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CEU localizado no Jardim Eledy inaugura sala de leitura em homenagem a Dona Edite

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Nos meses de agosto e setembro, aconteceu a IX Semana da Literatura do CEU Cantos do Amanhecer, e entre as atividades, o espaço inaugurou a sala de leitura em homenagem à poetisa Dona Edite.  

Sala de leitura do CEU Cantos do Amanhecer homenageia Dona Edite. Foto: Patricia Santos.

Em 2022, o CEU Cantos dos Amanhecer, localizado no bairro Jardim Eledy, distrito do Capão Redondo, zona sul de São Paulo, realizou a reinauguração do seu espaço de leitura. Com o nome “Sala de Leitura Dona Edite”, o local homenageia a poetisa que é referência na cena literária periférica.

A reinauguração do espaço, que antes não possuía um nome específico, foi uma sugestão da professora Miriam Amorim, moradora do distrito do Campo Limpo, região sul de São Paulo, e responsável pela sala de leitura da unidade. Ela afirma que a ideia foi abraçada pelo núcleo organizador que esteve à frente das obras para melhoria da sala.

“Temos em nossa escola uma participação muito grande das meninas negras nas atividades literárias. Então pensei que os alunos precisavam conhecer a história e participação da Dona Edite na comunidade”, conta a professora. 

Para ela é importante que as homenagens a essas personalidades sejam feitas ainda em vida, valorizando a história, atuação e a poesia periférica.

Apesar de todas as dificuldades vividas por ela enquanto mulher negra, da periferia e deficiente visual, ela encontrou na literatura, na poesia um propósito de vida”

observa a professora Miriam.

Durante a semana de inauguração da sala de leitura, os alunos do 8º e 9º ano tiveram a oportunidade de aprender sobre manifestações artísticas e poéticas no espaço, como sarau, slam, histórias em quadrinhos, cinema, entre outros. Os alunos também conheceram mais sobre a história da Dona Edite através do documentário “O Olhar de Edite”, dirigido pelo cineasta Daniel Fagundes, além de realizarem um sarau onde homenagearam a poetisa.

Professor Fábio na sala de leitura Dona Edite e a aluna Maria Dias, do 9º ano. Foto: Patricia Santos.

“A gente percebeu que quando trazíamos atividades com o slam e saraus para as escolas, era maior o número de meninas, inclusive com as escritas mais elaboradas, e em sua maioria meninas negras. Então nada mais justo que trazer as mulheres negras por meio da sua literatura para esse espaço”, comenta Fábio Roberto, professor de língua portuguesa e morador do Jardim Mitsutani, Campo Limpo, São Paulo.

 Referências que moram ao lado

Dona Edite recitando na Cooperifa,

Edite Marques da Silva, ou como é conhecida, Dona Edite, nasceu em Pirapora, cidade de Minas Gerais, chegou em São Paulo aos 19 anos, e hoje é moradora do bairro Figueira Grande. Desde que se mudou para São Paulo, sempre morou na região sul da cidade, e vive com sua irmã Zazá, que a acompanha em todos os lugares e também a auxilia, pois a poetisa perdeu a visão em decorrência da diabete.

Dona Edite é personalidade importante no Sarau da Cooperifa, evento que acontece toda terça-feira no Bar do Zé Batidão, no Jardim Guarujá, distrito do Jardim Ângela, um dos espaços em que começou sua trajetória na literatura. 

“Meu primeiro contato com a literatura foi quando eu percebi que cada dia eu enxergava menos e o médico disse que era questão de tempo até perder toda a visão. E na terapia que eu conheci a [Fundação] Dorina Nowill, lá tinha livro falado, comprei um [livro], um walkman e comecei a tentar aprender poesia”

conta Dona Edite, que logo de cara aprendeu o poema ‘Estas Mãos’ de Cora Coralina.

Quando perguntada sobre qual poesia mais gosta, ela gargalha e comenta que por causa dos diferentes momentos da sua vida, cada poesia tem um lugar diferente em seu coração, e que não consegue escolher só uma. “Mas a que mais me marcou foi mesmo essa da Cora Coralina, que foi a primeira que eu soube de cor”, diz.

Dona Edite é símbolo de força, luta e aprendizado dentro dos espaços literários, e a identificação com o bairro tornou essa relação de admiração mútua. Para ela, não existe lugar melhor para se morar.

“Eu amo toda essa região e toda a história aqui. Ainda mais na luta enquanto mulher negra. Aqui aprendi a consciência de ser cidadã e ter coragem pra enfrentar as correntes que nos prendem”, compartilha.

Presente no dia de inauguração da sala de leitura que leva seu nome, Dona Edite recitou algumas poesias para os alunos presentes. Ela acredita que a homenagem foi uma representação de respeito a sua história.

“Sinto que sou uma pessoa com capacidade de ajudar, mesmo precisando de ajuda o tempo todo e trazendo comigo as pessoas que precisam estar junto nessa luta contra o preconceito. Eu me sinto grandiosa e não sinto necessidade de curvar a nenhum sistema”, finaliza Dona Edite.

Nosso voto não é secreto: estamos ao lado do povo preto e periférico

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 A fome, o desemprego e o luto pelas vítimas da covid-19, não nos deixam ser coniventes com o projeto de morte do Bolsonaro e seus aliados.

Fernando Haddad e Lula I Foto: Elineudo Meira

 A eleição deste ano é uma das mais importantes do Brasil, desde o fim da ditadura militar e início da chamada democracia estabelecida em nosso país. Diante de toda conjuntura vivida nos últimos quatro anos, o Desenrola e Não Me Enrola apoia as candidaturas de Lula (PT) para presidente e Haddad (PT) para o governo de São Paulo.

No atual cenário, acreditamos que seus governos representam respeito à diversidade dos povos, das religiões, às demandas das populações minorizadas, principalmente, o respeito à democracia. 

Papo reto: a democracia, a liberdade e o direito de ir e vir, nunca chegaram para quem mora na quebrada. 

No entanto, desde o golpe de 2016, as coisas têm ficado bem piores. Ataques aos direitos dos trabalhadores, como a reforma trabalhista e previdenciária, congelamento dos investimentos em políticas públicas, e mais recentemente o total descaso com a população durante a pandemia de covid-19. Somado a isso, o aumento do desemprego e da fome que atinge o povo preto e periférico.

Mas diz aí, você sabe o que é um país laico?

É quando ocorre a separação entre Estado e Religião, na qual, o Estado não permite a interferência de correntes religiosas em assuntos estatais, e tão pouco, privilegia uma religião sobre as outras. Porém, na prática, não é isso que acontece no Brasil.

A bancada evangélica representa 20% das cadeiras e sua influência religiosa tem interferido na vida da população brasileira. O Brasil caminha para um lugar preocupante: seu futuro está sendo pautado a partir das questões religiosas, quando na verdade, deveriam ser pautadas por direitos, problemas sociais e econômicos do país.

Nos últimos debates, principalmente presidenciais, ficou evidente que as principais pautas e preocupações de determinadas candidaturas são as questões religiosas. Pautas e possíveis soluções para combater a falta de políticas públicas, com objetivo de diminuir as desigualdades sociais que o Brasil vem enfrentando não são externadas. Ao invés disso, acusações e xingamentos são os principais destaques.

Nesse contexto, entre tantas frentes a população continua sofrendo devido ao desemprego, saúde, moradia, e a economia do país que contribuiu para que voltássemos ao mapa da fome. 

 Por que não compactuamos com o atual governo?

Nos últimos anos, com ênfase no período da pandemia, a população brasileira viveu várias incertezas, assim como os demais países. Porém, dentro de toda a conjuntura pandêmica, não podemos esquecer das irresponsabilidades do governo do atual presidente Jair Bolsonaro (PL).

687 mil pessoas mortas pela covid-19, a resposta de Bolsonaro: “Não sou coveiro”. Ou ainda imitar as vítimas com insuficiência respiratória.  

 Durante seu governo, Bolsonaro desacreditou da pandemia comparando a uma “gripezinha”, espalhando fake news sobre o chamado kit covid ser a cura para a pandemia, interferiu no trabalho do Ministério da Saúde, além de criticar diversas medidas sanitárias estabelecidas.

Foram inúmeras famílias que perderam pessoas próximas. A maior parte das vítimas que morreram por essa doença residiam num CEP específico – os territórios periféricos, na qual, a maioria delas eram pessoas pretas.

Para além de todo cenário de descaso com a saúde, Bolsonaro frequentemente em suas falas diminui as mulheres, ataca jornalistas, indígenas e sua reeleição representa o ataque a uma democracia que há tempos tenta se fortalecer no país.

Diante disso, não podemos compactuar com esse governo, que desacredita da ciência, espalha notícias falsas, é a favor da liberação de armas, acredita na violência como solução, atua com intolerância religiosa, cria sigilo de 100 anos sobre as ações do seu mandato, colocando literalmente toda sujeira para debaixo do tapete.

Somos a favor de um governo que a população possa dialogar, que promova políticas públicas para reduzir as desigualdades sociais que afetam a população preta, periférica, indigena, lgbtqia+ e todas as maiorias minorizadas. Esse governo que acreditamos não está em Jair Bolsonaro presidente e Tarcísio de Freitas governador. 

“O povo preto sabe que tem algo errado”: pesquisadora explica impacto do racismo ambiental nas periferias

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Casa alagada, escassez de água e de saneamento, são só alguns exemplos de como o racismo ambiental está presente nas periferias muito antes de se tornar um tema amplamente falado nas rodas de debate. Moradores de periferias, negros e indígenas são algumas das populações que entendem e vivenciam na prática esse contexto social, que nos territórios marginalizados não é apenas uma análise, mas sim uma realidade.

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Atenta aos impactos sociais desse cenário no cotidiano da população negra e periférica, a integrante da Rede Quilombação, coletivo do movimento negro em São Paulo, Ana Sanches, pesquisa as desigualdades socioambientais e questões de raça, a partir da ótica do racismo ambiental. A doutoranda em Mudança Social e Participação Política pauta a sua atuação a partir da necessidade de ouvir as comunidades de terreiro e as mais diversas etnias.
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Em entrevista ao Desenrola, a pesquisadora aponta que é fundamental dar lugar para o povo dizer o que e quais são as reais necessidades e pautas que o representa, e a partir disso começar a construir propostas. Confira a entrevista completa com a pesquisadora.

Desenrola – O que é racismo ambiental no contexto das periferias?

Ana Sanches – É a água que não chega ou que chega em má qualidade e em pouca quantidade. É a casa alagando e desabando. É o esgoto a céu aberto. A falta de energia. É o lixo nos becos e nas vielas, é o ar, alimento e solo contaminado. É o despejo de famílias e destruição dos barracos sob a acusação de ilegalidade. É a ausência do Estado que não leva infraestrutura adequada para as quebradas ocupadas por população negra, indígena, pobre e é também a ausência desses grupos vulnerabilizados nos espaços de poder.

Desenrola – E o que é justiça climática também no contexto periférico?

Ana Sanches – É repensar o planejamento urbano de forma justa, popular e inclusiva, para que as pessoas tenham moradia digna, com água na torneira em e qualidade suficiente. É garantir segurança e dignidade da vida humana na produção e fornecimento de energia elétrica (pensando que a produção de energia ainda é fundamentalmente poluidora por conta da fonte de combustíveis fósseis), e que o fornecimento inadequado de energia ou sua ausência coloca a população em situação de risco. É também garantir a participação e poder da população nos espaços de decisão.

Desenrola – Você acredita que essas discussões e análises chegam até as periferias e seus moradores? Se sim, como? Se não, porquê?

Ana Sanches – Não chegam em todo lugar, há muitas periferias no mundo e no Brasil. A verdade é que o povo preto sabe que tem algo errado e sente, literalmente na pele, que há algo errado. Algo injusto que não bate, sabe?

Há saberes populares ainda pouco validados, principalmente no meio acadêmico e entre intelectuais brancos. Sempre digo que há mais de 500 anos nós e nossos ancestrais já sabíamos que vivíamos em uma situação dolorosa e violenta, porém, os conceitos como racismo e racismo ambiental ainda não haviam sido criados.

O que eu quero dizer é que precisamos saber ouvir os discursos que são construídos nas quebradas, pois o povão pode não estar falando uma linguagem técnica e conceitual, mas sabe, e muito bem, na prática, o que é o racismo ambiental. Sabe inclusive como melhorar seu território. Creio que os acadêmicos privilegiados da branquitude é que tem que aprender a ouvir o dialeto e os gritos de socorro e não chegar impondo o que é ou não um debate importante.

Desenrola – Como o racismo ambiental está afetando nesse momento homens, mulheres, crianças negras que dependem de recursos naturais do meio ambiente para sobreviver?

Ana Sanches – Às mudanças climáticas, os efeitos dos eventos extremos e as problemáticas de degradação ambiental já estão afetando algumas populações.

Por exemplo, pense na população ribeirinha, indígena, caiçara e ou quilombola que dependia de pescar no Rio Doce? Ou que entende em sua religiosidade o Rio como um ser, um Deus, algo sagrado? É uma violência material, que afeta a dignidade dessas populações de variadas formas. Em suas possibilidades de práticas religiosas e espirituais, em suas formas de alimentação e sua própria manifestação cultural e de vida.

Pessoas urbanizadas que não tem essa relação de dependência direta (pra comer e cultuar) e afetiva com os rios, não são afetadas da mesma forma.

Desenrola – Existe uma relação do setor privado com as mudanças climáticas? Se sim, como isso se dá?

Ana Sanches – Depende de qual setor privado estamos falando. Há grandes corporações e grandes empresas, algumas até de capital misto, na qual a ideia do lucro é a que prevalece. Eu diria que há uma grande relação entre capitalismo e mudanças climáticas, no sentido que não há sustentabilidade nessa lógica capitalista, na qual a exploração de recursos naturais e de pessoas é o que o mantém de pé.

Essa ideia do maior lucro possível, com menor gasto e que despreza a vida humana, mas principalmente daqueles considerados “não dignos ou descartáveis”, ou seja, as vidas negras e indígenas, é exatamente o nosso problema. É o racismo que sustenta o capitalismo e foi o que o tornou tão forte.

Claro que precisamos olhar com cuidado, pois há recortes de gênero aqui que também são importantes, afinal, se olharmos para mulheres negras, veremos a base da pirâmide.

Desenrola – Qual a importância de relacionar justiça climática, justiça racial e justiça territorial? Na prática, o que isso representa?

Ana Sanches – Pensando que a base das desigualdades na sociedade é uma desigualdade racial, de gênero e de classe, não temos como separar a justiça ambiental/climática do que pensamos como justiça e direitos humanos em uma sociedade.

O entendimento de dignidade e de humanidade que possuímos, é exatamente a que permite às desigualdades raciais, sociais e ambientais que vivemos. Portanto, quando falamos que não há democracia, enquanto houver racismo e machismo, é nesse sentido. Para haver qualquer tipo de justiça, é preciso antes de tudo enfrentar o que estrutura as injustiças e no nosso caso brasileiro, o racismo é a primeira coisa que precisa começar a ser combatida.

Este conteúdo foi produzido no âmbito do projeto Planeta Território, uma iniciativa da Território da Notícia com apoio do Instituto Clima e Sociedade para fomentar e distribuir informação de qualidade sobre a emergência climática, o contexto eleitoral e o impacto na população periférica por meio de totens digitais em estabelecimentos comerciais das periferias de São Paulo

Coalizão Negra Por Direitos fortalece voto antirracista nas periferias de SP

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Ação coordenada pela Coalizão Negra Por Direitos conseguiu espalhar 206 Comitês Antirracistas em diversas cidades e periferias do Estado de São Paulo durante o primeiro turno das eleições. 

Núcleo do Comitê Antirracista na periferia de Itanhaém, litoral sul de São Paulo. (Foto: Thiago Fernandes)

Na última quarta-feira (5) de outubro, a Coalizão Negra Por Direitos divulgou o balanço da campanha Quilombo nos Parlamentos, iniciativa que fomentou a visibilidade e a importância de eleger candidaturas de pessoas negras comprometidas com o combate ao racismo nas esferas de poder da política institucional. 

A nota divulgada pela organização afirma com base em dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que foram eleitos 26 parlamentares nas eleições do dia 2 de outubro, mas esse número de candidatos negros eleitos não indica avanços na representatividade no Poder Legislativo, já que o número de representantes do movimento negro permaneceu o mesmo, e deputados com longa trajetória de defesa de direitos da população negra não se reelegeram.

“Com o resultado da eleição no último domingo, o Senado, principalmente, tornou-se muito mais alinhado ao Bolsonarismo e à política de morte contra a população negra. Precisamos nos preparar para uma casa (Senado) mais violenta e menos receptiva às agendas voltadas para essa população”

Sheila de Carvalho, articuladora da Coalizão Negra Por Direitos e diretora política do Instituto de Referência Negra Peregum.

Além disso, a articuladora política da Coalizão Negra Por Direitos ressalta que o perfil político e racial do restante dos deputados e senadores eleitos, representa um cenário de forte resistência no Parlamento a propostas de avanço na defesa de direitos da população negra, indígena e mulheres.

A corrida para deputado estadual em São Paulo 

A Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (ALESP) será ocupada em 2023 pela candidatura coletiva Pretas, eleita com 106.781 mil votos. Liderada pela deputada estadual Mônica Seixas junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o mandato de mulheres negras das periferias se define como feminista e antirracista.

Em entrevista ao Desenrola, Seixas afirma: “eu gostaria que mulheres negras ocupassem a Assembleia Legislativa, é por isso que nesse projeto (Pretas), eu trago mulheres de outras periferias como Osasco, Itapevi, Barueri, Taboão da Serra e Litoral Paulista”, diz a deputada reeleita, conhecida por integrar em 2018 um dos primeiros mandatos coletivos eleitos na ALESP chamado Bancada Ativista.

A deputada estadual Monica Seixas integra a candidatura coletiva Pretas. (Reprodução YouTube)

A candidatura coletiva Pretas integra a plataforma Quilombo nos Parlamentos, uma iniciativa da Coalizão Negra Por Direitos, para facilitar o acesso do eleitor a informações de pessoas ligadas ao movimento negro que disputaram as eleições concorrendo a cargos para o Congresso Nacional e Assembleias Legislativas de todo o país.

Além da plataforma Quilombo nos Parlamentos, candidaturas negras que concorreram aos cargos eletivos nas eleições de 2022 também ganharam outro reforço importante na sua campanha: os Comitês Antirracistas.

Criado pela Coalizão Negra Por Direitos para combater o racismo em âmbito político-partidário, os comitês estimularam e apoiaram por meio de mobilizações feitas pelas redes sociais e nas ruas, mandatos que defendem em seus planos de governo a soberania de causas raciais com destaque para o direitos das mulheres e da população negra e pobre das periferias.

O ponto de partida para a criação dos Comitês, que abrangem todo o território nacional, se deu em 2020, momento em que a pandemia afetou e tirou principalmente a vida da população preta e pobre, que não pôde ficar em casa para se proteger – como mostram as imagens da transformação do Cemitério do Jd. São Luís, zona Sul de São Paulo, naquele ano. 

“A falta de compromisso por parte do Governo Federal com as vidas negras e pobres nos fez entender que é a nossa tarefa eleger candidatos comprometidos com a coletividade, contra o racismo, aquilombando os parlamentos para que não haja margem para o genocídio dessa população”

Aline Barbosa, organizadora do Comitê Antirracista do município de Embu das Artes, região metropolitana de São Paulo.

Atualmente existem 206 Comitês espalhados em todo o estado de São Paulo localizados em residências, associações, universidades, coletivos, entre outros espaços de movimento negro organizado. A metodologia de conscientização, segundo Aline, consiste no boca a boca.

“Nós sabemos que o horário eleitoral, fundo partidário, não é igual para todos. Os integrantes dos comitês estão na mobilização para que os candidatos e suas propostas sejam conhecidos. Esse movimento é feito com a família, amigos, vizinhos, por meio de reuniões presenciais e online, grupo de WhatsApp para disseminar essas candidaturas”, defende Aline.

Eleições e legado

Após o TSE finalizar a apuração das eleições de 2022 para o Congresso Nacional e Assembleias Legislativas de todo o país, a campanha Quilombo nos Parlamentos pode perceber o impacto de promover a cultura do voto antirracista nas redes sociais e nas periferias, por meio dos Comitês Antirracistas.

Os candidatos que tiveram sua campanha eleitoral potencializada pela plataforma Quilombo nos Parlamentos alcançaram 4 milhões de votos. Ao todo, oito deputados federais e 18 deputados estaduais ligados ao movimento negro foram eleitos. Além disso, 97 candidaturas ocupam atualmente postos de suplência em seus partidos.

A Coalizão Negra Por Direitos conseguiu espalhar mais de 200 Comitês Antirracistas em diversas cidades e periferias do Estado de São Paulo. (Foto: Thiago Fernandes)

As narrativas do voto antirracista

Nos últimos 60 dias, período que corresponde as fases de pré-campanha e campanha eleitoral oficial, o Twitter revela que uma das principais figuras públicas que promove o debate sobre o voto antirracista é o perfil de Douglas Belchior, líder do movimento negro na Uneafro Brasil e candidato a deputado federal pela Partidos dos Trabalhadores (PT), que não conseguiu se eleger ao Congresso Nacional, alcançando a marca de 50 mil votos.

“Vote preto” é uma das principais mensagens promovidas em publicações no Twitter. Belchior e outras lideranças declaradamente progressistas e ligadas a correntes partidárias de esquerda tem como principal narrativa no Twitter tornar a política institucional mais representativa, com a participação ativa de pessoas negras comprometidas com a luta antirracista e o combate às desigualdades sociais e raciais que afetam a população negra e pobre das periferias brasileiras.

No período analisado, as publicações destacam a presença da Coalizão Negra Por Direitos como uma fonte de informação sobre candidaturas negras que propõe em meia a polarização política nas redes sociais um debate central: a democracia brasileira precisa ser construída por pessoas negras na política institucional.

Partidos como PT e PSOL foram os mais citados nas mais 4 mil publicações, que associavam a figura de Luiz Inácio Lula da Silva, candidato à presidência da república, como um apoiador do movimento negro organizado, para transformar a forma de fazer política nos espaços de poder.

Esposas de aluguel gera renda para pessoas negras, indígenas e LGBTQIA+

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A iniciativa está conquistando um público que valoriza a geração de oportunidades de trabalho para pessoas LGBTQIAP+. 

Serviços de elétrica, hidráulica, pintura e reformas são algumas das frentes de atuação da rede espoas de aluguel. (Foto: Flávia Santos)

Após fazer uma publicação no grupo de Facebook FeminiTrampos, em junho de 2020, o multiartista indígena Cassis Guariniçara, 28, recebeu diversas curtidas na sua publicação, que comunicava aos membros da comunidade que ele estava oferecendo serviços de pintura e manutenção residencial e comercial.

Após a publicação no grupo, Cassis, que é uma pessoa trans não binária, viu a sua agenda de trabalhos aumentar de maneira inesperada. “Eu consegui fechar quatro meses de agenda só com pintura”, relembra ele.

Segundo o multiartista indígena, esse foi o pontapé inicial para o surgimento da Rede Esposas de Aluguel, um grupo de pessoas negras, indígenas e LGBTQIA+ que prestam serviços de manutenção residencial e comercial para moradores de todas as regiões de São Paulo.

“Eu iniciei trabalhando só com pintura porque eu ainda tinha muita insegurança, né? Eu não botava fé em mim, eu não acreditava na minha capacidade”, relata Cassis, apontando que a baixa autoestima tinha uma relação direta com a sua saúde mental

Crescimento da rede 

Desde que começou a trabalhar com os serviços ofertados pela rede, a estrutura do trabalho mudou bastante. Nesse período 15 pessoas já fizeram parte da rede desde o seu surgimento.

No começo do negócio, a noção de preços vinha do pai e do cunhado de Cassis, que além de auxiliar com dicas de precificação, já foram remunerados prestando serviços de manutenção.

“Eu sempre fazia um orçamento a mão, uma planta do que precisava ser feito nesses trabalhos e mandava uma mensagem pra ele [Claudemiro] falava: ‘papai, quanto que eu cobro? Aí mandava mensagem pro meu cunhado também e eles me davam uma média de preço de algumas coisas”, relembra.

“Eu sempre quis ser justo com as pessoas que trabalhavam comigo, porque todo mundo exerce a mesma coisa, não faz sentido eu ganhar mais ou ganhar menos”

Cassis Guariniçara, criador da Rede Espoas de Aluguel 

Outras demandas relacionadas a gestão do negócio e execução de serviços, de acordo com Cassis, foram fruto de aprendizados “apanhando”, como a forma de cobrança a ser feita por um trabalho executado por grande parte da equipe ao mesmo tempo.

“Eu sempre quis ser justo com as pessoas que trabalhavam comigo, porque todo mundo exerce a mesma coisa, não faz sentido eu ganhar mais ou ganhar menos. Eu queria pagar R$150 a diária e eu acabava às vezes não ganhando nada, ou ganhando R$80. Então, eu fui aprendendo de acordo com essas coisas que eu passei, né?”, diz sobre a experiência com as primeiras reformas.

Hoje, para fechar um trabalho, Cassis já aprendeu técnicas de orçamento e costuma consultar tabelas e realizar orçamentos em outras empresas que prestam este serviço para ter um referencial comparativo. 

O multiartista indígena Cassis Guariniçara é o criador da rede esposas de aluguel. (Foto: Flávia Santos)

Corpo racializado 

Segundo o criador da rede esposas de aluguel, o corpo racializado retrata o sujeito que já sofreu alguma forma de racismo, exotização, sexualização ou estereótipo. Desde um corpo indígena, periférico, feminino, até um corpo que pode ter privilégios, mas sofre esse tipo de abordagem de alguma maneira.

Para ele, acolher esses corpos na rede de esposas transforma o trabalho executado em equipe: “Essas pessoas tendem a sofrer e ocupar um lugar de muita dor dentro da sociedade, então são essas pessoas que a gente abraça, a gente se identifica, se cuida e se conforta de alguma forma”, diz.

Gabriel de Sousa, 23 anos, é uma das pessoas que foi empregada pela rede. Ele e Cassis se conheceram morando na ocupação e hoje são vizinhos no Grajaú. Gabriel é artista de rua e além dos serviços de reforma, trabalha no farol com malabares há quase 3 anos.

“É uma rede que me ajudou muito, pois eu sendo um corpo racializado pelo sistema tem pouquíssimas oportunidades de emprego. É uma forma de inclusão, não é qualquer equipe que tenha pessoas subversivas”

Gabriel de Sousa, colaborador da Rede Esposas de Aluguel

O artista entrou para a rede por convite de Cassis, pois já trabalhou outras vezes com serviços de obra. Juntos, eles realizam todo tipo de reparo, desde pintura até elétrica, hidráulica, instalações e outras coisas na área da construção civil.

Atualmente, Gabriel realiza bicos de segurança em um posto de gasolina para complementar a renda e sustentar o filho de 5 meses, que gera muitos gastos com alimentação e produtos de higiene.

Com o bico de segurança, que não tem ligação com o trabalho executado na rede, Gabriel precisou cortar o cabelo para se encaixar no que os chefes pediam: “é um negócio muito ruim trabalhar pro sistema, eles não aceitam como a gente é, tem que estar nos padrões deles”, lamenta.

Já na rede de esposas de aluguel, o artista encontra um espaço para ser ele mesmo, principalmente porque o serviço é oferecido por pessoas que, na maioria das vezes, entendem a dinâmica de trabalho que eles podem oferecer. “O Cassis já deixa bem claro antes de começarmos o serviço que quem vai trabalhar são indígenas, pretos e trans”, conta.

Felipe Chianca conheceu Cassis na Ocupação Ouvidor 63 e hoje integra a rede esposas de aluguel; (Foto: Flávia Santos)

Outra pessoa empregada atualmente pela rede é Felipe Chianca, 28 anos, que conheceu Cassis também na ocupação. Ele havia acabado de chegar de João Pessoa, na Paraíba, com 18 anos, os dois se tornaram amigos e hoje trabalham juntos. “Ele pedia sempre a minha ajuda e eu já sabia bastante coisa sobre eletricidade, meu pai era eletricista e aí foi indo”, diz.

Assim como as outras pessoas, Felipe também tem outras fontes de renda. Ele é artista plástico, e possui trabalhos de pintura, xilogravura, performances e também trabalha em festas.

Ele entende a rede como um espaço de abertura para o mercado de trabalho para pessoas como ele, que sofrem homofobia e não têm tantas oportunidades.

“É um lugar de abertura para minorias e corpos incidentes e pessoas que não tem essa oportunidade de entrar em contato com o trabalho, ele [Cassis] abre muitas portas pra gente”, expressa.

Rede de Formação 

Segundo Cassis, um dos principais intuitos do esposas de aluguel é ser uma rede de formação. “Hoje, eu consigo formar profissionais que são pessoas racializadas, travestis, pais, indígenas, negras e essas pessoas acabam oferecendo seus próprios serviços e não ficam dependentes de mim”, explica Cassis.

Mesmo com a rede de apoio que Cassis construiu dentro desse espaço de trabalho, ainda assim algumas vezes eles se deparam com episódios de machismo, homofobia, transfobia e outros preconceitos: “Todos os dias alguém entra nas minhas redes e pergunta se eu sou prostituta, mas eu tenho certeza que se fosse um homem que colocasse lá no perfil “marido de aluguel” eles não receberiam esse tipo de pergunta e comentário”, lamenta.

Esse é um ponto enxergado também por Felipe, ele comenta que a relação com os clientes varia bastante apesar da maioria já contratar a rede sabendo o perfil das pessoas que executam o trabalho e escolhem o serviço exatamente por esse motivo.

“A gente é chamado e às vezes conhece pessoas legais e às vezes conhece pessoas ruins. Tem deles que serve pra gente café e tem deles que não serve nem água. A gente tem priorizado mulheres, que geralmente tem medo de homens pra fazer esse tipo de trabalho, pessoas LGBTQIA +, nosso público alvo é realmente esse”, afirma.

Revoar Sabino é um dos contratantes dos serviços oferecidos pela rede esposas de aluguel. (Foto: Flávia Santos)

Cliente 

Uma das pessoas que já contratou os serviço da rede espoas de aluguel é Revoar Sabino, 27. Ela ficou sabendo da existência da rede através de Felipe, quando visitou a ocupação e teve uma conexão simultânea com Cassis.

“Eu também sou uma pessoa indígena como o Cassis e conversamos sobre o que a gente faz, porque o Cassis também é artista, né? Mas também trabalha nessa rede de esposas de aluguel e foi através desse encontro que eu acabei conhecendo e comecei a contratar o serviço dele”, relata.

Como está de mudança, Revoar contratou os serviços para realizar pequenos reparos na casa nova. Eles instalaram o chuveiro, colocaram prateleiras e quadros nas paredes e também estão auxiliando na fiação elétrica da casa que está com algumas limitações. 

“É muito mais confortável e seguro pra mim trabalhar com pessoas que não são homens, cisgêneros e brancos na maioria das vezes”

 Revoar Sabino, morador da região central de São Paulo.

Nos próximos meses, Revoar pretende continuar contratando as esposas de aluguel para outros serviços na residência, pelo fato de estar escolhendo profissionais para cuidar de seu lar que tem os mesmos princípios que ela.

“Eu sou uma pessoa trans não binária e indígena, então você já imagina o quanto a sociedade não humaniza a gente, né? Eu me sinto muito mais confortável trabalhando com pessoas que estão mais próximas do meu corpo”, relata Revoar.

Além disso, para Revoar, contratar o serviço oferecido pela rede também é uma maneira de apoiar um trabalho que é majoritariamente dominado por homens héteros: “existem pessoas como nós habitando também esse lugar”, reforça.

“Trabalhar com crianças é também construir o passado delas”, afirma educadora Geisah Paula

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Através da arte educação, a assistente social Geisah Paula, dialoga com crianças e adolescentes sobre gênero, sexualidade, autoestima e sonhos como ferramenta de transformação.

A vontade de atuar com arte e educação levou a assistente social Geisah Paula Ribeiro, 31, a descobrir formas lúdicas e utilizar a comunicação não violenta para trabalhar a autoestima e confiança em crianças e adolescentes da quebrada através de um centro de convivência localizado no bairro Santa Maria, em Osasco, região metropolitana de São Paulo.

Geisah é moradora da Vila Dalva, bairro localizado no distrito do Rio Pequeno, zona oeste de São Paulo, mas sua história começa a cerca de 100km da cidade de São Paulo, lá em Itú, município onde a assistente social nasceu. Ela conta que sua trajetória levou seu olhar para a educação e o desejo de transformar realidades.

“Eu me leio como uma pessoa fruto de um relacionamento interracial que teve e passou por processos de racismo suficientes para ter me adoecido. Violências de gênero, raça, classe, sexualidade, e isso tudo me fez entender a vida como uma busca de devolver pra comunidade”, afirma Geisah, que desenvolve trabalhos com cerâmica, aquarela, artesanato, e encontrou na arte uma forma de combater as opressões vividas e ressignificar sua existência. 

“Eu cresci em um ambiente que a autoestima não foi construída em mim, eu tive que ter ela destruída primeiro para entender que eu precisava dela, e o que eu estou fazendo é alimentar a autoestima das crianças. O que estou executando como trabalho é algo de libertação, entender nosso espírito mesmo”, aponta a arte educadora.

Desde 2017, Geisah atua com arte educação discutindo autoestima, gênero e sexualidade no Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos. Ela pontua que ao trabalhar com crianças é necessário entender que não são mini adultos e que possuem a própria lógica. “O próprio estado de ser, e você precisa adequar aquilo que está tentando levar para ela de uma maneira que faça sentido”, aponta.

Geisah conta também que enxerga a arte como ferramenta de ensino que engaja as crianças e adolescentes. “Compreendendo que a arte, símbolos, representações e imagens são úteis, comecei a perceber que as crianças são grandes artistas. Na verdade, foram eles que me disseram isso”. 

 Território e referências

 A arte educadora observa que as referências que busca apresentar às crianças e adolescentes geram o impacto deles se abrirem, conseguirem falar como estão e o que estão sentindo.

“A gente consegue com que uma criança chegue na atividade dizendo que ser LGBT é pecado, e saía falando que aprendeu que deve respeitar todas as pessoas independente da sua sexualidade”, conta Geisah.

Quando se mudou de Itu em 2013, Geisah foi morar no Jardim Macedônia, zona sul de São Paulo, ela afirma que espaços de literatura e poesia nas periferias contribuíram na reconstrução de sua autoestima e confiança.

“Tinha tudo ali, indo nos roles de poesia como o sarau do binho, e indo pra faculdade todo dia, comecei a ir na batalha da Dominação no metrô São Bento, um lugar que frequentei por mais de um ano, comecei a escrever e foi uma experiência muito louca. Me olhei, me reconstruí nesses espaços e com a arte”

Para a artista, as referências apresentadas para a juventude podem representar transformação e mudança de caminho. “O que foi importante pra mim foram as referências que eu pude ter contato, então eu trabalho assim. Vou levar referências de artistas, de pessoas que somem na vivência deles, como o Chavoso da Usp, o Quebradinha, para que de alguma maneira seja uma memória que venham acessar no futuro”, afirma.  

Agente política 

Geisah afirma que o sucateamento na educação adoece quem está atuando e quer realizar melhorias.”Recentemente fizemos a finalização de uma atividade que falava de cidadania atuante. As crianças escreveram um projeto de melhoria para escola, eles querem fazer, eles querem atuar, eles querem propor, mas nunca são e vão ser chamados pela escola para fazer isso junto”, coloca. 

“O processo de escolarização das crianças é uma vivência com o desafeto. A experiência delas é com o não abraço, com o não incentivo, é com o não acreditar”

A assistente social conta que se enxerga como uma agente política, e isso significa estar exposta. “Contar para você das minhas experiências, meus traumas, das coisas que eu passei, é eu me expor, e você expor a sociedade para um adolescente, eles vão poder comparar, será que eu sou mais parecida com quem [das pessoas] quem eles convivem?”.

Essa construção de repertório político e social se faz presente na metodologia que a artista utiliza. Ela aponta que quando adultos se mostram para crianças um ser humano em evolução, a relação se constrói a partir de um novo lugar.

“Você não é o adulto que sabe de tudo e que vai dizer o que eles tem que fazer, você também está aprendendo, você é igual eu, com mais experiência”, pontua sobre a educação se tornar mais verdadeira e fluída ao se colocar como alguém que acerta e erra. 

“Quando você leva a sério uma pessoa que é infantilizada, ela se sente confiante para falar o que sente e pensa”

Para a assistente social a comunicação é a chave para várias mudanças. “Se a gente transformar a forma que falamos com essas crianças, vamos transformar as crianças e interromper o ciclo da violência”, finaliza.

Eleições: Jovem mobiliza mais de 90 pessoas para votar no primeiro turno nas periferias de SP

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A educadora Martha Gaudêncio montou um posto de atendimento em uma igreja e circulou por cursinhos populares das periferias, promovendo diálogos sobre a importância do voto e incentivando jovens e adultos a emitir e regularizar o título de eleitor.

A educadora ajudou jovens e adultos a emitir, regularizar ou tranferir o título de eleitor para uma zona eleitoral mais próxima de suas casas. (Foto: Arquivo Pessoal)

Enquanto artistas e influenciadores digitais ocupavam as redes sociais para engajar jovens a tirar o título de eleitor, a educadora popular Martha Gaudêncio, 23, estava circulando as periferias dos municípios de Itapecerica da Serra e da zona sul de São Paulo, para promover espaços de diálogos sobre a importância do voto, participação social e a construção de políticas públicas fundamentais para as periferias.

Segundo o Tribunal Superior Eleitoral, em 2018, quase 30 milhões de brasileiros deixaram de comparecer às urnas , com isso, a última eleição presidencial alcançou a marca de maior número de eleitores que deixaram de votar desde 1998.

Enraizada nos movimentos de educação popular das periferias, Gaudêncio é moradora do Jardim Santa Júlia, bairro de Itapecerica da Serra, região metropolitana de São Paulo. Ela é formada em Ciências e Humanidades pela Universidade Federal do ABC (UFABC) e atualmente está cursando a graduação de políticas públicas na mesma instituição.

“Por muitos anos no Brasil, mulheres, analfabetos e negros não podiam votar. Esse processo é muito importante para a gente conseguir reconhecer os nossos direitos e mais que isso, reconhecer como as políticas públicas afetam o nosso dia a dia”

Martha Gaudêncio é educadora popular.

Martha Gaudêncio criou um posto de atendimento em um igreja de Itapecirica da Serra para atender os moradores interessados em votar nas eleições de 2022. (Foto: Arquivo Pessoal)

A educadora enfatiza que durante os diálogos com os jovens e adultos, ela fez questão de relembrar o fato histórico de que o voto no Brasil foi um direito conquistado, informação que muitas vezes não está disponível com fácil acesso para os moradores das periferias.

Foi na Rede Ubuntu de Educação Popular que Gaudêncio começou sua trajetória como educadora popular. A iniciativa que busca inserir estudantes de escolas públicas no ensino superior foi o principal parceiro da educadora para impactar os jovens moradores das periferias.

Cerca de 150 jovens da Rede Ubuntu de Cursinhos Populares foram impactados pela proposta de educação cívica de Gaudêncio, que realizou rodas de conversa sobre a história do voto, a importância da participação social e a construção de políticas públicas para a garantia de direitos.

Além disso, ela atendeu 97 jovens e adultos que moravam nos bairros onde ela realizava as palestras e atendimentos na igreja. O público ia até ela, pois estavam com dúvidas para emitir o primeiro título, regularizar o documento ou transferir o local de votação para outra zona eleitoral.

“Tem inevitavelmente um pouco de formação cidadã, né”

Martha Gaudêncio atua como educadora popular na Rede Ubuntu de Educação Popular.

Ao lembrar que é uma das primeiras pessoas da família a acessar a universidade, a educadora reflete e reconhece que sua mãe, pai e avós não tiveram a mesma oportunidade ou política pública para usufruir deste direito fundamental que é o acesso à educação superior.

Esse interesse em fomentar espaços de diálogo sobre direitos sociais e participação política com jovens das periferias levou Martha a se tornar coordenadora da Pastoral Fé e Cidadania da Paróquia Jesus de Nazaré e Secretaria de Juventudes do Partido dos Trabalhadores (PT) em Itapecerica da Serra.

Uma das estratégias utilizadas pela educadora para chamar a atenção dos jovens durante os diálogos é discutir a presença ou ausência de políticas públicas no bairro onde eles vivem.

“Essas conversas sempre partem de uma perspectiva territorial. Então é chegar e falar: ó, a gente que mora aqui no fundão se o metrô saísse do Capão Redondo e viesse até o Jardim Ângela ia melhorar a nossa vida, não ia? Aí todos eles reconhecem que sim. Aí eu falo que o fato de ter ou não uma estação de metrô no Jardim Ângela é uma decisão política”, detalha Gaudêncio sobre uma de suas estratégias de educação e engajamento cívico com os jovens.

O próximo passo, segundo a educadora, é debater como a ausência dessas políticas públicas afetam o cotidiano dos jovens e de seus familiares, como forma de ampliar a percepção deles para essas questões fundamentais que muitas vezes não são discutidas dentro do ambiente familiar ou no seu convívio social.

“Eu acho muito legal, porque isso faz com que os jovens vão criando uma consciência sobre o quão importante é você entender de fato o que tá acontecendo, quem são os nossos representantes e tudo mais”, diz.

Cerca de 150 jovens da Rede Ubuntu de Cursinhos Populares foram impactados pela proposta de educação cívica da educadora popular. (Foto: Arquivo Pessoal)

Voto jovem e participação política 

Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o Brasil ganhou 2.042.817 novos eleitores com idade entre 16 e 18 anos, um aumento de 47% em relação ao número de jovens que tiraram título de eleitor nas eleições presidenciais de 2018.

Esse também foi um dos principais motivos que incentivaram Martha a organizar um plantão de atendimento em uma igreja católica na periferia de Itapecerica da Serra.

“Falei com o padre da Paróquia Jesus de Nazaré e ele me deu abertura para realizar a campanha. Peguei uma mesa, uma cadeira, um computador e comecei a divulgar nas redes sociais que a gente já tá lá tirando e regularizando título de eleitor de pessoas aqui na periferia de São Paulo”, relembra ela.

Como resultado deste processo, a educadora relata que impactou 97 pessoas atendidas no posto da paróquia. Além disso, chegaram 19 contatos de pessoas via WhatsApp, pois não conseguiram ir até igreja. Segundo ela, os moradores mandaram mensagem com as informações para realizar o atendimento online.

“Tem pessoas que vieram do nordeste para cá, que vieram da Bahia e Pernambuco e nunca tinham transferido o título para Itapecerica”, relata.

A conclusão do processo ocorreu nos polos do cursinho da Rede Ubuntu de Educação Popular, onde 37 jovens tiraram o primeiro título de eleitor. “Foi muito legal perceber que as pessoas realmente estavam interessadas em tirar o título. Atendi jovens com 17 anos que irão votar por livre e espontânea vontade”, finaliza.

“Vote mulher”: Escadão no Capão Redondo ganha grafite que incentiva voto feminino

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A ação realizada por artistas visuais faz parte da campanha Elas que Decidem, que visa incentivar mulheres a votar nas eleições deste domingo.

A iniciativa faz parte da campanha de incentivo ao voto feminino Elas que Decidem. Foto: Tamara dos Santos

Um grupo de mulheres artistas visuais transformaram a paisagem de um escadão localizado na Rua Abigail Maia, no Capão Redondo, zona sul de São Paulo. A passagem de ligação com outras ruas do território amanheceu colorida nesta segunda-feira (26), com mensagens de incentivo ao voto feminino.

Munidas de escadas, latas de tinta e de spray durante o último domingo (25), as artistas Suzana Maria, Vanessa de Souza e Stephany Alves – criaram intervenções visuais no escadão para deixar um recado pra mulherada que transita no território: a importância de votarem nas eleições do próximo domingo, dia 02/10.

A iniciativa faz parte da campanha de incentivo ao voto feminino Elas que Decidem, que realizou um levantamento de dados que apontam um cenário alarmante: 33 milhões de brasileiras não compareceram às urnas, ou votaram branco e nulo nas eleições presidenciais de 2018. Os números tem como fonte um cruzamento de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) juntamente com informações do Datafolha.

“Fiz uma jovem preta, indígena, de quebrada, pra retratar a importância da presença dela na política”

Stephany Alves é artista visual.

Foto: Tamara dos Santos

Nas texturas e letras da frase “Vote, mulher!”, Stephany conta que tentou trazer a contribuição artística que retrata as ancestralidades da mulher negra e indígena. “Elas lutaram para termos representatividade na política, e o futurismo; que é o que fazemos hoje para as mulheres que virão”, conta a jovem artistas de 23 anos, que atua como arte-educadora e grafiteira desde os 15 anos, quando começou a ensinar a arte nos muros para jovens e crianças periféricas.

Já Vanessa, com o projeto de arte Muito Amor, se expressou através da frase: “Um Futuro Juntas” em letras grandes e coloridas. Cria de Carapicuíba, na grande SP, é estudante de comunicação na USP e desde 2016 estuda lettering, pintura e desenho. “Sou apaixonada por arte urbana, considero o grafitti uma forma de contar histórias da cultura periférica e fiquei muito feliz quando surgiu esse muro, pois ele une a oportunidade de mostrar minha arte e meu posicionamento político junto de duas artistas e mulheres incríveis. Como mulher negra e periférica, sei da importância do voto como motor de mudança na vida das mulheres”, arremata.

Apesar de serem fundamentais para a decisão dos governantes do País, (em 2022 as mulheres serão 53% do eleitorado), a população feminina se abstém mais na hora de indicar suas preferências nas urnas.

Foto: Tamara dos Santos

A ilustradora e diretora de arte brasiliense Suzana Maria já havia criado a ilustração em que uma garota segura um cartaz escrito “Vote” para a campanha Elas que Decidem. O desenho agora foi ampliado na parede e eternizado no Capão.

“Essa pintura exalta a força da mulher, representada pela figura hiperbólica e ilustração, fazendo um convite para que a sociedade eleja cada vez mais lideranças femininas e incentive a organização de mulheres no espaço político”, explica.

A ação da campanha também celebra os 90 anos do sufrágio feminino no Brasil, movimento que em 1932 permitiu que todas as mulheres brasileiras, maiores de 21 anos, alfabetizadas e assalariadas, tivessem direito ao voto.

Escritor indígena analisa propostas de Lula e Bolsonaro para os povos originários

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A análise aponta que Bolsonaro busca ampliar a mineração e Lula quer reforçar a proteção de terras dos povos originários com mais participação social na FUNAI.

Durante os primeiros três anos (2019 – 2022) do governo de Jair Bolsonaro (PL), as atividades de grilagem de terras, desmatamento de florestas, mineração e garimpo ilegal aumentaram e se tornaram ameaças diretas à vida da população indígena que vive na Amazônia Legal, território reconhecido por lei e composto pelos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e Maranhão.

Além de possuir a maior biodiversidade de floresta tropical e a maior bacia hidrográfica do mundo, que distribui água para diversos estados do país, a Amazônia Legal concentra 98% das terras indígenas e abriga 56% da população indígena do Brasil, segundo dados do IBGE. Esses fatores demográficos e climáticos tornam as eleições presidenciais de 2022 o principal debate de interesses políticos e econômicos do planeta.

Atento a importância de colocar a população indígena no centro do debate político, o Desenrola entrevista o escritor e ativista Olívio Jekupé, importante liderança indígena guarani no Brasil, autor de 24 livros, que levou para centros acadêmicos o pensamento e o conhecimento dos povos originários. Ele irá analisar as propostas dos presidenciáveis Jair Bolsonaro (PL) e Lula (PT).

Logo no início da entrevista, o escritor indígena relembra a fala de Jair Bolsonaro em fevereiro de 2018, momento de pré-campanha eleitoral à presidência da república, na qual o atual presidente comentou em uma entrevista: “Nem um centímetro a mais para terras indígenas”.

Para Olívio, liderança indígena Guarani que já presenciou uma série de ataques do governo Bolsonaro aos direitos dos povos indígenas, as propostas do candidato não apresentam um interesse genuíno em promover o direito à vida e à terra.

“Não dá para acreditar nas propostas de Bolsonaro. É um governo complicado na questão indígena. Ele cumpriu o que ele falou na outra proposta dele – não dar nenhum centímetro de terra – mas a terra não é dele, a terra é nossa, dos nossos parentes. Com isso, as demarcações das terras indígenas no Brasil estão todas paradas”

Olívio Jekupé é escritor e liderança indígena. 

Plano de governo 

Intitulado ‘Caminho da Prosperidade – Construindo uma Grande Nação’, o plano de governo de Jair Bolsonaro (PL) cita pela primeira vez a palavra indígena na proposta focada em promover “Liberdade para o Uso Responsável dos Recursos Naturais”. Ao todo são 12 citações ao termo ‘indígenas’ no documento.

De forma resumida, o item apresenta o seguinte objetivo: “o governo deve propiciar a todos, incluindo indígenas, quilombolas, ribeirinhos e outros, a LIBERDADE de uso responsável dos recursos naturais que cada indivíduo ou coletividade dispõe legalmente.”

Na contramão do que propõe Bolsonaro, o plano de governo do candidato Lula (PT) cita a palavra indígena apenas três vezes, mas faz menção direta à proteção dos povos originários. “Estamos comprometidos com a proteção dos direitos e dos territórios dos povos indígenas”, diz o item 40 da proposta, que propõe criar mecanismos de proteção das terras indígenas para impedir atividades predatórias que colocam em risco a vida dos povos tradicionais.

“Com a proposta do Lula, a gente acredita que as questões indígenas podem melhorar. Inclusive com a criação de um ministério ocupado por povos indígenas do Brasil que são capacitados e inteligentes, para trabalhar melhor as nossas demandas”, coloca o escritor guarani. 

Combate à pobreza 

Olívio faz uma distinção entre as propostas de Bolsonaro e Lula, no que se refere à construção de proteção às populações mais pobres e melhorias de condições de vida. “Bolsonaro é da elite, principalmente na questão dos fazendeiros. Como ele prometeu não demarcar terra indígenas, isso incentivou ainda mais os fazendeiros, então a gente corre um grande perigo”, aponta o escritor, que enfatiza uma preocupação coletiva com o trabalho e a renda dos povos indígenas.

De acordo com o plano de governo, Bolsonaro visa combater a desigualdade socioeconômica incentivando e fomentando o empreendedorismo para os cidadãos brasileiros. Segundo Olívio, essa visão de política econômica impacta diretamente a cultura dos povos tradicionais, na sua forma de viver em harmonia e preservar os recursos naturais dos territórios onde vivem, como a terra e a água.

Outra medida proposta pelo plano de governo do atual presidente é promover e estimular a realização de atividades de turismo em territórios indígenas, para promover a economia local.

Já o presidenciável Lula aposta em medidas como fortalecimento das ofertas de trabalho com carteira assinada, a partir de uma renovação de leis trabalhistas para contemplar as novas formas de geração de renda da população brasileira, englobando novas categorias de trabalhadores que precisam de proteção social para não serem continuamente afetados pela informalidade e perda de direitos presente na atual legislação de apoio ao empreendedor e relação com aplicativos.

“O Lula sempre teve uma preocupação com a sociedade brasileira e especialmente os mais pobres”, diz Olívio, mencionando a importância de construir mecanismos de proteção social dos trabalhadores, para combater a extrema pobreza que vem afetando não só as populações de áreas urbanas, mas também a população indígena.

FUNAI 

No plano de governo do candidato Bolsonaro, a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) aparece citada de forma tímida sem uma proposta concreta para reformular, organizar ou ampliar as competências do órgão público que tem por objetivo garantir a proteção dos direitos dos povos indígenas brasileiros.

Diante dos ataques de violência contra a vida dos povos indígenas promovidos por garimpeiros, mineradores, grileiros e fazendeiros, a FUNAI representa uma das principais instâncias do poder público para promover um debate em torno destas circunstâncias, apontando os problemas e soluções em defesa dos povos indígenas.

“A FUNAI precisa de mais poder para trabalhar com força as questões indígenas com respeito e honestidade, porque o atual presidente da FUNAI é ‘bolsonarista’, então a questão indígena ficou pior”, afirma Olívio, e ressalta ainda que essa é uma questão urgente que precisa ser alvo de mudança do próximo presidente eleito.

Para o escritor guarani, enquanto Lula fala em impedir atividades predatórias em territórios indígenas, o plano de governo de Bolsonaro propõe a legalização de atividades de mineração em terras dos povos tradicionais com apoio e fiscalização de órgãos do governo. Desta forma, ele avalia que o candidato Lula propõe uma série de ações para fortalecer a FUNAI e sua atuação no combate aos ataques contra a vida dos povos indígenas e o meio ambiente.

“Vamos combater o uso predatório dos recursos naturais e estimular as atividades econômicas com menor impacto ecológico. Para isso, será necessário recuperar as capacidades estatais, o planejamento e a participação social fortalecendo o Sistema Nacional de Meio Ambiente e a Funai”, descreve o item 49 do plano de governo do presidenciável do PT.

Um dos trechos que mais chama a atenção do escritor indígena é o fato de Lula propor a participação social nesse importante órgão do governo. Segundo ele, isso é um caminho para ouvir e acolher lideranças indígenas no comando da entidade. “Uma coisa importante é a presidência da FUNAI. Os próprios indígenas devem eleger quem vai governar a FUNAI”, finaliza.

Periferia em Movimento lança livro sobre experiências em educação midiática no Grajaú

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“Repórter da Quebrada: Experimentações marginais nas práticas jornalísticas” traz percepções sobre processos jornalísticos em periferias de São Paulo

(Foto: Comunicação Periferia Em Movimento)

 Nesta terça-feira (27), a partir das 18h, a produtora independente de jornalismo de quebrada Periferia em Movimento lança seu primeiro livro no Espaço Cultural Cazuá, localizado no Grajaú (Extremo Sul de São Paulo).

Produzido com apoio do Programa de Fomento à Cultura da Periferia de São Paulo, o livro tem distribuição gratuita, porém com prioridade para quem atua na educação formal ou não formal. Em breve, a obra estará disponível em versão on-line. Para ter acesso, é necessário preencher este formulário de interesse (clique aqui).

O evento vai contar com exibição de conteúdos produzidos a partir dessa metodologia, com um coquetel de recepção e venda de bebidas – a verba arrecadada será revertida para a própria Periferia em Movimento, que recentemente teve parte dos equipamentos de trabalho furtados.

O livro 

O projeto Repórter da Quebrada reúne uma série de processos pedagógicos para formar repórter atentos a garantia de direitos sociais nas periferias. (Foto Divulgação)

 Em “Repórter da Quebrada: Experimentações marginais das práticas jornalísticas”, a produtora independente de jornalismo de quebrada apresenta como a metodologia de educação midiática desenvolvida ao longo dos últimos 13 anos se materializa nos territórios periféricos e favelados e na sociedade como um todo por meio dos conteúdos jornalísticos produzidos e na ação de fontes consultadas, de pessoas e de iniciativas parceiras.

Voltado a educadoras, educadores e educadorus formais e não formais e que podem multiplicar essas práticas, nos três primeiros capítulos o livro traz depoimentos de 17 pessoas sobre observação apreciativa dos territórios, articulação para representatividade real nas narrativas e a incidência no campo da comunicação. E no quarto e último capítulo, há um guia prático de oficina para experimentar a metodologia.

“Nosso desejo é que o livro seja uma ferramenta de fomento ao direito à informação e direito à comunicação a partir das quebradas”

Aline Rodrigues é co-fundadora da Periferia em Movimento.

A jornalista e educadora Aline Rodrigues é a organizadora da publicação. 

Desde sua fundação, a Periferia em Movimento promoveu mais de 2,5 mil horas de encontros de aprendizagem (entre cursos, oficinas e palestras) sobre mídia, direitos humanos e periferias com mais de 5 mil participantes, especialmente adolescentes estudantes de escolas públicas.

“Queremos garantir que chegue principalmente para quem topa somar em seus fazeres esses saberes periférico-ancestrais que acessamos e amadurecemos ao longo de mais de uma década, com a contribuição de muita gente que vive e atua nos territórios periféricos”, diz Aline Rodrigues, organizadora do livro, co-fundadora e gestora de redes e parceria da iniciativa.

Thiago Borges no centro da imagem é editor de conteúdo e co-fundador da Periferia Em Movimento. Além de editar o livro, ele é um dos autores da publicação. (Foto: Comunicação Periferia Em Movimento)

Esses encontros apresentam conceitos e práticas do campo do jornalismo e como isso vai ao encontro da realidade nas periferias, em um processo contínuo de experimentação do fazer jornalístico da Periferia em Movimento que serve como base e ao mesmo tempo é aperfeiçoado nas vivências realizadas com participantes. Por isso, é válido dizer que a metodologia de educação midiática da produtora não se restringe ao período do encontro de aprendizagem, como se estende para a própria forma de trabalho do grupo.

Anotaí!

Lançamento do livro “Repórter da Quebrada”

Quando? Terça-feira, 27 de setembro, das 18h às 21h30

Onde? No Espaço Cultural Cazuá – Rua Affonso Paullilo, 193 – Jardim Eliana – Grajaú – Extremo Sul de São Paulo

Entrada e distribuição gratuitas