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Espetáculo infantil “Quizumba” retrata artistas negros que abriram os caminhos do circo

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 Destacando a presença da negritude na arte circense brasileira, o espetáculo tem apresentações gratuitas em São Paulo e São José do Rio Pardo.

Em nova temporada, agora com a Indômita Cia de Circo e Teatro, o espetáculo circense Quizumba será apresentado em novembro no Sesc Bom Retiro e na Fábrica de Expressão, na cidade de São José do Rio Pardo, interior de São Paulo. De forma lúdica e poética, o espetáculo dialoga com crianças e adultos, onde apresenta um caminho em encontro à ancestralidade e aos que vieram antes.

Ursa Maior arma uma Quizumba junto com Solange, sua capivara de estimação, trazendo para a cena números de palhaçaria, manipulação de bonecos e músicas, com magia, mistério e eventos sobrenaturais que falam sobre a importância da memória e da ancestralidade na formação de referencial, pertencimento e autoestima do indivíduo em sua infância.

“Quando eu era criança, eu gostava muito de ir ao circo, mas eu tinha muito medo da exposição que o palhaço me podia causar. Lembro que as crianças negras, como eu, eram alvos dos palhaços, dos circos pequenos de bairro. Ser uma palhaça negra, estar em cena, conversando com crianças negras, dialogando com a infância negra, me trás essa possibilidade de usar o humor não de forma opressora, mas de maneira libertadora”

Loi Lima, palhaça

Loi Lima, pesquisa e desenvolve esse espetáculo desde 2017, em busca do fortalecimento de uma infância preta emancipadora e de uma infância branca antirracista.

O convite é também um mergulho nos números autorais da artista Loi Lima, que protagoniza a palhaça Ursa Maior, que ainda relembra a trajetória de quatro artistas negros do riso importantes para a história do circo brasileiro, mas que sofrem com o apagamento no Brasil: Benjamin de Oliveira, Maria Eliza Alves, João Alves e Marina de Oliveira.

Serviço 

Apresentações Quizumba
Entrada gratuita
Classificação: Livre
Duração: 50 minutos

Sesc Bom Retiro: 02/11 – 16h30
Endereço: Alameda Nothmann, 185 – Campos Elíseos, São Paulo – SP, 01216-000

Fábrica de Expressão: 11/11 – 19h30
Endereço: Rua Pedro Natálio Lorenzetti, 286 – São José do Rio Pardo (SP)

Monteiro Lopes e a tradição democrática do voto negro

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“Vai ficar tudo preto”, pouco mais de 100 anos, isso soa como uma profecia a ser cumprida.

Se há um aspecto radical a ser destacado do processo da disputa de eleições democráticas, é o multi-pluralismo partidário. Entretanto, esse aspecto não torna em si o processo livre da presença de mecanismos discriminatórios.

É ao olhar esse percurso da consolidação da democracia brasileira que nos deparamos com conflitos intensos pela criação de formas violentas e elitistas da direção do futuro de organização política do Estado e do governo brasileiro.

É justamente essa trajetória do significado da participação democrática da disputa pelo poder que aproxima o passado autoritário com a banalidade do mal do presente.

A nossa história republicana é marcada por um violento percurso de golpes e fraudes na participação integral da sociedade civil no processo eleitoral, seja no acesso ao sufrágio universal (o voto) ou no acesso à disputa de cargos políticos.

Monteiro Lopes foi o primeiro Deputado Federal negro eleito na história republicana do Brasil, em 1909. Não apenas negro, mas que tinha a questão racial e trabalhista como parte prioritaria de sua campanha e de sua trajetória de luta política.

O que o torna tão especial não é apenas o fato de ser o primeiro negro eleito neste cargo, mas o conjunto de sua trajetória. Também não é apenas a exceção que confirma a regra.

Nascido em 11 de janeiro de 1867, em Pernambuco, Monteiro Lopes era filho de pai e mãe negros ex-escravizados e operários, Jeronymo da Motta Monteiro Lopes e de Maria Egiphicíaca de Paula Lopes.

No ano de 1885, apenas 3 anos antes da abolição, teve, felizmente, a oportunidade de ingressar no curso de Ciências Jurídicas e Sociais na Faculdade de Direito de Recife. A luta abolicionista marcou sua trajetória em defesa dos direitos e justiça para “pessoas de cor” e oprimidos na sociedade brasileira.

Tornou-se bacharel em 1889, 1 ano após a abolição e apenas 14 dias depois da proclamação da república, que viria a ser parte importante de sua vida.

Sua trajetória é tão significativa que poderia ilustrar qualquer obra ficcional de modo brilhante. Superando expectativas e obstáculos da sociedade de sua época, Lopes teve um currículo invejável e alcançou notoriedade por onde passou.

Ao sair de Pernambuco se estabelece na cidade de Manaus (AM), e foi cogitado para tornar-se chefe de polícia, mas não assume o cargo, o que não se sabe ao certo o motivo, mas se havia divergências de natureza política.

Assumiu o cago de Promotor Público e logo depois de Juiz de Direito. De pele escura, sua presença era motivo de incômodo, buscando novos rumos, vai para cidade do Rio de Janeiro (RJ), em 1894.

Lopes, abre um escritório na cidade, atua como advogado para “pessoas de cor” e trabalhadores. Passou a ser chamado de “Advogado do povo”, “Paladino dos operários”, entre outras alcunhas, é reconhecido como liderança por organizações operárias e grupos de organizações negras.

A política institucional parece um atrativo natural da luta por justiça social. Se isso é de certa forma verdade, não seria diferente para este homem. Antes de tornar-se deputado, ele havia sido eleito para um cargo equivalente a vereador na cidade do Rio de Janeiro.

É justamente nesse momento em que ele decide partir para a vida pública e acontecem movimentações racistas para degradar a sua imagem simplesmente pelo fato dele ser negro, mas principalmente por ser “muito negro”, “negro demais para vida pública”.

Há certo paralelismo conceitual do problema da primeira república e o voto com a eleição deste ano. No caso, na tentativa da campanha bolsonarista “provar um processo justo” de contagem de votos, buscaram fraudar o processo eleitoral.

Mas é claro que aquele período é marcado por outras formas de fraude – e aqui chegamos a grande façanha de Lopes.

Haviam diversas restrições ao voto, que era direito apenas a homens a partir dos 21 anos, pessoas analfabetas também estavam excluídas e o voto não era secreto, o que abria margem para coação e violência política na auditoria dos votos.

Os votos eram barganhados entre as elites que participavam da disputa eleitoral e os coronéis regionais coagiam eleitores através de violência e troca de favores (o voto de cabresto), e mesmo no preenchimento de cédulas com nomes de pessoas mortas, anafabetos, crianças, etc., pelos “mesários” das seções eleitorais.

Havia também uma instância intermediária, caso o plano de eleger os candidatos da elite não funcionasse. A Comissão Verificadora de Poderes, que tinha o poder de fazer recontagem dos votos e impugnar candidaturas, num cenário em que o voto não é secreto e em cédulas que precisavam ser preenchidas por cada eleitor.

As fraudes formavam um “kit eleitoral” de sucesso infalível para a elite. Mas naquele ano de 1909, Monteiro Lopes despontava como um grande mobilizador e liderança política rumo ao congresso.

A capital da república do início do século XX estava marcada por um crescimento demográfico gigante nos últimos 40 anos daquele período (1870-1910).

A formação de favelas, a falta de absorção do mercado de trabalho para negros (migrantes) e imigrantes, problemas de saneamento básico, crises de saúde pública com epidemias e, sobretudo, das movimentações de classe, nascem a ânsia por representação e mudanças políticas que são identificadas no “Advogado do povo”.

O “Advogado do povo”, o “Paladino dos operários”, provoca o medo das elites e logo recebe diversos ataques racistas da imprensa.

“Vai ficar tudo preto”, pouco mais de 100 anos, isso soa como uma profecia a ser cumprida. 

Houve tentativas de fechar zonas eleitorais, roubo de urnas e segundo Domingues, nem Monteiro Lopes esperava o resultado que teve na eleição. Teve 2.337 votos, sendo o quinto candidato mais votado do Rio de Janeiro, ainda assim, restava passar pela “comissão de fraude”.

Sua candidatura foi impugnada, entretanto, como era de se esperar. Mas ele teve o apoio de jornais da época, organizações civis de classe e de “homens de cor”, e figuras como Rui Barbosa e Pinheiro Machado. Não só assumiu seu mandato, mas reafirmou na câmara que ele era a afirmação do povo negro e celebrou sua vitória no dia 13 de maio.

Não é o objetivo deste texto discutir cronologicamente a história do voto negro e trazer dados estátiscos, mas apontar rumos a partir da lição histórica de personagens resilientes como Monteiro Lopes.

A maioria expressiva de votos de negros, dos mais pobres e da periferia em geral, em Lula no cenário nacional e em Haddad no estado de São Paulo, apontam que há um compromisso do perfil desses eleitores com pautas sociais e democráticas, não apenas com “programas assistencialistas”, mas com a busca de dignidade sem a violência como a própria história revela.

Entretanto, o Brasil precisa de protagonistas na política como Monteiro Lopes, Antonieta de Barros, Carlos Marighella, Minervino de Oliveira, Benedito Cintra, Abdias do Nascimento, Lélia Gonzales, Luiza Helena de Barros, entre tantas outras para assumir o direito também de disputar o futuro do país na disputa para presidência nos grandes partidos e quebrar o ciclo com a tradição de homens e mulheres brancas para o cargo.

Precisamos de mais Léo Péricles, Vera Lúcia, Douglas Belchior, de mulheres negras como na Bancada Femista eleita para Alesp, de Erika Hilton, Taliria Petrone, eleitas para o congresso. Precisamos de lutadores como Renato Freitas eleito deputado para Alep.

O projeto de Bolsonaro não representa apenas um projeto neo-fascista com apelo de intensificação do escárnio e da glamourização da violência, mas, sim, a continuidade do projeto fundamentalista religioso, militar e elitista nascido da escravidão e que fundou a república.

A mentalidade escravagista não é apenas o cerceamento da liberdade e o trabalho forçado, mas ela se realiza no consentimento da violência, do ódio e da destruição do outro como método. 

Machado de Assis, ao ironizar as movimentações pelo sufrágio universal que proibia analfabetos de votar e culminou na Lei Saraiva (1881), diz:

“70% dos cidadãos votam do mesmo modo que respiram: sem saber porquê nem o quê. Votam como vão à festa da Penha – por divertimento. A Constituição é para eles uma coisa inteiramente desconhecida. Estão prontos para tudo: uma revolução ou um golpe de Estado”.

Machado de Assis.

Não é o futuro que está em jogo nesses últimos anos, é um passado vivo e pujante. A democracia é um refugiu utópico que ainda não vive plena e é surrada e sabotada pela república oligárquica, elitista e militarizada brasileira.

Contudo, a história de Monteiro Lopes, como de tantos personagens da luta democrática por justiça social e econômica, nos colocam de frente para a questão de Machado. Devemos estar sempre prontos para tudo.

Vai ter milícia 011?

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Tarcísio vai trazer a milícia para São Paulo? Se isso acontecer, o que muda na nossa vida? Como é que vai ser quando a milícia encontrar o PCC?

Se você quiser uma resposta do tamanho de um tuíte, já pode parar por aqui. Esse buraco é fundo. Precisa de reflexão. Principalmente de história.

A história da milícia fluminense numa casca de noz

Não é por acaso que respeitados estudiosos da ditadura a chamam de ditadura empresarial-militar.

Os militares diretamente responsáveis pelas torturas e perseguições às organizações de esquerda eram elite da tropa. E recebiam mais. Não só do exército como do empresariado que queria os comunistas e seus familiares mortos e torturados.

Cada militante preso valia um prêmio aos agentes. Eles reprimiam e enricavam. Mas a ditadura foi acabando e os direitos políticos voltando… Onde os torturadores foram investir seu dinheiro sujo?

Comandando o jogo do bicho no Errejota

Paulo Malhães, Coronel Guimarães e outros vermes de triste fim dividiram o Rio de Janeiro no melhor estilo Tratado de Tordesilhas: daqui pra cá é meu, daqui pra lá é seu. Da zona sul ao fundão da Baixada Fluminense foi tudo mapeado. Cada região tinha seu barão do jogo do bicho.

O dinheiro jorrava. Os milicos, mal vistos àquela época de redemocratização, tinham achado seu novo lugar na selva. Lavavam dinheiro em postos de gasolina, no carnaval, em tudo que tivesse a ver com sua região.

Mas era muito dinheiro. Muito crime. Com seus reinos alocados nas quebradas do Rio de Janeiro, nossos vermes de triste fim encontraram novos inimigos. Cometeram novos assassinatos e torturas. E como era caro manter seu próprio grupo de extermínio.

Surgiu uma solução! Uma solução econômica. Em vez de manter cada um seu grupo de extermínio, por que não contratar um Escritório do Crime com PMs fora de serviço?

É a startup mais maldita do RJ. O Escritório do Crime se tornou escola de miliciano, “gerindo” territórios com experiência em tortura e assassinato, amizade com a PM e simpatia dos barões da contravenção.

Em nome da segurança, a milícia escraviza comunidades financeiramente e sequestra a máquina pública. Não é fácil ser oposição na Baixada Fluminense ou na zona norte carioca.

Vai ter milícia 011?

Sempre teve, ainda que em escala bem menor. Mas com outra história: os “pés-de-pato” (assassinos de aluguel) dos anos 80, o malufismo…

A verdade é que o crime de SP é muito mais profissional que o fluminense. Gere territórios com grandes acordos com o Estado, possui tribunais próprios que trabalham a todo vapor, coordena uma das maiores rotas do tráfico do planeta.

Mas a forma de agir das milícias parece já ter chegado com Tarcísio: o assassinato em Paraisópolis, seguido de queima de arquivo confessada pelo candidato bolsonarista, é prova disso.

O governador de SP tem 19 mil cargos de confiança. É fato que o forasteiro Tarcísio não possui equipe paulista para isso. Ele importará funcionários. Qual setor do Estado as milícias cariocas, ligadas a sangue com Bolsonaro, irão querer ocupar num eventual governo Tarcísio?

A ver.

(Este texto foi inspirado e consultou a obra “Dos Porões da Repressão para os Subterrâneos da Contravenção”, com autoria de Aloy Jupiara e Chico Otávio. Mas possíveis erros historiográficos ficam por conta do autor do texto).

“Neste poema eu trago a realidade”, diz metalúrgico autor de poesias que criticam o capitalismo

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Inspirado no rapper Tupac Shakur e na série ‘Um Maluco no Pedaço’, o metalúrgico Anderson Lemes usou o pseudônimo de um personagem para começar a assinar as primeiras poesias na época do Orkut.

Anderson Lemes dos Santos, é morador da Vila Nogueira, bairro de Diadema, região do grande ABC. Ele conta que começou a ter consciência sobre como a sua poesia tocava as pessoas em meados dos anos 2000, durante o tempo que passava nas redes sociais daquela época. 

“Colava com os camaradas na lan house do bairro, eles queriam mandar um scrap pras minas e me pediam pra escrever umas paradas da hora. Nunca mandava os poemas em meu nome, tinha um pouco de vergonha, então usava um pseudônimo: Rafael do gueto”, relembra o escritor.

O personagem faz parte da série americana Um Maluco no Pedaço, que fazia muito sucesso naquela época e conta a história de um jovem, morador de um bairro periférico da Filadélfia que se muda para a casa dos tios ricos, no bairro nobre de Bel Air. Com a mudança, o garoto precisa se adaptar ao novo estilo de vida.

“O Will (personagem de Will Smith no série) queria conquistar uma gatinha e meteu essa história de poeta, dizendo que conhecia o tal ” Rafael do gueto, mas o cara não foi ao encontro, era uma mera invenção pra impressionar a menina, então o mordomo Jeffrey se passou pelo dito cujo – acabei usando o Rafael do Gueto com o mesmo propósito”, conta o poeta, enquanto sorri desta lembrança.

Quem não viveu o auge do Orkut, a rede social mais popular dos anos 2000, não se lembra, mas o Scrap era um mural de recados dedicados a textos mais curtos. O espaço também era utilizado com o propósito de flertar com o envio de recados apaixonados entre os jovens.Diferentemente dos primeiros versos, os textos de Anderson são inspirados em questões sociais e com reflexões sobre o cotidiano. Segundo ele, a mudança de perspectiva aconteceu a partir do contato com o RAP, com destaque para o rapper americano Tupac.

O metalúrgico Anderson Lemes é morador da Vila Nogueira, bairro de Diadema, região do grande ABC. (Arquivo Pessoal)

“Esse cara me fez enxergar a poesia por outro ângulo. Me deu um teor mais crítico, mais Thug Life (vida loca). Mesmo não entendendo muito bem o idioma, sua maneira de mesclar as palavras, a melodia e também seu ativismo me incentivou a escrever sobre a realidade”

Anderson é escritor e metalúrgico.

Este é um trecho do poema “Voz do Brasil”, que faz alusão ao jornal de mesmo nome veiculado em emissoras de rádio com notícias sobre o cenário político e econômico do país.

“Neste poema eu inverto os valores nacionalistas e trago a realidade que vivemos. O mais recente publicado foi Corações de Gaiolas, uma crítica ao evento do 7 de setembro, que trouxe o coração de Dom Pedro para o Brasil”, conta.

Anderson publica os poemas no seu perfil de Instagram Rythmandpoesia.

Sobre o processo de escrita, Anderson afirma que é algo bem simples. Algumas poesias, segundo ele, nascem em forma de música e com o celular na mão anota tudo no bloco de notas.

“Gosto de usar a fonte Osvald itálico, de cor branca e fundo preto. Faço a correção ortográfica através de um app e tá pronto”, revela com ar de satisfação.

Trabalhando no turno da noite, ele conta que o silêncio da fábrica e da cidade favorecem o trabalho da mente: “Fiz muitos versos nessa época, no meu horário de janta e até mesmo no horário de trampo. Colocava a máquina pra rodar e marcha”, diz.

Para ele, viver da arte e de escrever poesias é algo ainda distante. A função que exerce como metalúrgico garante o sustento da casa, da esposa e dos três filhos, mas diante disso alega que está feliz com as experiências que a escrita tem proporcionado. 

“Não vou deixar uma fortuna após a morte, então queria deixar algo mais valioso: meus pensamentos para a posteridade. Se futuramente meu trabalho resultar em alguma renda será muito bem vinda, com certeza!”, afirma.

Anderson sempre acompanha as notícias distribuídas pelo sindicato dos metalúrgicos do ABC, para estar inteirado dos seus direitos como trabalhador. Em novembro de 2021, a Tribuna Metalúrgica criou a seção poemas do ABC – sabendo disso, Anderson entrou em contato com a Redação e enviou o primeiro texto intitulado “A cor da minha cor”, que posteriormente, foi publicado no site.

“Recebo muito apoio dos caras do trabalho, eles também me chamam de Mandela – por que passei um bom tempo lá lendo a autobiografia do ex-presidente da África do Sul. Isso me motiva bastante! Espero ser essa referência dentro e fora do chão de fábrica”, diz.

A atitude de Anderson se tornou um fato marcante que impactou o ambiente de trabalho e despertou a admiração dos colegas e de líderes sindicais.

“Quando publiquei meu primeiro poema na Tribuna Metalúrgica, um dos representantes da Comissão Sindical da empresa saiu pelos corredores divulgando meu trabalho. Achei legal pra caramba! No outro dia os caras estavam me chamando de poeta”, finaliza.

CEU localizado no Jardim Eledy inaugura sala de leitura em homenagem a Dona Edite

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Nos meses de agosto e setembro, aconteceu a IX Semana da Literatura do CEU Cantos do Amanhecer, e entre as atividades, o espaço inaugurou a sala de leitura em homenagem à poetisa Dona Edite.  

Sala de leitura do CEU Cantos do Amanhecer homenageia Dona Edite. Foto: Patricia Santos.

Em 2022, o CEU Cantos dos Amanhecer, localizado no bairro Jardim Eledy, distrito do Capão Redondo, zona sul de São Paulo, realizou a reinauguração do seu espaço de leitura. Com o nome “Sala de Leitura Dona Edite”, o local homenageia a poetisa que é referência na cena literária periférica.

A reinauguração do espaço, que antes não possuía um nome específico, foi uma sugestão da professora Miriam Amorim, moradora do distrito do Campo Limpo, região sul de São Paulo, e responsável pela sala de leitura da unidade. Ela afirma que a ideia foi abraçada pelo núcleo organizador que esteve à frente das obras para melhoria da sala.

“Temos em nossa escola uma participação muito grande das meninas negras nas atividades literárias. Então pensei que os alunos precisavam conhecer a história e participação da Dona Edite na comunidade”, conta a professora. 

Para ela é importante que as homenagens a essas personalidades sejam feitas ainda em vida, valorizando a história, atuação e a poesia periférica.

Apesar de todas as dificuldades vividas por ela enquanto mulher negra, da periferia e deficiente visual, ela encontrou na literatura, na poesia um propósito de vida”

observa a professora Miriam.

Durante a semana de inauguração da sala de leitura, os alunos do 8º e 9º ano tiveram a oportunidade de aprender sobre manifestações artísticas e poéticas no espaço, como sarau, slam, histórias em quadrinhos, cinema, entre outros. Os alunos também conheceram mais sobre a história da Dona Edite através do documentário “O Olhar de Edite”, dirigido pelo cineasta Daniel Fagundes, além de realizarem um sarau onde homenagearam a poetisa.

Professor Fábio na sala de leitura Dona Edite e a aluna Maria Dias, do 9º ano. Foto: Patricia Santos.

“A gente percebeu que quando trazíamos atividades com o slam e saraus para as escolas, era maior o número de meninas, inclusive com as escritas mais elaboradas, e em sua maioria meninas negras. Então nada mais justo que trazer as mulheres negras por meio da sua literatura para esse espaço”, comenta Fábio Roberto, professor de língua portuguesa e morador do Jardim Mitsutani, Campo Limpo, São Paulo.

 Referências que moram ao lado

Dona Edite recitando na Cooperifa,

Edite Marques da Silva, ou como é conhecida, Dona Edite, nasceu em Pirapora, cidade de Minas Gerais, chegou em São Paulo aos 19 anos, e hoje é moradora do bairro Figueira Grande. Desde que se mudou para São Paulo, sempre morou na região sul da cidade, e vive com sua irmã Zazá, que a acompanha em todos os lugares e também a auxilia, pois a poetisa perdeu a visão em decorrência da diabete.

Dona Edite é personalidade importante no Sarau da Cooperifa, evento que acontece toda terça-feira no Bar do Zé Batidão, no Jardim Guarujá, distrito do Jardim Ângela, um dos espaços em que começou sua trajetória na literatura. 

“Meu primeiro contato com a literatura foi quando eu percebi que cada dia eu enxergava menos e o médico disse que era questão de tempo até perder toda a visão. E na terapia que eu conheci a [Fundação] Dorina Nowill, lá tinha livro falado, comprei um [livro], um walkman e comecei a tentar aprender poesia”

conta Dona Edite, que logo de cara aprendeu o poema ‘Estas Mãos’ de Cora Coralina.

Quando perguntada sobre qual poesia mais gosta, ela gargalha e comenta que por causa dos diferentes momentos da sua vida, cada poesia tem um lugar diferente em seu coração, e que não consegue escolher só uma. “Mas a que mais me marcou foi mesmo essa da Cora Coralina, que foi a primeira que eu soube de cor”, diz.

Dona Edite é símbolo de força, luta e aprendizado dentro dos espaços literários, e a identificação com o bairro tornou essa relação de admiração mútua. Para ela, não existe lugar melhor para se morar.

“Eu amo toda essa região e toda a história aqui. Ainda mais na luta enquanto mulher negra. Aqui aprendi a consciência de ser cidadã e ter coragem pra enfrentar as correntes que nos prendem”, compartilha.

Presente no dia de inauguração da sala de leitura que leva seu nome, Dona Edite recitou algumas poesias para os alunos presentes. Ela acredita que a homenagem foi uma representação de respeito a sua história.

“Sinto que sou uma pessoa com capacidade de ajudar, mesmo precisando de ajuda o tempo todo e trazendo comigo as pessoas que precisam estar junto nessa luta contra o preconceito. Eu me sinto grandiosa e não sinto necessidade de curvar a nenhum sistema”, finaliza Dona Edite.

Nosso voto não é secreto: estamos ao lado do povo preto e periférico

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 A fome, o desemprego e o luto pelas vítimas da covid-19, não nos deixam ser coniventes com o projeto de morte do Bolsonaro e seus aliados.

Fernando Haddad e Lula I Foto: Elineudo Meira

 A eleição deste ano é uma das mais importantes do Brasil, desde o fim da ditadura militar e início da chamada democracia estabelecida em nosso país. Diante de toda conjuntura vivida nos últimos quatro anos, o Desenrola e Não Me Enrola apoia as candidaturas de Lula (PT) para presidente e Haddad (PT) para o governo de São Paulo.

No atual cenário, acreditamos que seus governos representam respeito à diversidade dos povos, das religiões, às demandas das populações minorizadas, principalmente, o respeito à democracia. 

Papo reto: a democracia, a liberdade e o direito de ir e vir, nunca chegaram para quem mora na quebrada. 

No entanto, desde o golpe de 2016, as coisas têm ficado bem piores. Ataques aos direitos dos trabalhadores, como a reforma trabalhista e previdenciária, congelamento dos investimentos em políticas públicas, e mais recentemente o total descaso com a população durante a pandemia de covid-19. Somado a isso, o aumento do desemprego e da fome que atinge o povo preto e periférico.

Mas diz aí, você sabe o que é um país laico?

É quando ocorre a separação entre Estado e Religião, na qual, o Estado não permite a interferência de correntes religiosas em assuntos estatais, e tão pouco, privilegia uma religião sobre as outras. Porém, na prática, não é isso que acontece no Brasil.

A bancada evangélica representa 20% das cadeiras e sua influência religiosa tem interferido na vida da população brasileira. O Brasil caminha para um lugar preocupante: seu futuro está sendo pautado a partir das questões religiosas, quando na verdade, deveriam ser pautadas por direitos, problemas sociais e econômicos do país.

Nos últimos debates, principalmente presidenciais, ficou evidente que as principais pautas e preocupações de determinadas candidaturas são as questões religiosas. Pautas e possíveis soluções para combater a falta de políticas públicas, com objetivo de diminuir as desigualdades sociais que o Brasil vem enfrentando não são externadas. Ao invés disso, acusações e xingamentos são os principais destaques.

Nesse contexto, entre tantas frentes a população continua sofrendo devido ao desemprego, saúde, moradia, e a economia do país que contribuiu para que voltássemos ao mapa da fome. 

 Por que não compactuamos com o atual governo?

Nos últimos anos, com ênfase no período da pandemia, a população brasileira viveu várias incertezas, assim como os demais países. Porém, dentro de toda a conjuntura pandêmica, não podemos esquecer das irresponsabilidades do governo do atual presidente Jair Bolsonaro (PL).

687 mil pessoas mortas pela covid-19, a resposta de Bolsonaro: “Não sou coveiro”. Ou ainda imitar as vítimas com insuficiência respiratória.  

 Durante seu governo, Bolsonaro desacreditou da pandemia comparando a uma “gripezinha”, espalhando fake news sobre o chamado kit covid ser a cura para a pandemia, interferiu no trabalho do Ministério da Saúde, além de criticar diversas medidas sanitárias estabelecidas.

Foram inúmeras famílias que perderam pessoas próximas. A maior parte das vítimas que morreram por essa doença residiam num CEP específico – os territórios periféricos, na qual, a maioria delas eram pessoas pretas.

Para além de todo cenário de descaso com a saúde, Bolsonaro frequentemente em suas falas diminui as mulheres, ataca jornalistas, indígenas e sua reeleição representa o ataque a uma democracia que há tempos tenta se fortalecer no país.

Diante disso, não podemos compactuar com esse governo, que desacredita da ciência, espalha notícias falsas, é a favor da liberação de armas, acredita na violência como solução, atua com intolerância religiosa, cria sigilo de 100 anos sobre as ações do seu mandato, colocando literalmente toda sujeira para debaixo do tapete.

Somos a favor de um governo que a população possa dialogar, que promova políticas públicas para reduzir as desigualdades sociais que afetam a população preta, periférica, indigena, lgbtqia+ e todas as maiorias minorizadas. Esse governo que acreditamos não está em Jair Bolsonaro presidente e Tarcísio de Freitas governador. 

“O povo preto sabe que tem algo errado”: pesquisadora explica impacto do racismo ambiental nas periferias

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Casa alagada, escassez de água e de saneamento, são só alguns exemplos de como o racismo ambiental está presente nas periferias muito antes de se tornar um tema amplamente falado nas rodas de debate. Moradores de periferias, negros e indígenas são algumas das populações que entendem e vivenciam na prática esse contexto social, que nos territórios marginalizados não é apenas uma análise, mas sim uma realidade.

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Atenta aos impactos sociais desse cenário no cotidiano da população negra e periférica, a integrante da Rede Quilombação, coletivo do movimento negro em São Paulo, Ana Sanches, pesquisa as desigualdades socioambientais e questões de raça, a partir da ótica do racismo ambiental. A doutoranda em Mudança Social e Participação Política pauta a sua atuação a partir da necessidade de ouvir as comunidades de terreiro e as mais diversas etnias.
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Em entrevista ao Desenrola, a pesquisadora aponta que é fundamental dar lugar para o povo dizer o que e quais são as reais necessidades e pautas que o representa, e a partir disso começar a construir propostas. Confira a entrevista completa com a pesquisadora.

Desenrola – O que é racismo ambiental no contexto das periferias?

Ana Sanches – É a água que não chega ou que chega em má qualidade e em pouca quantidade. É a casa alagando e desabando. É o esgoto a céu aberto. A falta de energia. É o lixo nos becos e nas vielas, é o ar, alimento e solo contaminado. É o despejo de famílias e destruição dos barracos sob a acusação de ilegalidade. É a ausência do Estado que não leva infraestrutura adequada para as quebradas ocupadas por população negra, indígena, pobre e é também a ausência desses grupos vulnerabilizados nos espaços de poder.

Desenrola – E o que é justiça climática também no contexto periférico?

Ana Sanches – É repensar o planejamento urbano de forma justa, popular e inclusiva, para que as pessoas tenham moradia digna, com água na torneira em e qualidade suficiente. É garantir segurança e dignidade da vida humana na produção e fornecimento de energia elétrica (pensando que a produção de energia ainda é fundamentalmente poluidora por conta da fonte de combustíveis fósseis), e que o fornecimento inadequado de energia ou sua ausência coloca a população em situação de risco. É também garantir a participação e poder da população nos espaços de decisão.

Desenrola – Você acredita que essas discussões e análises chegam até as periferias e seus moradores? Se sim, como? Se não, porquê?

Ana Sanches – Não chegam em todo lugar, há muitas periferias no mundo e no Brasil. A verdade é que o povo preto sabe que tem algo errado e sente, literalmente na pele, que há algo errado. Algo injusto que não bate, sabe?

Há saberes populares ainda pouco validados, principalmente no meio acadêmico e entre intelectuais brancos. Sempre digo que há mais de 500 anos nós e nossos ancestrais já sabíamos que vivíamos em uma situação dolorosa e violenta, porém, os conceitos como racismo e racismo ambiental ainda não haviam sido criados.

O que eu quero dizer é que precisamos saber ouvir os discursos que são construídos nas quebradas, pois o povão pode não estar falando uma linguagem técnica e conceitual, mas sabe, e muito bem, na prática, o que é o racismo ambiental. Sabe inclusive como melhorar seu território. Creio que os acadêmicos privilegiados da branquitude é que tem que aprender a ouvir o dialeto e os gritos de socorro e não chegar impondo o que é ou não um debate importante.

Desenrola – Como o racismo ambiental está afetando nesse momento homens, mulheres, crianças negras que dependem de recursos naturais do meio ambiente para sobreviver?

Ana Sanches – Às mudanças climáticas, os efeitos dos eventos extremos e as problemáticas de degradação ambiental já estão afetando algumas populações.

Por exemplo, pense na população ribeirinha, indígena, caiçara e ou quilombola que dependia de pescar no Rio Doce? Ou que entende em sua religiosidade o Rio como um ser, um Deus, algo sagrado? É uma violência material, que afeta a dignidade dessas populações de variadas formas. Em suas possibilidades de práticas religiosas e espirituais, em suas formas de alimentação e sua própria manifestação cultural e de vida.

Pessoas urbanizadas que não tem essa relação de dependência direta (pra comer e cultuar) e afetiva com os rios, não são afetadas da mesma forma.

Desenrola – Existe uma relação do setor privado com as mudanças climáticas? Se sim, como isso se dá?

Ana Sanches – Depende de qual setor privado estamos falando. Há grandes corporações e grandes empresas, algumas até de capital misto, na qual a ideia do lucro é a que prevalece. Eu diria que há uma grande relação entre capitalismo e mudanças climáticas, no sentido que não há sustentabilidade nessa lógica capitalista, na qual a exploração de recursos naturais e de pessoas é o que o mantém de pé.

Essa ideia do maior lucro possível, com menor gasto e que despreza a vida humana, mas principalmente daqueles considerados “não dignos ou descartáveis”, ou seja, as vidas negras e indígenas, é exatamente o nosso problema. É o racismo que sustenta o capitalismo e foi o que o tornou tão forte.

Claro que precisamos olhar com cuidado, pois há recortes de gênero aqui que também são importantes, afinal, se olharmos para mulheres negras, veremos a base da pirâmide.

Desenrola – Qual a importância de relacionar justiça climática, justiça racial e justiça territorial? Na prática, o que isso representa?

Ana Sanches – Pensando que a base das desigualdades na sociedade é uma desigualdade racial, de gênero e de classe, não temos como separar a justiça ambiental/climática do que pensamos como justiça e direitos humanos em uma sociedade.

O entendimento de dignidade e de humanidade que possuímos, é exatamente a que permite às desigualdades raciais, sociais e ambientais que vivemos. Portanto, quando falamos que não há democracia, enquanto houver racismo e machismo, é nesse sentido. Para haver qualquer tipo de justiça, é preciso antes de tudo enfrentar o que estrutura as injustiças e no nosso caso brasileiro, o racismo é a primeira coisa que precisa começar a ser combatida.

Este conteúdo foi produzido no âmbito do projeto Planeta Território, uma iniciativa da Território da Notícia com apoio do Instituto Clima e Sociedade para fomentar e distribuir informação de qualidade sobre a emergência climática, o contexto eleitoral e o impacto na população periférica por meio de totens digitais em estabelecimentos comerciais das periferias de São Paulo

Coalizão Negra Por Direitos fortalece voto antirracista nas periferias de SP

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Ação coordenada pela Coalizão Negra Por Direitos conseguiu espalhar 206 Comitês Antirracistas em diversas cidades e periferias do Estado de São Paulo durante o primeiro turno das eleições. 

Núcleo do Comitê Antirracista na periferia de Itanhaém, litoral sul de São Paulo. (Foto: Thiago Fernandes)

Na última quarta-feira (5) de outubro, a Coalizão Negra Por Direitos divulgou o balanço da campanha Quilombo nos Parlamentos, iniciativa que fomentou a visibilidade e a importância de eleger candidaturas de pessoas negras comprometidas com o combate ao racismo nas esferas de poder da política institucional. 

A nota divulgada pela organização afirma com base em dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que foram eleitos 26 parlamentares nas eleições do dia 2 de outubro, mas esse número de candidatos negros eleitos não indica avanços na representatividade no Poder Legislativo, já que o número de representantes do movimento negro permaneceu o mesmo, e deputados com longa trajetória de defesa de direitos da população negra não se reelegeram.

“Com o resultado da eleição no último domingo, o Senado, principalmente, tornou-se muito mais alinhado ao Bolsonarismo e à política de morte contra a população negra. Precisamos nos preparar para uma casa (Senado) mais violenta e menos receptiva às agendas voltadas para essa população”

Sheila de Carvalho, articuladora da Coalizão Negra Por Direitos e diretora política do Instituto de Referência Negra Peregum.

Além disso, a articuladora política da Coalizão Negra Por Direitos ressalta que o perfil político e racial do restante dos deputados e senadores eleitos, representa um cenário de forte resistência no Parlamento a propostas de avanço na defesa de direitos da população negra, indígena e mulheres.

A corrida para deputado estadual em São Paulo 

A Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (ALESP) será ocupada em 2023 pela candidatura coletiva Pretas, eleita com 106.781 mil votos. Liderada pela deputada estadual Mônica Seixas junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o mandato de mulheres negras das periferias se define como feminista e antirracista.

Em entrevista ao Desenrola, Seixas afirma: “eu gostaria que mulheres negras ocupassem a Assembleia Legislativa, é por isso que nesse projeto (Pretas), eu trago mulheres de outras periferias como Osasco, Itapevi, Barueri, Taboão da Serra e Litoral Paulista”, diz a deputada reeleita, conhecida por integrar em 2018 um dos primeiros mandatos coletivos eleitos na ALESP chamado Bancada Ativista.

A deputada estadual Monica Seixas integra a candidatura coletiva Pretas. (Reprodução YouTube)

A candidatura coletiva Pretas integra a plataforma Quilombo nos Parlamentos, uma iniciativa da Coalizão Negra Por Direitos, para facilitar o acesso do eleitor a informações de pessoas ligadas ao movimento negro que disputaram as eleições concorrendo a cargos para o Congresso Nacional e Assembleias Legislativas de todo o país.

Além da plataforma Quilombo nos Parlamentos, candidaturas negras que concorreram aos cargos eletivos nas eleições de 2022 também ganharam outro reforço importante na sua campanha: os Comitês Antirracistas.

Criado pela Coalizão Negra Por Direitos para combater o racismo em âmbito político-partidário, os comitês estimularam e apoiaram por meio de mobilizações feitas pelas redes sociais e nas ruas, mandatos que defendem em seus planos de governo a soberania de causas raciais com destaque para o direitos das mulheres e da população negra e pobre das periferias.

O ponto de partida para a criação dos Comitês, que abrangem todo o território nacional, se deu em 2020, momento em que a pandemia afetou e tirou principalmente a vida da população preta e pobre, que não pôde ficar em casa para se proteger – como mostram as imagens da transformação do Cemitério do Jd. São Luís, zona Sul de São Paulo, naquele ano. 

“A falta de compromisso por parte do Governo Federal com as vidas negras e pobres nos fez entender que é a nossa tarefa eleger candidatos comprometidos com a coletividade, contra o racismo, aquilombando os parlamentos para que não haja margem para o genocídio dessa população”

Aline Barbosa, organizadora do Comitê Antirracista do município de Embu das Artes, região metropolitana de São Paulo.

Atualmente existem 206 Comitês espalhados em todo o estado de São Paulo localizados em residências, associações, universidades, coletivos, entre outros espaços de movimento negro organizado. A metodologia de conscientização, segundo Aline, consiste no boca a boca.

“Nós sabemos que o horário eleitoral, fundo partidário, não é igual para todos. Os integrantes dos comitês estão na mobilização para que os candidatos e suas propostas sejam conhecidos. Esse movimento é feito com a família, amigos, vizinhos, por meio de reuniões presenciais e online, grupo de WhatsApp para disseminar essas candidaturas”, defende Aline.

Eleições e legado

Após o TSE finalizar a apuração das eleições de 2022 para o Congresso Nacional e Assembleias Legislativas de todo o país, a campanha Quilombo nos Parlamentos pode perceber o impacto de promover a cultura do voto antirracista nas redes sociais e nas periferias, por meio dos Comitês Antirracistas.

Os candidatos que tiveram sua campanha eleitoral potencializada pela plataforma Quilombo nos Parlamentos alcançaram 4 milhões de votos. Ao todo, oito deputados federais e 18 deputados estaduais ligados ao movimento negro foram eleitos. Além disso, 97 candidaturas ocupam atualmente postos de suplência em seus partidos.

A Coalizão Negra Por Direitos conseguiu espalhar mais de 200 Comitês Antirracistas em diversas cidades e periferias do Estado de São Paulo. (Foto: Thiago Fernandes)

As narrativas do voto antirracista

Nos últimos 60 dias, período que corresponde as fases de pré-campanha e campanha eleitoral oficial, o Twitter revela que uma das principais figuras públicas que promove o debate sobre o voto antirracista é o perfil de Douglas Belchior, líder do movimento negro na Uneafro Brasil e candidato a deputado federal pela Partidos dos Trabalhadores (PT), que não conseguiu se eleger ao Congresso Nacional, alcançando a marca de 50 mil votos.

“Vote preto” é uma das principais mensagens promovidas em publicações no Twitter. Belchior e outras lideranças declaradamente progressistas e ligadas a correntes partidárias de esquerda tem como principal narrativa no Twitter tornar a política institucional mais representativa, com a participação ativa de pessoas negras comprometidas com a luta antirracista e o combate às desigualdades sociais e raciais que afetam a população negra e pobre das periferias brasileiras.

No período analisado, as publicações destacam a presença da Coalizão Negra Por Direitos como uma fonte de informação sobre candidaturas negras que propõe em meia a polarização política nas redes sociais um debate central: a democracia brasileira precisa ser construída por pessoas negras na política institucional.

Partidos como PT e PSOL foram os mais citados nas mais 4 mil publicações, que associavam a figura de Luiz Inácio Lula da Silva, candidato à presidência da república, como um apoiador do movimento negro organizado, para transformar a forma de fazer política nos espaços de poder.

Esposas de aluguel gera renda para pessoas negras, indígenas e LGBTQIA+

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A iniciativa está conquistando um público que valoriza a geração de oportunidades de trabalho para pessoas LGBTQIAP+. 

Serviços de elétrica, hidráulica, pintura e reformas são algumas das frentes de atuação da rede espoas de aluguel. (Foto: Flávia Santos)

Após fazer uma publicação no grupo de Facebook FeminiTrampos, em junho de 2020, o multiartista indígena Cassis Guariniçara, 28, recebeu diversas curtidas na sua publicação, que comunicava aos membros da comunidade que ele estava oferecendo serviços de pintura e manutenção residencial e comercial.

Após a publicação no grupo, Cassis, que é uma pessoa trans não binária, viu a sua agenda de trabalhos aumentar de maneira inesperada. “Eu consegui fechar quatro meses de agenda só com pintura”, relembra ele.

Segundo o multiartista indígena, esse foi o pontapé inicial para o surgimento da Rede Esposas de Aluguel, um grupo de pessoas negras, indígenas e LGBTQIA+ que prestam serviços de manutenção residencial e comercial para moradores de todas as regiões de São Paulo.

“Eu iniciei trabalhando só com pintura porque eu ainda tinha muita insegurança, né? Eu não botava fé em mim, eu não acreditava na minha capacidade”, relata Cassis, apontando que a baixa autoestima tinha uma relação direta com a sua saúde mental

Crescimento da rede 

Desde que começou a trabalhar com os serviços ofertados pela rede, a estrutura do trabalho mudou bastante. Nesse período 15 pessoas já fizeram parte da rede desde o seu surgimento.

No começo do negócio, a noção de preços vinha do pai e do cunhado de Cassis, que além de auxiliar com dicas de precificação, já foram remunerados prestando serviços de manutenção.

“Eu sempre fazia um orçamento a mão, uma planta do que precisava ser feito nesses trabalhos e mandava uma mensagem pra ele [Claudemiro] falava: ‘papai, quanto que eu cobro? Aí mandava mensagem pro meu cunhado também e eles me davam uma média de preço de algumas coisas”, relembra.

“Eu sempre quis ser justo com as pessoas que trabalhavam comigo, porque todo mundo exerce a mesma coisa, não faz sentido eu ganhar mais ou ganhar menos”

Cassis Guariniçara, criador da Rede Espoas de Aluguel 

Outras demandas relacionadas a gestão do negócio e execução de serviços, de acordo com Cassis, foram fruto de aprendizados “apanhando”, como a forma de cobrança a ser feita por um trabalho executado por grande parte da equipe ao mesmo tempo.

“Eu sempre quis ser justo com as pessoas que trabalhavam comigo, porque todo mundo exerce a mesma coisa, não faz sentido eu ganhar mais ou ganhar menos. Eu queria pagar R$150 a diária e eu acabava às vezes não ganhando nada, ou ganhando R$80. Então, eu fui aprendendo de acordo com essas coisas que eu passei, né?”, diz sobre a experiência com as primeiras reformas.

Hoje, para fechar um trabalho, Cassis já aprendeu técnicas de orçamento e costuma consultar tabelas e realizar orçamentos em outras empresas que prestam este serviço para ter um referencial comparativo. 

O multiartista indígena Cassis Guariniçara é o criador da rede esposas de aluguel. (Foto: Flávia Santos)

Corpo racializado 

Segundo o criador da rede esposas de aluguel, o corpo racializado retrata o sujeito que já sofreu alguma forma de racismo, exotização, sexualização ou estereótipo. Desde um corpo indígena, periférico, feminino, até um corpo que pode ter privilégios, mas sofre esse tipo de abordagem de alguma maneira.

Para ele, acolher esses corpos na rede de esposas transforma o trabalho executado em equipe: “Essas pessoas tendem a sofrer e ocupar um lugar de muita dor dentro da sociedade, então são essas pessoas que a gente abraça, a gente se identifica, se cuida e se conforta de alguma forma”, diz.

Gabriel de Sousa, 23 anos, é uma das pessoas que foi empregada pela rede. Ele e Cassis se conheceram morando na ocupação e hoje são vizinhos no Grajaú. Gabriel é artista de rua e além dos serviços de reforma, trabalha no farol com malabares há quase 3 anos.

“É uma rede que me ajudou muito, pois eu sendo um corpo racializado pelo sistema tem pouquíssimas oportunidades de emprego. É uma forma de inclusão, não é qualquer equipe que tenha pessoas subversivas”

Gabriel de Sousa, colaborador da Rede Esposas de Aluguel

O artista entrou para a rede por convite de Cassis, pois já trabalhou outras vezes com serviços de obra. Juntos, eles realizam todo tipo de reparo, desde pintura até elétrica, hidráulica, instalações e outras coisas na área da construção civil.

Atualmente, Gabriel realiza bicos de segurança em um posto de gasolina para complementar a renda e sustentar o filho de 5 meses, que gera muitos gastos com alimentação e produtos de higiene.

Com o bico de segurança, que não tem ligação com o trabalho executado na rede, Gabriel precisou cortar o cabelo para se encaixar no que os chefes pediam: “é um negócio muito ruim trabalhar pro sistema, eles não aceitam como a gente é, tem que estar nos padrões deles”, lamenta.

Já na rede de esposas de aluguel, o artista encontra um espaço para ser ele mesmo, principalmente porque o serviço é oferecido por pessoas que, na maioria das vezes, entendem a dinâmica de trabalho que eles podem oferecer. “O Cassis já deixa bem claro antes de começarmos o serviço que quem vai trabalhar são indígenas, pretos e trans”, conta.

Felipe Chianca conheceu Cassis na Ocupação Ouvidor 63 e hoje integra a rede esposas de aluguel; (Foto: Flávia Santos)

Outra pessoa empregada atualmente pela rede é Felipe Chianca, 28 anos, que conheceu Cassis também na ocupação. Ele havia acabado de chegar de João Pessoa, na Paraíba, com 18 anos, os dois se tornaram amigos e hoje trabalham juntos. “Ele pedia sempre a minha ajuda e eu já sabia bastante coisa sobre eletricidade, meu pai era eletricista e aí foi indo”, diz.

Assim como as outras pessoas, Felipe também tem outras fontes de renda. Ele é artista plástico, e possui trabalhos de pintura, xilogravura, performances e também trabalha em festas.

Ele entende a rede como um espaço de abertura para o mercado de trabalho para pessoas como ele, que sofrem homofobia e não têm tantas oportunidades.

“É um lugar de abertura para minorias e corpos incidentes e pessoas que não tem essa oportunidade de entrar em contato com o trabalho, ele [Cassis] abre muitas portas pra gente”, expressa.

Rede de Formação 

Segundo Cassis, um dos principais intuitos do esposas de aluguel é ser uma rede de formação. “Hoje, eu consigo formar profissionais que são pessoas racializadas, travestis, pais, indígenas, negras e essas pessoas acabam oferecendo seus próprios serviços e não ficam dependentes de mim”, explica Cassis.

Mesmo com a rede de apoio que Cassis construiu dentro desse espaço de trabalho, ainda assim algumas vezes eles se deparam com episódios de machismo, homofobia, transfobia e outros preconceitos: “Todos os dias alguém entra nas minhas redes e pergunta se eu sou prostituta, mas eu tenho certeza que se fosse um homem que colocasse lá no perfil “marido de aluguel” eles não receberiam esse tipo de pergunta e comentário”, lamenta.

Esse é um ponto enxergado também por Felipe, ele comenta que a relação com os clientes varia bastante apesar da maioria já contratar a rede sabendo o perfil das pessoas que executam o trabalho e escolhem o serviço exatamente por esse motivo.

“A gente é chamado e às vezes conhece pessoas legais e às vezes conhece pessoas ruins. Tem deles que serve pra gente café e tem deles que não serve nem água. A gente tem priorizado mulheres, que geralmente tem medo de homens pra fazer esse tipo de trabalho, pessoas LGBTQIA +, nosso público alvo é realmente esse”, afirma.

Revoar Sabino é um dos contratantes dos serviços oferecidos pela rede esposas de aluguel. (Foto: Flávia Santos)

Cliente 

Uma das pessoas que já contratou os serviço da rede espoas de aluguel é Revoar Sabino, 27. Ela ficou sabendo da existência da rede através de Felipe, quando visitou a ocupação e teve uma conexão simultânea com Cassis.

“Eu também sou uma pessoa indígena como o Cassis e conversamos sobre o que a gente faz, porque o Cassis também é artista, né? Mas também trabalha nessa rede de esposas de aluguel e foi através desse encontro que eu acabei conhecendo e comecei a contratar o serviço dele”, relata.

Como está de mudança, Revoar contratou os serviços para realizar pequenos reparos na casa nova. Eles instalaram o chuveiro, colocaram prateleiras e quadros nas paredes e também estão auxiliando na fiação elétrica da casa que está com algumas limitações. 

“É muito mais confortável e seguro pra mim trabalhar com pessoas que não são homens, cisgêneros e brancos na maioria das vezes”

 Revoar Sabino, morador da região central de São Paulo.

Nos próximos meses, Revoar pretende continuar contratando as esposas de aluguel para outros serviços na residência, pelo fato de estar escolhendo profissionais para cuidar de seu lar que tem os mesmos princípios que ela.

“Eu sou uma pessoa trans não binária e indígena, então você já imagina o quanto a sociedade não humaniza a gente, né? Eu me sinto muito mais confortável trabalhando com pessoas que estão mais próximas do meu corpo”, relata Revoar.

Além disso, para Revoar, contratar o serviço oferecido pela rede também é uma maneira de apoiar um trabalho que é majoritariamente dominado por homens héteros: “existem pessoas como nós habitando também esse lugar”, reforça.

“Trabalhar com crianças é também construir o passado delas”, afirma educadora Geisah Paula

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Através da arte educação, a assistente social Geisah Paula, dialoga com crianças e adolescentes sobre gênero, sexualidade, autoestima e sonhos como ferramenta de transformação.

A vontade de atuar com arte e educação levou a assistente social Geisah Paula Ribeiro, 31, a descobrir formas lúdicas e utilizar a comunicação não violenta para trabalhar a autoestima e confiança em crianças e adolescentes da quebrada através de um centro de convivência localizado no bairro Santa Maria, em Osasco, região metropolitana de São Paulo.

Geisah é moradora da Vila Dalva, bairro localizado no distrito do Rio Pequeno, zona oeste de São Paulo, mas sua história começa a cerca de 100km da cidade de São Paulo, lá em Itú, município onde a assistente social nasceu. Ela conta que sua trajetória levou seu olhar para a educação e o desejo de transformar realidades.

“Eu me leio como uma pessoa fruto de um relacionamento interracial que teve e passou por processos de racismo suficientes para ter me adoecido. Violências de gênero, raça, classe, sexualidade, e isso tudo me fez entender a vida como uma busca de devolver pra comunidade”, afirma Geisah, que desenvolve trabalhos com cerâmica, aquarela, artesanato, e encontrou na arte uma forma de combater as opressões vividas e ressignificar sua existência. 

“Eu cresci em um ambiente que a autoestima não foi construída em mim, eu tive que ter ela destruída primeiro para entender que eu precisava dela, e o que eu estou fazendo é alimentar a autoestima das crianças. O que estou executando como trabalho é algo de libertação, entender nosso espírito mesmo”, aponta a arte educadora.

Desde 2017, Geisah atua com arte educação discutindo autoestima, gênero e sexualidade no Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos. Ela pontua que ao trabalhar com crianças é necessário entender que não são mini adultos e que possuem a própria lógica. “O próprio estado de ser, e você precisa adequar aquilo que está tentando levar para ela de uma maneira que faça sentido”, aponta.

Geisah conta também que enxerga a arte como ferramenta de ensino que engaja as crianças e adolescentes. “Compreendendo que a arte, símbolos, representações e imagens são úteis, comecei a perceber que as crianças são grandes artistas. Na verdade, foram eles que me disseram isso”. 

 Território e referências

 A arte educadora observa que as referências que busca apresentar às crianças e adolescentes geram o impacto deles se abrirem, conseguirem falar como estão e o que estão sentindo.

“A gente consegue com que uma criança chegue na atividade dizendo que ser LGBT é pecado, e saía falando que aprendeu que deve respeitar todas as pessoas independente da sua sexualidade”, conta Geisah.

Quando se mudou de Itu em 2013, Geisah foi morar no Jardim Macedônia, zona sul de São Paulo, ela afirma que espaços de literatura e poesia nas periferias contribuíram na reconstrução de sua autoestima e confiança.

“Tinha tudo ali, indo nos roles de poesia como o sarau do binho, e indo pra faculdade todo dia, comecei a ir na batalha da Dominação no metrô São Bento, um lugar que frequentei por mais de um ano, comecei a escrever e foi uma experiência muito louca. Me olhei, me reconstruí nesses espaços e com a arte”

Para a artista, as referências apresentadas para a juventude podem representar transformação e mudança de caminho. “O que foi importante pra mim foram as referências que eu pude ter contato, então eu trabalho assim. Vou levar referências de artistas, de pessoas que somem na vivência deles, como o Chavoso da Usp, o Quebradinha, para que de alguma maneira seja uma memória que venham acessar no futuro”, afirma.  

Agente política 

Geisah afirma que o sucateamento na educação adoece quem está atuando e quer realizar melhorias.”Recentemente fizemos a finalização de uma atividade que falava de cidadania atuante. As crianças escreveram um projeto de melhoria para escola, eles querem fazer, eles querem atuar, eles querem propor, mas nunca são e vão ser chamados pela escola para fazer isso junto”, coloca. 

“O processo de escolarização das crianças é uma vivência com o desafeto. A experiência delas é com o não abraço, com o não incentivo, é com o não acreditar”

A assistente social conta que se enxerga como uma agente política, e isso significa estar exposta. “Contar para você das minhas experiências, meus traumas, das coisas que eu passei, é eu me expor, e você expor a sociedade para um adolescente, eles vão poder comparar, será que eu sou mais parecida com quem [das pessoas] quem eles convivem?”.

Essa construção de repertório político e social se faz presente na metodologia que a artista utiliza. Ela aponta que quando adultos se mostram para crianças um ser humano em evolução, a relação se constrói a partir de um novo lugar.

“Você não é o adulto que sabe de tudo e que vai dizer o que eles tem que fazer, você também está aprendendo, você é igual eu, com mais experiência”, pontua sobre a educação se tornar mais verdadeira e fluída ao se colocar como alguém que acerta e erra. 

“Quando você leva a sério uma pessoa que é infantilizada, ela se sente confiante para falar o que sente e pensa”

Para a assistente social a comunicação é a chave para várias mudanças. “Se a gente transformar a forma que falamos com essas crianças, vamos transformar as crianças e interromper o ciclo da violência”, finaliza.