Iniciativas utilizam a permacultura como alternativa para amenizar efeitos da emergência climática

Rede de coletivos de permacultura atuam com mutirões ambientais em periferias de São Paulo e desenvolvem alternativas de combate à emergência climática.
Edição:
Evelyn Vilhena

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O uso do termo emergência climática para se referir ao que até então era conhecido como mudança climática, pode ser considerado um alerta para as consequências causadas pelas alterações do clima que atingem principalmente as periferias, conforme aponta Sara Aleixo de Souza, 31, graduada em ciências ambientais, integrante da Rede Permaperifa, e moradora do bairro Jardim Silvia, em Embu das Artes, na região metropolitana de São Paulo.

“Os efeitos da alteração do clima sempre afetam de maneira mais impactante as periferias, [como] o calor extremo, a falta de água, de saneamento, os efeitos da chuva, [isso] na periferia é de maior impacto do que nas regiões de privilégio.” 

Sara Aleixo de Souza, cientista ambiental, integrante da Permaperifa.
Sara Aleixo de Souza, graduada em ciências ambientais e integrante da Rede Permaperifa (foto: arquivo da Rede Permaperifa)

Sara explica que a emergência climática está diretamente conectada à emissão de gases poluentes na atmosfera e aos efeitos do desmatamento. Ela também aponta que a alteração na temperatura da atmosfera está ligada aos regimes de chuva e aos ciclos das enchentes, que todos os anos prejudicam muitos moradores das periferias. O avanço da industrialização e os impactos negativos do crescimento econômico a todo custo também refletem no clima.

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Permacultura nas periferias

A cientista ambiental aponta que um modo de resistência para lidar com essas mudanças climáticas é através do encontro, da comunidade e da troca, e é nesse sentido que se explica a existência da Permaperifa. 

O trabalho da Rede Permaperifa começou em 2015, através de um grupo de educadores ambientais que se reuniram com a proposta de conectar os permacultores periféricos que estavam espalhados e atuando em diferentes quebradas de São Paulo. O objetivo também era, e ainda é, fomentar a expansão de permacultores nesses territórios através do repasse de conhecimentos.

Primeiro encontro da Rede Permaperifa, em 2015, na comunidade Quilombaque, no bairro Perus. (foto: arquivo da Rede Permaperifa)

“A estratégia proposta dentro desse primeiro evento, [foi] que sempre houvesse alguma periferia que recebesse coletivos de permacultores periféricos, para executar alguma transformação socioambiental naquele espaço, a cada dois ou três meses”, explica Sara sobre a criação da rede. 

Esses encontros se firmaram e hoje são os chamados mutirões da Rede Permaperifa. São ações rotativas que se adequam às necessidades de cada território: pode ser um mutirão para a construção de uma composteira, de uma cerca, de uma cisterna, horta, plantação, entre outras atividades conforme a demanda da região.

O termo Permacultura vem da junção de duas palavras: permanência e cultura. A ideia é utilizar tecnologias e práticas que visam um modo de vida, através da agricultura, que seja sustentável, social e ecológico, para assim criar condições para a permanência da vida. 

Segundo Sara, esse sistema e os conhecimentos que ele engloba chegaram ao Brasil em meados dos anos 2000, de modo elitizado, mas aos poucos, através de coletivos como o Permaperifa, tem chegado também nas periferias. 

A Rede Permaperifa já realizou 36 edições dos mutirões em diferentes regiões periféricas de São Paulo. “Primeiro a gente realiza a obra no espaço, depois a gente senta em roda e dá informes. No final [em assembleia] abre a inscrição para os espaços que pretendem receber o [próximo] encontro”, conta Sara sobre como funcionam os encontros.

Permaperifa desenvolve alternativas de combate à emergência climática
Mutirão na sede do coletivo Autonomia ZN (foto: arquivo da Rede Permaperifa)

Coletivo Somos, Horta Popular Becos e Vielas, Horta do Paredão, Coletivo Eparreh, Autonomia ZN, Horto Fazendinha, Horta do Saruê, Grupo Da Mata, Ecoativa, Imargem, Permaperifa ABC e Permaperifa Baixada Santista são alguns dos coletivos que fazem parte da rede.

A partir de práticas da permacultura, Sara dá exemplos de estratégias que podem proporcionar autonomia e auxiliar na manutenção do bem viver dos moradores. “A partir dos encontros [surgem] tecnologias de baixo custo, como colocar placas de isopor, que a gente consegue em qualquer papelaria a R$ 5 cada, entre o forro e a telha, [e] você reduz o impacto do calor em casa”, exemplifica.

São várias as práticas possíveis através da permacultura, desde se pensar a alimentação até a gestão de resíduos. Nesse sentido, Sara cita as cisternas como outro exemplo. “Se uma família deixa como legado uma cisterna, [com] captação de água de chuva e aproveita essa água ao invés de deixá-la escoar [isso gera um impacto ambiental positivo]”, comenta.

“Na rede Permaperifa, a gente sempre traz a compostagem como uma estratégia de lidar com os resíduos orgânicos, [para] reduzir a emissão dos gases de efeito estufa [e] gerar adubo para poder plantar”, aponta Sara sobre um dos saberes que têm como base a permacultura aplicada nas periferias.

Emergência climática nas periferias

A Permaperifa é formada por, aproximadamente, 30 coletivos. No entanto, há a participação também de pessoas que não são vinculadas a nenhum coletivo, como é o caso da Débora Nascimento, 24, e do Bruno Lima, 36, que já participaram de três encontros, trabalham com construção civil e querem migrar para a bioconstrução.

Técnica de bioconstrução realizada no 18° encontro da rede permaperifa, no bairro Vila Calu, localizado no distrito Jardim Ângela

“Acho que a importância maior é dá acesso a quem não tem, porque se você coloca um valor lá em cima, como é que a quebrada vai fazer? Se você tem dois, três filhos, como você vai tirar R$ 500, R$ 1.000, R$ 1.500 para poder fazer um curso de dois três dias, fica difícil, né?”, diz Bruno.

Débora e Bruno moram em Interlagos, em uma região conhecida como Morro da Macumba, na zona sul de São Paulo. Bruno comenta que por meio da Permaperifa tem tido acesso aos conhecimentos sobre permacultura, que geralmente são inacessíveis financeiramente. 

“A gente da periferia tem uma outra realidade. A gente tem vontade, mas não tem acessibilidade. Porque eu quero plantar, mas aonde? Eu quero comer bem, mas onde que eu vou comprar? Então, a Permaperifa expande isso bastante, dá essa consciência para a gente [e] assim a gente vai reformulando”, coloca Débora.

*Este conteúdo faz parte da campanha Planeta Território, uma iniciativa do Território da Notícia com apoio do Instituto Clima e Sociedade (iCS)

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