“Tenho dificuldade para me virar no ônibus cheio”, diz estudante com paralisia cerebral da Cidade Ipava

Quais são as barreiras impostas pelo transporte público no cotidiano de uma estudante da quebrada para se deslocar até a escola? Conheça essa história na primeira entrevista da série Barreiras da Acessibilidade do Desenrola.  

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Na pesquisa Viver Em São Paulo com o tema ‘Pessoas com Deficiência’ publicada em 2019 pela Rede Nossa São Paulo, um diagnostico chamou a atenção da sociedade civil e de gestores públicos: aumentou o número de paulistanos que percebem pessoas com deficiência utilizando o transporte público.

Neste contexto, entrevistamos a estudante Karen Carneiro, 17, moradora da Cidade Ipava, bairro do Jardim Ângela, zona sul de São Paulo, para ela relatar como o uso de transporte público faz parte do seu cotidiano. Ela depende do ônibus para ir e voltar da Escola Estadual Professor Alberto Conte, localizada em Santo Amaro, onde está cursando o segundo ano do ensino médio.

“A paralisia afeta principalmente o lado esquerdo do meu corpo”

Karen Carneiro é moradora da Cidade Ipava, bairro localizado no distrito do Jardim Ângela, zona sul de São Paulo.

Desde que nasceu, Karen é portadora de paralisia cerebral com diparesia. “A paralisia afeta principalmente o lado esquerdo do meu corpo e essa paralisia ocorreu por causa da falta de oxigênio na hora do parto”, explica a jovem que nasceu de parto prematuro.

A paralisia cerebral diparesia consiste em sequelas que promovem alterações do tônus muscular e distúrbios motores que geram dificuldade de equilíbrio e locomoção. Essas sequelas atingem principalmente membros inferiores do corpo humano, como a cintura pélvica, coxa, joelho, canela, panturrilha e os pés.

Karen sofre para se locomover até a escola pegando ônibus cheios e com pouco espaço para se segurar. (Foto: Flavia Santos)

Trajeto de ônibus até a escola 

Sempre que ela faz o trajeto da sua casa na Cidade Ipava até a escola em Santo Amaro, a estudante percorre cerca de 30 quilômetros, para ir e volta da escola. Como ela não usa um serviço privado ou público para pessoas com deficiência física, o transporte público é a solução de mobilidade mais acessível para se chegar até o seu destino.

“No meu trajeto logo que saio de casa para pegar o ônibus eu enfrento um pouco de dificuldade para se virar no ônibus cheio com a mochila, porque o equilíbrio é um pouco menor do que o de pessoas sem algum tipo de deficiência ou mobilidade reduzida”, relata a estudante sobre a sua rotina dentro do coletivo.

“Ainda encontro calçadas altas e baixas e outros desníveis e irregularidades”

Karen Carneiro, 17, é estudante do segundo ano do ensino médio na Escola Estadual Professor Alberto Conte.

As barreiras que interferem na acessibilidade da jovem até a escola não param por aí, pois após descer do ônibus, ela conta que o caminho até a escola revela novos desafios. “Logo quando chego próximo a escola tenho menor dificuldade, mas ainda encontro com calçadas altas e baixas e outros desníveis e irregularidades.”

Além do transporte público e das calçadas desniveladas apresentarem uma série de barreiras, Karen diz que na escola em que estuda não há recursos e estruturas necessárias para alunos portadores de deficiência, e agora que as aulas voltaram para o modo presencial, essa perspectiva ficou ainda mais evidente, pois para ela, mesmo tratando-se de uma escola antiga e tradicional na região de Santo Amaro, a adaptação para outros alunos seria de grande valia. 

Pandemia e futuro 

Mesmo enfrentando essas barreiras de acessibilidade, a estudante se descreve como uma jovem tímida, indecisa e caseira, mas que possui muitos sonhos e metas, reforçando que a sua deficiência física não a impede de circular a cidade e viver experiências de vida que façam sentido para a vida dela.

Desta forma, Karen segue em busca de realizar seus sonhos e metas pessoais, o que gera combustível para continuar seguindo em frente. “O meu sonho atualmente é terminar o ensino médio e entrar numa universidade federal, mas ainda estou pensando o que vou cursar e depois pensar em constituir uma família”, afirma.

Ficar isolada em casa com seus familiares durante quase dois anos, no período da pandemia, deu origem a criação de hábitos saudáveis e de cuidados pessoais importantes para o bem-estar de Karen. “Por conta da paralisia, a pandemia me fez começar a fazer atividades físicas que é algo importante”, conta a estudante. 

“Hoje eu entendo que sou como qualquer pessoa, capaz de fazer qualquer coisa”

Karen Carneiro tem paralisia cerebral que atinge principalmente o lado esquerdo do seu corpo.

Além da saúde física, a moradora da Cidade Ipava também passou a cuidar da saúde mental. “Tive ajuda de um psicólogo para eu entender como uma pessoa com paralisia é uma pessoa normal como qualquer outra”.

Após relatar essa série de experiências para enfrentar as barreiras da acessibilidade que começam na sua quebrada e se estendem por toda a cidade, Karen concluiu que tudo que aprendeu e exercitou durante esse período é fruto do seu reconhecimento como pessoa, jovem, mulher e deficiente físico da quebrada.

“Hoje eu entendo que sou como qualquer pessoa, capaz de fazer qualquer coisa e a importância de fazer tudo no seu tempo, se demorar ou não, isso não impede de eu buscar e fazer o que quero”, finaliza.

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