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Obá Elekô: A força ancestral que nos une

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Nesta nova sessão, inicio um mergulho nos mitos Iorubás para resgatar o poder do sagrado e das divindades femininas, com destaque para a trajetória de Obá, rainha guerreira da sociedade Elekô.

Esse mito narra a história da líder da sociedade Elekô, a caçadora e guerreira Obá, que vivia em uma estrutura social fundamentada no matriarcado. Uma sociedade comandada por mulheres amazonas, que protegiam seu povo de invasões e preservavam a relação entre o feminino e a terra.

O mito também menciona outras divindades femininas de grande importância nas religiões de matriz africana, como Nanã, Oyá, Oxum, entre outras.

Só um homem podia participar do culto: Oxóssi, pois também era um grande caçador, guerreiro e feiticeiro. Ele se tornou um companheiro inseparável de Obá.

No culto Elekô, as mulheres sabiam lutar, caçar e trabalhar; eram independentes. A sociedade se sustentava no princípio do respeito ao feminino.

Obá foi a primeira esposa de Xangô. Os mitos dizem que ela simboliza o amor, a força e as vitórias nas batalhas. Ela fazia tudo por amor ao Rei de Oyó.

A reverenciamos no Candomblé por sua força e determinação na luta por justiça e proteção às mulheres, com a cantiga: “Obá Elekò a já osí” – Obá, senhora do poder de Elekô, do poder feminino.

Hoje, faço alusão ao que nós mulheres buscamos, dentro da fé nas religiões afro-brasileiras: a conexão com nossas ancestrais.

Vejo isso como um resgate e uma união que impulsionam mulheres a crescerem e curarem as marcas de uma mente ocidental pautada no patriarcado, na violência, no abuso e nas agressões.

Precisamos curar a visão eurocêntrica e machista que ainda subjuga tantas mulheres à obediência e ao serviço aos homens.

O renascemos do feminino 

Renascemos com um olhar mais respeitoso sobre nosso feminino. Hoje, mulheres são protagonistas e líderes em várias camadas sociais.

Como em Elekô, fortalecemo-nos com a magia da força feminina, que nos empodera e sustenta nossa estrutura mental e emocional. Tornamo-nos mais equilibradas e fortes para mudar e transformar a organização social vigente.

Confira a cobertura do ato realizado no Dia do Trabalhador pelo fim da escala 6×1

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Fim das terceirizações em massa, revogação da reforma trabalhista, combate à precarização do trabalho, valorização do serviço público, mais tempo para o lazer, estudos e descanso foram alguns dos temas abordados no ato puxado pelo Movimento VAT, realizado no dia 01 de maio de 2025, que teve concentração na Praça Oswaldo Cruz e seguiu pela Avenida Paulista, no centro de São Paulo.

A iniciativa reuniu trabalhadores formais e informais, dentre jovens, aposentados, integrantes de movimentos sociais, sindicalistas e lideranças políticas. O ato também foi uma oportunidade para celebrar conquistas históricas da classe, mas principalmente para reivindicar melhores condições de trabalho.

A mobilização em torno do fim da jornada 6×1 foi o debate central da manifestação. O projeto que pauta a mudança na dinâmica de trabalho é conduzido pelo mandato da deputada Erika Hilton (PSOL-SP), junto à mobilização do Movimento VAT – Vida Além do Trabalho, que tem Ricardo Azevedo (PSOL-RJ), como representante nacional e pauta a redução de 44 para 36 horas semanais de trabalho.

“O trabalhador está muito cansado. Muitos relatam a nós [do movimento VAT] que não veem a hora dessa escala acabar, pois não têm tempo para nada. Há trabalhador com ansiedade, depressão, em estado de pânico. Todos esses problemas estão diretamente ligados a essa rotina exaustiva”, afirma Alek Silva, morador de Itapecerica da Serra (SP), operador de telemarketing, fotógrafo, ativista e representante do VAT.

“A escala 6×1 não está apenas esgotando fisicamente o trabalhador brasileiro, mas também comprometendo sua saúde mental. Isso mostra que o problema não afeta só o indivíduo, mas prejudica também o sistema como um todo, inclusive [sobrecarregando] o SUS, que precisa lidar com as consequências. Essa pauta é do povo. É uma reivindicação real e urgente dos trabalhadores, especialmente os trabalhadores periféricos que já estão há muito tempo vivendo essa rotina pesada. Estamos lutando por algo básico: mais qualidade de vida e mais tempo para o trabalhador. Acreditamos que vamos avançar, mas é fundamental a gente cobrar nossos parlamentares.” —Alek Silva, morador de Itapecerica da Serra (SP), operador de telemarketing, fotógrafo, ativista e representante do VAT.

Geraldo de Jesus, 60, pintor e morador de São Mateus, distrito na zona leste de São Paulo, conta que costuma participar de atos no 1° de maio e tem a data como termômetro para acompanhar se as coisas estão melhorando. “Minha esposa trabalha sem parar na [escala] 6×1. Ela pega o busão todo dia, vai lá para Santo André, e quase não tem folga. A nossa vida fica bem apertada. Às vezes, a gente até quer sair, viajar, mas como? Não tem jeito, não tem como fazer nada. Inclusive, hoje eu estou aqui e ela não pode, justo no primeiro de maio”, pontua. 

“A gente corre, rala, trabalha duro para tentar conquistar algo a mais, mas com a situação que está e ainda mais com esse governo comandando São Paulo, não vejo nada de bom vindo por aí. A gente tem que manter a esperança, mas do jeito que as coisas estão, a vida fica difícil.”   — Geraldo de Jesus, 60, pintor e morador de São Mateus, distrito na zona leste de São Paulo

Para Lira Ale, professora de artes na rede municipal, a data representa a luta da classe trabalhadora. “A gente vive num sufoco entre não ter emprego ou ter que trabalhar demais e não ter vida, vivendo naquele limite: ou trabalha ou vive, e quando não trabalha, não tem dinheiro pra viver. A classe trabalhadora é quem produz tudo, então é ela quem deve ter as riquezas”, diz. 

“Normalmente, os patrões que impõem a jornada 6×1 são os que mais lucram em cima de trabalhadores mal pagos. E mesmo quem não trabalha em 6×1 vai se beneficiar, pois consome serviços de quem trabalha assim. Há milhões de pessoas nas ruas no mundo inteiro lutando por dignidade e por mais direitos. A classe trabalhadora é a maioria da população mundial. A gente tem força para mudar esse cenário, mas temos que romper com a solidão. A gente tem que lutar junto.”    — Lira Ale, 35, moradora de São Paulo, professora de artes na rede municipal.

Psicóloga Verônica Rosa fala sobre os impactos das apostas online nas periferias

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Confira o resultado dessa conversa no terceiro episódio da nova temporada do Desenrola Aí.

Engana-se quem pensa que os efeitos das apostas no Brasil se limitam aos impactos econômicos. Os jogos de azar também afetam o psicológico e as relações sociais de muitos brasileiros.

A facilidade de acesso, impulsionada pela ampla divulgação em espaços como novelas, filmes, transmissões de futebol e pelas redes sociais, transforma as apostas em um meio de interação para um novo grupo social: os apostadores das periferias.

Geralmente, as pessoas querem fazer parte desses grupos de jogos de azar para compensar aspectos da vida — como a falta de oportunidades de trabalho, a precarização desse ambiente ou mesmo como uma forma de lazer.

Quem nos ajuda a fazer uma análise profunda sobre esse assunto é a psicóloga e psicanalista Verônica Rosa da Silva, convidada do terceiro episódio da nova temporada do Desenrola Aí.

Para Verônica, que concentra seu trabalho na escuta e análise dos contextos periféricos, o hábito de apostar online se intensificou durante a pandemia, quando todas as interações migraram para o ambiente virtual. Esse novo modo de socialização abriu espaço para o crescimento de mercados como o das apostas.

“A pandemia transformou o celular no principal meio de socialização. Para muitas pessoas, o aparelho se tornou uma extensão do próprio corpo. Nesse contexto, os jogos — incluindo os de apostas — ganharam um novo significado, tornando-se um espaço onde a interação social, a busca por reconhecimento e a promessa de geração rápida de renda se misturam em um cenário de entretenimento e glamour”, disse.

Psicóloga e psicanalista Verônica Rosa durante a entrevista ao Desenrola Aí. Foto: Maxuael Melo | Fluxo Imagens.

De acordo com o Datahub, o segmento de apostas online cresceu 360% entre 2020 e 2022. Esse avanço incentivou o governo a criar formas de regulamentar o setor, que hoje movimenta bilhões para os cofres públicos.

O Ministério da Fazenda, por exemplo, arrecadou cerca de R$ 1,5 bilhão em 2024 e pretende arrecadar R$ 1,866 bilhão ao ano com a taxa de fiscalização sobre as apostas.

Perfil dos apostadores

É cada vez mais comum que homens, jovens e pessoas de baixa renda estejam entre os apostadores, segundo estudo da Panorama Mobile Time/Opinion Box. Cerca de 30% dos jogadores são das classes D e E.

A pesquisa também revela que 60% dos apostadores reconhecem ter perdido mais dinheiro do que ganharam — o que evidencia o risco de endividamento e prejuízo financeiro.

E os problemas não param por aí. De acordo com o relatório do Banco Central de 2024, as famílias de baixa renda são as mais afetadas pelas apostas, acumulando dívidas que comprometem o orçamento familiar.

Esse mesmo levantamento mostra que as apostas podem consumir até 5% da renda familiar, afetando diretamente necessidades básicas como a alimentação.

Os impactos negativos das apostas nas periferias somam-se a outras mazelas já existentes, como o desemprego, a baixa escolaridade, a falta de oportunidades de geração de renda e a escassez de opções de lazer.

Desenrola Aí

O Desenrola Aí é um programa quinzenal que promove conversas com especialistas da quebrada, descomplicando temas relevantes que impactam o cotidiano da população negra e periférica, além dos direitos humanos — que são a base da nossa existência e convivência em sociedade. O programa é uma realização do Desenrola e Não Me Enrola, Fluxo Imagens e Portal Kintê Notícias, com fomento da Lei de Fomento à Cultura da Periferia, da cidade de São Paulo.

Descubra como usar a Lei de Acesso à Informação para saber mais sobre o que acontece na sua cidade

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No meu último artigo aqui na coluna Juventude Ativa, compartilhei algumas dicas de como acompanhar e participar das gestões municipais no Brasil. Nele, mencionei brevemente a Lei de Acesso à Informação — e hoje vou explicar um pouco mais sobre essa ferramenta.

Antes de tudo, é importante retomar um ponto fundamental: gestores públicos trabalham para a sociedade. Prefeitos e vereadores são eleitos pela população e têm como função trabalhar para ela. 

É a sociedade, inclusive, quem paga seus salários — e no Brasil, a população mais pobre é quem paga mais impostos. Ou seja, se elegemos os representantes e ainda arcamos com seus salários, é justo que saibamos o que está sendo feito pelas gestões públicas. 

Esse é o conceito de transparência: assim como em um aquário transparente conseguimos ver os peixes, os governos democráticos devem ser transparentes, permitindo que a sociedade veja como são usados os recursos públicos. E é aí que entra a Lei de Acesso à Informação, a chamada LAI.

O acesso à informação é um direito humano reconhecido internacionalmente; vários países possuem leis que garantem aos cidadãos a transparência por meio do acesso às informações públicas.

No Brasil, esse direito já constava na Constituição de 1988, mas foi regulamentado anos depois. A lei atual, que trouxe importantes avanços, é de 2011 e foi regulamentada pela presidenta Dilma Rousseff.

Publicidade como regra e o sigilo como exceção

Uma das principais inovações da LAI foi estabelecer a publicidade como regra e o sigilo como exceção. Isso significa que, embora algumas informações governamentais precisem ser sigilosas por questões de segurança, a maioria deve ser disponibilizada espontaneamente pelas prefeituras e órgãos públicos. 

Por exemplo: informações sobre licitações, salários de vereadores, orçamento da educação e outras devem ser publicadas de forma acessível, sem obstáculos — isso é a publicidade como regra.

Na prática, infelizmente, muitas prefeituras ainda não disponibilizam informações básicas. Quando isso acontece, o cidadão pode fazer um pedido de informação.

A transparência ativa ocorre quando a prefeitura publica as informações diretamente. Já a transparência passiva acontece quando o cidadão solicita uma informação e o órgão responde.

Em 2021, durante uma oficina com uma Conselheira Municipal de Saúde, fizemos um pedido ao Hospital do Servidor Público Municipal solicitando informações sobre contratações — e recebemos resposta!

Arquivo pessoal / Martha Gaudêncio da Silva

Qualquer pessoa pode fazer um pedido de informação. Não importa o motivo — estudar, acompanhar a gestão pública, fiscalizar. O direito de saber é garantido e não é necessário justificar o pedido.

Os pedidos podem ser feitos a todos os órgãos públicos — municipais, estaduais e federais. Câmaras de vereadores, prefeituras, governos estaduais, ministérios, universidades federais e o Congresso Nacional são alguns exemplos. Empresas públicas, fundações, autarquias e ONGs que recebem recursos públicos também devem responder.

Normalmente, os sites dos órgãos possuem um link chamado “e-SIC” (Sistema Eletrônico de Informação ao Cidadão), onde é possível fazer o pedido online e receber a resposta por e-mail ou pelo próprio sistema.


Dica: ao fazer um pedido, seja o mais específico possível em relação a tempo, local e tema. Exemplo: pergunte “quanto foi gasto em medicamentos na UPA Vera Cruz em 2024”, em vez de “quanto se gasta em saúde”.

O prazo de resposta é de até 20 dias, podendo ser prorrogado por mais 10 dias mediante justificativa. Se a resposta for incompleta, é possível recorrer — e o recurso será analisado por uma autoridade superior à que respondeu inicialmente.

Deixo aqui alguns links úteis:

Para concluir, reforço que a LAI é uma ferramenta poderosa que ainda precisa ser mais divulgada e cobrada. A mudança só virá com mais pessoas informadas e ativas. Caso precise de ajuda para usar a LAI, estou à disposição! Me chame pelo e-mail (marthagaudencio@gmail.com) ou no Instagram.

Este é um conteúdo opinativo. O Desenrola e Não Me Enrola não modifica os conteúdos de seus colaboradores colunistas.

O que você anda lendo?

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Em 2024, a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil mostrou que mais da metade das pessoas no país não lê livros.

Esse é um problema com diversas origens: desde a falta de cultivo do hábito da leitura, preço dos livros, bibliotecas públicas raras e desatualizadas.

O Itaim Paulista, por exemplo, onde moro, tem três bibliotecas públicas para 205 mil habitantes. Não trago nenhuma fórmula mágica; sinto decepcionar.

Pode realmente não ser nada fácil criar o hábito da leitura quando você tem que madrugar para trabalhar, estudar, cuidar de si e de outras pessoas, numa cidade que te consome um pedaço de vida todo dia em 3 ou 4 horas de transporte.

Podemos ainda colocar outro problema na mesa: o que as pessoas andam lendo?

Não vou comentar a lista de mais vendidos (você pode buscar online e tirar suas próprias conclusões), até porque comprar não é sinônimo de ler um livro.

Na pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, que citei no início do texto, os livros que mais marcaram as pessoas não são exatamente os que estão na lista, nem aqueles que ensinam a enriquecer.

E aqui, um parêntese: sem julgamentos da minha parte sobre a literatura de autoajuda. Tudo merece ser lido com olhos críticos, inclusive o que proponho aqui.

De todo modo, como uma feliz adepta de clubes de leitura, queria abrir esta coluna para 2025 sugerindo seis livros ótimos escritos por mulheres.

Assim, se o transporte te der um pouco de espaço ou se você tiver 10 minutos de paz todo dia, talvez na cama, antes de dormir, tem leitura boa para te acompanhar. No seu tempo, sem pressão.

Comecemos com três autoras periféricas

Jô Freitas teve seu último livro, Goela Seca, indicado ao Prêmio Jabuti de 2024 — uma das mais importantes premiações literárias do Brasil. Goela Seca é um livro com 23 contos autobiográficos que, com muita delicadeza, poesia e um bocado de dureza também, contam histórias desde sua infância, na Bahia, até a vida adulta, em São Paulo. Além de escritora, Jô é poeta e faz parte do coletivo Sarau Pretas Peri.

A segunda é Lilia Guerra. Em seu último livro, Céu para os Bastardos, Sá Narinha, uma empregada doméstica que podia ser nossas mães, vai nos levando pelos becos e vielas de Fim-do-Mundo, encontrando suas mais diversas personagens.

É um livro delicioso, capaz de fazer com que você se reconheça em alguma personagem — ou, quem sabe, também tenha um cachorro chamado Bob.

Por fim, recomendo Notas sobre a fome, de Helena Silvestre, também indicado ao Jabuti, em 2020. Notas é um livro com diferentes estilos de texto, misturando autoficção, conto e ensaio.

Narrando suas andanças pela cidade, entre empregos precários, escola, movimentos sociais e fome, Helena vai tecendo sua história num fluxo de pensamento crítico e apaixonado.

Depois de dar passagem a algumas escritoras dos nossos territórios, e diante das muitas polêmicas em torno dos filmes indicados ao Oscar, me parece oportuno também indicar Reze pelas mulheres roubadas, da mexicana-estadunidense Jennifer Clement.

Neste livro, vamos ao interior do estado de Guerrero, no México — uma região dominada pelo tráfico — onde meninas precisam se esconder conforme vão crescendo, sob o risco de desaparecer.

Minha próxima sugestão tem a ver com um movimento recente na literatura que tem rediscutido as experiências da maternidade, cheias de contradições.


Nessa direção, A Cachorra, da colombiana Pilar Quintana, desconcerta, comove e angustia, mostrando a complexidade de sentimentos que esse tipo de amor pode fazer florescer. O livro, escrito enquanto a autora amamentava sua filha recém-nascida, retrata a relação de uma mulher com uma cachorrinha, adotada ao nascer.

O penúltimo desta lista é Ventre do Atlântico, da escritora senegalesa Fatou Diome. Aqui, acompanhamos a história pela relação entre a jovem Salie — em sua dura adaptação como imigrante na Europa — e seu irmão mais novo, Madické, no Senegal, que sonha em se tornar um astro do futebol.

Um livro que não idealiza a imigração, nem romantiza a terra natal. Mostra as dificuldades na busca por um sonho entre fronteiras e desigualdades.

Por fim, mas não menos importante: se não há livrarias, sebos ou bibliotecas perto de você, saiba que na internet é possível encontrar sites como a Estante Virtual, em que livrarias do país inteiro vendem livros novos ou usados online, por preços mais acessíveis.

Tenho evitado investir meu dinheiro na Amazon — maior vendedora de livros do país e talvez do mundo — porque sufoca pequenas (e nem tão pequenas) editoras e livrarias, vende livros abaixo do preço de custo, está sempre envolvida em violações de direitos trabalhistas e seu dono tem uma tendência política muito à direita.
Se você puder, sugiro que também estimule os pequenos negócios, compre livros usados (com atenção ao estado do livro, não vale comprar livros se desintegrando) e leia mulheres.

E se você tem outras dicas de onde comprar livros de pequenas livrarias — e, sobretudo, de como desviar das grandes corporações — vou adorar saber também.

Este é um conteúdo opinativo. O Desenrola e Não Me Enrola não modifica os conteúdos de seus colaboradores colunistas.

Projeto Mercedes Ladies oferece formação de slammer para mulheres

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Com o objetivo de capacitar mulheres para se expressarem através do slam e fortalecer o protagonismo feminino na cena cultural, o projeto Mercedes Ladies está com inscrições abertas até 25 de abril para a formação Slammer para Mulheres, que será realizada do dia 03 de maio a 28 de junho de 2025, aos sábados, das 14h às 15h30, na Casa de Cultura Hip Hop Sul, localizada na Vila São Pedro, zona sul de São Paulo.

Com 35 vagas para mulheres cis e trans, a partir de 12 anos, interessadas em mergulhar no universo do slam, o curso será conduzido pela escritora e poeta Tawane Theodoro, que é uma das organizadoras do Sarau do Capão, poeta formadora do Slam Interescolar e integrante da equipe do Slam SP. 

O projeto é idealizado pela dançarina, produtora cultural e pesquisadora da cultura hip-hop Kika Souza, que desde 2019 desenvolve uma pesquisa intitulada “Identificando o Apagamento Histórico das Mulheres no Hip Hop”, iniciativa que visa combater a exclusão e invisibilidade das mulheres dentro desse cenário cultural. 

Além das técnicas de performance, o curso também promoverá discussões sobre identidade, resistência e empoderamento feminino por meio da palavra. Serão disponibilizadas 35 vagas, com espaço para 15 suplentes. As inscrições podem ser feitas pelo formulário virtual

A atividade faz parte do projeto “Mercedes Ladies”, contemplado pelo Edital PROAC Hip Hop 2024, que busca valorizar o protagonismo feminino na cultura Hip Hop, ao promover formação e vivências que resgatam a memória histórica das mulheres no movimento. O projeto faz referência a equipe de mulheres Mercedes Ladies, que surgiu nos anos 80, nos EUA, com o objetivo de serem reconhecidas como MCs e DJs, desafiando o estereótipo da presença de mulheres na cena. 

Serviço

Formação em Slammer para Mulheres do Projeto Mercedes Ladies
Data: 03 de maio: 14h às 15h30
31 de maio: 14h às 17h
14 de junho: 14h às 17h
21 de junho: 14h às 15h30
28 de junho: 14h às 17h

Local: Casa de Cultura Hip Hop Sul – Rua Sant’Ana, 201 – Vila São Pedro, São Paulo – SP, 04676-110
Classificação: A partir de 12 anos, grátis, com entrega de certificados na conclusão da formação.
Vagas: 35 (mais 15 suplentes) – Inscrições até 25 de abril
Clique aqui para se inscrever.

Da Lei da vadiagem ao Massacre na DZ7: A música periférica resiste

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Em um país marcado por profunda desigualdade social e racial, a música produzida por pessoas negras e das favelas enfrenta constante marginalização. Apesar de representarem mais da metade da população brasileira, suas expressões culturais – samba, rap, funk, rock – são distorcidas  e inferiorizadas por quem não se propõe a entender a realidade das periferias e favelas

Confira o resultado dessa conversa no primeiro episódio da quarta temporada do Desenrola Aí

No segundo episódio da 4ª Temporada do Desenrola Aí, Thiagson de Souza, Doutor em funk pela USP faz uma análise de como o racismo se transformou ao longo dos anos, mas sem perder seu objetivo principal que é a invisibilização das manifestações culturais afro brasileiras presentes na cena urbana.

“O racismo vai se atualizando em cada geração, as perseguições são diferentes, muda se o motivo, mas o princípio é o mesmo: aniquilar a população pobre, preta, periférica toda vez que ela ousa ascender”, disse.

A lógica da perseguição histórica, iniciada com leis como a da Vadiagem, criada após a abolição para encarcerar homens negros que expressavam sua arte por meio da música ou da capoeira, continua até os dias de hoje.

Um exemplo de como ela se manifesta na atualidade é a criação da Operação Saturação, também chamada de operação Pancadão, que visa acabar com os bailes de rua nos territórios. 

No dicionário, Saturar é definido como um substantivo feminino que promove a ação ou o efeito de saturar, de fazer com que uma solução possua o maior número possível de substâncias dissolvidas. Com isso, podemos afirmar que o objetivo de operações como essas é de reduzir, aniquilar e tornar pó a existência da juventude periférica nos espaços de convivência destinados à eles. 

Um exemplo chocante do resultado dessas ações na quebrada aconteceu em 2019 em Paraisópolis e ficou conhecido como o massacre do Baile da DZ7. Na ocasião, nove jovens foram mortos a partir de uma ação brutal da Polícia Militar de São Paulo. 

A Lei que antes proibia a expressão artística de pessoas pretas continua perseguindo a juventude na favela.  A arte, contudo, permanece como resistência e a música possui o poder de romper essa barreira violenta e expressar o que muitos se recusam a ouvir.  Torna-se, assim, ferramenta crucial no enfrentamento da resistência política de grupos dominantes em aceitar e entender as vozes da favela.

Thiagson de Souza, professor de Música Clássica e doutor de Funk pela USP – Foto: Geovanna Santana março/ 2025

Sobre o Desenrola Aí

O Desenrola Aí é um programa quinzenal que visa trocar ideias com especialistas da quebrada, descomplicando assuntos relevantes, que afetam o cotidiano da população negra e periférica e os direitos humanos, que é a essência da nossa existência e convivência enquanto sociedade. O programa do Desenrola Aí tem como realização o Desenrola e Não Me Enrola, Fluxo Imagens e Portal Kintê Notícias, fomentado pela LEI de Fomento a Cultura da Periferia, da cidade de São Paulo

“São histórias que realçam personagens consideradas notas de rodapé da sociedade”, diz Ricardo da Paz sobre seu primeiro livro de contos

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Com pré-venda disponível no site da editora Patuá e lançamento marcado para o dia 10 de maio, às 17h, no bar e livraria Patuscada, em Pinheiros, região oeste de São Paulo, o livro “Notas Infames na Cidade”, do escritor Ricardo da Paz, apresenta contos ambientados na década de 1990, como um mergulho na vida de pessoas periféricas diante de seus sonhos e esperanças.  

“Tento retratar essas histórias sem, no entanto, romanceá-los, ao acentuar os conflitos de gente de toda sorte prestes a explodir em busca da redenção ou mesmo escancarar as truculentas contradições da sociedade atual. Tento desmistificar os meandros sinuosos das pessoas infames das periferias de São Paulo, que poucos ainda conhecem e muitos preferem ignorar”, afirma o escritor, poeta, geógrafo e professor da Unifesp, campus zona leste, Ricardo da Paz.

Ricardo cresceu na Cohab 2, em Itaquera, zona leste de São Paulo e desde cedo frequentou a biblioteca do bairro. O escritor conta que escreve há muito tempo, mas só estreou no campo da literatura em 2023, com a publicação do livro de poesias “Gambiarra, quase poema – escritos pandêmicos”, pela mesma editora de seu novo livro, Patuá. 

O escritor conta que as histórias desse novo trabalho já rondavam seu imaginário há tempos. “Em geral, quase todas as histórias retratam a década de 1990, que foi um contexto difícil nas quebradas e na cidade. Digo que fui perseguindo o rastro íntimo dos infames, ou sem-fama, as pessoas invisíveis habitantes da nota de rodapé, assim como eu, na cidade”, diz.

“Desde a época em que eu era office-boy, gostava de olhar a cidade pelos seus personagens que, em geral, as pessoas não dão muita atenção. Cresci sendo parte desses trabalhadores invisibilizados na cidade. Gosto do avesso da cena, da nota de rodapé, do ângulo de trás do balcão. O livro tem tudo isso, tem histórias divertidas, de sofrimento, de gente sonhadora, alvo de violência ou elas próprias truculentas. Não [tem] heróis improváveis, nem vilões disfarçados, são as pessoas comuns das quebradas ou circulando pela cidade.” 

Ricardo da Paz, escritor, poeta, geógrafo e professor da Unifesp, campus zona leste.

A partir do livro, ele afirma que busca fazer um mergulho na vida das pessoas consideradas comuns, seja destacando histórias que se passam nas periferias ou nas travessias para o centro da cidade. 

Os contos ressaltam sobre pessoas que são, ao mesmo tempo, assustadoras e corajosas, divertidas e violentas, vivendo suas dores e fantasias sem os filtros do moralismo, explica. “Tem situações que vivi, outras que presenciei, histórias que ouvi falar, coisas que me inspirei nos livros e muita invenção também. Mas sem dúvida, uma parte importante desse caldeirão de inspirações desse livro, eu poderia chamar de leitura das ruas”.

Serviço

Lançamento do livro “Notas Infames na Cidade”
Data: Sábado, 10/05/25, às 17h.
Local: Livraria & Bar Patuscada, Pinheiros, SP
Endereço: R. Luís Murat, 40 – Pinheiros, São Paulo – SP, 05436-050


Bicicleta na quebrada

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Em algumas periferias, a bicicleta é um meio de transporte essencial, seja para o trampo, escola ou lazer. Em regiões onde o transporte público é caro e precário, a bicicleta vira a solução. O jeito mais rápido e barato para se deslocar. Evitando longas filas de espera pelo busão lotado. É uma alternativa que o morador tem em suas mãos para o controle do seu deslocamento.

Mas nem todo mundo tem essa vivência. Muitas pessoas na quebrada nunca aprenderam a andar de bicicleta e os motivos variam. Enquanto em algumas regiões mais privilegiadas as crianças aprendem a pedalar em parques ou ciclovias seguras, na quebrada a realidade é outra. 

O medo de acidentes, a falta de espaços e a rotina puxada das famílias dificultam esse aprendizado. Para muitas crianças, a primeira bicicleta nunca chega, seja por questões financeiras ou pela falta de um ambiente que favoreça essa experiência.

Para mudar essa realidade, é preciso olhar para a bicicleta como mais do que um simples objeto de lazer. 

Ela é transporte, é autonomia, é possibilidade de trabalho e de liberdade. 

Mas para que mais pessoas tenham acesso a essa ferramenta, é necessário investir em infraestrutura nas quebradas: ruas mais seguras, ciclovias acessíveis e espaços públicos onde as crianças possam aprender a pedalar sem medo. 

E na comunidade seguimos assim: a molecada que tem uma, mesmo que usada, compartilha para que os amigos tenham a experiência também. Entre diversão, rôles e grau, rola o fortalecimento coletivo. 

Quando a quebrada se fortalece, ninguém fica para trás. 

Este é um conteúdo opinativo. O Desenrola e Não Me Enrola não modifica os conteúdos de seus colaboradores colunistas. 


Projeto “IBEJADA: Alegria Negra” promove ações formativas online e no Centro de Referência da Dança 

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Com a proposta de celebrar a vida, a cultura e a resistência do povo preto, guiado pela premissa de inventar imaginários possíveis, banhados por alegrias e gargalhadas, o Núcleo Ajeum, ao longo de três meses, realiza ações formativas no projeto “IBEJADA: Alegria Negra”, com atividades virtuais e presenciais no Centro de Referência da Dança, localizado no centro de São Paulo. Contemplado pela 37ª edição do Programa Municipal de Fomento à Dança da cidade de São Paulo, segundo o grupo, a inspiração do projeto vem da energia de Ibeji, que contribui para a formação de uma comunidade unida e vibrante.

Entre as formações, o Fórum Psicologia das Infâncias: Medidas de Acolhimento da Criança Interior, mediado pela psicóloga Cássia Rosário, oferece um espaço para discussões sobre o desenvolvimento infantil e os atravessamentos de raça, classe e gênero nesse processo. A atividade é composta por quatro encontros online, sendo que os próximos acontecem nos dias 12 e 26 de abril, o fórum aborda temas como a relação entre a criança e a cultura, as dificuldades impostas pela sociedade nas questões de raça e classe, e as consequências do que foi perdido na infância por conta de fatores como a pobreza e a opressão. 

Em paralelo, nos dias 14/04, 28/04 e 05/05, acontecem os encontros Poéticas para Alimentar, que traz dois artistas convidados para uma série de ações voltadas para a pesquisa artística e cultural. A primeira parte da ação, conta com a participação da artista Priscila Obaci, que irá compartilhar o trabalho “Xirezinho”. A partir da literatura, musicalidade e práticas sensoriais, a formação irá percorrer estudos e reflexões tendo as mitologias como impulso de investigação.

Com encontros também nos dias 14/04, 28/04 e 05/05, o artista plástico e educador Marcelino Melo, conduz a oficina “Quebradinha: Território, Memória e Afetividade”, que propõe aos participantes a construção de saberes a partir das margens, ao promover uma desconstrução do olhar sobre o cotidiano e explorar as memórias e vivências dos territórios.

Serviço

Projeto “IBEJADA: Alegria Negra”, com Núcleo Ajeum

Ação: Fórum Psicologia das Infâncias – Mediação de Cássia Rosário, psicóloga especialista em atendimento clínico, formada em psicologia e relações étnico raciais, direitos humanos e saúde de meninas e mulheres. Tem como base para o seu fazer clínico o humanismo.
Datas: Sábados, 12 e 26 de abril de 2025
Horário: das 10h às 12h
Local: online, via link disponibilizado para inscritos.
Clique para se inscrever

Ação: Poéticas para Alimentar – Xirezinho – Mediação de Priscila Obaci, artista e educadora, mãe, formada em artes do corpo e desenvolve um extenso trabalho acerca das infâncias.
Datas: 14 e 28 de abril e 05 de maio de 2025
Horário: Das 16h às 18h
Local: Centro de Referência da Dança – CRD – Galeria Formosa Baixos do Viaduto do Chá s/n, Praça Ramos de Azevedo – Centro Histórico de São Paulo, São Paulo – SP, 01037-000
Informação extra: Vagas limitadas.
Clique para se inscrever

Ação: Poéticas para Alimentar – Quebradinha – Mediação de Marcelino Melo, artista plástico e educador, desenvolve trabalhos também na linguagem do audiovisual além de exposições e oficinas da “Quebradinha” como a oficina “Quebradinha: território, memória e afetividade”.
Datas: 14 e 28 de abril e 05 de maio de 2025
Horário: Das 14h às 16h
Local: Centro de Referência da Dança – CRD – Galeria Formosa Baixos do Viaduto do Chá s/n, Praça Ramos de Azevedo – Centro Histórico de São Paulo, São Paulo – SP, 01037-000
Informação extra: Vagas limitadas.
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