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Mulheres periféricas na literatura é tema da 3ª Festa Literária Noroeste

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Pela primeira vez sendo realizada de forma presencial nas bibliotecas públicas e em espaços culturais da região noroeste de São Paulo, a edição de 2022 tem início nesta segunda (07), e homenageia a escritora Esmeralda Ribeiro.

Atividade realizada na programação da Flino em 2021.

Coletivos e bibliotecas da região noroeste de São Paulo realizam, de 7 a 13 de novembro, a 3ª edição da FLINO – Festa Literária Noroeste. A edição deste ano busca reconhecer e potencializar o trabalho das mulheres periféricas na literatura, com o tema “Mulheres: palavras periferias”. A homenageada da edição é a escritora Esmeralda Ribeiro, editora dos Cadernos Negros, cofundadora do coletivo de mulheres Flores de Baobá e uma das coordenadoras do Quilombhoje Literatura.

“Vamos refletir sobre as mulheres que constroem as periferias e como seu lugar de protagonismo é potencializado nesse território, repercutindo por meio da palavra, de oralituras e escrevivências, principalmente de mulheres negras, indígenas e periféricas”.

pontuam as organizadoras da FLINO.

A abertura acontece segunda (07), no Fofão Rock Bar, na Parada de Taipas, a partir das 20h, com uma roda de conversa junta da homenageada da Festa, a escritora Esmeralda Ribeiro. A programação multicultural contará com cerca de 40 atrações, incluindo oficinas, rodas de conversa, saraus, contação de histórias, batalha de rimas, espetáculos teatrais e shows musicais.

“Além da promoção do livro e da leitura, o objetivo da festa é fortalecer a cena cultural e literária da região. Além de reforçar a importância dos movimentos negro, indígena, feminino, LGBTQIA+ e PCD, por meio de uma programação que reflita as potências desses grupos, historicamente excluídos da cena literária brasileira”

afirmam os organizadores da festa.

A Flino se inspira em festas literárias que acontecem em outros territórios periféricos, como a Festa Literária do Grajaú, Festa Literária da Penha e a Festa Literária da Zona Sul.

Serviço 

3ª FLINO – Festa Literária Noroeste | “MULHER: palavras periferias” 
Data: de 07/11 a 13/11
Programação e formulário de Inscrições das oficinas: clique aqui
Facebook | Instagram
Contato: festaliterarianoroeste@gmail.com

Confira a programação 

1º DIA | 07/11

19h30 – Intervenção Flores do Baobá | Local: Fofão Rock Bar
20h – ABERTURA: Roda de conversa com a Homenageada da Festa Esmeralda Ribeiro | Local: Fofão Rock Bar
21h – Sarau Segunda Negra | Local: Fofão Rock Bar

2º DIA | 08/11 

 09h – Jogos e Brincadeiras Africanas | Local: CEU Vila Atlântica
10h – Contação de História: A Descoberta de Jurema | Local: Biblioteca Pública Municipal Pe. José de Anchieta
10h – Oficina de Macramêxias | Biblioteca Pública Municipal. Brito Broca
14h – Contação de História: A Descoberta de Jurema | Local: Biblioteca Pública Municipal Pe. José de Anchieta
14h – Espetáculo Nina e a cidade que perdeu o vento | Local: CEU Pêra Marmelo
14h – Oficina de Escrita Criativa em Cenopoesia / Spoken Word | Local: Biblioteca Pública Municipal. Érico Veríssimo
19h30 – 1ª Roda de Conversa “Palavras Construídas” | Local: IFSP – Pirituba

3º DIA | 09/11 

10h – Contação de Histórias: Encontro às escuras – contos e cantos ancestrais | Local: Biblioteca Pública Municipal Pe. José de Anchieta
14h – Contação de Histórias: Meu Quilombo Vivo! | Local: Biblioteca Pública Municipal. Brito Broca
19h30 – 2ª Roda de conversa “Letras Futuras” | Local: CIEJA Perus
20h – Batalha da 16 | Local: Rua 16 – Morro Doce

4º DIA | 10/11 

10h e 14h – Contação de história “O Boldo que Queria ser melancia” | Local: Biblioteca Pública Municipal Pe. José de Anchieta
14h – Oficina Mulher Negra em três perspectivas: discutindo as obras de bell hooks, Walter Firmo e Monteiro Lobato | Local: Biblioteca Municipal Brito Broca
20h – Sarau Elo da Corrente | Local: Bar do Santista

5º DIA | 11/11 

10h – Contação de história “Mamãe tem uma Drag Queen contando histórias” | Local: Biblioteca Pública Municipal Brito Broca
10h – Oficina Cola com elas | Local: CEU Vila Atlântica
10h – Oficina Cultura Hip Hop – Resistência e História no Brasil | Local: Biblioteca Pública Municipal Pe. José de Anchieta
14h – Contação de história “Mamãe tem uma Drag Queen contando histórias” | Local:Biblioteca Pública Municipal Brito Broca
14h – Performance 7 voltas pra lembrar | Biblioteca Pública Municipal Pe. José de Anchieta
16h – Palestra Mulheres Negras Compartilhando Saberes | Local: Biblioteca Pública Municipal Brito Broca
19h30 – 3ª Roda de conversa “Mulher de Palavra” | Local: Comunidade Cultural Quilombaque
20h – Sarau D’Quilo | Local: Comunidade Cultural Quilombaque
21h – Performance “Não Dorme Maria Acorda!” | Local: Comunidade Cultural Quilombaque

6º DIA | 12/11 

10h – Oficina Poesia na lata | Local: Biblioteca Pública Municipal Brito Broca
10h – Contação de histórias A vida de Esmeralda Ribeiro e a Esmeralda que habita em cada um de nós | Local: Biblioteca Pública Municipal Érico Veríssimo
10h – Oficina Baque das Manas pras Minas, Manas e Monas | Local: Espaço Cultural Morro Doce
14h – Lançamento de Livro Erineide Oliveira e Sonia Bischain | Local: Biblioteca Pública Municipal Brito Broca
14h – Oficina Cadernos para Esmeralda | Local: Espaço Cultural Morro Doce
20h – Sarau da Brasa | Local: Samba do Congo
21h – Luiza Akimoto | Samba do Congo
Noite toda | Feira de Livros | Local: Samba do Congo

7º DIA | 13/11 

Dia todo | Feira de Livros | Local: Ocupação Artística Canhoba
15h – Lançamento do Livro “Dramaturgias I” – Grupo Pandora de Teatro
16h – Teatro e Dança em A Dita Consequência a Duras Penas de Ontem e Hoje | Local: Ocupação Artística Canhoba
17h – Lançamento do Livro “Vão” de Jessica Moreira | Local: Ocupação Artística Canhoba
18h – Show Ladies Sing The Blues | Local: Ocupação Artística Canhoba
20h – Show Indaíz | Local: Ocupação Artística Canhoba

Conheça iniciativas da quebrada que atuam com o bem estar e cuidado feminino

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Do yoga à autonomia financeira, confira seis iniciativas periféricas que atendem mulheres, principalmente em situação de vulnerabilidade social, em diferentes regiões de São Paulo. 

Encontro de mulheres promovido pela iniciativa Ilera. Foto: Sheyla Melo

Quando se trata de autocuidado,  a quebrada reinventa espaços e iniciativas que buscam atuar com o bem estar e a saúde dos moradores das periferias. Selecionamos seis iniciativas periféricas que atendem mulheres, principalmente em situação de vulnerabilidade social, em diferentes regiões de São Paulo.

“Estar no projeto, não só como paciente, é muito interessante porque não era isso que a gente entendia como psicologia, como o atendimento a população negra, A gente achava que era algo distante e hoje fazemos terapia em grupo, ao lado de mulheres incríveis”

 Ana Sanches, colaboradora da Casa de Marias, zona leste.

 As atividades fornecidas envolvem desde atendimento com profissionais de psicologia, nutricionistas, yoga, roda de escuta e acolhimento, curso de línguas e até aulas de barco a vela. Os encontros listados podem ser online, presencial ou híbrido. Confira:

Roda de Afeto e Rede de Proteção

O projeto é uma iniciativa do movimento das mulheres ativistas da Rede do Fundão do Grajaú, que existe desde 2018, e oferece atividades de autocuidado, além de cursos de espanhol e aulas de barco a vela. A iniciativa surgiu a partir de necessidades identificadas através do trabalho de agentes de saúde. Os encontros acontecem todas as quintas-feiras, às 8h, em formato online, com encontros presenciais periódicos.

Formato: híbrido
Encontros: Link do zoom
Redes sociais: Lais Guimarães e Roda de Afeto e Rede de Proteção

Ciranda de Mulheres – Biblioteca Djeanne Firmino 

A Biblioteca Djeanne Firmino, que está localizada no Jardim Olinda, bairro do Campo Limpo, zona sul de São Paulo, oferece encontros semanais do Ciranda de Mulheres, com atividades de yoga, conversas e roda de autocuidado.

Formato: online
Encontros: Google Meet
Para saber mais: Biblioteca Djeanne Firmino

Amor e Cura – Instituto Favela da Paz

A iniciativa existe há cerca de cinco anos, mas os encontros acontecem há dois. As atividades são terapia em grupo, vivências com mulheres, além de retiro do Sagrado Feminino, com a proposta de criar espaços de autoconhecimento feminino, identidade e reconexão.

Formato: híbrido
Para participar:  WhatsApp
Para saber mais: Instagram 

Cooperativa Libertas

A Cooperativa Libertas trabalha com desenvolvimento social, visando a autonomia financeira de mulheres que passaram pelo sistema prisional. Nesse espaço as mulheres aprendem a desenvolver produtos e artes têxteis.

Para saber mais: site e Instagram

Manifesto Crespo

É uma iniciativa de arte-educação formada por mulheres negras que dialogam sobre identidades, gênero e práticas antirracistas. Entre as diversas ações do grupo, o Ateliê Casa Crespa, é um espaço dedicado ao cuidado holístico e espiritual através de práticas ancestrais como benzimento, utilização de ervas, rituais de acolhimento e cura. Além disso, a iniciativa atua com atividades de estamparia, trancistas, entre outros.

Formato: híbrido.
Local: Jabaquara, zona sul, SP.
Para saber mais: Site e Instagram

Ilera 

A Ilera é uma iniciativa voltada para o uso dos saberes de raízes negras e indígenas, com intuito de reforçar e atuar na promoção da saúde. O objetivo é mostrar que é possível cuidar da saúde como nossas mães, avós, ancestrais e mestras cuidavam. A partir da união de mulheres que atuam através de seus saberes com ervas, ensinam a fazer pomadas, lambedores, sabonetes, escalda pés, entre outras formas de autocuidado.

Local: Parque Guaianazes, zona leste, SP.
Para saber mais: Instagram

“Portando os docs”: projeto fortalece articuladores periféricos com apoio de políticas públicas

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Criado pela produtora Wiki Cultural, o projeto busca compartilhar ferramentas para que artistas e agentes culturais possam aprimorar seus trabalhos e acessar políticas públicas.

Oficina Criação Audiovisual Pela Lente da Favela, com Rafaela Araujo e  Julia Araújo (Foto: Gael DK)

Portando os Docs, é um projeto da produtora cultural Wiki Cultural, criada por Natália Freires, Rafaela Leão e Rafaela Alves. A produtora nasceu e foi colocada no mundo por meio da política pública Jovem Monitor Cultural, e teve continuidade nos projetos através do Programa Criatividades, gerido pela Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.

Tendo como principal público artistas e agentes culturais das periferias, o projeto realiza encontros formativos com foco em produção, administração e demandas burocráticas, pontos fundamentais nas contratações de agentes culturais, principalmente através de editais. A Casa de Cultura São Rafael, localizada na região leste de São Paulo, é o espaço que abriga os encontros do projeto.

“Fizemos a primeira semana do Democratizando a Cultura para tratar de produção artística. Teve encontro para falar sobre identidade visual, documentação de pessoa jurídica e física. Isso tudo no meio da pandemia, pessoas pedindo documentação no zap, material de apoio, e foi aí que entendemos a grandiosidade do que estávamos fazendo”, conta Natália, e complementa contando que no meio desse processo foi aprovada no Programa Criatividades para continuidade do projeto.

“O Portando os Docs também vem em um lugar de trabalhar a autoestima, de conseguir ver outra pessoa que veio do mesmo lugar que você, da periferia, conseguindo se sustentar da arte. O segundo [ponto] é mostrar caminhos para isso de uma forma até prática mesmo”

Natália Freires

Encontro produção teatral por trás das cortinas (Foto: Vitorr Barbosa)
Encontro audiovisual pela lente da favela (Foto: Gael DK)
Feira de livros e Slam da Ponta (Foto: Naomi Brian)
Encontro a encruzilhada do circo de rua (Foto: Naomi Brian)
Encontro produção na dança
Encontro a escrita como profissão (Foto: Naomi Brian)

A produtora e articuladora cultural, Natália Freires, uma das criadoras da produtora Wiki Cultural, explica que o nome da produtora é em referência ao Wikipedia, como uma possibilidade de um registro digital dos fazeres periféricos. Ela conta que além do Portando os Docs, já realizaram outros projetos também com foco em documentação e demandas jurídicas dos artistas da quebrada.

“O nome [do Portando os Docs] vem desse lugar dos malotes, porque primeiro para portar o dinheiro, precisamos portar a informação, a documentação para ele chegar. Vem nesse espaço de ‘vamos conseguir o dinheiro'”, conta Freires. Ela afirma que mesmo tendo sido idealizado por ela, a realização é feita com muitas outras mãos, além da articulação com os jovens do Programa Criatividades. 

Território: aprendizado e movimento

Natália relata que percebe uma mudança no público desde a primeira atividade. “No primeiro, a maioria que veio não era exatamente do território de São Rafael, e no último a maior parte era da região. Esse pertencimento tem crescido, e elas têm se apropriado mais dessa temática”, aponta. 

“Cada encontro é muito diferente um do outro, até pela temática. O público que aparece é muito diferente, do teatro eram pessoas que conversavam sobre si. Foi incrível ver que todo mundo colocou a própria vivência e saiu sabendo como escrever um projeto para Secretaria Municipal de Cultura”

Natália Freires

A produtora cultural ressalta a importância de políticas públicas para apoiar esse conhecimento e arte produzida por quem vive nos territórios. “O tempo todo eu pauto a importância de ser remunerado pelo nosso trabalho, então o programa Jovem Monitor Cultural e Criatividades vem nesse lugar”, afirma.

Natália reforça também a necessidade de potencializar a quebrada para produzir. “Ninguém melhor do que a gente que vive no nosso território, vivendo nossas ausências e potencialidades, conhece nossas ruas para falar sobre elas, para tentar suprir e modificar as estruturas”.

A produtora coloca que os programas têm impactos que vão além do mensurável, reforçando a busca pela continuidade dos apoios para atender mais jovens e moradores das quebradas.

“O meu projeto foi 1 de 98 que estão acontecendo. Existem outros 97 projetos que mudaram e impactaram seus territórios. 98 jovens que tiveram a oportunidade de se aprofundar em produção cultural e não passar por uma situação de desamparo financeiro”, aponta. 

Autoafirmação 

Oficina Portando os Docs – Foto: Gael DK

“A cultura, a arte, é uma promoção de cidadania, dignidade, educação, então levantar esses artistas para enfrentar a trajetória artística é potente, ainda mais porque consumir arte é muito bom, mas consumir arte de alguém que é semelhante a você é uma outra coisa”

Leandro Reinaldo

Leandro Reinaldo, 19 anos, é integrante do grupo de teatro Ponto de Ser e morador do Parque São Rafael, nas redondezas da Casa de Cultura. O artista esteve presente em quase todas as formações do projeto. “Como artista independente e de periferia, é muito difícil a gente ter acesso a pessoas que ensinam, que estão dispostas a te incluir nesse meio, traçar essas rotas para além de ter uma referência de alguém de quebrada que conseguiu chegar em tal lugar e monetizar aquilo que ela faz”, compartilha.

Era possibilidade distante de Leandro se enxergar ganhando dinheiro no seu trabalho artístico. “Impactou no sentido de ver aquilo como possível, de ver que eu estou próximo de conseguir monetização com meu trabalho, de me ajudar a encontrar essas rotas, que editais existem, que documentos são importantes ter, que não necessariamente eu preciso ter uma faculdade para ser valorizado”, pontua o artista. 

“Quando você é de periferia tem muitos dialetos e formas que não são próximas, e ao mesmo tempo que se usa um dialeto simples nas formações, também oferece as armas da oralitura, para que você converse com os editais e contratantes”

A produtora cultural Natalia Freires aponta que o projeto também dialoga muito sobre a autoestima, tanto em se enxergar como artista, quanto em ser contratado para falar sobre um corre artístico.

“Algumas pessoas que eu contratei, quando liguei e falei ‘oi, tenho um projeto, estou com a tal ideia, você quer dar uma palestra?’, a pessoa leva um choque”, relata Natália sobre fortalecer a visão do artista da quebrada também o remunerando para falar sobre sua vivência e trajetória.

Algo muito parecido aconteceu com Leandro, enquanto artista que estava participando das formações. “Foi a primeira vez que alguém do meu território me enxergou como artistas também e está disposto a sentar comigo e trocar sobre caminhos e vivências. Consegui falar e me ver como artista de verdade”, afirma Leandro.

A produtora aponta que o projeto continua sendo realizado na Casa de Cultural São Rafael e que segue estudando formas de chegar em outros espaços. “Esse trabalho de não produzir pra favela, mas chamar a favela para produzir, é um movimento que dá certo”, finaliza Natália. 

Espetáculo infantil “Quizumba” retrata artistas negros que abriram os caminhos do circo

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 Destacando a presença da negritude na arte circense brasileira, o espetáculo tem apresentações gratuitas em São Paulo e São José do Rio Pardo.

Em nova temporada, agora com a Indômita Cia de Circo e Teatro, o espetáculo circense Quizumba será apresentado em novembro no Sesc Bom Retiro e na Fábrica de Expressão, na cidade de São José do Rio Pardo, interior de São Paulo. De forma lúdica e poética, o espetáculo dialoga com crianças e adultos, onde apresenta um caminho em encontro à ancestralidade e aos que vieram antes.

Ursa Maior arma uma Quizumba junto com Solange, sua capivara de estimação, trazendo para a cena números de palhaçaria, manipulação de bonecos e músicas, com magia, mistério e eventos sobrenaturais que falam sobre a importância da memória e da ancestralidade na formação de referencial, pertencimento e autoestima do indivíduo em sua infância.

“Quando eu era criança, eu gostava muito de ir ao circo, mas eu tinha muito medo da exposição que o palhaço me podia causar. Lembro que as crianças negras, como eu, eram alvos dos palhaços, dos circos pequenos de bairro. Ser uma palhaça negra, estar em cena, conversando com crianças negras, dialogando com a infância negra, me trás essa possibilidade de usar o humor não de forma opressora, mas de maneira libertadora”

Loi Lima, palhaça

Loi Lima, pesquisa e desenvolve esse espetáculo desde 2017, em busca do fortalecimento de uma infância preta emancipadora e de uma infância branca antirracista.

O convite é também um mergulho nos números autorais da artista Loi Lima, que protagoniza a palhaça Ursa Maior, que ainda relembra a trajetória de quatro artistas negros do riso importantes para a história do circo brasileiro, mas que sofrem com o apagamento no Brasil: Benjamin de Oliveira, Maria Eliza Alves, João Alves e Marina de Oliveira.

Serviço 

Apresentações Quizumba
Entrada gratuita
Classificação: Livre
Duração: 50 minutos

Sesc Bom Retiro: 02/11 – 16h30
Endereço: Alameda Nothmann, 185 – Campos Elíseos, São Paulo – SP, 01216-000

Fábrica de Expressão: 11/11 – 19h30
Endereço: Rua Pedro Natálio Lorenzetti, 286 – São José do Rio Pardo (SP)

Monteiro Lopes e a tradição democrática do voto negro

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“Vai ficar tudo preto”, pouco mais de 100 anos, isso soa como uma profecia a ser cumprida.

Se há um aspecto radical a ser destacado do processo da disputa de eleições democráticas, é o multi-pluralismo partidário. Entretanto, esse aspecto não torna em si o processo livre da presença de mecanismos discriminatórios.

É ao olhar esse percurso da consolidação da democracia brasileira que nos deparamos com conflitos intensos pela criação de formas violentas e elitistas da direção do futuro de organização política do Estado e do governo brasileiro.

É justamente essa trajetória do significado da participação democrática da disputa pelo poder que aproxima o passado autoritário com a banalidade do mal do presente.

A nossa história republicana é marcada por um violento percurso de golpes e fraudes na participação integral da sociedade civil no processo eleitoral, seja no acesso ao sufrágio universal (o voto) ou no acesso à disputa de cargos políticos.

Monteiro Lopes foi o primeiro Deputado Federal negro eleito na história republicana do Brasil, em 1909. Não apenas negro, mas que tinha a questão racial e trabalhista como parte prioritaria de sua campanha e de sua trajetória de luta política.

O que o torna tão especial não é apenas o fato de ser o primeiro negro eleito neste cargo, mas o conjunto de sua trajetória. Também não é apenas a exceção que confirma a regra.

Nascido em 11 de janeiro de 1867, em Pernambuco, Monteiro Lopes era filho de pai e mãe negros ex-escravizados e operários, Jeronymo da Motta Monteiro Lopes e de Maria Egiphicíaca de Paula Lopes.

No ano de 1885, apenas 3 anos antes da abolição, teve, felizmente, a oportunidade de ingressar no curso de Ciências Jurídicas e Sociais na Faculdade de Direito de Recife. A luta abolicionista marcou sua trajetória em defesa dos direitos e justiça para “pessoas de cor” e oprimidos na sociedade brasileira.

Tornou-se bacharel em 1889, 1 ano após a abolição e apenas 14 dias depois da proclamação da república, que viria a ser parte importante de sua vida.

Sua trajetória é tão significativa que poderia ilustrar qualquer obra ficcional de modo brilhante. Superando expectativas e obstáculos da sociedade de sua época, Lopes teve um currículo invejável e alcançou notoriedade por onde passou.

Ao sair de Pernambuco se estabelece na cidade de Manaus (AM), e foi cogitado para tornar-se chefe de polícia, mas não assume o cargo, o que não se sabe ao certo o motivo, mas se havia divergências de natureza política.

Assumiu o cago de Promotor Público e logo depois de Juiz de Direito. De pele escura, sua presença era motivo de incômodo, buscando novos rumos, vai para cidade do Rio de Janeiro (RJ), em 1894.

Lopes, abre um escritório na cidade, atua como advogado para “pessoas de cor” e trabalhadores. Passou a ser chamado de “Advogado do povo”, “Paladino dos operários”, entre outras alcunhas, é reconhecido como liderança por organizações operárias e grupos de organizações negras.

A política institucional parece um atrativo natural da luta por justiça social. Se isso é de certa forma verdade, não seria diferente para este homem. Antes de tornar-se deputado, ele havia sido eleito para um cargo equivalente a vereador na cidade do Rio de Janeiro.

É justamente nesse momento em que ele decide partir para a vida pública e acontecem movimentações racistas para degradar a sua imagem simplesmente pelo fato dele ser negro, mas principalmente por ser “muito negro”, “negro demais para vida pública”.

Há certo paralelismo conceitual do problema da primeira república e o voto com a eleição deste ano. No caso, na tentativa da campanha bolsonarista “provar um processo justo” de contagem de votos, buscaram fraudar o processo eleitoral.

Mas é claro que aquele período é marcado por outras formas de fraude – e aqui chegamos a grande façanha de Lopes.

Haviam diversas restrições ao voto, que era direito apenas a homens a partir dos 21 anos, pessoas analfabetas também estavam excluídas e o voto não era secreto, o que abria margem para coação e violência política na auditoria dos votos.

Os votos eram barganhados entre as elites que participavam da disputa eleitoral e os coronéis regionais coagiam eleitores através de violência e troca de favores (o voto de cabresto), e mesmo no preenchimento de cédulas com nomes de pessoas mortas, anafabetos, crianças, etc., pelos “mesários” das seções eleitorais.

Havia também uma instância intermediária, caso o plano de eleger os candidatos da elite não funcionasse. A Comissão Verificadora de Poderes, que tinha o poder de fazer recontagem dos votos e impugnar candidaturas, num cenário em que o voto não é secreto e em cédulas que precisavam ser preenchidas por cada eleitor.

As fraudes formavam um “kit eleitoral” de sucesso infalível para a elite. Mas naquele ano de 1909, Monteiro Lopes despontava como um grande mobilizador e liderança política rumo ao congresso.

A capital da república do início do século XX estava marcada por um crescimento demográfico gigante nos últimos 40 anos daquele período (1870-1910).

A formação de favelas, a falta de absorção do mercado de trabalho para negros (migrantes) e imigrantes, problemas de saneamento básico, crises de saúde pública com epidemias e, sobretudo, das movimentações de classe, nascem a ânsia por representação e mudanças políticas que são identificadas no “Advogado do povo”.

O “Advogado do povo”, o “Paladino dos operários”, provoca o medo das elites e logo recebe diversos ataques racistas da imprensa.

“Vai ficar tudo preto”, pouco mais de 100 anos, isso soa como uma profecia a ser cumprida. 

Houve tentativas de fechar zonas eleitorais, roubo de urnas e segundo Domingues, nem Monteiro Lopes esperava o resultado que teve na eleição. Teve 2.337 votos, sendo o quinto candidato mais votado do Rio de Janeiro, ainda assim, restava passar pela “comissão de fraude”.

Sua candidatura foi impugnada, entretanto, como era de se esperar. Mas ele teve o apoio de jornais da época, organizações civis de classe e de “homens de cor”, e figuras como Rui Barbosa e Pinheiro Machado. Não só assumiu seu mandato, mas reafirmou na câmara que ele era a afirmação do povo negro e celebrou sua vitória no dia 13 de maio.

Não é o objetivo deste texto discutir cronologicamente a história do voto negro e trazer dados estátiscos, mas apontar rumos a partir da lição histórica de personagens resilientes como Monteiro Lopes.

A maioria expressiva de votos de negros, dos mais pobres e da periferia em geral, em Lula no cenário nacional e em Haddad no estado de São Paulo, apontam que há um compromisso do perfil desses eleitores com pautas sociais e democráticas, não apenas com “programas assistencialistas”, mas com a busca de dignidade sem a violência como a própria história revela.

Entretanto, o Brasil precisa de protagonistas na política como Monteiro Lopes, Antonieta de Barros, Carlos Marighella, Minervino de Oliveira, Benedito Cintra, Abdias do Nascimento, Lélia Gonzales, Luiza Helena de Barros, entre tantas outras para assumir o direito também de disputar o futuro do país na disputa para presidência nos grandes partidos e quebrar o ciclo com a tradição de homens e mulheres brancas para o cargo.

Precisamos de mais Léo Péricles, Vera Lúcia, Douglas Belchior, de mulheres negras como na Bancada Femista eleita para Alesp, de Erika Hilton, Taliria Petrone, eleitas para o congresso. Precisamos de lutadores como Renato Freitas eleito deputado para Alep.

O projeto de Bolsonaro não representa apenas um projeto neo-fascista com apelo de intensificação do escárnio e da glamourização da violência, mas, sim, a continuidade do projeto fundamentalista religioso, militar e elitista nascido da escravidão e que fundou a república.

A mentalidade escravagista não é apenas o cerceamento da liberdade e o trabalho forçado, mas ela se realiza no consentimento da violência, do ódio e da destruição do outro como método. 

Machado de Assis, ao ironizar as movimentações pelo sufrágio universal que proibia analfabetos de votar e culminou na Lei Saraiva (1881), diz:

“70% dos cidadãos votam do mesmo modo que respiram: sem saber porquê nem o quê. Votam como vão à festa da Penha – por divertimento. A Constituição é para eles uma coisa inteiramente desconhecida. Estão prontos para tudo: uma revolução ou um golpe de Estado”.

Machado de Assis.

Não é o futuro que está em jogo nesses últimos anos, é um passado vivo e pujante. A democracia é um refugiu utópico que ainda não vive plena e é surrada e sabotada pela república oligárquica, elitista e militarizada brasileira.

Contudo, a história de Monteiro Lopes, como de tantos personagens da luta democrática por justiça social e econômica, nos colocam de frente para a questão de Machado. Devemos estar sempre prontos para tudo.

Vai ter milícia 011?

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Tarcísio vai trazer a milícia para São Paulo? Se isso acontecer, o que muda na nossa vida? Como é que vai ser quando a milícia encontrar o PCC?

Se você quiser uma resposta do tamanho de um tuíte, já pode parar por aqui. Esse buraco é fundo. Precisa de reflexão. Principalmente de história.

A história da milícia fluminense numa casca de noz

Não é por acaso que respeitados estudiosos da ditadura a chamam de ditadura empresarial-militar.

Os militares diretamente responsáveis pelas torturas e perseguições às organizações de esquerda eram elite da tropa. E recebiam mais. Não só do exército como do empresariado que queria os comunistas e seus familiares mortos e torturados.

Cada militante preso valia um prêmio aos agentes. Eles reprimiam e enricavam. Mas a ditadura foi acabando e os direitos políticos voltando… Onde os torturadores foram investir seu dinheiro sujo?

Comandando o jogo do bicho no Errejota

Paulo Malhães, Coronel Guimarães e outros vermes de triste fim dividiram o Rio de Janeiro no melhor estilo Tratado de Tordesilhas: daqui pra cá é meu, daqui pra lá é seu. Da zona sul ao fundão da Baixada Fluminense foi tudo mapeado. Cada região tinha seu barão do jogo do bicho.

O dinheiro jorrava. Os milicos, mal vistos àquela época de redemocratização, tinham achado seu novo lugar na selva. Lavavam dinheiro em postos de gasolina, no carnaval, em tudo que tivesse a ver com sua região.

Mas era muito dinheiro. Muito crime. Com seus reinos alocados nas quebradas do Rio de Janeiro, nossos vermes de triste fim encontraram novos inimigos. Cometeram novos assassinatos e torturas. E como era caro manter seu próprio grupo de extermínio.

Surgiu uma solução! Uma solução econômica. Em vez de manter cada um seu grupo de extermínio, por que não contratar um Escritório do Crime com PMs fora de serviço?

É a startup mais maldita do RJ. O Escritório do Crime se tornou escola de miliciano, “gerindo” territórios com experiência em tortura e assassinato, amizade com a PM e simpatia dos barões da contravenção.

Em nome da segurança, a milícia escraviza comunidades financeiramente e sequestra a máquina pública. Não é fácil ser oposição na Baixada Fluminense ou na zona norte carioca.

Vai ter milícia 011?

Sempre teve, ainda que em escala bem menor. Mas com outra história: os “pés-de-pato” (assassinos de aluguel) dos anos 80, o malufismo…

A verdade é que o crime de SP é muito mais profissional que o fluminense. Gere territórios com grandes acordos com o Estado, possui tribunais próprios que trabalham a todo vapor, coordena uma das maiores rotas do tráfico do planeta.

Mas a forma de agir das milícias parece já ter chegado com Tarcísio: o assassinato em Paraisópolis, seguido de queima de arquivo confessada pelo candidato bolsonarista, é prova disso.

O governador de SP tem 19 mil cargos de confiança. É fato que o forasteiro Tarcísio não possui equipe paulista para isso. Ele importará funcionários. Qual setor do Estado as milícias cariocas, ligadas a sangue com Bolsonaro, irão querer ocupar num eventual governo Tarcísio?

A ver.

(Este texto foi inspirado e consultou a obra “Dos Porões da Repressão para os Subterrâneos da Contravenção”, com autoria de Aloy Jupiara e Chico Otávio. Mas possíveis erros historiográficos ficam por conta do autor do texto).

“Neste poema eu trago a realidade”, diz metalúrgico autor de poesias que criticam o capitalismo

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Inspirado no rapper Tupac Shakur e na série ‘Um Maluco no Pedaço’, o metalúrgico Anderson Lemes usou o pseudônimo de um personagem para começar a assinar as primeiras poesias na época do Orkut.

Anderson Lemes dos Santos, é morador da Vila Nogueira, bairro de Diadema, região do grande ABC. Ele conta que começou a ter consciência sobre como a sua poesia tocava as pessoas em meados dos anos 2000, durante o tempo que passava nas redes sociais daquela época. 

“Colava com os camaradas na lan house do bairro, eles queriam mandar um scrap pras minas e me pediam pra escrever umas paradas da hora. Nunca mandava os poemas em meu nome, tinha um pouco de vergonha, então usava um pseudônimo: Rafael do gueto”, relembra o escritor.

O personagem faz parte da série americana Um Maluco no Pedaço, que fazia muito sucesso naquela época e conta a história de um jovem, morador de um bairro periférico da Filadélfia que se muda para a casa dos tios ricos, no bairro nobre de Bel Air. Com a mudança, o garoto precisa se adaptar ao novo estilo de vida.

“O Will (personagem de Will Smith no série) queria conquistar uma gatinha e meteu essa história de poeta, dizendo que conhecia o tal ” Rafael do gueto, mas o cara não foi ao encontro, era uma mera invenção pra impressionar a menina, então o mordomo Jeffrey se passou pelo dito cujo – acabei usando o Rafael do Gueto com o mesmo propósito”, conta o poeta, enquanto sorri desta lembrança.

Quem não viveu o auge do Orkut, a rede social mais popular dos anos 2000, não se lembra, mas o Scrap era um mural de recados dedicados a textos mais curtos. O espaço também era utilizado com o propósito de flertar com o envio de recados apaixonados entre os jovens.Diferentemente dos primeiros versos, os textos de Anderson são inspirados em questões sociais e com reflexões sobre o cotidiano. Segundo ele, a mudança de perspectiva aconteceu a partir do contato com o RAP, com destaque para o rapper americano Tupac.

O metalúrgico Anderson Lemes é morador da Vila Nogueira, bairro de Diadema, região do grande ABC. (Arquivo Pessoal)

“Esse cara me fez enxergar a poesia por outro ângulo. Me deu um teor mais crítico, mais Thug Life (vida loca). Mesmo não entendendo muito bem o idioma, sua maneira de mesclar as palavras, a melodia e também seu ativismo me incentivou a escrever sobre a realidade”

Anderson é escritor e metalúrgico.

Este é um trecho do poema “Voz do Brasil”, que faz alusão ao jornal de mesmo nome veiculado em emissoras de rádio com notícias sobre o cenário político e econômico do país.

“Neste poema eu inverto os valores nacionalistas e trago a realidade que vivemos. O mais recente publicado foi Corações de Gaiolas, uma crítica ao evento do 7 de setembro, que trouxe o coração de Dom Pedro para o Brasil”, conta.

Anderson publica os poemas no seu perfil de Instagram Rythmandpoesia.

Sobre o processo de escrita, Anderson afirma que é algo bem simples. Algumas poesias, segundo ele, nascem em forma de música e com o celular na mão anota tudo no bloco de notas.

“Gosto de usar a fonte Osvald itálico, de cor branca e fundo preto. Faço a correção ortográfica através de um app e tá pronto”, revela com ar de satisfação.

Trabalhando no turno da noite, ele conta que o silêncio da fábrica e da cidade favorecem o trabalho da mente: “Fiz muitos versos nessa época, no meu horário de janta e até mesmo no horário de trampo. Colocava a máquina pra rodar e marcha”, diz.

Para ele, viver da arte e de escrever poesias é algo ainda distante. A função que exerce como metalúrgico garante o sustento da casa, da esposa e dos três filhos, mas diante disso alega que está feliz com as experiências que a escrita tem proporcionado. 

“Não vou deixar uma fortuna após a morte, então queria deixar algo mais valioso: meus pensamentos para a posteridade. Se futuramente meu trabalho resultar em alguma renda será muito bem vinda, com certeza!”, afirma.

Anderson sempre acompanha as notícias distribuídas pelo sindicato dos metalúrgicos do ABC, para estar inteirado dos seus direitos como trabalhador. Em novembro de 2021, a Tribuna Metalúrgica criou a seção poemas do ABC – sabendo disso, Anderson entrou em contato com a Redação e enviou o primeiro texto intitulado “A cor da minha cor”, que posteriormente, foi publicado no site.

“Recebo muito apoio dos caras do trabalho, eles também me chamam de Mandela – por que passei um bom tempo lá lendo a autobiografia do ex-presidente da África do Sul. Isso me motiva bastante! Espero ser essa referência dentro e fora do chão de fábrica”, diz.

A atitude de Anderson se tornou um fato marcante que impactou o ambiente de trabalho e despertou a admiração dos colegas e de líderes sindicais.

“Quando publiquei meu primeiro poema na Tribuna Metalúrgica, um dos representantes da Comissão Sindical da empresa saiu pelos corredores divulgando meu trabalho. Achei legal pra caramba! No outro dia os caras estavam me chamando de poeta”, finaliza.

CEU localizado no Jardim Eledy inaugura sala de leitura em homenagem a Dona Edite

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Nos meses de agosto e setembro, aconteceu a IX Semana da Literatura do CEU Cantos do Amanhecer, e entre as atividades, o espaço inaugurou a sala de leitura em homenagem à poetisa Dona Edite.  

Sala de leitura do CEU Cantos do Amanhecer homenageia Dona Edite. Foto: Patricia Santos.

Em 2022, o CEU Cantos dos Amanhecer, localizado no bairro Jardim Eledy, distrito do Capão Redondo, zona sul de São Paulo, realizou a reinauguração do seu espaço de leitura. Com o nome “Sala de Leitura Dona Edite”, o local homenageia a poetisa que é referência na cena literária periférica.

A reinauguração do espaço, que antes não possuía um nome específico, foi uma sugestão da professora Miriam Amorim, moradora do distrito do Campo Limpo, região sul de São Paulo, e responsável pela sala de leitura da unidade. Ela afirma que a ideia foi abraçada pelo núcleo organizador que esteve à frente das obras para melhoria da sala.

“Temos em nossa escola uma participação muito grande das meninas negras nas atividades literárias. Então pensei que os alunos precisavam conhecer a história e participação da Dona Edite na comunidade”, conta a professora. 

Para ela é importante que as homenagens a essas personalidades sejam feitas ainda em vida, valorizando a história, atuação e a poesia periférica.

Apesar de todas as dificuldades vividas por ela enquanto mulher negra, da periferia e deficiente visual, ela encontrou na literatura, na poesia um propósito de vida”

observa a professora Miriam.

Durante a semana de inauguração da sala de leitura, os alunos do 8º e 9º ano tiveram a oportunidade de aprender sobre manifestações artísticas e poéticas no espaço, como sarau, slam, histórias em quadrinhos, cinema, entre outros. Os alunos também conheceram mais sobre a história da Dona Edite através do documentário “O Olhar de Edite”, dirigido pelo cineasta Daniel Fagundes, além de realizarem um sarau onde homenagearam a poetisa.

Professor Fábio na sala de leitura Dona Edite e a aluna Maria Dias, do 9º ano. Foto: Patricia Santos.

“A gente percebeu que quando trazíamos atividades com o slam e saraus para as escolas, era maior o número de meninas, inclusive com as escritas mais elaboradas, e em sua maioria meninas negras. Então nada mais justo que trazer as mulheres negras por meio da sua literatura para esse espaço”, comenta Fábio Roberto, professor de língua portuguesa e morador do Jardim Mitsutani, Campo Limpo, São Paulo.

 Referências que moram ao lado

Dona Edite recitando na Cooperifa,

Edite Marques da Silva, ou como é conhecida, Dona Edite, nasceu em Pirapora, cidade de Minas Gerais, chegou em São Paulo aos 19 anos, e hoje é moradora do bairro Figueira Grande. Desde que se mudou para São Paulo, sempre morou na região sul da cidade, e vive com sua irmã Zazá, que a acompanha em todos os lugares e também a auxilia, pois a poetisa perdeu a visão em decorrência da diabete.

Dona Edite é personalidade importante no Sarau da Cooperifa, evento que acontece toda terça-feira no Bar do Zé Batidão, no Jardim Guarujá, distrito do Jardim Ângela, um dos espaços em que começou sua trajetória na literatura. 

“Meu primeiro contato com a literatura foi quando eu percebi que cada dia eu enxergava menos e o médico disse que era questão de tempo até perder toda a visão. E na terapia que eu conheci a [Fundação] Dorina Nowill, lá tinha livro falado, comprei um [livro], um walkman e comecei a tentar aprender poesia”

conta Dona Edite, que logo de cara aprendeu o poema ‘Estas Mãos’ de Cora Coralina.

Quando perguntada sobre qual poesia mais gosta, ela gargalha e comenta que por causa dos diferentes momentos da sua vida, cada poesia tem um lugar diferente em seu coração, e que não consegue escolher só uma. “Mas a que mais me marcou foi mesmo essa da Cora Coralina, que foi a primeira que eu soube de cor”, diz.

Dona Edite é símbolo de força, luta e aprendizado dentro dos espaços literários, e a identificação com o bairro tornou essa relação de admiração mútua. Para ela, não existe lugar melhor para se morar.

“Eu amo toda essa região e toda a história aqui. Ainda mais na luta enquanto mulher negra. Aqui aprendi a consciência de ser cidadã e ter coragem pra enfrentar as correntes que nos prendem”, compartilha.

Presente no dia de inauguração da sala de leitura que leva seu nome, Dona Edite recitou algumas poesias para os alunos presentes. Ela acredita que a homenagem foi uma representação de respeito a sua história.

“Sinto que sou uma pessoa com capacidade de ajudar, mesmo precisando de ajuda o tempo todo e trazendo comigo as pessoas que precisam estar junto nessa luta contra o preconceito. Eu me sinto grandiosa e não sinto necessidade de curvar a nenhum sistema”, finaliza Dona Edite.

Nosso voto não é secreto: estamos ao lado do povo preto e periférico

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 A fome, o desemprego e o luto pelas vítimas da covid-19, não nos deixam ser coniventes com o projeto de morte do Bolsonaro e seus aliados.

Fernando Haddad e Lula I Foto: Elineudo Meira

 A eleição deste ano é uma das mais importantes do Brasil, desde o fim da ditadura militar e início da chamada democracia estabelecida em nosso país. Diante de toda conjuntura vivida nos últimos quatro anos, o Desenrola e Não Me Enrola apoia as candidaturas de Lula (PT) para presidente e Haddad (PT) para o governo de São Paulo.

No atual cenário, acreditamos que seus governos representam respeito à diversidade dos povos, das religiões, às demandas das populações minorizadas, principalmente, o respeito à democracia. 

Papo reto: a democracia, a liberdade e o direito de ir e vir, nunca chegaram para quem mora na quebrada. 

No entanto, desde o golpe de 2016, as coisas têm ficado bem piores. Ataques aos direitos dos trabalhadores, como a reforma trabalhista e previdenciária, congelamento dos investimentos em políticas públicas, e mais recentemente o total descaso com a população durante a pandemia de covid-19. Somado a isso, o aumento do desemprego e da fome que atinge o povo preto e periférico.

Mas diz aí, você sabe o que é um país laico?

É quando ocorre a separação entre Estado e Religião, na qual, o Estado não permite a interferência de correntes religiosas em assuntos estatais, e tão pouco, privilegia uma religião sobre as outras. Porém, na prática, não é isso que acontece no Brasil.

A bancada evangélica representa 20% das cadeiras e sua influência religiosa tem interferido na vida da população brasileira. O Brasil caminha para um lugar preocupante: seu futuro está sendo pautado a partir das questões religiosas, quando na verdade, deveriam ser pautadas por direitos, problemas sociais e econômicos do país.

Nos últimos debates, principalmente presidenciais, ficou evidente que as principais pautas e preocupações de determinadas candidaturas são as questões religiosas. Pautas e possíveis soluções para combater a falta de políticas públicas, com objetivo de diminuir as desigualdades sociais que o Brasil vem enfrentando não são externadas. Ao invés disso, acusações e xingamentos são os principais destaques.

Nesse contexto, entre tantas frentes a população continua sofrendo devido ao desemprego, saúde, moradia, e a economia do país que contribuiu para que voltássemos ao mapa da fome. 

 Por que não compactuamos com o atual governo?

Nos últimos anos, com ênfase no período da pandemia, a população brasileira viveu várias incertezas, assim como os demais países. Porém, dentro de toda a conjuntura pandêmica, não podemos esquecer das irresponsabilidades do governo do atual presidente Jair Bolsonaro (PL).

687 mil pessoas mortas pela covid-19, a resposta de Bolsonaro: “Não sou coveiro”. Ou ainda imitar as vítimas com insuficiência respiratória.  

 Durante seu governo, Bolsonaro desacreditou da pandemia comparando a uma “gripezinha”, espalhando fake news sobre o chamado kit covid ser a cura para a pandemia, interferiu no trabalho do Ministério da Saúde, além de criticar diversas medidas sanitárias estabelecidas.

Foram inúmeras famílias que perderam pessoas próximas. A maior parte das vítimas que morreram por essa doença residiam num CEP específico – os territórios periféricos, na qual, a maioria delas eram pessoas pretas.

Para além de todo cenário de descaso com a saúde, Bolsonaro frequentemente em suas falas diminui as mulheres, ataca jornalistas, indígenas e sua reeleição representa o ataque a uma democracia que há tempos tenta se fortalecer no país.

Diante disso, não podemos compactuar com esse governo, que desacredita da ciência, espalha notícias falsas, é a favor da liberação de armas, acredita na violência como solução, atua com intolerância religiosa, cria sigilo de 100 anos sobre as ações do seu mandato, colocando literalmente toda sujeira para debaixo do tapete.

Somos a favor de um governo que a população possa dialogar, que promova políticas públicas para reduzir as desigualdades sociais que afetam a população preta, periférica, indigena, lgbtqia+ e todas as maiorias minorizadas. Esse governo que acreditamos não está em Jair Bolsonaro presidente e Tarcísio de Freitas governador. 

“O povo preto sabe que tem algo errado”: pesquisadora explica impacto do racismo ambiental nas periferias

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Casa alagada, escassez de água e de saneamento, são só alguns exemplos de como o racismo ambiental está presente nas periferias muito antes de se tornar um tema amplamente falado nas rodas de debate. Moradores de periferias, negros e indígenas são algumas das populações que entendem e vivenciam na prática esse contexto social, que nos territórios marginalizados não é apenas uma análise, mas sim uma realidade.

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Atenta aos impactos sociais desse cenário no cotidiano da população negra e periférica, a integrante da Rede Quilombação, coletivo do movimento negro em São Paulo, Ana Sanches, pesquisa as desigualdades socioambientais e questões de raça, a partir da ótica do racismo ambiental. A doutoranda em Mudança Social e Participação Política pauta a sua atuação a partir da necessidade de ouvir as comunidades de terreiro e as mais diversas etnias.
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Em entrevista ao Desenrola, a pesquisadora aponta que é fundamental dar lugar para o povo dizer o que e quais são as reais necessidades e pautas que o representa, e a partir disso começar a construir propostas. Confira a entrevista completa com a pesquisadora.

Desenrola – O que é racismo ambiental no contexto das periferias?

Ana Sanches – É a água que não chega ou que chega em má qualidade e em pouca quantidade. É a casa alagando e desabando. É o esgoto a céu aberto. A falta de energia. É o lixo nos becos e nas vielas, é o ar, alimento e solo contaminado. É o despejo de famílias e destruição dos barracos sob a acusação de ilegalidade. É a ausência do Estado que não leva infraestrutura adequada para as quebradas ocupadas por população negra, indígena, pobre e é também a ausência desses grupos vulnerabilizados nos espaços de poder.

Desenrola – E o que é justiça climática também no contexto periférico?

Ana Sanches – É repensar o planejamento urbano de forma justa, popular e inclusiva, para que as pessoas tenham moradia digna, com água na torneira em e qualidade suficiente. É garantir segurança e dignidade da vida humana na produção e fornecimento de energia elétrica (pensando que a produção de energia ainda é fundamentalmente poluidora por conta da fonte de combustíveis fósseis), e que o fornecimento inadequado de energia ou sua ausência coloca a população em situação de risco. É também garantir a participação e poder da população nos espaços de decisão.

Desenrola – Você acredita que essas discussões e análises chegam até as periferias e seus moradores? Se sim, como? Se não, porquê?

Ana Sanches – Não chegam em todo lugar, há muitas periferias no mundo e no Brasil. A verdade é que o povo preto sabe que tem algo errado e sente, literalmente na pele, que há algo errado. Algo injusto que não bate, sabe?

Há saberes populares ainda pouco validados, principalmente no meio acadêmico e entre intelectuais brancos. Sempre digo que há mais de 500 anos nós e nossos ancestrais já sabíamos que vivíamos em uma situação dolorosa e violenta, porém, os conceitos como racismo e racismo ambiental ainda não haviam sido criados.

O que eu quero dizer é que precisamos saber ouvir os discursos que são construídos nas quebradas, pois o povão pode não estar falando uma linguagem técnica e conceitual, mas sabe, e muito bem, na prática, o que é o racismo ambiental. Sabe inclusive como melhorar seu território. Creio que os acadêmicos privilegiados da branquitude é que tem que aprender a ouvir o dialeto e os gritos de socorro e não chegar impondo o que é ou não um debate importante.

Desenrola – Como o racismo ambiental está afetando nesse momento homens, mulheres, crianças negras que dependem de recursos naturais do meio ambiente para sobreviver?

Ana Sanches – Às mudanças climáticas, os efeitos dos eventos extremos e as problemáticas de degradação ambiental já estão afetando algumas populações.

Por exemplo, pense na população ribeirinha, indígena, caiçara e ou quilombola que dependia de pescar no Rio Doce? Ou que entende em sua religiosidade o Rio como um ser, um Deus, algo sagrado? É uma violência material, que afeta a dignidade dessas populações de variadas formas. Em suas possibilidades de práticas religiosas e espirituais, em suas formas de alimentação e sua própria manifestação cultural e de vida.

Pessoas urbanizadas que não tem essa relação de dependência direta (pra comer e cultuar) e afetiva com os rios, não são afetadas da mesma forma.

Desenrola – Existe uma relação do setor privado com as mudanças climáticas? Se sim, como isso se dá?

Ana Sanches – Depende de qual setor privado estamos falando. Há grandes corporações e grandes empresas, algumas até de capital misto, na qual a ideia do lucro é a que prevalece. Eu diria que há uma grande relação entre capitalismo e mudanças climáticas, no sentido que não há sustentabilidade nessa lógica capitalista, na qual a exploração de recursos naturais e de pessoas é o que o mantém de pé.

Essa ideia do maior lucro possível, com menor gasto e que despreza a vida humana, mas principalmente daqueles considerados “não dignos ou descartáveis”, ou seja, as vidas negras e indígenas, é exatamente o nosso problema. É o racismo que sustenta o capitalismo e foi o que o tornou tão forte.

Claro que precisamos olhar com cuidado, pois há recortes de gênero aqui que também são importantes, afinal, se olharmos para mulheres negras, veremos a base da pirâmide.

Desenrola – Qual a importância de relacionar justiça climática, justiça racial e justiça territorial? Na prática, o que isso representa?

Ana Sanches – Pensando que a base das desigualdades na sociedade é uma desigualdade racial, de gênero e de classe, não temos como separar a justiça ambiental/climática do que pensamos como justiça e direitos humanos em uma sociedade.

O entendimento de dignidade e de humanidade que possuímos, é exatamente a que permite às desigualdades raciais, sociais e ambientais que vivemos. Portanto, quando falamos que não há democracia, enquanto houver racismo e machismo, é nesse sentido. Para haver qualquer tipo de justiça, é preciso antes de tudo enfrentar o que estrutura as injustiças e no nosso caso brasileiro, o racismo é a primeira coisa que precisa começar a ser combatida.

Este conteúdo foi produzido no âmbito do projeto Planeta Território, uma iniciativa da Território da Notícia com apoio do Instituto Clima e Sociedade para fomentar e distribuir informação de qualidade sobre a emergência climática, o contexto eleitoral e o impacto na população periférica por meio de totens digitais em estabelecimentos comerciais das periferias de São Paulo