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O limite do humor: como uma piada sobre meu cabelo afro me fez ter vergonha dele boa parte da vida

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Eu sou uma mulher negra de pele clara com cabelo cacheado – mal definido, com frizz e como, a gente diz lá em casa, “armado”. Eu nunca consegui cuidar do meu cabelo direito. Só sei que desde pequena ele precisava ficar “na régua”.

Lembro de alguns familiares perguntarem pra minha mãe porque eu e minha irmã estávamos sempre com o cabelo preso no estilo rabo de cavalo, daquele jeito que a gente sempre falava que “a vaca lambeu” na frente, de tão certinho, sem nenhum fio solto na frente.

O fato é que minha mãe não tinha tempo, condições e nem jeitos pra aprender a lidar com o nosso cabelo. Ela, com seu afro raiz, sempre deixava o seu curtinho, até que consegui um tempinho para o autocuidado, mas para alisá-lo, como alisa até hoje.

Mas uma piada me deixava sem saber o que era o que. E vinha de casa, do meu pai. E até hoje ele não entende como isso me impactou. A gente sabe como a afetividade – sempre no limite do limite – nos obriga, às vezes, a abrir mão da racionalidade racial quando todas as tentativas de explicações do que nos dói já foram esgotadas. 

“Cabelo ruim é igual bandido: ou tá preso ou tá armado” 

Entre preso e armado ficava o entendimento subjetivo de que era melhor estar preso. E prendia o cabelo. Não sabia como soltar. Quando soltei de fato, deixava a raiz o mais lisa que conseguia. Me recusava a alisar as pontas. Eu sempre achei os cachos bonitos. Mesmo eu tendo raiva deles às vezes, afinal, não sabia cuidar – se pá não sei até hoje – eu gostava. Eu nunca gostei do cabelo “lambido”, aquele liso em que não para nada.

Mas me rendi. A chapinha me acompanhou por boa parte da juventude. Depois de um tempo em que não conseguia parar para alisar o cabelo tendo que me dividir entre estudos e emprego, apareci na faculdade de cacho. Ironicamente, depois disso passei a ser questionada do porquê alisava o cabelo. O amigos não-negros acham o cabelo natural bonito.

Assumi o cacho de fato pouco antes de terminar a faculdade. Em casa a situação era a mesma, meu pai dizia que estava feio, pra eu voltar a alisar. No tom pejorativo criticava dizendo que “o cabelo estava todo armado”. Pisei firme, disse que ele não poderia dizer mais aquilo, que eu me sentia bonita do jeito que estava.

Obviamente, com o tempo aprendi a cuidar, mas mais do que isso, aprendi a amar meu cabelo. Hoje meu pai o elogia, diz que do jeito que eu deixo fica bonito. Às vezes, do nada, quando ele me vê, solta um “nossa, como seu cabelo tá bonito”.

Tem muitas outras “piadas” irresponsáveis que ainda estão lá, no dia a dia. Mas esta do cabelo eu posso dizer que venci com ele. Ela nunca mais fez morada entre nossas trocas.

Em tempos em que questionamos o limite do humor e a afetividade de quem transmite, que a gente possa de fato refletir e praticar a responsabilidade das palavras, mesmo as que tem o tom de sátira. 

Palavra é palavra e, como dizem os mais velhos – e religiosos – palavra tem poder. 

Mulheres criam centro de memória para impedir o apagamento histórico de moradores de Perus

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Com o intuito de resgatar e manter vivas as memórias de movimentos sociais e moradores do território de Perus, periferia da zona noroeste de São Paulo, um grupo de mulheres se uniu para construir o Centro de Memória Queixadas Sebastião Silva de Souza, iniciativa que está colocando o bairro no mapa das luta por direitos humanos no Brasil.

Uma das fundadoras do Centro de Memórias Queixadas é a jornalista Sheila Moreira. Ela conta que o sonho de construir o projeto se tornou realidade após a conquista de um edital de cultura. “Em 2019 fomos contemplados com o Fomento à Cultura das Periferias, para começar o projeto em 2020”, relembra.

Assinada em 2016, pelo então prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT) e atual ministro da economia no governo Lula (PT), a Lei de Fomento à Cultura das Periferias é uma política pública administrada e executada pela Secretaria Municipal de Cultura, construída a muitas mãos por coletivos, artistas independentes e ativistas culturais que integram o Movimento Cultural das Periferias.

“Meu avô era um Queixada”

Sheila Moreira, co-fundadora do Centro de Memórias Queixadas
No canto direito da imagem, Sheila Moreira percorre os totens da Exposição Museu de Rua, organizada pelo Centro de Memórias Queixadas. (Foto: Caroline Brandão)
No canto direito da imagem, Sheila Moreira percorre os totens da Exposição Museu de Rua, organizada pelo Centro de Memórias Queixadas. (Foto: Caroline Brandão)

Com o apoio do edital, a estrutura do projeto conta com acervos de fotos, vídeos, documentos e depoimentos de pessoas importantes para a preservação da memória do bairro.

Uma das principais histórias que marcam a construção do Centro de Memória Queixadas é o resgate de documentos históricos sobre a trajetória de vida dos trabalhadores da Fábrica de Cimento Portland, onde aconteceu a mais longa greve sindical do Brasil, entre 1962 e 1969, período que aconteceu a ditadura militar no Brasil.

“Era um sonho para muitos que o Centro de Memórias fosse dentro da fábrica de cimento, mas ela ainda pertence à família Abdalla, ou seja, é uma propriedade privada”, explica Sheila, que também é moradora de Perus, e é neta de Sebastião Silva, morador que dá nome ao Centro de Memória.

“A gente acredita que precisa pegar de volta nossas narrativas”

Sheila Moreira, jornalista e moradora de Perus

“Meu avô era um Queixada e o Centro de Memórias leva o nome dele, mas ele não chegou a conhecer o espaço”, complementa a jornalista. Sebastião Silva de Souza, o avô de Sheila, foi um dos operários grevistas da Fábrica de Cimento Portland, que ficaram conhecidos como Queixadas. Ele articulou a participação de outros funcionários para aderir a greve e lutar por melhores direitos trabalhistas. 

Queixada, o apelido dado aos operários grevistas é o nome de um porco do mato que anda em bando, fazendo um barulho com o queixo quando estão bravos. O nome Queixada foi levantado no contexto da greve, onde durante uma assembleia alguém disse que os operários se pareciam com o animal justamente por ser forte em bando. Os trabalhadores que não aderiram à greve eram chamados de pelegos. 

Bairro educador 

A ex-prefeita de São Paulo, Luiza Erundina, já visitou o Centro de Memórias Queixadas, que está localizado em um biblioteca pública de Perus. (Foto: Caroline Brandão)
A ex-prefeita de São Paulo, Luiza Erundina, já visitou o Centro de Memórias Queixadas, que está localizado em um biblioteca pública de Perus. (Foto: Caroline Brandão)

A inauguração do espaço só aconteceu em 2022, por conta da pandemia, que gerou um atraso no processo de coleta de materiais históricos e também na construção da estrutura física, que serviria para armazenar o acervo de fotos, exposições, vídeos e documentos de forma apropriada. No entanto, esse processo serviu para aproximar o Centro de Memória de espaços públicos de educação e incentivo à leitura no distrito de Perus.

O Centro de Memórias Queixada Sebastião Silva de Souza foi inaugurado em março de 2022 e está localizado dentro da biblioteca pública Padre José de Anchieta, no bairro de Perus, e propõe atividades e debates para crianças, jovens e adultos.

Atualmente, o projeto está desenvolvendo um jogo de tabuleiro que conta a história do bairro, para alunos do ensino fundamental I, que impacta crianças de 6 a 10 anos, que cursam da primeira à quinta série de escolas públicas.

“A gente acredita que precisa pegar de volta nossas narrativas, tem pessoas aí contando nossa história e temos que ter certeza que isso está certo.”, finaliza Sheila, apontando a importância de apresentar para as crianças o contexto histórico do bairro onde elas vivem. 

Família tradicional brasileira: a quem isso serve? #08

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A ideia de um padrão familiar apaga muitos tipos de experiências e de contextos. Porque é sempre bom lembrar que os padrões não têm a função de contemplar todos. E aí imagina quem fica de fora dessa narrativa.

No papo sobre a “família tradicional brasileira”, desenrolamos a ideia de família a partir da visão de quem é da quebrada e batemos um papo sobre as desigualdades por trás desse discurso. Nossa troca foi com a poeta e agente cultural Nina Barbosa, e com a Simony dos Anjos que é cientista social e integrante da Rede de Mulheres Evangélicas.

O Cena Rápida tem episódios novos quinzenalmente, sempre às quartas, disponivel gratuitamente no Google PodcastsSpotify e Youtube.

Ficha técnica:
Roteiro, apresentação e entrevistas – Evelyn Vilhena
Distribuição – Samara da Silva e Thais Siqueira
Produção audiovisual – Pedro Oliveira
Foto da arte – DiCampana Foto Coletivo
Identidade visual – Flávia Lopes
Vinheta e edição – Jonnas Rosa

Um salve, manas!

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No mês de março comemoramos o dia internacional das mulheres, já já, em maio, o dia das mães. O que nos leva a diversas questões e pensamentos.

Eu como mãe de duas meninas, queria hoje trazer para vocês essa visão: quantas mães por aí não conseguem trabalhar por não ter com quem deixar seus filhos, ter alguém que cuide, zele, que elas confiem que poderão deixar.

Além disso, tem a questão financeira de conseguir recursos para poder pagar para alguém cuidar de nossos filhos.

Foto: Juh na Várzea

Ser mulher é tão difícil. Trabalhar fora, cuidar dos filhos, tentar estudar, curtir e fazer algo que ama, é todo dia uma luta bizarra para quebrar fronteiras que a todo instante tentam nos parar.

Manas, um salve aqui para todas que estão nesse corre incessante, vocês são mais que incríveis!

Nós vamos pra cima do problema, na luta real, aquela que ninguém vê, mas adora julgar.

Se eles soubessem os fardos diários que carregamos pensariam duas vezes antes de quererem falar algo.

Que possamos alcançar nossos objetivos sem tanto se culpar, é isso que desejo a nós.

Tamo juntas , Manas!

Territórios em disputa: proteção de vidas e saberes quilombolas #07

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Nesse episódio falamos sobre a importância das comunidades quilombolas para proteção de vidas, de histórias e enfrentamento a discursos que colaboram para que esses territórios sejam invisibilizados e desprotegidos.

São muitos interesses envolvidos na visão de quem enxerga a terra como mercadoria. Para essa conversa, desenrolamos um papo com o Raimundo Quilombo da TV Quilombo e a Vercilene Dias, coordenadora jurídica da Conaq.

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Roteiro, apresentação e entrevistas – Evelyn Vilhena
Distribuição – Samara da Silva, Pedro Oliveira e Thais Siqueira
Identidade visual – Flávia Lopes
Vinheta e edição – Jonnas Rosa

O futuro é agora: registro de memórias reais na perspectiva indígena #06

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Já pensou quais seriam nossas memórias coletivas se desde pequenos, ao longo dos séculos, a história oficial que aprendemos tivesse sido registrada e contada através de vozes indígenas, negras, lgbts? 

É sobre esse registro de memórias e construção de narrativas reais sobre os povos indígenas que conversamos com o ⁠Anápuàka Muniz Tupinambá Hã hã hãe⁠, criador da ⁠Rádio Yandê⁠, e com a ⁠Daiara Tukano⁠, que é artista e pós graduada em direitos humanos.

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Racismo ambiental: Uma luta que não é de hoje #05

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Nesse episódio nossa conversa é sobre um assunto que tem sido discutido por muitas pessoas, mas que na prática é vivenciado e afeta diretamente a vida de quem está nas quebradas e em territórios vulneráveis: o racismo ambiental. Aqui o objetivo é contar direto por quem vivencia e elabora. Até porque esse é um termo que se tornou frequente, mas já é pauta e parte da atuação dos movimentos sociais muito antes.

Para desenrolar essa ideia conversamos com o Quintino Viana, liderança comunitária na Brasilândia, que traz um olhar sobre as mobilizações históricas no território em busca de diminuir os impactos da falta de políticas públicas. Também com a Gabriela Alves, cientista e urbanista social, que contextualiza sobre como, não por acaso, essa luta atravessa determinados corpos.

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Mulheres em cena – potência e protagonismo #04

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Nesse episódio juntamos duas coisas: a ressaca do carnaval e o mês que se comemora o dia internacional das mulheres. 

Contamos um pouco da trajetória da sambista Raquel Tobias e com a participação da Alessandra Tavares, que é antropóloga, pesquisadora e atuante no movimento de mulheres da zona sul de São Paulo, falamos sobre como as mulheres são linha de frente de várias conquistas. Mas a que custo, não é mesmo!?

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Roteiro, apresentação e entrevistas – Evelyn Vilhena
Distribuição – Samara da Silva e Thais Siqueira
Identidade visual – Flávia Lopes
Vinheta e edição – Jonnas Rosa

Mulheres em campo no futebol de várzea #03

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Nesse episódio, nossa conversa é sobre um futebol que diferente do masculino, raramente é mencionado. E esse papo vai rolar a partir de dois recortes: mulheres e várzea.

Seja na várzea ou nos times profissionais, o futebol femino ainda tem pouquíssima visibilidade se comparado ao masculino. E aí você já imagina outros recortes como mulheres indígenas, lgbts, enfim.

Mas é com a habilidade de quem, infelizmente, tem que lidar diariamente com as desigualdades e preconceito, que essas mulheres têm colocado o time em campo.

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Ficha técnica:
Roteiro – Evelyn Vilhena, Flávia Lopes, Ronaldo Matos e Thais Siqueira
Apresentação e entrevistas – Evelyn Vilhena
Identidade visual – Flávia Lopes
Distribuição – Samara da Silva e Thaís Siqueira
Vinheta e edição – Jonnas Rosa

Autocuidado: a importância de olhar para si #02

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Nosso convite nesse episódio é para falarmos sobre práticas de autocuidado pensando na população periférica. Muitas vezes atolados nos b.o’s do dia a dia a gente não consegue parar e pensar que nosso corpo e mente precisam ser cuidados.

E isso também é ato um político, viu. Corpos negros, lgbts, perifericos tendo a possibilidade de olharem para si como sujeitos que merecem descanso e cuidado. Afinal, mesmo que a vida tente nos encaixar nisso, a gente não é máquina, né!?

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Ficha técnica:
Roteiro – Evelyn Vilhena, Flávia Lopes, Ronaldo Matos e Thais Siqueira
Apresentação e entrevistas – Evelyn Vilhena
Identidade visual – Flávia Lopes
Distribuição – Samara da Silva e Thaís Siqueira
Vinheta e edição – Jonnas Rosa