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A Copa está aí

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O jogo agora é padrão Fifa. O estádio superfaturado é Padrão Fifa, a corrupção na hora de escolher a sede é Padrão Fifa, o trabalho que matou dezenas na preparação das arenas também é.

Foto: Patrícia Santos

A Copa na periferia não vai ser mais aquela. Não é saudosismo. É o que é. É porque a gente perdeu coisas no caminho.

Ou a gente tenta pegar de volta ou a gente inventa novas.
Alguns entusiastas até tentam pintar as ruas e enfeitar de verde e amarelo os becos e vielas. Em vão.

Tipo: a camisa. Alguém acha, de coração, que todo o tsunami de zica, nojo e ódio que a extrema-direita encharcou nossa camisa amarela vai sair na primeira lavada? Vai nada…

Pra sair vai precisar de muito sabão, desinfetante. Pra tirar a zica do bolsonazismo, tem lugar que só na base da soda cáustica mesmo.

Vai ser uma jornada longa essa de arrancar o encardido que se agarrou na nossa camisa e no nosso país.

Outra coisa: o time 

A gente nem sabe quem é os maluco. E pra variar convocaram um cara porque ele “alegra” o elenco. É mau. (Dá nosso copo e já era).

Tem o Neymar. Beleza. Ele vai dedicar o gol pro presidente que perdoou os milhões que ele devia de imposto. Tá. Mas e o resto? No gol é o Cássio?

Não, não tem Cássio. Alisson é o goleiro.

E Gabigol?
Não tem também.

Tudo bem, então diz um aí um que a gente conheça. Um que a gente conheça do Morumbi, do Itaquerão, da Vila Belmiro…

Daniel Alves? Mas se ele pode jogar, dá pra chamar o Ronaldinho Gaúcho também, não dá não? Pergunta aí no google quantos anos tem o Ronaldinho.

O Ronaldinho com 50 é mais bola que o Daniel Alves com 40. Ou eu tô errado? Se eu tiver falando besteira você me avisa.

Por último: o jogo

O jogo agora é padrão Fifa. O estádio superfaturado é Padrão Fifa, a corrupção na hora de escolher a sede é Padrão Fifa, o trabalho que matou dezenas na preparação das arenas também é.

Até a torcida é padrão. Bem padrãozão mesmo.

Fora que o país dos caras é bizarro. É perseguição aos LGBT’s . É submissão feminina. Nem breja pode tomar no rolê.

Tem algo incrustado na formação do povo de lá que nunca vamos entender. Um lugar perfeito para uma galera que adora a ” moral” e os “bons costumes”.

Acho que a torcida do Brasil no Catar vai ser tão brasileira quanto o João Dória Júnior.

Pelo menos nesse quesito o time da CBF joga em casa.

Porque na periferia, na nossa casa, se o pessoal da CBF aparecer é possível que sejam chamados de “alemão”.

Integrante da Uneafro concorre à eleição para o Conselho Estadual da Juventude de SP

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Com a eleição, 12 jovens serão escolhidos para fiscalizar as políticas públicas de juventudes do novo governador Tarcísio de Freitas. 

Julia Gomes disputará a eleição para o Conselho Estadual de Juventude reprsentando a UneAfro como movimento social. (Foto: Arquivo Pessoal)

Na próxima segunda-feira (28), acontecem as eleições para a escolha do Conselho Estadual da Juventude, órgão que reúne agentes do Governo e da Sociedade Civil para discutir, pensar e articular Políticas Públicas voltadas para as Juventudes de todo o estado de São Paulo.

Uma das candidatas a concorrer na eleição do Conselho Estadual de Juventude de São Paulo é Julia Gomes, 19, que é moradora da Vila Falchi, bairro da cidade de Mauá, no ABC Paulista. Ela é integrante da Uneafro, um movimento de educação popular que fortalece a juventude periférica no acesso à universidade.

Parte integrante da política institucional, o Conselho Estadual da Juventude funciona e desenvolve ações na mesma instância dos Governos municipal, estadual e Federal.

Entre os motivos que fizeram Julia tomar conhecimento e valorizar a participação política estão a educação popular e a cultura periférica.

 “Essencialmente a educação popular e a cultura me introduziram a política”

 Julia Gomes é ingtegrante do grupo de jovens da UneAfro. 

Reunião do grupo de jovens da UneAfro. (Foto: Arquivo Pessoal)

“Entendo que a cultura para a juventude é o maior ato político, se usado de forma correta. Vejo o hip-hop e o funk como a maior ferramenta de ativismo da juventude“, destaca.

No Brasil, a juventude é responsável por tensionar a sociedade há muitos anos. Na década de 60, por exemplo, o movimento da Contracultura ficou conhecido como um ato libertário de contestação social e, como o próprio nome sugere, foi contra a cultura Europeia que influenciava a arte produzida no Brasil da época.

Os jovens do movimento usaram os meios de comunicação daquele período e disseminaram suas ideias por meio da pintura e principalmente da música, como é o caso do rap, funk e hip-hop nos dias atuais, que conscientiza sobre diversos assuntos que afetam diretamente a trajetória de vida das juventudes nas periferias.

Julia é estudante de letras no Instituto Singularidades, vaga que conquistou por meio da bolsa de equidade racial, uma parceria entre o Instituto e a UNEAFRO. A estudante conta que desde pequena acompanha a mãe em grupos de estudo, eventos de samba, batalhas de rima e centros culturais e desde os 15 anos compõe o cursinho pré-vestibular da UNEAFRO e desenvolve ações de mobilização estudantil como Saraus, projetos de literatura, batalhas de conhecimento, além de integrar o espaço cultural do Movimento antirracista Dandara, em Mauá.

“Vejo a necessidade de representar esses espaços que me formaram e deram um sentido para minha caminhada, a possibilidade de abrir caminhos e mostrar que é possível a presença da juventude negra e de periferia dentro dessa instituição. Só a gente constrói pra gente”, argumenta.  

Ela reforça a importância de ter alguém com a mesma vivência de quem mora nas periferias fiscalizando e planejando Políticas de Juventude para o Governo do Estado de São Paulo.

“O que foi demonstrado durante a campanha do novo governador (Tarcísio de Freitas) demonstra que seu projeto político vai em direção oposta ao que acreditamos como um projeto de bem viver para a juventude periférica, negra e indígena”, avalia.

A jovem sempre está articulando espaços de cultura e participação política no grupo de jovens da UneAfro. (Foto: Arquivo Pessoal)

Para votar em um dos 12 jovens que se candidataram para o Conselho Estadual de Juventude é preciso acessar o site: https://www.sdr.sp.gov.br/juventude/, residir no Estado de São Paulo e ter entre 16 e 29 anos.

A votação online fica aberta nesta segunda-feira (28) no horário das 10h às 17h. No dia seguinte, terça-feira (29), o processo eleitoral segue em frente com a apuração dos votos, homologação do resultado e divulgação dos candidatos eleitos.

Sobre a forma como pretende atuar, caso seja eleita, a estudante conta que a ideia é estar ativamente nos espaços culturais dialogando com a juventude sobre a importância do cargo e ouvir os pontos e reivindicações para tomadas de decisões assertivas e afirmativas.

“Entendemos que a questão de conselhos participativos, assim como demais instrumentos e ações de políticas públicas, não chegam na juventude por uma série de fatores, por isso esta campanha, além de levar a candidatura e ouvir a juventude, também tem um caráter pedagógico sobre o que é esta instância do Conselho e qual a sua importância”, conclui.

Ei, jovem: Bora participar?

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Na próxima segunda-feira, dia 28 de novembro, a juventude de todo o estado de São Paulo terá a oportunidade de escolher um representante para participar do Conselho Estadual de Juventude.

Martha Gaudêncio atua no setor público e como educadora popular sobre temáticas de política, cidadania e participação social com igrejas, movimentos pré-vestibulares e de juventudes.

A política no Brasil foi, por muito tempo, ocupada apenas por pessoas que não representavam a maioria da população. E isso se refletia no próprio direito ao voto: durante o Império, ele era censitário, ou seja, baseado na renda: isso significa que só quem tivesse uma renda muito, mas muito alta mesmo, podia votar e participar da vida pública.

E quem eram essas pessoas? Homens, brancos, proprietários de terras, donos de escravos. E aí dá pra imaginar para o que eles governavam, né? Buscando apenas manter os seus próprios interesses.

Com o passar dos anos, o país passou por um série de momentos e transformações históricas: teve a proclamação da República em 1889, o Estado Novo de Getúlio Vargas em 1937, a Ditadura Militar de 1964… e o processo de redemocratização, que foi coroado com a Constituição Federal de 1988, que é a lei máxima do país.

Até chegar nela, o voto passou por várias restrições, tendo em alguns momentos sido proibido à mulheres, a menores de 21 anos, a pessoas analfabetas, e consequentemente excluindo assim as populações negras e indígenas de participar das decisões do país.

A nossa Constituição atual é conhecida por “Constituição Cidadã”, pois foi fruto da luta de diversos movimentos sociais, de moradia, de mulheres, da negritude e dos povos tradicionais, que conseguiram incluir nela alguns direitos importantes – embora a luta para mantê-los seja constante.

E aí, dentre estas novidades, veio o reconhecimento da juventude como agente político: a partir dos 16 anos, aqueles que desejam já podem votar, pois são reconhecidos como cidadãos aptos a participar da construção da sociedade. Vale lembrar que o direito ao voto não é uma conquista só para poder escolher os representantes, mas também para se reconhecer como alguém que pode fazer parte das discussões e se colocar à disposição nas corridas eleitorais.

De acordo com essa lei, são direitos de todos os jovens brasileiros ter acesso à:

A realidade, no entanto, não é tão bonita quanto a lei. Segundo o IBGE, em junho de 2022 os jovens eram a parcela da população mais afetada pelo desemprego. No dia-a-dia, nas nossas quebradas, muitas vezes nos falta o acesso à cultura, ao esporte e lazer ou à educação. Nos nossos territórios, a mobilidade costuma ser um problema: os ônibus costumam ir até o centro da cidade, mas para ir de uma quebrada a outra o corre é mais difícil, além de vários outros problemas que quem está na periferia sente ainda mais.

Então, como a gente faz pra tentar resolver isso? Não existe uma solução pronta, simples ou rápida.  

Mas não tem outro jeito: o caminho passa pela participação popular. E participar é fazer justamente isso: conhecer os problemas, saber onde eles estão, pensar em soluções coletivas, acompanhar os processos de tomadas de decisões, e outras ações. Só assim vamos fazer valer aquela mudança de chave que tivemos com a Constituição de 1988 e que permitiu à juventude participar das decisões políticas.

Na próxima segunda-feira, dia 28 de novembro, a juventude de todo o estado de São Paulo terá a oportunidade de escolher um representante para participar do Conselho Estadual de Juventude. O conselho faz parte da subsecretaria de Juventude, dentro da Secretaria de Desenvolvimento Regional do Governo do Estado de São Paulo. 

E o que isso significa na prática? 

A conquista de todo e qualquer direito passa pela participação social e política, e o Conselho da Juventude é justamente um espaço onde jovens, eleitos por outros jovens, devem usar sua voz para representar os demais, sugerindo políticas que levem em consideração a diversidade e a realidade dos jovens brasileiros, especialmente aqueles que mais necessitam de atenção de políticas públicas.

São funções, ou atribuições, do conselho:

No dia 23 de novembro saiu mais uma edição do Mapa da Desigualdade da Rede Nossa São Paulo e os dados confirmam mais uma vez, como bem apontou reportagem do Periferia em Movimento: as periferias de SP são mais negras, mais jovens e vivem menos que no restante da cidade.

Por isso nossa voz é tão importante: precisamos reivindicar o espaço das favelas, das periferias e todas as quebradas, da negritude, dos jovens estudantes e trabalhadores, e lutar para que possamos viver mais e com mais qualidade.

Faça você também parte dessa mudança votando na segunda, 28/11, das 10h às 17h pelo site https://www.sdr.sp.gov.br/juventude/.

Com o novo governo eleito para o Estado de São Paulo, vai ser ainda mais importante a presença da periferia em espaços como esse. 

Martha Gaudêncio da Silva é cria das quebradas de Itapecerica da Serra, na Zona Sul de São Paulo. Formou-se em Ciências e Humanidades e estuda Políticas Públicas na UFABC. Atua no setor público e como educadora popular sobre temáticas de política, cidadania e participação social com igrejas, movimentos pré-vestibulares e de juventudes.

Moradores da quebrada mantém viva tradição de pintar as ruas para a Copa do Mundo

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Nas ruas, becos e vielas das periferias de São Paulo, em clima de Copa do Mundo, moradores se reúnem para enfeitar e manter a tradição de colorir a quebrada. 

Nesta semana (24/11), a seleção brasileira estreia na Copa do Mundo de 2022, realizada no Catar. Em algumas ruas das quebradas de São Paulo, o clima da Copa aparece nas cores verde e amarelo pintadas nas calçadas, nas fitas e desenhos que remetem à competição. A tradição de enfeitar as ruas é muito presente nas periferias, que também simboliza a união dos moradores.

No Parque Regina, bairro que pertence ao distrito do Campo Limpo, na zona sul de São Paulo, e no Rochdale, em Osasco, região metropolitana, moradores se juntaram e prepararam a rua de casa para acompanhar os jogos do Brasil. 

“A rua é pequena, mas são todos muito unidos. Decidimos numa sexta à noite fazer a pintura e no sábado de manhã começamos a arrecadar. Um morador deu tinta, o outro pincéis, quem não tinha como ajudar varreu a rua toda. Outro chamava a gente para almoçar e levava água o tempo todo”

conta Odivan da Silva Cardoso, morador do Rochdale, em Osasco e que ajudou na mobilização da rua.

Odivan conta que os moradores do bairro se articularam entre si arrecadando dinheiro, tintas, pincéis e mão de obra. Juntos desenharam mascotes, bandeiras, penduraram fitas e fizeram até um almoço durante os trabalhos.

No Parque Regina, zona sul de São Paulo, as arrecadações também aconteceram de maneira comunitária em nome do time de futebol Resenha F.C, que desde 2014 agita a ação nas ruas do bairro. 

“Os moradores aqui são muito parceria. Todo mundo está junto com a gente para praticamente tudo que o Resenha F.C. se propõe a fazer”

comenta Matheus Costa da Silva, presidente do Resenha F.C.

Confira o resultado da mobilização dos moradores do Parque Regina, Campo Limpo e Rochdale, Osasco.

Matheus Costa conta que fizeram a camisa do time em comemoração a Copa do Mundo de 2022 e venderam todas as peças antes mesmo de chegarem.
As crianças também ajudaram na decoração da rua no bairro do Parque Regina, zona sul de São Paulo.
Com 9 anos, Aninha já está criando memórias da sua segunda copa do mundo, se divertindo e ajudando a pintar a rua de onde mora. “É muito legal, eu estava ansiosa pra começar a pintar”, conta a menina.
O time Resenha F.C. existe desde 2014.
As crianças do Parque Regina colocaram a mão na massa. “Quando a gente era criança, pintar a rua era muito legal. Todo mundo queria participar e queremos deixar essa lembrança para a nova geração”, afirma o presidente.
“Cada um fez um pouco e quando percebemos já tínhamos tudo. Foi muito bom, aqui todo mundo ajudou”, diz o morador osasquense Odivan.
Decoração na Rua Cuiabá, no Rochdale, região metropolitana de São Paulo.
Decoração na Rua Santa Rita, no Rochdale, região metropolitana de São Paulo.
Decoração na Rua Cuiabá, no Rochdale, região metropolitana de São Paulo.
“O impacto disso deve ser positivo para as crianças”, comenta Odivan, morador de Osasco.
O momento também simboliza a união dos moradores.
Decoração na Rua Cuiabá, no Rochdale, região metropolitana de São Paulo.
Tradição em algumas das periferias de São Paulo, moradores se reúnem para enfeitar e manter a tradição de colorir a quebrada.
Decoração na Rua Santa Rita, no Rochdale, região metropolitana de São Paulo.

“Um lugar para ser você mesmo”: espaços de cultura independente reforçam a potência negra na quebrada

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 A Casa Griô e o Quilombar são espaços nas periferias que resgatam a busca por pertencimento e reconexão com raízes ancestrais.

No dia 20 de novembro é celebrado o Dia Nacional da Consciência Negra, data em menção à Zumbi dos Palmares, importante líder do Quilombo dos Palmares e referência na luta da população negra. Assim como o aquilombamento de resistência liderado por Zumbi, em diferentes contextos, nas periferias, cada vez mais surgem espaços voltados para troca e fortalecimento da população negra.

Foi a partir de uma lógica de aquilombamento cultural que Otávio Pereira, 28, morador do bairro Vila Gilda, no distrito do Jardim Ângela, zona sul de São Paulo, criou o Quilombar

“A gente sempre teve uma vivência de consumir cultura no centro, e nessas idas e vindas muito longas que foi surgindo a ideia do Quillombar”

afirma o fundador do espaço e também psicólogo.

Inaugurado em outubro de 2019, o ponto de encontro entre DJ’s, MC’s, cantores, produtores e outros artistas independentes, também é um local onde as pessoas podem marcar para ir comer na quebrada, pois para além das ações culturais, é bem presente em parcerias com lanchonetes do território.

Há alguns quilômetros de distância do Quilombar, no bairro Jardim Silveira em Barueri, região metropolitana de São Paulo, fica a Casa Griô, criada por Ronni Silva. Ronni é formado em produção fonográfica especializado em gestão de projetos culturais, e em março de 2022 inaugurou o espaço.

“O que eu sinto das pessoas é que se sentem acolhidos de perceber uma identidade, uma representatividade. Mas não é nada muito pensado, é só eu fazendo as coisas aqui do jeito que eu sou”

compartilha o produtor sobre as ações na Casa Griô.

A Casa Griô, é um bar, restaurante e espaço de cultura independente que também visa resgatar as raízes negras. Ao longo da semana, o local conta com uma programação que varia entre apresentação de zabumba a aulas de samba rock, e aos sábados é dia de feijoada no restaurante.

Espaço Quilombar, na zona sul de São Paulo.
O Quilombar recebe atividades de diversas linguagens.
Evento realizado em novembro no Quilombar.
Além de um espaço cultural, o Quilombar também se preocupa em discutir demandas sociais importantes para o território.
O brechó do espaços Quilombar funciona também durante a semana.
O brechó do Quilombar é aberto durante a semana e teve início como uma possibilidade para melhorar a renda da família.
As paredes do Quilombar foram pintadas com o rosto, citações e referências de personalidades negras.
Os fundadores da Quilombar e da Casa Griô contaram que os nomes dos espaços foram escolhidos para transmitir a ideia de resistência negra.
O acervo da Casa Griô conta com discos antigos preservados por Ronni, entre eles, do artista Milton Nascimento, cantor negro e brasileiro.
Além de bar e restaurante, os espaços também são lugares de debates políticos, que buscam acolher diversas linguagens e ações. Como na Casa Griô.
Todos os detalhes da Casa Griô foram pensados para representar as culturas negras e indígenas. As artes nas paredes foram feitas por artistas periféricos.
Desde as músicas ouvidas na Casa Griô até as refeições que são servidas, tem inspiração em culturas negras.

Marcas da quebrada recriam símbolos por trás das cores da camiseta do Brasil

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Com a chegada da Copa do Mundo e o simbolismo que as cores verde e amarelo passaram a ser associadas nos últimos anos, marcas de quebrada como Mile Lab, Corre e Andrart se reapropriam da camiseta da seleção.

Ensaio da camiseta Brasil Favela produção de MILE.LAB (Foto: Rodrigo Ladeira)

A camiseta do Brasil é como um símbolo dentro das periferias, mas há algum tempo passou a ter uma relação diferente, seja pelo contexto político vivenciado nos últimos anos no país ou até mesmo pela onda do Brasil Core. Muitas pessoas seguiram usando a camiseta, mas outras deixaram de usar a peça, por vezes associada a uma ligação política.

Com a chegada da Copa do Mundo e esse simbolismo criado em torno da camiseta, principalmente a verde e amarela, marcas de quebrada estão retomando uma narrativa e estética periférica.

“Não tem peça de roupa mais simbólica que a camiseta da seleção brasileira dentro da quebrada”, afirma Milena Nascimento, 24, moradora do Grajaú, zona sul de São Paulo, fundadora e editora criativa da MILE LAB. A marca criada por Milena, representa uma moda marginal, ativista e em prol do reconhecimento de corpos periféricos no mundo.

“Eu falo que a moda brasileira está na quebrada, só que acontece muito esse movimento como o Brazilcore, decorrente da copa e ter os elementos estéticos brasileiros como tendência lá fora [do Brasil]. Só que isso só é bonito e válido quando as pessoas ricas, brancas, marcas de renome e de fora do país legitimam.”

aponta a criadora da Mile Lab.

Milena conta que a criação da marca foi a chance de colocar sua identidade no mapa, de registrar e legitimar sua estética de forma que nenhum processo histórico ou político apague isso. Para ela, essa expressão marginal está presente de forma viva na história da moda e a partir disso constrói a imagem de suas peças e da sua marca.

A editora criativa aponta que conversa com um público que por muito tempo não teve sua história contada. “O nosso público alvo é quem é alvo do sistema. Pessoas que são criminalizadas, marginalizadas, apagadas, silenciadas cotidianamente. As que podem sofrer qualquer violência a qualquer momento, porque a gente não tem direito que resguarde as nossas vidas.” afirma Milena Nascimento, que tem como pilar da marca fazer com que esse público vista a própria história.

A camiseta do Brasil lançada por Milena Nascimento na Mile Lab, a “Brasil Favela”, traz elementos lidos como marginais para dentro das cores verde e amarela. Símbolos que remetem as periferias e que por vezes fazem vários minas e manos serem enquadrados diariamente.

“Vestir o amarelo e verde hoje traz um peso muito grande pensando no que ela se tornou nos últimos tempos. Mas ao mesmo tempo você está ali de pé, falando ‘eu vou usar sim’. Se está incomodando os outros, que bom. É realmente a gente tomar isso de volta. O quanto de coisa nossa que já não roubaram a vida inteira.” aponta Milena Nascimento, criadora da Mile Lab.

Ela ressalta que para não restarem dúvidas que a amarelinha é também da quebrada, estampou referências que fazem parte dessa estética. “Elementos que muitas vezes são carregados nas peitas de quebrada, que é chamado de chave de enquadro, que é break, são elementos que são lidos como marginais”, afirma.

“Quantos amigos meus já não foram enquadrados pelas roupas que usam e justamente roupas que carregam o que? Um tio patinhas, irmãos metralha, ‘chora agora e ri depois’, ‘dois por amor e um por dinheiro’. Quis juntar tudo isso na camiseta amarelinha que tem toda essa questão de resgate e tornar de fato essa armadura”

coloca a editora criativa. 

Milena ainda aponta que sua a maior admiração são os moleques da quebrada, que mesmo sabendo que os elementos que carregam nas roupas podem fazer com que sejam abordados, não os deixam de usar, porque contam a história deles e fazem parte de quem são. Para ela, isso representa um ato político e de resistência que admira, pois “o que estamos criando na quebrada é a verdadeira tendência do que é moda brasileira”.

“A marca vem do lugar de entender a importância que a roupa tem para quem é de quebrada, quanto é importante se vestir bem usando algo que te representa”, afirma Fabrício Rodrigues.

Fabrício Rodrigues, 29, morador do Campo Limpo, na zona sul de São Paulo, é historiador e um dos criadores da Corre Store, marca de quebrada para quem está no corre.

A camiseta “Brazuca”, lançada pela Corre, surge do entendimento dos criadores da marca sobre a necessidade de existir uma camisa que dialogue com o futebol, sem deixar de pontuar as questões políticas e sociais que atravessam as cores verde e amarelo ou até mesmo do emblema da CBF – Confederação Brasileira de Futebol.

Fabrício conta que a primeira camiseta da Corre em referência ao Brasil é branca e azul, e traz o emblema da seleção brasileira rachado no meio.

“Sabemos que esse emblema da CBF é muito questionado. É uma instituição que existe índices de corrupção há muitos anos. Teve desvio de conduta, de ética, então olhando para isso pensamos em manter o símbolo, mas também colocar uma rachadura para representar que ela é meio quebrada, que não representa o povo”, afirma Fabrício. 

O co-criador da Corre e também historiador, explica que a palavra “Brazuca”, que dá nome à peça da marca, era utilizada pelos portugueses com caráter depreciativo para apontar os brasileiros como algo inferior. Aqueles que não prestam, que não servem.

“Os jogos da Copa de 1992, falava-se muito isso, os brazucas. Vamos resgatar esse nome e o nome Brasil. Vamos pensar melhor em como representar nossa seleção, porque querendo ou não a seleção é nossa, a gente discorda de tudo que está lá, de como está, mas ela é nossa”, aponta Fabrício.

“Basta você ver a quanto saiu a camiseta da Copa pela Nike. Saiu a 300 reais. A gente gosta da seleção, mas a quebra [do símbolo da CBF] é nosso desconforto, mostrar que a gente apoia o futebol, mas que existe um desconforto da parte da massa em concordar com as instituições”

aponta Fabrício Rodrigues.

Ele ressalta que para além da camiseta do Brasil, a marca aborda a importância que a roupa tem para quem é da quebrada. “Conseguimos construir um público que sabe a importância de consumir de uma marca de quebrada. A galera quer comprar e ter acesso a uma marca que foi criada no seu território”, finaliza Fabrício, ressaltando que a primeira remessa da Brazuca acabou em 10 dias e estão na produção.

Ensaio da coleção Brazuca, da Corre Store (Fotos: Fabrício Rodrigues)

“Retomar a camiseta do Brasil é sobre autoestima. Sempre foi um símbolo nosso”, aponta Gleison Andrade.

Brasil Street é o nome da camiseta criada pela Andrart, que se coloca como a marca do gueto. Além de criador da Andrart, Gleison Andrade, 25, é design gráfico, estampador e morador do bairro Jardim Conquista, no distrito de Perus, zona noroeste de São Paulo.

Gleison compartilha que a ideia da camiseta em referência ao Brasil surgiu em 2021, mas que não queria utilizar a cor amarela “por conta desse presidente e tudo que ele fez a nossa camiseta do Brasil representar”, afirma.

O design gráfico quis fazer algo com a estética da sua marca, mantendo o preto e branco, mas com algo que representasse as cores do Brasil.

“Coloquei o verde, amarelo e azul no meio em degradê. O logo de um lado branco e o brasão do Brasil em branco também, porque não nos representa esse brasão”, aponta Gleison em uma referência semelhante à marca Corre Store.

A camiseta Brasil Street também faz menção ao hip hop, o que para Gleison torna mais confortável para as pessoas usarem a partir dessa abordagem sobre o Brasil. Além de representar o futebol, a camiseta mostra a identidade e referências do criador. 

“A camiseta sempre foi um símbolo nosso, então criar uma e fazer com que os meus usem, fazer com que a quebrada consuma, é trabalhar nossa autoestima também. O próprio ensaio da camiseta é um trabalho de autoestima, de estar bonito com a camiseta no meio da favela”

analisa o criador da Andrart.

A marca também representa a ideia de fortalecimento coletivo na quebrada, pois começou a ser criada dentro do quarto de Gleison e hoje se desenvolve em um espaço colaborativo em Perus, a Casa Preta Perus, criada junto com a Afro Perifa, marca também da quebrada.

Gleison é quem cria suas todas etapas de produção de suas peças. “Como eu trabalho com serigrafia, eu mesmo estampo, crio a estampa, na parte da serigrafia eu mesmo monto as telas e faço nas camisetas”, compartilha.

Ensaio da coleção Brasil Street, da marca Andrart (Foto: Caroline Brandão)

As principais referências para a criação da camiseta da marca vem da união do rap, futebol e funk. Pensada para representar a vivência de quem é da quebrada e a autoestima para pessoas pretas e periféricas que não se sentem pertencentes em usar uma camiseta oficial do Brasil.

“O mais importante é atingir quem é igual a mim e se identifica, porque eu trago muita referência no meu trabalho, muita a vivência, e quem é, sabe. Isso é sobre autoestima”, finaliza Gleison. 

Atividades promovidas por iniciativas da quebrada para curtir na semana do feriado

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De teatro a curso de dança, separamos cinco atividades realizadas por iniciativas periféricas que estão com inscrições abertas e acontecem nos próximos dias.

Slam interescolar – Foto: Slam da Guilhermina

Slam Interescolar – Slam da Guilhermina

Nesta quinta (17), acontece no Teatro Sérgio Cardoso, localizado na região da Bela Vista, São Paulo, a final do slam interescolar que será realizada em duas sessões: às 13h e às 17h. O Slam Interescolar SP é uma batalha de poesia organizada pelo coletivo Slam da Guilhermina.

O torneio poético é realizado com alunos do ensino Fundamental II e ensino Médio do Estado de São Paulo, e em 2022 mais de 200 escolas se inscreveram para participar. O ciclo de competições envolve a visita de poetas-formadores e a realização de slam’s dentro das escolas, onde acontecem as seletivas.

Serviço: Slam Interescolar SP
Data: 17 de novembro. Às 13h e às 17h
Local: Teatro Sérgio Cardoso, sala Paschoal Carlos Magno – Rua Rui Barbosa, 153 – Bela Vista, SP.
Classificação: Livre – Entrada Gratuita

Curso “Jeito Zumb.boys” – Grupo Zumb.boys 

Até o dia 17 de novembro, estão abertas as inscrições para o curso “Jeito Zumb.boys”, curso online e gratuito promovido pelo Grupo Zumb.boys, da zona leste de São Paulo. O grupo compartilhará sua metodologia em dança desenvolvida na periferia, buscando inspirar novas formas de produzir arte e experiências coletivas.

Serão disponibilizadas 50 vagas gratuitas para pessoas interessadas em dança de qualquer lugar do Brasil e as inscrições podem ser realizadas online. O curso terá início no dia 21 de novembro e término em 10 de dezembro, com conteúdos gravados que poderão ser acessados pelos participantes a qualquer momento, além de encontros online ao vivo para diálogo e aproximação com integrantes do grupo. Criado em 2003, o Grupo Zumb.boys tem como base de pesquisa e criação a dança breaking.

Serviço: Curso online “Jeito Zumb.boys”
Vagas: 50 vagas gratuitas
Inscrições aqui – até 17/11/2022
Curso: 21 de novembro a 10 de dezembro de 2022 (20 horas de duração)
Outras informações: Haverá entrega de certificado para alunos que completarem ao menos 70% da grade do curso, ou seja, 14 horas.

Arte Educar – Pôr do Som Produções 

Na próxima quinta (17), o CEU Parque Novo Mundo recebe os grupos Coco de Oyá e POIN – Pequena Orquestra Interativa, com apresentação respectivamente às 10h e 15h. As apresentações fazem parte do circuito Arte Educador, formado por 30 espetáculos e 6 oficinas que estimulam a criatividade e a imaginação, além de shows online.

O projeto Arte Educar, idealizado pela Pôr do Som Produções, realiza uma série de eventos culturais gratuitos em espaços e escolas públicas da periferia de São Paulo. A programação é destinada a alunos da educação infantil ao ensino médio, bem como seus familiares e toda a comunidade.

Serviço: Arte Educar
Data: 17 de novembro (quinta) |
Local: CEU Parque Novo Mundo – Avenida Ernesto Augusto Lopes, 100 – Parque Vila Maria, Vila Maria, SP
10h – Show: Coco de Oyá
15h – Show: POIN – Pequena Orquestra Interativa

“Eu avisei que eu vinha” – Cia. Armárias

Até o dia 29 de novembro, a Cia. Armárias realiza apresentações online da temporada de estreia do espetáculo “Eu avisei que eu vinha”. Unindo teatro, máscaras e dança, a peça é inspirado em relatos reais de mulheres do nordeste que migraram para São Paulo e foi construído a partir de suas perspectivas, desafios e conquistas.

As transmissões serão gratuitas e realizadas para todo o Brasil a partir das redes sociais de espaços culturais parceiros como o CEU Feitiço da Vila Gestão, CEU Guarapiranga, CEU Campo Limpo, CEU Tiquatira, CEU Paraisópolis, CEU Cantos do Amanhecer, CEU Vila do Sol , CEU Capão Redondo, CEU Quinta do Sol e CEU Casa Blanca. A ação faz parte do projeto contemplado na 6ª edição do Fomento ao Circo para a cidade de São Paulo.

Serviço: Cia. Armárias
Quando: 16 de novembro de 2022 (quarta-feira) – Horário: 20h
Onde: Facebook do CEU Paraisópolis  

Quando: 17 de novembro de 2022 (quinta-feira) – Horário: 20h
Onde: Facebook do CEU Cantos do Amanhecer

Quando: 19 de novembro de 2022 (sábado) – Horário: 16h
Onde: Facebook do CEU Vila do Sol

Quando: 23 de novembro de 2022 (quarta-feira) – Horário: 20h
Onde: Facebook CEU Capão Redondo

Quando: 29 de novembro de 2022 (terça-feira) – Horário: 20h
Onde: Facebook do CEU Casa Blanca

Coletiva Fanfarrosas 

No mês de novembro, a coletiva Fanfarrosas realiza uma temporada de apresentações gratuitas do espetáculo “As Presepadas de Gitirana no Terreiro de Dona Dindinha” em bibliotecas públicas da cidade, pelo Programa Biblioteca Viva, da Secretaria Municipal de Cultura da Cidade de São Paulo.

“As Presepadas de Gitirana no Terreiro de Dona Dindinha” traz situações e figuras populares da sociedade em seus lugares de destaque e protagonismo dentro do teatro de mamulengo, mesclando culturas paulistas e nordestinas.

Classificação Livre – Grátis
Data: 16 de novembro de 2022 (quarta-feira) – Horário: 10h –
Local: Biblioteca Thales Castanho de Andrade – R. Dr. Artur Fajardo, 447 – Freguesia do Ó, Zona Noroeste, São Paulo – SP

Data: 17 de novembro de 2022 (quinta-feira) – Horário: 14h
Local: Biblioteca Malba Tahan – R. Brás Pires Meira, 100 – Jardim Susana, Zona Sul, São Paulo – SP

Data: 18 de novembro de 2022 (sexta-feira) – Horário: 14h
Local: Biblioteca Hans Christian Andersen – Av. Celso Garcia, 4142 – Tatuapé, São Paulo – SP

Data: 22 de novembro de 2022 (terça-feira) – Horário: 14h
Local: Biblioteca Aureliano Leite – Rua Otto Shubart, 196 – Parque São Lucas, Zona Leste, São Paulo

Data: 29 de novembro de 2022 (terça-feira) – Horário: 14h
Local: Biblioteca José Mauro de Vasconcelos – Praça Comandante Eduardo de Oliveira, 100 – Parque Edu Chaves, Zona Norte, São Paulo – SP

Data: 30 de novembro de 2022 (terça-feira) – Horário: 14h
Local: Biblioteca Sérgio Buarque de Holanda – Rua Victório Santim, 44 – Itaquera, São Paulo – SP

Casa de Marias arrecada doações para manter projetos de saúde mental para mulheres

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O principal objetivo da campanha é garantir atendimento psicológico gratuito para mulheres negras, indígenas e periféricas durante o primeiro semestre de 2023.  

Foto Divulgação: Casa de Marias

 As doações para a campanha “Saúde Mental não tem preço, tem valor!“, organizada pela Casa de Marias, clínica de atendimento psicoterapêutico e social, localizada na Vila Esperança, bairro da zona leste de São Paulo, poderão ser realizadas até 21 de dezembro de 2022, na plataforma benfeitoria.

A campanha de financiamento coletivo reforça a importância de oferecer de maneira gratuita acesso a serviços de saúde mental para mulheres negras, indígenas e periféricas, público mais afetado pelas desigualdades sociais, que causam uma série de problemas emocionais.

“Estamos trabalhando muito para trazer horizontes de esperança em tempos tão difíceis. Vai ser muito potente, emocionante e pelos melhores motivos: continuar crescendo para continuar cuidando”, diz a Dra. Ana Carolina Barros Silva, psicanalista e pesquisadora em saúde mental da população negra que idealizou a Casa de Marias.

Foto Divulgação: Casa de Marias

Mulheres negras 

A Casa de Marias é um espaço de escuta e acolhimento. Lugar pensado em cada detalhe, por uma equipe qualificada de psicoterapeutas, para receber pessoas que precisam de cuidado. Nasce para ser casa, para criar raízes, para ser oásis em tempos difíceis.

Coordenada por um grupo de mulheres negras, se propõe uma prática clínica não dissociada do campo social e, por isso, se debruça com especial cuidado as questões que envolvem classe, gênero, raça e território. 

Confira o vídeo oficial da campanha.

Saúde mental acessível 

A campanha tem como objetivo angariar fundos para garantir a sustentabilidade dos atendimentos gratuitos durante o primeiro semestre de 2023, isso inclui a estrutura administrativa, continuidade de três colaboradores e expansão de dois projetos que já estão em andamento, além da criação de outros três.

Caso a meta de arrecadação de pouco mais de 13 mil reais seja alcançada, a Casa de Marias viabilizará mais de mil atendimentos, além de trabalho e renda para mais de 30 mulheres em diversas profissões, como psicoterapeutas, nutricionistas, assistentes sociais, advogadas, gestoras, comunicadoras, entre outras.

“Além do objetivo quantitativo, referente ao valor financeiro e o total de pessoas alcançadas, é importante chamar a atenção para a potência da campanha enquanto amplificadora de consciência de saúde mental enquanto um direito humano”, aponta Barbara Heliodora, coordenadora da campanha e captadora de recursos da Casa de Marias.

Websérie “Resistência Samba Rock” traz a oralidade e legado da arte e cultura pretas para o meio digital

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O projeto resgata e registra histórias dessa manifestação negra e periférica da cidade de São Paulo, de modo a manter o gênero musical vivo para as próximas gerações

Zona Sul de São Paulo, ano de 2011. Esse é o pano de fundo para o nascimento do coletivo “Bons Tempos Nostalgia Black”, que foi criado com o intuito de disseminar a cultura do Samba Rock nas periferias da cidade, realizando bailes nostalgia, aulas de dança gratuitas de Samba Rock e de Danças Urbanas, além de outras atividades ligadas ao movimento do Samba Rock, compreendendo-o como arte e expressão negras.

O mais recente projeto do coletivo é a obra audiovisual “Resistência Samba Rock”, uma websérie de cinco episódios, com o primeiro a ser lançado na quinta-feira, 10, no canal do Youtube “Bons Tempos Nostalgia Black”. Cada episódio aborda temas diferentes, desde a história do Samba Rock, contexto político do seu surgimento e a consolidação do gênero musical; passando pela estética, autoestima e a importância da cultura dos bailes para a construção da identidade do povo negro; até chegar ao papel dos coletivos culturais e dos artistas para a difusão da cultura preta e periférica.

 A ideia para a produção da série surgiu em meados de 2020, momento em que o coletivo viu-se na obrigação de repensar estratégias para continuar de pé em meio ao contexto pandêmico, ao mesmo tempo em que colaborava para o registro e legado no meio digital do movimento cultural preto e periférico e para a sobrevivência dos artistas independentes, que, de um dia para o outro, tinham perdido seu principal meio de subsistência.

“A série tem o objetivo de documentar, por meio da produção audiovisual, a história vivida dos bailes black na cidade de São Paulo, buscando recortar sua permanência e importância política na formação do pensamento e posicionamento de negras e negros, principalmente vindos das periferias. Para além de “contar histórias” do quão bons foram aqueles tempos, pretendemos mostrar o quanto a cultura permanece viva em bailes tradicionais pela região da Zona Sul, inclusive em formatos digitais, tocados e voltados para jovens”

Camila Odara, produtora do coletivo Bons Tempos Nostalgia Black

Vale destacar que cada episódio conta com convidados que protagonizaram a cena dos bailes black, desde seu surgimento até a atualidade, tais como: Leonardo Cordeiro (presidente e professor do coletivo Samba Rock Cultural), Mariana dos Santos (historiadora, diretora, produtora cultural e professora de samba rock no coletivo Eu Soul Samba Rock), Levi Souza – o “Poeta Fuzzil” (autor do livro Samba Rock Diverso, da Academia Periférica de Letras), Bete Aduke (líder comunitária, diretora social e professora de Samba Rock na empresa Samba Rock Nato), Osvaldo Pereira – o “Primeiro Dj do Brasil” (criador da orquestra invisível e pioneiro da discotecagem brasileira), Dinho Pereira (DJ e filho do Osvaldo Pereira), Tadeu Pereira (DJ e filho do Osvaldo Pereira), Rodrigo dos Santos – “Rodstyle” (multiartista, arte educador, DJ e fomentador da cultura Hip-Hop nas periferias da Zona Sul) e Donizeth Carneiro – DJ Caio (fundador do Bons Tempos Nostalgia Black, percussionista e discotecário).

O projeto conta com a produção de Camila Odara (membro do coletivo Bons Tempos Nostalgia Black, assistente de direção e edição), ao lado de Bárbara Alves (assistente de produção), Larissa Estevam (assistente de edição) e do Coletivo Olhares de Guiné (captação de imagem, som e edição). A websérie possui, ainda, o patrocínio da Secretaria Municipal de Cultura, por meio do programa para a Valorização de Iniciativas Culturais (VAI II), com o intuito de incentivar financeiramente coletivos periféricos da cidade de São Paulo.

Para quem quiser vivenciar e sentir na pele toda a nostalgia e ancestralidade de um baile repleto de trocas entre gerações, mantendo a cultura do Samba Rock viva, o próximo evento do coletivo será no dia 13 de novembro, entre 14h e 18h, no Bloco do Beco, localizado na altura do número 2, da Rua Bento Barroso Pereira, no Jardim Ibirapuera.

Além do baile com discotecagem, também terão aulas de samba rock e show ao vivo com a Banda Poesia Samba Soul – formada por Claudinho Miranda (vocais e violão), Fabio Bass (baixo elétrico), Pikeno (percussão), Paulinho Torres (bateria), Luiz Henrique (percussão) e Elem Fernandes (backing vocal) – que possui 32 anos de carreira, 6 CDs e 3 DVDs lançados, e trazem a mistura do groove, soul, samba rock e outras influências como jazz e black music. O melhor de tudo: totalmente gratuito! Saiba mais nas informações de serviço. 

Serviço 

Lançamento Websérie “Resistência Samba Rock”

Quando: 10 de novembro – quinta-feira (lançamento do primeiro episódio – ative o sininho do canal do Youtube para não perder os demais)
Onde: Canal do Youtube “Bons Tempos Nostalgia Black”
Quantidade de episódios: 5
Equipe: Camila Odara (@camila_odara), Barbara Alves (@barbaraslvs), Larissa Estevam (@estevxm), Coletivo Olhares de Guiné (@olharesdeguine) e Instituto Favela da Paz (@institutofaveladapaz).
Entrevistados: Leonardo Cordeiro (@oleocordeirosrc), Mariana dos Santos (@_maridossantos), Poeta Fuzzil (@poetafuzzil), Bete Aduke (@beteaduke), Osvaldo Pereira (@osvaldopereiradj), Dinho Pereira (@djdinhoppereira), Tadeu Pereira (não possui conta), Rodrigo Santos (@dancerodstyle) e Donizeth Carneiro – DJ Caio (@donizete.carneiro.10).

“Meu fazer artístico é sobre mim e não sobre as violências”, afirma a artista Micaela Cyrino

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Através de diversas linguagens artísticas, Micaela Cyrino comunica sobre si e sobre os estigmas e preconceitos em torno da aids e do HIV, com foco na população negra.

Pinturas, performances e intervenções na rua são algumas das manifestações artísticas utilizadas por Micaela Cyrino, que em sua arte aborda sobre o corpo negro soropositivo e seus atravessamentos. Nascida em 1988, na Subprefeitura da Capela do Socorro, zona sul de São Paulo, a artista também é produtora cultural e integrante do Coletivo Nacional Trovoa, levante de mulheres radicalizadas nas artes.

Formada em artes visuais, a artista é soropositiva desde criança, contraída através de transmissão vertical – que ocorre na gestação, no parto ou na amamentação. O contato com a arte não é algo novo para ela, que desde a adolescência já fazia aulas de escultura, cerâmica e pintura.

Micaela conta que sempre separou seu fazer artístico da sua militância no contexto do HIV por achar que as duas coisas não se misturavam, mas ao ingressar na universidade sentiu a necessidade de realizar essa junção.

“Meus primeiros trabalhos diretamente sobre HIV foram performances. Eu faço meus figurinos e em um determinado momento eu comecei a colocar palavras no figurino”, recorda a artista, que ressalta sua conexão com a pintura, costura e o bordado.

Após uma residência artística no Equador, onde a temática era HIV, a artista fez algumas performances por lá e deu início a sua pesquisa chamada “CURA”, uma série de performances, textos e obras que falam sobre seu viver com HIV e suas soluções.”Foi um caminho que eu junto até hoje: comunicação com trabalhos de lambe”, conta Micaela. 

Ferramenta política

Para a artista, “ser um corpo negro, feminino automaticamente já te torna um ser político”, pois reflete a persistência de validar e se validada a todo momento. “No contexto do racismo, machismo dessa sociedade, sou um corpo que atravesso isso diariamente, um corpo assim não tem nem opção de não ser político”, afirma.

Micaela acredita que existe uma ilusão sobre o quanto a população preta ressignifica processos de dor associados ao fazer artístico. 

“Como eu traduzo a arte é sobre mim e não é sobre as violências. Eu vivo a violência, sou atropelada por isso a todo momento, então eu não vivo uma ressignificação, eu comunico porque eu vivo, porque eu sou, porque eu não deixo barato, porque eu sou artista, mas sem essa responsabilidade de ressignificar.”

Micaela Cyrino

Micaela aponta que sua arte não é para o outro, mas para si mesma. “A minha produção artística não tem haver com consertar o mundo, tem haver com me consertar, me encontrar. Não existe esse lugar de ressignificar, tem um negócio mais de digerir, traduzir pra mim e me comunicar a partir disso”, compartilha.  

Acesso à informação através da arte

A artista ressalta que a arte segue uma construção social, e que uma série de artistas que já morreram possibilitaram esse diálogo, “e eu acho que a arte tem esse papel de dialogar no indivíduo”, afirma. 

“Não é uma coisa de hoje pensar na epidemia de aids, é pensar 40 anos atrás, e os artistas também viviam com HIV, também morriam em decorrência da aids. Da mesma maneira que o assunto se renova clinicamente, socialmente ele também se renova com a arte”

Micaela Cyrino

Cyrino reforça que socialmente ainda existe um caminho longo para percorrer, pois considera que as informações sobre o tema não são amplamente disseminadas, e ainda existe o fator da sociedade ter um histórico de homofobia.

“Ainda se reproduz os padrões que foram construídos no início da epidemia [de aids], que é sobre culpabilização, discursos que não falam sobre responsabilidade, construção coletiva, entendendo como uma questão social. É colocado como algo que Deus enviou para castigar alguém que merece ser castigado”, pontua.

Além de ser um espaço de encontro consigo mesmo, o trabalho da educadora conversa com um público que ao se identificar com sua abordagem, encontra também um espaço de reflexão.

“A periferia não teria informação se não fosse criada por ela mesma. A gente tem hoje site do governo que tem informação, mas como que acessa isso? Como que chega na quebrada? Como que chega na mãe solo periférica? Como que chega na travesti adolescente? As ongs tomam muito mais conta disso que o governo”, reflete Micaela Cyrino. 

Além de produtora cultural, Cyrino também é educadora do núcleo de arte do Instituto Criar de TV, Cinema e Novas Mídias, e também vem atuando em espaços de debate para pautar sua trajetória e soropositividade.

Ela aponta a importância de falar sobre HIV fora do lugar de culpabilização, mas na perspectiva da construção de informação. “Um lugar de entendimento onde a gente possa falar sobre o HIV livremente sem ser atravessada, sem ser prejulgada, ou sem ter que ser a professora do HIV”.

“Falar sobre HIV e falar sobre direito, acesso à saúde integral, sobre prazer, amor, como a gente constrói outras narrativas. E somos nós mesmas pessoas soropositivas que vão estar na base dessa construção”, finaliza a artista.