“Na periferia a locomoção é muito difícil”, diz morador do Jardim Ângela

Na segunda entrevista da série Barreiras da Acessibilidade, o morador Nelson Souza conta como um acidente que retirou 90% do seu braço contribuiu para ele sentir na pele o descaso de governantes com pessoas com deficiência, além de vivenciar situações de preconceito no ambiente de trabalho. 

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Após sofrer um acidente de carro há oito anos, Nelson de Jesus Souza, 45, morador da Cidade Ipava, zona sul de São Paulo, precisou amputar o braço esquerdo. Após esse acontecimento, ele viu sua vida mudar de forma drástica, principalmente no ambiente profissional.

“Eu trabalhava na portaria e fiquei 11 meses afastado por conta da minha deficiência, e quando eu voltei eles me mudaram para um setor que eu sentia muito preconceito”, conta o morador.

Para Nelson, a mudança de posto de trabalho também era uma forma de esconder a sua deficiência dos moradores do condomínio onde ele atuava na portaria. “Não podia me deixar na portaria porque alguma criança poderia ver minha situação e ficar com medo, e eu vi isso como preconceito”, relata.

Ao recordar os acontecimentos desta época, Nelson lembra que essas situações significam atitudes de preconceito devido a sua deficiência física. Segundo o morador, até o seu ex-chefe já entregou para ele recortes de jornais com vagas de emprego, o induzindo a procurar outro lugar para trabalhar. 

São 34 quilômetros percorridos de transporte público diariamente para Nelson ir e voltar do trabalho. (Foto: Flavia Santos)

Hoje, Nelson trabalha oito horas por dia, numa empresa que possui outros funcionários deficientes físicos. Com essa convivência, ele consegue se sentir melhor no ambiente de trabalho, não só por se identificar com os colegas, mas também por ter acessibilidade para funcionários portadores de deficiência.

Ele faz questão de mostrar para as pessoas a sua volta que a sua deficiência não o impede de fazer atividades domésticas ou profissionais. Além de fazer comida e pentear o cabelo da filha mais nova, o morador também auxilia na construção de sua casa.

Atualmente, para chegar ao trabalho, o porteiro que é pai de três filhas, enfrenta todos os dias o trajeto de transporte público, que parte da Cidade Ipava e vai até o bairro da Chácara Santo Antônio, zona sul da cidade. 

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Trajeto de ônibus

Após um acidente de carro, Nelson teve 90% do braço amputado. (Foto: Flavia Santos)

São 34 quilômetros percorridos de transporte públicos diariamente. Durante esse percurso, Nelson conta que enfrenta muitas barreiras de acessibilidade e destaca que muitas dessas dificuldades estão no transporte público e na forma como as pessoas tratam pessoas deficientes.

“Por exemplo: a pessoa chega pra falar que está cansada porque está vindo do trabalho, só que eu também estou vindo do trabalho, e além de estar cansado mentalmente pelo estresse do trabalho, ainda tem sua deficiência, que te deixa com a mobilidade reduzida”, explica Nelson.

O morador afirma ter percebido que no bairro onde mora e nas regiões por onde passa para ir e voltar do trabalho, as pessoas com deficiência física ou cognitiva enfrentam todos os dias uma série de barreiras que impedem uma boa locomoção.

“Eu vejo que na periferia a locomoção para essas pessoas é muito difícil, quem tem deficiência passa por muitos desafios. É preciso ter dignidade, porque os governantes nos deixam muito esquecidos”, desabafa.

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