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Fórum em Defesa da Mulher mobiliza ações contra violência de gênero nas periferias

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Na segunda sexta-feira de fevereiro, dia 14, cerca de 30 mulheres se reuniram, no CDHEP (Centro de Direitos Humanos e Educação Popular), para planejar a 2ª Marcha Por Todas Nós, que acontece no próximo dia 8 de março, data que marca o Dia Internacional da Mulher. O ato faz parte da luta contra a violência de gênero e em defesa da vida de todas as mulheres e abrange regiões periféricas da zona sul de São Paulo.

Primeira plenária de organização da 2ª Marcha Por Todas Nós, em 2025 (foto: Viviane Lima)

Realizada pelo Fórum em Defesa da Mulher, a primeira edição da marcha reuniu, em 2024, cerca de 400 mulheres, e parte delas moradoras do Campo Limpo, Capão Redondo, Jardim Ângela e Jardim São Luís, que são as principais regiões que o Fórum visa impactar, segundo Luana Oliveira. Moradora do distrito do Jardim São Luís, Luana é educadora popular no CDHEP e uma das lideranças que atua na coordenação do Fórum em Defesa da Mulher.

Luana Oliveira, coordenadora do Fórum em Defesa da Mulher. (foto: Viviane Lima)

Para algumas delas, o ato de 2024 foi a primeira experiência em uma manifestação na rua, como no caso de Solange Gonçalves, 49, que mora no bairro Jardim Mitsutani, distrito de Campo Limpo e é professora de educação infantil.

“Foi um ato muito importante para mim [a primeira participação em 2024]. Quando eu estou naquele meio parece que eu tenho mais força e que não estou sozinha. Tem mais mulheres que estão ali lutando pela mesma causa que eu.” 

Solange Gonçalves, frequentadora do Fórum em Defesa da Mulher e professora de educação infantil.

Solange conta que frequenta o Fórum em Defesa da Mulher desde 2024, e que as reuniões mensais, também chamadas de plenárias, ajudaram a lidar com uma relação de violência doméstica. “Não [foi] agressão física, mas psicológica, vivi 20 anos numa situação assim. Hoje não vivo mais, eu me separei e esses encontros me ajudaram muito”, compartilha.

Concentração da primeira Marcha Por Todas Nós em frente Sociedade Santos Mártires. (foto: Maju Rodrigues)

“As mulheres nas periferias ainda sofrem violência calada. Muitas não têm coragem, têm vergonha de dizer. Mas quando você vê uma marcha de mulheres passando na rua dizendo que aquilo não é certo, e que ‘eu sofri violência, mas enfim me libertei, estou mais autônoma’, isso encoraja outras mulheres”, coloca Luana ao apontar que a marcha das mulheres pela periferia é capaz de alcançar pessoas que não estão inseridas na discussão política de gênero. 

“Talvez mulheres que nem têm a possibilidade de sair de casa, [a marcha] já passa em frente da casa [dela] e ela vê. [Por isso] eu acho de extrema importância”, afirma Solange. Ela coloca que através da marcha, mulheres que vivem em situações de violência, podem ter acesso à informações que são passadas durante o ato, por conversas e panfletagem.

Gênero, raça e território

Luana pontua sobre as pessoas que vivem em periferias estarem expostas a vulnerabilidades e urgências, por vezes diferentes das demandas existentes em outros territórios. Por isso, espaços de luta organizados por mulheres periféricas se fazem necessários para acolher e desenvolver soluções que contemplem as realidades dessas mulheres.

“O maior número de mulheres que sofrem feminicídio, violência física, violência obstétrica, estupro, assédio, abuso de todo tipo, são mulheres negras, mulheres que moram em periferias e porque a gente vai marchar na Avenida Paulista, né? Então, faz sentido que a gente traga para cá essa mobilização, para que essas mulheres além de se sentirem pertencentes, elas também conheçam movimentos que estão reivindicando vida melhor para todas”, diz Luana, uma das coordenadoras do Fórum em Defesa da Mulher.

Em 2022, cerca de 18,6 milhões de mulheres sofreram violência física, psicológica e/ou sexual, o que representa 50.962 casos diários, sendo 65% delas negras. Foi o que constatou a pesquisa Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil, publicada em 2023, realizada pelo Instituto Datafolha e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Também em 2022, 67% das mulheres assassinadas no Brasil eram negras, conforme o Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM).

Questões que envolvem mulheres negras são prioridade nas discussões do Fórum, como conta Janete Novais, moradora do bairro Jardim Bom Refúgio, no distrito do Campo Limpo, e professora de educação infantil. “Tem esse encaminhamento, porque a gente vê que as mulheres pretas sofrem mais violência do que as mulheres brancas”, diz.

Janete Novais é frequentadora do Fórum em Defesa da Mulher e participante da Marcha. (foto: arquivo pessoal)

Janete é uma mulher lésbica e comenta que o acolhimento do Fórum se estende para a comunidade LBGTQIAPN+. “A gente vê como todas as mulheres são bem acolhidas [e] bem-vindas”.

Articulação territorial

O Fórum em Defesa da Mulher foi criado em 2024, como uma ação diante do aumento de feminicídio nas regiões periféricas da zona sul, local de atuação da iniciativa. 

Durante as plenárias são realizadas atividades de acolhimento e discussão que atravessam os direitos e a dignidade das mulheres. Também ocorre a construção coletiva de documentos, como a carta de princípios e carta manifesto do grupo. Há momentos de dinâmicas culturais e trocas. Além disso, o espaço gera um fortalecimento da rede de trabalhadoras que atuam na garantia de direitos, em serviços de saúde, educação e assistência social.

Moradoras das periferias da zona sul de São Paulo marchando contra a violência de gênero. (foto: Maju Rodrigues)

A primeira marcha organizada pela iniciativa foi feita em homenagem à Márcia Soares, de 30 anos, mãe e moradora do Capão Redondo que foi assassinada, esquartejada e teve partes do corpo distribuídas em lixeiras, nos arredores do terminal de ônibus Capelinha, em janeiro do mesmo ano. 

“O cara se sentiu à vontade de partir esse corpo e jogar no lixo. A gente entendeu isso como um recado. Ele deixou uma mão dela para fora da lixeira com as unhas pintadas de dourado”, conta Luana.

A marcha de 2025 homenageia Marli Bonfim, advogada e liderança de luta da região, que reivindicava contra a violência de gênero e pelos direitos das mulheres, e faleceu em 2015. Ela criou ações sociais como a Casa Sofia, Centro Maria Mariá, Fórum Permanente de Mulheres, Conferência Regional de Mulheres, entre outras.

Marli Bonfim é a homenageada da Marcha Por Todas Nós de 2025. (foto: arquivo pessoal da Fabiana Ivo)

“[Marli] deixou um legado super importante de ser revisto, ouvido e compartilhado, porque [ela] faz parte de um processo histórico de mulheres lutadoras desse território, que desde a década de 70 vem lutando de diferentes formas pela redução de violência, seja [por causa da] fome, seja por conta da violência doméstica, pela mortalidade dos seus filhos, sempre foram mulheres que se organizaram”, como conta em plenária, Fabiana Ivo, atuante na área social há 20 anos.

A Sociedade Santos Mártires e o CDHEP são as organizações que fazem a gestão dos encontros e das atividades do Fórum em Defesa da Mulher, que acontecem sempre na segunda sexta-feira do mês, das 9h às 12h, com revezamento entre os dois locais que são as sedes da iniciativa. Luana afirma que todas as pessoas são bem-vindas nos encontros, inclusive os homens.

O mesmo convite se estende para a 2ª Marcha Por Todas Nós, que acontece no dia 8 de março, com concentração na Sociedade Santos Mártires, localizada na Rua Luís Baldinato, n° 9, no Jardim Ângela, com concentração às 8h, e a partir das 9h segue até a estação Capão Redondo.

“A gente quer uma vida digna todos os dias, sem sofrer violência, sem apanhar e poder existir” 

Luana Oliveira, educadora popular e uma das coordenadoras do Fórum em Defesa da Mulher.

“É um dia de luta e de conquistas, mas ainda tem muita coisa que precisamos conquistar: o salário, ainda tem lugares que a mulher faz a mesma coisa [que o homem e] ganha menos, o respeito. Na política, você vê que tem um monte de marmanjo lá e pouca mulher”, menciona Janete sobre o que o Dia Internacional da Mulher significa para ela, que é presença confirmada na marcha.

Carnaval na quebrada

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Na quebrada, o carnaval de rua é mais do que festa, é cultura. É uma expressão de resistência, alegria e identidade, prova viva de que a folia também pulsa forte longe do centro da cidade.

Registro do desfile de 2018, do Carnabronks, bloco da região de Taipas, zona noroeste de São Paulo. Foto: Juh na Várzea

Aqui em Taipas, região noroeste de São Paulo, temos um tradicional bloco de rua, o CARNABRONKS, nas pistas desde 2013. A galera se junta, ensaiam, pegam seus abadás, reúnem pessoas de todas as idades para um dia descontraído, feliz e de muita cultura. Desfilando pelas ruas da Cohab de Taipas, mostram que a quebrada tem sua própria batucada, seu próprio brilho e uma festa raiz. 

Registro do desfile de 2018, do Carnabronks, bloco da região de Taipas, zona noroeste de São Paulo. Foto: Juh na Várzea

Sem grandes patrocínios ou infraestrutura luxuosa, a folia acontece na base do corre coletivo. A comunidade se faz presente, as crianças se jogam na brincadeira fortalecendo a tradição. 

Ocupando o asfalto com muita dança, a quebrada se enche de cores e muitos sorrisos. 

Registro do desfile de 2018, do Carnabronks, bloco da região de Taipas, zona noroeste de São Paulo. Foto: Juh na Várzea

Mais do que um evento, o bloco de rua é um ato de pertencimento. É o povo mostrando que a festa também é nossa. 

Porque quando a comunidade está unida para celebrar, o que rola é isso, muita alegria. E no fim, o que fica é a memória de dias intensos onde a rua se torna um grande palco de felicidade e liberdade.

Este é um conteúdo opinativo. O Desenrola e Não Me Enrola não modifica os conteúdos de seus colaboradores colunistas. 





Blocos de rua para curtir o carnaval nas periferias

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01/03/25, sábado

Recicla Folia

Itinerário: Pça. Comendador Alberto de Sousa
Subprefeitura: Jaçanã/Tremembé
Concentração: 12h
Desfile: 13h
Dispersão: 17h

Bloco Granada da Brasilândia

Itinerário: Av. Humberto Gomes Maia
Subprefeitura: Freguesia
Concentração: 14h
Desfile: 15h
Dispersão: 18h

I Love Paraisópolis Skate

Itinerário: R. Rodolfo Lutze, 55 até 350
Subprefeitura: Campo Limpo
Estilo: Eletrônico, Internacional, MPB, Rock, Pop, Outro
Concentração: 11h
Desfile: 12h
Dispersão: 16h

Vai Quem Quer

Itinerário: R. Gilberto Freyre, R. Ver. José Gomes de Morais Neto
Subprefeitura: Capela do Socorro
Estilo: Ax
Concentração: 13h
Desfile: 14h
Dispersão: 18h

Grêmio Recreativo e Cultural do Imirim Brás Pereira Banda Show

Itinerário: R. João Roque, 93, R. Miguel Roque, R. Aida Gomes de Toleto, R. Carolina Roque, R. João Roque
Subprefeitura: Casa Verde
Concentração: 13h
Desfile: 14h
Dispersão: 18h

TREZE ROOTS

Itinerário: R. Kobe, entre R. Osaka e Av. das Cerejeiras
Subprefeitura: Vila Maria/Vila Guilherme
Concentração: 11h
Desfile: 12h
Dispersão: 15h

Forró de Todos

Itinerário: R. Kobe, R. Osaka ,Av. das Cerejeiras
Subprefeitura: Vila Maria/Vila Guilherme
Concentração: 13h
Desfile: 14h
Dispersão: 18h

Bloco Saúde é Carnaval

Itinerário: R. Criciúma, R. Carlos dos Santos, R. Ramiz, Galvão
Subprefeitura: Vila Maria/Vila Guilherme
Concentração: 14h
Desfile: 15h
Dispersão: 16h

PikaOPéNoSamba

Itinerário: R.Oscar Shaid, R. Constantino Maroqui
Subprefeitura: Cidade Ademar
Estilo: Pop, Axé, Pagode, Eletrônico, Sertanejo, Funk
Concentração: 13h
Desfile: 14h
Dispersão: 18h

Bloco dos Zattrevidos

Itinerário: R. Jenny Bonilha Costivelli, R. Monsenhor Manoel Gomes, R. Dr. Mário Gatt, R. Domingos Pereda, R.Centenário do Sul, R. Prof. José Lourenço, Pça. XXV de Novembro, R. Dr. Joe Arruda, R. Jenny Bonilha Costivelli
Subprefeitura: Pirituba/Jaraguá
Concentração: 14h
Desfile: 15h
Dispersão: 18h

Bloco Locomotiva Piritubana

Itinerário: R. Clodoaldo Goyanna, 18 a 44
Subprefeitura: Pirituba/Jaraguá
Concentração: 11h
Desfile: 12h
Dispersão: 17h

Bloco Vila Mara

Itinerário: R. Ascenso Fernandes, R. Carlo Bibiena, R. São Gonçalo do Rio das Pedras. R. Altos do Oiti, Av. Prof. Alípio de Barros
Subprefeitura: São Miguel Paulista
Perfil: LGBTQIA+
Estilo: Pop, Eletrônico, Funk
Concentração: 14h
Desfile: 15h
Dispersão: 18h

Bloco Navalha Agêncy

Itinerário: R. Ascenso Fernandes, R. Carlo Bibiena, R. São Gonçalo do Rio das Pedras. R. Altos do Oiti, Av. Prof. Alípio de Barros
Subprefeitura: São Miguel Paulista
Concentração: 14h
Desfile: 15h
Dispersão: 18h

Cordão da Padilha

Itinerário: R. Francisco Teles Dourado, R. Dr. Gentil Leite Martins, R. Abatira, R. das Flechas
Subprefeitura: Cidade Ademar
Concentração: 15h
Desfile: 16h
Dispersão: 18h

Bloco do Beco

Itinerário: R. Salgueiro do Campo, R. João do Espírito Santo, R. Antonio da Cruz Messias, R. Aldeia de Joanes, R. Salgueiro do Campo
Subprefeitura: M’Boi Mirim
Concentração: 13h
Desfile: 14h
Dispersão: 18h

Carnacol Folia

Itinerário: R. Jackson Pollock, R. N. Sra. Aparecida, R. Carlos Rasquinho, R. Miguel Rocumback
Subprefeitura: Parelheiros
Concentração: 14h
Desfile: 15h
Dispersão: 18h

02/03/25, domingo

Bloco Toca Raulzito

Itinerário: R. Gustavo Geley, R. Coronel Albert de Rochas D’aiglum, R. Estevão Dias Vergara, Av. Luiza Americano, R. Gustavo Geley
Subprefeitura: Itaquera
Perfil: Tradicional
Estilo: Rock, MPB
Concentração: 13h
Desfile: 14h
Dispersão: 18h

Bloco do Litraço

Itinerário: R. Dr. Octacílio de Carvalho Lopes, R. Prof. Antônio de Franco, R. Antônio de Sousa Lobo, R. Caetano Dias Pereira, R. Dr. Octacílio de Carvalho Lopes
Subprefeitura: M’Boi Mirim
Perfil: Tradicional, LGBTQIA+
Estilo: Samba, Rock, Outro, Pop
Concentração: 13h
Desfile: 14h
Dispersão: 18h

03/03/25, segunda

Bloco das Torcidas

Itinerário: Av. dos Metalúrgicos x R. Iguarapé Água Azul até R. Igarapé da Missão
Subprefeitura: Cidade Tiradentes
Concentração: 14h
Desfile: 15h
Dispersão: 17h

É Di Santo 

Local: Casa de Cultura M’Boi Mirim – Av. Inácio Dias da Silva, s/nº 
Subprefeitura: M’Boi Mirim
Concentração: 12h

04/03/25, terça

Acadêmicos São Geovani

Itinerário: R. Manoel Pedro de Almeida
Subprefeitura: Campo Limpo
Concentração: 14h
Desfile: 15h
Dispersão: 18h

Bloco do Ve

Itinerário: R. Brás Albanese, Pça Raul Borges da Rocha
Subprefeitura: Campo Limpo
Concentração: 15h
Desfile: 16h
Dispersão: 18h

Bloco Grajafolia

Itinerário: Av. do Arvoreiro
Subprefeitura: Capela do Socorro
Estilo: Funk, Pop
Concentração: 13h
Desfile: 14h
Dispersão: 18h

PikaOPéNoSamba

Itinerário: R. Honorinda Josefa da Silva, 152
Subprefeitura: Cidade Ademar
Estilo: Pop, Axé, Pagode, Eletrônico, Sertanejo, Funk
Concentração: 13h
Desfile: 14h
Dispersão: 18h

Afoxé Omí Aiye

Itinerário: Pça.Benedito Ramos Rodrigues, Av. Milene Elias
Subprefeitura: Ermelino Matarazzo
Concentração: 13h
Desfile: 14h
Dispersão: 18h

Perus Folia

Local: Av. Dr. Silvio de Campos esquina com a Rua Mogeiro 
Concentração:  16h

Carnaval de Rua de São Miguel Paulista

Programação: 
12h Marchinhas de Carnaval e Brinquedos para Crianças
13h Bloco babalotim
15h Bloco do Baião
17h União do Morró
18h Encerramento
Local: Av. Dep. Dr José Aristodemo Pinotti , 100 

Coletivo Assombrosos do Ó

Local: Rua Dr. Artur Fajardo, 405 – Freguesia do Ó
Concentração: 13h

08/03/2025

Bloco Atabatimba

Abertura com Batukedum
Local: Quadra 67 – Avenida Visconde do Rio Grande, 214
Subprefeitura: M’Boi Mirim
Concentração: 12h

Fonte: SPTuris, programação sujeita a alterações sem aviso prévio. Confira as redes sociais de cada bloco.

Cordão Sucatas Ambulantes mantém viva a tradição do samba de bumbo em Itaquera

A partir do samba de bumbo e dos bonecões do carnaval de rua, em 2007, foi criado o Cordão Sucatas Ambulantes. As atividades do grupo buscam promover o acesso à cultura popular, no Conjunto Habitacional José Bonifácio, conhecido também como COHAB II, localizado no bairro com o mesmo nome, no distrito de Itaquera, zona leste de São Paulo. 

“A gente não faz carnaval por entretenimento, a gente faz carnaval por movimento, fundamento [e] por militância”, conta Jefferson Cristino, 38, arte-educador, professor da rede pública municipal, idealizador da iniciativa e morador da região. “[A ideia é] utilizar essa arte, a festa, a brincadeira na rua para trazer a reflexão da gente ocupar a rua, não ter a rua só como um lugar de violência e se fechar dentro dos apartamentos, a reflexão [sobre] comunidade.”

Cordão Sucatas Ambulantes mantém viva a tradição do samba de bumbo em Itaquera
O Cordão Sucatas Ambulantes tem o objetivo de desenvolver na COHAB II possibilidades de acesso à arte e à cultura. (foto: arquivo pessoal)

Através de uma oficina realizada, em 2007, pelo grupo “Treco, Saladas e Bonecos”, na Casa de Cultura Raul Seixas, Jefferson comenta que teve os primeiros contatos com a pesquisa e as técnicas de construção de bonecos, que na ocasião eram feitos de sucata. 

Com o fim do projeto, ele começa a reunir pessoas com os mesmos interesses referente à cultura popular e cria o Sucatas Ambulantes, que atualmente tem 20 integrantes, sendo a maioria moradores de Itaquera. Desde 2018, a sede do cordão fica em uma ocupação dentro da COHAB II, que atualmente é compartilhada com o grupo de capoeira Guerreiros de Fé.

Samba de bumbo

Para combater a ideia de que no estado de São Paulo não existiam culturas tradicionais, através de pesquisas, os integrantes do Sucatas Ambulantes aderem ao samba de bumbo como ritmo e dança condutora nos desfiles do bloco. Jefferson conta que o grupo é reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) como uma das comunidades contemporâneas detentora da tradição do samba de bumbo. 

Boa vontade e respeito são as únicas coisas exigidas para participar do desfile do bloco. (foto: arquivo pessoal)

O arte-educador contextualiza que o samba de bumbo é uma manifestação popular tradicional do Estado de São Paulo, de matriz africana e banto. “As comunidades tradicionais e detentoras dessa manifestação são quilombos de resistência, [essa] é uma manifestação do interior do estado, que está ligada ao ciclo do café”. O samba de bumbo é reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial do Estado de São Paulo, desde 2015, e como Patrimônio Cultural do Brasil, a partir de 2024.

Jefferson explica que a diferença do Samba Paulista, Carioca e do Samba Baiano é o grave. No Samba de Bumbo, a batida do bumbo, enquanto instrumento, é o centro da roda, assim como nos tambores de candomblé e religiosos. Ele comenta que as letras das músicas, que são chamadas de pontos, geralmente são feitas em quadras, são curtas, com pergunta e resposta, e muitas vezes de improviso.

As crianças também são acolhidas e bem-vindas no Cordão. (foto: arquivo pessoal)

Ele também menciona que a cidade de Pirapora do Bom Jesus era considerada o reduto da fé Paulista antes da Basílica de Aparecida do Norte existir, o que gerava a reunião de várias manifestações culturais no local. “As pessoas [pretas que] eram escravizadas no ciclo do café tinham a cultura [do samba de bumbo] que se desenvolveu no estado de São Paulo”, menciona Jefferson sobre o surgimento da tradição.

Além do entretenimento

O arte-educador pontua que as movimentações e experiências que existem para colocar um bloco de carnaval na rua geram diversos aprendizados. “[Vamos] para a rua com o objetivo de que as pessoas tenham um aprendizado. Que elas possam se aquilombar [e] se aproximar da espiritualidade, da ancestralidade delas”, diz Jefferson.

“O fim [de estar na rua com o cordão] não é um entretenimento. Estar na rua batucando com o samba de bumbo é uma questão de fé. Para nós a rua é um espaço sagrado.”

Jefferson Cristino, arte-educador idealizador do Cordão Sucatas Ambulantes

A felicidade no Sucatas Ambulantes é posta como uma ferramenta que fortalece e atrai as pessoas para outras questões. “O sistema quer a gente depressivo. O sistema lucra com a nossa infelicidade. Então fazer carnaval na rua nesse formato, sem precisar sair da quebrada para se divertir, ocupando um espaço que deveria ser nosso, um espaço mágico, encantado, que é a rua, isso é um ato de resistência”. 

Jefferson ressalta que muitos desses fundamentos foram construídos com os direcionamentos dos saberes e das movimentações de Soraia Aparecida, matriarca e mestra do Sucatas Ambulantes, além de fundadora da Cia Lelê de Oyá que, em 2021, faleceu em uma segunda-feira de carnaval. 

Jefferson Cristino e Soraia Aparecida em apresentação do Cordão Sucatas Ambulantes. (foto: arquivo pessoal)

Financeiramente o grupo se mantém principalmente por meio de apresentações e editais. Financiamento coletivo e mutirões também são feitos quando necessário. 

A participação dos moradores acontece de forma espontânea, pois o grupo não faz ensaios abertos, as pessoas aprendem ao participar das rodas de samba e das apresentações, assim como também acontece com os integrantes. O desfile do Cordão Sucatas Ambulantes, abre o carnaval na região da COHAB II, acontece à noite e conta com o apoio e participação dos moradores. 

Prevenção de enchentes não rende tantas curtidas quanto os “alertas” na mídia

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A noite de 06 de fevereiro de 2025 ainda não acabou para os moradores das ruas Rafael Portante e Vitoriano de Oliveira, às margens do Córrego do Engenho, entre o Jardim Rosana e o Jardim Mitsutani, na zona sul de São Paulo.

O rompimento de uma manilha (tubulação) da SABESP na Rua Rafael Portante foi uma das causas da enchente que destruiu lares de moradores dessa via na primeira semana de fevereiro. A força das águas inundou, inclusive, algumas residências na rua paralela (a de trás): Rua Guerra dos Mascates. 

Outro fator também determinante para alagar a Rua Vitoriano de Oliveira, do outro lado do Córrego do Engenho, foi a execução de obras da Prefeitura de São Paulo (PMSP).

Segundo a Secretaria de Infraestrutura Urbana e Obras foram realizadas melhorias na rede de drenagem do Córrego do Engenho –  216 metros, em suas margens estão as ruas Praias de Costa Verde e Rua José de Maistre.

Embora tenha garantido um direito fundamental à parte da população local, a intervenção do poder público (entregue em maio de 2023), visou, de modo especial, à Av. Alto de Pirajussara, importante via de interligação entre bairros da região (inclusive com dois municípios vizinhos, Taboão da Serra e Embu das Artes), que alagava, “atrapalhando o trânsito”.

Em outras palavras, a prioridade era o trânsito, não as pessoas. “Tempo é dinheiro”, dizem, não é? 

Ser humano, por sua vez, só é número e voto em época de eleição. 

Por isso, as vidas dos que moram nas ruas afetadas estacionaram, ou pior, “desceram ladeira abaixo” (como se diz popularmente).

O montante de R$ 8,4 milhões investidos – segundo o site oficial da prefeitura de São Paulo – não apenas deixou de contemplar todos os moradores das ruas em que houve obras, prejudicou também aqueles que habitam as ruas Vitoriano de Oliveira e Rafael Portante.

A prioridade era o trânsito, não as pessoas.

Em contraste com o trecho canalizado, a prefeitura deixa considerável extensão do Córrego do Engenho, no trecho margeado pelas ruas Praias de Costa Verde e Rua José de Maistre, bem afastada aos olhos de quem transita pela Av. Alto de Pirajussara – sem nenhum tipo de intervenção.

Para além da solidariedade

Mais uma vez quem está resolvendo a questão é a população local. De um lado estão os que não residem nos pontos atingidos pelas águas poluídas do Engenho, auxiliando em campanhas; do outro, os que foram afetados, lutando por seus direitos. 

Enquanto a sociedade civil entregava marmitas na noite de domingo (09/02) – “Graças a Deus! Não havia como cozinhar, né?”, agradeceu uma moradora –, prosseguia o mutirão para ajudar na limpeza de casas, auxiliar vizinhos, bem como fazer articulação para cobrar os responsáveis.

O restabelecimento de água, na Rua Vitoriano de Oliveira, por exemplo, só ocorreu uma semana depois do transbordamento do córrego em razão da pressão popular junto à Subprefeitura de Campo Limpo e à SABESP. 

Apesar do engajamento dos moradores afetados pelas cheias, contudo, a prefeitura se limitou a fornecer apenas mil reais (em parcela única), por meio do Cartão Emergencial.  “Essa quantia uma vez vai resolver o quê?’, questiona uma das moradoras.

A Defesa Civil, apesar dos protestos populares, vistoriou as residências apenas pelo lado de fora. “Quer dizer, nem se deram o trabalho de ver as condições da casa”, denuncia outra moradora. “Como posso saber se está segura?”

A manilha que se rompeu, debaixo de uma casa da Rua Rafael Portante, virou jogo de empurra-empurra entre PMSP e SABESP: ambos se eximem da responsabilidade. A família dessa residência, por exemplo, não poderá retornar ao seu lar enquanto as providências necessárias não forem tomadas.

A atuação do poder público tem de ser urgente: tanto SABESP quanto PMSP precisam cuidar dos munícipes afetados. 

Neste primeiro momento, a SABESP tem de realizar os reparos na tubulação e promover os reparos necessários nas residências afetadas; também, ressarcir as perdas materiais: TV, geladeira, fogão, cama, dentre outros. 

Em caráter de urgência, a prefeitura deve limpar o córrego. Mas apenas como paliativo. Apenas para evitar enchentes enquanto não concluir – o essencial – a canalização do Córrego do Engenho, em toda a sua extensão (por que não terminou, Ricardo Nunes?)

Disparar alertas de chuvas –  para encerrar – é uma estratégia interessantíssima! Sobretudo, para a publicidade da gestão Nunes, como um governo que atua nesse segmento. Sua eficácia, porém, “vai até a página dois” em alguns casos, como este do Jardim Rosana (ou do Pantanal, na zona leste da cidade).

Acionar o modo trabalho para promover a prevenção de enchentes não rende curtidas, nem tampouco likes, tanto quanto a lacração dos “alertas” na mídia. 

Arregaçar as mangas para garantir o mínimo de dignidade aos moradores do Jd. Rosana: é para isso que Ricardo Nunes, também, foi reeleito!

Em tempo: Tarcísio de Freitas, governador do estado de São Paulo, precisa participar desse processo, garantindo que a SABESP cumpra seu papel. Só quem não pode perder mais (até porque não tem o que perder) são as pessoas prejudicadas pela omissão pública.

Fábio Roberto Ferreira Barreto é professor da rede pública de ensino e mestre em literatura pela USP.

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Articuladores promovem turismo de resistência contra especulação imobiliária na zona noroeste de SP

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A partir do Museu Territorial Tekoa Jopoí, que abrange as áreas do Jaraguá, Perus e Anhanguera como partes de seu acervo, na zona noroeste de São Paulo, o movimento cultural dessas regiões tem construído uma nova perspectiva prática do que é associado aos museus tradicionais. “[O museu e outras iniciativas] são instrumentos para diminuir o impacto [como da especulação imobiliária]. É difícil porque a gente não tem dinheiro para enfrentar a especulação, mas [temos] ideias criativas”, coloca Cleiton Ferreira, conhecido como Fofão, um dos fundadores do museu e do Quilombaque Perus. 

Você Repórter da Periferia – Comunidade Quilombaque

Articuladores promovem turismo de resistência contra especulação imobiliária na zona noroeste de SP
Inauguração da Agência Queixada em 2022. (foto: arquivo pessoal)

O Museu Territorial Tekoa Jopoí, fundado em 2017, é uma iniciativa que nasceu na Comunidade Cultural Quilombaque, espaço cultural localizado em Perus, mas que desde 2022 tem uma sede e estrutura própria que é gerenciada pela Agência Queixada, onde também acontecem cursos de formação. O Museu Territorial é o território em si e as trilhas, que compõem esse acervo, são organizadas e realizadas pela agência.

“[Estamos] discutindo um turismo de base comunitária e trazemos a nomenclatura de Turismo de Resistência para mostrar que estamos em luta e que através do turismo a gente consegue se organizar”.

Fofão, co-fundador do Museu Territorial Tekoa Jopoí e do Quilombaque Perus.

O co-fundador conta que a ideia da iniciativa é atuar na valorização do território através de uma economia sustentável, que preza pelo ambiental e social. “Mas na perspectiva geral [com] uma economia [que colabore] no processo de preservação dessa região mantendo a paisagem, porque daqui a alguns anos vai mudar tudo. Nós perdemos o empreendimento [do] cinema que derrubaram para fazer estacionamento [pela] especulação de área”, conta Fofão ao exemplificar esse cenário de especulação com o fim do primeiro cinema do bairro de Perus.

Cleiton Ferreira, conhecido como Fofão, co-fundador do museu e do Quilombaque Perus (foto: Viviane Lima)

Outro exemplo que Fofão menciona é o condomínio Sete Sóis, que está sendo feito na Avenida Raimundo Pereira de Magalhães, pela construtora MRV. “Os caras derrubaram [a mata de] uma área grande que faz conectividade ecológica com o Parque Estadual do Jaraguá, isso já causou danos, porque ali era [um] eixo dos animais e da biodiversidade”, menciona.

Além das questões ambientais, Fofão aponta que esse processo causa a gentrificação, com mudanças no território, que entre outras coisas, também envolve alteração no custo de vida e afeta diretamente a população local. “Vai inaugurar um McDonald’s aqui e isso vai quebrar muita gente que vende lanche e se mantém disso. Quem não tem dinheiro vai ter que sair fora, ir mais para o fundão, [pois] o aluguel e o mercado ficam mais caros”. 

A falta de infraestrutura para receber as construções e mais moradores na região é apontada por ele como mais um problema. “A demanda de mobilidade não é discutida, está travando tudo. Imagine com mais 20 mil pessoas que vão vir”, avalia.

As trilhas, que compõem o Museu Territorial Tekoa Jopoí e acontecem desde 2014, constituem o museu a partir da perspectiva de que os espaços culturais e históricos de Perus, Jaraguá e Anhanguera são as próprias obras de arte. Ao todo são sete trilhas: Jaraguá é Guarani; Ferrovia Perus – Pirapora; Memória Queixada; Agroecológica, Campo e Cidade MST; Ditadura Nunca Mais; Reapropriação e Ressignificação de Espaços Públicos e a PerusFeria Graffite.

Trilha Jaraguá é Guarani realizada com o Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos (Cieja) Perus. (foto: arquivo pessoal)

A Agência Queixada, que tem como foco o desenvolvimento eco cultural turístico local, fica no bairro Recanto dos Humildes, no distrito de Anhanguera e foi inaugurada em 2020, mas o conceito do museu territorial está sendo estruturado desde 2011 e tem como fundamento o TICP – Território de Interesse da Cultura e da Paisagem.

Território de Interesse da Cultura e da Paisagem

Fofão explica que o TICP é uma proposta para pensar a gestão da cidade de forma menos exploratória, mais humanizada e compartilhada. Para mostrar ao poder público a viabilidade de implementar políticas públicas através de investimentos em projetos que são criados e geridos de modo integrado pela comunidade, movimentos sociais, culturais e de educação.  

“O museu é um contexto de uma ideia que a gente tem na Quilombaque de pensar a descentralização de orçamento e um processo de desenvolvimento sustentável local, por isso que a gente vem trabalhando na perspectiva de uma museologia, mas com a metodologia de um instrumento que a gente criou que é o TICP”, diz.

O Território de Interesse da Cultura e da Paisagem é um instrumento construído pelos moradores, junto com o professor Euler Sandeville Jr, da FAU – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e de Design da USP, um coletivo de professores do Projeto Coruja, e integrantes da Quilombaque. “[Abrimos] a Universidade Livre, onde as pessoas vinham fazer um estudo do território, [assim] a gente fez um mapeamento das potencialidades da região”, conta Fofão sobre o surgimento do TICP, e a partir disso a criação do museu.

Em 2014, o TICP foi apresentado e aprovado no Plano Diretor da cidade de São Paulo, porém desde então nenhuma providência foi tomada pelo poder público. “É uma lei que está no plano diretor da cidade, mas ninguém executa, porque [se fosse executada] a gente conseguia fazer uma gestão compartilhada entre sociedade civil e poder público”, menciona o articulador.

Foto tirada durante uma expedição na Fábrica de Cimento. (foto: Angélica Múller)

Mesmo não sendo executada pelo poder público, através da organização integrada entre moradores, educadores, movimentos culturais e sociais, a viabilidade do plano é evidenciada nas ações como o Museu e da sensibilização da comunidade. Fofão ressalta que essas iniciativas são continuidades de lutas que começaram com os operários da fábrica de Cimento Portland Perus, que em 1962, ficaram conhecidos como os Queixadas, após travarem uma greve de sete anos, em plena ditadura militar, por direitos trabalhistas. 

Articulação em rede

Thalita Duarte, atriz, produtora cultural e integrante do Grupo Pandora de Teatro, conta que a Ocupação Artística Canhoba, espaço cultural independente administrado pelo Grupo Pandora de Teatro desde 2016, é um dos equipamentos culturais mapeados pelo TICP. O local integra a trilha “Reapropriação e Ressignificação de Espaços Públicos” do museu. 

Thalita Duarte, atriz, produtora cultural e integrante do Grupo Pandora de Teatro, que faz a gestão da Ocupação Artística Canhoba.  (foto: Viviane Lima)

“O pessoal faz um processo de visitação no bairro e aqui é um dos pontos, uma das obras do nosso museu. Quando as pessoas vêm aqui a gente conta a história do grupo Pandora, a história da memória [do bairro], a nossa relação com o território e também mostra como foi o processo de ocupação desse espaço”, conta a produtora. 

A Ocupação Artística Canhoba, assim como a Casa de Hip Hop Perus, que também faz parte da mesma trilha, eram espaços abandonados pelo poder público que, em 2015, viraram ocupações culturais, segundo Thalita. Ela menciona que a reforma do local contou com mais de 150 artistas e moradores do bairro. Desde então o espaço recebe atividades culturais, principalmente apresentações teatrais.

“O museu tem a capacidade de transformar a informação em experiência. Então, uma pessoa que quiser conhecer esse território, ela pode entrar lá no Google e [pesquisar], mas nada vai substituir o fato dela estar aqui presente no território, conhecendo, caminhando, sentindo o sol, olhando aquela vista bonita [da praça]”

Thalita Duarte, atriz, produtora cultural e integrante do Grupo Pandora de Teatro.

Perspectiva semelhante é apontada por Silvana Bezerra da Silva. Ela é militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e moradora da Comuna da Terra Irmã Alberta, que também faz parte do museu e está na trilha “Agroecológica, Campo e Cidade MST”.

“Fazer esse diálogo face a face é muito importante porque as pessoas têm outras sensibilidades, para além do que conseguem ouvir, ver ou ler. É sentir o cheiro da terra, comer a nossa comida, sentir a nossa verdade. Todas sensações que ultrapassam a questão da alienação de informações, imagens e textos descontextualizados sobre as nossas ações. As pessoas saem daqui com outro pensamento”, comenta Silvana sobre as trocas que acontecem nas trilhas que compõem o museu territorial.

Trilha Campo e Cidade no Assentamento Comuna da Terra Irmã Alberta. (foto: arquivo pessoal)

Localizada no bairro Chácara Maria Trindade, no distrito de Perus, em São Paulo, desde 2001, a comuna ocupa um território que na época, conforme Silvana, corria o risco de virar um lixão e que atualmente pertence à Sabesp. “Sempre corremos riscos de despejo, mas agora é mais efetivamente por conta do processo de privatização [da Sabesp], encabeçado pelo atual governador do estado, Tarcísio de Freitas”, relata.

Silvana afirma que a articulação em rede fomentada pelo Museu Territorial Tekoa Jopoí fortalece todos os movimentos envolvidos. “O museu é a nossa referência de articulação entre o campo e a cidade”.

“Tudo é luta aqui. Luta indígena, do movimento negro, luta sindical, da classe trabalhadora, a luta contra a ditadura, pela reforma agrária. O que a gente fez foi juntar os movimentos. A gente faz a narrativa porque não tem contexto histórico de nós narrando isso. [Fizemos] o museu nessa perspectiva, quem narra é o pessoal que fez a resistência e que faz até hoje”, finaliza Fofão.

Nacionalismo: o Brasil que odeia minorias também odiará imigrantes

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Em março de 2014, em meio às celebrações dos 50 anos do golpe militar de 1964, uma cena abjeta emergia em São Paulo: a “Marcha da Família com Deus” foi recriada, reunindo algumas centenas de pessoas saudosas da ditadura. O que começou como um ato raquítico ganhou força nos anos seguintes, com manifestações robustas e ampla cobertura midiática hegemônica que mobilizavam o imaginário popular e a opinião pública “contra a corrupção”, mas clamavam por “soluções” radicais, como a intervenção militar. 

Em retrospecto, esses eventos foram prenúncios de uma nova etapa do nacionalismo fascita no Brasil. Nos anos seguintes, em todo mês de março houveram mobilizações em torno da comemoração do golpe militar de 64.

O Brasil tem sido palco de um embate acirrado em torno da identidade nacional pelo menos nos últimos 15 anos, conflitos que se manifestam nas ruas, nas redes sociais e nas instituições. Jogar luz sobre essa disputa revela como a extrema direita brasileira tem buscado construir um novo “ethnos” nacional: um projeto excludente que nega a diversidade e flerta com o autoritarismo nazifascista e o fundamentalismo/terrorismo religioso.

Das “Marchas da Família com Deus” de 1964 e 2014 ao culto a figuras de repressão e a disseminação de discursos de ódio, chegamos a um projeto de poder que visa enquadrar a identidade nacional em valores que capturam os sentimentos mais repulsivos e subterrâneos para mobilizar pessoas e incluir novos paradigmas na sociedade. 

Para “eles”, tudo é válido ou “verdade” desde que parta de porta-vozes absolutos que encarnam uma espécie de missão heróica de criar e se sacrificar por um caminho viável para o poder.

A aproximação entre o bolsonarismo e o nazifascismo está fundamentada em alguns paralelos ideológicos, estratégicos e discursivos, embora cada movimento tenha suas especificidades históricas e contextuais. 

A seguir, uma breve listagem de pontos de semelhança mas também de características que são próprias do bolsonarismo.

Culto ao líder e centralidade do autoritarismo

Assim como no fascismo e nazismo, o bolsonarismo promove uma centralização do poder em torno da figura do líder. Jair Messias Bolsonaro é retratado por seus seguidores como uma figura (tragicamente) messiânica, capaz de resgatar o país de uma suposta “degeneração” de valores morais, religiosos e institucionais, característica típica dos regimes autoritários.

Exaltação de “valores nacionalistas” e militarismo

O bolsonarismo se apoia fortemente em símbolos nacionais, como a bandeira e o hino, como se fossem os únicos a encarnar o patriotismo e, também, promove uma visão militar do poder. A retórica de “salvar a nação” ecoa estratégias de regimes fascistas, que buscavam legitimar sua ascensão como defensores de uma unidade da identidade nacional ameaçada por minorias políticas ou numéricas. 

Por exemplo, se fala racismo a resposta é que “há no Brasil apenas o brasileiro como raça e que todos são filhos de deus”, então não existe racismo. Se fala de gênero, “querem deturpar a ordem natural e a família, introduzindo o sexo e a promiscuidade homoafetiva”, indicando que tirar “o homem” do holofote é degeneração moral, etc.

Política do medo e exclusão

Mais uma característica central do nazismo e fascismo é a criação de “inimigos internos” que ameaçam a pureza ou estabilidade da nação (como dito antes). Se nos EUA e na Europa isso tem se traduzido em perseguição aos imigrantes, no bolsonarismo, esse discurso é direcionado contra minorias políticas (indígenas, LGBTQIAPN+, negros, mulheres, etc.) e grupos opositores, sobretudo, comunistas e socialistas, frequentemente tratados como terroristas-estelionatários que degeneram a ordem social.

Adoção de retórica antidemocrática

O desprezo por instituições democráticas, como o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso, é recorrente no discurso bolsonarista de seguidores, remetendo à forma como regimes fascistas minaram a democracia para consolidar seu poder com apoio popular e mobilização de massas. Declarações que sugerem fechamento de instituições ou intervenção militar para resolver conflitos políticos refletem essa tendência.

Apropriação de práticas de desinformação

Tanto o nazismo quanto o fascismo utilizaram propaganda e desinformação para controlar a narrativa pública e governar pelo medo e o ódio. O bolsonarismo adaptou essas táticas, utilizando redes sociais para disseminar fake news, criar inimigos públicos simbólicos, impulsionar altos investimentos em “milícias digitais” (grupos organizados que agem para destruir a imagem pública de adversários, sejam eles pessoas ou instituições) e polarizar a sociedade em uma narrativa de guerra social/cultural.

Ressentimento contra a classe trabalhadora

O bolsonarismo opera promovendo um ideal de homogeneidade nacional. Isso se reflete na ideia que a identidade primordial é a nacionalidade e a religião, sendo assim, todos nascem iguais e com as mesmas oportunidades, então haveria desonestidade em denúncias políticas afirmativas que excluem pessoas brancas, e/ou homens, e pessoas de classe média e ricas como alvos de programas de Estado ou até do setor privado. Esse discurso chega como medidas contra o “bolsa família”, ações afirmativas para diversos grupos, privatizar programas essenciais de serviços básicos, etc. 

Embora o bolsonarismo não se alinhe plenamente ao nazismo ou fascismo clássico devido a diferenças de contexto de natureza econômica, política e perfil racial de seus seguidores, essas semelhanças mostram como ele mobiliza elementos ideológicos e estratégicos dessas doutrinas para fortalecer sua base de apoio e moldar a política nacional. O ex-presidente ainda exerce forte influência em sua base política. 

Podemos afirmar que a polarização entre esquerda e direita revela as disparidades de poder entre os grupos em conflito que a representam. Não conhecemos organizações paramilitares ou milícias esquerdistas que dominam uma cadeia produtiva da morte e do poder sobre territórios em periferias como a Milícia do Rio das Pedras (RJ), ou o “Escritório do Crime”. Menos ainda a defesa aberta à posse de armas de fogo e ao uso de força letal como garantia de bem comum e “ordem democrática”.

Imigrantes, direita e o Brasil

Movimentos pró-democracia e de esquerda pelo mundo têm patinado em se tornar contraponto a projetos excludentes como esse. Nos EUA, a vitória do norte-americano Donald Trump revela mais do que se pode enxergar e reverbera um ressentimento e, sobretudo, uma onda do “orgulho branco” disfarçado de patriotismo. 

Essa vitória, como outras eleições nos últimos e nos próximos anos, é resultado também de investimentos pesados de grandes empresas, mas, significativamente, das big techs que vinham sofrendo as consequências nos últimos anos de suas participações no estímulo a rupturas de governos democráticos pelo mundo, impulsionando discursos de ódio em suas plataformas, fortalecendo a extrema-direita e vinham sofrendo sanções para a regulamentação da atuação de suas empresas (sobretudo na Europa). 

Do lado mais estritamente econômico, ao investirem e posarem na posse do presidente americano, também visam que Trump possa enfraquecer concorrentes de mercado através de intervenções diretas do Estado Americano em políticas econômicas, como exigência do Tiktok ser vendido para uma empresa americana para atuar no país, ou aumentar a taxação de países que fazem parte do BRICS que deixam de utilizar o dólar como moeda principal.

A caça aos imigrantes é um grande bode expiatório para culpá-los e camuflar problemas nacionais (como questões de saúde e aumento do custo de vida).

O que vemos agora em todas as redes sociais e na tv em relação às ondas de deportação de imigrantes, não é um acontecimento isolado. É provável que muitos países, não apenas os considerados de “primeiro mundo”, passem por uma crescente onda de imigrações.

O Brasil, segundo dados do Subcomitê Nacional de Recepção, recebeu cerca de 700 mil imigrantes venezuelanos entre 2017 e 2022, sendo que cerca de 326 mil permaneceram no país naquele período, muitos deles sofreram ameaças, perseguição, violência e até exploração sexual e trabalho escravo nas regiões de fronteira até seu destino final, um pouco mais de 50 mil desses imigrantes estavam em condição de refugiados.


O cerne da questão é que as motivações para ondas imigratórias serão cada vez mais diversas e recorrentes, sobretudo, relacionadas a questões climáticas. O impacto climático não está restrito a desastres, ele se estende na desertificação de áreas agrícolas, aumento da migração para centros urbanos, escassez de bens naturais. Sem políticas de reforma agrária para produção agrícola, cada vez mais sentiremos os efeitos da crise do clima, e sem renda básica universal, os centro urbanos serão uma panela de pressão de problemas de segurança, habitação, saúde e sofrerão mais com as mudanças do clima. 

Não serão apenas os extremistas e supremacistas americanos e europeus que irão utilizar imigrantes como bode expiatório para os problemas nacionais de ordem política, econômica e social e para a “unificação” da identidade nacional. Justamente porque o único caminho para o florescimento da supremacia branca nazifascista está em se vestir de um movimento nacionalista-religioso, é o único caminho para agregar força, mobilização e coesão social, sem dizer aos olhos do público que odeia negros, mulheres, judeus e etc.

Muitas vezes nos perguntamos, “como as pessoas que são minoria podem compartilhar discursos extremistas?”, a resposta pode ser mais simples do que imaginamos. É porque a direita e extrema direita utiliza “símbolos universais” para compor a unidade e a identidade do grupo, nunca utilizam características que individualizam, para ser de direita deve-se ser: cristão, hétero, a favor da família, defender os símbolos nacionais, gostar de futebol, etc. 

É fácil perceber que todas essas características são genéricas, ou seja, qualquer pessoa que se identifica com elas pode ser de direita. Nesse caso, o difícil seria não se identificar, já que essas características determinam o padrão de comportamento social da maioria em sociedades ocidentais e pós-coloniais.

A luta por reconhecimento, memória e justiça social se faz ainda mais urgente diante do avanço do nacionalismo violento e criminoso, anti-direitos humanos. Investigar a dinâmica da construção dessa identidade no Brasil, contribui para o debate público e para a defesa da democracia. 

É preciso compreender as raízes do nacionalismo excludente e os mecanismos de manipulação utilizados pela extrema direita para fortalecer a resistência contra mudanças, garantir um futuro mais justo e com oportunidades para todos os brasileiros, sobretudo, os menos privilegiados.

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Gigantes das Ruaz: festival de grafite fortalece identidade de moradores da Cohab Perus

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A partir da rua Alagoa Nova, a Cohab Perus, vem ganhando novas cores e significados através do Festival Gigantes das Ruaz. O projeto de grafite, realizado desde 2024, no bairro e distrito de Perus, zona noroeste de São Paulo, tem impactado a vida dos moradores da região, tanto no fortalecimento da identidade, quanto na valorização e visibilidade do local, segundo Mariana Calle, 27, uma das idealizadoras e produtoras da iniciativa. 

Gigantes das Ruaz: festival de grafite fortalece identidade de moradores da Cohab Perus
Mariana Calle grafita desde 2011 e em 2022 começou a atuar como produtora cultural (foto: arquivo pessoal)

“A partir do primeiro mural que foi pintado, um menino preto com uma armadura, a gente viu muitas pessoas se emocionarem. As pessoas negras que vivem nesse território se sentem cada vez mais representadas”, conta Mariana ao citar a obra “O guardião da quebrada”, realizada pelo artista Preto TNA, que é morador da Brasilândia, na zona norte de São Paulo.

Obra feita pelo Preto TNA (foto: AM Criative Studio)
Grafite O guardião da quebrada (foto: Drone das Ruaz)

“Uma mãe veio falar comigo, ‘obrigada por vocês fazerem isso aqui, porque eu nunca vi meu filho dar um sorriso tão grande do jeito que ele deu quando viu aquilo ali [o grafite de um menino preto] e falou que era ele’.”

Mariana Calle, artista grafiteira e idealizadora do Festival Gigantes das Ruaz.

O projeto é realizado pela Ruaz Produções, através dos artistas, idealizadores e produtores Mariana Calle, moradora de Perus, Luiz One, de Osasco, e Andreza Pasqualini, de Diadema. Mariana comenta que até dezembro de 2024 foram realizados cinco murais de artistas das diferentes periferias de São Paulo: Preto TNA, da Brasilândia; Image, do Capão Redondo e os grafites dos três produtores do festival. “Não tem uma temática, [mas] até então todos os artistas que pintaram, exceto a Andreza que faz letras, representaram pessoas pretas”, explica a produtora. 

Mariana estima que o bairro de Perus tem cerca de 80 mil habitantes, a Cohab 8.000 moradores, e é essa a estimativa apontada pelo grupo da quantidade de pessoas impactadas diretamente com esse trabalho, além daquelas que estão de passagem pela região, pois os murais podem ser vistos a grandes distâncias, como conta Luiz One, 30, grafiteiro desde 2009.

“A essência do grafite é impactar a vida da pessoa que passa cotidianamente por aquele trabalho, levando um pouco de cor para aquelas pessoas e também conseguir fomentar a cultura, [no sentido de] poder adquirir novos adeptos, crianças e jovens”

Luiz One, artista e produtor do Festival Gigantes das Ruaz.
Luiz One é morador de Osasco, artista e um dos produtores do Festival Gigantes das Ruaz. (foto: arquivo pessoal)

Mariana e Luiz comentam que as crianças são as que mais ficam entusiasmadas com a iniciativa e que o projeto também inclui oficinas de grafite para as crianças e os jovens dos prédios. “A gente tem um menino que fica muito com a gente, o Pedro. Ele é bem esforçado, mas tem bastante problema familiar. Ele tem habilidade [em] fazer o grafite, mas [ainda] não sabe exatamente o que é. Então, a gente vai mostrando para eles pouco a pouco”, coloca Luiz. A intenção é expandir as oficinas também para as escolas próximas à Cohab.

No festival, as pinturas são feitas nos muros das laterias dos prédios e nas empenas, que têm 15 metros de altura. Ao todo são 30 prédios, ou seja, 60 empenas que o projeto pretende grafitar. 

Grafite realizado por Image (foto: AM Criative Studio)
Obra intitulada GranDona (foto: AM Criative Studio)

“A gente pensa em incrementar a Cohab como [parte da] rota turística artística que tem aqui em Perus”, comenta Luiz ao citar as trilhas do Museu Tekoa Japuí, realizadas na região pela Agência Queixada.

No entanto, há alguns entraves com relação ao projeto. “Foi muito desafiador conseguir as autorizações [dos moradores e síndicos], porque infelizmente a gente ainda sofre muito preconceito com o grafite”, afirma Mariana. “Alguns [moradores] não aceitam as artes de referências negras, já teve casos de moradores com falas racistas”, aponta Luiz.

Por meio da comunicação e de reuniões, os artistas contam que vão estreitando as relações com os moradores. A maioria é a favor, como uma das síndicas que já até ajudou com a manutenção do andaime, mas há pessoas de dois blocos que são irredutíveis. “Quem determina se sim ou não é o síndico. [Mas] a gente opta pela questão democrática. São 30 blocos, cada bloco tem um grupo de WhatsApp e lá eles colocam em votação, a gente vê dos 20 apartamentos quem é a maioria e quem é a minoria. Os prédios que estão irredutíveis, a gente largou pra tentar retomar futuramente”, explica Mariana.

Edital e autonomia

O projeto teve inicio em 2021, na cidade de Francisco Morato, região metropolitana de São Paulo com o nome “Entre amigos” e em outubro de 2024 teve um novo formato, realizado pela produtora Ruaz.

A renovação do projeto surgiu como uma forma de reivindicação ao edital do Museu de Arte de Rua (MAR), que segundo Mariana e Luiz, não contempla artistas e periferias de forma ampla. “Entre dois [e] três anos no máximo, eles estão dando mais oportunidades para pintar em periferias, porém o foco sempre foi a pintura do centro”, pontua Mariana.

Através da Ruaz Produções, a produtora relata que, em 2024, foram feitas 23 inscrições de projetos de diferentes periferias de São Paulo e de alguns estados do nordeste no edital MAR, porém nenhum foi selecionado e três ficaram na lista de espera. A artista menciona que não há devolutivas sobre os critérios de avaliação que são usados nessa seleção. O Museu de Arte de Rua existe desde 2017 e é uma iniciativa da Prefeitura de São Paulo, realizada pela Secretaria Municipal de Cultura.

Obra de Andreza Pasqualini (foto: AM Criative Studio)
Grafite Mães (foto: AM Criative Studio)

“O edital MAR [é] fundamental para a cultura do grafite em São Paulo, [mas] a gente foi entendendo que é algo muito particular, porque são sempre as mesmas pessoas [escolhidas]”, coloca Mariana, que já foi contemplada pelo edital em 2023 e realizou o grafite que está no CEU Perus.

Além do impacto para o território, o festival também tem grande significado para os artistas, pois segundo Mariana, pintar grandes estruturas, como prédios, é o sonho de muitos grafiteiros. 

“A gente só dá realmente a estrutura que é o andaime [e] o artista convidado paga a tinta dele, os ajudantes, tudo sai do bolso dele”, conta Mariana. Ela coloca que isso gera visibilidade para os artistas e que a iniciativa contribui para a quebra do estigma negativo que ainda existe sobre as periferias e sobre os grafiteiros, que por vezes também são marginalizados.

Obra Caminhos (foto: AM Criative Studio)
Empena pintada por Mariana Calle (foto: AM Criative Studio)

Mariana comenta que o maior desafio é pagar um andaime bem estruturado para os artistas produzirem de forma segura. Luiz comenta que a comunidade também tem fortalecido, “uma água, uma garrafa de refrigerante que um morador traz pra gente já é válido, porque aquilo sairia do nosso bolso”. Os artistas mencionam que toda ajuda é bem-vinda e que a continuidade do projeto também depende disso. 

“Nós somos uma produtora com CNPJ, tudo formalizado, se for uma ajuda financeira a gente presta contas do dinheiro usado”, menciona Mariana. Ela fala que a doação de materiais também ajuda. O projeto segue e os murais realizados podem ser conferidos na Cohab Perus, o acesso é livre e os grafites podem ser visualizados da rua. 

Ano Novo, gestões municipais novas: como acompanhar os mandatos da sua cidade?

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Em 2024 tivemos eleições municipais. Brasileiros de todos os estados foram às urnas eleger seus novos representantes e mandatos das cidades: os vereadores, prefeitos(as) e vice-prefeitos(as). Todos os eleitos terão um mandato de 4 anos, ou seja, ficarão todo esse tempo ocupando um cargo público no qual devem representar a população e ir atrás de melhorias. Mas como podemos acompanhar seu trabalho? Seguem abaixo algumas dicas!

Sabendo a função de cada um

Antes de tudo, é importante ter noção de qual a função de cada um deles. Os vereadores representam diretamente a população e devem ser a primeira pessoa que o cidadão pode procurar quando tem algum problema na sua rua ou no seu bairro que precisa de ajustes, pois são eles quem fazem a ponte entre a população e a prefeitura. 

Além disso, são os vereadores que apresentam e votam nos projetos de lei municipais, e devem fiscalizar se o trabalho da prefeitura está sendo feito como se deve. 

Já o prefeito ou prefeita, junto com os secretários municipais, cuidam de tarefas importantes como: a arrecadação dos impostos municipais e a aplicação deles: são eles que cuidam de como será usado o dinheiro público na cidade. 

Além disso, devem manter serviços importantes como o transporte municipal, as creches e escolas municipais, a pavimentação das vias – os famosos asfaltos que muitos só costumam cuidar em época de eleição – as unidades básicas de saúde e por aí vai. São as prefeituras que cuidam diretamente da administração da cidade.

Acompanhando Sessões da Câmara de Vereadores

Todos os vereadores têm o seu gabinete na Câmara Municipal, mesmo local em que acontece pelo menos uma vez por semana as sessões plenárias. Essas sessões são momentos nos quais os vereadores apresentam e votam projetos de lei, falam sobre problemas da cidade, relatam o trabalho que fizeram naquela semana, aprovam moções – tipo homenagens – às pessoas que consideram importante na cidade por trabalhos realizados. 

Poucas pessoas sabem quando acontecem essas sessões e menos pessoas ainda já acompanharam uma. Na real, devido a correria do dia-a-dia, que é dobrada para quem mora na periferia, é normal que quase ninguém consiga acompanhar mesmo. Mas aqui vai uma dica: se não é possível assistir uma sessão inteira, que tal pelo menos conferir como cada vereador votou em algum projeto importante? 

Na época de campanha, todo mundo promete várias coisas, falam que vão defender pautas x e y, mas só vamos saber se ele ou ela está realmente defendendo na hora do “vamos ver”, e as votações são uma dessas horas. 

Pesquise no site da Câmara Municipal da sua cidade como os vereadores votaram em algum projeto que você considera importante para saber se estão de acordo com os interesses da cidade ou não. 

Participando de Audiências Públicas 

Audiências Públicas são eventos promovidos pela prefeitura ou por vereadores da Câmara Municipal, no qual são debatidos assuntos importantes sobre a cidade, como a questão de saneamento básico, transporte, meio ambiente etc. Todos os cidadãos podem participar de audiências para defender seu ponto de vista e pedir atenção do poder público para um tema específico. 

O orçamento da cidade também sempre é apresentado em audiências que mostram o planejamento de como será usado o dinheiro público – ou seja, o dinheiro arrecadado de cada trabalhador.

Essas audiências de orçamento sempre vêm acompanhada de uma dessas siglas: PPA – Plano Plurianual, mostra o planejamento de quatro anos. LDO – Lei de Diretrizes Orçamentárias mostra as prioridades para o próximo ano e se tem alguma alteração referente a arrecadação dos impostos na cidade. Por fim, LOA – Lei Orçamentária Anual mostra as estimativas de quanto dinheiro será arrecadado naquele ano e quanto vai ser destinado para cada área de política pública no seu município. 

Importante, né? Todas essas leis são apresentadas pela prefeitura e depois os vereadores podem propor alterações, assim como a população.

Sendo membro de Conselhos Municipais

Além disso, existem os conselhos municipais que são espaços destinados à participação social. Nos conselhos, são eleitos membros representantes do poder público e da sociedade civil, que se reúnem mensalmente para pensar políticas públicas sobre pautas específicas. Existe o conselho da mulher, da saúde, da cultura e por aí vai. Pesquise sobre os conselhos da sua cidade.

Portais de Transparência e Lei de Acesso à Informação

Por fim, uma dica de ouro: as cidades costumam ter – na realidade, devem ter, embora algumas não cumpram – portais de transparência, onde o cidadão pode acompanhar informações sobre contratos, obras e gastos municipais. 

Também existe a Lei de Acesso à Informação, por meio da qual podem-se realizar pedidos de informações públicas aos municípios – mas como usar essa ferramenta fica para o próximo artigo.

As ideias acima não esgotam as possibilidades. Cidadãos que desejam acompanhar a política e promover a mudança podem também sempre descobrir novas formas de atuação. Ainda assim, ficam acima dicas que podem ser úteis para caminhar rumo à uma cidadania mais ativa. 

Bora?

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Fé e esperança no futuro

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Fiquei por um bom tempo pensando em qual tema me motivaria a abertura desta sessão, pois começamos um novo ano e também uma nova sessão. Achei emblemático, mas só decidi escrever depois de assistir um programa que eu admiro, por me sentir provocada a falar sobre fé e esperança no futuro, que é um assunto bem propício para recomeços. 

No programa, ao ouvir a análise complexa de um filósofo e de psicanalistas sobre comportamentos humanos, tive uma sensação muito infeliz, na minha percepção só ouvi negatividades e expectativas destrutivas de futuro. Vislumbrei o amanhã sobre ruínas, sem chances de sobrevivências, só o caos do capitalismo e da tecnologia, sem amor, só a desesperança e a frieza de uma mente analitica sem afeto, dando seu parecer tão desumanizado, no seu papel de cientista branco e eurocêntrico, que cheguei a pensar: teremos alguma chance depois dessa análise?

Então resolvi propor o exercício de resgatarmos algo puro que podemos dar e receber. Uma troca cheia de humanidade, com valores reais, onde abrir o coração a outras possibilidades que são internas, que se a cultuarmos podemos enxergar para além do fatídico, violento e desumano. A beleza da vida e do amor que também existe em nós.

Isso é possível, podemos observar como buscamos através da arte, da música e da cultura que é tão rica, a beleza e o amor que são reflexos de algo interior que flui de dentro. Entendo que é uma conexão do indivíduo que cria sua arte através da sua essência, que é uma força motriz da vida que está para além do ego e apresenta novas possibilidades de enxergar o mundo, ressignificando a vida através dos sentidos. É ver além da dor e do medo.

Essa proposta de observar a vida fora dos sentidos físicos e ter a capacidade de existir e ser aberto ao amor, a sentimentos que precisamos fortalecer para resistir não é uma ilusão, é uma necessidade para o momento que vivemos.

Precisamos parar e enxergar para além de nós, sermos mais altruístas, exercitar o dar e receber. Ter olhos para ver a essência das pessoas, o que elas tem de bom, o que temos de positivo para nutrir outras formas mais puras de amar e recuperar a fé no futuro. Assim, podemos recuperar a saúde mental, física e espiritual. 

É possível sim vivermos ainda que uma vida difícil e caótica, enxergar para além do corpo e sentir na alma uma outra forma de existir. Ressignificar as amarguras, amar as pequenas e grandes coisas que estão fora do racional e intelectual. 

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