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Roteirista fala sobre acesso, oportunidades e barreiras da cultura geek nas periferias

Roteirista de fanzine há 38 anos, Thina Curtis, 49, moradora de Santo André, no Grande ABC, foi uma das expositoras do espaço Beco do Artistas, na 4° edição do Perifacon, realizado na Fábrica de Cultura Diadema, na Grande São Paulo, em julho deste ano. Essa foi a primeira vez que Thina expôs no evento, que busca democratizar e aproximar a cultura geek das periferias. 

Durante o Perifacon, a roteirista apresentou uma de suas produções, o livro “Brazineiras”, que fala sobre o trabalho de mulheres que produzem fanzines. Thina conta das suas experiências, desafios e conquistas no mundo geek enquanto mulher periférica, artista e mãe.

O que você enxerga como diferencial dentro desse mercado comparado com quando você começou? 

Melhorou muito, antes não se via tantas mulheres, lgbtq, não bináries, pessoas negras, que praticamente a gente não via, principalmente no mercado de cultura pop. Eram 10 homens, para 1 mulher e olhe lá, então hoje em dia a gente consegue ter uma voz, fazer algumas coisas, tem muito mais coletivos de mulheres pensando no mercado pop.

O que te motivou a fazer o livro Brazineiras? 

Necessidade! Pensei que quando eu comecei eu não conhecia mulheres que faziam, e ainda hoje quando vou dar palestras, quando eu circulo, as pessoas falam: ‘Nossa eu não sabia que tinham tantas mulheres fazendo tantas coisas’. Mesmo a gente estando em um mundo tecnológico, o impresso é necessário, ele dialoga de uma maneira que é um registro, de saber a história dessas mulheres, porque está sendo apagado. Estamos morrendo, estamos fazendo outras coisas e a trajetória que a gente está fazendo está sumindo.

Quando você entendeu que a arte do fanzine seria o seu trabalho?

Eu entendi em um momento bem complicado. Eu me separei do meu primeiro marido e eu precisava trabalhar, e eu entendi que não gostava de outra coisa. Aí um dia uma ONG me ligou, [falaram] que eles estavam precisando de pessoas para dar oficina de fanzine, nesse período meus filhos estavam na adolescência, eu banquei a casa, estudos, e ali eu percebi que eu tinha virado a chave. Uma oportunidade que era um trabalho sério. Você [sendo] mãe solo, principalmente artista e periférica, a gente tem várias dificuldades que te colocam mais pra baixo da escala.

Como é para você, como mãe, estar ativa nos eventos para divulgar seu trabalho?

É difícil, você tem que começar uma semana antes a se programar, tem que ter uma rede, é a pré-produção para um evento. Arrumar uma mala com roupas, comida, livrinhos, brinquedos, mas eu acho importante inserir a criança, não só eu como artista, mas como mãe eu traria, principalmente aqui, um evento voltado a literatura também, algo que a gente não tem na região.

Como é para você ver esse tipo de evento dentro de um equipamento cultural público?

Eu brigo por isso há anos, inclusive eu sou conselheira setorial geek, aqui em São Bernardo, e a nossa maior briga é política pública. Se a gente não tem o hábito, as pessoas não têm pertencimento, pois elas acham [que] é uma coisa nerd, a biblioteca vive vazia porque acham que não pertencem a esse lugar, então eventos assim não trazem só a multidão, mas plantam a semente.

Esse conteúdo foi produzido por jovens em processo de formação da 8° edição do Você Repórter da Periferia (VCRP), programa em educação midiática antirracista realizado desde 2013, pelo portal de notícias Desenrola e Não Me Enrola.

Salve Clariô: grupo cria vaquinha para manter espaço cultural ativo em Taboão da Serra

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Na estreita Rua Santa Luzia, número 96, na cidade de Taboão da Serra, em São Paulo, é onde está localizado o espaço Clariô. Criado junto com o Grupo Clariô de Teatro, desde 2005, o local amplia o acesso à arte, educação e cultura no bairro da Vila Santa Luzia. Devido a especulação imobiliária que se instalou na região, junto com a previsão da chegada do metrô Vila Sônia, para não perder o espaço, o grupo lançou a Campanha Salve Clariô.

“O espaço Clariô não é só do Grupo Clariô de Teatro, quando a gente fala dessa importância do espaço continuar é por isso, se o espaço Clariô some, esse [local] de cultura, de entender [e] assistir teatro, shows, ele vai sumir [junto], essa comunidade vai perder, vai ficar desamparada com isso.”

Alexandre Souza, ator e técnico geral do Grupo Clariô e do espaço.

Além de espetáculos e shows, outras atividades acontecem no local, como o Sarau do Binho, o ‘Quinta às Oito’, a Mostra do Teatro do Gueto, oficinas de capoeira, boxe, teatro, dança e percussão. “O espaço Clariô nunca cobrou nada em suas oficinas, apresentações, cursos, palestras, shows, sempre foi de graça, pra todo mundo”, pontua Washington Gabriel, 36, ator e produtor do Grupo Clariô, morador do bairro Parque Rebouças, no distrito do Campo Limpo, zona sul de São Paulo. 

Apresentação artística de Vitor da Trindade e banda, no ‘Quinta às Oito’, em 2023. (foto: Viviane Lima)

“Por estar na região central de Taboão, [o local] recebe pessoas de Embu das Artes, de Itapecerica, da zona sul de São Paulo, tanto público, quanto os espetáculos”, comenta Washington. As atividade do espaço Clariô se mantêm através de projetos, editais e revertendo parte do valor dos espetáculos, shows e cachês do grupo de teatro para pagar as despesas. 

Alexandre, 43, ator e técnico geral do grupo e do espaço Clariô, mora em Taboão da Serra, no bairro Jardim Pirajussara, e menciona que as atividades que acontecem no Clariô refletem de várias formas nos frequentadores, como no caso da Casa de Iaia, espaço cultural localizado também em Taboão da Serra, que tem como co-fundadora a Ângela, que inaugurou o local a partir da experiência que teve no Clariô.

“A gente acaba fazendo política pública cultural, o Clariô fornece mais cultura para a cidade do que a própria Prefeitura”, menciona Alexandre, que também ressalta a escassez de políticas públicas para a cultura em Taboão da Serra. “[O Clariô] é um dos pouquíssimos espaços culturais da cidade”, afirma Washington.

Frente do espaço Clariô durante evento, há alguns anos, na Rua Santa Luzia, número 96, em Taboão da Serra. (foto: arquivo pessoal)

Especulação imobiliária

O histórico cultural do local é antigo, pois esse mesmo endereço já tinha sido ocupado pelo grupo de teatro Cavalo de Pau. Alexandre conta que parte do espaço foi alugado com a verba arrecadada em um projeto, e com o tempo todo o local foi incorporado pelo Grupo Clariô, e as possibilidades de uso foram expandidas.

Apresentação do espetáculo Hospital da Gente. (foto: arquivo pessoal)

Em 2009, o grupo começou a criar a peça ‘Hospital da gente’, que foi um marco na consolidação da identidade do Clariô ao atuar com teatro para, com e na periferia. Nesse contexto, o movimento cultural no espaço Clariô começou a se fortalecer e se firmou também como uma iniciativa de formação política, construção e formação de pensamento crítico, aponta Washington. 

“A campanha surge no momento em que a existência do espaço Clariô fica ameaçada por conta da especulação imobiliária que existe com essa questão do metrô vindo para próximo”, coloca Alexandre. Ele conta que a instalação do metrô Vila Sônia, que estava prevista para 2014, tem causado o aumento no valor dos imóveis e do custo de vida na região.

“A gente pagava R$ 500 de IPTU na época que [chegamos] aqui [em 2005]. Esse ano [2024], a gente pagou R$ 5.000 de IPTU desse terreno”, relata Alexandre. Ele também comenta que apesar da valorização no valor do imóvel, os moradores da região sofrem com enchentes.

“As famílias daqui em frente estão sempre por aqui. Quando tem enchente, o pessoal da rua deixa de limpar a própria casa e vem primeiro limpar o teatro, depois vai limpar sua casa, de tão importante que é [o espaço].”

Alexandre Souza, ator e técnico geral do grupo e do espaço Clariô.

Washington diz que não se trata de uma expulsão, mas que a proprietária sinalizou que tem interesse em vender o imóvel e deu prioridade para que o grupo possa comprá-lo, assim buscaram se antecipar para conseguir realizar essa compra, sendo que o contrato de aluguel dura até abril de 2025. 

“O Clariô pode existir em outro lugar, mas a relação que a gente criou com essas famílias, com essa rua, com esse endereço é algo que a gente vai demorar muito para criar em outro lugar”, coloca Washington.

Salve Clariô

A campanha SALVE CLARIÔ vai até dezembro de 2024, e a meta é arrecadar R$ 700 mil. Washington comenta que todo valor doado é bem-vindo e que existem outras formas de ajudar, como fortalecer na divulgação e contratar o grupo de teatro para trabalhos. Realizar oficinas e apresentações no próprio espaço cobrando, temporariamente, pelas inscrições ou ingressos, está sendo uma opção para quem deseja contribuir. 

Salve Clariô: grupo cria vaquinha para manter espaço cultural ativo em Taboão da Serra
A Campanha Salve Clariô vai até dezembro de 2024 e pode ser acessada pelos links que estão na reportagem. (foto: Ju Dias)

A venda de rifa é a alternativa que o Sarau do Binho encontrou para ajudar, e estão rifando a realização de uma edição do sarau no valor de R$ 50. “Não vai ser só uma benefice pro Clariô, mas uma escola ou outro espaço vai ganhar um dia de Sarau do Binho”, exemplifica Alexandre.

O tombamento do espaço Clariô como patrimônio cultural da cidade também é uma das movimentações que o grupo tem feito para salvar o espaço. “Dedicar uma verba que [se] recebe como emenda [parlamentar] para o espaço é uma ação do poder público que é muito bem-vinda”, finaliza Washington ressaltando a contribuição do poder público nesse cenário.

“Nossa história foi apagada, estou tentando resgatá-la”, diz Domenica Luciana, confeiteira e empreendedora

Domenica Luciana, 41, moradora de Diadema, na Grande São Paulo, foi uma das empreendedoras que participou da 4° edição do Perifacon, que aconteceu em julho deste ano, na Fábrica de Cultura de Diadema. Domenica é confeiteira e suas produções de trufas e doces são inspirados em elementos que resgatam sabores da culinária africana. 

Entre os doces que produz, tem o Malva Pudding, uma receita de origem sul-africana originalmente feita em uma travessa, mas que vende em forma de trufa. O cardápio do empreendimento de Domenica é repleto de histórias e nomes de origem Iorubá, como Adis Abeba, Melktert e o Quimbé.

Para vendas em espaços relacionados à cultura geek, como o Perifacon, os doces também são nomeados em referência a personagens do mundo nerd, como Pantera Negra, Tempestade e Super choque, que fizeram parte da identidade visual ao longo do evento.

Como iniciou sua trajetória na culinária?

Eu comecei cozinhando para família, todo mundo gostou e as pessoas me perguntavam se eu não queria fazer para vender dentro da própria família, e depois para amigos. Eu fui meio que induzida a vender para outras pessoas.

Qual o motivo do nome da empresa e dos doces?

Chama-se “Dona DÔ’s Doces” porque é dona Dô, de Domenica. E quando a gente participa principalmente da Perifacon, para ter essa comunicação com o público a gente dá para as nossas trufas os nomes de personagens de filmes. Mas a grande sacada da nossa empresa são as trufas inspiradas em sabores africanos, porque a gente quer resgatar sabores e transformar em produtos contemporâneos para que as pessoas conheçam principalmente a confeitaria africana.

Qual foi o ponto de partida para incluir isso no seu empreendimento?

Era pouco participar da Feira Preta só com trufas tradicionais, entendemos que precisávamos encontrar alguma coisa que conversasse com a temática do público. Encontramos o primeiro doce “Doce de Cumbê”. Essa era uma temática que a gente deveria seguir porque ouve-se pouco falar sobre a confeitaria africana.

Qual sua relação com o nome da empresa e sua história?

Todos os brasileiros somos um pouco africanos. Eu busco minha ancestralidade, porque a nossa história foi apagada e é por isso que eu estou tentando resgatar.

Qual é o desafio de ser uma mulher preta, periférica mostrando sua ancestralidade?

As pessoas têm muito preconceito, o Cumbê foi o primeiro doce que a gente desenvolveu. Ele veio com a escravidão, só que ele foi apagado da história, porque ele era um dos consagrados a um orixá, por isso a gente fez esse resgate. As pessoas não conhecem a confeitaria africana, pouco se fala sobre doces de África.

Esse conteúdo foi produzido por jovens em processo de formação da 8° edição do Você Repórter da Periferia (VCRP), programa em educação midiática antirracista realizado desde 2013, pelo portal de notícias Desenrola e Não Me Enrola.

O bem-estar como direito humano

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Começo aqui resgatando os caminhos sugeridos, que foram apresentados na sessão anterior, de como é possível nos reconectar e elaborar dores a partir da escuta de si, do outro e dos antepassados. Como podemos resgatar laços e tomar consciência de quem somos, nos curar e usar o conhecimento das medicinas tradicionais que são milenares e herança ancestral, e incluir de forma simples o autocuidado na rotina diária para vivenciar seus benefícios na prática, tanto no individual, como no coletivo.

As práticas são variadas e tão possíveis, que podemos até desacreditar ou não entender como isso pode ter tantos benefícios. Um banho de ervas, um escalda pé, uma massagem, conversar com um terapeuta, escrever, dar espaço para ser ouvido,  resgatar memórias e elaborá-las, qual o sentido disso? 

Procure realizar alguns desses cuidados por um profissional, participar de um grupo para acolher e ser acolhido que entenderá com os resultados.

Desenvolver uma rotina, iniciar o autocuidado, entender o que sentimos, o que nos incomoda, o que desejamos, é um movimento que precisamos por em ação, começar ou recomeçar se for necessário. 

O problema é que procrastinamos ou não ouvimos as dores, ignoramos, não acolhemos, somos duros ou frios conosco, deixamos de lado e seguimos nos desumanizando, sem descobrir o que elas estão tentando dizer para nos levar para outro caminho.

A ação e o movimento que precisamos dar é a oportunidade de incluir os cuidados e bem estar como um direito humano e que podemos transformar em hábitos saudáveis para tornar a vida mais leve e feliz. É um direito sim, individual e coletivo.

Aí pergunto: quanto levamos a sério os sentimentos e necessidades? se procuramos entendê-las, ou se não levamos a sério, quanto estamos comprometidos com isso?

É muito fácil não fazer nada, pois tendemos a entrar no negacionismo, e aí perdemos a chance de ter saúde, bem estar e sermos mais felizes em nossa própria companhia.

Definir qual cuidado preciso e saber que isso depende de nós, é um modelo diferente de viver, onde temos a autonomia de irmos em busca daquilo que desejamos e precisamos, porém, quantas limitações são impostas, por nós, ou pelo outro, e digo isso de forma muito genérica, e aí caímos na descrença e nos habituamos com a doença. 


Ao ler bell hooks “Tudo sobre o amor: novas perspectivas”, vejo que não acreditamos mais e levantamos barreiras e dúvidas, e isso nos paralisa, estamos acostumados ao desamor que é o tema da vida contemporânea. Nos desconectamos e deixamos para o outro dizer o que precisamos, esquecemos de dar espaço para quem realmente somos e o que desejamos.

Não nos conhecemos e esquecemos a essência do amor próprio, uma forma de colocar seu ser mais profundo, suas raízes no centro, se fortalecer e amar quem você é ou buscar ser o que realmente gostaria. Se sentir amado e se curar da doença das quais são tão comuns nos dias atuais. 


A leitura deste livro ainda indica caminhos, quanto nossas ações pessoais estão implicadas com uma postura perante a sociedade, que o amor como força para romper o ciclo perpetuado nas dores e violências. 

O amor pode ser uma ferramenta onde a vontade, se empenhar ao máximo para promover o próprio crescimento, através do cuidado, afeição, reconhecimento, respeito, compromisso e confiança, entre outros, como a comunicação sincera, podem ser ações para construir novos sentimentos, trazer curas e soluções para as questões duras que somos submetidos.


Sentir, acolher e entender que temos limites, nos respeitar e sermos mais criativos, alegres, vivos e comprometidos consigo mesmo, pode trazer prazeres e momentos que superam as dores e nos potencializa a viver mais e melhor.

Este é um conteúdo opinativo. O Desenrola e Não Me Enrola não modifica os conteúdos de seus colaboradores colunistas.


Jovem cineasta relata os desafios para produzir cinema nas periferias de São Paulo

Em 2023, a cineasta Binha Sakata, 26, moradora do distrito Cursino, zona sul de São Paulo, produziu o seu primeiro filme “Autonomia Amarela em diáspora”, que foi exibido durante a 1º Mostra Experimental Filme Sem Nome, realizada no Centro Educacional Unificado (CEU) São Pedro, localizado no distrito de José Bonifácio, zona leste de São Paulo.

Binha Sakata,  cineasta. Foto: Nicolas Santos, jovem da 8ª edição do Você Repórter da Periferia/Julho 2024.
Binha Sakata, cineasta. Foto: Nicolas Santos, jovem da 8ª edição do Você Repórter da Periferia/Julho 2024.

Em entrevista ao Você Repórter da Periferia, ela conta os desafios que vivenciou para se tornar uma profissional do cinema atuando nas periferias, considerando que o primeiro contato com produção audiovisual aconteceu quando ela participou de um projeto de formação cultural destinado a jovens das periferias de São Paulo. 

VCRP: Qual foi o seu primeiro contato com produção cinematográfica?

Assistindo ao SPTV do meio-dia, o César Trailer, falou assim: “Vão abrir as inscrições para o Cine Inclusão, um projeto para jovens das periferias em São Paulo, entre 16 e 24 anos”. Então eu fiz a inscrição e passei. Eu tinha 18 anos, esse foi meu primeiro contato com o cinema. No final deste processo a gente produziu um curta metragem.

VCRP: Como foi sua experiência com o cinema na sua infância e adolescência?

Minha mãe me levava ao cinema às vezes, mas ela não tinha muito saco. Eu tinha um amigo que foi responsável por me levar em espaços culturais. Comecei a frequentar museus, ele me apresentou livros e filmes fora do circuito muito comercial.

VCRP: Você enfrentou muitos desafios para desenvolver um olhar como cineasta e como produtora?

É um tanto desafiador por conta das minhas inseguranças, tipo expor minhas ideias, eu sabia da relevância mas não ao ponto de concretizar. Sempre achava que os outros tinham mais experiências para executar.

VCRP: Quais as maiores dificuldades para produzir cinema na periferia?

Uma das minhas maiores dificuldades foi interpretar e narrar o poema para criar o curta metragem. Por mais que eu já escrevesse a um tempo, uma coisa é escrever e outra é performar, vocalizar e externalizar. Usei equipamentos que eu já tinha, uma câmera T5i e um Samsung 2017, por que tinha cenas na rua e não ia levar minha câmera, usei o celular e acolhi a qualidade do vídeo como uma estética.

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“Se não fosse a dança, estaria desempregado”, diz jovem educador da zona leste São Paulo

No piso térreo do Centro Educacional Unificado (CEU) São Pedro, localizado no distrito de José Bonifácio, zona leste de São Paulo, o dançarino Renan Alves, morador de São Miguel Paulista, ocupa uma sala equipada com espelho e uma caixa de som. Neste espaço, ele ensina crianças, jovens, adultos e idosos, que querem descobrir o mundo da dança, por meio de aulas gratuitas realizadas no final de semana no equipamento público de educação da prefeitura.

Desde criança, o jovem dançarino relata que gostava de dançar. A história dele com a dança ganhou um novo capítulo quando ele completou 15 anos, e um professor conseguiu uma bolsa de estudos para Renan aprender dança clássica em uma escola de dança. 

“Quem tem acesso à arte e cultura? A quem isso é dado é oferecido como meio de trabalho?”, questiona o jovem educador, ressaltando a dificuldade de moradores das periferias, assim como ele próprio, de acessar esses projetos e espaços públicos.

Hoje, com 18 anos, ele permanece estudando dança, mas sente que precisa passar esse conhecimento adiante, para que outros moradores das periferias que não têm acesso à arte e espaços de cultura em seu bairro, conheçam e se inspirem com o universo da dança.

VCRP: Como que o balé e a dança surgiu na sua vida?

O balé surgiu por  meio de um projeto social de uma igreja que eu frequentava. Depois disso, um professor me passou para uma escola de formação profissional, ele conseguiu uma bolsa para mim e eu tô lá até hoje.

VCRP: Como seria o seu trabalho se não houvesse esse espaço aqui no CEU São Pedro ?

Não teria trabalho, porque é aqui que eu ganho meu dinheiro, é aqui que eu dou aula. Na verdade, eu ainda sou estudante. Não sou formado em dança clássica, então seria muito mais difícil para mim procurar um trabalho que não fosse aqui, na rede do CEU.

VCRP: Como surgiu a vontade de ensinar?

Quando eu entrei na dança, eu não era muito bom, porque ninguém começa bom em alguma coisa nova, então eu comecei a estudar muito e ler muitas coisas. Então, eu fui adquirindo um repertório teórico e vi que as minhas explicações para os meus amigos eram muito mais embasadas, graças a todo esse estudo, e foi aí que eu vi que tinha uma coisinha ali para ensinar.

VCRP: Qual o seu público? 

São crianças de 4 até 100 anos. Enquanto estiver andando, venha dançar! Para mim, não tem idade para dançar, não existe idade limite para quem quer aprender, porque a dança é movimento, então enquanto você se mexe, você pode dançar e pensar também que não é uma competição. Pensa que é uma caminhada que você faz todos os dias e que se você for competir com alguém, você vai competir com você mesmo todos os dias, para ser melhor do que ontem. 

VCRP: Como você ensina adultos e crianças?

Eu mudo o estilo da aula dependendo do perfil de público. Vai depender muito para quem eu tô dando aula, por exemplo, a criança vê a dança como um mundo mágico, como um desejo de vida, eu sinto que é um impacto muito positivo. Agora para quem é adulto, a dança surge como um espaço de lazer ou até de refúgio. Aí é outro rolê, porque eu penso mais que essa dança precisa ser algo confortável para esse adulto.

VCRP: A arte da dança é acessível na periferia?

Eu penso que não é interessante para as classes dominantes formar artistas periféricos, formar produtores de culturas periféricas, até porque eles prendem a gente na mão de obra, então para que tipo de mão de obra a gente serve? Acho que por isso é muito mais difícil o caminho para quem é da periferia.

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Mostra Filmes Sem Nome promove inclusão do cinema nas periferias

Confira a vídeorreportagem produzida pelos jovens da 8ª edição do Você Repórter da Periferia, programa de educação midiática antirracista promovido pelo Desenrola e Não Me Enrola.

Promover a democratização do cinema e valorizar a produção audiovisual periférica é alguns dos objetivos da 1ª Mostra Experimental Filmes Sem Nome, que utiliza o cinema como uma ferramenta de inclusão e valorização das realidades periféricas na democratização do acesso à cultura.

“Tem que provar o tempo todo que é capaz”, diz Sandra Ramalhoso sobre pessoas com deficiência na política

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Em frente a uma casa, no bairro da Água Rasa, distrito da Mooca, na zona leste de São Paulo, uma faixa pendurada com a frase “quem lutou a vida inteira, agora luta por você”, identifica o local em que mora Sandra Ramalhoso, 60. Pré-candidata a vereadora da cidade de São Paulo, Sandra tem Síndrome Pós-Poliomielite, é cadeirante e tem como principal bandeira os direitos das Pessoas com Deficiência (PcD).

Segundo dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), na última eleição municipal, em 2020, no total, 56 pessoas com deficiência se elegeram para o cargo de vereança no estado de São Paulo. Nesse mesmo ano, no município de São Paulo, foram 34 o total de candidaturas de PcD para a mesma função. Essa é a primeira vez que Sandra disputa o cargo.

Pré-candidata a vereadora de SP relata a busca por maior participação de pessoas com deficiência na política institucional.
Sandra iniciou seu ativismo social atuando na Pastoral da Pessoa com Deficiência. (foto: Viviane Lima)

Presidente da Associação G 14, que presta apoio aos pacientes de poliomielite e síndrome pós-pólio, Sandra atua em defesa das pessoas com deficiência, principalmente na área da mobilidade urbana. “Atuei na briga por transporte, pelo ônibus de piso baixo, pela calçada, pelo transporte ativo. A pessoa com deficiência pode utilizar a ciclovia, a ciclofaixa, a gente lutou por esses espaços”, conta Sandra sobre as demandas que pautou no Conselho Municipal de Transporte e Trânsito (CMTT).

Entre os debates que levanta, Sandra coloca a necessidade de dados sobre as pessoas com deficiência para embasar políticas públicas. “São Paulo tem 14 milhões de pessoas. Segundo o IBGE, nós, pessoas com deficiência, somos 8,6% dentro da cidade. Isso dá mais ou menos 1,2 milhões de pessoas”, ela coloca, e explica que a cada 50 casas apenas uma recebe o questionário completo do Censo do IBGE, que nos demais não tem um campo destinado para sinalizar que a pessoa tem alguma deficiência, o que interfere nos dados finais.

Segundo ela, essa coleta de dados também tem impacto territorial. “Quantas pessoas estão na periferia e não responderam esse questionário e a gente não sabe que elas estão lá precisando de UBS, de CER – Centro Especializado em Reabilitação?”, diz. 

Atende + é um serviço de atendimento de transporte gratuito destinado às pessoas com deficiência. (foto: Viviane Lima)

O indicador de tempo médio de deslocamento por transporte público do Mapa da Desigualdade de 2023, mostra que no distrito da Água Rasa, no horário de pico da manhã, o tempo médio desse deslocamento via transporte público é de 36 minutos. Nesse mesmo parâmetro, um morador da Cidade Tiradentes leva 1h08 para se locomover, sendo as duas regiões localizadas na zona leste de São Paulo.

O indicador “Acesso a transporte de massa” do Mapa, também mostra que 14,87% da população que mora na Água Rasa está em um raio de até 1 km de distância de estações de trem, metrô ou monotrilho. Em comparação, 0% dos moradores da Cidade Tiradentes têm acesso a qualquer estação que esteja no máximo a 1 km de sua residência. Os dados não mencionam as dificuldades de locomoção de pessoas com deficiência conforme território.

Atuação política

Sandra teve poliomielite aos três meses de vida. Ela conta que os médicos não acreditavam que um bebê tão pequeno pudesse ter pólio e demoraram no diagnóstico. Até os 15 anos, viveu em função dos tratamentos e da fisioterapia. 

“Cheguei num estágio que não mexia nada, quando eu saí do hospital, até andar totalmente autônoma com duas órteses, que são aparelhos nas pernas e duas muletas axilares”. Assim, ela frequentou a escola e se formou em piano. Até 2020, Sandra trabalhava como professora de reforço escolar e dava aulas de piano.

No período entre a infância e adolescência, acreditava que a poliomielite havia estabilizado, mas após a gravidez do segundo filho, aos 40 anos, ela não conseguiu voltar a andar. Foi através da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), em um laboratório de poliomielite, que Sandra teve o diagnóstico de Síndrome Pós-Poliomielite, doença que interfere na perda muscular de forma progressiva e degenerativa. 

Situações que vivenciou ao longo dos anos contribuíram na sua decisão em atuar por políticas públicas e na política institucional. Em 2016, ela relata que ao pegar um ônibus, acompanhada do filho, o elevador do veículo travou e começou a pegar fogo. Seu filho então recorreu aos mecânicos de uma oficina próxima para tirar Sandra do veículo. Um segundo acidente aconteceu em 2017. “Eu fui atropelada porque não tinha calçada, não tinha faixa de pedestre”, comenta sobre o acidente que aconteceu na rua de sua casa. 

Devido a esses ocorridos e com o apoio do filho que é assessor político, em 2017, Sandra se filiou ao PSOL, onde faz parte do Setorial PcD e passou a atuar na política partidária, com foco nos direitos das pessoas com deficiência.

Reunião do setorial PcD do PSOL, implementação de políticas inclusivas e anticapacitistas foram temas do encontro. (foto: arquivo pessoal)

Entre as contribuições para o movimento, ela aponta o período que representou o CMTT no Conselho Municipal de Políticas Urbanas (CMPU), e a participação na discussão do Plano Diretor da cidade de São Paulo. “Ainda era online as reuniões [durante a pandemia] e tinha um rapaz surdo. A gente conseguiu barrar a continuidade da discussão do plano diretor, porque não tinha acessibilidade, fomos ao Ministério Público”, relembra. Segundo ela, como resultado, agora as reuniões dos conselhos têm intérpretes de libras.

Sandra também participou do Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência (CMPD), de 2017 a 2019 e de 2022 a 2024. “A gente conseguiu também uma cadeira da pessoa com deficiência [dentro do Conselho Municipal de Política Urbana]”, pontua. 

Sandra Ramalhoso no Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência (CMPD), do qual fez parte como conselheira. (foto: arquivo pessoal)

A partir dessas atuações, ela relata que identifica o capacitismo presente no espaço político, “a gente tem que provar o tempo todo que é capaz”, comenta.

“Capacitismo é quando você considera que a pessoa [com deficiência] não é capaz de fazer as coisas. Ou quando você [a] compara pejorativamente em alguma fala, por exemplo, ‘dei uma mancada’. O que significa isso? Que você fez uma coisa errada. Então você se compara com uma pessoa que manca. Isso é capacitismo.”

Sandra Ramalhoso, presidente da Associação G 14.

Nessas movimentações políticas, o lugar que mais se sentiu discriminada foi quando participou do desenvolvimento das normas técnicas de construção de ônibus, na ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). “Eu era a única mulher lá dentro [e] pessoa com deficiência, [para eles] eu não sabia de nada”, relata Sandra.

A pré-candidata menciona que ter pessoas com deficiência eleitas é importante pela questão do protagonismo. “É você saber que essas pessoas existem, pensam, são capazes e podem melhorar a cidade”. Mas também coloca que muitas candidaturas de pessoas com deficiência são colocadas como “laranjas” e que não há investimento dentro dos partidos para que façam uma campanha que possa alcançar uma eleição.

Batalha diária: o corre cotidiano dos ambulantes 

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A vida dos trabalhadores autônomos segue na luta do corre diário para poder se manter. Desde as primeiras horas do dia até o último raio de luz. Seu José é um deles, que veio para São Paulo para tentar “ganhar a vida”, montou seu carrinho de churrasco, e no centro de São Paulo, vende churrasquinhos há mais de 20 anos.  

Assim como Seu José, a rotina frenética das pessoas autônomas é como uma dança, onde eles precisam alinhar os passos conforme a música, lutando diariamente para poder prover seu próprio sustento. 

Correndo diversos riscos, porque, como sabemos, muitas vezes ainda vem as autoridades achando que é uma forma justa multar ou tomar a mercadoria dos mesmos, tirando assim a sua fonte de renda num país onde as oportunidades de empregos não são favoráveis para todos, e com riscos diários de perder tudo e ter que começar do zero novamente.

Seu José falou um pouco desses desafios. Ele teve que se adequar e pagar taxas (e ainda paga) muitas vezes preços altos para poder estar ali naquele ponto sem correr o risco de perder tudo. 

Inclusive, pouco antes de começarmos a conversar e fazer algumas fotos, ele foi abordado por policiais no local pedindo para ver o documento e CNPJ para consultar se estava tudo ok. Caso contrário já sabemos bem qual seria o desfecho. Por isso ele já deixa a documentação pendurada bem à vista no seu carrinho de churrasco. 

Cada dia é uma batalha pela própria existência, uma jornada de resistência e resiliência que os ambulantes e autônomos passam, indo à luta do seu próprio sustento.

Este é um conteúdo opinativo. O Desenrola e Não Me Enrola não modifica os conteúdos de seus colaboradores colunistas.

“Não existe apenas uma face da igreja”, diz membro da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito

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A quantidade de igrejas evangélicas no Brasil vem aumentando nas últimas décadas. Em 1990, eram 17.033, sendo que em 2019, esse número cresceu para 109.560 igrejas desse segmento, conforme aponta a pesquisa ‘Surgimento, trajetória e expansão das Igrejas Evangélicas no território brasileiro ao longo do último século (1920-2019)’, do Centro de Estudos da Metrópole (CEM), da USP. 

Para Gabriel Sales, o entendimento do que é o evangelho é uma linha determinante para diferenciar evangélicos que defendem os direitos humanos, dos fundamentalistas, que identificam esses direitos como um mecanismo de “defesa de bandidos”. 

Representando a Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito no 3ª Encontro da Coalizão Negra por Direitos (foto: arquivo pessoal).

Morador da cidade de Vicente Pires, no Distrito Federal, Gabriel é evangélico, faz parte da Coalizão Negra por Direitos e é coordenador da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito. “A Frente nasce para demonstrar para a sociedade que não existe apenas uma face da igreja evangélica no Brasil”, comenta sobre a iniciativa criada em 2016, por pastores e pastoras, como um manifesto em defesa da democracia diante do contexto do impeachment da presidente Dilma, que ocorreu no mesmo ano. 

Segundo Gabriel, outro objetivo da instituição é dialogar com “igrejas pequenas que em sua maioria são pentecostais, mostrando um evangelho que às vezes não é dito para eles”. Ele coloca que os cristãos deveriam lutar para que todos pudessem ter os direitos garantidos e qualidade de vida.

“O lado do cristão é lutar com a sociedade [para] que o genocídio [do] povo que está nos territórios [periféricos] cessem. O lado cristão é para que todo mundo tenha vida em abundância, porque quando Jesus fala: ‘eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância’, é ter direito à educação de qualidade, à saneamento básico, à saúde”

Gabriel Sales, coordenador da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito.

“A gente vê em Jesus humildade, amor, acolhimento, misericórdia, justiça, mas não é a justiça do justiçamento, é a justiça em sua plenitude [para] que todos tenham direitos iguais. Quando a gente lê toda a bíblia a partir dessa lente que é Jesus, a gente acha o evangelho. Então o evangelho é uma forma de ler e viver a bíblia”, comenta Gabriel.

Gabriel é assessor parlamentar, e em 2019 estudou teologia para ser pastor, mas conta que em 2021, por conta do fundamentalismo, deixou o seminário. No mesmo ano, ele começou a construir a Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito no Distrito Federal. Atualmente ele é membro de uma igreja evangélica chamada Coletivação, que fica em Ceilândia, DF.

Fundamentalismo x Direitos Humanos

Gabriel afirma que o fundamentalismo presente em algumas igrejas evangélicas não é um projeto recente, é algo que vem sendo construído. Para ele, por isso que entender as teorias da teologia, o que inclui o fundamentalismo, se faz necessário no cenário político.

“Hoje não tem como a gente pensar num projeto de Brasil sem pensar nos evangélicos.Tendo em vista a ascensão do povo evangélico [que] de acordo com o IBGE tende ser a religião com mais adeptos”

Gabriel Sales, coordenador da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito.

O coordenador aponta que essa doutrina nasce nos Estados Unidos, no final do século XIX. “É importante falar que o Brasil foi alvo das ações missionárias das igrejas dos Estados Unidos, principalmente as igrejas que assinavam esse movimento fundamentalista. Essas igrejas brasileiras seriam as que em 1964 apoiaram o golpe”, menciona. 

Encontro nacional de coordenadores da Frente pelo Estado Democrático de Direito, em 2023, no Rio de Janeiro (foto: arquivo pessoal).

Em contrapartida, o coordenador exemplifica que houveram evangélicos que também lutaram contra a ditadura. Ele coloca que como a questão da memória desse período não foi trabalhada, aspectos dessas ações missionárias se fortaleceram em igrejas evangélicas. “A gente chegou no momento em que essa política se tornou natural [ao ponto] de se falar, que bandido bom é bandido morto”.

“O movimento fundamentalista prega que só existe uma verdade. E essa verdade é a verdade deles [e] que a bíblia é totalmente inerrante. [Para os fundamentalistas] se no antigo testamento fala que a relação entre um homem e um outro homem é um pecado, [eles] se prendem a isso, [por exemplo]. O fundamentalismo traz essa literalidade”, diz Gabriel sobre situações e pessoas que interpretam os escritos da bíblia vinculadas a posturas e práticas que buscam diminuir, discriminar ou atacar outros grupos, o que, segundo ele, são práticas contrárias ao que o evangelho representa. 

A bancada da bíblia, grupo formado por parlamentares evangélicos, pastores, entre outros cristãos, têm em comum o fundamentalismo e o conservadorismo, segundo Gabriel. “Eles estão propondo política de acordo com o fundamentalismo deles”, comenta sobre as disputas políticas que envolvem a religião e interferem diretamente na vida da população. 

Como exemplo disso, Gabriel menciona o Projeto de Lei (PL) 1904/2024, que equipara o aborto, mesmo em caso de estupro, ao crime de homicídio simples, e tem articulações políticas da bancada da bíblia para ser aprovado. 

Segundo dados do Datafolha, 57% dos evangélicos que participaram da pesquisa disseram ser contra o PL que criminaliza o aborto. Ao todo 2.021 pessoas, a partir de 16 anos, fizeram parte do levantamento, que aconteceu em 115 municípios do Brasil, dos dias 17 a 19 de junho de 2024.

O coordenador da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito ressalta que as fake news também caracterizam o perfil de líderes evangélicos fundamentalistas que usam isso como estratégia política para direcionar o voto dos cristãos. 

“Para mim, [esses líderes] não têm nada mais ligado ao evangelho, se entregaram a um projeto capitalista, querem captar dinheiro e poder. E para [isso], eles precisam colocar os deles no Congresso Nacional, nas prefeituras, nas câmaras [e] assembleias estaduais”.

Gabriel Sales, coordenador da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito.

Ele menciona que as igrejas evangélicas que não são fundamentalistas, grandes e ricas têm limitações, e quem deve concretizar o alcance aos direitos da população de forma ampla é o Estado, e que por isso é preciso defender as políticas públicas. 

Confraternização do núcleo do DF da Frente de Evangélicos pelos Estado de Direito. (foto: arquivo pessoal).

“Se eu falo que eu sou seguidor de Cristo e eu quero que todo mundo tenha vida em abundância, eu tenho que lutar para que todo mundo tenha arroz, feijão e uma proteína no prato. Então, eu tenho que lutar por uma sociedade em que não haja mais insegurança alimentar. Isso perpassa pelas políticas públicas”, finaliza.