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“A demarcação de terra é baseada no modo de vida do não indígena”, denúncia Thiago Djekupe

Luta pela demarcação de terras criminaliza povos indígenas e impede ações coletivas, que poderiam unir as periferias, favelas e quilombos. (Foto: Dan Agostini)
Manifestação reúne lideranças indígenas guarani para protestar contra o Marco Temporal. (Foto: Dan Agostini)

Na última terça-feira (30/05), a Câmara dos Deputados, em Brasília, aprovou o projeto de lei 490, que estabelece o Marco Temporal, um conjunto de regras jurídicas que dificulta a demarcação de terras indígenas. No mesmo dia, em reação a esta decisão, inúmeros protestos dos povos indígenas se espalharam pelo Brasil.

Em São Paulo, lideranças indígenas guaranis do território Jaraguá, localizado na região noroeste da cidade, ocuparam a Rodovia dos Bandeirantes e foram brutalmente repreendidos pela polícia militar.  

“A demarcação de terra é baseada no modo de vida do não indígena, na sua crença geográfica, porque nós se entendemos como um povo livre e não proprietário de terra, nos entendemos como parte da terra, parte de toda vida que se encontra aqui”

Thiago Djekupe, liderança guarani do território indígena Jaraguá

O texto do projeto de lei do Marco Temporal só reconhece as terras indígenas legalmente ocupadas ou que estavam em disputa para serem demarcadas quando a Constituição Federal foi promulgada, em 5 de outubro de 1988, momento reconhecido na história do país como período de redemocratização após o fim da ditadura militar.

Com 283 votos a favor do Marco Temporal, os parlamentares do PL, PSD, PP, PSDB, PODE, MDB, AVANTE, PV, PSC, PDT, União Brasil, Republicanos, Cidadania, Patriota e Solidariedade, partidos que representam o centrão e a extrema direita, contribuíram para o PL 490 avançar para o Senado Federal. Agora, o projeto de lei tramita com a numeração 2.903/2023.

A terra indígena Jaraguá possui 1,7 hectares, ou seja, mais de 10 mil metros quadrados. Essa região é cercada pelo Rodoanel, Rodovia dos Bandeirantes e Anhanguera. Atualmente, os povos indígenas desta região seguem na disputa política para demarcação dos 534 hectares, uma luta coletiva e  histórica que pode ser completamente inviabilizada pela aprovação em definitivo do Marco Temporal.

“O pico do Jaraguá é sagrado para nós. Chamamos de Itawera, porque o ‘Ita’ é das pedras e o ‘wera’ é a força dos raios. O pico do Jaraguá no mundo é o lugar que mais tem ascendência do raios, que diverge né, ao invés de ele descer, ele sobe, e para nós, isso é o natural, e nós caminhamos sempre em busca da Yvy marã e’ỹ, que significa ‘Terra Sem Males’. Então esse é o caminho que fazemos seguindo a espiritualidade, seguindo a nossa fé”, contextualiza o líder indígena do povo Guarani.

A sobrevivência dos ancestrais do presente

O líder indígena Thiago Jekupe lembra que a sobrevivência faz parte da sua infância, momento em que uma família de empresários imobiliários tentou se apropriar de forma criminosa das terras sagradas do Jaraguá.

“Quando eu era criança, a família Pereira Leite veio aqui para tentar comprar a terra com uma mala de dinheiro. Colocou aqui um monte de homens armados com fuzil, metralhadora, calibre 12, cercaram nossa comunidade para nos ameaçar, e eu era só uma criança, e mesmo no tempos de agora com a gente provando que a nossa existência que garante as demais vidas, a gente teve o governo do estado, governador do palácio dos bandeirantes, um bandeirante chamado Geraldo Alckmin, entrou com um mandado de segurança contra o processo de demarcação da terra indígena Jaraguá”, revela.

“Lutar por demarcação é lutar pelo pouco que sobrou para que sobrevivamos. Quando estamos falando de demarcação, não é só demarcação de terra indígena, tem que se lembrar que as terras quilombolas mal são faladas. Não se fala sobre demarcação de terra quilombola, terra caiçara, vários movimentos têm a visão e movimento de querer aquilombar a periferia, mas não querem garantir os quilombos”

Thiago Djekupe, liderança guarani

A demarcação da terra indígena Jaraguá foi conquistada em 2015, reconhecendo os 532 hectares como área pertencente ao povo guarani, mas logo em seguida aconteceu o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, um fato que mudou totalmente a vida dos mais de 1 mil indígenas que viviam no território naquela época.

Neste contexto, o Ministro da Justiça, Torquato Jardim, do governo do presidente sucessor Michel Temer, revogou a Portaria Declaratória n°581, de 2015, que reconhecia os 532 hectares de ocupação guarani na região metropolitana de São Paulo. Desta forma, o território passou a ter somente 1,7 hectares.

Periferias, favelas e territórios indígenas juntos pelo direito à terra

Luisa Silva Rafacho, 24 anos, agente cultural e ambiental, moradora do Jaraguá, afirma que as periferias têm uma forte relação na luta pelo direito com os territórios indígenas. “Eu acredito que as lutas por terra na quebrada e na aldeia se relacionem ao ponto que são formas de pensar em futuros coletivos, em soluções de reflorestamento, de bioconstruções, e principalmente a forma que você constrói sua casa, capta água e luz, poderia ser uma luta muito mais compartilhada, principalmente no campo das políticas públicas”, argumenta.

Para a agente ambiental, essa seria uma forma coletiva de promover um desenvolvimento cultural e ambiental que poderia evitar a separação destas lutas dentro da cidade. “Ser uma pessoa preta e periférica vivendo em um território de preservação dos últimos remanescentes da mata atlântica do Brasil, e ainda ter a cidade como parte disso, é compreender essa relação que a cidade está inserida dentro da mata, e foi crescendo assim, e só de pensar nisso, eu me adapto nessa condição, acredito que a floresta pode ser o futuro”, ressalta a moradora do Jaraguá. 

Jekupe também acredita nessa correlação de luta e diz que a quebrada se unir à demarcação também é uma forma de independência das periferias. “Imagina a periferia aproveitando seus espaços para trazer saneamento ecológico, saneamento barato, prático, se você tem agrofloresta na quebrada, entende que pode se investir em placas solares e parar de pagar energia, você sai da mão dos bandeirantes, da mão do palácio dos bandeirantes, eles não querem que a periferia entenda que a quebrada forte, que uma memória pode despertar a independência do seu território”, analisa.

Ao parar por alguns momentos e refletir sobre tudo o que tem acontecido no contexto do Marco Temporal, o líder indígena faz uma comparação sobre o impacto da criminalização da vida nas periferias, favelas e nos territórios indígenas.

“Nós estamos em situação precária que nem nas favelas e nas quebradas, sem saneamento básico, abandono de animais, por isso temos que lutar juntos e não dividir nossas lutas, as pessoas nos criminalizam pra dividir, a gente só tá buscando uma terra sem mal, e porque o não indígena não pode também buscar uma terra sem mal?”, questiona o líder guarani.

Coletivo registra memórias de trabalhadores da zona leste que construíram São Paulo

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Na zona leste da capital, o resgate e preservação das memórias da região são feitos pelo Centro de Pesquisa e Documentação Histórica Guaianás, iniciativa que desde 2012 investiga as histórias de bairros do extremo leste, mais especificamente dos distritos de Lajeado, Guaianases, Cidade Tiradentes e São Mateus.

Atualmente, o projeto conta com acervo documental, história oral e programas de formação e difusão de memórias. Renata Eleutério, 37, moradora do Jardim Lourdes, distrito de Guaianazes, é cientista social, pesquisadora, idealizadora e co-fundadora do CPDoc Guaianás.

“A história do bairro de Guaianazes sempre foi narrada por italianos, espanhóis e portugueses”

Renata Eleutério, co-fundadora do Centro de Pesquisa e Documentação Histórica Guaianás
Entrevistar moradores que são migrantes nordestinos ou sudestinos é uma estratégia do coletivo para registrar memórias dos trabalhadores que construíram os bairros da zona leste de São Paulo. (Foto: Allan Cunha)

Visando mostrar os moradores como protagonistas de suas histórias, o CPDoc passou a mapear o território e pessoas para entender quais eram esses lugares de luta, de importância sem necessariamente serem lembrados por dores e violências.

“Onde está a história dos trabalhadores, dos nossos pais migrantes da Bahia, Paraná, Ceará, Minas. População que sempre marcou com sangue da força do seu trabalho na construção dessa cidade chamada São Paulo?”, questiona Renata.

Uma das primeiras iniciativas foi o registro oral dessas informações, indo até os detentores do conhecimento da região: os moradores mais velhos. Um trabalho de pesquisa foi feito com um núcleo de idosos e a partir disso surgiu o “Histórias do Meu Bairro”, um projeto focado na população comum que narra sua própria história.

“A gente criou o Histórias do Meu Bairro, que é um projeto onde a gente vai até um ponto específico nesses bairros, onde a população está passando e é focado na população comum, como ela vê o bairro, lugares que são importantes para ela, o que ela acha que tem que ser preservado na história do bairro”

Renata Eleutério, cientista social e pesquisadora
Os pesquisadores periféricos que integram o Coletivo CPDOC Guaianás são cientistas sociais, historiadores, fotógrafos, museólogos e educadores populares.

Mesmo sendo uma referência em pesquisa, documentação e investigação para a região da zona leste, atualmente o CPDoc não possui espaço físico de atuação e de exposição de todo o acervo que possuem, o que limita a possibilidade de disseminar ainda mais essas informações dos trabalhadores que fizeram a região ser o que é.

“Durante a pandemia precisamos sair do CEU Jambeiro, porque virou uma sede de abrigo, e as perspectivas de futuro são justamente essas: ter uma sede fixa para ser uma referência para a população de modo geral nos encontrar e fomentar, junto com ela um museu da história desses trabalhadores do extremo leste da cidade de São Paulo”, avalia uma dos criadoras do centro de pesquisa e memórias.

O projeto Histórias do Meu Bairro é uma das produções audioviais do CPDOC Guaianás com depoimentos de moradores das periferias da zona leste de São Paulo.

Com atividades em formatos diferentes, o CPDoc atua com projetos de participação ativa dos moradores da zona leste, propondo formação com especialistas de áreas científicas para o coletivo e para a população de forma gratuita, além de jornadas fotográficas pelo bairro e grupo de estudos.

“São com esses questionamentos que nasce o CPDOC Guaianás, a fim de marcar essa história dos Silvas, Oliveiras, Souzas, Batistas, Santos, entre tantos outros que o sobrenome nunca foi tão importante para ganhar um busto na praça e ou um nome de rua, a não ser quando eles mesmos puderam nomear as ruas”, finaliza Renata.

A Virada Cultural de 2023 “moio” para os artistas periféricos

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Com um investimento de 40 milhões e sob fortes chuvas, a virada cultural de 2023 aconteceu em meio a inúmeras contradições. Primeiro porque a ideia inicial da Secretária de Cultura Aline Torres era a “Virada do Metaverso”.

Metaverso?

Explico: a intenção era destinar cerca de 10 milhões de reais para empresas de tecnologia utilizarem o espaço cibernético para promover atrações culturais. Medida que foi sabiamente barrada pelo Tribunal de Contas do Município.

Muito se falou sobre a descentralização dos palcos. E como os territórios periféricos foram agraciados por atrações de renome. Mas nada se falou sobre a falta de representatividade nas atrações. 

Uma coisa é trazer artistas e outra é promover as iniciativas locais. 

Não vimos por exemplo a cultura popular em sua manifestação mais pura. As comunidades de samba? não teve. A literatura periférica? também não. Os blocos afros e maracatus? tão pouco.

A segurança pública foi outro ponto bastante polêmico. O fantasma dos arrastões e assaltos nas madrugadas do centrão foram diminuídos por uma ação bem básica: um único palco no vale dos 100 milhões (Vale do Anhangabaú).

Com grades e mais policia do que público, o único palco do centro de São Paulo, que teve 24 horas de atrações, promoveu um verdadeiro apartheid social. De um lado víamos a população em situação de rua e do outro lado os munícipes curtindo.

Já na quebrada, vimos como os shows serviram para uma verdadeira campanha política antecipada.  

De hora em hora os microfones anunciavam agradecimentos para a prefeitura, secretaria de cultura e sub-prefeitura e, como de praxe, vereadores “figurões” da direita. A ordem da prefeitura era para que as equipes vinculadas aos vereadores estivessem na produção dos eventos nas comunidades, tudo bem dividido para a base aumentar a popularidade do Ricardo Nunes.

Outro ponto importante é que diferente do “centrão”, na quebrada os shows não atravessaram a madruga. A “virada” acabou às 22h e retornou na manhã do domingo.

Bateu dez e um e a galera já havia sido dispersada das ruas. A prefeitura deixa bem explícito que atrações na quebrada tem hora para acabar, não diferente do carnaval e outras comemorações locais.

A cortina de fumaça da virada cultural não vai apagar a gestão higienista que Ricardo Nunes defende para a cidade. 

O recado dele é: nós aqui e vocês lá, cada um no seu lugar.

Uma virada cultural inclusiva precisa entender o momento social que estamos passando. Artistas independentes precisam ser valorizados pois a responsa de aquecer os corações e cativar o povo não é somente em 24 horas, é o ano inteiro.

Papo 10

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Hoje é para vocês galerinha: meninos e meninas, menores de idade, a criançada, os adolescentes.

Sabe aquele conselho que tu escuta daquela pessoa que te ama, que quer teu bem e aí escuta mesmo achando chato pra caramba e mais tarde tudo faz sentido? Lê esse texto hoje como se fosse ouvindo a voz dessa pessoa.

Queria passar a visão para vocês. Nós que moramos na quebrada sabemos bem da dificuldade que enfrentamos, do veneno que os mais velhos passam e da luta que é dia após dia.

Falar para vocês que não tem vida fácil, vai ter dia que tudo vai ser lindo e estar a favor, mas vai ter dias que parece que o mundo só conspira contra você, barato louco! 

Sabe o que faz de você diferenciado(a)? A maneira como você vai enfrentar esses dias ruins, porque os bons a gente tira de letra né, não!? 

Nada vem fácil galerinha, tudo é passível de muita luta. Não existe caminho mais curto. O caminho é longo, mas traz para vocês vivência que mais tarde vão entender.

Sabe o que ninguém tira de vocês? Seu conhecimento! Estudar não é chato não, estudar amplia sua visão, expande sua mente.

Papo 10 galera, você começa a pensar para frente, entender diversas coisas e somar com suas vivências, sonhos e colocar em prática aquilo que o sistema desacredita de nós: pessoas instruídas, com conhecimento vasto e formadores de opinião.

Estude, nunca pare de estudar. Sonhe, busque seus sonhos com toda força, acredite em você. Lute por aquilo que você acredita. Na quebrada o que mais existe é galera talentosa, prontos para dar o nome e fazer acontecer nesse mundão. 

Malandragem de verdade é viver molecadinha. Vamos mostrar que não viemos para pouco.  

Para finalizar deixo essa visão aqui que tenho certeza que vocês conhecem.

Aí, louco, muita fé naquele que tá lá em cima, que ele olha pra todos, e todos têm o mesmo valor
Vem fácil, vai fácil, essa é a lei da natureza, não pode se desesperar
E aí, molecadinha, tô de olho em vocês, hein?
Não vai pra grupo não, a cena é triste
Vamos estudar, respeitar o pai e a mãe e viver
Viver!
Essa é a cena
Muito amor

Eu sou 157 – Racionais Mc’s

Psicóloga explica como a cisheteronormatividade afeta crianças e adolescentes

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O Brasil continua no ranking de nações que mais mata pessoas trans no mundo. Em 2021, o país se tornou líder mundial de idade mínima por assassinatos, ao registrar a morte de uma adolescente, de apenas 13 anos, sendo a vítima mais jovem por transfobia que se tem registro, entre os 31 países com casos relatados pela organização social Transgender Europe (TGEU).

Para desenrolar sobre esse assunto, o Desenrola Aí conversa com a psicóloga e educadora em sexualidade, Elânia Francisca, que apontou a falta da educação em sexualidade como um dos principais problemas relacionados aos dados de violência por transfobia no Brasil.

Segundo Elânia, essa falta de educação em sexualidade promove diariamente a Cisheteronormatividade, comportamento social que traz uma série de consequências que afetam de forma física e emocional crianças e adolescentes, que não atendem a essas normas impostas pela sociedade. 

“O que a gente percebe é que na infância muitas dores, muitos traumas, muitas questões vão nos engessando também pela questão de gênero, pela questão de raça, de classe e essa cisheteronormatividade, e tudo isso, precisa ser combatido com educação em sexualidade. Sou uma Educadora em sexualidade, sou defensora da educação em sexualidade, justamente porque a educação em sexualidade, ela vai promover momentos de reflexão sobre si, sobre contato com outras pessoas, sobre a existência de todo mundo no mundo, e que cabe todo mundo no mundo, com respeito, com garantia de direitos”.

Elânia Francisca, psicóloga e educadora em sexualidade

O terceiro episódio do Desenrola Aí está disponível no canal do Youtube do Desenrola e Não Me Enrola.

A direita a psicóloga e educadora em sexualidade, Elânia Francisca, à esquerda a jornalista, Thais Siqueira durante o programa Desenrola Aí. Foto: Pedro Oliveira (maio/2023)
A direita a psicóloga e educadora em sexualidade, Elânia Francisca, à esquerda a jornalista, Thais Siqueira durante o programa Desenrola Aí. Foto: Pedro Oliveira (maio/2023)

Sobre o Desenrola Aí 

O Desenrola Aí é um programa quinzenal que visa trocar ideias com especialistas da quebrada, descomplicando assuntos relevantes, que afetam o cotidiano da população negra e periférica e os direitos humanos, que é a essência da nossa existência e convivência enquanto sociedade.

Nessa primeira temporada vamos abordar sobre os direitos, à vida e a luta da população LGBTQIAPN+ nas periferias. O Desenrola Aí tem como realização o Desenrola e Não Me Enrola e Fluxo Imagens.

Iniciativa preserva parte da Mata Atlântica presente na zona norte de São Paulo

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“Aqui é penicilina, é um antibiótico. Não é melhor tomar um chazinho desse do que uma injeção? Eu prefiro”. Essa fala é da Maria Júlia Borges de Sousa, 67, mais conhecida como dona Júlia, que enquanto caminha apresentando a floresta também traz informações sobre a diversidade de plantas e seus benefícios à saúde.

A floresta em questão faz parte do que ainda resta da Mata Atlântica em São Paulo. Essa é uma floresta urbana localizada no bairro Jardim Filhos da Terra, na região de Tremembé, zona norte de São Paulo, que é cuidada e restaurada pelos moradores locais, através do Coletivo Autonomia ZN.  

A iniciativa desenvolve atividades com base em três áreas de atuação: permacultura, economia solidária e educação popular. Entre as atividades que realizam no local está a construção de um lago sazonal, bioconstrução de pallets, compostagem para reciclar resíduos orgânicos e produzir adubo, coleta de água, plantio, revitalização do solo e reciclagem.

“Todo esse chão é forrado de mantas, tipo cobertores, lençol, coisas que os moradores abandonam por aí. A gente sai catando com o carrinho e ao invés da gente ficar usando enxadas, se matando de carpir, a gente fez o pisoteio do capim que tinha aqui”, conta Lincohn, que é professor e um dos fundadores do coletivo Autonomia ZN, sobre um dos processos de cuidado na floresta. 

Técnica de contenção de mato e adubagem do solo feita com reciclagem de panos (foto: Viviane Lima)
Técnica de contenção de mato e adubagem do solo feita com reciclagem de panos (foto: Viviane Lima)

O Coletivo Autonomia ZN existe desde 2019, e surgiu a partir de outro coletivo que atuava na região. “Ao longo do tempo, ele foi amadurecendo e em meados de 2019, se pulverizou em várias outras iniciativas do território”, compartilha Lincohn.

“Selecionamos a palavra Autonomia, justamente porque promovemos a autonomia em vários aspectos. Principalmente autonomia em aprendizagem, mas também autonomia em cura, em alimentação, financeira. E o ZN é da zona norte, para marcar que a gente atua focado nesse território a partir da estrutura e das demandas”, aponta Lincohn Zapelini.

Biodiversidade no território

Apesar da diversidade que há na floresta, que foi batizada com o mesmo nome do coletivo, Lincohn relata que por vezes essa biodiversidade não é reconhecida nem valorizada. Ele também destaca que ainda não há muita aceitação com relação ao cultivo e o consumo das PANCs (plantas alimentícias não convencionais). 

“A gente tem mais de 30 espécies de PANCs aqui, mais de 30 espécies de ervas medicinais, 42 espécies de árvores, sendo mais de 20 frutíferas”

Lincohn Zapelini, membro do coletivo Autonomia ZN.

As ações do coletivo também são desenvolvidas com objetivo de reconectar os moradores da região com o plantio e consumo alimentar ancestral. O coletivo Autonomia ZN tem suas ações voltadas principalmente para os mais velhos e as crianças.

“A gente está conseguindo fazer uma conexão entre essas gerações para dar continuidade e não deixar morrer essa cultura do plantio, de se curar com as plantas, com as ervas medicinais, sabe?”

Lincohn Zapelini, professor da rede pública municipal de São Paulo.
Cultivo e incentivo à utilização de plantas medicinais (foto: Viviane Lima)
Cultivo e incentivo à utilização de plantas medicinais (foto: Viviane Lima)

Além das plantas, na floresta há também criação de abelhas sem ferrão, chamada de meliponicultura. “A abelha Jataí é uma abelha nativa, que faz parte do ecossistema da Mata Atlântica e é muito bem adaptada a áreas urbanas”, comenta o professor sobre as abelhas contribuírem com a proliferação de plantas e na manutenção da floresta.

Território de luta 

A floresta Autonomia ZN é um lugar de resistência assim como a ocupação que hoje forma o bairro Jardim Filhos da Terra. Parte do terreno da floresta é uma ocupação feita nos fundos da Escola Estadual Professora Eunice Terezinha de Oliveira Fragoas e outra parte é da competência administrativa estadual do INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária).

Alezani Barbosa, 50, ou Ale, como prefere ser chamada, é moradora do bairro Jardim Filhos da Terra há 21 anos e conta como a atuação do coletivo no cuidado com a floresta vem mudando a região.

Ale trabalha há um ano na logística do Coletivo Autonomia ZN (foto: Viviane Lima)
Ale trabalha há um ano na logística do Coletivo Autonomia ZN (foto: Viviane Lima)

“Aqui na floresta era um lixão, descarte de tudo que não prestava, chegou uma época que tinha [até] um corpo aí. Olha como a nossa floresta está hoje, né? E tem as coisinhas que a gente colhe de lá. Não tem tudo, mas a gente agora vai fazer uma horta”.

Alezani Barbosa de Oliveira, moradora do bairro Jardim Filhos da Terra

“Além do lixão, tinha muita violência, as crianças não tinham muita coisa pra se ocupar. Hoje a gente oferece coisas pra eles, igual a oficina de hoje”, conta Ale. A oficina a que ela se refere faz parte do projeto Escritas da Terra, que foi desenvolvido durante as atividades dos encontros mensais que acontecem entre os membros do coletivo.  

Esses encontros são chamados de Mutirão e funcionam para a manutenção do espaço. “A gente sempre tem alguma proposta para o dia. Às vezes é fazer uma poda, às vezes é refazer um canteiro, fazer o plantio ou trabalhar nas estruturas do espaço”, explica Lincohn.

Projeto Escritas da Terra, atividade realizada pelo artista local Fabiano Nunes com as crianças do bairro. (foto: Viviane Lima)
Projeto Escritas da Terra, atividade realizada pelo artista local Fabiano Nunes com as crianças do bairro. (foto: Viviane Lima)

Há também atividades nas outras frentes de atuação do projeto, como as vendas de alimentos das produtoras locais através da economia solidária, nos projetos de educação popular, como o Escritas da Terra. Em todo mutirão é feito um almoço solidário para todos que estão presentes.

Lincohn destaca que todos os projetos desenvolvidos no coletivo têm como base a floresta. “O que mantém a gente vivo e o planeta saudável são as florestas”, pontua.

Ele também destaca os impactos mais marcantes do cuidado com a floresta na região. “A pacificação do espaço, a convivência e o senso de pertencimento ao espaço público”, completa. 

“Estou vivendo de poesia”: Poeta inova e empreende com venda de telemensagens digitais

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Atualizando as telemensagens que se popularizam em São Paulo entre os anos de 1990 e 2000, Karen David, 28, poeta e moradora do moradora do Alto do Riviera, zona sul da capital, oferece poesias personalizadas através de ligações, áudios no WhatsApp, cartas e vídeos para contar histórias de amor, desamor, pedidos de reconciliação e datas comemorativas.

O serviço de telemensagens começou quando Karen propôs ligar para as namoradas e esposas de amigos próximos e recitar uma poesia a R$ 2,00, pois precisava pagar a assinatura de streaming e daí surgiu a oportunidade de ter na poesia uma renda e flexibilidade para trabalhar. 

“Eu peguei as poesias que já tinha e fiz as telemensagens em formato de poesia. Postei no Instagram e comecei a oferecer pros meus amigos cobrando um valor simbólico de R$ 2,00, já que eles diziam que gostavam dos meus textos e toparam”, relembra a poeta.

“Eu precisava somar com a minha renda e pagar a Netflix”

Karen David, poeta e empreendedora

Poeta compartilha telemensagem no Tik Tok

@kahdaviid

A ex dele me pediu pra montar uma poesia de reconciliação, será que deu certo? #tik_tok #amorimpos#ex#correio#poesia

♬ Photograph – Ed Sheeran

A ideia deu certo logo de cara e publicar os vídeos no TikTok foi um divisor de águas na carreira de Karen. O primeiro vídeo bateu 450 mil visualizações, o segundo mais de 3 milhões, ela foi de 500 para 10 mil seguidores em um dia. “Depois disso, a galera começou a me procurar para contratar o serviço, mas eu não tinha um serviço, nem o produto”, relata.

Por ser uma iniciativa considerada nova, Karen não tinha referências e artistas que fizessem esse tipo de trabalho, então junto com sua irmã planejaram um negócio rentável e com qualidade, usando de parâmetro as próprias histórias de quem contratava o serviço, trazendo ainda mais identificação com as mensagens.

“Quando isso se estruturou nós pensamos ‘temos um negócio’. Foi que pensei que a gente estava atualizando o serviço dos anos 1990, inclusive até já mandei uma vez e isso pode ter me inspirado inconscientemente, mas no começo eu só pensava em entregar as poesias”, explica ela sobre ter se inspirado nas telemensagens.

“Hoje nós trabalhamos com formatos além das ligações como texto, áudio, vídeos, stories e cartas, que a gente envia pelo correio”

Karen David, poeta e empreendedora

Tik Tok atrai novos clientes

Natson Verissimo, 36, é morador do Jardim Ângela e proprietário de uma sorveteria no Grajaú, zona sul de São Paulo. Ele contratou a primeira telemensagem para a mãe em 2022. Mesmo sem a artista conhecer pessoalmente, tem uma sintonia e carinho capazes de estreitar a relação e o contato físico ser um detalhe. 

“Conheci o trabalho dela no TikTok, a única rede social que eu uso. A voz e o jeito dela me contagiou, hoje a considero alguém da família. E quando descobri que ela era da minha quebrada eu tive [através dela] essa vontade de valorizar esses talentos, justamente por trabalhar na periferia”, afirma o cliente da empreendedora de telemensagens poéticas.

Veríssimo conta que já utilizou o serviço de telemensagens oferecido antigamente e afirma que a reação da mãe ouvindo a poesia foi impagável, pois as palavras usadas pela artista expressavam o sentimento que ele queria proporcionar, a partir de um direcionamento dado por ele através do atendimento da equipe.

“Eu era do tipo que mandava telemensagem de aniversário e estava com a minha mãe na hora da mensagem e ver a reação dela escutando não tem preço que pague, não é preço é valor. A Karen se empenha para isso, ela quer o melhor, quer tocar o coração e ela vem com palavras lindas, transmitindo tudo que a gente queria dizer e não sabia como”,

A poesia como inovação 

Trabalhando desde os 14 anos como garçonete e bartender, Karen conta que nunca esteve de folga sábado e domingo e trabalhava em regime CLT como gerente de uma pizzaria quando o negócio da poesia deu certo.

Ela se orgulha em dizer que conseguiu estabilizar a vida da mãe, que já não é mais empregada doméstica por causa do seu corre com a poesia, assim como sua irmã, Quesia David, que atua como gerente operacional em sua empresa. 

“A liberdade que o meu trabalho me traz me encanta”

Karen David, poeta e empreendedora

“É muito gratificante poder manter minha casa e a casa dos meus com o dinheiro da minha arte, a poesia sustenta o nosso lar. Não estou sobrevivendo, estou vivendo de poesia e isso ressignificou tudo que sou como pessoa e como artista”, afirma.

Desde o início de seu trabalho com as telemensagens, a artista sempre recebeu muitas demandas e durante o período de mais contratações, chegou a entregar 20 poesias em um dia.

Com o aumento da demanda, ela precisou contratar uma equipe que pudesse auxiliar nos atendimentos, pagamentos e agendamentos, enquanto escrevia os textos poéticos. Atualmente, a equipe conta com mais duas pessoas e aos fins de semana, quando tem mais demandas de atendimento, mais um freelancer. 

Além de poeta e escritora, Karen tem a sua própria marca de roupas. (Foto: Arquivo Pessoal)
Além de poeta e escritora, Karen tem a sua própria marca de roupas. (Foto: Arquivo Pessoal)

 Conforme as pessoas entendiam a importância do trabalho, passaram a pagar até mais do que era cobrado para passar na frente de uma fila de espera. “Comecei cobrando 30 reais e depois vi que estava barato porque as pessoas viram que o trabalho era entregue de forma tão completa que começaram a pagar mais e precisei ajustar os valores. Hoje tenho produtos que vão de R$ 30,00 a R$ 200,00, faço promoções toda semana, rifa e a maioria das pessoas acha o valor justo”, diz a empreendedora de telemensagens poéticas.

Mesmo com a intenção de viver da arte, Karen diz que a sua motivação consiste em fazer com que as pessoas se vejam no seu trabalho, que seja algo que represente as histórias delas, sem necessariamente salvar a vida de alguém.

“Eu sempre quis que a pessoa se visse naquele texto, que diga ‘isso me define e define minha história, minha maior frustração é quando a pessoa diz que aquilo não representa a história dela. Nunca tive a pretensão de salvar a vida de ninguém, embora isso aconteça, é a cereja do bolo”, revela.

Além de poeta, Karen é fundadora da Urban KD, uma loja de roupas online com camisetas, bonés e moletons, e autora do livro Tinha Perigo na Curva do Seu Sorriso, lançado em 2023. A publicação aborda vivências da poeta com amores e desamores.

“O processo de escrita foi doloroso, embora as poesias já estivessem todas prontas, eu ficava me sabotando, achava que não venderia, que era demais pra mim. Então eu levei um ano, e quando enfim tive coragem de publicar, foram 85 cópias vendidas no pré-lançamento. Na real meu sonho é viver do livro”, finaliza.

O limite do humor: como uma piada sobre meu cabelo afro me fez ter vergonha dele boa parte da vida

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Eu sou uma mulher negra de pele clara com cabelo cacheado – mal definido, com frizz e como, a gente diz lá em casa, “armado”. Eu nunca consegui cuidar do meu cabelo direito. Só sei que desde pequena ele precisava ficar “na régua”.

Lembro de alguns familiares perguntarem pra minha mãe porque eu e minha irmã estávamos sempre com o cabelo preso no estilo rabo de cavalo, daquele jeito que a gente sempre falava que “a vaca lambeu” na frente, de tão certinho, sem nenhum fio solto na frente.

O fato é que minha mãe não tinha tempo, condições e nem jeitos pra aprender a lidar com o nosso cabelo. Ela, com seu afro raiz, sempre deixava o seu curtinho, até que consegui um tempinho para o autocuidado, mas para alisá-lo, como alisa até hoje.

Mas uma piada me deixava sem saber o que era o que. E vinha de casa, do meu pai. E até hoje ele não entende como isso me impactou. A gente sabe como a afetividade – sempre no limite do limite – nos obriga, às vezes, a abrir mão da racionalidade racial quando todas as tentativas de explicações do que nos dói já foram esgotadas. 

“Cabelo ruim é igual bandido: ou tá preso ou tá armado” 

Entre preso e armado ficava o entendimento subjetivo de que era melhor estar preso. E prendia o cabelo. Não sabia como soltar. Quando soltei de fato, deixava a raiz o mais lisa que conseguia. Me recusava a alisar as pontas. Eu sempre achei os cachos bonitos. Mesmo eu tendo raiva deles às vezes, afinal, não sabia cuidar – se pá não sei até hoje – eu gostava. Eu nunca gostei do cabelo “lambido”, aquele liso em que não para nada.

Mas me rendi. A chapinha me acompanhou por boa parte da juventude. Depois de um tempo em que não conseguia parar para alisar o cabelo tendo que me dividir entre estudos e emprego, apareci na faculdade de cacho. Ironicamente, depois disso passei a ser questionada do porquê alisava o cabelo. O amigos não-negros acham o cabelo natural bonito.

Assumi o cacho de fato pouco antes de terminar a faculdade. Em casa a situação era a mesma, meu pai dizia que estava feio, pra eu voltar a alisar. No tom pejorativo criticava dizendo que “o cabelo estava todo armado”. Pisei firme, disse que ele não poderia dizer mais aquilo, que eu me sentia bonita do jeito que estava.

Obviamente, com o tempo aprendi a cuidar, mas mais do que isso, aprendi a amar meu cabelo. Hoje meu pai o elogia, diz que do jeito que eu deixo fica bonito. Às vezes, do nada, quando ele me vê, solta um “nossa, como seu cabelo tá bonito”.

Tem muitas outras “piadas” irresponsáveis que ainda estão lá, no dia a dia. Mas esta do cabelo eu posso dizer que venci com ele. Ela nunca mais fez morada entre nossas trocas.

Em tempos em que questionamos o limite do humor e a afetividade de quem transmite, que a gente possa de fato refletir e praticar a responsabilidade das palavras, mesmo as que tem o tom de sátira. 

Palavra é palavra e, como dizem os mais velhos – e religiosos – palavra tem poder. 

Mulheres criam centro de memória para impedir o apagamento histórico de moradores de Perus

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Com o intuito de resgatar e manter vivas as memórias de movimentos sociais e moradores do território de Perus, periferia da zona noroeste de São Paulo, um grupo de mulheres se uniu para construir o Centro de Memória Queixadas Sebastião Silva de Souza, iniciativa que está colocando o bairro no mapa das luta por direitos humanos no Brasil.

Uma das fundadoras do Centro de Memórias Queixadas é a jornalista Sheila Moreira. Ela conta que o sonho de construir o projeto se tornou realidade após a conquista de um edital de cultura. “Em 2019 fomos contemplados com o Fomento à Cultura das Periferias, para começar o projeto em 2020”, relembra.

Assinada em 2016, pelo então prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT) e atual ministro da economia no governo Lula (PT), a Lei de Fomento à Cultura das Periferias é uma política pública administrada e executada pela Secretaria Municipal de Cultura, construída a muitas mãos por coletivos, artistas independentes e ativistas culturais que integram o Movimento Cultural das Periferias.

“Meu avô era um Queixada”

Sheila Moreira, co-fundadora do Centro de Memórias Queixadas
No canto direito da imagem, Sheila Moreira percorre os totens da Exposição Museu de Rua, organizada pelo Centro de Memórias Queixadas. (Foto: Caroline Brandão)
No canto direito da imagem, Sheila Moreira percorre os totens da Exposição Museu de Rua, organizada pelo Centro de Memórias Queixadas. (Foto: Caroline Brandão)

Com o apoio do edital, a estrutura do projeto conta com acervos de fotos, vídeos, documentos e depoimentos de pessoas importantes para a preservação da memória do bairro.

Uma das principais histórias que marcam a construção do Centro de Memória Queixadas é o resgate de documentos históricos sobre a trajetória de vida dos trabalhadores da Fábrica de Cimento Portland, onde aconteceu a mais longa greve sindical do Brasil, entre 1962 e 1969, período que aconteceu a ditadura militar no Brasil.

“Era um sonho para muitos que o Centro de Memórias fosse dentro da fábrica de cimento, mas ela ainda pertence à família Abdalla, ou seja, é uma propriedade privada”, explica Sheila, que também é moradora de Perus, e é neta de Sebastião Silva, morador que dá nome ao Centro de Memória.

“A gente acredita que precisa pegar de volta nossas narrativas”

Sheila Moreira, jornalista e moradora de Perus

“Meu avô era um Queixada e o Centro de Memórias leva o nome dele, mas ele não chegou a conhecer o espaço”, complementa a jornalista. Sebastião Silva de Souza, o avô de Sheila, foi um dos operários grevistas da Fábrica de Cimento Portland, que ficaram conhecidos como Queixadas. Ele articulou a participação de outros funcionários para aderir a greve e lutar por melhores direitos trabalhistas. 

Queixada, o apelido dado aos operários grevistas é o nome de um porco do mato que anda em bando, fazendo um barulho com o queixo quando estão bravos. O nome Queixada foi levantado no contexto da greve, onde durante uma assembleia alguém disse que os operários se pareciam com o animal justamente por ser forte em bando. Os trabalhadores que não aderiram à greve eram chamados de pelegos. 

Bairro educador 

A ex-prefeita de São Paulo, Luiza Erundina, já visitou o Centro de Memórias Queixadas, que está localizado em um biblioteca pública de Perus. (Foto: Caroline Brandão)
A ex-prefeita de São Paulo, Luiza Erundina, já visitou o Centro de Memórias Queixadas, que está localizado em um biblioteca pública de Perus. (Foto: Caroline Brandão)

A inauguração do espaço só aconteceu em 2022, por conta da pandemia, que gerou um atraso no processo de coleta de materiais históricos e também na construção da estrutura física, que serviria para armazenar o acervo de fotos, exposições, vídeos e documentos de forma apropriada. No entanto, esse processo serviu para aproximar o Centro de Memória de espaços públicos de educação e incentivo à leitura no distrito de Perus.

O Centro de Memórias Queixada Sebastião Silva de Souza foi inaugurado em março de 2022 e está localizado dentro da biblioteca pública Padre José de Anchieta, no bairro de Perus, e propõe atividades e debates para crianças, jovens e adultos.

Atualmente, o projeto está desenvolvendo um jogo de tabuleiro que conta a história do bairro, para alunos do ensino fundamental I, que impacta crianças de 6 a 10 anos, que cursam da primeira à quinta série de escolas públicas.

“A gente acredita que precisa pegar de volta nossas narrativas, tem pessoas aí contando nossa história e temos que ter certeza que isso está certo.”, finaliza Sheila, apontando a importância de apresentar para as crianças o contexto histórico do bairro onde elas vivem. 

Família tradicional brasileira: a quem isso serve? #08

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A ideia de um padrão familiar apaga muitos tipos de experiências e de contextos. Porque é sempre bom lembrar que os padrões não têm a função de contemplar todos. E aí imagina quem fica de fora dessa narrativa.

No papo sobre a “família tradicional brasileira”, desenrolamos a ideia de família a partir da visão de quem é da quebrada e batemos um papo sobre as desigualdades por trás desse discurso. Nossa troca foi com a poeta e agente cultural Nina Barbosa, e com a Simony dos Anjos que é cientista social e integrante da Rede de Mulheres Evangélicas.

O Cena Rápida tem episódios novos quinzenalmente, sempre às quartas, disponivel gratuitamente no Google PodcastsSpotify e Youtube.

Ficha técnica:
Roteiro, apresentação e entrevistas – Evelyn Vilhena
Distribuição – Samara da Silva e Thais Siqueira
Produção audiovisual – Pedro Oliveira
Foto da arte – DiCampana Foto Coletivo
Identidade visual – Flávia Lopes
Vinheta e edição – Jonnas Rosa