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“Eu já não sou mais a mesma”: trabalhadoras domésticas relatam desgastes em jornadas de trabalho

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Em 2023, a emenda constitucional criada para “estabelecer a igualdade de direitos trabalhistas entre os trabalhadores domésticos e os demais trabalhadores urbanos e rurais”, completa 10 anos. Ao longo desse tempo e com a criação de leis complementares, como a de nº 150 de 2015, trabalhadores domésticos passaram a ter direito a benefícios básicos como FGTS e seguro desemprego. Ainda assim, na prática, a rotina de muitas trabalhadoras domésticas ainda demonstra a necessidade de mudanças.

“Eu era cozinheira, babá, arrumadeira, era tudo, isso me sobrecarregou. Aí eu comecei a sentir dor no joelho e descobri que estava com tendinite”, conta a trabalhadora doméstica, de 50 anos, moradora de Osasco, na região metropolitana de São Paulo. A entrevistada, que preferiu não se identificar, trabalha como empregada doméstica há mais de 30 anos. 

“Fiz fisioterapia [e] tratamento, ainda trabalhando, e hoje meu joelho está com desgaste total. Meu caso é cirúrgico, tenho risco de pôr uma prótese e tudo isso foi pelo esforço em casa de família”

Trabalhadora doméstica que preferiu não se identificar, tem 50 anos, mora em Osasco e trabalha como doméstica há mais de 30 anos.

Além do impacto na saúde, a moradora de Osasco conta que possui uma jornada diária de trabalho inconstante, onde começa a trabalhar às 7:40 da manhã, mas não tem horário definido para ir embora. Ela conta que trabalha de segunda a sexta e que seu registro na carteira de trabalho aconteceu em 2018, momento no qual passou a receber vale transporte, férias e 13º salário.

Segundo a cartilha “Trabalhadores domésticos: direitos e deveres”, que conta com as alterações da Lei Complementar nº 150, de 1º de junho de 2015, produzida pelo Ministério do Trabalho e Previdência Social, considera-se empregado doméstico aquele maior de 18 anos, que presta serviços de natureza contínua, subordinada, onerosa, pessoal e de finalidade não lucrativa à pessoa ou à família, no âmbito residencial destas, por mais de 2 dias por semana.

Confira aqui a cartilha completa

Outro contexto que atravessa a realidade de trabalhadoras domésticas, principalmente moradoras das periferias, é o fato de se sentirem desamparadas e desvalorizadas. Além de situações de abuso psicológico que são silenciadas pela necessidade da continuidade no emprego.

“Eu tinha deixado a louça por último e não lavei porque tinha passado do meu horário. O apartamento era muito grande, nesse dia eu limpei toda a casa e as geladeiras. Me chamaram a atenção por não ter lavado a louça, logo depois de ter ficado um dia inteiro na casa dela que media mais de 150 metros quadrados”, conta a trabalhadora doméstica, de 28 anos, que preferiu não ser identificada.

Atualmente a profissional trabalha como faxineira para pagar os estudos no ensino superior. Ela conta que devido ao fato de ter começado a trabalhar há um pouco mais de 1 ano nessa residência, mesmo com a frequência de cinco vezes por semana, até o momento ainda não foi registrada e não possui nenhum tipo de benefício trabalhista.

“Eu sempre quis trabalhar na área de enfermagem, mas não tive a oportunidade. Só estudei até a 8ª série por ter começado na casa de família cedo e não tive mais como estudar. Hoje não sei se tenho mais saúde e cabeça, mas quem sabe. Nunca é tarde para recomeçar”, compartilhou a trabalhadora, de 28 anos, que não quis se identificar.

Alguns dos relatos trazidos pelas trabalhadoras são semelhantes, como a ausência de benefícios trabalhistas que possibilitem uma jornada condizente com seus direitos, evitando problemas físicos e mentais a longo prazo.

“Todos meus problemas de saúde nasceram a partir do trabalho pesado como doméstica. Minha vida mudou e eu já não sou mais a mesma”

Trabalhadora doméstica que preferiu não se identificar, tem 50 anos, mora em Osasco e trabalha como doméstica há mais de 30 anos.

Outra profissional que também preferiu não se identificar, conta que passou a apresentar problemas de saúde aos 35 anos, quando já atuava como trabalhadora doméstica.

“Hoje eu tenho 47 [anos], trabalhei mais de 10 anos [como doméstica] mesmo com as dores. Eu pago INSS, dei entrada para tentar o benefício, não consegui. Fui recusada e eles disseram que eu sou nova e posso muito bem trabalhar. Agora estou sem benefício e sem trabalhar”, relata a trabalhadora, de 47 anos, que mora no distrito do Jardim Ângela, na zona sul de São Paulo.

A morada do Jardim Ângela precisou se afastar do trabalho em 2022, devido complicações na saúde causadas pela fibromialgia e ansiedade. Ela conta que foi registrada pela primeira vez há mais de 18 anos, onde naquele tempo recebia em torno de R$ 400,00 trabalhando todos os dias na semana e em uma época onde as trabalhadoras domésticas não possuíam direitos trabalhistas. Antes de ser afastada ela não trabalhava de carteira assinada, pois já sentia sua saúde frágil e imaginava ter que parar em breve.

Garantia de direitos

Na cartilha “Trabalhadores domésticos: direitos e deveres”, produzida pelo Ministério do Trabalho e Previdência Social, consta alguns dos direitos dos trabalhadores domésticos, como: 13º salário, remuneração do trabalho noturno, jornada de trabalho, remuneração do serviço extraordinário, repouso semanal remunerado, feriados civis e religiosos, férias, licença à gestante, auxílio-doença, entre outros.

Segundo Nataly Ramos, pesquisadora do eixo Trabalho no CEP (Centro de Estudos Periféricos), a PEC das Domésticas foi e é importante para a garantia de direitos, mas aponta que ainda existem muitas dificuldades nas condições de trabalho de empregadas domésticas.

“No mundo, o trabalho doméstico nunca foi considerado trabalho. Mas aqui no Brasil tem essa particularidade histórica de ser um país colonial e escravagista”, aponta a pesquisadora.

Para Germânia Pinheiro, psicóloga e pós-graduada em psicologia junguiana, muitos sinais físicos que o corpo apresenta tem relação direta com a saúde emocional que precisa ser olhada.

“Muitas vezes até mesmo pela carga horária, pela pressão, pela necessidade, acabam não prestando atenção nos sinais que o corpo envia. Ou seja, dores de cabeça, nas pernas, no estômago, com frequência são compreendidas como normais, mas não são”, aponta a psicóloga, que afirma ser nesses momentos que a saúde mental está pedindo socorro.

A psicóloga também afirma que se, ao longo do ano, essas profissionais fossem acolhidas e orientadas com campanhas, projetos e iniciativas do próprio poder público, o cenário poderia ser outro.

“É uma iniciativa que deveria vir do poder público, de fazer conscientização e trazer essa responsabilidade para os patrões, até mesmo para que essas mulheres se sintam confortáveis para buscar esse suporte”, aponta a psicóloga.

Luiza Batista Pereira, que é trabalhadora doméstica já aposentada e Coordenadora Geral da Fenatrad (Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas), coloca que a maior parte das trabalhadoras domésticas são mulheres negras, periféricas, de baixa renda e sem escolaridade. Fator que socialmente reforça a desvalorização dessa função.

“A desinformação contribui muito para que as trabalhadoras não tenham acesso aos seus direitos previstos em lei. Então a importância delas conseguirem esse acesso é terem a perspectiva de saber que estão sendo alcançadas. É uma luta gigante, mas é isso que nos dá força para continuar”, afirma Luiza.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Brasil, existe um total de 6 milhões de trabalhadoras domésticas, se tratando de mulheres. Apenas 1,5 milhões possuem carteira assinada, e as que trabalham sem formalidade trabalhista, ainda possuem renda média abaixo de 1 mil reais.

A pesquisadora do eixo Trabalho no CEP (Centro de Estudos Periféricos), Nataly Ramos, reforça que “as pessoas precisam entender que o trabalho de cuidado é essencial e que elas podem limpar a sua própria sujeira e fazer sua própria comida. Se o mundo capitalista não permite que a gente tenha horários disponíveis pra fazer isso, que a gente pense em formas de trabalhar menos e coletivizar esse trabalho”, concluiu. 

MORADORA DO GRAJAÚ ASSUME COORDENAÇÃO GERAL NO MINISTÉRIO DOS DIREITOS HUMANOS E DA CIDADANIA

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Nomeada Coordenadora Geral de Políticas Socioeducativas na Secretaria Nacional dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes no Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, Mayara Silva de Souza, 30, cria do bairro Cocaia, distrito do Grajaú, zona sul de São Paulo, faz parte de um movimento de mulheres que buscam ocupar espaços de decisões, e a partir da sua atuação, contribuem através de políticas públicas, para melhoria na vida de jovens e crianças das periferias.

Formada em Direito, Mayara foi uma das mulheres selecionadas no programa de Lideranças Femininas Negras Marielle Franco pelo Fundo Baobá, em 2019. Programa que busca potencializar mulheres negras para alcançar espaços de poder e fazer a diferença onde elas quiserem estar.

“Eu sou de várias periferias de São Paulo. A minha mãe morava no Cocaia, a minha madrinha no Jardim Ângela, e a nossa relação era bem próxima, sempre passava as férias escolares lá. Atualmente moro em Brasília por conta da proposta de trabalho que recebi e gosto muito daqui”, conta Mayara, que assumiu o cargo de coordenadora geral em março deste ano e se mudou para Brasília, local que já frequentava desde 2018.

A partir das andanças pelas quebradas, Mayara já atuou com suas potências e também com as violências programadas nesses territórios. A perda de um amigo por overdose foi um dos motivos para que decidisse se tornar alguém que pudesse fazer a diferença na vida de jovens periféricos. 

“O sonho em relação à periferia seria justamente fazer com que a violência institucional seja interrompida. É uma pretensão bem ousada, mas precisamos dessa ousadia.” 

Mayara Silva, Coordenadora Geral de Políticas Socioeducativas no Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania.

A advogada é filha de mãe solo, nordestina e conta que desde os 14 anos entendia que o contexto em que vivia era diferente para pessoas como ela.

“Até os 9 anos eu morei no Campo Belo e depois fui morar no Grajaú. Aí começamos a morar em família e minha mãe passou a ir e voltar todos os dias do trabalho para dormir em casa. Até aquele momento, a minha vivência maior de vida foi dentro do quarto de empregada que a minha mãe trabalhava”, conta.

Atuação 

Desde pequena Mayara já sabia o que queria fazer: ser promotora de justiça. Ela conta que uma vez sua mãe a levou em uma audiência de pensão alimentícia em um fórum, e a partir disso passou a ter essa carreira como objetivo. “Na adolescência foi que eu entendi e fui estudar Direito”, compartilha.

Foi ao longo desses anos de estudos que Mayara passou a observar as violências institucionais que atravessavam seus amigos e familiares. Ela conta que seu irmão, um jovem negro, sofria diversas abordagens policiais diárias e quase não via os colegas da escola por estarem cumprindo medida socioeducativa na Fundação Casa. Fatos que influenciaram na sua atuação.

“Quando eu entrei na faculdade e descobri que existe um campo no Direito que atua para garantir o reconhecimento dos adolescentes, das crianças e dos jovens como sujeitos de direitos. Através de iniciativas públicas entendi que era isso que eu queria”. 

Mayara Silva, Coordenadora Geral de Políticas Socioeducativas na Secretaria Nacional dos Direitos das Crianças e dos Adolescente.

Ao longo de sua carreira, Mayara atuou em espaços de assistência como órgãos da Defensoria Pública, em audiências e atendimento a jovens de diferentes territórios.

“Eu sabia como funcionava, cresci lá [na periferia], sabia como atender essas famílias. Sei como eles viveram, sei o role que é, o tempo que levaram até chegar aqui, quantos ônibus pegaram”

Ao longo de sua carreira, Mayara atuou em espaços de assistência como órgãos da Defensoria Pública, em audiências e atendimento a jovens de diferentes territórios.

“Eu sabia como funcionava, cresci lá [na periferia], sabia como atender essas famílias. Sei como eles viveram, sei o role que é, o tempo que levaram até chegar aqui, quantos ônibus pegaram”, conta a advogada.

Mayara aponta que ter uma história de vida parecida com a de muitos jovens periféricos aproximou e possibilitou contribuir de uma maneira diferente. “Eu conseguia fazer um atendimento baseado na realidade, porque era a minha até pouco tempo”.

Durante sua passagem pela Prefeitura de São Paulo, a advogada trabalhou com a política e atendimento socioeducativo a nível municipal. Já no terceiro setor, envolvida na temática de direitos da juventude, atuava em nível nacional, e foi aí que percebeu que o trabalho realizado era bom, mas poderia ser ainda melhor com o setor voltando seu olhar para a base territorial.

Enquanto atuava na ONU, com foco em como o judiciário brasileiro trata a política socioeducativa para adolescentes, percebeu a distância de quem discutia a temática, para quem estava no território.

“Eu fazia formação para juízes, fazia manual de como avaliar o atendimento pensando sob a ótica desse adolescente e agora eu estou justamente a esse nível nacional que coordena toda a política de maneira específica hoje no Brasil”, pontua.

Atualmente Mayara tem o objetivo de contribuir na construção de políticas socioeducativas sob a perspectiva de garantia das políticas públicas. Como Coordenadora Geral do Atendimento Socioeducativo, busca o protagonismo jovem.

“A violência pode ser interrompida dando esse protagonismo para a juventude, sobretudo por meio de políticas públicas”, aponta Mayara.

Do Contra Egum à universidade, te conto as belezas que vi na juventude negra hoje

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Reprodução: Freepik
Reprodução: Freepik

Entre as distrações com tanta gente, eu te acho com o corpo encurvado, caderno e caneta na mão. O boné, a camisa de futebol vermelha dois números maiores, assim como a calça larga e lá pra baixo da cintura, daquelas que aparece parte (bem pouca) da bunda; me dão os sinais pra acreditar que tu vem de algum lugar semelhante de onde eu vim. Alí, de alguma quebrada.

Eu te reparo. Do nada você não levanta a cabeça, só os olhos, e tenta reparar se tem alguém te olhando: você reparou que o Contra Egum no braço está à mostra. Imediatamente tu ajusta a manga da blusa e esconde o trançado de palha que te dá proteção.

“Eu sigo te observando. Isso é raro porque, para não ser percebida, às vezes eu até prefiro não observar nada”

Simone Freire, jornalista e moradora da Cidade Tiradentes, Zona Leste de São Paulo.

A tua pele passa a me chamar a atenção. É bonita pra c*! Retinta! Tu é jovem e tem aquelas marcas nos braços, aquelas retas feitas pela lâmina afiada da vida nas fases em que o peso do mundo é demais, mesmo que a gente tente vencer ele.

Não tive dó, fiz reza, e fiquei feliz que você tá se cuidando. Do entrelaço no braço, às rezas de quem te ama (e olha), e letras que você põe no papel! Continue! Continuamos!

Reprodução: Freepik
Reprodução: Freepik

Existe caminho para a juventude negra, sabe. Existe! 

Esses dias, Yakíni, um jovem negro, estava quase perdendo o direito de estudar na universidade. Estudou, fez vestibular, passou. Fez matrícula. Mas a vida complexa enquanto jovem negro fez com que ele não conseguisse cumprir a última da última etapa do processo de matrícula. Coisa burocrática.

É incrível, pra não dizer absurdo, que a burocracia – pensada para lidar com as particularidades de alunos que não são da cor ou lugar social de Yakíni – tenha quase tirado a oportunidade dele estudar.

E digo quase porque ele conseguiu recuperar o seu direito. Sim, para isso foi preciso que sua mãe, familiares e toda uma rede de apoio preta, de militantes à pessoas não-militantes, usassem suas vozes e vezes nos lugares que ocupam. A USP, onde ele vai estudar, precisou voltar atrás e devolver a sua vaga. Basta saber se ela vai rever seu futuro para acolher quem precisa acolher.

Daqui a pouco você estará que nem Yakíni por aí voando. Não sei seu nome ou endereço, mas boto fé que vou ler seus escritos por aí um dia. Ou será que tu me lê aqui primeiro? Que se abram os caminhos!

Problemas no transporte público dificultam a mobilidade de moradores em Mambu, no Marsilac

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Localizado no extremo sul da cidade de São Paulo, sob a administração da subprefeitura de Parelheiros, o distrito de Marsilac fica a aproximadamente 50 km do marco zero da capital, o que representa em média 2 horas de deslocamento de um ponto a outro. Esse tempo aumenta devido às dificuldades de mobilidade que os moradores da região enfrentam diariamente, principalmente devido à dependência do transporte público.

Luciana Carmo dos Santos, 35, é moradora do bairro Jardim dos Eucaliptos, em Marsilac, há três anos e conta como é o deslocamento na região. “Na estrada do Mambu só passa uma lotação e ela passa só três vezes ao dia”, afirma a moradora, que também conta que a lotação passa em horários específicos: às 6h, 12h e às 18h.

Linha Cipó – Ponte Alta, no Terminal Municipal de Embu-Guaçu (foto: Viviane Lima)

“Só tem um transporte e ele só passa nesses horários, se você perder você não tem como voltar para casa, as pessoas costumam andar a pé para poder ir até a cidade”, conta Luciana. Ela pontua que para chegar ao centro comercial mais próximo, que fica no bairro Cipó, em Embu-Guaçu, são 2 horas de caminhada.

Segundo Luciana, aos fins de semana a dinâmica não apresenta melhora. “Dia de domingo e feriado não tem transporte público, sábado muda o horário da perua, é uma hora mais tarde”, comenta. 

Barreiras no acesso à direitos sociais 

As consequências geradas devido à falta e precariedade da mobilidade urbana na região são muitas, mas as que mais afetam as moradoras entrevistadas tem relação com acesso à saúde e ao mercado de trabalho.

Luciana é professora de filosofia, analista de crédito e está desempregada desde que se mudou para Marsilac em 2020. Ela acredita que a falta de transporte seja um dos principais motivos. 

“Eu estou procurando trabalho há mais de dois anos e eu não consegui, porque quando as pessoas descobrem onde eu moro, elas não querem me dar trabalho, isso é recorrente com várias pessoas.”

Luciana Carmo dos Santos, professora de filosofia e analista de cré

Luciana mora com a filha de 17 anos, e a mãe, Maria do Carmo, 75, que é aposentada, sendo essa a única fonte de renda da família no momento.

Da Estrada do Mambu à UBS mais próxima da casa da família são 15 km de distância. Luciana conta que “às vezes para o pessoal poder ir ao médico eles caminham cerca de 3h”.

Outro ponto que torna ainda mais difícil a locomoção é a falta de pavimentação nas estradas. 

“Tem oito meses que o meu marido faleceu. A minha filha chamou a ambulância, ele estava passando mal, a ambulância não chegou. A ambulância quebrou [na estrada] e nunca chegou aqui. Luciana teve que chamar um carro para levar meu marido, o pai dela, lá no hospital. Ele morreu no caminho, nos braços da filha”.

Maria do Carmo, 75, aposentada e moradora do bairro Jardim dos Eucaliptos, em Marsilac.

Acessibilidade

Maria do Carmo, mãe de Luciana, é cadeirante e ainda vivencia outras consequências da problemática do transporte na região: a falta de acessibilidade.

“A lotação que tem não é preparada para receber cadeirantes. O elevador não funciona, o cinto para prender a cadeira de roda não funciona”, afirma Luciana. Ela aponta diferentes situações, como “a estrada esburacada, não tem luz na rua”, conta sobre a Estrada do Mambu.

Elevador de acessibilidade para cadeirante (foto: Viviane Lima)
Elevador de acessibilidade para cadeirante (foto: Viviane Lima)

A tarifa do transporte é R$ 4,10 e a gratuidade da passagem para idosos com mais de 60 anos, na prática, não funciona na região.

“A maior parte dos idosos paga [a passagem] e dá caixinha para o motorista. Porque eles [os motoristas] reclamam. A gente pede para parar o ônibus [falam] ‘Ah vai atrasar o ônibus’. A minha neta tem que correr para parar o ônibus” 

Maria do Carmo dos Santos, 75, aposentada, moradora do bairro Jardim dos Eucaliptos, em Marsilac.

Outra situação que ocorre é “um esquema de táxi, que é assim: um trecho de 8 km eles cobram R$ 40. Não colocam o taxímetro e quando eles vão entrar em área rural de mata eles cobram mais”, afirma Luciana. 

Ponto de táxi, localizado na Praça Ivan Braga de Oliveira, em Embu-Guaçu (foto: Viviane Lima)
Ponto de táxi, localizado na Praça Ivan Braga de Oliveira, em Embu-Guaçu (foto: Viviane Lima)

Ricardo Barbosa da Silva, geógrafo, professor da Unifesp no campus da zona leste, é coordenador do grupo de pesquisa Rede Mobilidade Periferias e aponta como a mobilidade é parte fundamental para acessar direitos.

“A partir da mobilidade é que se vai garantir o acesso aos demais direitos e oportunidades. Se não tem mobilidade, não vai ter acessibilidade de maneira mais adequada e as pessoas não têm como acessar os demais direitos como trabalho, educação, saúde e serviços públicos essenciais”. Ricardo Barbosa da Silva, geógrafo, professor da Unifesp no campus da zona leste e coordenador do grupo de pesquisa Rede Mobilidade Periferias.

Problemas na linha

No Relatório de Obras e Ações 2022 Parelheiros, criado através do Diálogo Aberto, uma iniciativa da Prefeitura de São Paulo, consta que houve obras emergenciais na Estrada do Mambu. “Sobre as intervenções na Estrada do Mambu, a Subprefeitura informa que foi feita a reconstrução da via, após um solapamento do solo. Os reparos foram executados para garantir a segurança no local”. Segundo a Subprefeitura de Parelheiros, a obra foi finalizada em julho de 2022.

Entramos em contato com a SPTrans para entender a situação na linha Cipó – Ponte Alta, que segundo os moradores é a única que passa na Estrada do Mambu. A SPTrans informou “que não existe linha com esta denominação no sistema de transporte municipal da cidade de São Paulo”. A companhia aponta que essa é uma linha que não possui regulamentação e fiscalização realizada por eles.

A companhia sinalizou linhas que atenderiam a região. “A região de Marsilac e da Estrada do Mambu é atendida por seis linhas municipais: 6L01/10 Marsilac – Term. Varginha, 6L02/10 Jd. Eucaliptos – Term. Parelheiros, 6L03/10 Cipó do Meio – Term. Parelheiros, 6L04/10 Jd. Oriental/Fontes – Term. Parelheiros, 6L01/23 Emburá – Term. Varginha e 6L04/42 Jd. Oriental – Term. Parelheiros”. Luciana aponta que “na Estrada do Mambu nenhuma dessas linhas circulam”.

Segundo a SPTrans, o fator ambiental na região interfere na situação do transporte local. Apontam que o distrito de Marsilac e a região do Mambu estão inseridos na Área de Proteção Ambiental – APA Capivari-Monos.

“Estudos de ampliação, modificação e/ou implantação de novas linhas na região devem ser submetidos à análise e aprovação de diferentes órgãos. Em 2015, foi realizado estudo para a implantação de um serviço da região do Mambu até as proximidades da Estrada do Marsilac, mas não foi efetivada por não atender às condicionantes de órgãos responsáveis”, afirma a SPTrans.

A linha citada por Luciana e Maria do Carmo, Cipó – Ponte Alta, não consta na SPTrans e não tem a supervisão da subprefeitura de Parelheiros. Assim, também entramos em contato com a Prefeitura de Embu-Guaçu, pois a van citada faz parte das linhas administradas pelo município, cujo o ponto de chegada é a Estrada da Ponte Alta e partida na Rua José do Rio Ruiz Filho, em Embu-Guaçu. 

Linha Cipó – Ponte Alta, no Terminal Municipal de Embu-Guaçu (foto: Viviane Lima)
Linha Cipó – Ponte Alta, no Terminal Municipal de Embu-Guaçu (foto: Viviane Lima)

A Secretaria Municipal de Segurança e Transporte (SEMUTRANS), de Embu-Guaçu, confirmou que a linha Cipó – Ponte Alta circula apenas em três horários de segunda à sábado e informou que “devido a baixa demanda de usuários a linha é assistida nos horários mencionados priorizando-se os horários de pico (manhã e tarde)”.

A SEMUTRANS pontua que “os veículos oferecem acessibilidade conforme Lei 13.146/2015, chamada Lei Brasileira de inclusão de pessoas com deficiência. Referente a gratuidade de pessoas com 60 anos”. Também relatam que “os mesmos precisam ter uma identificação que é fornecida através de solicitação a secretaria de Ação Social, pois tem alguns quesitos a serem preenchidos.”

Ainda com relação à acessibilidade, a Secretaria Municipal de Segurança e Transporte respondeu que a fiscalização existe e as mudanças estão em estudo com a sua conclusão prevista para o início do segundo semestre. 

“Quando a gente fala de preservação ambiental é a ideia de convivência entre um espaço natural que deve ser preservado, mas respeitando as pessoas, as características do modo de vida das pessoas que vivem naquele local também.”

Ricardo Barbosa da Silva, geógrafo, professor da Unifesp no campus da zona leste, coordenador do grupo de pesquisa Rede Mobilidade Periferias.

 Ricardo aponta que é fundamental a participação popular para a melhoria dessas demandas. “Uma participação popular em que as pessoas tenham um espaço para colocar as suas questões”, coloca.

Luciana afirma que a comunidade segue se mobilizando em busca de mudanças para a melhoria da mobilidade na região. “A comunidade já fez diversos abaixo-assinados, já foi na subprefeitura de Parelheiros, já fizeram várias movimentações”, mas ainda sem resultados efetivos.

Tekoa Yvy Porã promove evento para que a cidade dialogue com o território Guarani

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No último domingo (16), aconteceu a 2ª edição do Festival Yvy Porã Jaraguá é Guarani, evento celebrado na aldeia Yvy Porã, localizada na Vila Jaraguá, zona noroeste de São Paulo. A programação contou com atrações artísticas, exposição e venda de artesanatos, música, moda e também culinária, tendo os saberes e fazeres indígenas como ponto de partida.  

“Quando a gente faz um evento desse é para abrir nossa comunidade ao diálogo com a cidade. Exatamente mostrar para o não-indígena que não somos posseiros de terra e entendemos a terra como um patrimônio”

Karai Djekupe (Thiago Guarani), xondaro da terra indígena, graduando em arquitetura e urbanismo, e também um dos idealizadores do evento.

O dia na aldeia começou com o Tupã, educador da aldeia, mediando a trilha Tape Porã (Bom Caminho), na qual foi reflorestada pelas crianças do território e que mostrava alguns pilares do dia a dia do povo Guarani.

Também foi apresentado o filme “Paraí”, que conta a história de Pará, menina guarani que encontra por acaso um milho guarani tradicional, que nunca havia visto e, encantada com a beleza de suas sementes coloridas, busca cultivá-lo, e a partir dessa busca começa a tentar entender seu lugar no mundo, produzido pela Descoloniza Filmes. Ainda rolou um desfile de moda com roupas da Dona Irene Mendonça (Jaxuka Mirim), que além de artista, é líder da cozinha comunitária da aldeia. Logo após o desfile, o palco foi aberto para apresentação musical de alguns artistas, entre eles: Brisa Flow e Ian Wapichana.

“Nós, as mulheres, temos que nos virar de qualquer jeito para conseguir alimento, porque hoje em dia está muito caro. Então isso aqui pra mim é importante porque muitas pessoas vem conhecer, quase ninguém sabe que existe aldeia”

compartilha Jaxuka (Leonice Guarani), indígena e artesã que levou suas peças para vender no evento.

Karai Djekupe (Thiago Guarani), afirma que a importância de ações como essa dentro da aldeia para com a população da cidade está não só na valorização de suas raízes, mas também no momento em que as pessoas entendem de fato a luta que precisam combater todos os dias. Ele aponta que essa luta dialoga também com a realidade dentro das periferias.

“Imagina a periferia aproveitando seus espaços para trazer saneamento ecológico, básico, barato. Se você tem agrofloresta na periferia, se você tem pessoas que começam a dividir os trabalhos, começam a entender que podem investir em projetos, trazer placas solares e parar de pagar energia. Você sai da mão dos Bandeirantes”, afirma.

Ao longo do dia muitas pessoas puderam conferir de perto o trabalho e saberes produzidos pela Tekoa Yvy Porã, localizada na Vila Jaraguá. 

Moradores da zona sul e leste de São Paulo investem na produção de pipas para gerar renda

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amilinha Folhas Top acumula seguidores e admiradores de pipas em corte e recorte. Foto: Patricia Santos,
Camilinha Folhas Top acumula seguidores e admiradores de pipas em corte e recorte. Foto: Patricia Santos,

Em muitas quebradas a pipa está longe de ser algo que ficou no passado. A atividade tem capacidade de reunir de crianças a adultos que curtem a brincadeira. Para muitos, o compromisso com a pipa é coisa séria: vai da organização de equipes de pipeiros a venda do item.

Everton Souza, 35, morador do Parque Cruzeiro do Sul, em São Miguel Paulista, zona leste de São Paulo, é apaixonado por pipas desde criança. Em 2021, se juntou com cinco amigos do bairro e fundaram a Equipe Vem Pro Relo, que atualmente tem 27 integrantes e juntos saem com pipas da zona leste da cidade para todo canto onde possam participar de eventos.

“Fomos para Guarulhos em mais de 20 pessoas da equipe, com mais de 100 pipas, churrasqueira, tenda, carretilhas. Tinha um caminhão pra levar todas essas coisas. Pipa é o meu remédio antidepressivo, fiz muitas amizades que se não fosse a arte do pipa, jamais teria feito”, compartilha Everton.

A Equipe Vem Pro Relo durante evento em Guarulhos, que contou com equipes de todo o Estado de São Paulo. Foto: redes sociais.
A Equipe Vem Pro Relo durante evento em Guarulhos, que contou com equipes de todo o Estado de São Paulo. Foto: redes sociais.

José Gilvan, 38, conhecido como Tuca, é morador da Cidade Ipava, zona sul de São Paulo, e responsável por produzir as variadas pipas que a equipe Pipeiros do Ipava solta. Nordestino, Tuca conheceu a pipa quando chegou em São Paulo, aos 7 anos, e desde então, junto com os primos, passou a produzir pipas.

“A primeira pipa que fiz na vida fiquei quase dois meses soltando ela, colocava no alto e tirava com medo de perder. Eu não tinha condições para quase nada, minha mãe era sozinha pra cuidar de seis filhos. Agora já são quase 30 anos fazendo só pipa e a minha mãe acha maravilhoso”, conta Tuca que criou a Explosivo Pipas. 

Durante os festivais da Equipe Pipeiros do Ipava Tuca leva mais de 20 pipas e mostra um pouco do seu trabalho nos céus da zona sul. Foto: Flávia Santos.
Durante os festivais da Equipe Pipeiros do Ipava Tuca leva mais de 20 pipas e mostra um pouco do seu trabalho nos céus da zona sul. Foto: Flávia Santos.

Tuca intercala as produções de pipas e a jornada de trabalho na cozinha de um hospital. Para ele, as pipas são uma renda extra aliada a sua diversão.

O preço das pipas produzidas pelo Tuca variam de 7 a 20 reais, com tamanhos entre 50cm a 1m. A marca criada por ele, Explosivo Pipas, faz sucesso entre os pipeiros que gostam da arte de corte e colagem. 

“Eu invento os desenhos na hora. Por conta do trabalho, por dia eu consigo fazer entre 10 e 15 pipas. As de um metro consigo fazer cerca de 8 no dia, mas a maior que já fiz tinha 1,70m e foi para um festival. A minha pipa chegou em lugares que eu mesmo nunca fui”

conta Tuca.

No bairro do Jardim Letícia, distrito do Jardim São Luís, zona sul de São Paulo, os pipeiros têm um ponto de encontro certo: todo domingo, exceto em dias de chuva, a Praça dos Sonhos está sempre cheia de moradores soltando pipas desde as primeiras horas do dia.

Sérgio Xavier é morador do bairro Jardim Letícia, e produz pipas há 14 anos. Ele é proprietário da loja Black Pipas, que fica em frente a praça. O negócio começou após saber que um conhecido estava vendendo todos os materiais que tinha e então resolveu comprar. Atualmente trabalha com quatro funcionários que produzem em casa as pipas vendidas na loja.

“Eu não tenho tanto ganho com a venda das pipas em si, cada uma sai a partir de 1 real, a mais cara custa 8 reais. O lucro vem das linhas e acessórios, [e] é o que paga as contas, paga os funcionários e me ajuda a levar comida para casa”

Sérgio Xavier, proprietário da Black Pipas,
Empreendedor há 14 anos, Black, como é conhecido por conta da loja, tem nas pipas a principal fonte de renda. Foto: Patricia Santos.
Empreendedor há 14 anos, Black, como é conhecido por conta da loja, tem nas pipas a principal fonte de renda. Foto: Patricia Santos.

“Aqui em dia de evento o que a gente mais vê são homens mais velhos, pais de família, até avô. A pipa salvou a vida desses caras, é o resgate da infância e viver aquilo que não pudemos ter naquela época”, afirma Sérgio sobre a movimentação dos moradores que soltam pipa na região.

Mulheres na produção 

Camila Borges, 36, é moradora do Parque Maria Luiza, distrito de Aricanduva, zona leste de São Paulo, e conta que o corte e colagem de pipas se tornou sua principal fonte de renda após surgir como válvula de escape durante a pandemia de covid-19.

Dividida entre as demandas da maternidade, casamento e trabalho, Camila produz as pipas da sala de casa e também ajuda outras mulheres que soltam e produzem pipas através dos tutoriais que compartilha nas redes sociais. Atualmente Camila conta com a ajuda de toda família para as produções e suas vendas acontecem de forma online pelas redes sociais, principalmente pelo instagram.

“Folhas mais simples consigo produzir umas 30 por dia, mas se forem essas absurdas que faço, ai é no máximo 10. Os preços variam de 7 a 30 reais, depende do trabalho que cada produção me dá”, conta Camila.

Além da produção das pipas, Camilinha, como é conhecida nas redes, entende que seu papel está além da venda de suas folhas de pipa, pois ao compartilhar seu trabalho atinge outras mulheres que se inspiram na sua produção dentro de um cenário composto majoritariamente por homens

“Quando entrei não via ninguém fazendo e logo depois surgiram algumas mulheres que faziam para ajudar os maridos. Depois elas começaram a ter como fonte de renda [e] terapia. Me pediam ajuda no chat e até começaram a ir nos eventos com eles e conheci algumas pessoalmente”

compartilha Camila Borges, moradora da zona leste.
Camilinha produz suas pipas em casa e tem nelas a sua principal fonte de renda. Foto: Patricia Santos.
Camilinha produz suas pipas em casa e tem nelas a sua principal fonte de renda. Foto: Patricia Santos.

No Instagram o perfil de Camila acumula mais de 30 mil seguidores e no Youtube são 10 mil inscritos. Para ela, ter o reconhecimento do seu trabalho em uma cultura que é majoritariamente masculina é muito importante.

“Eu conquistei esse espaço, mas ainda sim tiveram muitas situações chatas de machismo onde diziam ‘lugar de mulher é no tanque’ e ainda sim eu consegui me impor. É impagável ver a credibilidade e o respeito que conquistei”, conta. 

Escritora Patricia Jimin aborda sobre estruturas sociais e afeto do povo preto em seu novo livro

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Foto: Pedro Amatuzzi
Foto: Pedro Amatuzzi

O lançamento do livro “A Dona do Jogo”, da escritora Patricia Jimin, acontece no próximo dia 13/05, a partir das 19h, na Ocupação Cultural de Arte Independente no Itaim Paulista, na zona leste de São Paulo. A obra trata de temas ainda presentes na vida da população negra como a violência e também aborda o afeto que proporciona cura e abrigo.

“Espero que assim como foi Emaranhado, meu primeiro romance, ‘A dona do Jogo’ tenha uma boa aceitação entre os leitores e um impacto positivo socialmente”

Patricia Jimin

O enredo do livro se inicia no distrito do Itaim Paulista, e é narrado por Laila, filha de professora e advogado engajados em causas sociais. Em um cenário de perseguição, represália, abuso policial e medo, a personagem se alia a Juliana, uma advogada, negra e milionária, que milita em defesa de causas raciais.

A narrativa que envolve o combate ao genocídio da população negra, encarceramento baseado no racismo, leva o leitor a um jogo de cartas marcadas para desmascarar e desmontar um grupo de milicianos que fortalecem figuras importantes da gestão do país.

Atuação no território 

Nascida na cidade de Itajuípe, localizada no sul da Bahia, a escritora chegou em São Paulo aos 20 anos, mas foi no Rio de Janeiro que reatou sua relação com a escrita. Patricia Jimin é produtora cultural, romancista, roteirista, compositora, oficineira e afro empreendedora.

Desde 2016, participa do movimento Slam, campeonato de poesia falada. Já foi vice-campeã da competição estadual de São Paulo em 2018, além de finalista e destaque do Slam BR no mesmo ano. Em 2019, foi campeã do campeonato argentino de poesia falada.

Autora de oito livros, atualmente Patricia é Slammaster do Slam DiVersos, e criadora do Selo PIB (Poesia Interna Bruta) que publica criações de crianças de 10 a 15 anos. 

Serviço

Lançamento do livro A Dona do Jogo, de Patricia JiminData: 13/05/2023, às 19h.
Local: Ocupação Cultural de Arte Independente, Itaim Paulista, zona leste de São Paulo.
Endereço: R. Abacatuaja, 393 – Vila Itaim, São Paulo, CEP 08190-420.

Iniciativas que atuam com basquete fomentam o esporte nas periferias de São Paulo

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Laboratório Hooper. Foto: Divulgação.
Laboratório Hooper. Foto: Divulgação.

Em um cenário de ausências sociais programadas nos territórios periféricos, projetos desenvolvidos a partir da articulação de movimentos territoriais jogam luz para as potencialidades apagadas nesses territórios. É nesse contexto que nasce o Laboratório Hooper, no distrito do Grajaú, zona sul de São Paulo, e o Jóias do Futuro, em Guaianases, zona leste da cidade.

Foi a partir do contato com o basquete dentro da escola que Jhonathan Crist, 28, morador do bairro Jardim Varginha, no Grajaú, zona sul de São Paulo, criou o Laboratório Hooper. “A ideia surgiu para mostrar nosso basquete dentro da região. A falta de espaços públicos para as pessoas praticarem dificultava muito, já que no bairro onde moramos não existem praças públicas ou quadras”, conta Jhonathan, criador do projeto que teve início em 2022. 

Jhonathan Cris, fundador do projeto. Foto: Arquivo pessoal.
Jhonathan Cris, fundador do projeto. Foto: Arquivo pessoal.

Atualmente o projeto conta com 25 participantes, onde Jhonatan além de fundador também é professor. No momento, todos os participantes são moradores da região do Grajaú, mas o idealizador tem como objetivo ampliar o projeto para outras regiões. Os treinos acontecem aos domingos de manhã na praça do bairro Sete de Setembro, no Grajaú. 

Carlos Wendel de Sousa, participante do projeto. Foto: Arquivo pessoal
Carlos Wendel de Sousa, participante do projeto. Foto: Arquivo pessoal

Um dos jovens do Laboratório Hooper é Carlos Wendel de Sousa, 16, morador do Jardim Varginha, no Grajaú, que participa do projeto há 11 meses. Carlos já participou de algumas peneiras que conseguiu através do projeto e sonha entrar para algum time de basquete profissional. Ele conta que além de se tornar um atleta, o esporte já tem feito melhorias significativas em sua vida.

“O projeto me trouxe uma outra perspectiva sobre o mundo dos esportes. Assim que eu soube do Laboratório já comecei a participar, pois vi uma oportunidade de agregar minha vida, não só como atleta, mas também como indivíduo.”

Carlos Wendel de Sousa

Jhonatan, criador do projeto, aponta que a maior dificuldade no momento é a falta de um lugar específico para os treinos, pois dependem de escolas para que liberem algum dia e horário. “Não temos uma quadra própria, então nos deslocamos até um bairro próximo, [no] sete de setembro, ali conseguimos treinar na quadra que tem na pracinha do bairro e marcar nossos amistosos”.

O projeto não conta com nenhum auxílio ou doação, sendo tudo feito com recurso próprio. Além das aulas na quadra, as redes sociais são aliadas do projeto, sendo um espaço onde Jhonatan busca oportunidades por meio das páginas dos clubes ou faculdades, repassando para os participantes do Laboratório. Com as divulgações da rotina dos treinos através do instagram do projeto, é possível as federações ou faculdades, conhecerem um pouco mais sobre aquele atleta. 

Treino do Laboratório Hooper. Foto: Arquivo pessoal
Treino do Laboratório Hooper. Foto: Arquivo pessoal

O Laboratório Hooper é um projeto voltado sem restrições de idade ou gênero. Para participar basta chegar na quadra localizada na praça do bairro Sete de Setembro no Grajaú e procurar a equipe sempre aos domingos, às 08h da manhã.

Esporte presente também na zona leste  

Localizado em Guaianases, zona leste de São Paulo, o Joias do Futuro, se propõe a ser um espaço de trocas e aprendizagem através do esporte. A iniciativa foi criada em setembro de 2020, por um grupo de quatro amigos apaixonados por basquete: Leonardo Souza, Gabriel Vicente, Allan Oliveira e Luandre Thurã, ambos com 22 anos e moradores da Cidade Tiradentes, zona leste de São Paulo.

“Assim como todo jovem de periferia, o futebol já era algo presente na minha vida. Mas meu pai jogava basquete em quadras ali mesmo da nossa comunidade. Aos 12 anos comecei a treinar basquete no Juventus da Mooca e no Instituto Drible Certo, que fica na Cohab 2. A partir desse momento, eu comecei a amar o basquete”, relembra Leonardo, um dos fundadores do Joias do Futuro.

A iniciativa surgiu durante a pandemia da covid-19, período em que muitos lugares ficaram fechados e impossibilitou a prática do esporte. Nesse momento, os jovens encontraram uma quadra abandonada, na Cohab Juscelino, em Guaianases, que comportava a prática do basquete ali no território. 

Quadra Bilysta. Foto: Divulgação
Quadra Bilysta. Foto: Divulgação

A partir daí, os amigos se mobilizaram para conseguir reformar o espaço e assim foi nomeada como quadra Billysta, em homenagem a um rapaz chamado Billy, que durante muito tempo cuidou da quadra.

“A partir do momento que encontramos a quadra e os moradores se mobilizaram junto com a gente, começaram a surgir outros jovens que também praticam basquete para auxiliar na reforma. Nisso, a subprefeitura de Guaianases também deu uma força e conseguimos finalizar a reforma, dando início às atividades do projeto.”

Leonardo Souza, um dos fundadores do Joias do Futuro.
Leonardo de Souza, um dos fundadores do projeto, em pé, com camisa branca, ao lado dos participantes do Joias do Futuro. Foto: reprodução
Leonardo de Souza, um dos fundadores do projeto, em pé, com camisa branca, ao lado dos participantes do Joias do Futuro. Foto: reprodução

Leonardo conta que a subprefeitura ajudou somente na reforma da quadra. “Boa parte do investimento é feito do nosso próprio bolso, o que nos ajuda atualmente, é o auxílio de alguns comércios da região, que fornecem materiais para os treinos ou mantimentos quando realizamos alguns eventos”, afirma.

Atualmente o projeto conta com a participação de 50 crianças e adolescentes, com faixa etária de 6 a 18 anos. Leonardo e Gabriel Vicente são instrutores, Allan fica responsável pela administração e redes sociais, e Luandre pelos eventos que organizam.

Daniel Santana, 19, morador da Cidade Tiradentes, zona leste da cidade, é um dos jovens que participa do projeto desde sua fundação em 2020. O jovem afirma que o Jóias do Futuro é mais que uma busca por campeonatos, mas um auxílio na formação e descobertas para crianças e adolescentes na quebrada.

“O projeto abrange toda a nossa comunidade. É muito além do esporte. Temos diversos eventos beneficentes, como por exemplo o que rolou na páscoa, dia das crianças e por ai vai”, conta Daniel. 

Daniel Santana. Foto: Divulgação.
Daniel Santana. Foto: Divulgação.

Leonardo aponta que o esporte pode ser a porta de entrada para novas possibilidades, mas que para manter isso como um objetivo ou até mesmo um sonho, é necessário uma estrutura maior que passa pela garantia de alimentação, moradia, saúde, entre outros direitos básicos.

“Estamos aqui para ajudar e melhorar a realidade da nossa comunidade. E como falamos, não adianta ajudarmos nas ruas, se dentro de casa tem problemas maiores. Com as arrecadações de alimentos conseguimos ajudar não somente as crianças, como também suas famílias.”

Coloca Leonardo

As aulas são divididas em dois lugares: de terça-feira a quinta-feira os treinos são feitos no CEU Inácio Monteiro, na Cidade Tiradentes, das 13h às 15h. De quinta a sábado os treinos acontecem na quadra Billysta, em Guaianases, a partir das 10h. Todos os treinos são abertos ao público e as inscrições são feitas no próprio local, durante todo o ano.

“Tem festivais que 80% são homens”, denuncia a rapper Sharylaine, apontando o impacto do machismo no Rap

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Sharylaine é uma rapper e produtora cultural com mais de 30 anos de carreira artística. (Foto: Acervo Pessoal)
Sharylaine é uma rapper e produtora cultural com mais de 30 anos de carreira artística. (Foto: Acervo Pessoal)

As rappers Brrioni, Preta Ary e Sharylaine, enfrentam cotidianamente o machismo no universo da indústria cultural do rap, estilo musical que consagra e valoriza o trabalho de homens negros no Brasil, mas que impõe uma série de barreira éticas e profissionais para permitir o fortalecimento de mulheres negras que atuam como mc´s na cultura hip hop.

“A dificuldade de ser mulher, preta, de quebrada e ainda escolher ser rapper é demais. Sou tirada pela sociedade por cada um desses motivos, seja tudo junto ou separado”, conta Alice Brioni, mais conhecida como Brrioni, rapper de 21 anos, moradora do Campo Limpo, zona sul de São Paulo, que tem conexão com o rap desde 2017.

A primeira música gravada por Brrioni foi lançada em 2018 e se chama “Dissonaro”, na qual a rapper contou com o apoio de dois amigos que são homens cis e rappers, para produção musical do trabalho. A letra faz uma reflexão sobre como a sociedade seria se Jair Bolsonaro, até então candidato à presidente na época, fosse eleito, uma especulação eleitoral que se tornou realidade e mexeu com a vida das mulheres no Brasil. 

“Eu acho muito importante estar sempre retratando a política em forma de arte, seja como for, falo isso porque a política controla tudo a nossa volta né, literalmente comanda nossa vida. Se nós debatermos entre nós, tentar entender nem que seja pouco, não importa a idade, nós nunca vamos sair perdendo, pelo contrário mais um pra nós, menos um pra eles”

Brrioni, rapper e moradora do Campo Limpo, zona sul de São Paulo.
Brrioni é uma rapper da zona sul de São Paulo que teve o contato com a música iniciado a partir das Batalha do Vicente, na qual, ela é organizadora. (Foto: Mikael Silva)
Brrioni é uma rapper da zona sul de São Paulo que teve o contato com a música iniciado a partir das Batalha do Vicente, na qual, ela é organizadora. (Foto: Mikael Silva)

Além de rapper, Brrioni é modelo, poeta e cria da Batalha do Vicente, uma batalha de rima que acontece no bairro da Guarapiranga, zona sul de São Paulo. Foi neste movimento cultural protagonizado pela juventude negra e periférica que ela iniciou sua trajetória dentro do rap, através da criação de poesias, que ela apresentava nas edições da batalha. No momento, a rapper se prepara para lançar o segundo disco da carreira.

Para a rapper Sharylaine, 53, criadora do “Rap Girl’s”, em 1986, primeiro grupo de rap formado somente por mulheres no Brasil, a atitude de trazer o machismo para o centro do debate das letras de rap revela que as mulheres estão investindo em formação política e produção de conhecimento de gênero, em relação aos homens.

Com mais de 30 anos de trajetória na cultura hip hop, a rapper Sharylaine afirma que as mulheres enfrentam outro desafio: são minoria em contratações de shows, porque os contratantes em sua maioria são homens. 

“As mulheres ocupam vários papéis, estudam mais que os homens, vão além, se preparam, se produzem, enquanto o homem bota o tênis, a bermuda e o boné e vai cantar”

Sharylaine, criadora do primeiro grupo de rap feminino no Brasil
Sharylaine é criadora do "Rap Girl's", em 1986, primeiro grupo de rap formado somente por mulheres no Brasil. (Foto: Diogo de La Vega)
Sharylaine é criadora do “Rap Girl’s”, em 1986, primeiro grupo de rap formado somente por mulheres no Brasil. (Foto: Diogo de La Vega)

“Só consegue expressar como ídolo e referência um outro homem, uma coisa do macho para o macho. A gente ainda tem eventos e festivais que 80% são homens. Ainda há muita coisa a ser mudada”, argumenta a precursora do movimento hip hop no Brasil.

A presença do machismo na industrial cultural do rap impacta a vida de outras jovens artistas, como a Brrioni, que está começando na carreira, mas que assim como Sharylaine, é uma mulher negra e moradora da periferia.

“No rap, sinto o mundo botando dificuldade pra nós do começo ao fim, desde quando tu é chamada pra fazer um som e ficam te tirando de burra, mostrando como faz, até a hora que a gente mais espera, que é o momento de pisar num palco de show ou festival”, compartilha a artista, reforçando o cenário apontando por Sharylaine.

Backing vocal: o machismo velado no rap

Nascida e criada em Araraquara, município localizado no interior de São Paulo, a cantora Ariadna da Mata, conhecida no cenário do rap como Preta Ary, 36, é mãe e rapper desde 2004. Assim como Brrioni, ela é atravessada pela difícil realidade que é trabalhar com música, ao relatar que no início da carreira só fazia trabalhos como backing vocal ,abrindo shows, por ser mulher.

Vivendo no universo do rap há 19 anos, Preta Ary só conseguiu fazer carreira solo e produzir de forma independente no ano de 2018, pois até então, ela estava sempre inserida em grupos e trabalhos feitos por homens. E mesmo com uma carreira já construída e consolidada, ela se sentia insegura quando precisou tomar essa decisão, e até hoje sente essa insegurança quando precisar fazer algum novo trabalho. 

A rapper Preta Ary tem quase 20 anos de atuação na música, e ainda lida com barreiras profissionais impostas pelo machismo. (Foto: Analí Rená)
A rapper Preta Ary tem quase 20 anos de atuação na música, e ainda lida com barreiras profissionais impostas pelo machismo. (Foto: Analí Rená)

“Essas manifestações machistas eu tenho plena certeza que influenciaram muitas coisas na minha caminhada, foram sempre veladas. Eu não sou a melhor rapper do Brasil, mas eu sou boa no que eu faço”

Preta Ary, rapper no município de Araraquara

O investimento de dedicação e empenho para estudar e aprimorar a qualidade da produção dos seus trabalhos musicais fazem parte da trajetória profissional da artistas, mas segundo ela, todo esse movimento não foi o bastante para impulsionar a carreira.

“Eu poderia ter conquistado coisas, das quais pessoas que não são tão boas, ou não se dedicam tanto quanto eu, conquistaram e estão num patamar elevado justamente por que elas são homens”, afirma a rapper, enfatizando a sensação de ter que sempre disputar espaços dentro da indústria musical com homens e muitas vezes perder apenas por ser mulher.

Um dos impactos do machismo que torna a presença da mulher na indústria cultural do rap ainda mais nocivo é o fato das artistas serem gestoras da sua própria carreira, colocando em prática o empreendedorismo cultural como estratégia de sobrevivência e geração de renda.

“As mulheres precisam pensar muito todas vez que vão empreender, independente da área. Quando a gente está num lugar, a gente precisa provar o quanto a gente é boa o tempo todo. Ser mulher nesse mundo é preciso não só se preocupar com sua segurança, mas também que a gente é melhor”, finaliza a cantora.

7° edição do Você Repórter da Periferia oferece 20 vagas para jovens das periferias de SP

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Após três anos sem abertura de inscrições devido a pandemia da covid-19, em 2023 o Você Repórter da Periferia retoma as atividades e segue com inscrições abertas até o dia 30 de abril, para sua 7° edição. Com oficinas teóricas e práticas realizadas entre os meses de maio a dezembro, a formação é gratuita e voltada para jovens de 16 a 25 anos, de regiões periféricas da cidade de São Paulo. 

Para participar, os jovens podem ou não estar estudando – concluintes ou estudantes do ensino médio e também podem ser universitários que estejam cursando o 1º ano do ensino superior de qualquer curso na área da comunicação.

A inscrição pode ser realizada até o dia 30 de abril, clicando aqui. 

A formação é dividida em duas fases: teórica, período em que os jovens participam de oficinas como videorreportagem e técnicas de entrevista, com aulas aos sábados na redação do Desenrola e Não Me Enrola, localizada no Jardim Ângela, zona sul de São Paulo; e a fase prática, momento no qual passam a produzir conteúdos sobre ações e movimentos culturais de diferentes territórios periféricos.

Realizado desde 2013 pelo veículo de jornalismo periférico Desenrola e Não Me Enrola, essa edição irá contemplar 20 jovens periféricos que além da alimentação durante todos os encontros, também irão receber um auxílio transporte para o deslocamento nas oficinas teóricas e práticas.

“A volta das formações é um marco importante nesse ano em que o Desenrola completa 10 anos. A pandemia da covid-19 impediu a realização de três edições do programa e atravessou diretamente a população preta e periférica, que é o público central da nossa atuação. Por isso, jovens negros, perifericos, lgbtqia+ são o foco do Você Repórter da Periferia e também o motivo da mobilização para conseguirmos oferecer auxílio transporte nesse período”.

Thais Siqueira, articuladora institucional do Desenrola e Não Me Enrola.

Além de aprender sobre ferramentas e técnicas da comunicação, como redação jornalística, fotografia, videorreportagem, técnicas de entrevista, técnicas de captação de áudio e produção de conteúdo para redes sociais, o programa busca evidenciar as produções de conhecimentos enraizadas nas periferias, e como esses territórios são espaços de potência cultural e econômica.

“A formação apresenta a mídia como uma poderosa ferramenta de transformação dos territórios, através de um jornalismo que dê visibilidade para as vivências e vozes das margens. Isso envolve não apenas o conteúdo, mas a forma de fazer jornalismo da periferia para periferia”

Laura da Silva, que é moradora de Parelheiros, zona sul de São Paulo, e participou da 5º edição do VCRP, em 2018.

A formação terá início no dia 13 de maio, com aulas teóricas aos sábados, das 10h às 14h30, na redação do Desenrola e Não Me Enrola, localizada na Rua Ernesto Pasqualucci, 134, Jardim Dionísio, São Paulo. Já as aulas práticas, que eventualmente podem acontecer aos domingos, são realizadas em diferentes territórios de São Paulo.

Os interessados em participar do programa de formação devem realizar sua inscrição até o dia 30/04/23 e aguardar a divulgação dos selecionados até o dia 03/05/23.

Desenrola e Não Me Enrola é um veículo de jornalismo periférico criado em 2013, com objetivo de criar e ressignificar a produção de Conteúdo e Formação sobre sujeitos e territórios periféricos.