O uso do termo emergência climática para se referir ao que até então era conhecido como mudança climática, pode ser considerado um alerta para as consequências causadas pelas alterações do clima que atingem principalmente as periferias, conforme aponta Sara Aleixo de Souza, 31, graduada em ciências ambientais, integrante da Rede Permaperifa, e moradora do bairro Jardim Silvia, em Embu das Artes, na região metropolitana de São Paulo.
“Os efeitos da alteração do clima sempre afetam de maneira mais impactante as periferias, [como] o calor extremo, a falta de água, de saneamento, os efeitos da chuva, [isso] na periferia é de maior impacto do que nas regiões de privilégio.”
Sara Aleixo de Souza, cientista ambiental, integrante da Permaperifa.
Sara Aleixo de Souza, graduada em ciências ambientais e integrante da Rede Permaperifa (foto: arquivo da Rede Permaperifa)
Sara explica que a emergência climática está diretamente conectada à emissão de gases poluentes na atmosfera e aos efeitos do desmatamento. Ela também aponta que a alteração na temperatura da atmosfera está ligada aos regimes de chuva e aos ciclos das enchentes, que todos os anos prejudicam muitos moradores das periferias. O avanço da industrialização e os impactos negativos do crescimento econômico a todo custo também refletem no clima.
Permacultura nas periferias
A cientista ambiental aponta que um modo de resistência para lidar com essas mudanças climáticas é através do encontro, da comunidade e da troca, e é nesse sentido que se explica a existência da Permaperifa.
O trabalho da Rede Permaperifa começou em 2015, através de um grupo de educadores ambientais que se reuniram com a proposta de conectar os permacultores periféricos que estavam espalhados e atuando em diferentes quebradas de São Paulo. O objetivo também era, e ainda é, fomentar a expansão de permacultores nesses territórios através do repasse de conhecimentos.
Primeiro encontro da Rede Permaperifa, em 2015, na comunidade Quilombaque, no bairro Perus. (foto: arquivo da Rede Permaperifa)
“A estratégia proposta dentro desse primeiro evento, [foi] que sempre houvesse alguma periferia que recebesse coletivos de permacultores periféricos, para executar alguma transformação socioambiental naquele espaço, a cada dois ou três meses”, explica Sara sobre a criação da rede.
Esses encontros se firmaram e hoje são os chamados mutirões da Rede Permaperifa. São ações rotativas que se adequam às necessidades de cada território: pode ser um mutirão para a construção de uma composteira, de uma cerca, de uma cisterna, horta, plantação, entre outras atividades conforme a demanda da região.
O termo Permacultura vem da junção de duas palavras: permanência e cultura. A ideia é utilizar tecnologias e práticas que visam um modo de vida, através da agricultura, que seja sustentável, social e ecológico, para assim criar condições para a permanência da vida.
Segundo Sara, esse sistema e os conhecimentos que ele engloba chegaram ao Brasil em meados dos anos 2000, de modo elitizado, mas aos poucos, através de coletivos como o Permaperifa, tem chegado também nas periferias.
A Rede Permaperifa já realizou 36 edições dos mutirões em diferentes regiões periféricas de São Paulo. “Primeiro a gente realiza a obra no espaço, depois a gente senta em roda e dá informes. No final [em assembleia] abre a inscrição para os espaços que pretendem receber o [próximo] encontro”, conta Sara sobre como funcionam os encontros.
Mutirão na sede do coletivo Autonomia ZN (foto: arquivo da Rede Permaperifa)
Coletivo Somos, Horta Popular Becos e Vielas, Horta do Paredão, Coletivo Eparreh, Autonomia ZN, Horto Fazendinha, Horta do Saruê, Grupo Da Mata, Ecoativa, Imargem, Permaperifa ABC e Permaperifa Baixada Santista são alguns dos coletivos que fazem parte da rede.
A partir de práticas da permacultura, Sara dá exemplos de estratégias que podem proporcionar autonomia e auxiliar na manutenção do bem viver dos moradores. “A partir dos encontros [surgem] tecnologias de baixo custo, como colocar placas de isopor, que a gente consegue em qualquer papelaria a R$ 5 cada, entre o forro e a telha, [e] você reduz o impacto do calor em casa”, exemplifica.
São várias as práticas possíveis através da permacultura, desde se pensar a alimentação até a gestão de resíduos. Nesse sentido, Sara cita as cisternas como outro exemplo. “Se uma família deixa como legado uma cisterna, [com] captação de água de chuva e aproveita essa água ao invés de deixá-la escoar [isso gera um impacto ambiental positivo]”, comenta.
“Na rede Permaperifa, a gente sempre traz a compostagem como uma estratégia de lidar com os resíduos orgânicos, [para] reduzir a emissão dos gases de efeito estufa [e] gerar adubo para poder plantar”, aponta Sara sobre um dos saberes que têm como base a permacultura aplicada nas periferias.
Emergência climática nas periferias
A Permaperifa é formada por, aproximadamente, 30 coletivos. No entanto, há a participação também de pessoas que não são vinculadas a nenhum coletivo, como é o caso da Débora Nascimento, 24, e do Bruno Lima, 36, que já participaram de três encontros, trabalham com construção civil e querem migrar para a bioconstrução.
Técnica de bioconstrução realizada no 18° encontro da rede permaperifa, no bairro Vila Calu, localizado no distrito Jardim Ângela
“Acho que a importância maior é dá acesso a quem não tem, porque se você coloca um valor lá em cima, como é que a quebrada vai fazer? Se você tem dois, três filhos, como você vai tirar R$ 500, R$ 1.000, R$ 1.500 para poder fazer um curso de dois três dias, fica difícil, né?”, diz Bruno.
Débora e Bruno moram em Interlagos, em uma região conhecida como Morro da Macumba, na zona sul de São Paulo. Bruno comenta que por meio da Permaperifa tem tido acesso aos conhecimentos sobre permacultura, que geralmente são inacessíveis financeiramente.
“A gente da periferia tem uma outra realidade. A gente tem vontade, mas não tem acessibilidade. Porque eu quero plantar, mas aonde? Eu quero comer bem, mas onde que eu vou comprar? Então, a Permaperifa expande isso bastante, dá essa consciência para a gente [e] assim a gente vai reformulando”, coloca Débora.
*Este conteúdo faz parte da campanha Planeta Território, uma iniciativa do Território da Notícia com apoio do Instituto Clima e Sociedade (iCS)
O evento, que acontece na zona leste de São Paulo, tem na programação teatro, música, slam, sarau, roda de conversa e atividades para as crianças.
Entre os dias 07 e 11 de novembro de 2023, acontece a 2° edição da FliCanga: Festa Literária do Cangaíba, no Teatro Flávio Império (Cangaíba), zona leste da cidade. A programação tem como tema “Corpo/Oralidades: palavra, performance, poesia” e celebra duas décadas do movimento de saraus e da literatura marginal, além dos 15 anos do slam (batalhas de poesias) no Brasil. O evento homenageia o escritor Ferréz e os poetas Roberta Estrela D’Alva e Daniel Marques (em memória).
No total, serão realizadas 28 atividades gratuitas, com mais de 80 artistas participantes, em apresentações de saraus, slams, mesas de debates, música, teatro, contação de histórias, dança, performances e feira de livros. A curadoria do evento é do escritor e produtor cultural Rodrigo Ciríaco (Casa Poética SP), conta com apoio do PMLLLB-SP (Plano Municipal do Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca) e é uma realização do Teatro Flávio Império, equipamento da Secretaria Municipal de Cultura da cidade de São Paulo.
Confira a programação:
10 de novembro de 2023, sexta-feira.
09h às 11h TEATRO: Nussoken, projeto Olho Mágico circulação lambe lambe, com Romualdo Freitas O espetáculo Nussoken é uma experiência de afeto e intimidade. “Olho Mágico” define bem a característica desse teatro. Manipulador e espectador, um por vez, estabelecem uma fina relação através do olho, pequena abertura de uma caixa preta, que em três minutos e meio, apresenta a narrativa urgente e atual, onde o tempo-ponteiro atravessa dimensões e, olhos conectados, manipulador e espectador vivenciam uma outra natureza das coisas. Duração: 03 minutos / Classificação: Livre
09h SARAU do MAP, com Movimento Aliança da Praça O Sarau da Praça do MAP (Movimento Aliança da Praça), desde 2013 realiza ações artísticas e culturais no território de São Miguel Paulista. Para comemorar 10 anos de existência e resistência, convida a todas e todos para participarem de uma atividade de reconhecimento e contemplação da arte periférica. Sarau + Funk Slam, vai ter poesia e diversas intervenções de convidados, além do tradicional espaço aberto. Duração: 60 minutos / Classificação: 12 anos
10h TEATRO: FIM? Grupo Esparrama de Teatro O mundo acabou. Tudo está destruído e só sobraram lixões, campos de guerra, estranhos muros, restos lamacentos de um rio doce e… Duas baratas: Beatriti e Margueriti que, juntas, comemoram este fim. Elas acreditam que agora o mundo será apenas das baratas. Mas o que elas não sabem é que outros dois seres esquisitos e muito atrapalhados também sobreviveram: os palhaços Batatinha e Nerdolino, que agora perambulam pelo mundo com um mapa, uma semente e muita esperança. Empenhados em encontrar um novo começo para a humanidade, eles não desconfiam que estão sendo observados pelas baratas, que criarão divertidas armadilhas para “ajudá-los” a entender que o mundo delas é bem melhor sem eles… Será o Fim? Duração: 60 minutos / Classificação: Livre
14h TEATRO: Ledores no Breu, com Cia do Tijolo Inspirado no texto “Confissão de Caboclo” do poeta Zé da Luz e no pensamento e prática do educador Paulo Freire, o espetáculo Ledores no Breu trata das relações entre o homem sem leitura e sem escrita com o mundo ao seu redor. Histórias entrelaçadas que acompanham analfabetos em pleno século XXI, homens percorrendo distâncias para elucidar suas dúvidas, seus erros e seus crimes. Duração: 60 minutos / Classificação: 14 anos.
16h MESA: CORPO, PALAVRA, CIDADE – INTERSECÇÕES Com Cidinha da Silva e Lu Coelho. Mediação: Raquel Almeida. Intervenção poética: Victor Rodrigues ”A Igreja diz: o corpo é uma culpa. A ciência diz: o corpo é uma máquina. A publicidade diz: o corpo é um negócio. E o corpo diz: eu sou uma festa”. Tendo como ponto de partida a frase de Eduardo Galeano, a mesa propõe aprofundar as relações existentes entre corpo, palavra e território. Duração: 60 minutos / Classificação: 12 anos.
18h30 SHOW: Tragédia Sonora Grupo de RAP do Jardim Piratininga / Jardim Keralux, composto por Dáblio G, Mano D e Mano Jota P3V. Apresentação de pocket-show com as principais produções do grupo. Duração: 30 minutos / Classificação: 12 anos
19h30 SLAM CAMPEÕES SP – especial 15 anos SLAM BR SLAM CAMPEÕES SP é uma edição especial de comemoração dos 15 anos de SLAM BR e 10 anos de SLAM SP. Batalha de poesia apenas com os campeões estaduais: Lews Barbosa, Emerson Alcalde, Lucas Afonso, Luz Ribeiro, Kimani, Tawane Theodoro, Jessica Campos, Matriarcak e King Abraba. Duração: 90 minutos / Classificação: 12 anos.
11 de novembro de 2023, sábado
10h às 12h TEATRO: Nussoken, projeto Olho Mágico circulação lambe lambe, com Romualdo Freitas O espetáculo Nussoken é uma experiência de afeto e intimidade. “Olho Mágico” define bem a característica desse teatro. Manipulador e espectador, um por vez, estabelecem uma fina relação através do olho, pequena abertura de uma caixa preta, que em três minutos e meio, apresenta a narrativa urgente e atual, onde o tempo-ponteiro atravessa dimensões e, olhos conectados, manipulador e espectador vivenciam uma outra natureza das coisas. Duração: 03 minutos / Classificação: Livre.
11h às 17h BRINQUEDOS INFLÁVEIS – Corpo e movimento Brinquedos infláveis estarão disponíveis no Parque Daniel Marques para diversão gratuita das crianças presentes no evento. Porque a poesia também é corpo, performance, brincadeira, alegria e movimento. Classificação: Livre.
11h MESA: SARAU E SLAMS EM SP Com Elizandra Souza e Emerson Alcalde. Mediação: Luz Ribeiro “NÓIS É PONTE E ATRAVESSA QUALQUER RIO”. No início dos anos 2001, os saraus e a literatura marginal-periférica despontam como grande movimento poético e literário da cidade de São Paulo. A partir de 2008, o slam é introduzido no Brasil. Ambos, movimentos da performance da palavra, são responsáveis por grandes mudanças na cena cultural e literária brasileira. Duração: 60 minutos / Classificação: 12 anos.
11h TEATRO DE RUA: POESIA EM MOVIMENTO, peça itinerante no Jardim Piratininga / Pira Com Grupo TIA (Canoas / Rs). Livre adaptação dos poemas de Bertolt Brecht e Ray Lima. Cinco atores e seu boneco gigante andam pela rua anunciando a sua chegada com um cortejo alegre e musical. Determinado momento, de acordo com a necessidade poética e energética do público e da localidade, o cortejo para e ali é apresentada uma cena que transita entre a realidade e o extraordinário, causando uma sensação de surpresa e quebra de rotina aos transeuntes do local, assim, mexendo com a estagnação imposta pelo nosso cotidiano muitas vezes repetitivo e maçante. Duração: 60 minutos / Classificação: Livre.
12h PERFORMANCE MUSICAL: Kombinado Cultural Criado a partir de provocações sobre o acesso a eventos culturais que geralmente acontecem no centro da cidade, o Kombinado Cultural nas em Ermelino Matarazzo, periferia de São Paulo, como forma de difundir o jazz e a poesia em performances únicas, que combinam o swing da música instrumental com a potência da oralidade periférica. Duração: 60 minutos / Classificação: Livre.
13h CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS: O peixe da lagoa encantada, com Auritha Tabajara História tradicional do povo Tabajara do Ceará, pela avó Francisca Gomes. Na época em que os animais podiam ensinar as pessoas na prática, dentro do rio existia a faixa imaginária de conhecimento de todos, os velhos anciões contavam as histórias e falavam que ninguém podia ultrapassar a faixa do segredo, mas o curumim queria descobrir e acabou encontrando apoenãn o grande peixe sábio que o levou para o fundo do rio e com o canto sagrado fez o rio secar e depois voltar como lagoa. Duração 30 minutos / Classificação: Livre.
13h às 17h KUADROMBI, com Prateleira de Quadrinhos A Kuadrombi é uma Gibiteca itinerante, com uma seleção exclusivamente nacional de cerca de 1000 quadrinhos, que atua como veículo de transformação em espaços da zona leste, formando novos leitores e estimulando o gosto pela leitura. Através de leituras em grupo e debates sobre a sociedade atual, utilizando os quadrinhos como meio, busca-se engajar os leitores a fazerem leituras mais densas em busca de identidade, reconhecimento, conhecimento e contemplação do próprio ser. Classificação: Livre
14h PERFORMANCE: Poéticas da Oralidade, Com Brenalta MC, Jaque Alves, Jéssica Marcele, Nathielly Janutte Poéticas da oralidade traz apresentações individuais e em grupo de performances realizadas em saraus e slams. Evento com microfone aberto para intervenção do público. Duração: 40 minutos / Classificação: 12 anos.
14h30 MESA: REESCREVENDO HISTÓRIAS: QUADRINHOS E NARRATIVAS PRETAS, com Jefferson Costa, Regiane Braz. Mediação de Thiago Carneiro. Nesta mesa, os palestrantes conversam sobre publicações e o mercado editorial de quadrinhos, além de questões referentes a ancestralidade, identidade e narrativas pretas Duração: 60 minutos / Classificação: 12 anos
15h CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS: Terreiro brincante e as histórias de Yemanjá, com Melissa Flor É Yemanjá, a divindade das águas e mãe de todos os orixás, que serve como fio condutor para a narrativa, levando-nos a explorar as histórias entrelaçadas nos terreiros das nossas ancestralidades. Além disso, a contação de histórias convida a explorar as brincadeiras tradicionais do jongo e do coco, que não apenas divertem, mas também ensinam lições valiosas e encerram os encontros no sagrado. Essas brincadeiras são apresentadas como ritmos que residem no coração de todos nós, uma herança viva de Pindorama e Palmares. Duração: 40 minutos / Classificação: Livre
16h MESA: PALAVRA, PERFORMANCE, POESIA, com Allan da Rosa e Midria. Mediação: Michel Yakini Neste encontro, palestrantes são convidades a refletir sobre a palavra em cena, bailando letras no papel, dando saltos aos palcos, ruas, slams e saraus. Palavra, poesia e suas diferentes formas de linguagem e expressão. Duração: 60 minutos / Classificação: 12 anos
19h30 Show musical: Bruna Black – voz e violão BRUNA BLACK é cantautora solo. Participa também de um projeto em duo com o artista Jota.Pê, chamado ÀVUÀ (@duoavua). Com referências como Itamar Assumpção, Clarianas, Liniker e Josyara, busca a mistura de ritmos com uma interpretação intensa. Duração: 60 minutos / Classificação: Livre
Assista a entrevista completa sobre os tabus do prazer e orgasmo feminino.
Apesar dos avanços nas discussões sobre sexualidade e igualdade de gênero, a questão do orgasmo feminino continua a ser um tabu persistente em nossa sociedade, e este problema está profundamente relacionado ao silenciamento das mulheres. A vergonha, o estigma e a falta de educação em sexualidade muitas vezes desencorajam muitas mulheres de expressar abertamente suas necessidades e fazer perguntas simples sobre um aspecto tão natural da vida.
Em entrevista do Desenrola Aí, Flávia Rosa, terapeuta corporal e especialista em saúde íntima e facilitadora de conversas que empoderam mulheres no autocuidado, aborda a importância do autoconhecimento e sua relação com o bem-estar corporal.
A terapeuta também enfatiza que essa falta de conhecimento pode acarretar sérias consequências, devido muitas mulheres, no decorrer de toda vida, não conseguirem experimentar o orgasmo e compreender os aspectos de sua própria anatomia.
“A descoberta de nossos corpos é fundamental para alcançarmos vidas mais prazerosas, maior qualidade de vida e autonomia sobre nossos próprios corpos. Isso também se traduz na capacidade de defender livremente nossos desejos com quem estivermos”.
Flávia Rosa, terapeuta corporal.
Flávia Rosa, terapeuta corporal, a esquerda da jornalista, Thais Siqueira durante gravação do programa, Desenrola Aí. Foto: Maxuel Mello/Novembro de 2023.
Sobre o Desenrola Aí
O Desenrola Aí é um programa quinzenal que visa trocar ideias com especialistas da quebrada, descomplicando assuntos relevantes, que afetam o cotidiano da população negra e periférica e os direitos humanos, que é a essência da nossa existência e convivência enquanto sociedade. Nessa segunda temporada vamos abordar sobre “Desconstruir Tabus: corpo e sexualidade”. O programa do Desenrola Aí tem como realização o Desenrola e Não Me Enrola e Fluxo Imagens.
“Agir sempre foi preciso e a cada dia a minha, a nossa inteligência, nos garante que não é sobre topos e sim novos horizontes”, foi assim, com poesia e música, que Danuza Novaes abriu o último encontro de 2023 da Jornada das Pretas. De forma virtual, 30 mulheres se reuniram para uma troca sobre o enfrentamento à violência política de raça e gênero, no último encontro do ano que aconteceu na manhã do dia 28 de outubro.
A Jornada das Pretas é um projeto que promove capacitação, formação e acolhimento para mulheres negras cis, trans e travestis, que são lideranças políticas em diferentes partes do Brasil. Essa iniciativa é realizada desde 2021, pela Oxfam Brasil, em conjunto com o Instituto Alziras, Mulheres Negras Decidem e o Instituto Marielle Franco.
O encontro de encerramento proporcionou trocas de informações sobre a Lei de Violência Política de Gênero, a fim de identificar os avanços e desafios para o enfrentamento e a prevenção das várias situações de violência política que vem atingindo parlamentares, candidatas e ex-candidatas, negras cis e trans.
A lei 14.192, que foi aprovada em 2021, trata de Violência Política de Gênero no Brasil. Ela tipifica, cria penalidades e mecanismos de responsabilização que muda o código eleitoral e passa a considerar crime passível de pena, prisão e multa condutas de assédios, constrangimento, humilhação, perseguição ou ameaça por qualquer meio, inclusive praticadas no ambiente virtual, com a finalidade de impedir ou dificultar a campanha eleitoral ou um mandato eletivo, e criminaliza a conduta que discrimina ou menospreza a condição de mulher, cor, raça ou etnia, conforme explicou Fabiana Pinto.
Para debater sobre o assunto, foram convidadas: Fabiana Pinto, coordenadora de pesquisa e de incidência política do Instituto Marielle Franco, e a Doutora Raquel Branquinho, que é Procuradora Regional da República, coordenadora do núcleo de ações criminais originárias e do grupo de trabalho de prevenção e combate a violência política de gênero.
A facilitadora do encontro foi Mônica Oliveira, que é assessora parlamentar e integrante da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco, e que abriu o dia com um breve resgate dos dois encontros anteriores, que abordaram respectivamente sobre Fundo Eleitoral e Estratégias de comunicação para campanhas eleitorais.
CONTEXTO
Fabiana Pinto ressaltou que esse é um tema difícil de ser tratado, considerando que, provavelmente, muitas das mulheres presentes no encontro já haviam vivenciado experiências de violência política de gênero e raça, mas apresentou ações e estratégias criadas através do Instituto Marielle Franco, a fim de auxiliar no combate dessas violências.
“Em 2020, foi a primeira eleição municipal onde o Instituto Marielle Franco existia, foi a primeira eleição municipal desde o assassinato da Marielle. Num primeiro momento a gente queria poder fomentar o debate e entender o que é defender o legado da Marielle e dar instrumentos para a candidatura de mulheres negras”, trouxe Fabiana sobre o contexto em que a Agenda Marielle Franco foi criada.
“A violência política é algo quase inerente dos processos eleitorais brasileiros há anos, só que a forma que a violência política vai operar contra corpos de mulheres negras, trans, travestis e mais do que isso, as possibilidades de proteção e de acolhimento são distintas para esse grupo de mulheres”
Fabiana Pinto, coordenadora de pesquisa e de incidência política do Instituto Marielle Franco.
Raquel Branquinho apontou alguns tipos de violência que afetam as mulheres no âmbito da política. “A violência política se reproduz por várias formas. Subliminar, verbal e não verbal, patrimonial, econômico, na parte do financiamento, discriminação das mulheres nos seus espaços de trabalho, nas Câmaras Municipais, nas Assembleias Legislativas e isso é um contexto social. Muitas vezes as próprias vítimas não identificam essas situações”, alertou a Procuradora Regional da República.
Dados apresentados pela Fabiana, produzidos pelo Instituto Marielle Franco, apontam que apenas 32% do total de candidatas negras já fez algum tipo de denúncia, considerando como denúncia, além do ato de ir à delegacia, o fato de tornar público o episódio ocorrido. Segundo os dados, 46% das candidatas negras justificaram que não se sentem seguras para poder denunciar, por entenderem que isso poderia vulnerabilizar a campanha delas.
Foi a partir de 2021, com a aprovação da lei 14.192, que a violência política de gênero passou a ser classificada como crime.
Antes, essas denúncias ficavam sob a responsabilidade da Polícia Civil, e, por vezes, acabavam se perdendo no volume de situações para serem investigadas, o que não gerava resultados, conforme a fala da Raquel.
“Quando for assédio, perseguição, humilhação, constrangimento, qualquer um daqueles verbos que estão descritos no artigo 326-B do código eleitoral, que tem como alvo candidatas ou detentoras de mandato eletivo, é um crime eleitoral que deve ser apurado pela polícia federal e pelo Ministério Público eleitoral brasileiro”, traz Raquel.
ESTRATÉGIAS E DIREITOS POLÍTICOS ELEITORAIS PARA AS MULHERES
Em 2020, a partir de denúncias e da busca frequente de ajuda das candidatas, Fabiana relata que o Instituto passou a mapear quais tipos de violência política eram cometidos contra as mulheres e como esses casos estavam sendo encaminhados. Verificando também os problemas que há no sistema político e nas instituições que poderiam acolher essas mulheres.
Desse mapeamento, foram feitos os seguintes levantamentos: 8 a cada 10 candidatas negras sofreram violência virtual, em 2020. 6 a cada 10 candidatas naquela eleição sofreram violência moral e psicológica.
Com base no mapeamento, Fabiana relatou também que 5 a cada 10 candidatas sofreram violência institucional. Ela destaca que as violências institucionais, geralmente, ocorrem no interior dos partidos políticos, no próprio sistema eleitoral e também em outras instâncias.
A coordenadora de pesquisa e de incidência política do Instituto Marielle Franco, apontou que, diante dessas informações, o Instituto Marielle Franco identificou que as ações de combate a violência política de gênero teriam que ocorrer em diversas frentes, já que os agentes agressores também operam em diferentes áreas.
Uma das estratégias apontadas por Raquel Branquinho para lidar com as violências políticas que as mulheres negras enfrentam, passa pelo conhecimento. “Temos tentado reforçar o conhecimento pelas próprias vítimas, o reconhecimento pelo sistema, pela advocacia e pelos grupos de apoio dos direitos para que a gente possa cobrar do sistema jurídico respostas mais eficazes”, comenta.
A Procuradora Regional da República também menciona que esse sistema, por vezes, reproduz as práticas de exclusão da sociedade e que desse modo não têm a capacidade necessária para fazer as análises na perspectiva de gênero.
“Muitas vezes há uma revitimização dentro do próprio sistema. Quando nós temos o maior conhecimento possível das situações envolvendo os nossos direitos é mais fácil cobrar que se aplique a legislação”, reforça Raquel Branquinho.
Como forma de viabilizar a obtenção desses conhecimentos, a Procuradora Regional da República indica o site do Ministério Público Federal como fonte de acesso à informação.
Fabiana comenta que ao identificar que mulheres negras, principalmente mulheres trans e travestis, mesmo após serem eleitas, seguiam sendo alvo de ameaças e que a institucionalidade não representava mais proteção para esse grupo de mulheres, o Instituto Marielle Franco, nessa dimensão de proteção, lançou a campanha Não Seremos Interrompidas.
“[Essa campanha] atua, sobretudo, no processo eleitoral, no acompanhamento de candidatas e de parlamentares negras já eleitas, adotando estratégias para alcançar proteção [através do] reconhecimento das parlamentares negras como defensoras de direitos humanos”, comenta Fabiana. Ela explica que o Programa de Proteção de Defensores de Direitos Humanos é o mecanismo que tem viabilizado essa tática.
Outra ferramenta que o Instituto tem utilizado para viabilizar a proteção de mulheres negras atuantes na política é o acesso ao Fundo de Ação Urgente e ao Fundo Brasil de Direitos Humanos.
Fabiana cita que a mobilização para a criação de legislações específicas que contemplem mulheres negras atuantes na política, é mais uma das estratégias do Instituto. Ela comenta também que, conforme a lei 14.192, é previsto que todos os partidos alterem o próprio estatuto indicando mecanismos para o enfrentamento a violência política, e o Instituto Marielle Franco atua para que os partidos políticos cumpram essas determinações da lei.
Durante o encontro, Fabiana e Raquel mencionaram a importância da criação e do uso de canais de denúncia como ferramentas para acompanhar e encaminhar os crimes notificados. A Sala de Atendimento ao Cidadão, do Ministério Público Federal, assim como a Ouvidoria da Mulher, do Tribunal Superior Eleitoral, foram alguns dos canais citados.
O canal Fale Conosco da Câmara dos Deputados; a Procuradoria Regional Eleitoral; a Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão de São Paulo; a Secretaria da Mulher, da Câmara dos Deputados e o próprio Ministério da Mulher são canais indicados para recebimento de denúncias.
Além disso, as profissionais ressaltaram a importância de acompanhar e cobrar o resultado dos casos.
REDE DE APOIO
Em determinado momento as 30 participantes foram divididas em quatro grupos, para que todas pudessem falar de suas vivências e impressões sobre o tema. Em seguida, se reuniram e uma porta-voz de cada grupo apresentou os principais pontos abordados nessas conversas.
Conhecer bem como o partido funciona, ocupar cargos de liderança no partido, participar de movimentos sociais, buscar adesão popular, colocar afetividade no centro das candidaturas, fortalecer as redes de cuidado e de apoio, buscar capacitações e formação política, se articular com outras mulheres e cuidar da saúde mental foram algumas das estratégias citadas pelas participantes.
“Uma candidatura de mulheres negras não é um projeto individual, porque nós nem temos força individual, nem familiar para segurar uma campanha. Ou as nossas campanhas são coletivas ou elas não acontecem”, afirma em entrevista Zuleide Queiroz, 56, sobre estratégias que têm utilizado para se manter atuante na política partidária desde 2003.
Zuleide Queiroz participa da política partidária desde 2003 (foto: Eline Luz)
Zuleide é professora de pós-graduação, pesquisadora, militante, integra a diretoria e a coordenação Estadual do Movimento Negro Unificado (MNU) no Ceará, é do Grupo de Valorização Negra do Cariri (GRUNEC) e ocupa a presidência do Sindicato dos Docentes da Universidade Regional do Cariri (Urca), região localizada no Ceará, onde Zuleide mora.
Buscar ocupar vários espaços é um movimento que a professora tem feito para se articular politicamente, assim como se organizar em redes e participar dos movimentos sociais.
Zuleide Queiroz mora no Ceará, é professora de pós-graduação, pesquisadora e militante (foto: Eline Luz)
“A experiência na Rede Mulheres Negras para mim foi fundamental, para [eu] me reconhecer negra, ter estrutura, ter condições para disputar um cargo na política e discutir em audiências públicas as políticas públicas para a população negra”, conta Zuleide.
Essa também tem sido a movimentação de Nazaré Cruz, 43, que atua na política partidária desde 2007. “Uma das [minhas] estratégias é ter redes de apoio e me relacionar com outras mulheres negras e com outros companheiros negros. Tendo essa articulação mais interna, como também fora do partido. Dentro dos movimentos sociais tem muito esse apoio”, relata em entrevista.
Nazaré, é de Belém do Pará, militante do movimento negro, mãe, trancista e historiadora de formação. Atualmente, trabalha como diretora de assistência social na Secretaria de Estado, do Governo do Pará.
Nazaré Cruz atua na política partidária desde 2007 (foto: Jhonny Russel)
Embora conheça a lei 14.192, tenha feito e participado de pesquisas sobre violência de gênero, Nazaré diz que desconhecia os mecanismos e os canais de denúncia apresentados no encontro, e que também não sabia das informações que pode obter no site do Ministério Público Federal.
Assim como Nazaré, antes do encontro, Zuleide não sabia da possibilidade de fazer as denúncias. “Agora com essa legislação a gente sabe que a Justiça Eleitoral está atenta a essas questões [de gênero]”, pontua Zuleide, que será candidata em 2024. O ponto principal do encontro, para ela, foi aprender a reconhecer o que é a violência política.
Nazaré comenta que não sabe se vai concorrer às eleições de 2024, mas menciona que as candidaturas de mulheres negras são construídas aos poucos, ao longo das gerações, e que é preciso ocupar os espaços na política mesmo tendo que enfrentar as violências que existem. Para ela, entender os processos burocráticos, assim como buscar conhecimentos em diversas áreas, é algo necessário para as campanhas de mulheres negras que, geralmente, possuem pouco recurso e precisam cumprir várias demandas.
“É imprescindível que, principalmente nas eleições de 2024, se tenha um olhar mais atento para as campanhas femininas, para que nos municípios a gente possa ocupar espaço nas Câmaras de Vereadores [e] nas Prefeituras, porque [a quantidade de mulheres negras que há] é muito aquém da realidade da sociedade brasileira, que tem mais da metade de mulheres e mais da metade nesse segmento de pessoas pretas”, trouxe Raquel Branquinho em suas considerações finais na Jornada das Pretas 2023.
Chegamos ao episódio 20, e nele vamos falar sobre os conhecimentos tradicionais quilombolas como tecnologia ancestral de atuação que mantém as florestas em pé.
Para esse papo, falamos com a Maria Tereza, agricultura, coletora e elo na Rede de Sementes do Vale do Ribeira, e também com a Bianca Magdalena, mestranda em Antropologia pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia e Arqueologia da Universidade Federal do Paraná (PPGAA/UFPR) e bolsista CAPES no projeto de pesquisa Sementes Culturais.
O Cena Rápida tem episódios novos quinzenalmente, sempre às quartas, disponivel gratuitamente no Google Podcasts, Spotify e Youtube.
Roteiro, apresentação e entrevistas – Evelyn Vilhena Distribuição – Samara da Silva e Thais Siqueira Produção audiovisual – Pedro Oliveira Identidade visual – Flávia Lopes Vinheta e edição – Jonnas Rosa
O segundo encontro da Jornada das Pretas 2023, que aconteceu em formato virtual no dia 21 de outubro, iniciou no ritmo do Cacuriá, dança típica maranhense, apresentada pelo coletivo Cacuriá de Dona Teté. A dança abriu os caminhos para as trocas de ideias que se estenderam pela manhã de sábado, e que teve como tema principal as estratégias de comunicação para campanhas eleitorais.
Desde 2021, a Oxfam Brasil, em parceria com o Instituto Alziras, Mulheres Negras Decidem e o Instituto Marielle Franco, reúnem organizações, especialistas e mulheres negras atuantes na política partidária, com o objetivo de promover espaços de formação e fortalecimento de agendas políticas lideradas por mulheres negras cis, trans e travestis de várias regiões do Brasil.
O segundo encontro da Jornada contou com a mediação de Mônica Oliveira, assessora parlamentar e integrante da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco, que em sua fala inicial apresentou um resumo de como foi o encontro anterior.
As convidadas que trocaram sobre o tema foram Mariana Nogueira, profissional da área de marketing, que pesquisa sobre política e já atuou em campanhas, e Jheniffer Ribeiro, coordenadora de comunicação do Mulheres Negras Decidem.
Ao longo do encontro, as convidadas apontaram estratégias, exemplos teóricos e práticos sobre como fazer o planejamento de comunicação para campanhas. Nesse processo, ressaltaram as particularidades e as possibilidades das candidaturas de mulheres que possuem limitações de recursos e de tempo.
Mariana Nogueira apontou que o período de pré-campanha – que vai até o dia 16 de agosto de 2024 – já começou, e com isso, vários homens, especialmente homens brancos, já estão fazendo campanha desde a última eleição. “[Eles] não param porque têm toda uma rede de apoio, de recursos, que faz com que possam se dedicar exclusivamente à política”, coloca a especialista em marketing.
Definição de estratégias
Em sua fala, Mariana menciona que para começar uma pré-campanha é importante que as pré-candidatas e a equipe de comunicação estejam cientes e atualizadas sobre a lei de comunicação eleitoral que muda com frequência.
A profissional explica que é proibido pedir voto no período de pré-campanha, assim como transmissão ao vivo por emissoras de rádio das prévias partidárias. Outro ponto que é vetado, é a realização de publicidade por meio de outdoor, seja físico ou eletrônico, tanto na pré-campanha, como no período eleitoral, que acarreta em multa no caso de descumprimento das regras.
Mariana também apresentou o que é permitido e recomendado: fazer menção à candidatura e exaltar as próprias qualidades como alguém que vai se colocar como candidata, não configura como campanha antecipada.
“Participar de entrevistas, programas e de encontros para debater o que essa candidata defende, quais são as suas ideias, participar de debates em rádio, televisão e internet também é permitido. Discutir políticas públicas, planos de governo e alianças partidárias, essas coisas também podem ser divulgadas”, exemplificou Mariana.
A construção de imagem também é uma das etapas da comunicação. Essa é uma fase que antecede a divulgação da pré-campanha, segundo Mariana: “É preciso traçar estrategicamente a imagem dessa pessoa que vai concorrer à eleição, que não necessariamente deve ser a mesma imagem que você propaga em alguns ambientes da sua vida pessoal”. A profissional do marketing também destaca que essa imagem precisa ter permanência e coerência.
Segundo Mariana, a permanência tem a ver com símbolos adquiridos ao longo da trajetória e que as pessoas associam à imagem da candidata, como alguma pauta social. “É importante construir essa permanência porque as pessoas vão saber que, de fato, você é uma pessoa que faz política mesmo antes da eleição”, coloca.
No aspecto da coerência, a especialista em marketing explica: “Ainda que a sua imagem enquanto candidata não seja a mesma que você propague em determinados ambientes do âmbito familiar ou da sua militância, essa imagem precisa ter uma coerência com aquilo que você é, com aquilo que você representa, com o que você acredita e as suas atitudes”, pontua.
Jheniffer Ribeiro salienta a importância de traçar um planejamento de comunicação com foco na construção de uma narrativa.
“Ter esse controle da narrativa de nós mesmas, [é importante para definir] o que a gente quer colocar na rua e como a gente quer conversar com o nosso eleitorado”
Jheniffer Ribeiro é coordenadora de comunicação do Mulheres Negras Decidem
A coordenadora ressalta que o planejamento traz a liberdade de ter, a partir da narrativa, o controle do que se deseja transmitir. Para ela, um diferencial potente que há nas campanhas de mulheres negras são as narrativas. “É como as nossas histórias, em alguma medida, se aproximam do nosso eleitorado”, menciona.
Mariana afirma que toda campanha precisa ter pelo menos um público-alvo e uma pauta principal bem direcionada. “Para [saber] como a gente atinge o eleitorado que a gente quer trazer para perto”.
Jheniffer aponta que é preciso ter um foco na comunicação. “Se você falar de tudo não consegue focalizar e ser explícita e objetiva [sobre] onde a sua campanha vai levar as pessoas, porque as pessoas têm que votar em você”, pontua.
“É importante que você defina com quem quer falar e a partir disso [desenvolva] estratégias para poder conversar com essas pessoas, porque essas estratégias não são uma coisa uníssona”
Jheniffer Ribeiro
Ambas as convidadas apontaram sobre a necessidade de traçar um projeto político que demonstre como se pretende melhorar a vida das pessoas. Definir o eleitorado também foi um ponto destacado pelas comunicadoras.
Possibilidades na comunicação online
Mudar o nome da rede wi-fi pelo o nome e número da candidata, pois isso pode se espalhar entre os vizinhos. Estar em eventos, não necessariamente políticos, ajuda a furar a bolha de contatos. Criar núcleos de apoiadores locais que fortaleçam e ampliem o alcance das propostas de campanha. Essas foram algumas das dicas para a comunicação tanto online, como nas ruas.
Jheniffer trouxe táticas voltadas para a comunicação online, além do planejamento amplo de campanha. Segundo ela, é preciso ter um planejamento das redes sociais com cronograma e postagens regulares. Ela aponta que nas redes, as informações essenciais sobre o projeto político e sobre a trajetória da candidata precisam estar em destaque, assim como o número da candidatura.
“As pessoas passam a associar a sua campanha a determinadas cores, a um jeito de falar e isso também vai criando mais conexão com o seu eleitorado”, comenta a comunicadora, que também colocou sobre dar preferência aos vídeos na produção de conteúdo, sendo a comunicação visual um elemento que dialoga com o eleitor.
“A chave para uma campanha eleitoral eficaz é a autenticidade e a conexão com o eleitorado. É importante manter uma comunicação clara, ética e focada nos valores e propostas das candidatas, demonstrando comprometimento com a melhoria da vida das pessoas e a defesa dos direitos humanos”, ressalta Jheniffer.
Comunicação associada às vivências
Após as falas das convidadas, as 37 participantes foram divididas em quatro salas para que pudessem compartilhar suas experiências e percepções sobre o tema. Após essas trocas em grupos, todas voltaram a se reunir, e uma representante de cada grupo listou os principais pontos que surgiram dessas interações.
A dificuldade de falar sobre si foi uma questão que surgiu em todos os grupos e também na fala de Gabriella Borges, que em entrevista, comentou que no início de sua candidatura tinha muita dificuldade para falar em público.
Gabriella Borges, mulher preta, travesti e moradora da periferia de Porto Seguro. (foto: Lorena Nubia)
“Foi um desafio enorme para mim fazer campanha, pedir voto, falar, porque eu tenho uma disforia da minha voz, mas hoje eu estou conseguindo me libertar dela e me superar”, comenta Gabriella, 43, mulher preta, travesti, moradora da periferia de Porto Seguro, cidade da Bahia, estudante universitária de química e que foi a primeira travesti eleita a presidenta de um partido político no Brasil.
Gabriella iniciou sua trajetória política em 2020, e no mesmo ano saiu como cabeça de chapa em uma campanha coletiva concorrendo ao cargo de vereança. Em 2022, concorreu às eleições como deputada estadual, e pretende se candidatar para as eleições de 2024.
Durante o encontro, Mariana citou como essa dificuldade de falar de si é uma questão estrutural, fruto dos processos de racismo e da misoginia, e indicou o que pode ser feito diante dessa dificuldade. “Sempre tem um público que vai se conectar com aquilo que a gente tem de vivência e isso é muito importante para vocês que são candidatas, porque isso cria laços afetivos”, afirma.
Jheniffer trás que as vivências e história das mulheres são diferenciais nessa comunicação. “O que tem de diferencial nas nossas campanhas é a nossa própria trajetória. Como nós chegamos até aqui, o que fez com que a gente chegasse até aqui, como isso se aproxima de um projeto de país, que de fato mude a vida das pessoas. Então é muito importante que você se apresente. Não tenha vergonha de contar sua história”.
Estratégias de comunicação offline
Mariana trouxe indicações que podem ser colocadas em prática presencialmente, como o lançamento de campanha com panfletos e em lugares estratégicos. “Fazer um panfletaço é você se colocar enquanto um candidato presente que está próximo dos problemas daquela localidade em que você vai concorrer”, comenta.
Esse foi um ponto em comum apresentado entre os grupos, a importância de realizar ações de campanhas presenciais e estar perto do eleitorado. Em entrevista, Gabriella comenta que conseguiu expandir o alcance de suas propostas de candidatura através do apoio e do seu envolvimento com os movimentos sociais. Ela aponta que com o apoio da Coalizão Negra por Direitos, pode circular em diferentes regiões da Bahia, na pré-campanha, acompanhando os comitês antirracistas.
Através de sugestões das participantes, Mariana trouxe uma estratégia que foge da lógica das redes sociais, que é a possibilidade do uso da mala direta, considerando que nem todo mundo de fato tem acesso à internet. Ela também aponta sobre a relevância da TV nas campanhas. “O meio de informação mais utilizado pelo brasileiro é a televisão, a televisão ainda não foi superada por nenhum outro veículo de comunicação”, pontuou Mariana.
Ludimilla Teixeira, em 2020, concorreu a uma vaga na câmara municipal, e em 2022, disputou uma eleição para deputada estadual. (foto: Renan Peixe)
Em entrevista, Ludimilla Teixeira, coloca que, para ela, as campanhas presenciais são essenciais nas periferias. “Eu acredito que as rodas de conversa dentro das comunidades, o boca a boca, o disse me disse e o WhatsApp hoje consegue atingir melhor as pessoas que estão nas periferias, nos bairros mais empobrecidos e mais precarizados do que a gente ficar focado em rede social e internet”. Ela complementa: “Se possível brigar no partido pelo horário eleitoral também, porque engana-se quem acha que as pessoas não assistem”.
Mulher negra, de origem periférica, Ludimilla, 41, é natural de Salvador, na Bahia, graduada em publicidade e propaganda, e atua como servidora pública federal do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Ludimilla é fundadora do grupo Mulheres Unidas Contra o Bolsonaro, que deu origem ao movimento Ele Não, em 2018.
Ludimilla Teixeira criou o grupo Mulheres Unidas Contra o Bolsonaro, que deu origem ao movimento Ele Não. (foto: arquivo pessoal)
Em suas ações políticas, Ludimilla, que foi candidata à vereança em 2020, e em 2022, ao cargo de deputada estadual, destaca sua preocupação em falar de modo acessível com mulheres.
“Eu quero falar com aquela parte da população feminina que está perdida aí na alienação do patriarcado. E a gente vai falar sobre Simone de Beauvoir e Angela Davis? Não, eu vou falar da minha mãe com ela, eu vou falar das mais velhas da comunidade”
Ludimilla Teixeira
Ludimilla comenta, com exemplo próximo a estratégia apresentada pela Mariana e Jheniffer sobre a adaptação da comunicação de acordo com o público-alvo.
Formar redes de apoio foi mais uma das estratégias citadas pelas convidadas e pelas participantes. Nesse sentido, Ludimilla diz que caso não concorra à eleição em 2024, irá ajudar na campanha de outra mulher. “Não sendo candidata, pretendo estar trabalhando ativamente na campanha de alguma companheira, porque não adianta só ter uma de nós lá”, comenta.
Quero começar perguntando se você poderia fazer um exercício de imaginação. Imagine um país chamado “Democracia”. Neste lugar, vivem famílias diversas de raça e cor, sexualidade e gênero. Em “Democracia”, pessoas negras, junto com todas as outras, têm o privilégio de participar ativamente das decisões públicas em todos os níveis da sociedade. As oportunidades são igualmente distribuídas e a harmonia reina.
Neste Estado, a representação nos três poderes é diversa e inclusiva, com pessoas negras ocupando diferentes cargos, inclusive, cargos comissionados e liderando com sabedoria. O país prospera graças à colaboração de todos, independentemente de sua cor de pele, porque por onde se olhava, se via o povo representado. Todos se uniam em busca de um futuro sempre justo e igualitário.
Poderíamos confundir o país fictício com a foto da composição do poder proposta pelo Partido dos Trabalhadores com Lula ao subir a rampa do palácio do planalto na cerimônia de posse da presidência, um grupo de 8 pessoas.
Quem acompanha a política sabe que há personagens passageiros no trajeto do poder, e há outros que compõem a montagem do cenário do poder em diferentes épocas, atravessando gerações.
Podemos dizer que há personagens que acumulam poder e há aqueles que consomem o poder. No segundo caso, falta um elemento, o capital político. É ele quem determina a duração de um indivíduo ou um grupo no poder.
O capital político refere-se ao grau de influência, respeito e poder que um indivíduo ou grupo possui no campo político. Ele funciona como uma régua que mede a capacidade de uma pessoa ou organização de influenciar a tomada de decisões políticas e alcançar seus objetivos por meio de sua posição, recursos, apoio popular ou conexões.
O capital político pode ser acumulado ao longo do tempo, muitas vezes por meio de ações políticas bem-sucedidas, conquistas, alianças estratégicas e o apoio de eleitores ou outros atores políticos influentes.
Ter capital político pode facilitar o avanço de agendas políticas, a obtenção de cargos públicos e a capacidade de moldar políticas públicas e legislações.
É importante destacar que o capital político não é estático e pode aumentar ou diminuir com base nas ações e eventos políticos. É como disse antes, há quem permanece e quem é passageiro.
Além disso, o capital político pode variar de pessoa para pessoa e de grupo para grupo, dependendo de fatores como popularidade, recursos financeiros, redes de contatos e habilidades de negociação.
Contudo, diria com muita objetividade, o petismo, assim como outros atores políticos da esquerda, mas, o petismo com o maior capital dentre outras siglas da esquerda, não vê negras e negros como um grupo dotado de capital político organizado e capaz de negociá-lo para acessar determinadas pautas e espaços de poder.
Porque uma mulher negra no STF?
A corrida para as indicações ao Supremo Tribunal Federal (STF) está repleta de nomes em destaque, cada um com seus próprios motivos que os tornam candidatos em potencial. A ministra Rosa Weber, deixou uma vaga que muitos veem como uma oportunidade para ampliar a diversidade no STF.
Atualmente, o tribunal carece de representatividade negra, com apenas uma mulher negra entre os nomes cogitados.
Esta falta de diversidade no STF revela a necessidade de equidade e inclusão no sistema judicial, com a nomeação de uma ministra negra sendo vista como um passo crucial nessa direção.
No entanto, as chances de uma ministra negra ser indicada para o STF são incertas, pois nunca houve uma ministra negra na Corte. A disputa nos bastidores está repleta de nomes influentes, incluindo políticos, membros do governo e juristas de destaque. E, contudo, um fator determinante: são brancos.
Entre eles, a advogada Vera Lúcia Santana é a única mulher negra na lista de indicados, e seu apoio público é notável. No entanto, a decisão final dependerá da decisão do presidente, que já deixou claro que raça e gênero não serão fatores considerados.
Além disso, outros candidatos incluem Bruno Dantas, Rodrigo Pacheco, Regina Helena Costa, Simone Schreiber, Benedito Gonçalves e Luís Felipe Salomão. Cada um deles tem suas próprias conexões políticas que os colocam como candidatos competitivos.
No entanto, a escolha do próximo membro do STF terá um impacto significativo no equilíbrio de poder e na orientação das decisões judiciais no Brasil, e a questão da representatividade racial e de gênero é um fator importante a ser considerado nesse processo.
A campanha #PretaMinistra, liderada pelo Instituto de Defesa da População Negra (IDPN) e pela Coalizão Negra por Direitos, lança um grito de alerta para a ausência de uma ministra negra no Supremo Tribunal Federal (STF) e expõe a falta de ação efetiva do governo brasileiro na promoção da igualdade racial.
Em 132 anos de existência do STF, nunca houve uma representante negra, evidenciando a falta de diversidade e representatividade nas instituições de poder.
Essa campanha não apenas denuncia o fracasso do governo em promover uma justiça verdadeiramente inclusiva, mas também aponta a necessidade urgente de enfrentar o racismo sistêmico no Brasil.
A população negra compõe a maioria do país, mas continua sendo sub-representada nas esferas de poder, incluindo o Judiciário. A ausência de uma ministra negra no STF é um sintoma de um problema mais amplo que o governo precisa abordar.
É fundamental que o governo brasileiro assuma uma posição firme em relação ao racismo e tome medidas concretas para garantir que todas as vozes sejam ouvidas e todas as pessoas sejam representadas em todos os níveis do sistema judicial.
A campanha #PretaMinistra é um chamado à ação, um lembrete de que a democracia só pode ser verdadeiramente eficaz quando todos os cidadãos são tratados com igualdade e justiça, independentemente de sua origem racial.
É hora do governo agir e abraçar a luta contra o racismo como uma prioridade nacional.
Infelizmente, no Brasil real, estamos longe de um ideal de justiça racial. A ausência de uma ministra negra no Supremo Tribunal Federal (STF) reflete a profunda desigualdade racial e a falta de comprometimento do governo com a promoção da diversidade e justiça.
No entanto, enquanto debatemos a necessidade de representatividade no STF, questões importantes como o conflito entre Israel e o Hamas e a emergência climática causada pela seca no rio Amazonas desviam a atenção desse assunto de interesse público.
Essas são questões cruciais, mas não podem servir como desculpa para negligenciar e camuflar o debate da luta contra o racismo e a necessidade de ter uma ministra negra no STF.
A campanha #PretaMinistra serve como um lembrete de que o governo deve priorizar a igualdade racial e garantir que todos os cidadãos, independentemente de sua origem racial, tenham a oportunidade de participar plenamente das instituições de poder.
É hora de o governo assumir uma posição firme em relação ao racismo e tomar medidas concretas para corrigir essa desigualdade profunda, para que um dia possamos nos aproximar do cenário de “Democracia” que imaginamos.
É um chamado à ação que não pode ser ignorado.
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Fomentar uma educação reflexiva e popular, e proporcionar condições para que jovens das periferias ingressem no ensino superior, são alguns dos objetivos dos cursinhos populares, na formação e preparação da juventude preta e periférica para o vestibular e Enem. O Você Repórter da Periferia foi até o polo Santo Dias, da Rede Ubuntu, localizado no Jardim Ângela, zona sul de São Paulo, para acompanhar um dia de atividades do cursinho, formado por professores e voluntários que atuam em prol da educação popular.
Confira a videorreportagem produzida pelos alunos da 7ª edição do Você Repórter da Periferia – programa de educação midiática antirracista promovido pelo Desenrola e Não Me Enrola.
Em uma sociedade moldada pela monogamia como norma, a psicóloga Dejanira Oliveira, formada em cannabis medicinal pela Unifesp e em direitos humanos através da Anistia Internacional, explica em entrevista ao Desenrola Aí o conceito da não-monogamia e destaca como a sociedade ainda enfrenta tabus relacionados a essa abordagem.
Dejanira também esclarece como essas diferentes formas de relacionamento desafiam as normas convencionais e ressalta a influência da colonização em nossa percepção de cultura de se relacionar.
É importante frisar que nós somos um país, um país colonizado por europeus. Então, essa questão da colonização, ela interfere muito no que nós consideramos a cultura que é válida, percebe esse lugar? Então, assim, se você olhar a história aí do nosso país, antropólogos falando sobre o assunto, eles vão dizer que os povos indígenas já tinham relações poliamorosas. Óbvio que assim também tinha a monogamia, mas não com esses nomes. Esses eles vão sendo dados por quem colonizou […] nós somos todas e todos livres para amar. Então vamos aproveitar esse lugar e quebrar os preconceitos.
Dejanira Oliveira, psicóloga.
Psicóloga, Dejanira Oliveira e a jornalista, Thais Siqueira durante gravação do programa, Desenrola Aí. Foto: Maxuel Mello/Outubro de 2023.
Sobre o Desenrola Aí
O Desenrola Aí é um programa quinzenal que visa trocar ideias com especialistas da quebrada, descomplicando assuntos relevantes, que afetam o cotidiano da população negra e periférica e os direitos humanos, que é a essência da nossa existência e convivência enquanto sociedade. Nessa segunda temporada vamos abordar sobre Descontruir Tabus: corpo e sexualidade. O programa do Desenrola Aí tem como realização o Desenrola e Não Me Enrola e Fluxo Imagens.
Lançado em agosto de 2023, o documentário “Trajetos y Afetos” narra a trajetória de mulheres nordestinas que migraram e que hoje moram nas periferias de São Paulo. Destacando a ligação entre elas e seus territórios de origem, o documentário evidencia a construção de afetos a partir da música, da gastronomia e da costura.
Cenário utilizado em parte das cenas gravadas para o documentário “Trajetos y Afetos”. Foto de Nathalia Ract.
O documentário, produzido pelo coletivo Curvas Produções, que é formado por pessoas LGBTQIAP+, filhas de migrantes nordestinas e moradoras das periferias de São Paulo, está sendo exibido em diversos espaços de cultura e educação. O trailer está disponível no youtube e a agenda de exibição é divulgada nas redes do coletivo.
“A ideia partiu de inquietações de criar novas formas de registro de memórias e reconhecimento de identidades culturais das mulheres que constroem a cidade de São Paulo, e que encontram em suas movimentações formas de sobreviver e manter viva sua trajetória”.
Curvas Produções, coletivo realizador do documentário “Trajetos y Afetos”
Desde a migração de diferentes estados do nordeste até as periferias das zonas norte, sul, leste e oeste de São Paulo, o filme registra a história de 4 mulheres – Noemia Oliveira, Shirlayne Kelly, Silene Ferreira e Valdirene Rodrigues – que exercem atividades que as unem a um resgate histórico do território de onde vieram, mantendo viva em São Paulo a sua origem e ancestralidade.
A alimentação, a costura e a música são elementos de ligação entre as mulheres migrantes e seus territórios de origem. Foto de Nathalia Ract.