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Jornalista Aline Rodrigues lança campanha para pré-venda de seu primeiro livro infantil

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O livro infantil escrito pela jornalista é um convite para o acolhimento das crianças nos momentos de confusão de sentimentos, e para viabilizar a publicação, Aline lançou uma campanha para pré-venda do livro.

Aline Rodrigues, é mãe da Helena, educadora popular, jornalista e moradora do Campo Limpo, zona sul de São Paulo. Foto: Amanda Rodrigues

O livro “Meio sei lá o que”, escrito por Aline Rodrigues, traz histórias que buscam despertar conversas pós-leitura e a observação dos adultos para as necessidades que também são das crianças. Segundo a escritora, é um convite para o acolhimento das crianças nos momentos de confusão de sentimentos que precisam ser respeitados e escutados, com os ouvidos e corações abertos.

“Dialogar com o público infantil é algo que eu já faço há muitos anos, bem antes de ter a Helena, minha filha de seis anos. Gosto de saber o olhar das crianças sobre as coisas, de entender suas escolhas, seus sentimentos e de falarmos de diferentes assuntos sem nenhuma pretensão também.”

compartilha Aline Rodrigues, jornalista e autora do livro.

Escrever para as crianças foi sonhado pela autora há muitos anos, e todos os detalhes da produção foram pensados com a colaboração de muitas pessoas, e inclusive contou com apoio de sua filha Helena, que a inspirou nas inúmeras leituras que fizeram juntas. Aline faz questão que a pequena participe ativamente de todas as etapas desse projeto.

“Publicar esse livro é poder contar para o maior número de pessoas um pouco do que aprendi com as crianças. Acredito muito que uma sociedade que sabe acolher as demandas das crianças e se desprende de ter as necessidades somente dos adultos atendidas, naturalmente é uma sociedade melhor para todo mundo”, afirma Aline, e ressalta também que essa relação com o público infantil é garantia de aprendizado constante.

Sobre a publicação 

Para cobrir os custos de produção e publicação do livro, a autora lançou a pré-venda da obra através de uma campanha de financiamento colaborativo na plataforma Catarse. Quem apoia a campanha garante um exemplar antecipado do livro: https://www.catarse.me/seilaoque

Sabe aqueles dias ou até semanas em que não sabemos definir direito o que sentimos? “É meio, não sei, sei lá… É meio sei lá o que…”

Outro detalhe que a jornalista considera fundamental já em seu lançamento, é prever a versão em Libras e Audiodescrição da obra. A autora estuda libras há mais de cinco anos e busca tornar tudo o que faz o mais acessível possível. A acessibilidade está inclusa no orçamento do projeto publicado na plataforma de financiamento.

“Sou apaixonada por pensar a comunicação, sobretudo, uma comunicação que seja acessível para o maior número de pessoas, de diferentes perfis e necessidades. Então, quando pensei nesse projeto que é novo, que eu começaria do zero, entendi que era a oportunidade de já começar ele garantindo a acessibilidade.”

aponta Aline, lembrando que o Brasil tem mais de 10 milhões de pessoas com deficiência auditiva, muitas delas com surdez severa e que se comunicam fluentemente só com libras.

Além de leitora assídua de literatura infantil, Aline Rodrigues é mãe da Helena, educadora popular, jornalista e moradora do Campo Limpo, zona sul de São Paulo. Também é co-fundadora da Periferia em Movimento, onde atua há 12 anos no jornalismo de quebrada. Elabora, coordena e realiza encontros de aprendizagem entre palestras, rodas de conversa e cursos nas temáticas de jornalismo, direitos humanos, culturas, identidades, narrativas e memórias periféricas.

A primeira obra da autora conta com ilustração de Zerlo, diagramação de Ju Dias e publicação pela editora A Tenda. Para adquirir a obra na pré-venda, acesse: https://www.catarse.me/seilaoque

“Grupos oprimidos já estão sofrendo as consequências”, apontam articuladores sobre questões climáticas nas periferias

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Para Amanda Costa e Wellington Lopes, debater a agenda climática dentro das periferias é entregar ferramentas para os moradores entenderem seus próprios direitos, já que são os maiores afetados pelo racismo ambiental. 

Amanda articula ações na Brasilândia com o objetivo de promover uma metodologia que transforme o território. Foto: Johnny Miller

Desde 2011, o Brasil celebra no mês de março o Dia Nacional da Conscientização sobre as Mudanças Climáticas. Essa data é muito representativa para Amanda Costa e Wellington Lopes, jovens moradores de periferia que atuam e debatem a agenda climática dentro de seus territórios.

Amanda Costa, 25 anos, moradora da Brasilândia, zona norte de São Paulo, começou a se interessar pelo debate de questões climáticas em 2017, quando recebeu uma bolsa para representar a juventude brasileira na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, a COP 23.

“A partir do momento que eu ocupo aquele lugar e entendo a dinâmica do espaço, eu começo a me questionar: Por que esses homens brancos, héteros, cisgêneros, ricos estão falando como a crise climática vai impactar as pessoas jovens e pretas? Por que as pessoas jovens e pretas de quebrada, de periferia não estão nesse espaço?”

aponta Amanda sobre os questionamentos que se fez no início de sua atuação.

Quando voltou da Conferência, ela conta que teve sua percepção de mundo mudada e decidiu que ao invés de apontar os culpados no debate, iria se posicionar como mulher preta da Brasilândia que promoveria essa discussão.

“Eu assumi o ativismo climático como missão de vida e decidi que tudo que eu fizesse ia ter um cunho sustentável e ativista, nesse sentido da gente promover transformações sociais”, conta.

Contudo, Amanda relata que enfrentou algumas barreiras para a conscientização do debate dentro de seu próprio território. Ao chegar na Brasilândia e trocar ideia com os moradores, foi questionada:

– Amanda, você está falando da crise climática, do “ursinho polar” que vai ficar magrinho lá na Antártica, sério isso? A galera preta de quebrada está morrendo.

A ativista conta que assim começou a sua investigação para entender como poderia demonstrar que a galera preta de quebrada não está morrendo apenas de tiro, mas também por conta da comida cheia de agrotóxicos que chega ao seu prato, por exemplo.

“A gente está morrendo porque as temperaturas na favela estão aumentando e a população idosa sofre [por exemplo]. Então como que eu mostraria que esse genocídio não é só morte por tiro, né? Mas é toda a lógica de exclusão, de silenciamento, de opressão que faz com que as nossas vidas, vidas pretas e periféricas sejam ceifadas por esse sistema”

afirma Amanda, que a partir do entendimento dessas questões e do que ela poderia fazer, começou o debate com os moradores.

Após a COP23, Amanda tomou a decisão de se tornar uma ativista climática e debater o tema na Brasilândia e em outras periferias.  Foto: Johnny Miller

Atualmente, ela é diretora executiva na Perifa Sustentável, organização que criou para mobilizar a juventude em prol de uma agenda de desenvolvimento a partir da justiça racial e ambiental, e atua como vice curadora da Global Shapers, uma iniciativa do Fórum Econômico Mundial, composta e liderada por jovens entre 20 e 30 anos de idade.

A crise climática vivida no dia a dia 

Outro jovem ativo no debate de questões climáticas é Wellington Lopes, 25 anos, morador de Poá, zona Leste de São Paulo. Ele atua na Uneafro e lida diretamente com dois projetos que envolvem o tema: um de educação alimentar que estimula a alimentação sem agrotóxicos, e outro com os centros meteorológicos instalados nos núcleos para medir a temperatura e qualidade do ar de algumas regiões, além de uma horta comunitária que fornece alimentos para a campanha “Tem Gente Com Fome”.

“Eu tinha uma noção de crise e agenda climática muito parcial. Quando você começa a se aprofundar nos temas fica muito em choque de como a pauta climática atravessa todas as relações urbanas e rurais a longo prazo”, aponta Wellington. Para ele, o envolvimento dos moradores e da sociedade para entender a importância do debate das questões climáticas acontece de forma gradual, assim como foi com ele.

“Quando a gente começa a discutir sobre a instalação de centros meteorológicos, a gente entende que o desmatamento no Pantanal e na Floresta Amazônica gerou uma mudança dos fluxos dos rios e isso muda o padrão de chuva, então os lugares que já choviam bastante, vão chover num volume maior num curto período de tempo”

analisa.

Aparelho utilizado para medir a temperatura e qualidade do ar. Foto: Wellington Lopes

A partir desse fato, ele começou a olhar como essa questão impactava seu próprio bairro, a Cidade Kemel, e entendeu os motivos que fazem o território alagar com chuvas fortes. “Poá sempre tem muita enchente, chove e todo mundo fica desesperado de correr pro centro. Sobe o nível da água de cobrir as lojas”, diz.

Ele conta que quando situações desse tipo acontecem, os próprios moradores se mobilizam para acolher quem teve a casa alagada. Porém, essa mobilização acontece apenas no primeiro momento da situação, depois essas pessoas ficam sem respaldo algum para saber onde irão morar e como irão conquistar novamente aquilo que perderam. 

Para Wellington, é aí que o debate de questões climáticas se faz mais necessário: “Debater isso na periferia é fazer com que a senhora que perdeu tudo numa enchente, busque grupos e movimentos sociais que possam fazer com que ela entenda que na verdade ela poderia buscar alguma outra alternativa”, aponta, fazendo referência aos movimentos sociais, mas também a necessidade de políticas e suporte diretamente do poder público.

“Acho que é isso que a gente mais precisava: primeiro criar políticas públicas que reduzissem o impacto climático e segundo debater sobre como a gente precisa criar mecanismo de combate a todas essas ações nocivas da indústria do agronegócio, da agropecuária e a maneira como elas impactam as periferias”

enfatiza o cientista social. 

Para Amanda e Wellington, a discussão das questões climáticas dentro das periferias está ligada à importância de entender como o racismo ambiental já impacta os moradores da quebrada, situação que não é novidade nas periferias.

“A crise climática vai impactar todo mundo, mas não na mesma proporção, não ao mesmo tempo, não da mesma forma. A galera que está num grupo mais oprimido dentro de um sistema, já está sofrendo essas consequências”

exprime Amanda.

Eles elencam quatro principais formas que o racismo ambiental impactam os territórios periféricos:

  • Chuvas em maior volume;
  • Poluição do ar que tem gerado muitos problemas respiratórios na população;
  • Alimentação e a necessidade de barrar a agenda de agrotóxicos que trazem diversos problemas de saúde;
  • Poluição dos rios que está conectada diretamente com a segregação socioespacial, que diz quem são as pessoas que estão nas áreas com menos árvores e mais poluição.

“Pensar nesse racismo climático e como ele impacta a quebrada, é pensar em todo um histórico que colocou as pessoas pretas muito atrás desse ponto de partida”

ressalta Amanda.

“Ontem choveu e alagou tudo”: moradores se unem para enfrentar enchentes

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Com as fortes chuvas que vêm ocorrendo nos meses de janeiro, fevereiro e março, moradores afirmam que não conseguem esperar por atendimento de serviços públicos e se unem para resolver as demandas locais causadas pelas enchentes. 

Foto: Flávia Santos

 Os moradores do bairro Vila Gilda, localizado na beira da represa Guarapiranga, zona sul de São Paulo, enfrentam diariamente a preocupação com o impacto das chuvas no território, que promovem o fechamento do comércio local e a perda de móveis, sempre que a água invade as casas da região.

“Quando chove alaga a rua e entra água em algumas casas, e tem muita sujeira”, afirma a estudante Gabryely Rodrigues, 18, relata que as chuvas transformam a paisagem do bairro, levando grande quantidade de lixo para as ruas e casas.

A jovem conta que a qualquer sinal de chuva, a família dela fica em alerta, porque eles moram na última casa, o conhecido fim de rua na quebrada, e possuem uma lanchonete na garagem do imóvel, fator que aumenta os cuidados para impedir a entrada da água dentro de casa.

“Esses dias meu pai arrumou o encanamento porque entra água em tudo. Antes de ontem choveu e alagou tudo. Toda vez que chove, se for pouca ou muita chuva, o bueiro enche e a água desce toda pra cá, porque é a última casa da rua”, explica a estudante.

Foto: Flávia Santos

Morando há 20 anos no Vila Gilda, Gleica Andrade, ressalta que vivencia problemas semelhantes e diz que as fortes chuvas têm gerado a união entre os vizinhos.

Segundo ela, a maioria dos moradores acaba tendo que se juntar para limpar os bares e comércios da região, única fonte de renda de alguns vizinhos, que são bem afetados pelo lixo arrastado pela água.

“Os bares aqui ao lado todos sofrem, a parte ali na frente alaga, tem um outro que alaga dentro do bar, e até mesmo dentro da casa. Então assim, realmente aqui temos esse problema”, explica Gleica.

 Pelo fato do Vila Gilda estar localizado em uma área de manancial, a situação de quem mora na região se complica ainda mais, quando eles tentam realizar um pedido de manutenção da tubulação de água e esgoto do bairro para os órgãos públicos responsáveis.

“Por aqui ser uma área manancial, como eles (órgãos competentes) alegam, eles falam que não tem o que fazer, só que na verdade tem. O problema é: ou o proprietário faz, ou ninguém faz. O pessoal se une, cada um faz sua parte”

relata Gleica. 

A integrante do Fórum Fundão das Águas, Vera Luz, professora e pesquisadora de questões ligadas à moradia e meio ambiente, aponta que há um conflito social na região ligado à ocupação de terrenos às margens da represa Guarapiranga.

“Existe um conflito difícil de resolver, que é o direito à moradia e o direito ao meio ambiente. Porque a área da represa é uma área de mananciais, é um decreto legal. A ocupação desta área segue uma série de regras específicas”, argumenta Vera.

Ela explica que existem muitas questões que já foram e que ainda devem ser discutidas referente a realidade da população, que mora à beira da represa ocupando espaços considerados mananciais e de preservação ambiental, mas que possuem o direito de moradia e ter uma casa por lei.

“Está acontecendo um problema de habitação, que no caso ela tem que ser regularizada porque não está sendo suprida. Todos têm direito para morar, mas o Estado não faz o que a Constituição manda”, pontuou a pesquisadora.

Vera também disse que há anos atrás quando esses espaços foram começando a serem ocupados pela população, um debate foi iniciado, onde os pesquisadores colocaram em pauta o fato do salário de um cidadão não ser o suficiente para pagar uma casa de boa qualidade e num local também considerado melhor para morar com sua família, por isso muitas dessas pessoas passaram a morar nessas áreas, por se tratar de um custo melhor.

“As pessoas não vão ocupar espaços mananciais por acharem bonitinho, mas porque o seu dinheiro não paga. Então é um problema também relacionado à capital de trabalho”, finaliza.

Jogos online ameaçam cultura de empinar pipa nas periferias

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Comunidades virtuais formadas por crianças e adolescentes têm reduzido drasticamente o convívio presencial e coletivo nas periferias e favelas, impactando a existência de brincadeiras como a cultura de empinar pipa.

Morador empina pipa no Jardim Monte Azul, zona sul de São Paulo(Foto: DiCampana Foto Coletivo)

“É época de pipa, o céu tá cheio, 15 anos atrás eu tava ali no meio”, canta Mano Brow na icônica música ‘Fórmula Mágica da Paz, a faixa 11 do disco Sobrevivendo no Inferno, lançado em 1997, considerado um dos principais trabalhos artísticos do Racionais Mc´s.

Quase três décadas depois do lançamento desta música que provocou uma série de reflexões sociais e políticas nos próprios moradores sobre o impacto da violência policial no cotidiano das periferias e favelas do Brasil durante a década de 90, muitos aspectos daquela época ainda permanecem atuais, como por exemplo o genocídio da juventude negra.

Além de narrar o contexto sobre a violência urbana vivenciada principalmente nas periferias e favelas da zona sul de São Paulo, como nos territórios do Capão Redondo e Jardim São Luís, a música Fórmula Mágica da Paz também descreve a marcante cultura de soltar pipa, uma brincadeira simples, comum e presente na vida das crianças, jovens e adultos da quebrada que enchiam os céus das periferias, até a popularização do acesso ao celular.

Observar os céus das periferias e favelas de São Paulo durante as férias escolares que acontecem nos meses julho, dezembro e janeiro, e vê-lo vazio, com poucos ou nenhum pipa no ar tem sido doloroso, pois a cultura de soltar pipa faz parte da minha formação cultural como sujeito periférico.

A brincadeira que atravessa gerações de famílias vem correndo sérios riscos de ser extinta, graças ao avanço do entretenimento digital, que prende principalmente a atenção das crianças dentro de casa e as impede de construir vínculos comunitários e coletivos em ambientes físicos com outras crianças e adolescentes.

Esse é um dos principais legados da cultura de soltar pipa nas periferias: promover o vínculo comunitário, afetivo, social, respeito e principalmente a diplomacia entre as crianças e adolescentes que não se conhecem, que muitas vezes se desentendem por causa da brincadeira, fato que promove a cultura do diálogo, para que elas mesmas consigam resolver suas questões.

As tradicionais brigas entre crianças e adolescentes da rua de cima e da rua de baixo por causa de uma laça desleal, envolvendo o famoso ‘corta na mão’, estão deixando de existir. Uma vez que essa possibilidade de conflito, convivência e aprendizado é reduzida ou quase exterminada, por conta do consumo de entretenimento digital, o processo de desenvolvimento interpessoal das crianças é impactado de forma negativa.

As lajes da quebrada 

As lajes das periferias e favelas e os poucos terrenos baldios que restam na quebrada já não são ocupados por diversos grupos de crianças e adolescentes para soltar pipa, eliminando o ritual de realizar de forma coletiva as coleções de pipas e linhas, bem como a experiência de fazer rabiola juntos e de enrolar a linha nas latas de óleo e leite ninho.

Mas quais fatores sociais, culturais e tecnológicos têm causado o abandono da cultura de soltar pipa na quebrada?

O princípio desta resposta passa pelo fenômeno da construção de plataformas de jogos eletrônicos que simulam a brincadeira de soltar pipa e que também propõe a formação de comunidades virtuais que propõem substituir o encontro presencial entre crianças e adolescentes, tornando o jogo um mediador das relações entre esse público.

O celular é o dispositivo mais utilizado para acessar esses jogos. Entre eles, está o Pipa Combate, um simulador da brincadeira de soltar pipa com 50 milhões de downloads, que oferece uma experiência bem próxima da realidade, para os usuários realizarem laças entre outros jogadores.

O jogo também oferece a possibilidade de construir comunidades virtuais para realização de festivais de combate de pipa online, tornando possível construir grupos de até oito jogadores. Desta forma, é comum surgirem grupos de crianças e adolescentes que se conhecem por meio do jogo e constroem vínculos cibernéticos, a partir desta experiência.

Crianças brincam com o cano de pvc com bexiga na Favela do Fim de Semana, Jardim Sao Luis, Zona Sul de São Paulo. (Foto: DiCampana Foto Coletivo)

Plataformas do brincar 

Mas não é só o Pipa Combate que vem impactando a cultura de soltar pipa nas periferias. Com mais de 1 bilhão de downloads, o Free Fire é um jogo que também permite a possibilidade de construir comunidades virtuais entre os jogadores. As crianças e adolescentes da quebrada adoram esse jogo.

Nos anos 90, a brincadeira de ‘Polícia e Ladrão’ movimentou os becos e vielas da quebrada, onde as crianças usavam canos de pvc acoplados com bexigas para atirar mamonas ou caroços de feijões em seus adversários. Era uma febre nas periferias e favelas, pois permitia a criação de pequenas armas.

E os grupos de crianças e adolescentes que brincavam de ‘Polícia e Ladrão’ eram exatamente os mesmos que terminavam de soltar pipa ao cair da tarde, e partiam para brincar com as arminhas de cano de pvc nas ruas no entorno de suas casas.

De maneira coletiva e num plano digital, os jogadores saem das ruas do seu bairro e vão para as ruas ambientadas no jogo online, desta forma, o Free Fire reproduz essa cultura do brincar, agregando uma série de características que tornam o jogo bastante atraente no universo da cultura gamer.

Esses dois exemplos de entretenimento digital para crianças e adolescentes representam uma pequena demonstração do que está acontecendo neste momento nas periferias e favelas do Brasil, em relação às mudanças de comportamento da infância e da juventude no contexto de brincadeiras tradicionais que estão desaparecendo, como a cultura de soltar pipa.

*Ronaldo Matos é jornalista, educador, pesquisador de tecnologias da informação e comunicação em contextos de periferias urbanas, e editor do portal de jornalismo periférico Desenrola E Não Me Enrola.

“Empreender sozinha é difícil”: projeto seleciona mulheres para receber formação cultural gratuita

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Com inscrições abertas até esta sexta-feira (25), o Conexões PeriFeira de Mulheres irá contemplar 30 mulheres periféricas para um ciclo formativo online.  Além de receber apoio para acessar internet, as participantes poderão expor seus trabalhos em uma feira cultural no final do projeto.

Foto: Divulgação

Nesta sexta-feira (25), encerra o período de inscrições para participar do Projeto Conexões PeriFeira de Mulheres,  iniciativa da Feira Agroecológica e Cultural de Mulheres no Butantã, que vai selecionar 30 artistas ou empreendedoras, moradoras de regiões periféricas da cidade de São Paulo.

Com apoio do Programa VAI (Valorização de Iniciativas Culturais), o projeto dará prioridade para selecionar mulheres que são mães, indígenas, negras, imigrantes e LGBTQIA+ para um ciclo formativo virtual gratuito com duração de três meses. As selecionadas receberão um chip de celular com um pacote de dados contento sete gigas mensais e terão acesso ilimitado ao Whatsapp para uso e acesso às atividades oferecidas.

O projeto prevê a realização de um ciclo de formação composto por quatro encontros temáticos e quatro reuniões de organização coletiva da feira que será realizada no final do projeto. Além disso, serão oferecidas 12 oficinas culturais, em formato de lives, abertas ao público em geral.

“A partir da minha experiência como artesã, sendo uma mulher periférica da zona sul, trago muitas impressões sobre os desafios de expor o meu trabalho. Hoje eu vejo que a maior dificuldade para mim no começo era sentir que eu não tinha uma rede de apoio”, comenta Thamata Barbosa, uma das organizadoras do Conexões PeriFeira de Mulheres.

Foto: Divulgação

Segundo ela, o Conexões pode trazer uma contribuição à vida dessas mulheres como uma referência de auto-organização coletiva, de uma rede que se apoia e se fortalece.

“Se eu não fosse a proponente, facilmente eu me inscreveria. Empreender sozinha é muito difícil, ainda mais para mulheres periféricas que estão inseridas em vários contextos de desigualdades. Por isso, acredito na importância dessas conexões e fico muito feliz com o lançamento desse projeto de construção de mais uma experiência conjunta e solidária de comercialização”, diz a artesã.

Ao final da formação, será realizada uma feira cultural no Butantã. A PeriFeira de Mulheres será presencial, totalmente gratuita e sem taxas para as expositoras, que também irão receber ajuda de custo para transporte e alimentação no dia do evento. Para participar, as produtoras deverão comprovar 75% de frequência nos encontros virtuais.

Foto: Divulgação

O projeto pretende gerar oportunidades para que mais mulheres se organizem em rede, e através dos princípios de autogestão e economia solidária participem ativamente da construção dos processos de comercialização e produção de uma feira cultural, estimulando a troca de saberes e experiências e fortalecendo a constituição de redes solidárias.

Além disso, o processo busca promover integração entre artistas e empreendedoras periféricas transgredindo a lógica de competição capitalista e patriarcal e convidando todas a buscarem alternativas conjuntas. Nesse sentido, as formações têm como base a educação popular, o diálogo e a troca de experiências para horizontalizar as relações.

As atividades virtuais do Ciclo Conexões serão sempre às quintas-feiras, das 19h às 21h30, e começam no dia 23 de junho. Será emitido certificado de participação a quem tiver no mínimo 75% de presença nos encontros. A Feira construída pelas participantes está prevista para acontecer em 21 de agosto de 2022.

Foto: Divulgação

  Protagonismo feminino

Desde de 2017,  a Feira Agroecológica e Cultural de Mulheres no Butantã atua como um coletivo engajado em promover a visibilidade e o protagonismo de mulheres em um evento mensal de comercialização solidária e promoção cultural. 

A rede é composta por pequenas empreendedoras, agricultoras familiares, cozinheiras e produtoras de alimentos agroecológicos, além de artistas, artesãs, costureiras e arte-educadoras e, atualmente, o coletivo conta com cerca de 50 empreendimentos cadastrados, todos iniciativas de mulheres oriundas de diferentes contextos culturais e regiões do município de São Paulo e de seu entorno.

“A Feira é um espaço de formação e de ocupação política e cultural do bairro desde o início. Aprendemos na prática o que é uma feira de mulheres: um espaço em que crianças também se sintam acolhidas, que gere renda, dê protagonismo às mulheres como produtoras, que traga os movimentos sociais e paute a agroecologia. A gente não se considerava feminista no começo, mas fomos nos formando assim”, diz Ana Luzia Laporte, coordenadora pedagógica do Conexões PeriFeira e foi uma das fundadoras da Feira.

Mais que uma oportunidade de comercialização de produtos e geração de renda, o coletivo é também um espaço permanente de acolhimento, empoderamento, formação e deliberação coletiva, em que cada uma das mulheres participa ativamente das etapas de planejamento, produção e execução do evento, valorizando assim a diversidade que caracteriza o coletivo, e praticando os princípios que o fundam: economia solidária feminista, autogestão e agroecologia.

Teatro na quebrada: confira espetáculos que acontecem nos próximos dias

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 Selecionamos alguns espetáculos que acontecerão nas periferias de São Paulo até o mês de abril.

Espetáculo Pérsia. Foto de Marco Aurélio Olimpio.

Com o avanço da vacinação, e com todos os cuidados ainda necessários, algumas atividades presenciais de arte e cultura estão retomando as atividades presenciais. Por isso, selecionamos alguns espetáculos de teatro de grupos das periferias de São Paulo, que acontecerão nos próximos dias, todos com entrada gratuita.

Lembre-se: mesmo com a flexibilização do uso das máscaras, é importante e fundamental manter os hábitos de higienização das mãos com álcool em gel, vacinar as crianças de 05 a 11 anos e ponderar o uso das máscaras, mesmo com a liberação. 

Espetáculo “Pérsia” 

Espetáculo “Pérsia”, Grupo Sobrevento. Foto de Marco Aurélio Olimpio

O espetáculo Pérsia foi criado ao longo de 2021, e procura estabelecer conexões entre a cultura brasileira e a persa, especialmente nos campos do Teatro e da Música. Ao longo do espetáculo, os personagens que atravessaram continentes em busca de novas paisagens, confessam seus medos, seus sonhos, suas aflições, em palavras ditas e cantadas. A peça procura elos entre dois povos e mostra que existem desejos comuns de liberdade, de alegria e de resistência.

O Grupo Sobrevento esteve em Teerã (capital do atual Irã), em 2010, em um dos maiores festivais de Teatro do mundo, o Fajr Festival (Festival Liberdade). Naquela ocasião, o grupo conheceu a vitalidade do teatro naquele país, com uma Cultura milenar de origem persa.

A montagem fica em cartaz até 1 de maio, com apresentações sextas e sábados, às 20h30, e domingos, 20h. A entrada é gratuita e é possível reservar ingressos pelo email: info@sobrevento.com.br.

Classificação indicativa: 14 anos – Grátis Endereço: Rua Coronel Albino Bairão, 42 – Metrô Bresser, São Paulo, SP.

Espetáculo “Esquadrão Bombelhaço” 

Espetáculo “Pérsia”, Grupo Sobrevento. Foto de Marco Aurélio Olimpio

 Em 2022, o Circo Teatro Palombar, grupo que nasceu no bairro Cidade Tiradentes, comemora dez anos. Para celebrar a data, a trupe circense inicia uma mostra que começa com apresentações exatamente no bairro onde foi criado e bairros próximos na Zona Leste de São Paulo.

O primeiro espetáculo da mostra é “Esquadrão Bombelhaço”, que será apresentado na Cidade Tiradentes gratuitamente. Baseado em desenhos animados, “Esquadrão Bombelhaço” não possui falas e abusa de elementos cômicos como cascatas, quedas, tombos, pontapés e tropeções, além de malabarismos e manipulação de objetos, em técnicas de acrobacias cômicas e aéreas através do equipamento pizza.

Data: 26 de março de 2022 (sábado) – Horário: 16h00

Classificação indicativa: Livre – Grátis

Endereço: Comunidade Jardim Maravilha, Rua Apóstolo Simão Pedro, 236 – Cidade Tiradentes, Zona Leste, São Paulo – SP, 08475-260 

Espetáculo “Florilégio” 

Espetáculo “Florilégio” com Grupo Pombas Urbanas

Impulsionado por histórias de vida de diversas pessoas que moram no bairro Cidade Tiradentes, incluindo os artistas do próprio Grupo Pombas Urbanas, e pelo verbo “esperançar” de Paulo Freire, o espetáculo “Florilégio”, busca aproximar o público de memórias, sonhos, obstáculos a serem superados e de desejos esperançosos para um amanhã possível.

Com duração de 60 minutos, o espetáculo “Florilégio” procura demonstrar o quão potente é o poder de luta e transformação de um ser e que, apesar dos desafios em toda existência, ainda é possível acreditar mais na sabedoria da vida.

Classificação indicativa: Livre – Grátis

Quando: 23 a 26 de março de 2022 (quarta-feira a sábado) – Horário: 20h00

Endereço: Centro Cultural Arte em Construção, Av. dos Metalúrgicos, 2100 – Cidade Tiradentes, São Paulo – SP, 08471-000 – Telefone (11) 99901-0785 / (11) 2285-5699

Mostra “Teatro em Trânsito” 

Pirajussara: Vozes à margem, com Bando Trapos faz parte da Mostra Teatro em Trânsito. Foto de Will Cavagnolli.

O projeto “Teatro em Trânsito”, idealizado pela CTI – Cia. Teatro da Investigação, chega à sua segunda edição e tem espetáculos até 24 de abril de 2022. Serão 16 apresentações, em oito endereços da cidade, realizados por oito coletivos parceiros.

“Teatro em Trânsito” tem dois movimentos: a circulação dos trabalhos artísticos nas periferias da cidade de São Paulo e o intercâmbio entre grupos de teatro participantes, com sessões tanto na sede da CTI – Teatro Baile (na Vila Ré, zona leste) como nas sedes ou nos espaços escolhidos dos coletivos parceiros.

A entrada é gratuita e os ingressos deverão ser retirados uma hora antes de cada sessão, nos locais das apresentações. As informações com toda a programação, horários e locais estão em www.teatrobaile.com.


Agenda da mostra:
 

Mitos e Lendas Caiçara, com a Cia. O Castelo das Artes
26 de março de 2022, sábado, 20h
Sede CTI – Teatro-baile (Rua Oti, 212 – Vila Ré)

27 de março de 2022, domingo, 11h
Centro Cultural Arte em Construção (Av. dos Metalúrgicos, 2100 – Cidade Tiradentes)

O espetáculo mostra a simplicidade dos modos de viver, falas e costumes. São usados sotaques e expressões antigas dos povos caiçaras que se perderam com o tempo. De forma lúdica e divertida, a Cia. O Castelo das Artes traz histórias contadas por caiçaras, passadas de pais para filhos, registradas em livros. “Mitos e Lendas Caiçara” traz a cultura tradicional aos palcos para valorizar o saber popular e a oralidade típica da região a beira mar.

Classificação indicativa: Livre – Grátis


Pirajussara: Vozes à margem, com Bando Trapos 

2 de abril, sábado, 20h
Sede CTI – Teatro-baile (Rua Oti, 212 – Vila Ré)

7 de abril de 2022, quinta-feira, 20h
Casa de Teatro – Maria José de Carvalho (Rua Silva Bueno, 1533, Ipiranga)

Pirajussara: Vozes à margem apresenta releituras de histórias de moradores da região de Campo Limpo e Taboão da Serra em fragmentos criados pelos atores do Bando Trapos – cada qual utilizando seu repertório – em período de afastamento social. As histórias, ora encenadas por bonecos, ora com música e movimento dos atores e atrizes, vão sendo entrelaçadas por aparições de Pirajussara, uma mulher-cabocla-rio que caminha cortando a divisa de cidades trazendo para essas narrativas o seu olhar de natureza.

Classificação indicativa: Livre – Grátis

Ação cênica sobre a atual pesquisa do grupo sobre o Cárcere, com Companhia de Teatro Heliópolis 

14 de abril de 2022, quinta-feira, 20h30
Sede CTI – Teatro-baile (Rua Oti, 212 – Vila Ré)

19 de abril de 2022, terça-feira, 20h
Trapos Espaço Cultural CITA (Rua Aroldo de Azevedo, 20 – Campo Limpo)

O grupo fará uma ação cênica com apresentação de cenas sobre o tema da atual pesquisa do grupo “Cárcere- Aprisionamento em Massa e seus Desdobramentos”.

Classificação indicativa: 12 anos – Grátis

Menina Bonita do Laço de Fita em Ritmo de Palhaçaria, com Companhia de Teatro Flor do Asfalto

16 de abril de 2022, sábado, 20h
Sede CTI – Teatro-baile (Rua Oti, 212 – Vila Ré)

17 de abril de 2022, domingo, 16h
Refinaria (R. João de Laet, 1507 – Vila Aurora)

O conto “Menina Bonita do Laço de Fita”, escrito por Ana Maria Machado, fala sobre a relação de admiração entre um coelho branco e uma menina negra. Nessa livre adaptação criada pela Cia Flor do Asfalto, três palhaços buscam uma forma de ganhar dinheiro. Eles encontram o livro de Ana Maria Machado e decidem contar a história ao público. Abordam sobre racismo estrutural e ancestralidade, para a desconstrução do preconceito e para a construção da auto estima da criança negra.

Classificação indicativa: Livre – Grátis

Compendiado Refinaria, com Refinaria Teatral

23 de abril de 2022, sábado, 20h
Sede CTI – Teatro-baile (Rua Oti, 212 – Vila Ré)

24 de abril de 2022, domingo, 16h
Reação Arte e Cultura (Rua Giácomo Quirino 76 – Conjunto José Bonifácio)

Quatro encenações, quatro obras, quatro personagens, com uma mesma atriz. Compendiado Refinaria constitui a apresentação de uma cena da obra “Yeong-Gam”, uma de “Meid In Brazilian”, uma de “Porque as mulheres choram” e uma de “Espelho”.

Classificação: 14 anos – Grátis 

Festival “Fotografia em Tempo e Afeto” debate sobre meio ambiente para além da ideia de Amazônia

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 A 5ª edição do festival possui o tema “Meu Meio é o Meio Ambiente”, e neste ano acontece em formato híbrido, com ações presenciais em Porto Velho (RO) e atividades virtuais para todo Brasil.

Fotografia coletiva de Cayo Aguiar e Tays Chaves

 Até o próximo domingo, dia 27, é possível conferir a 5ª edição do Festival Fotografia em Tempo e Afeto, uma maratona de composições visuais idealizada pela fotógrafa Marcela Bonfim, que busca captar em suas lentes a diversidade e a presença negra na Amazônia.

A mostra foi produzida a partir de galerias disponibilizadas pelas ruas de Porto Velho, em formato de lambe-lambe, e disponibilizadas em uma plataforma online. Mais de 130 artistas e ativistas participaram pensando e compondo a visualidade em conjunto com a cidade.

“Temos a consciência dos males que os estigmas e regimes de invisibilidade significam em nossa região, quando percebemos, por exemplo, homens e mulheres desaparecendo dentro do meio ambiente. É o caso dos povos indígenas, populações negras e quilombolas”, aponta Marcela Bonfim, idealizadora do festival que acontece desde 2017. 

“Por isso, a fotografia é também uma forma potente de discutir as questões políticas da região amazônica, principalmente destacando a forma de refletir de quem é de dentro da região e questionando as reflexões externas”

Marcela Bonfim

O evento é fruto de um trabalho coletivo com obras de diversos artistas, como Aline Motta (SP), Ana Lira (PE), Eder Lauri (RO), Gal Cipreste Marinelli (RJ), Lia Krucken (BA), Marcela Bonfim (RO), Paula Sampaio (PA), Pi Suruí (RO), Rodrigo Masina Pinheiro (RJ), Rogério Assis (PA) e Washington da Selva (BA).

Toda a exposição resultará em um catálogo, que será lançado no domingo, 27 de março, e ficará disponível gratuitamente no site do festival.

No site é possível acompanhar o resultado das ações que foram lançadas e aconteceram no início de março: tour virtual pela montagem das galerias de artes visuais nas ruas de Porto Velho, performances e exposição online

Meu Meio é o Meio Ambiente 

Um dos objetivos do festival é mostrar a fotografia como uma ferramenta de poder, tanto na economia quanto na política. Neste ano, o festival busca exercitar formas de se pensar o “meio ambiente” para além da ideia de Amazônia, referenciando a imagem como escuta, diferenciando das formas tradicionais de se comunicar a fotografia, as questões sociais, políticas e ambientais.

Para a fotógrafa, idealizadora e organizadora do evento, Marcela Bonfim, a fotografia também é uma forma de discutir as questões amazônicas evidenciando as reivindicações dos povos da própria região.

“Praticar o exercício comunitário da composição, prezando pelo sentido do acesso e da inclusão, tem sido a aposta e também a certeza do Festival. Queremos expandir a consciência visual e desmistificar os códigos que interferem em nossa visualidade, como também das diversas e múltiplas Amazônias, que se constituem apenas por habitar o seu meio”, finaliza.

 Serviço: Festival Fotografia em Tempo e Afeto

Quando: 27 de Março de 2022 (domingo), às 20h

Ação: Lançamento do Catálogo On – https://www.fotografiaemtempoeafeto.com/


Mais informações: Site, InstagramYoutube.

“A gente compra com frequência”: água vira mercadoria às margens da represa Guarapiranga

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Sem o fornecimento de água garantido, comprar água em mercados da região e unir forças com vizinhos tem sido uma forma de sobreviver para os moradores do bairro Vila Gilda.

Nesta terça-feira (22), é celebrado o Dia Mundial da Àgua, mas para moradores das periferias e favelas, a data não é tão comemorativa assim. O motivo: o fornecimento de águas nos territórios periféricos está sendo gravemente afetado por empresas públicas que deveria garantir esse direito.

Nos mercados do bairro Vila Gilda, território localizado às margens da represa Guarapiranga, na zona sul de São Paulo, o Desenrola apurou que o preço da garrafa de água com 500ML varia entre R$2,59 e R$3,30. E os galões de 20L custam entre R$24,99 e R$31,00. A diferença nos preços depende da marca que produz e distribui os produtos no comércio da região.

“A gente compra com bastante frequência o fardo fechado para fazer comida, limpar a casa, e fazer os doces da lanchonete, porque a gente não consegue comprar o galão, então a gente gasta bastante com essas garrafas menores ou aquelas de dois litros”, relata a estudante Gabryely Rodrigues, 18, que mora no bairro Vila Gilda, numa rua em frente a represa Guarapiranga.

“Fiquei uma semana sem ir pra escola”

Gabryely Rodrigues é estudante e mora no bairro Vila Gilda.

Para complementar a renda da família durante a pandemia de Covid-19, os pais de Gabryely decidiram transformar um cômodo da casa onde moram no Vila Gilda, em uma lanchonete. Deste então, a falta de água na região tem dificultado manter o negócio funcionado.

Além disso, a falta de água no bairro tem afetado também a rotina escolar da estudante. “Fiquei uma semana sem ir pra escola”, conta ela, afirmando que de uns tempos para cá, a falta de água tem virado uma rotina que chega a durar dois dias consecutivos.

A estudante revela que a família e vizinhos consomem a água que vem direto na torneira, fato que faz ela perceber algumas mudanças negativas, como cheiro forte e mudança na coloração. “Dois vizinhos daqui da rua ficaram com mal estar uns dois dias, após beber dessa água”, conta a jovem. 

“O problema é: ou o proprietário faz, ou ninguém faz. O pessoal se une, cada um faz sua parte”

Gleica Andrade é vizinha Gabryely e reside há 20 anos no bairro Vila Gilda. 

Outra moradora que enfrenta o descaso da SABESP com o fornecimento de água na região é Gleica Andrade, moradora que reside há 20 anos no bairro Vila Gilda, localizado às margens da represa Guarapiranga.

Segundo a moradora, o tormento começa quando ela faz a solicitação do serviço para restabelecer a distribuição de água para ela e os seus vizinhos, pois o chamado não é atendido rapidamente ou tratado com prioridade. “Tudo que acontece dali da ponte do Aracati pra cá, que é a redondeza da represa, a gente não é atendido de imediato”, desabafa ela.

Ela diz que os problemas de quem mora na região vai muito além do fornecimento de água e ressalta que mora num bairro esquecido pelo poder público. “Por aqui ser uma área manancial, como eles (órgãos competentes) alegam, eles falam que não tem o que fazer, só que na verdade tem. O problema é: ou o proprietário faz, ou ninguém faz. O pessoal se une, cada um faz sua parte”, enfatiza a moradora.

Ela complementa afirmando que essa união dos moradores é fruto do não atendimento do órgãos responsáveis pelo fornecimento de serviços ligados ao funcionamento e manutenção das redes de água e esgoto da região, pois a cada novo chamado para resolver problemas, a população local não é atendida.

Água como mercadoria 

Segundo a educadora e integrante da Coalizão Pelo Clima, Nara Lasevicius,30, o poder público está precarizando o direito à água nas periferias.

Como exemplo deste cenário, ela citou uma ação do coletivo que aconteceu no início da pandemia, em 2020, onde foram mapeados uma série de bairros nas periferias de São Paulo, que estavam tendo ao mesmo tempo a falta d’água.

Naquela fase da pandemia, estavam sendo adotadas as primeiras medidas cruciais de higienização em prol de evitar a proliferação da Covid-19, então havia uma dependência fundamental do acesso à água. Foi nesse processo que a Coalizão Pelo Clima descobriu uma série de bairros que estavam com dificuldades no acesso à água de qualidade.

“A gente levou isso para o poder público, para que pudessem regularizar a distribuição de água. E trouxe ali alguns ganhos, embora a gente saiba que essa questão da água, ela vem passando por um processo de muita precarização do serviço nos últimos 8 anos que é quando parte da Sabesp foi comprada”, explica Nara.

O termo “Justiça Ambiental” foi o que Nara citou durante entrevista, trazendo uma reflexão de como as questões ambientais afetam os moradores das periferias que se encontram em situação de vulnerabilidade social, pois tudo depende de onde você mora, como mora e porque mora naquele local em específico e as consequências também são específicas e desiguais.

“É comprovado que as tragédias ambientais, as mudanças climáticas, todos esses problemas voltados ao meio ambiente, afetam de forma diferente e específica as populações mais vulneráveis socialmente”, pontuou.

A Coalizão Pelo Clima possui como motivação principal a luta pelo direito à água, pois as grandes corporações atuam para transformar esse recurso essencial à vida em uma mercadoria. “Tem direção ofensiva dessas grandes corporações, no sentido de negar explicitamente que a água seja um direito humano, e que por isso ela poderia ser comercializada”, expôs Nara.

Nara também pontuou que na maioria das vezes, são essas corporações que estão por trás de fóruns e eventos importantes que decidem sócio e economicamente para que lugar será levada e de que forma a água será manipulada dentro da sociedade.

Reabertura do parque Jardim Helena gera benefícios na saúde física e mental de moradores da zona leste de SP

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Depressão, super dependência do celular e membros atrofiados são alguns dos problemas de saúde física e mental que a reabertura do parque ajudou a tratar em crianças, jovens e idosos moradores da região do Jardim Helena, Jardim Pantanal e Jardim Lapena.

O aposentado João Carlos voltou a aproveitar as manhãs no parque para se divertir com o neto. (Foto: Maria Eduarda Santos)

O Coletivo Visibiliza, formado por jovens comunicadores do Jardim Pantanal, Jardim Helena e Jardim Lapena, territórios periféricos que estão próximos da margem do Rio Tietê, conversou com moradores do extremo leste de São Paulo, sobre os impactos da reabertura do Parque Jardim Helena, espaço público de lazer e esporte que viabilizou contato humano e com a natureza durante a fase de avanço de vacinação contra a covid-19 para idosos, jovens e crianças da região.

As percepções dos moradores, depois de um longo período de isolamento social com o parque fechado por conta da pandemia revelou a importância de uma área verde com opções de lazer e esporte para as famílias da região.

O morador do Jardim Helena José Luiz da silva, 86 anos, relata que frequentava o parque antes do fechamento, e a reabertura foi importante pois ele vai poder praticar caminhada e se exercitar nos aparelhos que o ambiente oferece: “Eu gostei da reabertura por que fazer caminhada e exercícios fazem parte da minha vida”, diz. 

Ele também conta que para compensar a falta do parque, ele começou a usar aparelhos de musculação que tinha em sua residência e praticar um pouco de caminhada nas praças perto de casa. “Fiquei muito estarrecido com o fechamento do parque, porém precisei arrumar outro jeito de fazer o que eu gosto”, explica.

Jose Luiz Da Silva, 86 anos, é morador do Bairro Jardim Helena. Ele frequenta o parque pela manhã para utilizar os aparelhos de exercícios físicos. (Foto: Maria Eduarda Santos)

Maria Aparecida, 74 anos, moradora do bairro Jardim Pantanal, comenta que com o fechamento do parque ela ficou mais em casa e só saía quando era essencial: “Eu sentia muita falta de ir ao parque, era meu único meio de fazer exercícios”, conta ela.

Com a reabertura, ela pôde começar a praticar exercícios para melhorar a saúde e ter mais liberdade para aproveitar um final de semana com a família. “Posso aproveitar minhas manhãs para caminhar e o fim de semana para aproveitar com os netos.”

Maria Aparecida, 74 anos, é moradora do bairro Jardim Pantanal. Todas as manhãs vai ao parque fazer caminhada; (Foto: Kaique Ferreira)

A Dona Liberata, 65 anos, comemora o fato de voltar a fazer caminhada e curtir os netos no espaço de lazer. “Gosto de fazer caminhada, exercícios e trazer os netos”. Para ela, o ambiente pode beneficiar todas as idades e lamenta não ter praticado exercícios no período em que o parque ficou fechado, causando um pouco de tristeza e sentimento de perda: “A reabertura do parque foi muito importante.”

Já o aposentando João Carlos, de 59 anos, revela que sempre vai ao parque para fazer caminhada e levar os netos para desfrutarem do lazer. Ele comenta que a sensação de reabertura é de “liberdade”, o que auxilia no bem estar de todas as idades.

“A abertura do parque é muito importante para a população se manter fisicamente e psicologicamente aliviada”, afirma. No momento da pandemia, Carlos conta que não saiu de casa devido à exposição ao vírus e nesse período, ficou sem praticar nenhuma atividade. “Se eu sair, posso estar me expondo e expondo minha família”, diz.

Aos 59 anos, João Carlos voltou a vivenciar o prazer de levar o neto para brincar nas áreas verdes do parque Jardim Helena. (Foto: Maria Eduarda Santos)

Saúde mental da juventude 

A reabertura do Parque do Jardim Helena foi importante para todas as idades. E para os jovens, serviu como válvula de escape para evitar doenças psicológicas. “Sinto sensação de liberdade, e é divertido estar reencontrando os amigos”, comenta Pablo, estudante de 19 anos.

Mattheo, estudante de 15 anos, diz que a reabertura foi a melhor coisa que poderia ter acontecido para ele: “Me sinto livre”. Na entrevista, ele comenta que sentia saudades dos amigos e que ficar longe do parque o afetou psicologicamente.

“Quando eu não vinha ao parque eu costumava chorar muito no meu quintal, e isso me acumulou alguns sintomas de depressão e ansiedade, porque eu costumava dormir muito tarde”

Mattheo é morador do Jardim Helena e estudante.

O estudante Mattheo de 15 anos, estava ficando depressivo, quando descobriu que o Parque Jardim Helena reabriu. (Foto: Maria Eduarda Santos)

A estudante Ana Clara, que também tem13 anos, comenta que quando descobriu que o parque fechou, ficou triste: “Eu vinha todo dia antes do parque fechar”, diz. 

O único meio que Ana encontrou para se distrair, foi por meio do celular e com a reabertura do parque ela pratica esportes e aproveita o lazer das áreas verdes. “Ando de skate, jogo bola e venho às vezes só para passear e andar de bicicleta”, conta. 

Relação com a natureza 

A educadora e cientista ambiental, Leila Vendrameto, analisa que a reabertura do parque pode reaproximar as pessoas da natureza, um vínculo que se perdeu durante a pandemia principalmente entre os moradores de bairros periféricos.

“Acredito que por sermos seres da natureza, a nossa necessidade de estar presente com outros seres vivos, com outras espécies, ajuda muito a gente lidar com desafios da vida”, explica.

A especialista também comenta que com a falta de natureza, as pessoas ficam aprisionadas virtualmente, através de celulares e computadores. “Durante a pandemia, ficamos aprisionados. Principalmente refém dos sistemas eletrônicos, do celular e computador”. 

“A natureza nos ajuda a nos conectar com nós mesmos e com a saúde física da pessoa”

Leila Vendrameto é coordenando do projeto Urbanizar do Espaço Alana.

Ela ressalta a importância do exercício físico para o corpo e também o importante do olhar diferente para a natureza como rotina para uma vida melhor.

“A natureza nos ajuda a nos conectar com nós mesmos e com a saúde física da pessoa. Caminhar faz circular sangue, respirar ar diferente do lado da nossa casa e também ter horizonte de perspectiva a partir de observar as árvores”, explica.

Para a psicóloga Laís Guizelini, a abertura do Parque Jardim Helena foi importante para os moradores, pois ofereceu uma retomada à rotina confortável que essas pessoas estavam acostumadas a ter antes da pandemia.

“Na pandemia, tivemos que lidar com uma descontinuidade na vida que costumávamos levar, e foi de um jeito brusco de uma hora para outra. E quando situações assim acontecem, pode gerar medos e inseguranças em relação ao que está por vir”, ressalta.

Laís enfatiza que todos esses sentimentos foram agravados pela falta de preparo que o país lidou com a crise sanitária. “No Brasil não tivemos suporte e orientações precisas vinda dos governos, foram muitas informações contraditórias vinda de muitas fontes diferentes e ainda tivemos que lidar com desinformação, o que pode ter piorado a sensação de impotência e medo nas pessoas”, argumenta a terapeuta.

“Antes da pandemia as pessoas já faziam uso excessivo do celular”

Laís Guizelin é psicóloga com atuação em projetos de interesse social atendendo pessoas em situação de vulnerabilidade social.

Toda essa pressão, causou diversos impactos sociais na vida dos jovens moradores do Jardim Helena. Assim como relataram os pais e avós entrevistados, o celular foi um deles. A psicóloga analisa que o celular serviu como válvula de escape para fugir da realidade.

“Antes da pandemia as pessoas já faziam uso excessivo do celular. Quando as possibilidades de interação presenciais ficam reduzidas ou até mesmo suspensas, muita gente acaba recorrendo ao celular para conversar com amigos, parentes, jogar, utilizar as redes sociais como forma de se divertir. Então na pandemia, cada pessoa foi encontrando um jeito de lidar com essa catástrofe”, conclui a a psicóloga.

Esta publicação faz parte do Curso Jovens Comunicadores, realizado pelas iniciativas de jornalismo periférico Periferia Em Movimento e Desenrola E Não Me Enrola, com apoio do Galpão Inova ZL, Espaço Alana, Fundação Tide Setúbal e Instituto Alana.

“Peritrônica” reúne artistas mulheres para fortalecer participação feminina na música

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O evento acontece neste domingo, 20, e conta com a participação de mulheres de diversos estilos musicais, além de feira gastronômica, exposição de fotos e desfile de moda.

Dj Susy Seven

O projeto Peritrônica: Periferia Eletrônica – Música sem Fronteiras, celebra o mês das mulheres com arte e cultura no evento que acontece neste domingo, 20 de março. A programação é gratuita e as atividades ocorrem das 10h às 21h, na Praça Monsenhor Escrivá (Praça do Skate), na Vila Iório em Pirituba, zona noroeste da cidade de São Paulo.

A DJ e produtora musical, Susy Seven, uma das idealizadoras do Projeto Peritrônica, conta que a proposta do evento é dar maior visibilidade aos artistas locais e enaltecer a economia criativa da região. 

“Neste dia queremos celebrar a representatividade feminina e as ações culturais promovidas pelas mulheres. Desejamos despertar o interesse cultural dos moradores da região, além de valorizar a arte e os artistas locais”

Susy Seven

A programação do dia conta com grafite, discotecagem, desfile, workshop chair dance (dança sensual), exposição de fotos por Sabine Cazaline, artesãos locais, food trucks, e a presença da assistente social Eliane Cléa que estará disponível para conversar com o público sobre violência doméstica.
Entre as atrações confirmadas, estão: DJ Susy Seven (house music e vertentes), DJ Jubah (música eletrônica, flash back, entre outros), Neide Sales & Flavia Souza (samba), grupo Plus Size SGS Dance, Vanessa Manara & Mimi, com participação de Agatha Agostinho (pop, samba e reggae). Ao longo do evento, as obras produzidas pela artista Lady Brown serão sorteadas.

Peritrônica: cena da música eletrônica na quebrada 

Essa é a primeira edição do Peritrônica, mas os DJs organizadores do evento, Susy Seven e Vanderlei Egidio, já promovem encontros culturais desde 2015. Ambos fazem parte do Movimento de Cultura Pirituba Jaraguá (Mocupija), da região Noroeste de São Paulo.

O Projeto Peritrônica acontece desde 2015, de forma itinerante. O coletivo é formado pelos Djs Susy Seven, DJ Vandecko e DJ Jorge F. As apresentações do projeto Peritrônica contam com a presença de artistas convidados e acontecem em espaços públicos, como praças e parques. Com eventos gratuitos, o objetivo é ampliar os horizontes musicais e culturais dentro da periferia.


Serviço:

Projeto Peritrônica: Mulheres

Data: 20/03/2022 

Horário: das 10h às 21h

Local: Praça Monsenhor Escrivá (conhecido como Praça do Skate, no ponto final da Vila Iorio). 

CEP: 02968-015. Pirituba (zona noroeste de São Paulo).

Gratuito