de São Paulo, preparou uma série de medias que podem orientar representantes do poder público a amenizar os impactos da pandemia nos bolsões populacionais das grandes cidades. 

Brasilândia, zona norte, São Paulo, 2017. (Foto: DiCampana Foto Coletivo)

Atento aos impactos da desigualdade social que afeta historicamente a vida de quem mora nas periferias, o Centro de Estudos Periféricos (CEP) publicou nesta segunda-feira (30) um documento no qual um grupo de pesquisadores acadêmicos que produzem conhecimento a partir dos territórios periféricos, orienta representantes do poder público, através de uma lista de medidas urgentes para serem adotadas e implantadas para contenção da pandemia de coronavírus nos territórios.

Segundo Tiaraju Pablo D’Andrea, professor da Unifesp e coordenador do (CEP), o centro de estudos está disposto a atuar em parceria com representantes do poder público para superar os efeitos da pandemia nos territórios. “Em momentos como esse, todas as organizações da sociedade civil devem estar dispostas a contribuir para formulação e implantação prática de soluções”, afirma o pesquisador.

Ela ressalta que não há uma confiança nos representantes do poder público municipal, estadual e federal, no entanto, como uma organização da sociedade civil, é um dever do centro de estudos contribuir com soluções para combate ao coronavírus nas periferias e favelas. “Estamos dispostos momentaneamente a se aliar com governantes e representantes do poder público para contribuir com soluções que evitem a propagação da pandemia nos territórios.”

Enquanto os equipamentos públicos de saúde localizados nos territórios periféricos da cidade de São Paulo demonstram incapacidade técnica e estrutural para atender a população, como falta de equipamentos de proteção para médicos e enfermeiros, número insuficiente de leitos hospitalares equipados com UTIs e ventiladores pulmonares para respiração, o avanço do número de casos de covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, não para de crescer.

Junto a esse cenário, uma sensação de não saber ao certo o real impacto da pandemia, toma conta das pessoas pelo fato de não haver uma quantidade de testes suficientes para diagnosticar o número real de infectados pelo vírus.

Consciente da importância do Estado para criação de políticas públicas emergenciais para combater a precarização dos direitos sociais, como equipamento públicos de saúde e a geração de renda e emprego, o pesquisador alerta: “se a gente somar as condições sanitárias, ambientais e econômicas da população moradora de periferias e favelas, a gente pode prever um cenário bastante catastrófico nas próximas semanas”, avalia ele.

Para reduzir ao máximo o número de mortes causadas pelo coronavírus nas periferias, Tiaraju enfatiza que nesse momento, o Estado precisa garantir que o morador da periferia não saia de casa para trabalhar, dando a ele uma renda suficiente o bastante para manter sua família. “A gente precisa de um estado que solicite à população que faça quarentena. Mas esse mesmo estado deveria ajudar as pessoas mais pobres com ajudas estatais. Isso veio de uma forma muito tímida e abaixo do valor que as pessoas precisam,” comenta ele, fazendo uma referência ao valor de R$ 600 aprovado pela renda básica emergencial, que ainda depende da assinatura do presidente Jair Bolsonaro.

O pesquisador encerra a entrevista lembrando a importância dos moradores das periferias se organizarem em redes de apoio comunitário para impedir o avanço da pandemia. “Solicitamos as populações das periferias que tomem essa atitude e que se unam em redes de solidariedade com ou sem o apoio dos governantes, para diminuir o impacto da pandemia de coronavírus nos territórios.”

Confira a lista completa de medias para conter a pandemia.

• Montagem urgente de hospitais de campanha nas escolas e terrenos ociosos das quebradas;

• Distribuição de água com a disponibilização de caminhões pipas para regiões que não tem saneamento básico;

• Distribuição gratuita de kits de higiene, limpeza e prevenção (álcool gel, álcool líquido, sabonetes, toalhas, escovas de dente, pastas de dente, máscaras);

• Suspensão da cobrança de contas de água e luz;

• Suspensão da cobrança de parcelas e juros de financiamentos em geral, incluindo as famílias com dívidas com a Caixa;

• Suspensão da cobrança aluguéis residenciais e comerciais;

• Congelamento do preço do botijão de gás e dos alimentos da cesta básica;

• Compra de itens de primeira necessidade dos comércios de bairro, por parte do poder público, para distribuição gratuita nas quebradas;

• Rápida liberação dos recursos da renda mínima para trabalhadores/as informais e desempregados;

•Manutenção da distribuição de merendas nas escolas nas regiões mais pobres;

• Campanha de conscientização mais amplas, com carros de som, músicas e vídeos que dialoguem com as quebradas;

• Não à policialização da situação, evitando o aumento do encarceramento;

• Não ao isolamento vertical. Nas periferias, diversas gerações da mesma família dividem a mesma casa ou o mesmo quintal com frequência. Quem tiver a obrigação de sair pra trabalhar, vai certamente trazer o vírus para casa;

• Reforço às medidas de proteção para quem trabalha em setores essenciais, como transportes, supermercados, feiras livres, farmácias, fábricas, abastecimento, entre outros;

• Transferência de pessoas que fazem parte dos grupos mais vulneráveis para quartos adequados de hotéis disponibilizados pelo poder público.

• Descentralização dos kits de teste do centro para os bairros de periferia em UPAs e UBS, com orientação e insumos para o gerenciamento de casos menos graves. Essa medida evitaria também deslocamentos desnecessários;

• Ampliação da rede de wi-fi grátis nas periferias;

• Estabelecimento de fluxo para o abrigo de mulheres em situação de risco de morte com a desburocratização imediata do acesso às Casas-Abrigo para as mulheres, dispondo de um número público que disponha de vagas para o abrigo emergencial em caso de violência, além do acolhimento das demais demandas divulgadas em Nota pela Rede de Prevenção e Enfrentamento à Violência Contra as Mulheres da Zona Leste (leia aqui);

• Não fechamento do atendimento no hospital de referência em aborto legal, tendo em vista que são procedimentos que não podem esperar e que devem sofrer um aumento de demanda durante o período de confinamento, junto com a violência doméstica;

• Não à diminuição da quantidade de trens e metrôs, evitando assim aglomeração no transporte de trabalhadores de serviços essenciais;

Como medidas para conter a crise, o Centro de Estudos Periféricos recomenda também:

• Taxação das grandes fortunas e vinculação desses recursos ao SUS;

• Suspensão imediata do pagamento dos juros da dívida pública;

• Fim do teto de gastos para saúde e educação.

Empreendedor usa dialeto da quebrada para atender clientes na Shopee

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Empreendedor aposta em um formato de atendimento digital descontraído para cativar e atender clientes que moram ou não nas periferias.

Empreendedor aposta em formato de atendimento digital descontraído para atender clientes da quebrada. (Foto: Gustavo Damasceno)

Criar uma loja virtual para algumas pessoas pode representar um procedimento padrão que faz parte das estratégias das vendas online, mas para empreendedores como Gustavo Damasceno,19, morador do Jardim Guarujá, bairro da zona sul de São Paulo, utilizar a cultura da quebrada é algo essencial para atender seus clientes, bem como para criar a marca Vestiário da Quebrada.

Ele acredita na criação de uma comunicação estratégica sobre sua identidade e cultura, que busca transferir um valor através de um propósito presente na vida dos moradores das periferias e favelas.

“Antes do empreendedorismo eu comecei jogando bola, tentando ser jogador, aí veio na minha mente o significado do vestiário né, pois quando os moleques pensam em vestiário eles imaginam o ato de entrar, trocar de roupa e sair pronto para o jogo, entendeu? Aí eu falei: ‘essa vai ser minha fita, essa vai ser minha visão, os moleques e as meninas vão entrar e sair do vestiário prontos para o jogo, vai sair com sua camiseta de time, vai sair com sua lupa, vai fazer aumentar autoestima”, vislumbrou Gustavo, relembrando a inspiração que vem direto do seu cotidiano como morador de quebrada para criar a sua marca de roupas e acessórios.

O empreendedor migrou sua loja do Mercado Livre paro a Shopee,  plataforma de comércio eletrônico, por apostar nas taxas de descontos que são maiores para o consumidor final e no potencial de venda do novo marketplace que vem chamando a atenção de consumidores e empreendedores das periferias.

“No começo desse ano eu usava o Mercado Livre e trabalha só com lupa, como eu disse é enxuto, eu sabia que lupa era uma coisa que tinha mais procura, fiz pesquisa de mercado antes claro, e soube que esse era o melhor produto pra eu vender, então comecei a trabalhar só com óculos, criei um Instagram chamado Lab Lupas, que é o nome que do perfil até hoje, só que eu vi essa oportunidade da Shopee que tem taxas baixas, onde eu poderia estar vendendo mais e atraindo mais o meu público, então eu migrei pra ela”, relata Damasceno.

Gustavo se prepara para postar mais um produto vendido em sua loja virtual para um cliente da quebrada. (Foto: Gustavo Damasceno)

“Depois que a Shopee começou a passar na TV está vindo mais pessoas das periferias. Eu já estou vendo o pessoal me chamar por gíria, assim como no Instagram, agora estou sentindo que a periferia está mais presente”

Gustavo Damasceno

Após migrar para o marketplace, o criador da Vestiário de Quebrada conta que passou a identificar um potencial de público formado por moradores da quebrada. “A diferença que eu percebo na Shopee é que ela agrega mais o público da periferia, uma coisa que atrai muito são os preços baixos no início desta plataforma entendeu, e assim, quem vem de onde a gente vem não costuma comprar roupa original, costuma comprar réplica certo, comprar no Brás, final de ano é Brás, naquele pique”, afirma o empreendedor, resgatando uma cultura periférica do morador consumir roupas com cara de original, mas que na verdade são réplicas de marcas bem conhecidas.

Ele também conta que já percebeu mudanças significativa em suas vendas dentro da plataforma e principalmente no comportamento do público. “Depois que a Shopee começou a passar na TV está vindo mais pessoas das periferias. Eu já estou vendo o pessoal me chamar por gíria, assim como no Instagram, agora estou sentindo que a periferia está mais presente”, conta Gustavo.

O empreendedor faz questão de enfatizar que não atende somente o morador da quebrada e que adapta o seu estilo de venda a qualquer perfil de cliente. “Independentemente de ser voltado pra quebrada, eu trago adaptabilidade no sentido que por mais que a cultura seja daqui eu também acabo atraindo pessoas que tem um pouco mais de dinheiro, que vem comprar na minha loja e mandam mensagens em uma linguagem diferente, na qual eu como vendedor me adapto ao vocabulário deles”, explica.

Perguntamos para Gustavo se ele sentiu que seus produtos tiveram algum tratamento desigual devido ao fato dele alcançar diferentes perfis de públicos dentro das plataformas digitais, e a resposta do empreendedor foi inspiradora. “Essa parada de discriminação eu não senti, eu não recebi nenhuma mensagem, pelo fato de eu ir diretamente no meu público-alvo né, que é o pessoal daqui”, revela, ressaltando novamente sua estratégia de trabalhar em comunidade para fortalecer sua rede de consumidores.

Do ponto de vista de Gustavo, a internet foi uma ferramenta transgressora que contribuiu para o desenvolvimento de suas habilidades alinhadas com sua identidade como morador da quebrada. “Para negócios online, a internet nos dá a possibilidade de criar e ser quem a gente é, tá ligado”, opina. Ele complementa sua linha de raciocínio enfatizando que sua história pode inspirar o surgimento de outras marcas e empreendedores.

“Eles querem que a gente não tenha conhecimento, querem que a gente não estude, então a gente tem que estudar tio, a gente tem que usar a internet como meio de conhecimento, e através desse conhecimento agregar para a sociedade, independentemente de como for, precisamos nos tornar uma pessoa melhor”, conclui o empreendedor da quebrada.