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Produção de lives vira campo de trabalho de coletivos culturais da quebrada

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Demanda por pessoas qualificadas para produção de transmissões ao vivo em plataformas digitais aumenta nas periferias de São Paulo, devido ao fato de os coletivos culturais da cidade migrarem suas atividades artísticas para o ambiente online.

Registro tirado durante as oficinas (foto Acervo movimento cultural Ermelino Matarazzo)

Em Ermelino Matarazzo, território periférico da zona leste de São Paulo, a ocupação Cultural Mateus Santos, um espaço cultural independente organizado pelo Movimento Cultural Ermelino Matarazzo, reúne em uma única rede mais de cinquenta coletivos culturais.

Desde o começo da pandemia de coronavírus na capital, eles têm feito uma série de ações para aproximar os moradores da região do entretenimento produzido pelos artistas independentes e grupos artísticos locais. A internet se tornou uma das principais ferramentas a ser decifrada para gerar essa interação.

Uma das primeiras ações realizadas pela rede de coletivos foi a campanha “Internet Solidária”, iniciativa que incentivou os moradores de Ermelino Matarazzo a criarem uma rede de wifi comunitário, colocando todas as senhas e o nome da rede como ‘fiquememcasa’, como uma tentativa de diminuir os efeitos do isolamento social, oferecendo acesso para vizinhos quem não tem condições de contratar um plano de internet.

“Logo quando começou a pandemia eu tive esse start que tudo ia ir pro virtual, aí eu comecei a fazer umas lives por aqui, ninguém aqui na ocupa é formado em audiovisual, ai a gente começou bem precário, com celular, tentando conectar o celular na mesa de som”, conta Gil Douglas, 36, morador do Ermelino Matarazzo e articulador cultural no Movimento Cultural Ermelino Matarazzo.

É do articulador cultural a iniciativa de pôr a mão na massa e aprender a mesclar uma série de conhecimentos e vivências para aprender na prática a produção de lives, iniciativa ousada que deu origem a criação de um estúdio de transmissões ao vivo dentro da Ocupação Cultural Ermelino Matarazzo, espaço usado para apoiar artistas independentes e grupos artísticos locais a divulgar o seu trabalho nas redes sociais.

“A gente montou um estúdio para lives aqui na ocupa, a princípio com equipamentos emprestados”, explica Douglas, afirmando que o fato dos artistas e coletivos atuarem no formato de rede com cerca de 50 coletivos facilitou o processo de pegar emprestado os equipamentos necessários que dariam vida ao estúdio.

“Pega luz de um, câmera de outro, tripé de um, e aí a gente montou um estúdio live”, completa o agente cultural. Segundo ele, foram necessários três meses para adquirir um domínio das ferramentas digitais e dos equipamentos mais técnicos.

“Com três meses a gente já estava dominando um pouco essas ilhas de corte, mandando áudio legal e trampando com três câmeras”, descreve Douglas. Ele aponta que já foram realizadas 180 transmissões ao vivo dentro do estúdio que começou de maneira improvisada durante o primeiro ano de pandemia no Brasil, mas que hoje já oferece formações para outros moradores da região de Ermelino Matarazzo aprender a produzir lives.

“Esse ano muito por conta das dúvidas vários coletivos do bairro mandaram mensagem pra gente perguntando: que câmera que eu compro, qual você me indica, como que vocês captam o áudio?”, relata o agente cultural, que é hoje desempenha uma série de funções como produtor de streaming.

Após receber uma série de perguntas, a ocupação resolveu fazer uma semana de formação chamada ‘Semana do Zero Live’, voltada para moradores que são integrantes de outros coletivos culturais, que visam se aprofundar no processo de produção de uma live.

Esse treinamento incluiu o aprendizado sobre formatos de lives, manuseio de ilhas de edição, utilização de múltiplas câmeras, técnicas de som, cabeamento de equipamentos e manuseio de software de transmissão ao vivo.

Registro tirado durante as oficinas (foto Acervo movimento cultural Ermelino Matarazzo)

A integrante do coletivo literário Sarau dos Mesquiteiros Melissa da Silva, 21, é uma das moradoras da Ermelino Matarazzo que aproveitou a formação para melhorar a qualidade das lives durantes as apresentações do Sarau. “Foi muito importante essas oficinas, porque eu tinha muita dificuldade em saber como fazer lives com qualidade, é muita informação e equipamentos necessários e que não se acha fácil, então quando eles fizeram essas oficinas de como fazer uma live do zero foi de extrema importância, agora eu tenho o conhecimento necessário pra fazer uma boa live”, conta.

Melissa diz que o coletivo no qual ela atua precisou se atualizar para sobreviver no universo digital em meio a esse momento da pandemia, onde não há mais encontros presenciais. “No começo foi um desafio, pois estávamos acostumados com a apresentação em palco, então tivemos que aprender a lidar com as lives, fazendo apresentações mais individuais e não em conjunto”, explica.

Um dos principais desafios da articuladora cultural foi utilizar os equipamentos para captar um som com qualidade. “Eu tive dificuldade em captar áudio para as lives, no nosso sarau a gente costuma usar instrumento de percussão, e pra fazer esse som sair junto com a voz é o que acho mais difícil, tem que ter os equipamentos certos”, aponta ela.

Nas oficinas da Ocupação Cultura Mateus Santos, ela conseguiu sanar essas dificuldades. “Eles ensinaram quais equipamentos necessários e como montar isso tudo, como testar e mostraram equipamentos mais simples e em conta, e equipamentos mais complexos, e mais de um caminho de como fazer isso”, revela.

Após dominar esse importante conjunto de técnicas para produção de lives, ela conta que o Sarau Mesquiteiros conseguiu manter uma rede de apoio para pessoas que estavam em isolamento social, lidando com questões de saúde mental. “Contribuiu muito pra gente se sentir mais próximo das pessoas, para mostrar que estamos juntos nesse momento difícil de distanciamento e que essa é uma forma de amenizar a distância”, conclui.

Religião ou tradição: temores e vivências do paternar

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Desde pequeno, meus pais não impuseram uma religião, pude conhecer o catolicismo, budismo, umbanda e até bruxaria, mas uma coisa eu percebia e não entendia nelas, uma necessidade de re-ligar.

Foto: Roger Cipó

Eis então uma família preta: desde pequeno, meus pais não impuseram uma religião, pude conhecer o catolicismo, budismo, umbanda e até bruxaria, mas uma coisa eu percebia e não entendia nelas, uma necessidade de re-ligar. A palavra religião vem do latim: religare, reconectar-se, ir de encontro com algo perdido, refazer um caminho…

Sempre me sentia conectado, ligado, tão integrado ao divino, nos meus sonhos, sensações, intuições e escutas. Fui até crismado, mas nunca entendi o culto da culpa e do pecado, da confissão, de ter alguém, homem, como minha conexão com o divino (se toda natureza à minha volta tinha como feminina).

Questionava o padre na igreja: se D’us é onipresente, onipotente e onisciente; se Ele está em tudo, é tudo e sabe de tudo, então Ele é cada partícula do universo, mesmo a lataria de um carro, então Ele sou eu, você, “o ar que eu respiro”, como diria Alberto Caeiro: 

[…]Mas se D’us é as flores e as árvores

E os montes e sol e o luar,

Então acredito nele,

Então acredito nele a toda a hora,

E a minha vida é toda uma oração e uma missa,

E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.[…]

Alberto Caeiro

Então, mesmo quando vi e ainda hoje vejo pessoas tendo o Candomblé pra si como religião, isso não me acessa, não me mobiliza, pois meu entendimento, e a cada dia é maior, é de que estamos falando de uma tradição, um jeito de viver, um conhecimento oral, ancestral, passado de pessoa a pessoa, que permeia a forma como acorda, organiza sua casa, desenvolve seus pensamentos, se alimenta, se projeta no mundo; sendo esse um movimento de nutrição, de uma relação com o divino sagrada, profana, constante, entremeada, consciente e inconsciente.

A mão que se levanta na hora exata em que uma pedra é jogada pelo pneu de uma bicicleta, a pessoa que cruza seu caminho, lhe pedindo auxílio, bem naquele dia que irá tomar uma decisão ou fazer algo necessário.

Eu sou daqueles que acreditam que ando sempre com Exu, não só um pai, um guardião, mas um amigo, conselheiro, fiel em todos os momentos, orientando, resguardando, ensinando com todos os seus milênios de existência a nos movimentar sobre essa terra.

E mesmo dizendo isso e só depois de dizer tudo a cima, isso tem um peso, um peso que me faz refletir quase sempre: porque ronda um temor e uma imposição sobre o educar de nossas crianças na tradição de matriz africana?

Quando levo a cria pra dormir Oxum, Ogum, Exu e Iemanjá estão sempre presentes, nas cantigas, na intenção, na prosa com eles de que nutram, resguardem e orientem esse crescer. Dizem que Oxum acompanha todas as crianças até os 7 anos, que Exu, Ogum e Iemanjá, por toda nossas vidas.

Quando acordo é um conversar com as plantas, agradecer e pedir licença a Agé “ewe o ewassa”. Quando o vento vem forte, sou desses que grita Eparrei Oyá, Oraieieo na chuva fina e em vários momentos de vitória, Kao meu pai, quando ronca o trovão no céu. E pode se ouvir Malik gritando junto, mas o que ele mais grita é Oxum, do seu jeito gostoso de ouvir… Oraieie o….

Mas aí tu pensa: como será a escola? Será que conseguirei dar estrutura pra ele tirar de letra? Não se abalar? Como a família vai lidar se assim fizer sentido pra ele seguir a vida?

Porque a norma que está posta é que o normal é ser cristão e o demais é escolha. Quantos casos absurdos de denúncia de maus tratos e cativeiro não ocorreram, desrespeitando o que deveria ser tão comum quanto espalitar os dentes… e nesse momento alguém grita: comum!?

Pois é. O que há de comum em nós de famílias pretas, tendo nossa matriz em África se orientar por preceitos e crenças colonizadoras, que antes de qualquer coisa matou para se fazer valer?

Ainda hoje o processo de genocídio dos povos originários é um projeto a todo vapor, pois talvez um estar ligado seja, pra quem entendeu, um lugar de outra relação com a terra, com todo o sistema que nos compõe, pois eu, nascido com Orixá, carrego em mim as rochas, a terra, as aguas, o ar e é simples pensar sobre isso. O alimento que minha mãe ingeriu, o ar que ela respirou, foi como esses elementos que chegaram em mim e permanecem em mim.

Então o que há de estranho em ensinar meu filho a reverenciar, amar e zelar as folhas, as águas, o ar, a terra e toda miríade de manifestações da natureza? Ensinar ele que a palavra dele, os atos dele e a forma com que ele irá caminhar na vida, irá a todo instante afetar a ele e ao meio. Ta aí a sociologia não é!? “Somos produto do meio.”

Essa semana minha mãe chegou do mercado com as compras e lá estávamos em sua casa, depois de pular o muro, havia folhas de acelga em cima da mesa para guardar. Malik foi até o saquinho e beijou a folha. Outras vezes, ele pega uma folhinha e brinca de benzer, bem dizer, diriam que ele não entende, mas uma coisa, nesses dois movimentos ele entende: estamos falando de amor, estamos falando de carinho, zelo, cuidado, afeto, dengo, honrar. Pode não ter palavras ou a capacidade de expressá-las nesse momento, por completo, mas se alegra, sorri e expressa seu carinho.

Enfim, são tantos elementos que pela tradição só torna ainda mais graciosa a vida e nos ajuda a compreender.

Malik desde pequeno não gosta que mexa na cabeça dele, hoje já está mais aberto, mas ainda sim, lavar a cabeça dele no banho é um processo que tem de ser feito com muito cuidado e carinho, para que ele não se irrite, assuste ou se entristeça. E na tradição a cabeça é sagrada, não é mesmo qualquer um que pode tocá-la, e ver ele assim, em suas primeiras semanas e permanecer assim dois anos depois, me faz refletir e aprender todo dia. 

E com isso, com carinho, respeito e reverência eu banho esse rei, irmão, amigo de jornada que chamo às vezes de filho!

Ultrapassamos o limite: esse é o balanço da crise que vivemos

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Tudo é muito mais complexo do que um parágrafo pode explicar em um texto de coluna, mas o que precisamos entender é que o passado se alia ao futuro para construir um cenário.

Guavirutuba, Jardim Ângela zona sul de São Paulo – Foto: @menino_do_drone

Mo igbá ori mi

Eu saúdo minha Cabeça!

Mo igbá olá obirin àgbá

Eu saúdo as Mulheres Anciãns com Honras!

Pois tudo no mundo se dá a partir de nossas cabeças e das mulheres que nos antecederam.

Anabela Gonçalves

Todos os dias existe a luta pelo território em nossas vidas, sendo território qualquer espaço definido e delimitado a partir das relações de poder. Essa luta imprime sobrevivência e permanecer. Luta pelo meu território, corpo contra os desmandos do Estado e da moralização da vida e o domínio machista, luta pelo território indigena, espaço de quem fomos, somos e nossa ciência, luta pelo território quilombola, nossa origem e resistência entre terreiros, ocupações, comunidades e favelas. A invasão de Pindorama, nosso território é uma marca de nascença de nosso povo, vozes de gritos à beira da praia, grande calunga que trouxe.

Aqui nesse pedacinho de África, nessa terra indigena, o tempo é Orixá. Foram tantas passagens importantes nesses últimos dias, que fica difícil escrever como todos os povos originários dessa terra se movimentaram sobre temas importantes.

O abril indigena trouxe a terra como discussão central no que diz respeito a luta indigena pela preservação do planeta, dos territorios sagrados para as 305 etinias presentes no Brasil, a demarcação dos territorios como chave para luta contra o garimpo ilegal e o desmatamento da agropecuaria, sendo dia 19 de abril um dia de luta para população indigena em todo o Brasil.

Celebramos o dia da Terra, 22 de abril, com a carta manifesto dos povos originários publicada pela Apib – Articulação dos Povos Indígenas do Brasil. Em contrapartida, vimos a polícia federal (Funai) abrir um inquérito contra a liderança indigena, Sônia Guajajara, por suas denúncias contra a ineficiência do governo federal em combater a pandemia nos territórios indígenas, o que consideramos perseguição política, o que vem ocorrendo com frequência no atual governo.

O que há de errado com essa gente, que se emociona com o sol em um dia de chuva, que se envolve com o barulho do vento. Talvez meu povo do qual não faço mais parte, pudesse me dizer, porque sou o que sou. Mas eu não estou na aldeia e nem na Nigéria onde a cultura do povo iorubano se assemelha aos cultos de matriz africana no Brasil, estou no meio, entre, caminho, não sou chegada, nem partida. Essa é a tortura da mestiçagem, essa possibilidade de escolha, onde nem todas as peças que se encaixam vem do mesmo quebra cabeça na constituição do individuo, uma negraindigena, uma Afro amerindia.

Assim como os povos indigenas o movimento negro também se levanta contra a ineficiencia do governo em combater o vírus, como sua necropolitica, disfarçada de luta contra o trafico de drogas, que assola violentamente as comunidades com exterminio. Chegamos em maio de luto pela Chacina do Jacarezinho (RJ), entre tantas outras perdas que tivemos.

Minha geração não viu uma guerra no Brasil, mesmo sabendo que essa cidade já foi cenário de uma batalha tenentista. Essa guerra silenciosa que remonta mortes e fome, tem assolado nossas vidas de forma violenta. As mudanças econômicas, políticas e sociais que vem ocorrendo para fortalecimento do capitalismo durante essa crise que se inicia em 2008. A pandemia agrava o que já seria a pior década em mais de um século, segundo o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a economia brasileira encolheu 4,1% em 2020.

Sabemos que a crise brasileira tem um pé atolado no super estímulo ao consumo e não a produção, desde de sua origem histórica, somos um tradicional fornecedor de matérias primas, baseado em commodities. Nesse sentido, o crescimento do PIB – Produto Interno Bruto em 2010, 7,6% com as políticas de isenção de impostos para eletrodoméstico, carros e construção não foi suficiente para deter a onda que se formava. Em 2015, o PIB chegou a 3,8% e a presidenta Dilma foi responsabilizada por uma questão histórica da cultura econômica brasileira.

Tudo é muito mais complexo do que um parágrafo pode explicar em um texto de coluna, mas o que precisamos entender é que o passado se alia ao futuro para construir um cenário.

O neoliberalismo brasileiro começa com o governo Collor de Mello, e se consolida com a chegada de Fernando Henrique Cardoso, desde então a política é redução do investimento público e privatização de empresas estatais. Ficamos tão dependentes e fragilizados que a única forma de democratizar a educação foi com a participação do capital privado.

O que isso tem haver com o cenário atual, a manutenção e o avanço no ritmo de produção de vacinas está diretamente relacionado com a dependência de importação do ingrediente farmacêutico ativo (IFA), que vem da China. Não produzimos o IFA, portanto, é óbvio que os países originários do insumo só vão liberar sua patente depois de toda sua população imunizada, “pouca farinha, meu pirão primeiro”, como diria minha mãe.

Para a luta contra o desmatamento, vale o mesmo, enquanto o mercado brasileiro estiver voltado para exportação de insumos, mais cresce o ganho com a exportação de soja, carne, entre outros produtos, quanto mais ilegal o négocio, menos imposto se paga e mais se ganha, com um governo que favorece o neoliberalismo e seu avanço, chegamos ao maior número de mortes de lideranças indigenas em 11 anos e maior número de invasão de territorios indigenas.

Ser flecha em tempos de bala não é fácil, agir no mundo e transformá-lo sem ferir suas crenças ancestrais requer muita presença em tudo que se faz, porém estar presente o tempo todo é muito cansativo. Como resistir aos encantos da lua, seja na minha ancestralidade yorubana ou indigena, que tem em si a magia da força da criação, sendo ela Ósùpá ou îasy, mesmo em outra língua indigena que seriam inumerável a possibilidade de nomes que ela teria, eu nunca me livraria de ser tomada pela sua presença no céu, nem pelas estrelas e sua magia de amplidão que o escuro traz em lugares que podemos vê-las.

Não poderia deixar de me envolver profundamente com fogo ou de acreditar nos invisíveis. Mesmo com toda modernidade isso ainda me arrebata mais. Tudo que importa exige tempo, diminuir o ritmo, vivenciar o momento e comungar com a terra.

Segundo dados da ONU, somos hoje 83 milhões de mulheres na América Latina fora do mercado de trabalho, menos segregação no mercado de trabalho, igualdade de remuneração e aguardando vacina para todes. Estamos no nosso limite, esse é o balanço da crise, estamos sem renda, saúde e segurança, aqui chegamos a mais um domingo do dias das mães, onde as mercadorias, não dão conta de esconder a fratura exposta por essa pandemia.

Animador de festas reinventa profissão com videochamadas para crianças

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Na pandemia, o animador de festas infantis José Luís faz de 5 a 10 videochamadas por dia com crianças da cidade de Suzano.
Vestido de super heróis, como o Homem- Aranha, ele usa o WhatsApp para aconselhar crianças a se cuidar na pandemia.

Antes da pandemia José Luís Fernandes, 28, morador do Jardim São Bernardino, localizado no município de Suzano, trabalhava como animador de festa se fantasiando de super-heróis, porém com as medidas de isolamento da covid-19, ele ficou sem opções de trabalho e renda.

Ao ver os boletos chegarem, José começou pensar em algumas alternativas para usar seu talento como animador de festa para conseguir sobreviver durante a pandemia.  Ao perceber que muitas crianças estão em casa sem poderem ir à escola, tendo as telas do celular com uma das suas maiores fontes de entretenimento, o morador optou por improvisar, e se conectar com essa turminha do barulho, por meio de videochamadas no WhatsApp.

“A videochamada eu já vi outras pessoas que fazem, mas eu vi em outros estados como no Rio de Janeiro, mas não tem muito né, aqui pra São Paulo ninguém faz, só eu que faço né”, conta Fernandes.

Por se caracterizar como um personagem que a criança deseja, e conversar com ela durante 10 minutos, os pais acabam investindo no trabalho do animador de festas. Os valores variam de acordo com a complexidade para usar e adquirir a vestimenta dos super-heróis.

Os personagens mais pedidos pelas crianças são o Hulk, Batman, Capitão América e Mickey, essas fantasias custam 20 reais, já o Homem-Aranha custa 10 reais.

“Tem criança que faz xixi na cama, e a mãe pede minha ajuda pra dar uns conselhos” 

José Luís, animador de festas que mora em Suzano

“A diferença dos preços dos heróis é que o homem aranha é mais fácil de fazer, agora o Hulk, Batman, Capitão América e o Mickey são mais difíceis, pois dá mais trabalho e precisa de duas pessoas para me ajudar a se vestir”, justifica José Luiz, demonstrando como ele cobra os preços pelas videochamadas.

Com o seu trabalho em alta, ele revela que já chegou a fazer 10 videochamadas. “Tem dias que eu faço 10, tem dias que faço 5, tem dias que faço duas videochamadas”, afirma o animador de festas, contando que muitos pais chegam até eles em busca de um diálogo diferenciado com seus filhos, visando auxiliar as crianças nas tarefas diárias, que muitas vezes os pais não conseguem entrar em acordo com os filhos.

“Nas videochamadas eu já conversei com muita criança, até com criança especial, criança que não come comida, não obedece, tem criança que faz xixi na cama, e a mãe pede minha ajuda pra dar uns conselhos”, revela.

Para mostrar como o seu cotidiano de trabalho e realização de videochamadas é diverso, o morador de Suzano relata uma história que já vivenciou durante uma conversa com uma criança. “A história mais legal é de um menino que não tomava remédio para a garganta, ele estava com a garganta inflamada, estava ruim, aí eu liguei pra ele vestido de Homem-Aranha falando que tinha que tomar o remédio para ficar forte, pra ele me ajudar a lutar com os vilões, aí ele foi lá e tomou o remédio, tomou o remédio na mesma hora”, diz Luís.

Atualmente o animador divulga seu trabalho e obtém seus contatos por meio de conteúdos que ele mesmo produz e posta em seu perfil no Facebook, mas ele conta que enfrenta constantemente o desafio da internet de baixa qualidade, quando o tempo está chuvoso em Suzano.

“A videochamada não é minha única renda não, eu também faço festa infantil, só que festa infantil está meio devagar”, revela ele, fazendo uma referência para o impacto da pandemia na sua atividade profissional.

Ele finaliza enfatizando o seu amor pela profissão de animador de festas infantis. “Eu gosto é de trabalhar com festa infantil e com heróis, eu gosto mais desse trabalho do que outros empregos que eu já tive”, conclui.

Funk: o problema é ser da favela

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Funk é cultura, expressão, política, arte e as vozes de muitos jovens de quebrada. Se existe alguma preocupação real sobre os malefícios do funk, antes precisaremos falar sobre os malefícios da fome.

Real Parque – Zona Sul, SP/18 – Foto: DiCampana Fotocoletivo

Sabemos que o funk está presente na realidade da periferia há muitos anos e divide opiniões sobre suas influências e se elas seriam boas ou ruins. Mas o funk é sem dúvidas uma das formas mais claras de expressão da vida na favela, além de chamativo e envolvente para os jovens que desde cedo se sentem atraídos a escutar e dançar o ritmo.

Quando falamos em funk é comum se esperar um questionamento sobre ele ser cultura ou não, mas se cultura é hábito, costume e crença de povo ou grupo, o funk sem dúvidas é cultura. Aí outra pergunta seria “ele é uma cultura boa?”

Vamos lá, não existe cultura boa ou ruim, mas quando ouvimos pessoas falarem algo de negativo no funk seria sempre por ele conter muita sexualização, além de falar sobre drogas e armas. Contudo músicas do universo POP que fazem muito sucesso possuem conteúdo explícito muitas vezes, porém, não são produzidas por quem já é marginalizado cotidianamente, o jovem periférico.

A sexualização é ruim? Sim. Sem dúvidas, o funk ainda possui muitas problemáticas, mas o ponto dessas problemáticas não são o funk e sim a ausência de políticas públicas voltadas para jovens.

Bom reafirmar que o problema não é o funk, mas quem o produz. Devemos lembrar que ritmos como o samba já sofreram ataques diretos do governo, não era sobre o ritmo, era sobre quem o tocava, a população negra e pobre e o governo com suas políticas de embranquecimento que deixaram seus resquícios perpetuados na história governamental do país racista e desigual em que o pobre só pode trabalhar.

As políticas públicas são de escolha do governo e é ele que decide se determinado projeto ou ação irá ser aplicado ou vale a pena ser aplicado. Então por que o governo não pensa em alternativas para os jovens que não sejam marginalizá-los? Porque é de interesse do governo que esses jovens estejam às margens da sociedade e sempre sejam colocados com imagens violentas, o fim deles de acordo com esse contexto é a cadeia ou a morte, não porque cometeram crimes, mas sim porque nasceram na favela.

Então a raiz do problema seria a falta criar de outros contextos dentro da periferia com menos violência, e mais educação, saúde, lazer? Sim, o funk não é um problema e sua linguagem traz uma história, cada funk está dentro de uma narrativa, mas todo funk é funk. Nesse sentido não existe divisão de funk bom ou ruim, são apenas narrativas diferentes para uma música com batida única.

Enquanto pessoa que ama arte e principalmente música eu sempre afirmo que nunca encontrei algo que se compare ao funk brasileiro de favela, é realmente um ritmo que deve e precisa ser valorizado enquanto herança cultural dos nossos. E sempre oriento a quem critica o funk uma longa análise de letras de músicas de outros países que são para o público jovem e identificar diferenças tão absurdas assim (não existem).

Funk é política então? 

Sim, tudo é política. O funk passou por vários momentos que envolviam discussões como acesso a cidade e lazer, podemos relembrar os ‘rolezinhos’ para falar sobre isso ou até mesmo os bailes de favela. O funk une esses jovens enquanto expressão cultural e de reafirmação dos corpos favelados na cidade, um grito da juventude que também merece se divertir, que a partir do funk também cantam experiências que dão força a outros jovens…

“Ô vitória chegou,
Deus abençoou, o barraquinho de madeira, os buraco da telha, ele já tampou (amém)…”

MC Lipi, Vitória Chegou

É através do funk que muitos jovens conseguem a oportunidade de viver da arte, é também com o funk que os jovens das periferias se expressam, e se há coisas que a sociedade dita como negativas são frutos da própria relação da sociedade com esses jovens. As discussões que ressurgiram sobre o funk ser cultura ou não só demonstram que nada aprendemos sobre mudanças sociais e transformações, tampouco sobre juventude e suas expressões.

“Vem chupando no talento, meu grelinho de diamante.
Vai, vai meu grelinho de diamante.”

Mc Baby Perigosa, Grelinho de diamante

O funk é uma forma de introduzir temas como empoderamento feminino, liberdade e desigualdade. Também de falar de duras realidades com outras perspectivas, com novos olhares e novas formas de lidar. Isso é política, política da cultura que veio da favela e tem que ser valorizada como tal.

Funk é cultura, expressão, política, arte e as vozes de muitos jovens de quebrada.

Se existe alguma preocupação real sobre os malefícios do funk, antes precisaremos falar sobre os malefícios da fome.

“Eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente na favela onde eu nasci, é… E poder me orgulhar e ter a consciência que o pobre tem seu lugar…”

Cidinho e Doca/ RAP da felicidade

“Ele desenhava muito bem”, diz tio de Gilberto, morador morto pela polícia na Favela da Felicidade

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Após a mídia tradicional classificar o morador Gilberto Amâncio como suspeito, o Desenrola entrevistou amigos e parentes para contar a trajetória de vida do tatuador e pai de família que morreu com 30 anos no mesmo dia do aniversário do seu filho. 

Gilberto Amâncio (foto arquivo pessoal)

Na última sexta-feira (14), Gilberto Amâncio, morador da Favela da Felicidade, localizada no distrito do Jardim São Luís, zona sul de São Paulo, foi alvejado com seis tiros durante uma operação policial que aconteceu a poucos metros de distância da sua casa.

O morador estava passando por um beco quando foi surpreendido com seis disparos, realizados durante uma operação da polícia civil. A morte de Gilberto gerou grande comoção entres os moradores do bairro que conheciam a sua trajetória de vida e sabiam que ele nada devia para a justiça criminal.

Após o fato ocorrido, uma série de manifestações aconteceram nas imediações da Favela da Felicidade, território conhecido por abrigar uma série de movimentos sociais e culturais que atuam pelo combate às desigualdades sociais que afetam a população local.

Ao tomar conhecimento sobre a forma como a mídia estava noticiando o fato, rotulando Gilberto, como um suspeito, e por isso, essa seria uma justificativa da política ter disparado seis vezes em sua direção, o Desenrola apurou mais informações sobre a sua trajetória de vida, conversando com amigos e parentes do morador que morava na Favela da Felicidades há 30 anos.

Em respeito ao sofrimento da família, nossa equipe de reportagem preferiu não tentar contato com o pai, mãe e a esposa de Gilberto Amâncio. Fruto da nossa articulação investigativa e jornalística nas periferias, conseguimos conversar com Edmar Miranda Amâncio, 47, ajudante de cozinha e tio do morador morto durante a operação da polícia civil na Favela da Felicidade.

Ele foi o parente responsável por reconhecer o corpo do sobrinho e revela a quanto foi sombria e inesperada essa experiência. “Eu estava em casa almoçando quando eu recebi a notícia, que era para eu ir lá reconhecer um rapaz que tinham matado e parecia meu sobrinho. Foi um aperto, um sufoco, não sei nem como consegui, não tem nem como explicar o que eu vivi e senti nesse momento.”

Edmar diz que o choro de sofrimento é o único som que pode ser escutado na casa da família de Gilberto. Ele enfatiza que a mão do morador é uma das mais afetadas. “O que nós estamos passando aqui né, a mãe dele nem consegue falar, só está chorando desde ontem, ninguém tá conseguindo nem dizer nada, está realmente muito difícil”, diz.

Segundo o tio, Gilberto tinha um talento natural para desenhar e esse dom o levou a desempenhar a profissão de tatuador. “Ele ia fazer 30 anos, ele era tatuador, desenhava muito bem e mexia com isso né de tatuagem”. Ao terminar essa frase, Edmar começa a chorar. Nossa repórter dá uma pausa na entrevista para sentir se ele iria continuar com o depoimento.

Consciente da importância de contar a verdade sobre a trajetória de vida do seu Sobrinho, Edmar reforça: “Ele era ajudante de pedreiro também, aí ele começou a mexer com isso de tatuagem, tudo para sustentar a família dele”, revela ele, afirmando que Gilberto deixou um filho pequeno que fez aniversário no mesmo dia da sua morte.

Ao perceber o comportamento de vizinhos e amigos mais próximos, o tio de Gilberto, mais conhecido como Gibinha na Favela da Felicidade desabafa: “Todo mundo aqui está revoltado, não sabe o que faz, todo mundo da comunidade tá revoltado, ninguém aqui tá acreditando que isso aconteceu, do mesmo jeito que isso aconteceu com meu sobrinho, pode acontecer com todo mundo, com qualquer filho de outra pessoa.”

O medo da impunidade assusta o tio do morador, que insiste em dizer que a família só quer que a justiça seja feita. “Nós queremos justiça, e que esse policial se apresente e fale o erro que ele fez, porque policial que é policial não pode chegar atirando, tem que parar a pessoa, não tem que chegar atirando, não somos animais”, finaliza Edmar. 

“A mídia só tem colocado coisa ruim, mas quem vai contar e dizer quem ele era?”

Amigo de infância de Gilberto

Um amigo de infância de Gilberto, ou Gibinha como ele é conhecido pelos amigos e em seu território, nos conta quem é ele, seus sonhos e o que ele conseguiu acompanhar da vida de Gibinha. Para evitar ser perseguido por policiais, ele preferiu não revelar seu nome.

“O Gibinha é um moleque de periferia né, um moleque que foi privado de muitas coisas, há um tempo ele tinha comentado né, que estava muito feliz, ele tinha ido no mercado com a esposa e tudo, e ele disse que estava muito feliz que tinha sido a primeira compra que ele tinha feito em família”, revela o amigo de Gilberto.

O jeito carinhoso e sentimental de Gilberto fica como marcas e lembranças da amizade entre eles. “Quando a gente conversava e bebia ele chorava, ele era um menino sensível, ele tinha muitos sonhos, ele estava começando nas tatuagens, eu acredito que era o sonho dele isso, ele estava começando agora, ele ficava muito feliz quando encontrava na rua e falava dos desenhos, das tatuagens dele, ele fica bem feliz”, confidencia.

O sentimento de revolta comentado pelo tio Edmar também está presente nos pensamentos do amigo de Gilberto. “Eu estou numa revolta sabe, só quem conhece o Gibinha sabe, a revolta é muito grande”, conta ele, dizendo que o amigo de infância era uma pessoa do bem.

O amigo de Gilberto revela também que essa não é a primeira ação policial que deixa marcas nas famílias da Favela da Felicidade. “Há um tempo atrás teve uma chacina lá também e morreram uns amigos nossos, foi polícia também, e agora o Gibinha, a gente já tá cansado, da outra vez não teve nada, não teve justiça, e agora, cadê?”, questiona.

Segundo o amigo de infância, além de tatuador, Gilberto também trabalhava como ajudante de pedreiro. “Ele também era ajudante de pedreiro, batia uma laje, carregava uns sacos de cimento e era tatuador né, que era o sonho dele. Eu cheguei a comentar com ele dias atrás que o pessoal está falando que as tatuagens dele estão ficando muito boas, ele é trabalhador, pai de família.”

Após a morte de Gilberto, o amigo de infância enfatiza que andar pelos becos e vielas da Favela da Felicidade é um ato de coragem que impede ele até de visitar a família, com medo de ser alvo de abordagens policiais.

“Sempre tive medo, cansei de andar naquele beco ali, tenho medo até de visitar meus familiares, de sair de casa, o Gibinha morreu de dia, 13h da tarde, um dia que era calor, e lá onde ele foi morto tudo fica aberto, o movimento é grande, tem padaria, mercadinho, ali é muito movimentado, o que fizeram com ele não tem lógica, poderia ser qualquer um, não foi legitima defesa, legitima defesa com 6 tiros? Não tem lógica, isso é execução”, conclui. 

“se não tivesse a pandemia, era um horário que as crianças estavam saindo e chegando da escola, e aí como é que fica”

Articulador cultural da Favela da Felicidade

Um articulador cultural do bairro que dialoga com moradores, organizações sociais e poder público também foi ouvido pela nossa equipe de reportagem. O morador comenta que outros casos de violência policial já terminaram em execuções dentro da favela. “Em 2015 teve essa chacina, um pouco depois, tinha um pancadão próximo desse lugar onde o Gilberto foi assassinado, nessas batidas policiais de querer acabar com o pancadão no meio da madrugada, um frequentador do baile foi baleado na cabeça”, afirma.

Na ocasião, o articulador cultural contou que a polícia chegou ao local muito rápido após os tiros e não deixou os moradores socorrer as vítimas que ainda estavam vivas. “Alguns policiais ficaram rindo da situação, fora essas violências extremas que acabam nesses assassinatos, tem essa passagem da polícia com total desrespeito, que não leva ninguém, não faz nada, é só simplesmente uma vontade de maldade, de entrar na favela e achar que é um território que não tem lei e zoar as pessoas aqui.”

Segundo o morador, o que fica de mais revoltante no caso de Gilberto é saber que ele era uma pessoa sem nenhuma conexão com situações ilícitas. “Uma das maiores revoltas de todos nós é dessa condição de todo mundo conhecer o menino e saber que era uma pessoa que nem sequer usava uma droga ilícita, sabe? Era um menino que não estava envolvido com nada, entende?”, questiona ele.

Já com o semblante cansado e visivelmente abatido, o articulador cultural finaliza a entrevista ressaltando uma característica em comum com Gilberto que era o gosto pelo desenho. “Eu lembro que ele veio me mostrar um desenho, porque ele desenhava e eu desenho também e tal, e ele veio me mostrar um desenho que ele estava fazendo, que ele queria passar pra parede, para eu dizer o que eu achava sabe? Quando eu vi senti a pureza da pessoa, né… então isso não só por parte dele, mas também dos familiares, uma das famílias fundadoras da favela, e todos são trabalhadores, pessoas bem humildes. O Gilberto não merecia esse fim, de verdade”, desabafa.

A importância dos serviços de saúde voltados para população preta

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Para quem já conhece um pouco da história, sabe que o plano de extermínio contra a população afrodescendente se renova nos Estados Unidos e aqui no Brasil não é diferente.

Foto: Anderson Costa

Esses dias me deparei pensando: Eu saio de casa para acompanhar minha mãe ao médico, mas não tenho coragem de sair para cuidar da minha própria saúde. Só de pensar em pegar transporte público, ficar presa em longas filas de espera me causa ansiedade devido o contágio da Covid-19.

Minha mãe e eu fazemos exames de rotina uma vez ao ano para a prevenção de doenças. Já o maridão morre de medo e preguiça de ir ao médico. Quando ele fica doente ele consulta o doctor Google e fica paranoico com as coisas que lê, convicto que é o fim. Escrevi essa última frase rindo, mas na hora é tenso lidar com homem doente.

Eu sei que Jordan não é o único. De fato, homens vão menos ao médico por vergonha ou medo de serem vistos como fracos. Eles não têm iniciativa própria, só vão acompanhados e só procuram ajuda médica quando o sintoma já está bem avançado.

Uma pesquisadora da Universidade de Connecticut diz que os homens são socialmente educados para serem fortes e independentes. Ela diz que: “No caso dos homens, essas crenças contribuem para a ideia de que, para ser um ‘bom homem’, é preciso ser duro, corajoso e absolutamente auto suficiente. O problema dessas crenças é que criam barreiras para pedir ajuda, mesmo em face de doenças e lesões.”

Quando se trata do homem preto, ou melhor, da população preta, é impossível não levar em consideração o racismo institucional, já que a maioria dos médicos são brancos carregados de preconceitos e influências de teorias racialistas.

Falando dos brasileiros em modo geral, o que vemos atualmente, são pessoas indo cada vez menos ao médico ou deixando de fazer alguma consulta ou tratamento médico em função da covid-19 desde março de 2020, como aponta levantamento da empresa de pesquisas Demanda.

As crianças também se encontram vulneráveis pelos mesmos motivos. A farmacêutica GSK realizou recentemente uma pesquisa baseada em dados coletados em 8 países, ouvindo ao todo 4,9 mil responsáveis. Metade dos genitores entrevistados disseram que durante a pandemia, adiaram ou não compareceram na data prevista para aplicar a imunização contra a doença meningocócica, mesmo 94% considerando a vacina contra a meningite algo importante.

A Meningite é uma doença grave e rápida, uma infecção que se instala quando uma bactéria ou vírus, consegue vencer as defesas do organismo e ataca as meninges, três membranas que envolvem e protegem o encéfalo, a medula espinhal e outras partes do sistema nervoso central.

A doença pode deixar sequelas como surdez, dificuldade de aprendizagem, crises de epilepsia e comprometimento cerebral. 

Foi assim que a minha mãe Marilene perdeu a audição aos 10 anos.  

O ano em que ela adoeceu bate certinho com a terrível epidemia de meningite que teve início em meados de 1971 no distrito de Santo Amaro, na zona sul de São Paulo, em plena ditadura militar. A doença se alastrou para outros estados devido a censura por parte dos militares e perdurou por anos levando a óbito milhares de brasileiros, em sua maioria pobres e negros. Até junho de 1977, ainda eram registradas altas incidências de morte.

O país já teve três surtos de meningite e minha mãe é sem dúvidas uma sobrevivente da pior epidemia na história do Brasil e hoje aos 61 anos ela aguarda a vacina contra a covid-19, porém, com um certo receio, desconfiando se a própria vacina aos invés de imunizar irá causar algum tipo de sequela por ter sido fabricada às pressas e provavelmente não foi amplamente testada. Além da possibilidade de aplicarem vacinas fora do uso de validade.

Esse é o dilema de muitos afro americanos nos Estados Unidos, que desconfiam de qualquer vacina devido ao contexto histórico racial.

Com o advento da escravidão, muitas pessoas pretas foram forçadas e usadas como cobaias para experimentos médicos. Os testes continuaram mesmo após a abolição. Como aconteceu com o caso Tuskegee no estado de Alabama entre 1932 e 1972. Um experimento cruel realizado pelo Serviço Público de Saúde dos EUA.

Foram usados como cobaias 600 homens cujo 399 portadores de Sífilis (doença sexualmente transmissível) e 201 saudáveis. Enganados de que tinham o “sangue ruim”, não tiveram informações sobre seu diagnóstico e não deram seu consentimento em participar do terrível experimento. No final do suposto “tratamento”, apenas 74 pacientes sobreviveram, 40 das esposas das cobaias haviam sido infectadas e 19 de seus bebês haviam nascido com sífilis. O objetivo do Instituto Tuskegee através deste estudo, era observar a evolução da doença, porém, livre de tratamento.

Para quem já conhece um pouco da história, sabe que o plano de extermínio contra a população afrodescendente se renova nos Estados Unidos e aqui no Brasil não é diferente.

Se uma mulher preta tem mioma, logo querem arrancar seu útero fora. A introdução da esterilização como forma de contracepção no Brasil ocorre a partir dos anos 1960 e 1970, expandindo-se fortemente nas duas décadas seguintes e hoje é defendida pelo atual presidente da República.

Políticas como está é direcionada às populações em vulnerabilidade social, majoritariamente negros e indígenas.

Hoje temos médicos especializados desenvolvendo pesquisas com um olhar humanizado voltado para a saúde do povo preto, como o Dr. Fleury Johnson, originário do Togo, hoje reside no Rio de Janeiro e atua no SUS como clínico geral.

Sugiro que conheçam também o Afro Saúde, um startup que desenvolve soluções tecnológicas em serviços de saúde para a comunidade negra.

Cuide dos seus mais velhos, dê uma atenção especial à sua mãe e sua família, mas não deixe de cuidar de si. 

Filme completo legendado sobre o caso Tuskegee – (Miss Evers’ Boys)

Lena Silva, do grupo UmSoh, lançou o single ‘Solidão Mãe’ que conta a história de sua mãe, Dona Marilene, que nasceu e cresceu na cidade de Jequié na Bahia. Com 10 anos de idade ela pegou meningite e perdeu a audição. Ela veio para São Paulo trabalhar como empregada, e passou por diversas violências no serviço. Mesmo não ouvindo e passando muito tempo sozinha ela faz de tudo para curtir a vida e manter a positividade. Este clipe conta sobre a realidade da mãe da Lena e também de muitas outras mulheres nordestinas.

Você Repórter da Periferia: novas oportunidades para 2021

Diante do momento que ainda estamos vivendo no Brasil com a pandemia da covid-19, buscamos um novo caminho para fortalecer a juventude da quebrada.

Primeiro encontro com todos os jovens da 1° edição do programa de inclusão produtiva Você Repórter da Periferia 2.0

Desde o início de 2020, com o avanço da covid-19 e as poucas medidas de enfrentamento do governo federal, diversas famílias, coletivos e projetos sentiram diretamente o impacto dessa pandemia e por aqui não foi diferente. Um desses impactos foi no nosso programa de formação, o Você Repórter da Periferia, projeto que realizamos desde 2014 e que já despertou interesse de mais de 400 jovens ao longo desses anos.

O cenário que continuamos vivenciando com essa pandemia ainda não nos permite realizar os encontros e vivências com os jovens pela cidade, no formato do Você Repórter da Periferia. Pois além da formação teórica, o programa possui uma imersão jornalística prática nas periferias de São Paulo. Esse é o momento no qual muitos jovens começam a descobrir as potências que existem em seus territórios e passam a enxergar seus bairros como espaços de produção cultural e econômica.

Continuamos seguindo as orientações da Organização Mundial de Saúde e dos órgãos de saúde do Estado e não iremos realizar a 7° edição do Você Repórter da Periferia, por se tratar de um projeto que possui como uma de suas principais características a troca e contato entre todos envolvidos, além das vivências que buscamos propiciar ao circular com esses jovens pela cidade.

Mas temos uma novidade: neste ano, convidamos 10 jovens das periferias de São Paulo, que já passaram pelas formações e vivências do Você Repórter da Periferia, para participarem da primeira edição do nosso programa de inclusão produtiva, o Você Repórter da Periferia 2.0.

Saiba mais: 

Você Repórter da Periferia 2.0 

O Desenrola e Não Me Enrola está realizando a 1° edição do Você Repórter da Periferia 2.0, um programa de inclusão produtiva no qual 10 jovens receberão uma bolsa auxílio, acompanhamento e formações para produzirem conteúdos para o portal de notícias e redes sociais do coletivo. Essa primeira edição iniciou oficialmente no dia 05 de maio e acontece até novembro deste ano, com jovens que concluíram o processo de formação e vivência em uma das edições anteriores do Você Repórter da Periferia.

Dentro desse período, os jovens já convidados pelo coletivo, irão atuar com produção de conteúdo em quatro frentes diferentes: texto, fotojornalismo, podcast e redes sociais. Além disso, o programa está dividido em duas etapas, sendo a primeira de maio a julho, uma formação com educadores em cada uma dessas frentes, e na segunda etapa, de agosto a novembro, o início da produção de conteúdo para o portal de notícias e redes sociais do coletivo.

Ao longo desse processo, os dez jovens irão participar das reuniões de pauta do Desenrola, além de sugerir, construir, apurar e produzir suas próprias pautas, com o apoio e acompanhamento dos integrantes do coletivo e também dos educadores que irão orientar a formação teórica.

Segundo Evelyn Vilhena, coordenadora do programa de formação Você Repórter da Periferia, essa é uma busca antiga do Desenrola que se concretiza de forma metodológica em 2021. “Conseguir trazer alguns jovens que passaram pela nossa formação e que se interessam em produzir conteúdo, na comunicação que acreditamos, que construímos e remunerá-los para isso, para nós é parte de muitos processos de aprendizado e crescimento do Desenrola”, compartilha.

O coletivo priorizou jovens que não estavam trabalhando ou com uma renda fixa todos os meses. “Fortalecer financeiramente esses jovens e isso aliado a um processo de trocas, formação e produção, principalmente em um momento como esse que estamos vivendo, impacta não apenas os jovens, mas também os núcleos e territórios em que estão inseridos”, afirma a coordenadora.

Os jovens são residentes de diferentes territórios periféricos, desde Osasco, região metropolitana de São Paulo, a Ferraz de Vasconcelos. Após o período de alinhamento sobre o programa com cada um, os dez jovens contactados pelo coletivo já participaram da primeira formação do programa no dia 05 de maio, de forma online. 

Foto da primeira formação do programa de inclusão produtiva Você Repórter da Periferia 2.0, no dia 05 de maio de 2021.

Luana Santos, 22, é uma das jovens que participa dessa primeira edição do programa. Ela é estudante de Rádio, Tv e Internet, moradora do bairro Jardim Casa Grande, em Parelheiros, zona sul de São Paulo e conta como foi receber o convite para participar do programa.

“Eu fiquei muito feliz pelo convite. É bom demais ser lembrada, ainda mais num curso que marcou muito a minha vida e me fez ter uma outra cabeça quando o assunto é a periferia e a minha quebrada. O Você Repórter foi um divisor de águas na minha vida e estou feliz demais de fazer parte do 2.0, as expectativas são as melhores. Espero ter a oportunidade de ter contato com outras pessoas da área, oportunidade de emprego e de crescimento profissional através dessa formação, estarei empenhada em dar o meu melhor!”

compartilha Luana.

Luana irá atuar na frente de podcast, ferramenta que nunca trabalhou e teve um rápido contato durante um curso, mas que acredita ser uma forma atual para disseminar informação. “Com a formação, acredito que posso atuar na área e me aprofundar mais sobre o assunto. Já trabalhei com som direto e sou apaixonada por som, acho o podcast uma maneira muito atual e bacana de passar informações no meio da correria do dia a dia. Estou ansiosa para aprender mais sobre o assunto”, conta.

Um dos jovens que irá atuar na frente de fotojornalismo é o Mateus Fernandes, 24, morador de Osasco, região metropolitana de São Paulo. Ele conta que já pensou em atuar com fotografia, atualmente estuda pedagogia e estava buscando um estágio presencial em educação infantil, mesmo não sendo o que queria de fato no momento.

“Não seria exagero dizer que o convite mudou meus planos, positivamente. Eu espero um impacto tão bom, ou até melhor, de como foi o VCRP 1.0 pra mim, que marque minha vida de uma maneira. E também espero que meu trampo possa ter algum impacto positivo também”, conta.

Mateus conta que há uns anos atrás tirava fotos de forma amadora, algumas até analógicas, e já pensou em trabalhar na área, com foto para casamento. Nunca seguiu a ideia, mas é algo que gosta e espera aprender ainda mais no Você Repórter da Periferia 2.0.

Para ele, formação aliado à produção de conteúdo é algo que falta em muitas áreas de ensino para os jovens, que têm maior oferta em áreas específicas e técnicas, e que faltam maiores opções na área de comunicação e artes, por exemplo.

“Quando eu estava no ensino médio e precisava de uma grana, eu vi que tinha alguns cursos no Senai que pagavam dessa maneira, formação junto com meio que um trabalho. Só que eram coisas mais de exatas, tecnológicas e não era algo que eu queria. Eu quase fiz curso de mecatrônica, mesmo sem vontade nenhuma, por causa dessa grana, mas no fim acabei não fazendo porque minha irmã conseguiu um emprego que ganhava melhor e permitiu isso.”

compartilha Mateus.

Já na frente de redes sociais, uma das jovens é a Samara Santos, 22, moradora do bairro Parque Fernanda, no Capão Redondo, zona sul de São Paulo. Ela já trabalhou com conteúdo para as redes sociais em projetos pessoais e conta que sempre gostou, principalmente da interação do público com um projeto que ela acreditava muito.

“Neste momento será um desafio, na realidade, a forma de compartilhar informações nas redes sociais mudaram muito nos últimos meses. Estarei além de exercendo o que aprendi nos últimos anos, aprendendo a me comunicar com estas novas ferramentas”, compartilha Samara.

Para ela, os resultados das vivências teóricas e produções práticas ao longo dos próximos sete meses, irão possibilitar acesso a conhecimento e experiências que poderá utilizar não apenas durante o período do programa, mas também em outros momentos após a finalização do ciclo no Você Repórter da Periferia 2.0. 

“Eu acho que vocês acreditam muito na gente e isso já é uma das melhores coisas que o VCRP [Você Repórter da Periferia] pode nos proporcionar. A gente vai poder usar com vocês mesmos o que vocês nos ensinaram tanto na primeira passagem do VCRP quanto agora. A formação vai além do VCRP, é uma semente que vocês plantam em cada um de nós. É um desejo nosso que vocês também acreditam e alimentam. Pretendo usar a formação para continuar plantando sementinhas por aí mesmo depois dessa experiência com vocês.”

afirma Samara.

Os conteúdos que serão produzidos pela Luana, Mateus, Samara e todos os outros jovens da primeira edição do programa de inclusão produtiva Você Repórter da Periferia 2.0 poderão ser acessados a partir de agosto deste ano, aqui no portal de notícias e também nas redes sociais.

Essa é pra minha mãe

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Hoje separo esse espaço para agradecer por todas as mães de quebrada e em especial a minha.

Da esquerda para a direita: Tio Josemar, tia Daguimar, avó Maria Marta, tia Socorro e mãe Maria. Foto: arquivo pessoal

Acho lindo como o calendário nos presenteia com muitas datas para se lembrar de algo. Às vezes passa batido, mas algumas são muito emblemáticas, como o dia das mães. E hoje separo esse espaço para agradecer por todas as mães de quebrada e em especial a minha.

Realidade em muitos lares, são elas que, por diversas vezes,são os pilares principais da família. Quer aprender sobre gestão? Só trocar ideia com elas, que fazem verdadeiros milagres com o dinheiro que entra em casa, “dando os pulos” para comprar comida, pagar as contas, comprar as roupas e ainda separar as brigas das crianças.

Muitas vezes essas mães só tem o tempo de ser mãe, não sobrando tempo para viver a própria vida, um tempo para ser só, pois tudo é em dobro, triplo, quádruplo… Como diria Emicida: pranto, de canto chorando, fazendo os outro rir”.

E o que falar da minha mãe? Bom, aí me faltam palavras. Sem dúvidas a minha maior inspiração. É essa “velhinha” quem me ensina a maior lição que se pode ensinar: amar todo mundo com gestos e não somente com palavras. Foi com ela que aprendi a perdoar, a escutar, a me orgulhar da minha trajetória e a ter fé na vida. “Profundo, ver o peso do mundo nas costas de uma mulher”.

Obrigado, mãe, obrigado vó e obrigado a Thais Siqueira por ter me acolhido e acolhido tantas outras filhas e filhos na família Desenrola.

Até meu jeito é o dela
Amor cego escutando com o coração a luz do peito dela
Descreve o efeito dela, “Breve, intenso, imenso”
Ao ponto de agradecer até os defeito dela
Esses dias achei na minha caligrafia a tua letra
E as lágrima molha a caneta
Desafia, vai dar mó treta
Quando disser que vi Deus
E ele era uma mulher preta

Música Mãe – Emicida

Enraizada na dança negra, Zona Agbara retrata vida de Tula Pilar em websérie

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A potência literária e a trajetória de vida da poeta e ex-empregada doméstica é transformada em performance de dança com transmissão ao vivo nas páginas de espaços culturais da cidade. 

Foto de Lua Santana

Intitulada “Pilares”, a websérie que retrata por meio da dança a vida e obra da poeta mineira Tula Pilar estreia neste mês e tem exibição virtual. A criação da websérie é realizada pelo grupo de dança negra contemporânea Zona Agbara e as intérpretes criadoras da companhia performam coreografias inspiradas na biografia da artista.

Dividida em três episódios temáticos, a websérie pode ser vista pelas páginas do Facebook e canais do Youtube do Centro de Referência da Dança, Casas de Cultura do Campo Limpo e Tremembé, Espaço CITA, Biblioteca Adelpha Figueiredo e da própria Zona Agbara até o dia 24 de maio. As apresentações são únicas e não ficarão disponíveis após o dia e horário programados.

Tula Pilar se inspirou na trajetória de Carolina de Jesus e, trocando “a vassoura pelo lápis”, se consolidou como uma das poetas negras contemporâneas de grande influência na literatura produzida nas periferias. Em 19 de abril deste ano, completou-se dois anos do falecimento da artista.

Além das performances, os episódios contam com entrevistas de familiares, amigas (os) e parceiras (os) de Tula Pilar. Entre as convidadas, estão: Suzi Soares, do Sarau do Binho – movimento literário que Tula participou ativamente, e Carmem Faustino, da editora Oralituras, que lançou uma antologia de Tula em 2019. Pedro Lucas e Dandara Pilar, filhos da artista, também participam da parte das entrevistas e orientam a pesquisa da websérie. 

Confira datas, horários e links de exibição da websérie 

Episódio 1 – Tula: corpo fogo, memórias da encruzilhada 

Dançado por Dina Maia e Letícia Munhoz, o episódio traz uma concepção coreográfica que narra a personalidade marcante de Tula, tendo a simbologia do fogo como elemento simbólico dos trajetos ancestrais de sua existência.

10 de maio, às 19h – Biblioteca Adelpha Figueiredo, acesse aqui.
11 de maio, às 19h – Centro de Referência da Dança, acesse aqui.

Episódio 2 – Tula: terra e ventre de cabaça 

Tula circulava pela cidade como vento, mulher que pulsava sua feminilidade com autonomia. Nesse episódio Rosângela Alves e Iolanda Costa dançam a liberdade de seus escritos, as dores, os amores e sua marca no cenário literário paulistano.

12 de maio, às 19h – Casa de Cultura Tremembé, acesse aqui.
13 de maio, às 19h – Casa de Cultura M’Boi Mirim, acesse aqui.
14 de maio, às 19h – Zona Agbara, acesse aqui.
15 de maio, às 19h – CITA, acesse aqui.
16 de maio, às 11h – Zona Agbara, acesse aqui.
16 de maio, às 19h – Zona Agbara, acesse aqui.
17 de maio, às 19h – Biblioteca Adelpha Figueiredo, acesse aqui.
18 de maio, às 19h – Centro de Referência da Dança, acesse aqui.
19 de maio, às 19h – Casa de Cultura Campo Limpo, acesse aqui.

Episódio 3 – Tula: A água da justiça 

No último episódio celebramos o legado de Tula, que é como água e escorre por diferentes espaços e territórios. Thais Dias e Evelyn Dayse dançam a representatividade feminina em todos os aspectos, destacando a sua maternidade, militância feminista e sua busca por justiça social.

20 de maio, às 11h – Zona Agbara, acesse aqui.
20 de maio, às 19h – Casa de Cultura Tremembé, acesse aqui.
21 de maio, às 11h – Zona Agbara, acesse aqui.
21 de maio, às 19h – Casa de Cultura M’Boi Mirim, acesse aqui.
22 de maio, às 18h – CITA, acesse aqui.
22 de maio, às 20h – Centro de Referência da Dança, acesse aqui.
23 de maio, às 19h – Casa de Cultura Campo Limpo, acesse aqui.
24 de maio, às 11h – Zona Agbara, acesse aqui.
24 de maio, às 19h – Biblioteca Adelpha Figueiredo, acesse aqui.