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Educadora aponta limitação de políticas públicas para pessoas com deficiências ocultas nas periferias

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Luciana Viegas fala sobre a importância de pensar políticas públicas para pessoas com deficiências ocultas levando em conta as relações entre raça, gênero e território.

“O autismo é uma pauta muito mercadológica, porque envolve terapeuta, envolve psicólogo, envolve saúde, medicina privada”, segundo Luciana, essa é uma das dificuldades que pessoas com deficiências ocultas enfrentam ao longo da vida. Luciana Viegas, é uma mulher negra, ativista dos direitos humanos, educadora popular, autista nível de suporte um e também fundadora do movimento Vidas Negras com Deficiência Importam (VNDI).

Luciana atribui o seu diagnóstico tardio, aos 25 anos, como parte dessa característica mercadológica do autismo. “Eu tive rede e capital financeiro para bancar uma avaliação caríssima. Eu juntei dinheiro porque eu não aguentava mais. Eu precisava saber”, afirma Luciana, 29, que é moradora da favela do Mangue, em Pirituba, região norte de São Paulo.

Durante esse tempo todo que eu fiquei sem diagnóstico, [foi] muito por ser uma mulher negra, isso eu tenho muito certo na minha cabeça, porque quando a gente fala em autismo, você não vê uma pessoa preta autista. 

Luciana Viegas, educadora popular, autista nível de suporte um e fundadora do movimento Vidas Negras com Deficiência Importam (VNDI).

A educadora afirma que quando identificou a violência por trás desse processo do diagnóstico, compreendeu o racismo presente nesse contexto. “Aquele olhar violento que os médicos tinham sobre mim tinha um fator de raça e gênero fundamental. Ser uma mulher negra autista tem impacto, porque a gente não tem acesso ao diagnóstico”, aponta.

O termo deficiência oculta abrange todas as deficiências que não são aparentes e que por conta disso se tornam invisibilizadas. Como surdez, autismo, transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), esquizofrenia, uso da bolsa de colostomia, fibromialgia, entre outras.

Luciana pontua que quando esse contexto mercadológico envolvendo deficiências se choca com as realidades que há nas periferias “é desesperador”. 

A educadora conta sobre a dificuldade também no processo de diagnóstico do seu filho Luiz, de 6 anos. “O médico falou ‘se seu filho não tiver uma terapia de 40 horas, ele não avança.’ E a terapia de 40 horas é 7.000 reais por mês. Como que a mãe pobre e periférica vai pagar?”, questiona a fundadora do Vidas Negras com Deficiência Importam (VNDI), que também é mãe da Elisa, de 4 anos.

Luciana afirma que a prioridade no desenvolvimento de seu filho Luiz, que é um menino negro, com autismo de nível três de suporte, está pautada em uma questão de sobrevivência. 

“Uma das coisas que a gente mais pega firme com ele [Luiz] é a comunicação. Ele precisa [se] comunicar, porque se ele for parado por alguma batida policial, ele precisa comunicar de alguma forma, ele não fala, essa é a minha maior preocupação. Só preciso que meu filho volte vivo para casa”, afirma. 

Políticas públicas

Nesse processo, Luciana Viegas menciona sobre os cordões de identificação de pessoas com deficiências ocultas que estão em circulação. “O cordão ajuda sinalizar publicamente que você é uma pessoa com deficiência”, afirma.

Junto a isso, há também a sinalização de atendimento prioritário, com a adição do símbolo do Transtorno Espectro Autista, mais conhecido como TEA ou apenas autismo.

O cordão com figuras de quebra-cabeça e o símbolo do infinito, ambos coloridos, são para identificar especificamente pessoas autistas. O Cordão de Girassol abrange todas as deficiências ocultas.

Luciana afirma que para compreender o que essas sinalizações significam é preciso entender o que é deficiência.“Deficiência é a limitação em contato com a sociedade e [a partir disso] se cria uma barreira. Um exemplo: eu sou autista, não falo, só que eu estou numa sociedade completamente oralizada. Então, quando a sociedade só tem uma forma de comunicação, mesmo existindo outras, a sociedade criou uma barreira comunicacional e esse contato gera a deficiência”, aponta.

Além do acesso ao acompanhamento médico, pessoas com deficiências ocultas precisam lidar, principalmente, com equipamentos públicos que ainda não oferecem o suporte necessário.

No transporte público de São Paulo, por exemplo, alguns ônibus circulam com uma sinalização para identificar prioridade para as pessoas, mas Luciana aponta uma grande brecha nessa comunicação.

Aquela fita com o quebra-cabeça, aquilo foi criado por pais de autistas lá nos Estados Unidos, fazendo com que eles colocassem o autismo como um problema a resolver. Por isso o quebra-cabeça com as peças [que] precisam encaixar. [Assim] você trata a subjetividade da pessoa autista como um problema, então aquilo não é representativo.

Luciana Viegas é autista e fundadora do movimento Vidas Negras com Deficiência Importam (VNDI).
No Brasil, o cordão de identificação de pessoas com deficiência oculta foi regulamentado em apenas alguns estados. Em São Paulo, o Projeto de Lei (PL) 12/2023 está em tramitação e prevê a regulamentação do Cordão de Girassol. 

A Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência (SMPED) aponta que, no momento, a única identificação regulamentada na cidade de São Paulo é a da Pessoa com Transtorno do Espectro do Autismo. A cidade regulamentou em 2022 a emissão da Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista – CIPTEA. O documento é emitido gratuitamente pela SMPED através do Portal SP 156 e nos postos de atendimento presencial do serviço Descomplica SP.   

Estabelecimentos públicos e privados que disponibilizam atendimento prioritário, conforme a lei estadual nº 16.756, de 2018, devem incluir nesse atendimento pessoas com autismo e sinalizar isso, assim como a sinalização que há em assentos preferenciais nos transportes públicos de São Paulo, que agora também contêm a figura da fita com quebra-cabeça, símbolo mundial da conscientização sobre o TEA. Essas sinalizações são exclusivamente para pessoas com autismo e não incluem outras deficiências.

Luciana ressalta a efetividade do uso do cordão de girassol, mas pontua que a população de modo geral não sabe o que o cordão significa. No entanto, a função do cordão não se esgota apenas no sentido da identificação perante a sociedade, o uso do cordão contribui, principalmente, como parte de um processo de auto identificação.

“Entender a importância do cordão e o uso dele por quem de fato tem deficiência é um processo de auto identificação. Um processo não só político, mas de identidade. Então, sim, você pode ter acesso [ao cordão] em qualquer lugar, mas aquilo precisa ser usado por pessoas que de fato têm uma  deficiência”, coloca Luciana Viegas, ativista dos direitos humanos e educadora popular.

Luciana ainda chama a atenção para a importância de escutar as pessoas com deficiência sobre barreiras e necessidades, sendo essencial que essas narrativas sejam consideradas nos processos de tomadas de decisões. “Não deixar as pessoas com deficiência falar gera um impacto muito profundo no pensamento de políticas públicas”, finaliza.

Vênuz Capel aponta os desafios de inclusão da linguagem neutra na sociedade

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Para desenrolar sobre como o debate da linguagem neutra impacta a sociedade, sobretudo a comunidade LGBTQIAPN+, o Desenrola Aí entrevista Vênuz Capel, comunicadore social e pessoa não binárie, para compreender de forma mais profunda a importância da linguagem neutra e  por quê ela existe. 

Quando falamos em linguagem neutra logo pensamos nas mudanças gramaticais, mas será que é somente sobre isso que se trata? O debate em relação à linguagem neutra tem sido discutido no Brasil e defendido pelo movimento LGBTQIAPN+ como um meio de inclusão das pessoas não binaries na sociedade. 

O tema é alvo de ataques conservadores e fake news, o que tem dividido opiniões sobre o assunto, principalmente com dois projetos de Lei 5198/20 e PL 198/23 que seguem em análise no congresso nacional.

Segundo Vênuz, a linguagem neutra, não se trata de uma língua construída para pessoas trans, mas sim, uma forma de inclusão e normalidade de todos os gêneros ao serem retratados.

“Quando a gente usa linguagem neutra, quando a gente fala todes, a gente tá englobando todas aquelas pessoas, isso é linguagem neutra, é uma forma de tratar um grupo de pessoas de uma forma realmente neutra”

Vênuz Capel, comunicadore social

Este é o quarto episódio da primeira temporada do Desenrola Aí, o programa de entrevistas do Desenrola e Não Me Enrola que busca descomplicar assuntos relevantes para a vida da população negra e periférica. Nesta temporada, vamos abordar sobre o direito à vida e a luta da população LGBTQIAPN+ nas periferias. O Desenrola Aí tem como realização o Desenrola e Não Me Enrola e a Fluxo Imagens. 

Sobre o Desenrola Aí 

​O Desenrola Aí é um programa quinzenal que visa trocar ideias com especialistas da quebrada, descomplicando assuntos relevantes, que afetam o cotidiano da população negra e periférica e os direitos humanos, que é a essência da nossa existência e convivência enquanto sociedade. 

Nessa primeira temporada vamos abordar sobre os direitos, à vida e a luta da população LGBTQIAPN+ nas periferias. O Desenrola Aí tem como realização o Desenrola e Não Me Enrola e Fluxo Imagens.

Aplicativo conecta moradores com empregos nas periferias de São Paulo

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Atualmente, três mil vagas de empregos nas periferias estão abertas em São Paulo, localizadas principalmente nas zonas norte e leste da cidade. Para acessar e compartilhar as vagas, basta fazer o download do aplicativo Trampolim no link: trampolim.app/aplicativo. O serviço é gratuito e está disponível para smartphones com sistema Android e IOS.

Na prática, os usuários se cadastram na plataforma e, além de acessar vagas de seu interesse por região e área de atuação, podem compartilhar oportunidades que beneficiem outros profissionais – daí o caráter colaborativo.

Qualquer pessoa pode fotografar vagas anunciadas em vitrines comerciais nos territórios periféricos ou grupos online e replicar no aplicativo a quem possa interessar. Mais de 30 mil usuários já participam dessa corrente do bem.

Vagas de emprego anunciadas em muros e comércios das periferias são compartilhadas no aplicativo Trampolim. (Crédito: Reprodução Facebook)
Vagas de emprego anunciadas em muros e comércios das periferias de São Paulo são compartilhadas no aplicativo Trampolim. (Crédito: Reprodução Facebook)

Desemprego na quebrada

O desemprego é uma realidade presente na vida das pessoas que moram em regiões afastadas do centro da capital. A zona sul de São Paulo, uma das mais distantes do centro da cidade, é a que registra o maior índice de desempregados, 15,5%.

Em segundo lugar, vem a zona norte, com 13,9% e em terceiro a leste, com 12,1%. Os índices de desemprego são menores na região central de São Paulo (10,1%). A taxa de oferta de emprego formal chega a ser 200 vezes maior no distrito da Barra Funda, por exemplo, do que em Cidade Tiradentes, segundo o Mapa da Desigualdade 2022.

Sustentabilidade

Além da plataforma beneficiar diretamente moradores das periferias que estão em busca de uma nova oportunidade de trabalho, o aplicativo possui uma ferramenta voltada para empreendedores que precisam contratar funcionários nas periferias.

“O aplicativo nasce como uma ferramenta para facilitar a contratação desse público que, normalmente, não possui um profissional de recursos humanos responsável pelos processos seletivos ou recursos financeiros para anunciar em sites pagos”, afirma Bruno Rizzato, um dos desenvolvedores da solução.

O ferramenta Trampolim Empresas, integrada aplicativo também auxilia comércios informais a receber e filtrar currículos, sem a necessidade de cadastrar um CNPJ – realidade de 71% dos empreendedores no país, conforme dados do Data Favela. Entre os negócios abertos nas comunidades brasileiras, os tipos mais comuns são restaurante (15%) e salão de beleza (10%).

Música preta e periférica: quais produções são favorecidas pelo mercado musical? #09

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Junto com o Obigo, que é cantor e compositor, e com a Thaynah Gutierrez, que é administradora pública e pesquisa cultura e música na quebrada, vamos falar sobre quais produções são impulsionadas pelo mercado musical e como, em geral, produções musicais pretas e periféricas só são valorizadas quando são embranquecidas ou estão em espaços elitizados.

A ideia é a gente pensar como determinadas manifestações culturais – dentro desse contexto da música – ao mesmo tempo que reforçam uma identidade, também são manifestações intencionalmente deixadas de lado pelo mercado.

O Cena Rápida tem episódios novos quinzenalmente, sempre às quartas, disponivel gratuitamente no Google Podcasts, Spotify e Youtube.

Ficha técnica:
Roteiro, apresentação e entrevistas – Evelyn Vilhena
Distribuição – Samara da Silva e Thais Siqueira
Produção audiovisual – Pedro Oliveira
Foto da arte – Patrícia Santos / Bloco Afro ÉdiSanto
Identidade visual – Flávia Lopes
Vinheta e edição – Jonnas Rosa

“A demarcação de terra é baseada no modo de vida do não indígena”, denúncia Thiago Djekupe

Luta pela demarcação de terras criminaliza povos indígenas e impede ações coletivas, que poderiam unir as periferias, favelas e quilombos. (Foto: Dan Agostini)
Manifestação reúne lideranças indígenas guarani para protestar contra o Marco Temporal. (Foto: Dan Agostini)

Na última terça-feira (30/05), a Câmara dos Deputados, em Brasília, aprovou o projeto de lei 490, que estabelece o Marco Temporal, um conjunto de regras jurídicas que dificulta a demarcação de terras indígenas. No mesmo dia, em reação a esta decisão, inúmeros protestos dos povos indígenas se espalharam pelo Brasil.

Em São Paulo, lideranças indígenas guaranis do território Jaraguá, localizado na região noroeste da cidade, ocuparam a Rodovia dos Bandeirantes e foram brutalmente repreendidos pela polícia militar.  

“A demarcação de terra é baseada no modo de vida do não indígena, na sua crença geográfica, porque nós se entendemos como um povo livre e não proprietário de terra, nos entendemos como parte da terra, parte de toda vida que se encontra aqui”

Thiago Djekupe, liderança guarani do território indígena Jaraguá

O texto do projeto de lei do Marco Temporal só reconhece as terras indígenas legalmente ocupadas ou que estavam em disputa para serem demarcadas quando a Constituição Federal foi promulgada, em 5 de outubro de 1988, momento reconhecido na história do país como período de redemocratização após o fim da ditadura militar.

Com 283 votos a favor do Marco Temporal, os parlamentares do PL, PSD, PP, PSDB, PODE, MDB, AVANTE, PV, PSC, PDT, União Brasil, Republicanos, Cidadania, Patriota e Solidariedade, partidos que representam o centrão e a extrema direita, contribuíram para o PL 490 avançar para o Senado Federal. Agora, o projeto de lei tramita com a numeração 2.903/2023.

A terra indígena Jaraguá possui 1,7 hectares, ou seja, mais de 10 mil metros quadrados. Essa região é cercada pelo Rodoanel, Rodovia dos Bandeirantes e Anhanguera. Atualmente, os povos indígenas desta região seguem na disputa política para demarcação dos 534 hectares, uma luta coletiva e  histórica que pode ser completamente inviabilizada pela aprovação em definitivo do Marco Temporal.

“O pico do Jaraguá é sagrado para nós. Chamamos de Itawera, porque o ‘Ita’ é das pedras e o ‘wera’ é a força dos raios. O pico do Jaraguá no mundo é o lugar que mais tem ascendência do raios, que diverge né, ao invés de ele descer, ele sobe, e para nós, isso é o natural, e nós caminhamos sempre em busca da Yvy marã e’ỹ, que significa ‘Terra Sem Males’. Então esse é o caminho que fazemos seguindo a espiritualidade, seguindo a nossa fé”, contextualiza o líder indígena do povo Guarani.

A sobrevivência dos ancestrais do presente

O líder indígena Thiago Jekupe lembra que a sobrevivência faz parte da sua infância, momento em que uma família de empresários imobiliários tentou se apropriar de forma criminosa das terras sagradas do Jaraguá.

“Quando eu era criança, a família Pereira Leite veio aqui para tentar comprar a terra com uma mala de dinheiro. Colocou aqui um monte de homens armados com fuzil, metralhadora, calibre 12, cercaram nossa comunidade para nos ameaçar, e eu era só uma criança, e mesmo no tempos de agora com a gente provando que a nossa existência que garante as demais vidas, a gente teve o governo do estado, governador do palácio dos bandeirantes, um bandeirante chamado Geraldo Alckmin, entrou com um mandado de segurança contra o processo de demarcação da terra indígena Jaraguá”, revela.

“Lutar por demarcação é lutar pelo pouco que sobrou para que sobrevivamos. Quando estamos falando de demarcação, não é só demarcação de terra indígena, tem que se lembrar que as terras quilombolas mal são faladas. Não se fala sobre demarcação de terra quilombola, terra caiçara, vários movimentos têm a visão e movimento de querer aquilombar a periferia, mas não querem garantir os quilombos”

Thiago Djekupe, liderança guarani

A demarcação da terra indígena Jaraguá foi conquistada em 2015, reconhecendo os 532 hectares como área pertencente ao povo guarani, mas logo em seguida aconteceu o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, um fato que mudou totalmente a vida dos mais de 1 mil indígenas que viviam no território naquela época.

Neste contexto, o Ministro da Justiça, Torquato Jardim, do governo do presidente sucessor Michel Temer, revogou a Portaria Declaratória n°581, de 2015, que reconhecia os 532 hectares de ocupação guarani na região metropolitana de São Paulo. Desta forma, o território passou a ter somente 1,7 hectares.

Periferias, favelas e territórios indígenas juntos pelo direito à terra

Luisa Silva Rafacho, 24 anos, agente cultural e ambiental, moradora do Jaraguá, afirma que as periferias têm uma forte relação na luta pelo direito com os territórios indígenas. “Eu acredito que as lutas por terra na quebrada e na aldeia se relacionem ao ponto que são formas de pensar em futuros coletivos, em soluções de reflorestamento, de bioconstruções, e principalmente a forma que você constrói sua casa, capta água e luz, poderia ser uma luta muito mais compartilhada, principalmente no campo das políticas públicas”, argumenta.

Para a agente ambiental, essa seria uma forma coletiva de promover um desenvolvimento cultural e ambiental que poderia evitar a separação destas lutas dentro da cidade. “Ser uma pessoa preta e periférica vivendo em um território de preservação dos últimos remanescentes da mata atlântica do Brasil, e ainda ter a cidade como parte disso, é compreender essa relação que a cidade está inserida dentro da mata, e foi crescendo assim, e só de pensar nisso, eu me adapto nessa condição, acredito que a floresta pode ser o futuro”, ressalta a moradora do Jaraguá. 

Jekupe também acredita nessa correlação de luta e diz que a quebrada se unir à demarcação também é uma forma de independência das periferias. “Imagina a periferia aproveitando seus espaços para trazer saneamento ecológico, saneamento barato, prático, se você tem agrofloresta na quebrada, entende que pode se investir em placas solares e parar de pagar energia, você sai da mão dos bandeirantes, da mão do palácio dos bandeirantes, eles não querem que a periferia entenda que a quebrada forte, que uma memória pode despertar a independência do seu território”, analisa.

Ao parar por alguns momentos e refletir sobre tudo o que tem acontecido no contexto do Marco Temporal, o líder indígena faz uma comparação sobre o impacto da criminalização da vida nas periferias, favelas e nos territórios indígenas.

“Nós estamos em situação precária que nem nas favelas e nas quebradas, sem saneamento básico, abandono de animais, por isso temos que lutar juntos e não dividir nossas lutas, as pessoas nos criminalizam pra dividir, a gente só tá buscando uma terra sem mal, e porque o não indígena não pode também buscar uma terra sem mal?”, questiona o líder guarani.

Coletivo registra memórias de trabalhadores da zona leste que construíram São Paulo

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Na zona leste da capital, o resgate e preservação das memórias da região são feitos pelo Centro de Pesquisa e Documentação Histórica Guaianás, iniciativa que desde 2012 investiga as histórias de bairros do extremo leste, mais especificamente dos distritos de Lajeado, Guaianases, Cidade Tiradentes e São Mateus.

Atualmente, o projeto conta com acervo documental, história oral e programas de formação e difusão de memórias. Renata Eleutério, 37, moradora do Jardim Lourdes, distrito de Guaianazes, é cientista social, pesquisadora, idealizadora e co-fundadora do CPDoc Guaianás.

“A história do bairro de Guaianazes sempre foi narrada por italianos, espanhóis e portugueses”

Renata Eleutério, co-fundadora do Centro de Pesquisa e Documentação Histórica Guaianás
Entrevistar moradores que são migrantes nordestinos ou sudestinos é uma estratégia do coletivo para registrar memórias dos trabalhadores que construíram os bairros da zona leste de São Paulo. (Foto: Allan Cunha)

Visando mostrar os moradores como protagonistas de suas histórias, o CPDoc passou a mapear o território e pessoas para entender quais eram esses lugares de luta, de importância sem necessariamente serem lembrados por dores e violências.

“Onde está a história dos trabalhadores, dos nossos pais migrantes da Bahia, Paraná, Ceará, Minas. População que sempre marcou com sangue da força do seu trabalho na construção dessa cidade chamada São Paulo?”, questiona Renata.

Uma das primeiras iniciativas foi o registro oral dessas informações, indo até os detentores do conhecimento da região: os moradores mais velhos. Um trabalho de pesquisa foi feito com um núcleo de idosos e a partir disso surgiu o “Histórias do Meu Bairro”, um projeto focado na população comum que narra sua própria história.

“A gente criou o Histórias do Meu Bairro, que é um projeto onde a gente vai até um ponto específico nesses bairros, onde a população está passando e é focado na população comum, como ela vê o bairro, lugares que são importantes para ela, o que ela acha que tem que ser preservado na história do bairro”

Renata Eleutério, cientista social e pesquisadora
Os pesquisadores periféricos que integram o Coletivo CPDOC Guaianás são cientistas sociais, historiadores, fotógrafos, museólogos e educadores populares.

Mesmo sendo uma referência em pesquisa, documentação e investigação para a região da zona leste, atualmente o CPDoc não possui espaço físico de atuação e de exposição de todo o acervo que possuem, o que limita a possibilidade de disseminar ainda mais essas informações dos trabalhadores que fizeram a região ser o que é.

“Durante a pandemia precisamos sair do CEU Jambeiro, porque virou uma sede de abrigo, e as perspectivas de futuro são justamente essas: ter uma sede fixa para ser uma referência para a população de modo geral nos encontrar e fomentar, junto com ela um museu da história desses trabalhadores do extremo leste da cidade de São Paulo”, avalia uma dos criadoras do centro de pesquisa e memórias.

O projeto Histórias do Meu Bairro é uma das produções audioviais do CPDOC Guaianás com depoimentos de moradores das periferias da zona leste de São Paulo.

Com atividades em formatos diferentes, o CPDoc atua com projetos de participação ativa dos moradores da zona leste, propondo formação com especialistas de áreas científicas para o coletivo e para a população de forma gratuita, além de jornadas fotográficas pelo bairro e grupo de estudos.

“São com esses questionamentos que nasce o CPDOC Guaianás, a fim de marcar essa história dos Silvas, Oliveiras, Souzas, Batistas, Santos, entre tantos outros que o sobrenome nunca foi tão importante para ganhar um busto na praça e ou um nome de rua, a não ser quando eles mesmos puderam nomear as ruas”, finaliza Renata.

A Virada Cultural de 2023 “moio” para os artistas periféricos

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Com um investimento de 40 milhões e sob fortes chuvas, a virada cultural de 2023 aconteceu em meio a inúmeras contradições. Primeiro porque a ideia inicial da Secretária de Cultura Aline Torres era a “Virada do Metaverso”.

Metaverso?

Explico: a intenção era destinar cerca de 10 milhões de reais para empresas de tecnologia utilizarem o espaço cibernético para promover atrações culturais. Medida que foi sabiamente barrada pelo Tribunal de Contas do Município.

Muito se falou sobre a descentralização dos palcos. E como os territórios periféricos foram agraciados por atrações de renome. Mas nada se falou sobre a falta de representatividade nas atrações. 

Uma coisa é trazer artistas e outra é promover as iniciativas locais. 

Não vimos por exemplo a cultura popular em sua manifestação mais pura. As comunidades de samba? não teve. A literatura periférica? também não. Os blocos afros e maracatus? tão pouco.

A segurança pública foi outro ponto bastante polêmico. O fantasma dos arrastões e assaltos nas madrugadas do centrão foram diminuídos por uma ação bem básica: um único palco no vale dos 100 milhões (Vale do Anhangabaú).

Com grades e mais policia do que público, o único palco do centro de São Paulo, que teve 24 horas de atrações, promoveu um verdadeiro apartheid social. De um lado víamos a população em situação de rua e do outro lado os munícipes curtindo.

Já na quebrada, vimos como os shows serviram para uma verdadeira campanha política antecipada.  

De hora em hora os microfones anunciavam agradecimentos para a prefeitura, secretaria de cultura e sub-prefeitura e, como de praxe, vereadores “figurões” da direita. A ordem da prefeitura era para que as equipes vinculadas aos vereadores estivessem na produção dos eventos nas comunidades, tudo bem dividido para a base aumentar a popularidade do Ricardo Nunes.

Outro ponto importante é que diferente do “centrão”, na quebrada os shows não atravessaram a madruga. A “virada” acabou às 22h e retornou na manhã do domingo.

Bateu dez e um e a galera já havia sido dispersada das ruas. A prefeitura deixa bem explícito que atrações na quebrada tem hora para acabar, não diferente do carnaval e outras comemorações locais.

A cortina de fumaça da virada cultural não vai apagar a gestão higienista que Ricardo Nunes defende para a cidade. 

O recado dele é: nós aqui e vocês lá, cada um no seu lugar.

Uma virada cultural inclusiva precisa entender o momento social que estamos passando. Artistas independentes precisam ser valorizados pois a responsa de aquecer os corações e cativar o povo não é somente em 24 horas, é o ano inteiro.

Papo 10

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Hoje é para vocês galerinha: meninos e meninas, menores de idade, a criançada, os adolescentes.

Sabe aquele conselho que tu escuta daquela pessoa que te ama, que quer teu bem e aí escuta mesmo achando chato pra caramba e mais tarde tudo faz sentido? Lê esse texto hoje como se fosse ouvindo a voz dessa pessoa.

Queria passar a visão para vocês. Nós que moramos na quebrada sabemos bem da dificuldade que enfrentamos, do veneno que os mais velhos passam e da luta que é dia após dia.

Falar para vocês que não tem vida fácil, vai ter dia que tudo vai ser lindo e estar a favor, mas vai ter dias que parece que o mundo só conspira contra você, barato louco! 

Sabe o que faz de você diferenciado(a)? A maneira como você vai enfrentar esses dias ruins, porque os bons a gente tira de letra né, não!? 

Nada vem fácil galerinha, tudo é passível de muita luta. Não existe caminho mais curto. O caminho é longo, mas traz para vocês vivência que mais tarde vão entender.

Sabe o que ninguém tira de vocês? Seu conhecimento! Estudar não é chato não, estudar amplia sua visão, expande sua mente.

Papo 10 galera, você começa a pensar para frente, entender diversas coisas e somar com suas vivências, sonhos e colocar em prática aquilo que o sistema desacredita de nós: pessoas instruídas, com conhecimento vasto e formadores de opinião.

Estude, nunca pare de estudar. Sonhe, busque seus sonhos com toda força, acredite em você. Lute por aquilo que você acredita. Na quebrada o que mais existe é galera talentosa, prontos para dar o nome e fazer acontecer nesse mundão. 

Malandragem de verdade é viver molecadinha. Vamos mostrar que não viemos para pouco.  

Para finalizar deixo essa visão aqui que tenho certeza que vocês conhecem.

Aí, louco, muita fé naquele que tá lá em cima, que ele olha pra todos, e todos têm o mesmo valor
Vem fácil, vai fácil, essa é a lei da natureza, não pode se desesperar
E aí, molecadinha, tô de olho em vocês, hein?
Não vai pra grupo não, a cena é triste
Vamos estudar, respeitar o pai e a mãe e viver
Viver!
Essa é a cena
Muito amor

Eu sou 157 – Racionais Mc’s

Psicóloga explica como a cisheteronormatividade afeta crianças e adolescentes

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O Brasil continua no ranking de nações que mais mata pessoas trans no mundo. Em 2021, o país se tornou líder mundial de idade mínima por assassinatos, ao registrar a morte de uma adolescente, de apenas 13 anos, sendo a vítima mais jovem por transfobia que se tem registro, entre os 31 países com casos relatados pela organização social Transgender Europe (TGEU).

Para desenrolar sobre esse assunto, o Desenrola Aí conversa com a psicóloga e educadora em sexualidade, Elânia Francisca, que apontou a falta da educação em sexualidade como um dos principais problemas relacionados aos dados de violência por transfobia no Brasil.

Segundo Elânia, essa falta de educação em sexualidade promove diariamente a Cisheteronormatividade, comportamento social que traz uma série de consequências que afetam de forma física e emocional crianças e adolescentes, que não atendem a essas normas impostas pela sociedade. 

“O que a gente percebe é que na infância muitas dores, muitos traumas, muitas questões vão nos engessando também pela questão de gênero, pela questão de raça, de classe e essa cisheteronormatividade, e tudo isso, precisa ser combatido com educação em sexualidade. Sou uma Educadora em sexualidade, sou defensora da educação em sexualidade, justamente porque a educação em sexualidade, ela vai promover momentos de reflexão sobre si, sobre contato com outras pessoas, sobre a existência de todo mundo no mundo, e que cabe todo mundo no mundo, com respeito, com garantia de direitos”.

Elânia Francisca, psicóloga e educadora em sexualidade

O terceiro episódio do Desenrola Aí está disponível no canal do Youtube do Desenrola e Não Me Enrola.

A direita a psicóloga e educadora em sexualidade, Elânia Francisca, à esquerda a jornalista, Thais Siqueira durante o programa Desenrola Aí. Foto: Pedro Oliveira (maio/2023)
A direita a psicóloga e educadora em sexualidade, Elânia Francisca, à esquerda a jornalista, Thais Siqueira durante o programa Desenrola Aí. Foto: Pedro Oliveira (maio/2023)

Sobre o Desenrola Aí 

O Desenrola Aí é um programa quinzenal que visa trocar ideias com especialistas da quebrada, descomplicando assuntos relevantes, que afetam o cotidiano da população negra e periférica e os direitos humanos, que é a essência da nossa existência e convivência enquanto sociedade.

Nessa primeira temporada vamos abordar sobre os direitos, à vida e a luta da população LGBTQIAPN+ nas periferias. O Desenrola Aí tem como realização o Desenrola e Não Me Enrola e Fluxo Imagens.

Iniciativa preserva parte da Mata Atlântica presente na zona norte de São Paulo

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“Aqui é penicilina, é um antibiótico. Não é melhor tomar um chazinho desse do que uma injeção? Eu prefiro”. Essa fala é da Maria Júlia Borges de Sousa, 67, mais conhecida como dona Júlia, que enquanto caminha apresentando a floresta também traz informações sobre a diversidade de plantas e seus benefícios à saúde.

A floresta em questão faz parte do que ainda resta da Mata Atlântica em São Paulo. Essa é uma floresta urbana localizada no bairro Jardim Filhos da Terra, na região de Tremembé, zona norte de São Paulo, que é cuidada e restaurada pelos moradores locais, através do Coletivo Autonomia ZN.  

A iniciativa desenvolve atividades com base em três áreas de atuação: permacultura, economia solidária e educação popular. Entre as atividades que realizam no local está a construção de um lago sazonal, bioconstrução de pallets, compostagem para reciclar resíduos orgânicos e produzir adubo, coleta de água, plantio, revitalização do solo e reciclagem.

“Todo esse chão é forrado de mantas, tipo cobertores, lençol, coisas que os moradores abandonam por aí. A gente sai catando com o carrinho e ao invés da gente ficar usando enxadas, se matando de carpir, a gente fez o pisoteio do capim que tinha aqui”, conta Lincohn, que é professor e um dos fundadores do coletivo Autonomia ZN, sobre um dos processos de cuidado na floresta. 

Técnica de contenção de mato e adubagem do solo feita com reciclagem de panos (foto: Viviane Lima)
Técnica de contenção de mato e adubagem do solo feita com reciclagem de panos (foto: Viviane Lima)

O Coletivo Autonomia ZN existe desde 2019, e surgiu a partir de outro coletivo que atuava na região. “Ao longo do tempo, ele foi amadurecendo e em meados de 2019, se pulverizou em várias outras iniciativas do território”, compartilha Lincohn.

“Selecionamos a palavra Autonomia, justamente porque promovemos a autonomia em vários aspectos. Principalmente autonomia em aprendizagem, mas também autonomia em cura, em alimentação, financeira. E o ZN é da zona norte, para marcar que a gente atua focado nesse território a partir da estrutura e das demandas”, aponta Lincohn Zapelini.

Biodiversidade no território

Apesar da diversidade que há na floresta, que foi batizada com o mesmo nome do coletivo, Lincohn relata que por vezes essa biodiversidade não é reconhecida nem valorizada. Ele também destaca que ainda não há muita aceitação com relação ao cultivo e o consumo das PANCs (plantas alimentícias não convencionais). 

“A gente tem mais de 30 espécies de PANCs aqui, mais de 30 espécies de ervas medicinais, 42 espécies de árvores, sendo mais de 20 frutíferas”

Lincohn Zapelini, membro do coletivo Autonomia ZN.

As ações do coletivo também são desenvolvidas com objetivo de reconectar os moradores da região com o plantio e consumo alimentar ancestral. O coletivo Autonomia ZN tem suas ações voltadas principalmente para os mais velhos e as crianças.

“A gente está conseguindo fazer uma conexão entre essas gerações para dar continuidade e não deixar morrer essa cultura do plantio, de se curar com as plantas, com as ervas medicinais, sabe?”

Lincohn Zapelini, professor da rede pública municipal de São Paulo.
Cultivo e incentivo à utilização de plantas medicinais (foto: Viviane Lima)
Cultivo e incentivo à utilização de plantas medicinais (foto: Viviane Lima)

Além das plantas, na floresta há também criação de abelhas sem ferrão, chamada de meliponicultura. “A abelha Jataí é uma abelha nativa, que faz parte do ecossistema da Mata Atlântica e é muito bem adaptada a áreas urbanas”, comenta o professor sobre as abelhas contribuírem com a proliferação de plantas e na manutenção da floresta.

Território de luta 

A floresta Autonomia ZN é um lugar de resistência assim como a ocupação que hoje forma o bairro Jardim Filhos da Terra. Parte do terreno da floresta é uma ocupação feita nos fundos da Escola Estadual Professora Eunice Terezinha de Oliveira Fragoas e outra parte é da competência administrativa estadual do INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária).

Alezani Barbosa, 50, ou Ale, como prefere ser chamada, é moradora do bairro Jardim Filhos da Terra há 21 anos e conta como a atuação do coletivo no cuidado com a floresta vem mudando a região.

Ale trabalha há um ano na logística do Coletivo Autonomia ZN (foto: Viviane Lima)
Ale trabalha há um ano na logística do Coletivo Autonomia ZN (foto: Viviane Lima)

“Aqui na floresta era um lixão, descarte de tudo que não prestava, chegou uma época que tinha [até] um corpo aí. Olha como a nossa floresta está hoje, né? E tem as coisinhas que a gente colhe de lá. Não tem tudo, mas a gente agora vai fazer uma horta”.

Alezani Barbosa de Oliveira, moradora do bairro Jardim Filhos da Terra

“Além do lixão, tinha muita violência, as crianças não tinham muita coisa pra se ocupar. Hoje a gente oferece coisas pra eles, igual a oficina de hoje”, conta Ale. A oficina a que ela se refere faz parte do projeto Escritas da Terra, que foi desenvolvido durante as atividades dos encontros mensais que acontecem entre os membros do coletivo.  

Esses encontros são chamados de Mutirão e funcionam para a manutenção do espaço. “A gente sempre tem alguma proposta para o dia. Às vezes é fazer uma poda, às vezes é refazer um canteiro, fazer o plantio ou trabalhar nas estruturas do espaço”, explica Lincohn.

Projeto Escritas da Terra, atividade realizada pelo artista local Fabiano Nunes com as crianças do bairro. (foto: Viviane Lima)
Projeto Escritas da Terra, atividade realizada pelo artista local Fabiano Nunes com as crianças do bairro. (foto: Viviane Lima)

Há também atividades nas outras frentes de atuação do projeto, como as vendas de alimentos das produtoras locais através da economia solidária, nos projetos de educação popular, como o Escritas da Terra. Em todo mutirão é feito um almoço solidário para todos que estão presentes.

Lincohn destaca que todos os projetos desenvolvidos no coletivo têm como base a floresta. “O que mantém a gente vivo e o planeta saudável são as florestas”, pontua.

Ele também destaca os impactos mais marcantes do cuidado com a floresta na região. “A pacificação do espaço, a convivência e o senso de pertencimento ao espaço público”, completa.