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A educação e suas mirações

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Estamos em outubro, tudo nesse mês me leva a pensar em educação. Mesmo quando penso em crianças, penso que passamos o maior período da infância na escola, como esse momento é divisor de águas na nossa trajetória de aprendizado e conhecimento do mundo.

Aniversário de 27 anos do ECA no CEU Guarapiranga. (Foto: Júlia Cruz)

Na escola, eu me tornei a Bela, mesmo não tendo um nome duplo, a pronúncia, mesmo na escola, supera qualquer regra de escrita. Bela não é um apelido fácil de se carregar na infância pelo peso semântico e histórico que essa palavra tem, pois, ou você é Bela, ou você é piada.

Em uma escola completamente misógina, existe um comportamento esperado das meninas, essas experiências se tornam um grande complexo, pois, na escola também aprendemos sobre os padrões de beleza e suas cargas. Quando a escola não trata do convívio, de suas identidades e relações, essas questões sociais parecem questões pessoais, que não tem relação com política, cultura, geografia e história.

Sentimos um desligamento constante entre o conhecimento transmitido e nossa vida cotidiana, repleta de desafios e contradições presentes na formação de um ser humano.

Contudo, é importante considerar, que entre esse desligamento, entre o conhecimento e a prática, sempre havia aquele professor que fazia uma ponte entre a realidade e o conceito, ali atento, entregava um livro, fazia uma fala ou simplesmente apoiava uma iniciativa. Esses professores foram minha inspiração.

Eu, como menina periférica, estive amplamente tutelada pelo Estado, estive em creches e outros espaços de formação, como Centro de Juventude, onde experimentei um tipo de educação mais livre e artística. Este, também me trouxe um outro modelo de educação, que primeiro avaliei como se não fosse, pois era completamente diferente da escola. Porém, é fato que o misto entre educação formal e informal fizeram de mim, a educadora que me tornei.

Entre a escola e o Centro de Juventude, conheci o professor Ralf Rickli, que desenvolveu em seus estudos a Filosofia e Pedagogia do Convívio, uma quilha, que era nomeada como Trópis, (palavra grega que designa Quilha – coluna vertebral em torno, do qual, um barco é construído e que, configurava em seu trabalho a base, fundamento, e sentido para onde cada coisa vai).

Ralf Rickli construiu em nosso bairro um Rizoma, para jovens que moravam no Jardim Monte Azul, e bairros vizinhos, para que desenvolvêssemos nossas potencialidades. Criar uma pedagogia não fazia parte do nosso mundo, imagina viver uma pedagogia criada pelo seu professor, isso foi transformador.

Nossa formação se dava no cotidiano, na mesa do café, descobrindo que o sal já foi moeda de troca, ouvindo discos de Chico Buarque e descobrindo sobre a ditadura militar, em rodas de conversa e troca chamadas de O.C.A – Oficina de Conhecimento e Arte. Foi o melhor momento educacional e criativo da minha vida.

Conhecer um professor que sonha com o reencantamento do mundo e imprime no mundo essa prática fez de mim uma mulher que acredita na transformação pela educação.

Em 1995, eu já era educadora pela Educação Convivial, através desta, estabeleci um método que, mais tarde, se fundiu com a Educação Popular, filosofia organizada por Paulo Freire, que valoriza os saberes prévios que trazemos, nossas realidades culturais, estabelecendo assim um olhar crítico que facilita o desenvolvimento educativo e humano.

Com Ralf Rickli e Paulo Freire, aprendi sobre responsabilidade política do educador, e sobre horizontalidade com o educando, para que fosse possível a construção do conhecimento.

Muita gente chama o que Paulo Freire escreveu de método, entretanto, eu nomeio como Filosofia Pedagógica, assim como a educação pelo convívio do Professor Ralf Rickli.

O que é proposto por esses professores é o reconhecimento do ser, a partir do que ele já é, não do que pode se tornar ao conhecer. Nesse sentido, conhecimento deve fazer ponte com sua história, com o meio em que pertence, com seu gênero, raça e classe.

Isso só se consegue com escuta, análise e respeito, esta é práxis, (reflexão e ação, atividade prática em relação a teoria), utilizada constantemente por Paulo Freire em Pedagogia do Oprimido, práxis libertadora, práxis autêntica, práxis revolucionária e a práxis verdadeira.

Allan da Rosa, escritor, poeta, historiador e Doutor em educação pela USP, retoma para mim esses conceitos em seu livro, Pedagoginga, Autonomia e Mocambagem, de 2013, quando traz nessa obra o movimento de educação popular periférico que reivindica a cultura de matriz africana nos processos educativos e concilia teoria e ação a partir das experiências vividas na quebrada.

Acredito que todo conhecimento deve ser criticado, como feminista não esqueço dos traços sexistas das obras de Freire. Bell Hooks, professora estadunidense, em seu livro Ensinando a Transgredir, dedica um capítulo a obra de Paulo Freire, sua práxis, e critica seu sexismo.

Hooks contribuiu para a retirada da linguagem sexista de suas ultimas obras sem auterar sua importância, porém, incluindo a demanda feminista dos anos 90, em um livro escrito nos anos 70. O tempo e a cultura mudam nossas práticas e o conhecimento revela novos paradigmas, precisamos estar atentos, todo tempo contém uma história.

A práxis revolucionária somente pode opor-se à práxis das elites dominadoras. E é natural que assim seja, pois são fazeres antagônicos. 

Freire, 2013,p.169

Segundo Freire, não há ninguém mais qualificado para qualificar a opressão, do que nós, os oprimidos, quem mais pode encontrar estratégias de libertação. Seria infantil de nossa parte achar que quem lucra com os nossos devaneios de consumo, com nossa falta de direitos, pode trazer uma resposta. Sendo assim, a autêntica libertação não é uma coisa que se deposita nas pessoas, mas uma ação e reflexão sobre o mundo para transformar sua realidade.

(…)Depois de um tempo indeciso, escolhi começar a obra pela parte “teorica”, a que reflete sobre elementos fundamentais de nossa cultura, de nosso convívio e criação, mas poderia muito bem ter iniciado o trabalho pela segunda parte, a da prática matutada. 

(Rosa, Alan,2013 p.15)

Educar para a prática da liberdade exige matar o colonizador que existe dentro de mim, exige estudos contínuos, convívio, envolvimento, organização e desapego da armadilha de ensinar algo, e trazer com sigo ferramentas – conceitos, textos, práticas, capazes de promover a reflexão e a catarse diante da vida vivida. Estranhar a vida, estranhar o cotidiano, a forma em que as coisas estão, essa é a educação que eu acredito e pratico.

Eu quero comemorar a existência da práxis revolucionária educacional que resiste, eu saúdo Paulo Freire, Ralf Rickli e Allan da Rosa que escrevem horizontes possíveis. 

(…)Imagine o quanto seria mais fácil para nós aprendermos como amar, se começássemos com uma definição compartilhada.

Bell Hooks, 2021

Jovem combate fake news e impede familiares de desistir da vacina contra covid-19 no Jardim Ângela

 Além de enfrentar a desinformação e conscientizar familiares que já estavam desistindo de se vacinar contra a covid-19, jovem lida no cotidiano com a falta de acesso à internet de qualidade dentro de casa.

Herbet Lucas, estudante do cursinho Rede Ubuntu. (Foto: Flávia Santos)

A Unidade Básica de Saúde (UBS) da Cidade Ipava está localizada no distrito do Jardim Ângela, zona sul de São Paulo, onde 60% dos mais de 300 mil moradores locais se autodeclaram preta ou parda, representando a maior população de afrodescendentes da cidade de São Paulo. De acordo com o Censo de 2010, a UBS atende uma extensão territorial de 10,8 quilômetros quadrados, onde residem mais de 20 mil pessoas, distribuídas em 5.900 moradias.

É neste bairro e equipamento público de saúde que toda família de Herbet Lucas,19, jovem negro e estudante da Rede de Cursinhos Populares Ubuntu, se vacinou contra a covid-19 no segundo semestre de 2021.

Segundo levantamento de dados produzido pelo Desenrola que conversou com 44 jovens moradores das periferias do Jardim Ângela, com idade entre 16 e 29 anos, no início de setembro, 64% dos entrevistados responderam que receberam fake news, via meios digitais ou boca a boca, sobre os efeitos das vacinas aplicadas na população brasileiro para combater a pandemia de covid-19.

“Minha família foi afetada de tal modo que cogitaram até não se vacinar” 

Herbet Lucas,19, é morador da Cidade Ipava, bairro localizado as margens da represa Guarapiranga, zona sul de São Paulo.

 O jovem Herbert foi um dos entrevistados pelo estudo. Ele conta que antes de  sua mãe e seu padrasto aceitarem receber o imunizante contra a covid-19, uma batalha contra a desinformação foi travada por ele dentro de casa. “Geralmente a minha família recebe fake news em grupos de WhatsApp e até mesmo de amigos”, relata.

Após relatar como as informações falsas chegam até seus familiares, o jovem revela o impacto do consumo de fake news provocou uma hesitação em se vacinar contra a covid-19. “Minha família foi afetada de tal modo que cogitaram até não se vacinar pois alegavam ter um “chip” na vacina”, conta o estudante.

Ele considera que o fato causador da descrença na vacina tem relação direta com a ‘infodemia’. “A pandemia da desinformação afeta tanto na conscientização da população acerca da covid-19, e até mesmo na formação de opinião, seja ela política, ou de assuntos sociais”, argumenta.

Apesar das informações falsas serem passadas de boca em boca ou de grupo em grupo no WhatsApp, Hebert está atento ao formato destas notícias, por isso, ele segue pesquisando e buscando entender cada assunto através de fontes confiáveis, principalmente se for pela internet. A atitude do jovem de ajudar desmentir e explicar a inexistência do tal ‘chip’ dentro da vacina pode ter contribuído para salvar a vida dos familiares.

 Coalizão contra desinformação

Atenta a importância de construir programas de educação e companhas informativas sobre o impacto da desinformação na vida da população preta, pobre e periférica, a Coaliza Pela Vida lançou em setembro um conjunto de 10 medidas para combater o avanço e o surgimento de novas variantes da covid-19 na cidade de São Paulo.

Uma das medidas previstas no pacote de ações emergências é o combate a desinformação e proliferação de fake news. O coordenador da Coalizão Pela Vida, Beto Gonçalves destaca que as redes sociais poderiam ajudar nesse processo de combate às fake news, mas tem mais atrapalhado.

“Para combater fake news a gente tem que apostar na prevenção, passar informação confiável, utilizar pessoas de grande credibilidade pra passar boas informações e fazer um debate com o Facebook, Google e o Twitter, né? Isso faz a gente questionar o próprio modelo de negócio das redes sociais que acaba abrindo campo para a desinformação”, avalia o coordenador da Coalizão Pela Vida, que também é jornalista e um dos idealizadores da iniciativa.

Outra questão ponto crítico que potencializa o aumento da desinformação no ponto de vista de Gonçalves é a limitação no acesso à internet que muitos moradores das periferias convivem no cotidiano.

“Grande parte da população não tem crédito no telefone. Sem internet, elas não têm capacidade pra conseguir consumir tanta informação” 

Beto Gonçalves é jornalista e coordenador da Coalização Pela Vida.

A pesquisa TIC Domicílios 2019, publicada em 2020 pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) retrata bem o ponto de vista do coordenador da Coalização Pela Vida.

“Grande parte da população não tem crédito no telefone. Sem internet, elas não têm capacidade pra conseguir consumir tanta informação assim e nós sabemos que grande parte das pessoas vão preferir não ter um computador em casa, ela tem no máximo um celular como o pré-pago”, explica.

Na Região Metropolitana de São Paulo, 61% dos usuários de internet que residentes em áreas de baixa vulnerabilidade social acessam a rede por meio de celulares e computadores. O cenário muda completamente nas regiões com alta taxa de vulnerabilidade social, onde 70% dos entrevistados usam somente o celular para se conectar a internet.

Para Gonçalves, o legado do acesso a internet precarizado possibilidade que o morador tenha dificuldade de consumir informação de qualidade, o aproximando ainda mais das fake news.

“Ou ela fica presa as redes sociais e não consegue navegar, o que não dá liberdade pra ela, o que limita o conhecimento, né? E nós sabemos também que uma coisa é o celular para quem tem acesso a livros, jornais e computador. Outra coisa é só ter acesso ao celular e ainda mais como pré-pago, isso limita demais”, argumenta.

Desigualdades raciais e digitais

Infelizmente, as desigualdades digitais fazem parte da vida do jovem morador da Cidade Ipava. Hebert lembra que além da sua família ser bombardeada por notícias falsas que reduziram o interesse em tomar a vacina contra a covid-19, o acesso à internet precário é outro fato que dificulta estar conectado à rede e pesquisar informações confiáveis para confrontar as notícias dos grupos de WhatsApp da família.

“Eu tenho internet em casa, mas é de baixa qualidade, também não possuo plano de internet móvel”, afirma. Segundo os Mapa das Desigualdades 2021, divulgado nesta quinta-feira (21) pela Rede Nossa São Paulo, os moradores do Jardim Ângela convivem diariamente com dificuldade de acesso à internet móvel de qualidade.

O estudo mostra que no distrito há 1,4 antenas de telefonia móvel para cada 10 mil habitantes, enquanto no Itaim Bibi, região nobre da cidade, existem 49,8 antes de telefonia móvel para o mesmo montante de moradores.

O valor recomendado pela Associação Brasileira de Infraestrutura para Telecomunicações (ABRINTEL) é de uma antena de telefonia móvel para acesso à internet para cada 2.200 usuários. Esse estudo revela que o Jardim Ângela está 450% abaixo da média sugerida pela entidade setorial.

 “Sempre usamos a UBS quando precisamos, porque não temos convênio”

Herbet Lucas e os membros da sua família usam constantemente a UBS Cidade Ipava.

No distrito com a maior parcela de população afrodescendente, a desigualdade digital caminha lado a lado com a ausência de políticas públicas que ameaçam o direito à vida dos moradores. A expectativa de vida do morador do Jardim Ângela é de 61,2 anos, enquanto no Alto de Pinheiros, região nobre da cidade é 80,9, uma diferença de quase 20 anos.

Em 2020, as mortes por consequência da covid-19 representaram 19,6% do total de óbitos ocorridos no distrito, um dos maiores indicadores da cidade. Além disso, para um morador do Jardim Ângela tentar acesso ao serviço público de saúde mental, ele vai aguardar em média 44 dias até sair uma consulta com um especialista.

Enquanto a desigualdades não param de crescer no distrito de afrodescentes mais populoso de São Paulo, a importância do sistema único de saúde SUS aumenta. “Sempre usamos a UBS quando precisamos, porque não temos convênio”, finaliza o jovem. 

*Esta reportagem foi produzida com o apoio do Fundo de Resposta Rápida para a América Latina e o Caribe organizado pela Internews, Chicas Poderosas, Consejo de Redacción e Fundamedios. O conteúdo dos artigos aqui publicados é de responsabilidade exclusiva dos autores e não reflete necessariamente a opinião das organizações. 

“Pra cá não tem nem calçada mano”: jovem compartilha os traumas da acessibilidade na quebrada

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 O jovem Marcos Vinícius trabalha próximo ao Metrô São Bento, no centro de São Paulo, como atendente de telemarketing. Todos os dias ele faz um trajeto de transporte público que percorre em média 60 quilômetros para ir e voltar do trabalho.

 O jovem Marcos Vinicius, 23, morador da Cidade Ipava, zona sul de São Paulo é um amante do Skate, esporte que transforma a experiência dele com acessibilidade de uma forma divertida de transitar pelas ruas e calçadas da quebrada e de outras regiões da cidade.

Desde que nasceu, ele é portador de Artrogripose, termo utilizado para se referir a má formação de articulações e membros inferiores e superiores de crianças recém-nascidas, que terão ao longo da vida uma dificuldade para se locomover.

Por conta dessa deficiência, o jovem skatista chegou a fazer tratamento na AACD e de vez em quando vai até lá para fazer exames ou passar na oficina ortopédica para realizar o conserto de seus equipamentos que ajudam na sua locomoção pela cidade.

O jovem trabalha próximo ao Metrô São Bento, centro de São Paulo, como atendente de telemarketing. Todos os dias ele faz um trajeto de transporte público que percorre em média 60 quilômetros para ir e voltar da sua casa até o local de trabalho, ficando cerca de três a quatro horas dentro do ônibus. (confirmar)

Neste cenário, Marcos relata que sua maior dificuldade se dá pelo fato de depender muito da acessibilidade para chegar até o trabalho. Sempre que está se preparando para entrar dentro do ônibus, ele percebe como os aparelhos de acessibilidade instalados nos coletivos e micro-ônibus não funcionam e acabam o deixando na mão.

“Tem uma história engraçada, uma vez eu estava voltando pra goma, era tarde já, acho que umas 23h30 da noite, última perua e eu estava querendo muito ir pra casa, não quis esperar outro. Aí o motorista teve que descer, ligou lá o bagui (elevador) e o bagui travou e todo mundo teve que descer do ônibus”, relembra Marcos.

Uma das das paixões de Marcos é o skate. (Foto: Flávia Santos)

 Marcos sempre foi um jovem desenrolado, que embora tivesse dificuldades de locomoção, sempre procurou estar envolvidos em projetos socioculturais. Ele já trabalhou com grafite, designer, gestão de redes e hoje é sócio de um amigo num empreendimento voltado para o mundo do skate, com o nome de “Sant Skate Shop”.

“Muita gente me conhece e me destaca por querer tentar fazer as coisas, mas tipo assim, isso não é uma peculiaridade minha, é uma peculiaridade das pessoas da quebrada!”, destaca ele, apontando que o fato de ter nascido numa família que sempre esteve envolvida com projetos sociais o ajudou a passar por todos os processos de inclusão social e construção de sua identidade.

Embora a superação faça parte da trajetória de vida do Marcos, o jovem conta que nem tudo é superável, como por exemplo, as barreiras cotidianas de acessibilidade que ele enfrenta no transporte público e nas ruas da cidade.


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“Na periferia a locomoção é muito difícil”, diz morador do Jardim Ângela – Desenrola E Não Me Enrola

Na segunda entrevista da série Barreiras da Acessibilidade, o morador Nelson Souza conta como um acidente que retirou 90% do seu braço contribuiu para ele sentir na pele o descaso de governantes com pessoas com deficiência, além de vivenciar situações de preconceito no ambiente de trabalho.
Foto: Flávia Santos

Segundo ele, não é apenas o transporte público que precisa de melhorias, pois as ruas e calçadas da quebrada também precisam ser bem estruturadas, assim como os terminais de ônibus, com uma melhor distribuição de rampas e elevadores nos acessos elevados.

“Passou do Capão pra lá é tudo mil maravilhas, agora pra cá não tem nem calçada, mano! A gente disputa espaço com os carros. Do caminho que você fez da sua casa até aqui, provavelmente não veio numa calçada”, reclama.

Ao compartilhar essas experiências do cotidiano de quem depende do transporte público e da acessibilidade para circular a cidade, Marcos enfatiza que esse debate precisa ser ampliado e focado na qualidade de vida dos moradores de quebrada.

“Acessibilidade na real é você conseguir tramitar na sociedade civil inteira, sem que você tenha nenhuma limitação, tá ligado? É o mínimo que uma pessoa com deficiência precisa ter para viver”, finaliza Marcos. 

“Na periferia a locomoção é muito difícil”, diz morador do Jardim Ângela

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Na segunda entrevista da série Barreiras da Acessibilidade, o morador Nelson Souza conta como um acidente que retirou 90% do seu braço contribuiu para ele sentir na pele o descaso de governantes com pessoas com deficiência, além de vivenciar situações de preconceito no ambiente de trabalho. 

Após sofrer um acidente de carro há oito anos, Nelson de Jesus Souza, 45, morador da Cidade Ipava, zona sul de São Paulo, precisou amputar o braço esquerdo. Após esse acontecimento, ele viu sua vida mudar de forma drástica, principalmente no ambiente profissional.

“Eu trabalhava na portaria e fiquei 11 meses afastado por conta da minha deficiência, e quando eu voltei eles me mudaram para um setor que eu sentia muito preconceito”, conta o morador.

Para Nelson, a mudança de posto de trabalho também era uma forma de esconder a sua deficiência dos moradores do condomínio onde ele atuava na portaria. “Não podia me deixar na portaria porque alguma criança poderia ver minha situação e ficar com medo, e eu vi isso como preconceito”, relata.

Ao recordar os acontecimentos desta época, Nelson lembra que essas situações significam atitudes de preconceito devido a sua deficiência física. Segundo o morador, até o seu ex-chefe já entregou para ele recortes de jornais com vagas de emprego, o induzindo a procurar outro lugar para trabalhar. 

São 34 quilômetros percorridos de transporte público diariamente para Nelson ir e voltar do trabalho. (Foto: Flavia Santos)

Hoje, Nelson trabalha oito horas por dia, numa empresa que possui outros funcionários deficientes físicos. Com essa convivência, ele consegue se sentir melhor no ambiente de trabalho, não só por se identificar com os colegas, mas também por ter acessibilidade para funcionários portadores de deficiência.

Ele faz questão de mostrar para as pessoas a sua volta que a sua deficiência não o impede de fazer atividades domésticas ou profissionais. Além de fazer comida e pentear o cabelo da filha mais nova, o morador também auxilia na construção de sua casa.

Atualmente, para chegar ao trabalho, o porteiro que é pai de três filhas, enfrenta todos os dias o trajeto de transporte público, que parte da Cidade Ipava e vai até o bairro da Chácara Santo Antônio, zona sul da cidade. 

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Quais são as barreiras impostas pelo transporte público no cotidiano de uma estudante da quebrada para se deslocar até a escola? Conheça essa história na primeira entrevista da série Barreiras da Acessibilidade do Desenrola.  


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Trajeto de ônibus

Após um acidente de carro, Nelson teve 90% do braço amputado. (Foto: Flavia Santos)

São 34 quilômetros percorridos de transporte públicos diariamente. Durante esse percurso, Nelson conta que enfrenta muitas barreiras de acessibilidade e destaca que muitas dessas dificuldades estão no transporte público e na forma como as pessoas tratam pessoas deficientes.

“Por exemplo: a pessoa chega pra falar que está cansada porque está vindo do trabalho, só que eu também estou vindo do trabalho, e além de estar cansado mentalmente pelo estresse do trabalho, ainda tem sua deficiência, que te deixa com a mobilidade reduzida”, explica Nelson.

O morador afirma ter percebido que no bairro onde mora e nas regiões por onde passa para ir e voltar do trabalho, as pessoas com deficiência física ou cognitiva enfrentam todos os dias uma série de barreiras que impedem uma boa locomoção.

“Eu vejo que na periferia a locomoção para essas pessoas é muito difícil, quem tem deficiência passa por muitos desafios. É preciso ter dignidade, porque os governantes nos deixam muito esquecidos”, desabafa.

“Tenho dificuldade para me virar no ônibus cheio”, diz estudante com paralisia cerebral da Cidade Ipava

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Quais são as barreiras impostas pelo transporte público no cotidiano de uma estudante da quebrada para se deslocar até a escola? Conheça essa história na primeira entrevista da série Barreiras da Acessibilidade do Desenrola.  

Na pesquisa Viver Em São Paulo com o tema ‘Pessoas com Deficiência’ publicada em 2019 pela Rede Nossa São Paulo, um diagnostico chamou a atenção da sociedade civil e de gestores públicos: aumentou o número de paulistanos que percebem pessoas com deficiência utilizando o transporte público.

Neste contexto, entrevistamos a estudante Karen Carneiro, 17, moradora da Cidade Ipava, bairro do Jardim Ângela, zona sul de São Paulo, para ela relatar como o uso de transporte público faz parte do seu cotidiano. Ela depende do ônibus para ir e voltar da Escola Estadual Professor Alberto Conte, localizada em Santo Amaro, onde está cursando o segundo ano do ensino médio.

“A paralisia afeta principalmente o lado esquerdo do meu corpo”

Karen Carneiro é moradora da Cidade Ipava, bairro localizado no distrito do Jardim Ângela, zona sul de São Paulo.

Desde que nasceu, Karen é portadora de paralisia cerebral com diparesia. “A paralisia afeta principalmente o lado esquerdo do meu corpo e essa paralisia ocorreu por causa da falta de oxigênio na hora do parto”, explica a jovem que nasceu de parto prematuro.

A paralisia cerebral diparesia consiste em sequelas que promovem alterações do tônus muscular e distúrbios motores que geram dificuldade de equilíbrio e locomoção. Essas sequelas atingem principalmente membros inferiores do corpo humano, como a cintura pélvica, coxa, joelho, canela, panturrilha e os pés.

Karen sofre para se locomover até a escola pegando ônibus cheios e com pouco espaço para se segurar. (Foto: Flavia Santos)

Trajeto de ônibus até a escola 

Sempre que ela faz o trajeto da sua casa na Cidade Ipava até a escola em Santo Amaro, a estudante percorre cerca de 30 quilômetros, para ir e volta da escola. Como ela não usa um serviço privado ou público para pessoas com deficiência física, o transporte público é a solução de mobilidade mais acessível para se chegar até o seu destino.

“No meu trajeto logo que saio de casa para pegar o ônibus eu enfrento um pouco de dificuldade para se virar no ônibus cheio com a mochila, porque o equilíbrio é um pouco menor do que o de pessoas sem algum tipo de deficiência ou mobilidade reduzida”, relata a estudante sobre a sua rotina dentro do coletivo.

“Ainda encontro calçadas altas e baixas e outros desníveis e irregularidades”

Karen Carneiro, 17, é estudante do segundo ano do ensino médio na Escola Estadual Professor Alberto Conte.

As barreiras que interferem na acessibilidade da jovem até a escola não param por aí, pois após descer do ônibus, ela conta que o caminho até a escola revela novos desafios. “Logo quando chego próximo a escola tenho menor dificuldade, mas ainda encontro com calçadas altas e baixas e outros desníveis e irregularidades.”

Além do transporte público e das calçadas desniveladas apresentarem uma série de barreiras, Karen diz que na escola em que estuda não há recursos e estruturas necessárias para alunos portadores de deficiência, e agora que as aulas voltaram para o modo presencial, essa perspectiva ficou ainda mais evidente, pois para ela, mesmo tratando-se de uma escola antiga e tradicional na região de Santo Amaro, a adaptação para outros alunos seria de grande valia. 

Pandemia e futuro 

Mesmo enfrentando essas barreiras de acessibilidade, a estudante se descreve como uma jovem tímida, indecisa e caseira, mas que possui muitos sonhos e metas, reforçando que a sua deficiência física não a impede de circular a cidade e viver experiências de vida que façam sentido para a vida dela.

Desta forma, Karen segue em busca de realizar seus sonhos e metas pessoais, o que gera combustível para continuar seguindo em frente. “O meu sonho atualmente é terminar o ensino médio e entrar numa universidade federal, mas ainda estou pensando o que vou cursar e depois pensar em constituir uma família”, afirma.

Ficar isolada em casa com seus familiares durante quase dois anos, no período da pandemia, deu origem a criação de hábitos saudáveis e de cuidados pessoais importantes para o bem-estar de Karen. “Por conta da paralisia, a pandemia me fez começar a fazer atividades físicas que é algo importante”, conta a estudante. 

“Hoje eu entendo que sou como qualquer pessoa, capaz de fazer qualquer coisa”

Karen Carneiro tem paralisia cerebral que atinge principalmente o lado esquerdo do seu corpo.

Além da saúde física, a moradora da Cidade Ipava também passou a cuidar da saúde mental. “Tive ajuda de um psicólogo para eu entender como uma pessoa com paralisia é uma pessoa normal como qualquer outra”.

Após relatar essa série de experiências para enfrentar as barreiras da acessibilidade que começam na sua quebrada e se estendem por toda a cidade, Karen concluiu que tudo que aprendeu e exercitou durante esse período é fruto do seu reconhecimento como pessoa, jovem, mulher e deficiente físico da quebrada.

“Hoje eu entendo que sou como qualquer pessoa, capaz de fazer qualquer coisa e a importância de fazer tudo no seu tempo, se demorar ou não, isso não impede de eu buscar e fazer o que quero”, finaliza.

Maracatu Ilê Aláfia: uma história de luta e cuidado na periferia de São Paulo

Através de ações com a comunidade local, o Ilê Aláfia, grupo de Maracatu que surgiu no Jabaquara, zona sul de São Paulo, vem atuando na disseminação de arte, cultura e lazer, com crianças e jovens de diversas regiões periféricas.

Grupo Ilê Aláfia em apresentação na comunidade do Vietnã, no distrito do Jabaquara, zona sul de São Paulo. Foto: Mateus Fernandes.

O acesso e fortalecimento à cultura nas periferias, é um dos temas de constante discussão, luta e ação entre coletivos e movimentos periféricos, que criam possibilidades e perspectivas nos territórios. Pensando em atender a comunidade e criar espaços culturais nas periferias, em 1999, nasce no Jabaquara, zona sul de São Paulo, o grupo de Maracatu Ilê Aláfia.

O grupo surgiu como um projeto de extensão cultural, que por meio de manifestações da cultura popular afro-brasileira, possibilita à população acesso a arte, lazer, conhecimento e informação. 

O início

Segundo dados do Censo Demográfico, do IBGE, dos mais de 200 mil habitantes do distrito do Jabaquara, 34,2% se autodeclaram como negros. Este cenário foi um dos influenciadores para que o grupo de maracatu Ilê Aláfia, se fixasse na região. O grupo nasceu como um projeto social no espaço ACM CDC – Centro de Desenvolvimento Comunitário Leide das Neves, como conta Audrey Manfredini, integrante da coordenação geral e da percussão do grupo.

Audrey Manfredini é uma das artistas que compõem o grupo Ilê Aláfia. Foto: Mateus Fernandes

“Num primeiro momento, conta-se a história, que as criadoras do grupo gostariam muito de trabalhar com linguagens dentro das culturas tradicionais que valorizassem a negritude. Por que isso? Porque o CDC está inserido num bairro periférico e grande parte das crianças são crianças pretas”

afirma Audrey, sobre uma das motivações para a criação do grupo há 22 anos atrás.

Audrey conta que o grupo de maracatu foi criado por Nelci Abilel e Maria Conceição, e ao contrário de outros grupos percussivos, o Ilê Aláfia não começou a trabalhar o maracatu pela parte musical, mas sim pela dança.

A artista afirma que Nelci Abilel, uma das fundadoras, conta como o maracatu encantou as crianças pelo fato de ter um rei e uma rainha negros. Fazendo com que as crianças quisessem se aproximar desse lugar, além da questão da musicalidade.

Ela também relata que outra fundadora do grupo, Maria Conceição, uma mulher negra e dançarina, sempre trabalhou com linguagem corporal, tradições culturais e formações artísticas, todas dentro dessa temática. Assim, Conceição trouxe esse corpo no maracatu para as crianças e conforme foram surgindo mais integrantes, foram atrás dos instrumentos de percussão.

Percussão do grupo Ilê Aláfia em apresentação. Foto: Mateus Fernandes.

Aos poucos o projeto foi agregando as famílias dos alunos e se tornou mais que uma atividade programada apenas para os estudantes ao longo da semana, e passaram a ser um projeto de extensão realizado aos sábados, unindo ainda mais pessoas da comunidade.

Um dos objetivos do grupo é fomentar o território, como relata Audrey: “Não é só ir lá, colocar uma roupa bonita, pegar um instrumento, cantar, tocar, dançar e tchau”, reforçando a ligação do maracatu com as pessoas e comunidades.

O Ilê Aláfia também abriu espaço para pessoas além do território no Jabaquara, como é o caso da Audrey, que é de Santo André e ingressou no grupo em 2014. Hoje, o Ilê tem entre os seus integrantes pessoas de diversas localidades de São Paulo, desde participantes da zona leste até o extremo da zona sul.

Apresentação do grupo no evento “O Mundo Jabaquara”. Foto: Mateus Fernandes

O Ilê Alafia nasce de um projeto social e ainda se mantém com essa característica. A ideia é ajudar e estar presente para as pessoas que integram o coletivo, além de buscar formas e ações específicas de atuação externa, como uma rede de apoio, para ganhar ainda mais força nos territórios que atuam, como conta Audrey:

“O maracatu é música? É. O maracatu é dança? É. Mas o maracatu é além disso. É união, é troca, é essa essência, é esse cuidado existente principalmente das periferias das grandes capitais”

O evento “O Mundo Jabaquara” ocorreu na comunidade do Vietnã, no bairro Vila Santa Catarina, distrito do Jabaquara. Foto: Mateus Fernandes.
Apresentação do grupo Ilê Aláfia. Foto: Mateus Fernandes
Apresentação do grupo Ilê Aláfia. Foto: Mateus Fernandes

Há 4 anos, o grupo Ilê Aláfia se desvencilhou do ACM CDC Leide das Neves, período em que o grupo passou a não ter o apoio de uma instituição e os seus integrantes, crianças e adultos, também começaram a entender a função de cuidar não só da continuidade desse trabalho no aspecto artístico, mas também no aspecto social.

“Depois de dezoito anos de existência a gente se desvinculou desse CDC, a gente ficou maior de idade, digamos assim. Nosso maracatu de deixa de de existir abaixo desse CDC e ele passa a ser gerido pela própria comunidade ”

conta Audrey.

Há 22 anos, o grupo cria espaços de encontros, rodas de conversas, formações, incentivando a dança e a música, unindo o saber e a cultura popular as raízes afro-brasileiras através do maracatu, e buscam seguir o propósito do nome que carregam enquanto Ilê Aláfia, como casa da felicidade.

Readaptação das atividades

Em 2020, o grupo foi contemplado pelo Programa de Fomento à Cultura da Periferia, que previa atividades como rodas de conversas com discussões sobre temas voltados para intolerância religiosa, afroempreendedorismo, culturas tradicionais do Jabaquara e história da população negra. Devido a pandemia, tanto essas rodas de conversa como as formações de dança e música, acabaram se tornando encontros virtuais.

As dificuldades de acesso a internet, que é uma questão para muitos moradores das periferias, também atrapalhou o grupo. Os encontros online acabaram tendo poucos participantes e a falta de acesso a internet foi um fator chave, sendo que grande parte do público atendido é composto por crianças que moram nas periferias.

O grupo fez um levantamento e constatou que a maior parte delas utilizavam o celular dos pais, muitas vezes com plano de internet limitado. “Essas crianças, a gente fez um levantamento pela internet mesmo, elas utilizavam o celular dos pais né? Aquele plano de internet já limitado e na hora que o pai, a mãe, a vó ou o responsável pudesse. E nem sempre dava”

Robson Vicente, Vinicius Cruz, Pedro Henrique Silva e Julio Cesar Silva, integrantes da percussão do Ilê.

Segundo pesquisa realizada pelo CETIC – Centro de Tecnologia, Inovações e Comunicações, para avaliar o acesso à tecnologia, 30% das casas no Brasil não têm acesso à internet. Nas classes D e E, este percentual alcança 59% dos domicílios que não acessam a internet e 85% das pessoas que acessam, usam a internet apenas pelo celular.

A cidade de São Paulo possui cerca de 7.509 estações de telecomunicações, segundo a Associação Brasileira de Infraestrutura para Telecomunicações. O número parece alto, porém, na prática há uma grande desigualdade na conexão de internet em bairros nobres e periféricos de São Paulo.

Todos esses fatores limitam o acesso à conexão para as crianças. Além de acabarem usando a internet na hora que a mãe, pai ou responsável podem emprestar o celular, havia também momentos que ocorria o acesso a esse celular, mas não a conexão com a internet.

Devido às dificuldades e ao agravamento da pandemia, o grupo optou por dar um tempo nas atividades e só agora está retornando ao presencial:

“Tem quem não queira voltar até tomar a segunda dose. Tem quem quer voltar só se for presencialmente porque não aguenta mais a questão virtual. Tem quem acabou se afastando do maracatu , com o distanciamento da pandemia, enfim, tem uma série de coisas e nesse momento preferimos se afastar”

compartilha a coordenadora do grupo.

Sidcleia é dançarina no grupo Ilê Aláfia. Foto: Mateus Fernandes

O primeiro reencontro presencial do Ilê Aláfia durante a pandemia, aconteceu em junho deste ano, com um time reduzido. Convidados pela subprefeitura do Jabaquara, que está realizando uma série de ações no território voltadas à comunidade, o grupo está fazendo algumas apresentações dentro do circuito. Uma dessas apresentações foi no evento “O Mundo Jabaquara”, que ocorreu em setembro deste ano.

Após as apresentações, o grupo faz seu agradecimento, o Axé. Foto: Mateus Fernandes.

O grupo planeja voltar totalmente presencial ainda este mês de outubro, e a partir disso, pensar nos próximos passos ainda com todos os cuidados necessários com a pandemia, pois há pessoas no grupo que ainda não se sentem seguras em voltar:

“Todas essas questões são legítimas e a gente tá programando essa tentativa de uma primeira volta a partir do mês de outubro, pra gente ir tentando entender mais ou menos como é que isso pode acontecer.”

finaliza Audrey, ressaltando que o grupo entende as vontades e receios de seus integrantes para poder acolhê-los e continuarem aplicando o significado do nome Ilê Aláfia: Casa da Felicidade.

Confira as redes sociais do grupo Ilê Aláfia :

Menina transforma calçadas e lombadas do Capão Redondo em pista de skate

Com 11 anos, Geovanna Silva conta em entrevista para o Desenrola os planos para o futuro no esporte e revela se inspirar na Fadinha, medalhista mais jovem nas olimpíadas de Tóquio de 2021. 

Foto: Gustavo Henrique

Desde os 10 anos, Geovanna Silva,11, moradora da Vila Fundão, um dos bairros que pertencem ao distrito do Capão Redondo, zona sul de São Paulo, anda de skate pelas ruas e calçadas da quebrada, chamando a atenção de vizinhos e incentivando outras crianças a praticar o esporte.

A skatista mirim conta que a paixão pelo esporte começou graças a atitude do seu padrinho, que em parceria com um amigo da família, presentearam as crianças da rua onde ela mora com vários skates de presente. 

Foto: Gustavo Henrique

Inspirada pela Rayssa Leal, jovem skatista que foi medalha de prata nas olimpíadas de Tóquio, e ficou conhecida em todo o país como ‘Fadinha’, Geovanna afirma que pretende um dia chegar nas olimpíadas e conquistar espaço no esporte.

“Eu sou inspirada mais na Fadinha, desde quando eu a vi ganhando a medalha de prata nas olimpíadas eu me inspirei nela e sonho em conquistar algo assim um dia”, conta ela, com um sorriso no rosto, afirmando que tem se esforçado para aprender as primeiras manobras.

Foto: Gustavo Henrique

Descer rampas, pular calçadas e lombadas são as principais manobras que Geovanna consegue realizar atualmente. Para ampliar a habilidade sob a prancha de rodinhas, ela conta com a parceria dos meninos da rua que andam de skate junto com ela.

Em meio a discussão sobre o que é brincadeira de menino ou menina, ela se destaca entre os amigos, por ser a primeira criança da rua a começar a andar de skate na quebrada, sempre acompanhada de seus amigos e familiares.

Foto: Gustavo Henrique

Geovanna afirma que aparecem mais meninos do que meninas para andar com ela, porque tem meninas que preferem mexer no celular e brincar com outras coisas, já os meninos da rua todos vão andar com ela.

Mesmo com menos meninas andando de Skate, Geovanna diz: “Tenho muitas amigas que andam e gostam de skate assim como eu, e elas estão aprendendo também”, finaliza.

Skatepark no Campo Limpo concentra juventude apaixonada pelo esporte olímpico

Além de ajudar a fazer a manutenção do único parque comunitário dedicado ao esporte na região, jovens ainda lutam contra o preconceito em relação ao skate.

O Skatepark Bowl Arariba é frequantado diariamente pelo jovem Lenison Moreira para praticar skate.(Foto: Gustavo Henrique).

Jovens moradores do Campo Limpo e do Capão Redondo consideram o Bowl Arariba, skatepark localizado no Parque Arariba, o principal espaço comunitário acessível para praticar manobras de skate nesta região da zona sul de São Paulo.

O skatepark era uma obra da Prefeitura de São Paulo que foi abandonada nos anos 80, mas com a força da articulação comunitária, moradores, agentes culturais, jovens e skatistas se uniram para zelar pela limpeza e manutenção do local, que abriga pista de skate, quadra de futsal e local para andar de bicicleta.

Além da luta para ter um espaço dedicado ao skate aberto ao público e gratuito, esses jovens também atuam para mudar a imagem do esporte, que para muitos moradores ainda é visto como uma cultura marginalizada.

Lenison é um dos jovens que ajuda a cuidar da manutenção e limpeza do Bowl Arariba. (Foto: Gustavo Henrique)

Essa é a opinião do skatista Lenison Moreira, 19, morador do Parque Regina, mais conhecido como Abacaxi de 19 anos. Para ele, o skate sempre foi visto como um esporte marginalizado. “Não acho que sempre foi bem aceito na sociedade, antigamente muita gente associava skate a imagem de uma pessoa marginal.”

A prática do skate como esporte ou brincadeira já foi proibida na cidade de São Paulo durante a gestão do prefeito Jânio Quadros, que durou até o ano de 1988.

No ano seguinte, a então prefeita eleita Luiza Erundina, filiada ao Partidos dos Trabalhadores (PT) na época, revogou a proibição do esporte, tornando o ano de 1989 como o período na história onde o skate voltaria a ser liberado como prática esportiva para a juventude paulistana.

A piscina do skatepark é um dos principais espaços utilizados pelos jovens que frequentam o local. (Foto: Gustavo Henrique)

Abacaxi anda de skate há cinco anos, e frequenta o Bowl Arariba quase todos os dias para praticar o esporte. Ele diz que nunca sofreu agressão ou preconceito, pois consegue evitar o preconceito sendo comunicativo e evitando situações que possam gerar problemas. Mas ele revela que já aconteceu com pessoas ao redor dele.

O jovem considera que as Olimpíadas de Tóquio, realizadas em 2021, ajudaram a melhorar a percepção da sociedade sobre o quão difícil é o esporte, e como os brasileiros conseguem se superar para conquistar medalhas na nova modalidade olímpica.

“O Brasil pôde ver nas olimpíadas a dificuldade do esporte, e pôde ver também que os brasileiros são bons e tem capacidade para trazer medalhas. É um esporte que deveria ter importância tanto quanto o futebol.” – Afirma ele.

Com essa visão, Abacaxi acredita que o número de crianças interessadas em praticar o esporte também irá aumentar com o sucesso do país nas olimpíadas. 

Sensação de liberdade 

Desde 2015, Pedro Garcia,18, morador da Vila Fundão, bairro do Capão Redondo, zona sul de São Paulo, anda de skate e frequenta o Bowl Arariba junto com amigos. A sensação de liberdade e o vento que bate no rosto ao andar pelas ruas são sensações vivenciadas pelo jovem que o tornam mais admirador do esporte.

“Ando porque gosto, skate é uma energia bem diferente, não tem como explicar, só quem anda sabe!”, afirma Pedro, explicando que a sensação de liberdade que ele sente ao andar de skate é como se pudesse ir a qualquer lugar.

Pedro é morador da Vila Fundão e frequenta o Bowl Arariba sempre com o grupo de amigos skatistas. (Foto: Gustavo Henrique)

O jovem conta que o trajeto de sua casa até o skatepark é longo, porém ele sempre conta com a companhia de amigos. Para ele, as conversas e risadas com os amigos que também andam de skate fazem com que o tempo passe e o trajeto se torne mais curto até o Bowl Arariba.

A casa de Pedro fica há três quilômetros de distância do skatepark. (Foto: Gustavo Henrique)

A distância da casa de Pedro até o skatepark é de três quilômetros e esconde os perigos do trânsito das avenidas mais movimentadas do Capão Redondo, como a Carlos Caldeira Filho e a Estrada de Itapecerica, o que torna esse trajeto um pouco mais perigoso. 

“O trajeto da minha casa até o Bowl é um pouco longo é perigoso, sempre presto atenção em tudo e em todos”, relata o jovem, enfatizando que mesmo com os perigos, é muito bom andar com os carros passando e sentindo toda a adrenalina que o skate proporciona.

Agricultura familiar: casal cultiva e comercializa alimentos orgânicos na zona sul de São Paulo

Produtores de alimentos orgânicos no Jardim Ângela, contam sobre a importância de se apropriar da comida que é produzida no território e como a agricultura familiar foi uma fonte de conexão e renda para eles, principalmente no período da pandemia de covid-19. 

Santa Sabina na horta da família no Jardim Ângela

Há um bom tempo a proximidade com alimentação orgânica e agricultura familiar já fazem parte da vida de Santa Sabina, 46, e do seu marido, Hernando Sousa, 55. Nascida em São Jerônimo da Serra, no Paraná, Santa tem raízes familiares próximas ao território rural, e alguns anos depois se reaproximou dessa atividade. Seu companheiro, Hernando Sousa, é nascido em Itaobim, Minas Gerais, onde trabalhava na roça.

Santa e Hernando moram há 18 anos no Jardim Ângela, zona sul de São Paulo, e se conheceram quando trabalhavam em uma padaria, já morando em São Paulo. Em 2008, ainda quando atuavam na padaria, fizeram um curso de capacitação oferecido por uma  ONG, que ensinava sobre o cultivo de alimentos orgânicos. Chegaram a trabalhar por um período na ONG, e logo em seguida passaram a cultivar a própria horta em casa.

“Na verdade a nossa saúde vem do alimento, né, mas as pessoas não sabem porque não tem o conhecimento próximo, o verdadeiro. Só que o nosso objetivo era fazer o certo, não enganar ninguém por dinheiro”

coloca Hernando.

 O cultivo de alimentos orgânicos no terreno de casa, já acontece há 14 anos na vida do casal, que iniciaram com o intuito de ter alimentos para consumo próprio, mas que ao longo do tempo passaram a vender para moradores do bairro. Foi há 4 anos, em 2017, que passaram a pensar uma estrutura para a comercialização dos alimentos orgânicos no território.

Hoje eles se organizam e trabalham juntos com o núcleo familiar, onde os filhos fazem as entregas semanais de acordo com o que foi produzido naquele período.

“Quando veio esse período da pandemia, a gente prosseguiu. Minha esposa fazia as planilhas tudo em casa, a gente tinha a certificação. A gente faz tudo registrado, não tem nada de engano”, conta Hernando.

Os clientes recebem por Whatsapp a lista dos produtos da semana, que incluem hortaliças, chás e ervas, ovos, às vezes até animais que são criados no terreno da família no Jardim Ângela.

“Nós aprendemos que o sistema não nos ensina a verdade porque quer nos escravizar. Porque você compra tudo no mercado parece que é alimento saudável”

Santa e Hernando, contaram que o trabalho com a horta, que deram o nome de Semeando o Futuro, foi essencial durante o período de isolamento social e que se não fosse pela clientela construída ao redor do bairro, eles teriam passado dificuldades.

Maria de Fatima Antonio, 62, moradora do bairro Jardim Fraternidade, localizado no distrito do Jardim Ângela, conheceu o trabalho da família através da indicação de uma amiga. Preocupada com a saúde, ela diz estar muito satisfeita com o trabalho, já que recebe produtos frescos, variados e de qualidade.

Apesar da pandemia, que a impossibilitou de ir até o terreno buscar os produtos, a mudança na forma das entregas ajudou a família a manter a cliente.

“Desde a pandemia, passei um período que não estava pegando as verduras com a Santa, porque eu não estava saindo de casa. Daí pedi pra entregar em casa, ela se prontificou a entregar em casa e foi muito importante porque eu fiz uma quarentena muito fechada, se eu puder, não saiu de casa, e vou continuar”, conta Maria de Fátima. 

Maria de Fátima lavando a capuchinha, uma planta medicinal que veio em sua cesta que comprou da horta de Santa.

Garantia de acesso

A agrônoma, integrante da equipe técnica da SOF – Sempreviva Organização Feminista e atuante da ATER – Assistencia Técnica e Extensão Rural, Glaucia Santos Marques, analisa a importância de iniciativas nas periferias voltadas para alimentação saudável, em contraponto a ideia de classes que gira em torno do tema.

“É muito importante ter hortas urbanas, hortas nos territórios, experiências de países que passaram por crises, e fico lembrando de bloqueios, como Cuba teve. A importância que teve as hortas urbanas para soberania alimentar, como isso muda, como isso é uma potência para tornar mais acessível a alimentação das pessoas”, analisa a agrônoma.

Ela compara as diferenças no acesso entre pessoas que começaram a comer orgânicos por questões de saúde, acesso à informação ou por terem tido algum problema de doença na família e passaram a se preocupar em se alimentar de forma saudável, sendo que o cenário não é o mesmo para grande parte da população.

“Eu acho que na periferia a preocupação é sempre outra, é sempre como chegar no final do mês tendo uma refeição pra todo mundo da família. Infelizmente a gente tá vivendo essa realidade a muito tempo, tendo que espremer o dinheiro pra chegar no final do mês, então você deixa de comprar um legume, por exemplo. Na pandemia reduziu o consumo de hortifrúti na periferia, não é o orgânico, mas o pessoal deixou de ir na quitanda”, coloca Glaucia. 

Diante do cenário de insegurança alimentar e até mesmo falta de comida que diversas pessoas passam e que sofreram ainda mais durante a pandemia, Glaucia afirma que poderiam existir mais espaços coletivos voltados para alimentação e cultivo. “Se tivéssemos áreas e espaços de plantio coletivo muita gente estaria plantando para o próprio consumo”, aponta.

Santa cuidando da horta que fica localizada no Jardim Ângela, zona sul de São Paulo.

“As pessoas não entendem a diferença entre cuidar de roça e cuidar de horta. A horta exige atenção o dia todo, tudo interfere, é quase como um bebê”

afirma Santa.

A família de Santa e Hernando, buscaram no cultivo e venda de alimentos orgânicos um caminho para consumirem produtos mais saudáveis, disseminar a produção pelo território e que mesmo não sendo o objetivo principal, conseguiram gerar renda a partir da alimentação saudável no território. Eles não se consideram empreendedores, e reforçam que acreditam na comida como uma forma de melhorar a saúde e ajudar a comunidade.

“O produto orgânico é totalmente diferente do mercado. Às vezes as pessoas acham feio, porque é pequeno, acontece deu juntar mais pés de alface pra ficar mais cheio, até saiu no prejuízo, mas prefiro fazer meu cliente ficar feliz e saudável, do que tacar veneno. Isso não é qualidade”, finaliza Santa.


Agricultura familiar: casal cultiva e comercializa alimentos orgânicos na zona sul de São Paulo

Produtores de alimentos orgânicos no Jardim Ângela, contam sobre a importância de se apropriar da comida que é produzida no território e como a agricultura familiar foi uma fonte de conexão e renda para eles, principalmente no período da pandemia de covid-19. 

Há um bom tempo a proximidade com alimentação orgânica e agricultura familiar já fazem parte da vida de Santa Sabina, 46, e do seu marido, Hernando Sousa, 55. Nascida em São Jerônimo da Serra, no Paraná, Santa tem raízes familiares próximas ao território rural, e alguns anos depois se reaproximou dessa atividade. Seu companheiro, Hernando Sousa, é nascido em Itaobim, Minas Gerais, onde trabalhava na roça.

Santa e Hernando moram há 18 anos no Jardim Ângela, zona sul de São Paulo, e se conheceram quando trabalhavam em uma padaria, já morando em São Paulo. Em 2008, ainda quando atuavam na padaria, fizeram um curso de capacitação oferecido por uma ONG, que ensinava sobre o cultivo de alimentos orgânicos. Chegaram a trabalhar por um período na ONG, e logo em seguida passaram a cultivar a própria horta em casa. 

“Na verdade a nossa saúde vem do alimento, né, mas as pessoas não sabem porque não tem o conhecimento próximo, o verdadeiro. Só que o nosso objetivo era fazer o certo, não enganar ninguém por dinheiro”, coloca Hernando.

O cultivo de alimentos orgânicos no terreno de casa, já acontece há 14 anos na vida do casal, que iniciaram com o intuito de ter alimentos para consumo próprio, mas que ao longo do tempo passaram a vender para moradores do bairro. Foi há 4 anos, em 2017, que passaram a pensar uma estrutura para a comercialização dos alimentos orgânicos no território.

Hoje eles se organizam e trabalham juntos com o núcleo familiar, onde os filhos fazem as entregas semanais de acordo com o que foi produzido naquele período.

“Quando veio esse período da pandemia, a gente prosseguiu. Minha esposa fazia as planilhas tudo em casa, a gente tinha a certificação. A gente faz tudo registrado, não tem nada de engano”, conta Hernando.

Os clientes recebem por WhatsApp a lista dos produtos da semana, que incluem hortaliças, chás e ervas, ovos, às vezes até animais que são criados no terreno da família no Jardim Ângela.

“Nós aprendemos que o sistema não nos ensina a verdade porque quer nos escravizar. Porque você compra tudo no mercado parece que é alimento saudável”, coloca.

Santa e Hernando, contaram que o trabalho com a horta, que deram o nome de Semeando o Futuro, foi essencial durante o período de isolamento social e que se não fosse pela clientela construída ao redor do bairro, eles teriam passado dificuldades.

Maria de Fatima Antônio, 62, moradora do bairro Jardim Fraternidade, localizado no distrito do Jardim Ângela, conheceu o trabalho da família através da indicação de uma amiga. Preocupada com a saúde, ela diz estar muito satisfeita com o trabalho, já que recebe produtos frescos, variados e de qualidade.

Apesar da pandemia, que a impossibilitou de ir até o terreno buscar os produtos, a mudança na forma das entregas ajudou a família a manter a cliente.

Garantia de acesso

A agrônoma, integrante da equipe técnica da SOF – Sempreviva Organização Feminista e atuante da ATER – Assistência Técnica e Extensão Rural, Glaucia Santos Marques, analisa a importância de iniciativas nas periferias voltadas para alimentação saudável, em contraponto a ideia de classes que gira em torno do tema.

“É muito importante ter hortas urbanas, hortas nos territórios, experiências de países que passaram por crises, e fico lembrando de bloqueios, como Cuba teve. A importância que teve as hortas urbanas para soberania alimentar, como isso muda, como isso é uma potência para tornar mais acessível a alimentação das pessoas”, analisa a agrônoma.

Ela compara as diferenças no acesso entre pessoas que começaram a comer orgânicos por questões de saúde, acesso à informação ou por terem tido algum problema de doença na família e passaram a se preocupar em se alimentar de forma saudável, sendo que o cenário não é o mesmo para grande parte da população.

“Eu acho que na periferia a preocupação é sempre outra, é sempre como chegar no final do mês tendo uma refeição pra todo mundo da família. Infelizmente a gente tá vivendo essa realidade a muito tempo, tendo que espremer o dinheiro pra chegar no final do mês, então você deixa de comprar um legume, por exemplo. Na pandemia reduziu o consumo de hortifrúti na periferia, não é o orgânico, mas o pessoal deixou de ir na quitanda”, coloca Glaucia.

“Várias pessoas tentaram consumir alimentos que aumentam a imunidade, para melhorar a saúde, teve muita gente que começou a plantar nos quintais, nas hortas comunitárias, isso existe há muito tempo na periferia”, afirma a agrônoma Glaucia Santos.

Diante do cenário de insegurança alimentar e até mesmo falta de comida que diversas pessoas passam e que sofreram ainda mais durante a pandemia, Glaucia afirma que poderiam existir mais espaços coletivos voltados para alimentação e cultivo. “Se tivéssemos áreas e espaços de plantio coletivo muita gente estaria plantando para o próprio consumo”, aponta.

“As pessoas não entendem a diferença entre cuidar de roça e cuidar de horta. A horta exige atenção o dia todo, tudo interfere, é quase como um bebê” – Santa Sabina.

Santa cuidando da horta que fica localizada no Jardim Ângela, zona sul de São Paulo.

A família de Santa e Hernando, buscaram no cultivo e venda de alimentos orgânicos um caminho para consumirem produtos mais saudáveis, disseminar a produção pelo território e que mesmo não sendo o objetivo principal, conseguiram gerar renda a partir da alimentação saudável no território. Eles não se consideram empreendedores, e reforçam que acreditam na comida como uma forma de melhorar a saúde e ajudar a comunidade.

“O produto orgânico é totalmente diferente do mercado. Às vezes as pessoas acham feio, porque é pequeno, acontece deu juntar mais pés de alface pra ficar mais cheio, até saiu no prejuízo, mas prefiro fazer meu cliente ficar feliz e saudável, do que tacar veneno. Isso não é qualidade” afirma Santa.

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