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Especialista ressalta como crise ambiental agrava desigualdades em territórios periféricos

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Dias de calor extremo, seguidos por períodos de forte chuva. Esse é um cenário cada vez mais comum ao se falar de mudanças climáticas. Entender as consequências dessa crise apenas como um desastre natural é um erro, é o que afirma Thaynah Gutierrez, especialista em transição energética, direitos humanos e integrante da Rede por Adaptação Antirracista, criada por organizações que se reuniram para pensar a agenda de adaptação climática com um viés antirracista centrado nas pessoas. 

Especialista ressalta como crise ambiental agrava desigualdades em territórios periféricos.
Thaynah Gutierrez cresceu no distrito de Ermelino Matarazzo e faz parte da Rede por Adaptação Antirracista. (foto: arquivo pessoal)

A desigualdade, o sistema capitalista – que se baseia no acúmulo de bens e lucros – e o neoextrativismo, modelo de desenvolvimento econômico que também promove a exploração da natureza e de seus recursos, são apontados por Thaynah como as principais causas da crise climática. 

“Todos esses desastres, seja por conta das grandes chuvas, das grandes ilhas de calor ou o grande inverno que algumas regiões vão passar, tudo isso decorre das ações humanas e com o passar do tempo vão modificando como o meio ambiente consegue equilibrar a temperatura do planeta”, aponta a especialista, que também faz parte da Rede por Adaptação Antirracista.

Enchente no bairro Jardim Pantanal que aconteceu em fevereiro de 2025. (foto: José Cícero / Agência Pública)

Thaynah explica que a crise ambiental tem elevado a temperatura do planeta, resultando em diversas alterações no meio ambiente, como a intensidade e frequência das chuvas, o aumento de enchentes e erosões em algumas regiões enquanto em outras há secas prolongadas, além do crescimento das queimadas, entre outros desastres.

Em 2023, uma nota técnica divulgada pelo governo federal, identificou 1.942 municípios mais suscetíveis a ocorrências de desastres associados a movimento de massa, alagamentos, enxurradas e inundações, o que representa 34,9% dos municípios brasileiros. Já uma pesquisa realizada pela Organização Meteorológica Mundial, a agência climática da ONU, aponta que 2024 foi o ano mais quente registrado, o primeiro ano a ultrapassar o limite de 1,5°C de aquecimento em relação ao período anterior à Segunda Revolução Industrial.

Embora Thaynah destaque as ações humanas como a origem da crise climática, a especialista coloca que a responsabilidade disso não é do cidadão comum. “Esse efeito, que é culpa dos países mais desenvolvidos, do desenvolvimento desenfreado, da emissão de gases de efeito estufa dos Estados Unidos e da Europa, acomete principalmente os países mais pobres. E dentro dos países mais pobres, as comunidades mais pobres, que não têm resiliência para lidar com esses efeitos”, analisa ao também citar multinacionais e bilionários como responsáveis pela emergência do clima.

Ela relembra sobre diversas tragédias que acontecem e são chamadas de desastres naturais, mas na realidade são crimes ambientais, como no rompimento das barragens de responsabilidade da empresa Vale, nas cidades de Mariana, em 2015, e em Brumadinho, no ano de 2019, ambas em Minas Gerais. Além do gradativo afundamento de Maceió, em Alagoas, causado pela Braskem, através das atividades de mineração.

Enchente no bairro Jardim Pantanal que aconteceu em fevereiro de 2025. (foto: José Cícero / Agência Pública)

“Essas empresas sabem o que estão fazendo. Para elas é mais lucrativo esperar o desastre acontecer e pagar a indenização do que reconstruir ou fazer uma obra decente para que isso não aconteça”, explica Thaynah.

Ao falar sobre prevenção, no Brasil, segundo a especialista, existe uma agenda pública mais voltada para lidar com as emergências do que com essa prevenção. Ela menciona que para o Estado, esperar que um crime ambiental aconteça é mais caro do que se houvesse políticas públicas para precaução.

“É muito custoso, porque qual é o valor de você perder tudo, inclusive o laço comunitário? Não tem como monetizar isso. Não tem como monetizar a vida de um ente querido. Então, quando chega nesse lugar já não tem reparação suficiente, o que você aceita é esmola comparada à destruição que aconteceu.”

Thaynah Gutierrez, integrante da Rede por Adaptação Antirracista.

Como exemplo, cita a enchente que aconteceu na primeira semana de fevereiro de 2025, no bairro Jardim Pantanal, localizado no distrito Jardim Helena, zona leste de São Paulo. “Estudos mostraram que remover as pessoas custaria quase 2 bilhões e construir o dique para prevenir e fazer as obras de contenção para garantir o escoamento da água custaria 1 bilhão”, comenta.

Territórios criminalizados

Thaynah cresceu na região de Ermelino Matarazzo, zona leste de São Paulo, e tem parentes que moram no Jardim Pantanal, e ressalta que “ninguém escolhe morar num lugar que alaga”, ao falar sobre os julgamentos que surgem quando as pessoas, mesmo com alertas, permanecem em áreas de risco. “As pessoas moram lá porque elas não têm alternativas para morar em regiões mais seguras, com melhor infraestrutura”, pontua.

“O Estado não reconhece essas pessoas como merecedoras de uma agenda de prevenção. Porque no fundo se criminaliza essas pessoas só pelo direito delas de morar. O fato de morarem no Jardim Pantanal e não no Jardim Europa, faz com que elas sejam pouca coisa para o Estado. Se elas morrerem por causa do alagamento, por bala perdida ou por fome, tanto faz na agenda do Estado.” 

Thaynah Gutierrez, integrante da Rede por Adaptação Antirracista.

“O povo preto sabe que tem algo errado”: pesquisadora explica impacto do racismo ambiental nas periferias

A especulação imobiliária, que também faz parte do contexto de moradia nas periferias, é um dos fatores citados por Thaynah pelo qual não são realizadas políticas públicas de prevenção de desastres nesses territórios. “Toda vez que a gente escuta sobre a remoção, acende esse alerta: será que é remoção porque é uma zona de risco ou é remoção para especulação imobiliária? E todas as situações de remoção que a gente acompanhou foi para especulação imobiliária”, analisa.

“O que acontece é que essa população é removida de uma zona de risco para outra, porque com R$50.000 de indenização você vai morar onde? Se dentro da própria periferia o apartamento novo está custando R$ 200.000, com R$ 50.000 você faz o quê?, menciona Thaynah sobre o contexto de indenização que está sendo proposto para os moradores do Jardim Pantanal e que se assemelha a outras situações de remoção.

Chuvas intensas causam enchentes que impactam o cotidiano da população do bairro Jardim Pantanal. (foto: José Cícero / Agência Pública)

Criar formas de garantia alimentar a partir de quintais produtivos, cultivar agroflorestas, garantir água limpa protegendo as nascentes que existem em partes das periferias e coletivizar esses acessos, são algumas possibilidades mencionadas por Thaynah para as pessoas que vivem em periferias conseguirem lidar com o cenário que está posto com autonomia, mas sem deixar de lado a importância de exigir políticas públicas. 

Fortalecer o senso de comunidade também é apontado por ela como essencial para a garantia da sobrevivência de quem vive em situação de vulnerabilidade. “O individualismo que as favelas verticais geram, em que você entra no seu apartamento e esquece o que está acontecendo ao seu redor, vai fazer com que a gente morra primeiro e rápido. A gente precisa da comunidade”, finaliza.

Realidade a céu aberto: um encontro entre a política e o cotidiano

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O cotidiano é permeado por inúmeros conflitos. Este texto não tem um final, ele é a retomada de um dos primeiros textos desta coluna, onde eu analisei de forma breve e superficial a figura de diferentes políticos como Jair Messias Bolsonaro e Milton Leite. Na mesma época produzi uma série de texto onde trazia bordões para dialogar com a necropolítica presente em nossa sociedade. 

“Atrás de um ditador, existe um grande amor”: as emoções e seu uso na política: Realidade a céu aberto: um encontro entre a política e o cotidiano

Todos estes textos tinham algo em comum, eram uma análise pessoal com respingos de vivências minhas, porém, também norteados pelos conhecimentos que eu adquiri com o passar dos anos como estudante e pesquisadora. Por isso, o início desse texto é afirmando que cotidianamente enfrentamos conflitos, se não pessoais e direcionados a nós, ao menos assistimos eles acontecerem, incluindo os conflitos políticos.

A realidade parece fugir ao nosso olhar, que apegado a ideia egóica que somente com “nosso poder” venceríamos, perdemos muito do cotidiano. Quando falamos de internet hoje, não se pode negar o poder de influência dela em nossas vidas, estou me comunicando com vocês por algum aparelho com acesso à internet, sem isso, este texto talvez jamais seria público.

Quando entendemos o nível a que a comunicação chegou, também se abrem outras questões: será que estamos nos conectando com quem queremos? Ou somente nos isolando numa bolha de afirmação? A realidade é insistente, ela não para, ela nunca parou.

Ao relembrarmos os dados das eleições de 2020, onde Guilherme Boulos e Bruno Covas foram para o 2º turno, Covas foi eleito pelo PSDB com 5.337.230 votos, 59.38% dos votos totais, contra 2.168.109 votos, 40.62% de Boulos, do PSOL. Quando prestamos atenção aos dados, tem algo muito importante: 2.769.179 pessoas escolheram se abster do voto, 30.81%. Nulos somaram 607.062 (9,76%) e brancos 273.216 (4,39%).

Assim, a última eleição para a prefeitura deveria ter uma disputa bem pontual, já que um número bem expressivo de pessoas escolheram não optar por nenhum dos candidatos na eleição anterior. Novamente retorno aos outros textos, as pessoas demonstravam decepção com a política. A eleição de 2020, também foi uma eleição extremamente atípica, com uma pandemia que matou milhões de pessoas ao redor do mundo acontecendo.

Seguindo este raciocínio, a eleição de 2024 reservava muitas lições, levando em consideração o poder que aplicativos como Tik Tok e Kwai tiveram durante a pandemia e o uso das mídias que já havia sendo necessário nos últimos anos, seria possível realizar uma eleição em 2024 sem belos closes? 

Para a surpresa de muitos, a resposta é não. Durante a disputa eleitoral, após somente um debate e algumas entrevistas, Pablo Marçal ganhou as mídias, candidato pelo PRTB, com falas extremas, irreverentes e exageradas conseguiu um crescimento expressivo. Uma tática muito utilizada por Bolsonaro, que em 2009, ganhou as telas da Rede TV com suas posturas polêmicas em Brasília.

Este texto foi escrito antes dos resultados da eleição, todavia decidi publicá-lo somente após a disputa, pois não queria lidar com conflitos, assumo que nos últimos anos venho observando a realidade, porém expondo menos as minhas observações já que enfrentei muitos embates antes e após a pandemia. Expor isso é ser honesta com todos os que me lêem e confiam na minha escrita.

A realidade aparece a céu aberto e não podemos desviar o olhar, para quem estamos falando?

“Uns desistem, outros ficam
Alguns desistem e ficam
Só espaço físico ocupam e indicam
A tragicomédia de quem não tem, da própria existência, as rédeas
Cérebros de férias
Vários vagabundos festejando o fim do mundo
Enquanto isso, o cidadão comum se sente ridículo
Não encontra paz no versículo
Batendo de porta em porta, debaixo do braço, um currículo
Família inteira num cubículo”

Black Alien / From Hell do Céu

Para quem não se recorda, PRTB é o partido fundado por Levy Fidelix, este mesmo que rendeu muitos memes em sua última participação nas eleições após a exposição de suas propostas. Um partido que recebia chacotas, considerado pequeno e com um certo acúmulo de eleições perdidas.

Este é o movimento real, não estou aqui falando do poder do Tik Tok, estou relembrando que a vida se movimenta, assim como a informação. É possível que quando este texto for ao ar, ele já não seja mais candidato devido às medidas judiciais, porém conseguiu o que queria, assim como o partido. 

ELE CONTINUOU SENDO CANDIDATO…

Contudo, em fevereiro de 2025, Marçal se tornou inelegível por oito anos, por abuso de poder político, poder econômico, uso indevido de meios de comunicação e captação ilícita de recursos. Uma vitória, mas posterior a todo o caminho que ele construiu para quem irá vir. 

Quero deixar claro que este não é um texto com uma crítica genérica, é um texto de reflexão. Quando falamos algo, falamos para alguém, então para quem? 

Essa não é somente uma questão de manipulação midiática, tem um movimento acontecendo, inclusive entre as redes que se formaram nestes anos e se mostram dispostas a trabalhar para combater esses discursos, saber responder é necessário. 

Destaco que morando na periferia e vendo o movimento acontecendo nos últimos anos, partidos como Republicanos e União Brasil têm ganhado força, algo que também aparece nas pesquisas recentes na corrida eleitoral pelo Brasil. 

Na última eleição, os candidatos a Prefeitura de SP foram: Altino Prazeres (PSTU), Bebeto Haddad (DC), Datena (PSDB), Guilherme Boulos (PSOL), Pablo Marçal (PRTB), Marina Helena (Novo), Ricardo Nunes (MDB), Ricardo Senese (UP) e Tábata Amaral (PSB). De quem mais ouvimos falar? 

Arruaça não faz campanha, mas se movimenta. 

Quem não se lembra do Enéas, eleito deputado federal por São Paulo em 2002? Filiado ao PRONA (Partido de Reedificação da Ordem Nacional) que ao se fundir com o PL (Partido Liberal) se tornou PR (Partido da República), o mesmo que em 2022 se tornou PL (Partido Liberal), pelo qual Jair Messias Bolsonaro foi eleito. 

Será que Enéas não falou para ninguém? Nada é acaso, nós nos tornamos inocentes ao não entender que a realidade acontece. Nós escolhemos nos enganar, nos esconder em vitórias do passado.

Tratar como insano um homem que realizou um movimento minucioso se unindo a grandes figuras famosas no mundo fitness, por exemplo, é ingenuidade. Marçal é a construção da urgência, seu exagero encanta quem adotou o conceito “todos que já estiveram lá roubam”. 

Além disso, temos um movimento massivo e publicitário em cima do livro “Café com Deus Pai” e do marketing sobre uma vida cristã sem renúncias, apenas com o acréscimo do devocional e da divulgação do livro. Porém, Junior Rostirola, pastor e escritor do livro, é um apoiador assumido de Jair Messias Bolsonaro e os influenciadores que vem divulgando uma “conversão” ao cristianismo, em parte, não parecem abandonar nenhuma prática, como divulgar jogos de apostas, por exemplo. 

Todavia, a publicidade de um cristianismo estético está vendendo e essa venda também está parecendo ter um futuro político. 

No meu olhar, isso não é sobre igrejas evangélicas. A maior parte das igrejas nunca teria recursos para produzir um livro desse porte, vivem de assistencialismo e seus líderes possuem trabalhos fixos para se manterem na religião, não o oposto. Estamos aqui falando de um movimento publicitário, político e estrutural, é sobre lucros.

Vivemos em uma realidade onde as pessoas estão exaustas, essa é a verdade, a realidade não nos afaga em nenhum momento, discursos que generalizam a política ganham força. Este não é um texto com receita, é um texto sem finalização. Desejo que possamos refletir para encontrarmos novos caminhos, pois com certeza métodos antigos já não funcionam mais… e eles sabem! 

Abram seus olhos, não se ataquem, é urgente que possamos cuidar dos nossos, sem memes, sem piadas sobre “pobre de direita”, também não temos muito valor partidário para a esquerda sem poder, essa é a realidade, sejamos nós a sermos justos com os nossos! Sejamos nós a falarmos com as dores dos nossos, sejamos nós a olharmos incansavelmente para a profundidade do que estamos lidando cotidianamente, sejamos nós, antes que tudo nos escape. 

“Doa a quem doer, eu não acredito em você
Não acredito no sucesso, não acredito na TV
Não acredito no que me vem impresso
Acredito em ordem e progresso quando o povo tem acesso ao ingresso”

Black Alien / Umaextrapunkprumextrafunk
Este é um conteúdo opinativo. O Desenrola e Não Me Enrola não modifica os conteúdos de seus colaboradores colunistas.




Coalizão de Mídias lança podcast que debate a comunicação nas periferias, favelas, quilombos e aldeias

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A Coalizão de Mídias Periféricas, Faveladas, Quilombolas e Indígenas lançou os dois  primeiros episódios do seu podcast Escuta Quem Faz, que está disponível no Youtube e no Spotify. A produção é quinzenal e o terceiro episódio será lançado no dia 24 de março.

No formato de entrevistas, a cada episódio o podcast receberá integrantes da Coalizão de Mídias para compartilhar suas experiências e aprofundar debates sobre sustentabilidade financeira, impacto social, inovação e os caminhos para um jornalismo brasileiro comprometido com a realidade dos povos.

Composta por onze organizações jornalísticas espalhadas pelo país, a Coalizão de Mídias Periféricas, Faveladas, Quilombolas e Indígenas é um conjunto de soluções tecnológicas ancestrais e jornalísticas para produzir e distribuir informação de interesse público em contextos sociais em que a internet é precária ou inexistente. A iniciativa trabalha por uma comunicação antimachista, antirracista, anticapacitista, antiLGBTQIA+fóbica e antietarista.

Atualmente, a Coalizão de Mídias conta com 11 iniciativas, de 6 estados brasileiros, são elas: Periferia em Movimento (SP), Desenrola e Não Me Enrola (SP), A Terceira Margem da Rua (SP), Frente de Mobilização da Maré (RJ), Fala Roça (RJ), Rede Tumulto (PE), Mojubá Mídias e Conexões (BA), TV Comunidades (MA), TV Quilombo (MA), Coletivo Jovem Tapajônico (PA) e Coletivo de Comunicação da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ). O episódio de estreia do Escuta Quem Faz  é uma conversa com Thais Siqueira (Desenrola e Não Me Enrola, de São Paulo-SP) e Yane Mendes (Rede Tumulto, de Recife-PE), que compõem a direção executiva da Coalizão de Mídias. Thais e Yane falam sobre a origem e ações promovidas pela Coalizão.

“Com o programa, busca-se alimentar e enriquecer os debates que já acontecem entre os coletivos de comunicação, expandindo para um espaço de mais visibilidade. Especialmente para quem financia projetos desta natureza.”

Thais Siqueira, cofundadora do Desenrola e Não Me Enrola

Thais Siqueira, cofundadora do Desenrola e Não Me Enrola e coordenadora da Coalizão de Mídias.
Thais Siqueira, cofundadora do Desenrola e Não Me Enrola e Coordenadora da Coalizão de Mídias.

Já no segundo episódio, o Escuta Quem Faz recebe iniciativas da rede e dos campos da filantropia e investimento social para entender estratégias de apoio para o campo da comunicação, em uma conversa com Janaína Barbosa do Fundo Baobá, que atua no terceiro setor há mais de 10 anos e é Gerente de Comunicação e Mobilização de Recursos.

Serviço

Podcast: Escuta Quem Faz
Periodicidade: Quinzenal
Disponível em: Spotify, Apple Podcasts, Google Podcasts e demais plataformas digitais 
Redes sociais:@coalizaodemidias

Tempestades

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Sei que é muito desafiador para pessoas que estão iniciando este ano com tantas tempestades, intempéries, desastres, perdas e alagamentos intermináveis, o que nos faz perder não só questões materiais, mas a crença em algo maior. Com isso vamos nos perdendo e nos afastamos das possibilidades de nos mantermos equilibrados e tranquilos. 

Só me vem à cabeça, a partir de situações tão dolorosas, a ideia de não desistir. Precisamos nos fortalecer, segurar nossas mãos e não nos abandonar. São nesses processos mais dolorosos que dia após dia vamos construindo tudo novamente. Devagar, um degrau a cada dia, passamos a nos distanciar daquela situação e criando uma nova forma de entender melhor a vida.

Não é nada fácil recomeçar, porém, o fardo é mais leve se recomeçar a vida podendo contar com forças extras, que vem de pessoas físicas, mas também daqueles que nos seguem, nos abraçam, seguram e levam no colo. 

Reconhecer que somos finitos, mas nunca estamos sozinhos e que não temos certeza absoluta de nada, mas ao acreditar que não estamos sozinhos, o fardo fica mais leve e a fé fica mais fortalecida se pudermos contar e confiar em seres tão fortes e poderosos que não nos abandonam.  

São como mães, pais, irmãos, amigos e companheiros fiéis que podemos contar, e até como estranhos que chegam para ajudar em situações como estas. 

Pessoas surgem, nos socorrem e nos acalentam em momentos difíceis e desafiadores. Para mim não é sorte, como muitos dizem: “que sorte a nossa termos pessoas que nos ajudam e nos socorrem de forma inesperada”. Como diz a música do Emicida no álbum Amarelo “nunca foi sorte, sempre foi Exu”. 

Estar seguro dentro e fora de nós, manter a tranquilidade após grandes perdas talvez seja uma das situações mais desafiadoras da vida. 

Podemos ter culpados nas desgraças que nos acomete, porém, não temos um culpado em específico para direcionar a raiva, a dor e as frustrações. Nossa impotência diante da vida pode nos levar a reflexões profundas sobre quem somos, o propósito e o papel  que desejamos exercer. Vai além. Já nos perguntamos como estamos ligados a tudo que acontece ao nosso redor e como tudo pode nos afetar? 

Construir uma forma de viver mais desprendida do outro e das coisas, nos estabilizar e assegurar, permitindo nascer uma luz interna em algo maior, em coisas que não compreendemos, mas sentimos, e disso tomar consciência em viver de maneira simples e amorosa. De nos relacionarmos conosco, com tudo e todas as pessoas que nos circulam é um aprendizado para a vida.

Cuidar do que temos, da vida que habita dentro e fora de nós com afeto e desapego é um dos aprendizados mais profundos e libertadores que vejo acontecer com pessoas, e me incluo nisso.

Somos mais felizes quando estamos plenos de amor e alegria, quando podemos caminhar na areia da praia, realizar uma caminhada numa trilha, encontrar a natureza e lá nos sentimos leves e tranquilos. Se fizermos isso sozinhos, veremos o quão pequenos somos, mas nos conectamos com forças desconhecidas e poderosas, mesmo que não enxergamos com olhos físicos. A energia muda, isso é uma das práticas que trago como exemplo, pois explica o que gostaria de apresentar aqui, uma relação nova com a qual nomearia de Orixás, entidades e ou ancestrais. 

Quando nos relacionamos com a natureza estamos nos conectando para além do material.

Entendo que tempestades passam e limpam tudo, ou destroem para reerguermos o novo e nos curvar diante da sabedoria da vida e sobre quem somos.

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Fórum em Defesa da Mulher mobiliza ações contra violência de gênero nas periferias

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Na segunda sexta-feira de fevereiro, dia 14, cerca de 30 mulheres se reuniram, no CDHEP (Centro de Direitos Humanos e Educação Popular), para planejar a 2ª Marcha Por Todas Nós, que acontece no próximo dia 8 de março, data que marca o Dia Internacional da Mulher. O ato faz parte da luta contra a violência de gênero e em defesa da vida de todas as mulheres e abrange regiões periféricas da zona sul de São Paulo.

Primeira plenária de organização da 2ª Marcha Por Todas Nós, em 2025 (foto: Viviane Lima)

Realizada pelo Fórum em Defesa da Mulher, a primeira edição da marcha reuniu, em 2024, cerca de 400 mulheres, e parte delas moradoras do Campo Limpo, Capão Redondo, Jardim Ângela e Jardim São Luís, que são as principais regiões que o Fórum visa impactar, segundo Luana Oliveira. Moradora do distrito do Jardim São Luís, Luana é educadora popular no CDHEP e uma das lideranças que atua na coordenação do Fórum em Defesa da Mulher.

Luana Oliveira, coordenadora do Fórum em Defesa da Mulher. (foto: Viviane Lima)

Para algumas delas, o ato de 2024 foi a primeira experiência em uma manifestação na rua, como no caso de Solange Gonçalves, 49, que mora no bairro Jardim Mitsutani, distrito de Campo Limpo e é professora de educação infantil.

“Foi um ato muito importante para mim [a primeira participação em 2024]. Quando eu estou naquele meio parece que eu tenho mais força e que não estou sozinha. Tem mais mulheres que estão ali lutando pela mesma causa que eu.” 

Solange Gonçalves, frequentadora do Fórum em Defesa da Mulher e professora de educação infantil.

Solange conta que frequenta o Fórum em Defesa da Mulher desde 2024, e que as reuniões mensais, também chamadas de plenárias, ajudaram a lidar com uma relação de violência doméstica. “Não [foi] agressão física, mas psicológica, vivi 20 anos numa situação assim. Hoje não vivo mais, eu me separei e esses encontros me ajudaram muito”, compartilha.

Concentração da primeira Marcha Por Todas Nós em frente Sociedade Santos Mártires. (foto: Maju Rodrigues)

“As mulheres nas periferias ainda sofrem violência calada. Muitas não têm coragem, têm vergonha de dizer. Mas quando você vê uma marcha de mulheres passando na rua dizendo que aquilo não é certo, e que ‘eu sofri violência, mas enfim me libertei, estou mais autônoma’, isso encoraja outras mulheres”, coloca Luana ao apontar que a marcha das mulheres pela periferia é capaz de alcançar pessoas que não estão inseridas na discussão política de gênero. 

“Talvez mulheres que nem têm a possibilidade de sair de casa, [a marcha] já passa em frente da casa [dela] e ela vê. [Por isso] eu acho de extrema importância”, afirma Solange. Ela coloca que através da marcha, mulheres que vivem em situações de violência, podem ter acesso à informações que são passadas durante o ato, por conversas e panfletagem.

Gênero, raça e território

Luana pontua sobre as pessoas que vivem em periferias estarem expostas a vulnerabilidades e urgências, por vezes diferentes das demandas existentes em outros territórios. Por isso, espaços de luta organizados por mulheres periféricas se fazem necessários para acolher e desenvolver soluções que contemplem as realidades dessas mulheres.

“O maior número de mulheres que sofrem feminicídio, violência física, violência obstétrica, estupro, assédio, abuso de todo tipo, são mulheres negras, mulheres que moram em periferias e porque a gente vai marchar na Avenida Paulista, né? Então, faz sentido que a gente traga para cá essa mobilização, para que essas mulheres além de se sentirem pertencentes, elas também conheçam movimentos que estão reivindicando vida melhor para todas”, diz Luana, uma das coordenadoras do Fórum em Defesa da Mulher.

Em 2022, cerca de 18,6 milhões de mulheres sofreram violência física, psicológica e/ou sexual, o que representa 50.962 casos diários, sendo 65% delas negras. Foi o que constatou a pesquisa Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil, publicada em 2023, realizada pelo Instituto Datafolha e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Também em 2022, 67% das mulheres assassinadas no Brasil eram negras, conforme o Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM).

Questões que envolvem mulheres negras são prioridade nas discussões do Fórum, como conta Janete Novais, moradora do bairro Jardim Bom Refúgio, no distrito do Campo Limpo, e professora de educação infantil. “Tem esse encaminhamento, porque a gente vê que as mulheres pretas sofrem mais violência do que as mulheres brancas”, diz.

Janete Novais é frequentadora do Fórum em Defesa da Mulher e participante da Marcha. (foto: arquivo pessoal)

Janete é uma mulher lésbica e comenta que o acolhimento do Fórum se estende para a comunidade LBGTQIAPN+. “A gente vê como todas as mulheres são bem acolhidas [e] bem-vindas”.

Articulação territorial

O Fórum em Defesa da Mulher foi criado em 2024, como uma ação diante do aumento de feminicídio nas regiões periféricas da zona sul, local de atuação da iniciativa. 

Durante as plenárias são realizadas atividades de acolhimento e discussão que atravessam os direitos e a dignidade das mulheres. Também ocorre a construção coletiva de documentos, como a carta de princípios e carta manifesto do grupo. Há momentos de dinâmicas culturais e trocas. Além disso, o espaço gera um fortalecimento da rede de trabalhadoras que atuam na garantia de direitos, em serviços de saúde, educação e assistência social.

Moradoras das periferias da zona sul de São Paulo marchando contra a violência de gênero. (foto: Maju Rodrigues)

A primeira marcha organizada pela iniciativa foi feita em homenagem à Márcia Soares, de 30 anos, mãe e moradora do Capão Redondo que foi assassinada, esquartejada e teve partes do corpo distribuídas em lixeiras, nos arredores do terminal de ônibus Capelinha, em janeiro do mesmo ano. 

“O cara se sentiu à vontade de partir esse corpo e jogar no lixo. A gente entendeu isso como um recado. Ele deixou uma mão dela para fora da lixeira com as unhas pintadas de dourado”, conta Luana.

A marcha de 2025 homenageia Marli Bonfim, advogada e liderança de luta da região, que reivindicava contra a violência de gênero e pelos direitos das mulheres, e faleceu em 2015. Ela criou ações sociais como a Casa Sofia, Centro Maria Mariá, Fórum Permanente de Mulheres, Conferência Regional de Mulheres, entre outras.

Marli Bonfim é a homenageada da Marcha Por Todas Nós de 2025. (foto: arquivo pessoal da Fabiana Ivo)

“[Marli] deixou um legado super importante de ser revisto, ouvido e compartilhado, porque [ela] faz parte de um processo histórico de mulheres lutadoras desse território, que desde a década de 70 vem lutando de diferentes formas pela redução de violência, seja [por causa da] fome, seja por conta da violência doméstica, pela mortalidade dos seus filhos, sempre foram mulheres que se organizaram”, como conta em plenária, Fabiana Ivo, atuante na área social há 20 anos.

A Sociedade Santos Mártires e o CDHEP são as organizações que fazem a gestão dos encontros e das atividades do Fórum em Defesa da Mulher, que acontecem sempre na segunda sexta-feira do mês, das 9h às 12h, com revezamento entre os dois locais que são as sedes da iniciativa. Luana afirma que todas as pessoas são bem-vindas nos encontros, inclusive os homens.

O mesmo convite se estende para a 2ª Marcha Por Todas Nós, que acontece no dia 8 de março, com concentração na Sociedade Santos Mártires, localizada na Rua Luís Baldinato, n° 9, no Jardim Ângela, com concentração às 8h, e a partir das 9h segue até a estação Capão Redondo.

“A gente quer uma vida digna todos os dias, sem sofrer violência, sem apanhar e poder existir” 

Luana Oliveira, educadora popular e uma das coordenadoras do Fórum em Defesa da Mulher.

“É um dia de luta e de conquistas, mas ainda tem muita coisa que precisamos conquistar: o salário, ainda tem lugares que a mulher faz a mesma coisa [que o homem e] ganha menos, o respeito. Na política, você vê que tem um monte de marmanjo lá e pouca mulher”, menciona Janete sobre o que o Dia Internacional da Mulher significa para ela, que é presença confirmada na marcha.

Carnaval na quebrada

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Na quebrada, o carnaval de rua é mais do que festa, é cultura. É uma expressão de resistência, alegria e identidade, prova viva de que a folia também pulsa forte longe do centro da cidade.

Registro do desfile de 2018, do Carnabronks, bloco da região de Taipas, zona noroeste de São Paulo. Foto: Juh na Várzea

Aqui em Taipas, região noroeste de São Paulo, temos um tradicional bloco de rua, o CARNABRONKS, nas pistas desde 2013. A galera se junta, ensaiam, pegam seus abadás, reúnem pessoas de todas as idades para um dia descontraído, feliz e de muita cultura. Desfilando pelas ruas da Cohab de Taipas, mostram que a quebrada tem sua própria batucada, seu próprio brilho e uma festa raiz. 

Registro do desfile de 2018, do Carnabronks, bloco da região de Taipas, zona noroeste de São Paulo. Foto: Juh na Várzea

Sem grandes patrocínios ou infraestrutura luxuosa, a folia acontece na base do corre coletivo. A comunidade se faz presente, as crianças se jogam na brincadeira fortalecendo a tradição. 

Ocupando o asfalto com muita dança, a quebrada se enche de cores e muitos sorrisos. 

Registro do desfile de 2018, do Carnabronks, bloco da região de Taipas, zona noroeste de São Paulo. Foto: Juh na Várzea

Mais do que um evento, o bloco de rua é um ato de pertencimento. É o povo mostrando que a festa também é nossa. 

Porque quando a comunidade está unida para celebrar, o que rola é isso, muita alegria. E no fim, o que fica é a memória de dias intensos onde a rua se torna um grande palco de felicidade e liberdade.

Este é um conteúdo opinativo. O Desenrola e Não Me Enrola não modifica os conteúdos de seus colaboradores colunistas. 





Blocos de rua para curtir o carnaval nas periferias

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01/03/25, sábado

Recicla Folia

Itinerário: Pça. Comendador Alberto de Sousa
Subprefeitura: Jaçanã/Tremembé
Concentração: 12h
Desfile: 13h
Dispersão: 17h

Bloco Granada da Brasilândia

Itinerário: Av. Humberto Gomes Maia
Subprefeitura: Freguesia
Concentração: 14h
Desfile: 15h
Dispersão: 18h

I Love Paraisópolis Skate

Itinerário: R. Rodolfo Lutze, 55 até 350
Subprefeitura: Campo Limpo
Estilo: Eletrônico, Internacional, MPB, Rock, Pop, Outro
Concentração: 11h
Desfile: 12h
Dispersão: 16h

Vai Quem Quer

Itinerário: R. Gilberto Freyre, R. Ver. José Gomes de Morais Neto
Subprefeitura: Capela do Socorro
Estilo: Ax
Concentração: 13h
Desfile: 14h
Dispersão: 18h

Grêmio Recreativo e Cultural do Imirim Brás Pereira Banda Show

Itinerário: R. João Roque, 93, R. Miguel Roque, R. Aida Gomes de Toleto, R. Carolina Roque, R. João Roque
Subprefeitura: Casa Verde
Concentração: 13h
Desfile: 14h
Dispersão: 18h

TREZE ROOTS

Itinerário: R. Kobe, entre R. Osaka e Av. das Cerejeiras
Subprefeitura: Vila Maria/Vila Guilherme
Concentração: 11h
Desfile: 12h
Dispersão: 15h

Forró de Todos

Itinerário: R. Kobe, R. Osaka ,Av. das Cerejeiras
Subprefeitura: Vila Maria/Vila Guilherme
Concentração: 13h
Desfile: 14h
Dispersão: 18h

Bloco Saúde é Carnaval

Itinerário: R. Criciúma, R. Carlos dos Santos, R. Ramiz, Galvão
Subprefeitura: Vila Maria/Vila Guilherme
Concentração: 14h
Desfile: 15h
Dispersão: 16h

PikaOPéNoSamba

Itinerário: R.Oscar Shaid, R. Constantino Maroqui
Subprefeitura: Cidade Ademar
Estilo: Pop, Axé, Pagode, Eletrônico, Sertanejo, Funk
Concentração: 13h
Desfile: 14h
Dispersão: 18h

Bloco dos Zattrevidos

Itinerário: R. Jenny Bonilha Costivelli, R. Monsenhor Manoel Gomes, R. Dr. Mário Gatt, R. Domingos Pereda, R.Centenário do Sul, R. Prof. José Lourenço, Pça. XXV de Novembro, R. Dr. Joe Arruda, R. Jenny Bonilha Costivelli
Subprefeitura: Pirituba/Jaraguá
Concentração: 14h
Desfile: 15h
Dispersão: 18h

Bloco Locomotiva Piritubana

Itinerário: R. Clodoaldo Goyanna, 18 a 44
Subprefeitura: Pirituba/Jaraguá
Concentração: 11h
Desfile: 12h
Dispersão: 17h

Bloco Vila Mara

Itinerário: R. Ascenso Fernandes, R. Carlo Bibiena, R. São Gonçalo do Rio das Pedras. R. Altos do Oiti, Av. Prof. Alípio de Barros
Subprefeitura: São Miguel Paulista
Perfil: LGBTQIA+
Estilo: Pop, Eletrônico, Funk
Concentração: 14h
Desfile: 15h
Dispersão: 18h

Bloco Navalha Agêncy

Itinerário: R. Ascenso Fernandes, R. Carlo Bibiena, R. São Gonçalo do Rio das Pedras. R. Altos do Oiti, Av. Prof. Alípio de Barros
Subprefeitura: São Miguel Paulista
Concentração: 14h
Desfile: 15h
Dispersão: 18h

Cordão da Padilha

Itinerário: R. Francisco Teles Dourado, R. Dr. Gentil Leite Martins, R. Abatira, R. das Flechas
Subprefeitura: Cidade Ademar
Concentração: 15h
Desfile: 16h
Dispersão: 18h

Bloco do Beco

Itinerário: R. Salgueiro do Campo, R. João do Espírito Santo, R. Antonio da Cruz Messias, R. Aldeia de Joanes, R. Salgueiro do Campo
Subprefeitura: M’Boi Mirim
Concentração: 13h
Desfile: 14h
Dispersão: 18h

Carnacol Folia

Itinerário: R. Jackson Pollock, R. N. Sra. Aparecida, R. Carlos Rasquinho, R. Miguel Rocumback
Subprefeitura: Parelheiros
Concentração: 14h
Desfile: 15h
Dispersão: 18h

02/03/25, domingo

Bloco Toca Raulzito

Itinerário: R. Gustavo Geley, R. Coronel Albert de Rochas D’aiglum, R. Estevão Dias Vergara, Av. Luiza Americano, R. Gustavo Geley
Subprefeitura: Itaquera
Perfil: Tradicional
Estilo: Rock, MPB
Concentração: 13h
Desfile: 14h
Dispersão: 18h

Bloco do Litraço

Itinerário: R. Dr. Octacílio de Carvalho Lopes, R. Prof. Antônio de Franco, R. Antônio de Sousa Lobo, R. Caetano Dias Pereira, R. Dr. Octacílio de Carvalho Lopes
Subprefeitura: M’Boi Mirim
Perfil: Tradicional, LGBTQIA+
Estilo: Samba, Rock, Outro, Pop
Concentração: 13h
Desfile: 14h
Dispersão: 18h

03/03/25, segunda

Bloco das Torcidas

Itinerário: Av. dos Metalúrgicos x R. Iguarapé Água Azul até R. Igarapé da Missão
Subprefeitura: Cidade Tiradentes
Concentração: 14h
Desfile: 15h
Dispersão: 17h

É Di Santo 

Local: Casa de Cultura M’Boi Mirim – Av. Inácio Dias da Silva, s/nº 
Subprefeitura: M’Boi Mirim
Concentração: 12h

04/03/25, terça

Acadêmicos São Geovani

Itinerário: R. Manoel Pedro de Almeida
Subprefeitura: Campo Limpo
Concentração: 14h
Desfile: 15h
Dispersão: 18h

Bloco do Ve

Itinerário: R. Brás Albanese, Pça Raul Borges da Rocha
Subprefeitura: Campo Limpo
Concentração: 15h
Desfile: 16h
Dispersão: 18h

Bloco Grajafolia

Itinerário: Av. do Arvoreiro
Subprefeitura: Capela do Socorro
Estilo: Funk, Pop
Concentração: 13h
Desfile: 14h
Dispersão: 18h

PikaOPéNoSamba

Itinerário: R. Honorinda Josefa da Silva, 152
Subprefeitura: Cidade Ademar
Estilo: Pop, Axé, Pagode, Eletrônico, Sertanejo, Funk
Concentração: 13h
Desfile: 14h
Dispersão: 18h

Afoxé Omí Aiye

Itinerário: Pça.Benedito Ramos Rodrigues, Av. Milene Elias
Subprefeitura: Ermelino Matarazzo
Concentração: 13h
Desfile: 14h
Dispersão: 18h

Perus Folia

Local: Av. Dr. Silvio de Campos esquina com a Rua Mogeiro 
Concentração:  16h

Carnaval de Rua de São Miguel Paulista

Programação: 
12h Marchinhas de Carnaval e Brinquedos para Crianças
13h Bloco babalotim
15h Bloco do Baião
17h União do Morró
18h Encerramento
Local: Av. Dep. Dr José Aristodemo Pinotti , 100 

Coletivo Assombrosos do Ó

Local: Rua Dr. Artur Fajardo, 405 – Freguesia do Ó
Concentração: 13h

08/03/2025

Bloco Atabatimba

Abertura com Batukedum
Local: Quadra 67 – Avenida Visconde do Rio Grande, 214
Subprefeitura: M’Boi Mirim
Concentração: 12h

Fonte: SPTuris, programação sujeita a alterações sem aviso prévio. Confira as redes sociais de cada bloco.

Cordão Sucatas Ambulantes mantém viva a tradição do samba de bumbo em Itaquera

A partir do samba de bumbo e dos bonecões do carnaval de rua, em 2007, foi criado o Cordão Sucatas Ambulantes. As atividades do grupo buscam promover o acesso à cultura popular, no Conjunto Habitacional José Bonifácio, conhecido também como COHAB II, localizado no bairro com o mesmo nome, no distrito de Itaquera, zona leste de São Paulo. 

“A gente não faz carnaval por entretenimento, a gente faz carnaval por movimento, fundamento [e] por militância”, conta Jefferson Cristino, 38, arte-educador, professor da rede pública municipal, idealizador da iniciativa e morador da região. “[A ideia é] utilizar essa arte, a festa, a brincadeira na rua para trazer a reflexão da gente ocupar a rua, não ter a rua só como um lugar de violência e se fechar dentro dos apartamentos, a reflexão [sobre] comunidade.”

Cordão Sucatas Ambulantes mantém viva a tradição do samba de bumbo em Itaquera
O Cordão Sucatas Ambulantes tem o objetivo de desenvolver na COHAB II possibilidades de acesso à arte e à cultura. (foto: arquivo pessoal)

Através de uma oficina realizada, em 2007, pelo grupo “Treco, Saladas e Bonecos”, na Casa de Cultura Raul Seixas, Jefferson comenta que teve os primeiros contatos com a pesquisa e as técnicas de construção de bonecos, que na ocasião eram feitos de sucata. 

Com o fim do projeto, ele começa a reunir pessoas com os mesmos interesses referente à cultura popular e cria o Sucatas Ambulantes, que atualmente tem 20 integrantes, sendo a maioria moradores de Itaquera. Desde 2018, a sede do cordão fica em uma ocupação dentro da COHAB II, que atualmente é compartilhada com o grupo de capoeira Guerreiros de Fé.

Samba de bumbo

Para combater a ideia de que no estado de São Paulo não existiam culturas tradicionais, através de pesquisas, os integrantes do Sucatas Ambulantes aderem ao samba de bumbo como ritmo e dança condutora nos desfiles do bloco. Jefferson conta que o grupo é reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) como uma das comunidades contemporâneas detentora da tradição do samba de bumbo. 

Boa vontade e respeito são as únicas coisas exigidas para participar do desfile do bloco. (foto: arquivo pessoal)

O arte-educador contextualiza que o samba de bumbo é uma manifestação popular tradicional do Estado de São Paulo, de matriz africana e banto. “As comunidades tradicionais e detentoras dessa manifestação são quilombos de resistência, [essa] é uma manifestação do interior do estado, que está ligada ao ciclo do café”. O samba de bumbo é reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial do Estado de São Paulo, desde 2015, e como Patrimônio Cultural do Brasil, a partir de 2024.

Jefferson explica que a diferença do Samba Paulista, Carioca e do Samba Baiano é o grave. No Samba de Bumbo, a batida do bumbo, enquanto instrumento, é o centro da roda, assim como nos tambores de candomblé e religiosos. Ele comenta que as letras das músicas, que são chamadas de pontos, geralmente são feitas em quadras, são curtas, com pergunta e resposta, e muitas vezes de improviso.

As crianças também são acolhidas e bem-vindas no Cordão. (foto: arquivo pessoal)

Ele também menciona que a cidade de Pirapora do Bom Jesus era considerada o reduto da fé Paulista antes da Basílica de Aparecida do Norte existir, o que gerava a reunião de várias manifestações culturais no local. “As pessoas [pretas que] eram escravizadas no ciclo do café tinham a cultura [do samba de bumbo] que se desenvolveu no estado de São Paulo”, menciona Jefferson sobre o surgimento da tradição.

Além do entretenimento

O arte-educador pontua que as movimentações e experiências que existem para colocar um bloco de carnaval na rua geram diversos aprendizados. “[Vamos] para a rua com o objetivo de que as pessoas tenham um aprendizado. Que elas possam se aquilombar [e] se aproximar da espiritualidade, da ancestralidade delas”, diz Jefferson.

“O fim [de estar na rua com o cordão] não é um entretenimento. Estar na rua batucando com o samba de bumbo é uma questão de fé. Para nós a rua é um espaço sagrado.”

Jefferson Cristino, arte-educador idealizador do Cordão Sucatas Ambulantes

A felicidade no Sucatas Ambulantes é posta como uma ferramenta que fortalece e atrai as pessoas para outras questões. “O sistema quer a gente depressivo. O sistema lucra com a nossa infelicidade. Então fazer carnaval na rua nesse formato, sem precisar sair da quebrada para se divertir, ocupando um espaço que deveria ser nosso, um espaço mágico, encantado, que é a rua, isso é um ato de resistência”. 

Jefferson ressalta que muitos desses fundamentos foram construídos com os direcionamentos dos saberes e das movimentações de Soraia Aparecida, matriarca e mestra do Sucatas Ambulantes, além de fundadora da Cia Lelê de Oyá que, em 2021, faleceu em uma segunda-feira de carnaval. 

Jefferson Cristino e Soraia Aparecida em apresentação do Cordão Sucatas Ambulantes. (foto: arquivo pessoal)

Financeiramente o grupo se mantém principalmente por meio de apresentações e editais. Financiamento coletivo e mutirões também são feitos quando necessário. 

A participação dos moradores acontece de forma espontânea, pois o grupo não faz ensaios abertos, as pessoas aprendem ao participar das rodas de samba e das apresentações, assim como também acontece com os integrantes. O desfile do Cordão Sucatas Ambulantes, abre o carnaval na região da COHAB II, acontece à noite e conta com o apoio e participação dos moradores. 

Prevenção de enchentes não rende tantas curtidas quanto os “alertas” na mídia

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A noite de 06 de fevereiro de 2025 ainda não acabou para os moradores das ruas Rafael Portante e Vitoriano de Oliveira, às margens do Córrego do Engenho, entre o Jardim Rosana e o Jardim Mitsutani, na zona sul de São Paulo.

O rompimento de uma manilha (tubulação) da SABESP na Rua Rafael Portante foi uma das causas da enchente que destruiu lares de moradores dessa via na primeira semana de fevereiro. A força das águas inundou, inclusive, algumas residências na rua paralela (a de trás): Rua Guerra dos Mascates. 

Outro fator também determinante para alagar a Rua Vitoriano de Oliveira, do outro lado do Córrego do Engenho, foi a execução de obras da Prefeitura de São Paulo (PMSP).

Segundo a Secretaria de Infraestrutura Urbana e Obras foram realizadas melhorias na rede de drenagem do Córrego do Engenho –  216 metros, em suas margens estão as ruas Praias de Costa Verde e Rua José de Maistre.

Embora tenha garantido um direito fundamental à parte da população local, a intervenção do poder público (entregue em maio de 2023), visou, de modo especial, à Av. Alto de Pirajussara, importante via de interligação entre bairros da região (inclusive com dois municípios vizinhos, Taboão da Serra e Embu das Artes), que alagava, “atrapalhando o trânsito”.

Em outras palavras, a prioridade era o trânsito, não as pessoas. “Tempo é dinheiro”, dizem, não é? 

Ser humano, por sua vez, só é número e voto em época de eleição. 

Por isso, as vidas dos que moram nas ruas afetadas estacionaram, ou pior, “desceram ladeira abaixo” (como se diz popularmente).

O montante de R$ 8,4 milhões investidos – segundo o site oficial da prefeitura de São Paulo – não apenas deixou de contemplar todos os moradores das ruas em que houve obras, prejudicou também aqueles que habitam as ruas Vitoriano de Oliveira e Rafael Portante.

A prioridade era o trânsito, não as pessoas.

Em contraste com o trecho canalizado, a prefeitura deixa considerável extensão do Córrego do Engenho, no trecho margeado pelas ruas Praias de Costa Verde e Rua José de Maistre, bem afastada aos olhos de quem transita pela Av. Alto de Pirajussara – sem nenhum tipo de intervenção.

Para além da solidariedade

Mais uma vez quem está resolvendo a questão é a população local. De um lado estão os que não residem nos pontos atingidos pelas águas poluídas do Engenho, auxiliando em campanhas; do outro, os que foram afetados, lutando por seus direitos. 

Enquanto a sociedade civil entregava marmitas na noite de domingo (09/02) – “Graças a Deus! Não havia como cozinhar, né?”, agradeceu uma moradora –, prosseguia o mutirão para ajudar na limpeza de casas, auxiliar vizinhos, bem como fazer articulação para cobrar os responsáveis.

O restabelecimento de água, na Rua Vitoriano de Oliveira, por exemplo, só ocorreu uma semana depois do transbordamento do córrego em razão da pressão popular junto à Subprefeitura de Campo Limpo e à SABESP. 

Apesar do engajamento dos moradores afetados pelas cheias, contudo, a prefeitura se limitou a fornecer apenas mil reais (em parcela única), por meio do Cartão Emergencial.  “Essa quantia uma vez vai resolver o quê?’, questiona uma das moradoras.

A Defesa Civil, apesar dos protestos populares, vistoriou as residências apenas pelo lado de fora. “Quer dizer, nem se deram o trabalho de ver as condições da casa”, denuncia outra moradora. “Como posso saber se está segura?”

A manilha que se rompeu, debaixo de uma casa da Rua Rafael Portante, virou jogo de empurra-empurra entre PMSP e SABESP: ambos se eximem da responsabilidade. A família dessa residência, por exemplo, não poderá retornar ao seu lar enquanto as providências necessárias não forem tomadas.

A atuação do poder público tem de ser urgente: tanto SABESP quanto PMSP precisam cuidar dos munícipes afetados. 

Neste primeiro momento, a SABESP tem de realizar os reparos na tubulação e promover os reparos necessários nas residências afetadas; também, ressarcir as perdas materiais: TV, geladeira, fogão, cama, dentre outros. 

Em caráter de urgência, a prefeitura deve limpar o córrego. Mas apenas como paliativo. Apenas para evitar enchentes enquanto não concluir – o essencial – a canalização do Córrego do Engenho, em toda a sua extensão (por que não terminou, Ricardo Nunes?)

Disparar alertas de chuvas –  para encerrar – é uma estratégia interessantíssima! Sobretudo, para a publicidade da gestão Nunes, como um governo que atua nesse segmento. Sua eficácia, porém, “vai até a página dois” em alguns casos, como este do Jardim Rosana (ou do Pantanal, na zona leste da cidade).

Acionar o modo trabalho para promover a prevenção de enchentes não rende curtidas, nem tampouco likes, tanto quanto a lacração dos “alertas” na mídia. 

Arregaçar as mangas para garantir o mínimo de dignidade aos moradores do Jd. Rosana: é para isso que Ricardo Nunes, também, foi reeleito!

Em tempo: Tarcísio de Freitas, governador do estado de São Paulo, precisa participar desse processo, garantindo que a SABESP cumpra seu papel. Só quem não pode perder mais (até porque não tem o que perder) são as pessoas prejudicadas pela omissão pública.

Fábio Roberto Ferreira Barreto é professor da rede pública de ensino e mestre em literatura pela USP.

Este é um conteúdo opinativo. O Desenrola e Não Me Enrola não modifica os conteúdos de seus colaboradores colunistas.





Articuladores promovem turismo de resistência contra especulação imobiliária na zona noroeste de SP

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A partir do Museu Territorial Tekoa Jopoí, que abrange as áreas do Jaraguá, Perus e Anhanguera como partes de seu acervo, na zona noroeste de São Paulo, o movimento cultural dessas regiões tem construído uma nova perspectiva prática do que é associado aos museus tradicionais. “[O museu e outras iniciativas] são instrumentos para diminuir o impacto [como da especulação imobiliária]. É difícil porque a gente não tem dinheiro para enfrentar a especulação, mas [temos] ideias criativas”, coloca Cleiton Ferreira, conhecido como Fofão, um dos fundadores do museu e do Quilombaque Perus. 

Você Repórter da Periferia – Comunidade Quilombaque

Articuladores promovem turismo de resistência contra especulação imobiliária na zona noroeste de SP
Inauguração da Agência Queixada em 2022. (foto: arquivo pessoal)

O Museu Territorial Tekoa Jopoí, fundado em 2017, é uma iniciativa que nasceu na Comunidade Cultural Quilombaque, espaço cultural localizado em Perus, mas que desde 2022 tem uma sede e estrutura própria que é gerenciada pela Agência Queixada, onde também acontecem cursos de formação. O Museu Territorial é o território em si e as trilhas, que compõem esse acervo, são organizadas e realizadas pela agência.

“[Estamos] discutindo um turismo de base comunitária e trazemos a nomenclatura de Turismo de Resistência para mostrar que estamos em luta e que através do turismo a gente consegue se organizar”.

Fofão, co-fundador do Museu Territorial Tekoa Jopoí e do Quilombaque Perus.

O co-fundador conta que a ideia da iniciativa é atuar na valorização do território através de uma economia sustentável, que preza pelo ambiental e social. “Mas na perspectiva geral [com] uma economia [que colabore] no processo de preservação dessa região mantendo a paisagem, porque daqui a alguns anos vai mudar tudo. Nós perdemos o empreendimento [do] cinema que derrubaram para fazer estacionamento [pela] especulação de área”, conta Fofão ao exemplificar esse cenário de especulação com o fim do primeiro cinema do bairro de Perus.

Cleiton Ferreira, conhecido como Fofão, co-fundador do museu e do Quilombaque Perus (foto: Viviane Lima)

Outro exemplo que Fofão menciona é o condomínio Sete Sóis, que está sendo feito na Avenida Raimundo Pereira de Magalhães, pela construtora MRV. “Os caras derrubaram [a mata de] uma área grande que faz conectividade ecológica com o Parque Estadual do Jaraguá, isso já causou danos, porque ali era [um] eixo dos animais e da biodiversidade”, menciona.

Além das questões ambientais, Fofão aponta que esse processo causa a gentrificação, com mudanças no território, que entre outras coisas, também envolve alteração no custo de vida e afeta diretamente a população local. “Vai inaugurar um McDonald’s aqui e isso vai quebrar muita gente que vende lanche e se mantém disso. Quem não tem dinheiro vai ter que sair fora, ir mais para o fundão, [pois] o aluguel e o mercado ficam mais caros”. 

A falta de infraestrutura para receber as construções e mais moradores na região é apontada por ele como mais um problema. “A demanda de mobilidade não é discutida, está travando tudo. Imagine com mais 20 mil pessoas que vão vir”, avalia.

As trilhas, que compõem o Museu Territorial Tekoa Jopoí e acontecem desde 2014, constituem o museu a partir da perspectiva de que os espaços culturais e históricos de Perus, Jaraguá e Anhanguera são as próprias obras de arte. Ao todo são sete trilhas: Jaraguá é Guarani; Ferrovia Perus – Pirapora; Memória Queixada; Agroecológica, Campo e Cidade MST; Ditadura Nunca Mais; Reapropriação e Ressignificação de Espaços Públicos e a PerusFeria Graffite.

Trilha Jaraguá é Guarani realizada com o Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos (Cieja) Perus. (foto: arquivo pessoal)

A Agência Queixada, que tem como foco o desenvolvimento eco cultural turístico local, fica no bairro Recanto dos Humildes, no distrito de Anhanguera e foi inaugurada em 2020, mas o conceito do museu territorial está sendo estruturado desde 2011 e tem como fundamento o TICP – Território de Interesse da Cultura e da Paisagem.

Território de Interesse da Cultura e da Paisagem

Fofão explica que o TICP é uma proposta para pensar a gestão da cidade de forma menos exploratória, mais humanizada e compartilhada. Para mostrar ao poder público a viabilidade de implementar políticas públicas através de investimentos em projetos que são criados e geridos de modo integrado pela comunidade, movimentos sociais, culturais e de educação.  

“O museu é um contexto de uma ideia que a gente tem na Quilombaque de pensar a descentralização de orçamento e um processo de desenvolvimento sustentável local, por isso que a gente vem trabalhando na perspectiva de uma museologia, mas com a metodologia de um instrumento que a gente criou que é o TICP”, diz.

O Território de Interesse da Cultura e da Paisagem é um instrumento construído pelos moradores, junto com o professor Euler Sandeville Jr, da FAU – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e de Design da USP, um coletivo de professores do Projeto Coruja, e integrantes da Quilombaque. “[Abrimos] a Universidade Livre, onde as pessoas vinham fazer um estudo do território, [assim] a gente fez um mapeamento das potencialidades da região”, conta Fofão sobre o surgimento do TICP, e a partir disso a criação do museu.

Em 2014, o TICP foi apresentado e aprovado no Plano Diretor da cidade de São Paulo, porém desde então nenhuma providência foi tomada pelo poder público. “É uma lei que está no plano diretor da cidade, mas ninguém executa, porque [se fosse executada] a gente conseguia fazer uma gestão compartilhada entre sociedade civil e poder público”, menciona o articulador.

Foto tirada durante uma expedição na Fábrica de Cimento. (foto: Angélica Múller)

Mesmo não sendo executada pelo poder público, através da organização integrada entre moradores, educadores, movimentos culturais e sociais, a viabilidade do plano é evidenciada nas ações como o Museu e da sensibilização da comunidade. Fofão ressalta que essas iniciativas são continuidades de lutas que começaram com os operários da fábrica de Cimento Portland Perus, que em 1962, ficaram conhecidos como os Queixadas, após travarem uma greve de sete anos, em plena ditadura militar, por direitos trabalhistas. 

Articulação em rede

Thalita Duarte, atriz, produtora cultural e integrante do Grupo Pandora de Teatro, conta que a Ocupação Artística Canhoba, espaço cultural independente administrado pelo Grupo Pandora de Teatro desde 2016, é um dos equipamentos culturais mapeados pelo TICP. O local integra a trilha “Reapropriação e Ressignificação de Espaços Públicos” do museu. 

Thalita Duarte, atriz, produtora cultural e integrante do Grupo Pandora de Teatro, que faz a gestão da Ocupação Artística Canhoba.  (foto: Viviane Lima)

“O pessoal faz um processo de visitação no bairro e aqui é um dos pontos, uma das obras do nosso museu. Quando as pessoas vêm aqui a gente conta a história do grupo Pandora, a história da memória [do bairro], a nossa relação com o território e também mostra como foi o processo de ocupação desse espaço”, conta a produtora. 

A Ocupação Artística Canhoba, assim como a Casa de Hip Hop Perus, que também faz parte da mesma trilha, eram espaços abandonados pelo poder público que, em 2015, viraram ocupações culturais, segundo Thalita. Ela menciona que a reforma do local contou com mais de 150 artistas e moradores do bairro. Desde então o espaço recebe atividades culturais, principalmente apresentações teatrais.

“O museu tem a capacidade de transformar a informação em experiência. Então, uma pessoa que quiser conhecer esse território, ela pode entrar lá no Google e [pesquisar], mas nada vai substituir o fato dela estar aqui presente no território, conhecendo, caminhando, sentindo o sol, olhando aquela vista bonita [da praça]”

Thalita Duarte, atriz, produtora cultural e integrante do Grupo Pandora de Teatro.

Perspectiva semelhante é apontada por Silvana Bezerra da Silva. Ela é militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e moradora da Comuna da Terra Irmã Alberta, que também faz parte do museu e está na trilha “Agroecológica, Campo e Cidade MST”.

“Fazer esse diálogo face a face é muito importante porque as pessoas têm outras sensibilidades, para além do que conseguem ouvir, ver ou ler. É sentir o cheiro da terra, comer a nossa comida, sentir a nossa verdade. Todas sensações que ultrapassam a questão da alienação de informações, imagens e textos descontextualizados sobre as nossas ações. As pessoas saem daqui com outro pensamento”, comenta Silvana sobre as trocas que acontecem nas trilhas que compõem o museu territorial.

Trilha Campo e Cidade no Assentamento Comuna da Terra Irmã Alberta. (foto: arquivo pessoal)

Localizada no bairro Chácara Maria Trindade, no distrito de Perus, em São Paulo, desde 2001, a comuna ocupa um território que na época, conforme Silvana, corria o risco de virar um lixão e que atualmente pertence à Sabesp. “Sempre corremos riscos de despejo, mas agora é mais efetivamente por conta do processo de privatização [da Sabesp], encabeçado pelo atual governador do estado, Tarcísio de Freitas”, relata.

Silvana afirma que a articulação em rede fomentada pelo Museu Territorial Tekoa Jopoí fortalece todos os movimentos envolvidos. “O museu é a nossa referência de articulação entre o campo e a cidade”.

“Tudo é luta aqui. Luta indígena, do movimento negro, luta sindical, da classe trabalhadora, a luta contra a ditadura, pela reforma agrária. O que a gente fez foi juntar os movimentos. A gente faz a narrativa porque não tem contexto histórico de nós narrando isso. [Fizemos] o museu nessa perspectiva, quem narra é o pessoal que fez a resistência e que faz até hoje”, finaliza Fofão.