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“As crianças não estão nos lugares públicos”, afirma Beatriz Souza, educadora infantil

Durante o Festival Código da Arte, que busca transformar praças públicas em espaços de convivência, realizado em setembro, no bairro do Morro Doce, pertencente ao distrito de Anhanguera, zona noroeste de São Paulo, a professora de educação infantil Beatriz Souza, integrante do Coletivo Uirapuru, abordou a influência da cultura nas infâncias periféricas. 

Beatriz foi uma das agentes culturais que realizou oficinas com as crianças durante o evento, tendo como matéria principal o barro. Ao longo da atividade, as crianças puderam criar elementos a partir do contato com a argila. 

A educadora participa do Coletivo Uirapuru, criado em 2021, que desde então atua com pesquisas sobre arte, ancestralidade, cultura indígena e africana, e a relação entre natureza e educação. Isso através da ocupação de espaços culturais públicos e independentes nas periferias de São Paulo. 

Como surgiu o coletivo e qual objetivo?

Eu, Karina e Paloma trabalhávamos na mesma escola privada e todas nós somos da periferia. A gente pensava muito nesse lugar da infância periférica, quais espaços essas crianças ocupam e os espaços que elas não ocupam, e principalmente, políticas públicas para a infância na periferia. Surge desse incômodo que a gente percebe que não existe um lugar para as infâncias. E aí quando a gente pensa em contextos periféricos não existem muitas coisas na periferia. Então as crianças não são muito olhadas. 

Por que utilizar a argila e qual a técnica usada?

A gente tem um ciclo de oficinas e hoje escolhemos usar argila porque a gente tem pensado mais nessa relação do barro, dessa coisa da manualidade [das] crianças tendo contato com barro. O contato com a natureza de alguma forma recupera esse lugar ancestral também, porque a gente no Brasil, enquanto constituição do nosso país, tem muito forte a cultura indígena e africana, e o quanto que a gente vem perdendo esses lugares. Reafirmar essa potência para as crianças de trazer esse contato é um lugar também de buscar essa ancestralidade de alguma forma, ainda que seja um contato ali muito pequeno, sabe? Eu tenho certeza de que essas crianças vão lembrar disso em algum momento da vida delas, nesse momento do contato com argila em uma praça pública, nesse evento. Essa é uma técnica indígena, estamos nos aprofundando, como coletivo estamos buscando caminhos. E sobre as crianças fazerem o passo a passo, a cobrinha com a argila, para depois montar o objeto, o contato de como fazer, por que é importante entenderem esse processo de começo, meio e fim. Isso traz um lugar das crianças conseguirem imaginar possibilidades do que fazer com barro e fazer com a mão.

Qual o significado de participar de eventos como o Festival Código da Arte?

Acho que enquanto coletivo de três mulheres periféricas, é muito importante estar em um espaço desse, de pensar na descentralização dos espaços culturais e pensar o quanto que a periferia é potente, o quanto a gente dá conta só [por nós] de produzir e fazer cultura na nossa quebrada. E [também] de trazer os artistas locais e as crianças [que] estão nos lugares públicos. Acho que assegurar que tenham atividades e espaços pensados para a gente é um lugar de muita satisfação e orgulho de poder fazer parte.

Quais os desafios que o coletivo enfrenta?

O coletivo tem mais ou menos três anos e meio. Eu acho que um dos maiores desafios é conseguir se manter pela questão da grana. Se não somos contempladas por um edital público a gente não consegue fazer as nossas ações, porque para comprar argila, para comprar os materiais precisa de grana. E aí é muito difícil a gente conseguir tirar da nossa grana, porque trabalhamos em escola e tem as demandas da vida, e os materiais não são baratos.

Esse conteúdo foi produzido por jovens em processo de formação da 8° edição do Você Repórter da Periferia (VCRP), programa em educação midiática antirracista realizado desde 2013, pelo portal de notícias Desenrola e Não Me Enrola.


Especialista fala sobre consumo de PANCs e segregação alimentar nas periferias

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Taioba, peixinho, dente de leão, trapoeraba zebrina, azedinha, begônia, hibiscos, cambuquira, brilhantina, açafrão, cúrcuma e ora-pro-nóbis são algumas PANCs (Plantas Alimentícias Não Convencionais) que podem contribuir com uma alimentação saudável, de qualidade e variada, é o que aponta Sabrina Leite. Cozinheira e cientista social, Sabrina associa a utilização das PANCs aos cuidados com a saúde e pontua como a indústria alimentícia prejudica essa relação.

Moradora do bairro Vila Aurora, no distrito do Jaraguá, zona norte de São Paulo, a cozinheira aborda a alimentação como uma ferramenta de mudança social. “Trazer a utilização integral dos alimentos e de PANCs é trazer [a discussão do] direito à alimentação. [No sentido] das pessoas entenderem e reivindicarem o quão é direito delas terem acesso à uma alimentação variada que vai nutri-las, [para] que possam desfrutar de uma velhice saudável, [sem] ter doenças construídas ao longo da vida por déficit nutricional”, coloca.

Embora para algumas pessoas o termo PANC seja recente, a utilização dessas plantas atravessa gerações. Sabrina cita que, a depender do contexto, esse consumo passa a ser associado à escassez, mas ressalta a relação de proximidade desses alimentos.“Esse modo de se alimentar partia dos nossos avós”, menciona. 

Sabrina afirma que existem diferenças no modo de se alimentar se comparado ao dos nossos ancestrais por conta da introdução dos ultraprocessados. “Mas a alimentação baseada no feijão, na farinha, muitas pessoas continuam se alimentando dessa forma e isso é bom, porque são alimentos in natura. O que a gente não pode romantizar é o cerceamento da alimentação por esses alimentos. Não continua tendo uma diversidade, a pessoa está se alimentando da farinha, do feijão porque é o que ela tem para se alimentar”, diz. 

“Por exemplo, os negros escravizados sequestrados de África, que se alimentavam basicamente da farinha e do feijão, se alimentavam dessa forma porque não havia possibilidade de ter uma variedade alimentar, era fome mesmo. Eles não tinham possibilidade de fazer um roçado, de plantar outras coisas. Inclusive quando as plantações de cana [e] algodão aumentavam, a fome também aumentava, porque diminuía essa parte física de terra de plantio [do alimento]”, coloca Sabrina.

“A memória que algumas pessoas têm desse tipo de alimentação é muito dolorida, e para elas, ter a possibilidade de se alimentar de arroz, feijão e carne, sendo a carne o principal alimento dentro da refeição, é algo muito significativo. [Isso] significa que elas conseguiram melhorar de vida”.

Sabrina Leite, cozinheira e cientista social.
No Brasil, em 2023, cerca de 27,6% (21,6 milhões) de casas estavam em situação de insegurança alimentar, de acordo com a pesquisa realizada pelo IBGE em parceria com o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome.

Segundo a cientista social, a separação de quem come determinado alimento é reforçada pela construção de um imaginário sustentado e espalhado pela publicidade utilizado pela indústria alimentícia. Ela também aponta que a periferia é o público-alvo quando se trata de incentivar o consumo de alimentos ultraprocessados. 

“Até mesmo as frutas para as crianças que vêm da periferia [têm um significado]. Às vezes a criança tem vergonha de levar uma banana para a escola, porque a banana não representa o mesmo status que um biscoito recheado.”

Sabrina Leite, cozinheira e cientista social.

Sabrina ressalta que a indústria não é responsabilizada pelos danos que a alimentação ultraprocessada causa à saúde da população, tendo inclusive isenção de impostos que auxiliam na produção desses alimentos.

Embora haja esforços por políticas públicas de incentivo à alimentação saudável, principalmente através da luta popular e de organizações sociais, ela destaca que ainda há muito a ser conquistado. “Falar de políticas, cada vez mais dentro desse processo de pressionar para que essas políticas de incentivo à alimentação saudável aconteçam [e] a população esteja cada vez mais ciente de que é só a pressão social que vai fazer com que essa realidade se transforme”, coloca.

Alimento como mercadoria

Para a cozinheira, o consumo de alimentos in natura é direcionado para uma determinada classe social que pode escolher ter um estilo de vida a partir do que come. “O alimento está sendo utilizado como ferramenta de segregação e diferenciação social. Quem é que tem [tido o] direito ao alimento fitness, a fazer exercício e a comer saudável? Não é a quebrada”, afirma Sabrina.

Ela reforça que as PANCs são fontes de vitaminas, minerais, fibras e antioxidantes, e que cascas, talos, sementes, folhas, raízes, flores e caules servem como um acréscimo na alimentação. “Com elas a gente consegue fazer geleias, refogados e muitas [outras] opções”.

“A utilização integral dos alimentos pode ser feita a partir da observação e da reavaliação do que a gente enxerga como lixo. Muitas vezes a gente enxerga que só a polpa da melancia é comestível e a casca joga fora. Quando eu penso dessa forma eu não só estou jogando ingredientes, mas também jogando dinheiro fora”, comenta.

A cientista social afirma que é possível fortalecer a segurança alimentar com o incentivo ao consumo integral dos vegetais e das PANCs, mas reforça que “não tem como as pessoas ressignificarem a forma de se alimentar se não for pelo direito”, ao apontar o papel das políticas públicas nesse debate. 

Ela também coloca que em muitos casos as pessoas não alcançam o conhecimento sobre a possibilidade de consumir uma PANC ao invés de um ultraprocessado, o que também se relaciona com a perda de autonomia. 

“Não é só a questão de utilizar PANCs e a utilização de alimentos integralmente, mostrar como faz ou quando isso pode ser benéfico. Porque isso as pessoas simplesmente podem dar um Google e acessar. Mas como que a gente pode utilizar esses alimentos como ferramenta para falar de acesso à direito, falar de políticas públicas, de exploração do trabalho, de diversas informações que não chegam”, ressalta Sabrina.

Empreendedor mistura samba com yakisoba e frutos do mar para surpreender o paladar de moradores da Vila Império

Todo primeiro domingo do mês acontece o Samba de Calçada, localizado no bairro Vila Império, na zona sul de São Paulo. Nesse samba de quebrada temos o Seu José Geraldo Pereira, 55 anos, que se destaca no evento com a sua barraca customizada de yakisoba, uma mistura improvável, mas que deu muito certo. 

Diferente das proteínas que são disponibilizadas para consumo e venda nos eventos de samba como churrasco, batata frita, calabresa, feijoada, salgados fritos e assados, o yakisoba vem com uma outra proposta rendendo boas vendas e novas oportunidades para José que nos contou um pouquinho sobre sua trajetória na cozinha. 

O ponto de venda do empreendedor se destaca pela sua barraca diferenciada, construída a base de artesanatos feitos de reciclagem. Mas a verdadeira surpresa é o alimento que ele comercializa no território em que está localizado. 

Em entrevista para o Você Repórter da Periferia, ela conta que o seu objetivo é simples: mostrar para as pessoas de seu entorno que é possível se alimentar bem e de forma saudável. É essa discussão que Seu José propõe com seus pratos diversificados e majoritariamente oriundos de peixes e outros frutos do mar.

VCRP: Qual é a reação das pessoas ao chegarem no Samba da Calçada e verem uma barraca de yakisoba?

Foi a opção que me deram de fazer yakisoba e perguntaram pra mim, se eu executava eu falei “Opa, com o maior prazer”, e hoje é um sucesso no Samba da Calçada, as pessoas gostam. Uma vai falando para o outro de boca a boca e até a minha marmita que eu separo no fim da balada, eu vendo, porque sempre tem um que quer e bate o pé e acaba vendendo.

VCRP: Como foi a construção da estética diferenciada da sua barraca?

Eu comecei com um tambor que eu fiz um fogão, e começou a demanda e as pessoas queriam yakisoba. Ninguém colocou fé que eu ia criar essa barraca, eu comecei em janeiro do ano passado (2023). Comecei a pegar madeira e fazer, e quando chegou no mês de março eu falei agora eu tô preparado pro yakissoba que me deram essa oportunidade, mas a barraca muitas pessoas vêm tirar foto aqui, né? E cada hora ela vai ser diferente, da próxima vez que você vier, ela vai estar com o telhado. Ela vai estar com um gerador movido a luz solar, então a cada hora você vai ver ela diferente.

VCRP: Como é o início da sua trajetória na culinária de frutos do mar?

Eu aprendi porque um dia eu comi errado e quase morri, aí eu me joguei na comida e aprendi a fazer comida de verdade. Então eu reunia amigos em casa, e aí começava, eu fazia tudo, pegava abria o atum e fazia hambúrguer, fazia linguiça de atum e começou. Então através de amigos eles falaram: “cara você teve uma mão boa para culinária, por que que você não se joga?”. Eu falei: “vou”. Hoje eu tô na culinária.

VCRP: Como é a sua demanda de comercialização de pratos à base de frutos do mar na região?

Então os pratos de fruto do mar a demanda é mais para amigos, porque eu acho que as pessoas têm que provar todo tipo de peixe. Qualquer tipo de peixe eu faço de uma forma saudável e saborosa, você come com os olhos e assim, eu acho que a periferia tinha que comer uma moqueca de peixe com banana e saber o sabor.

VCRP: Qual a sua visão de futuro para o seu negócio?

Então eu gostaria muito de ficar na quebrada, eu precisava disso, principalmente preparar comida sem nenhum tipo de conservante químico, tem como você comer bem e saudável. Eu tenho muita proposta, mas é que eu falei no início, né? Eu quero ter essa vida, essa simplicidade de fazer comida assim, não quero crescer, eu quero fazer uma coisa natural, porque se eu crescer não vai ser natural de verdade. Eu prefiro atender pouco, e a pessoa comer bem, é isso.

Esse conteúdo foi produzido por jovens em processo de formação da 8° edição do Você Repórter da Periferia (VCRP), programa em educação midiática antirracista realizado desde 2013, pelo portal de notícias Desenrola e Não Me Enrola.

“Eu sou admiradora”: moradora relata impacto de comunidade de samba na Vila Império

Indo na contramão de experiências ruins que muitos moradores das periferias relatam sobre festas de rua que viram a madrugada e bailes funks que não respeitam os vizinhos, Suely Macedo, moradora da Vila Império, zona sul de São Paulo, há mais de 20 anos, assiste sentada na entrada da garagem da sua casa o processo de montagem de palco e passagem de som do Samba na Calçada, um coletivo de moradores que preservam a tradição de utilizar a música como instrumento de fortalecimento de vínculo comunitário.

A moradora conta que se sente honrada em ser vizinha do Samba na Calçada e ser impactada pelas ações solidárias promovidas pela iniciativa, que existe há 13 anos. Em datas comemorativas como o dia das mães e pais e festas de final de ano, os organizadores do samba distribuem  presentes para os vizinhos e realizam uma super festa beneficente com direito a presentes e montagem de brinquedos para as crianças, com comida solidária para todos que quiserem participar do evento.

Enquanto moradores e vizinhos começam a chegar no Samba na Calçada, a moradora conta ao Você Repórter da Periferia que costuma ceder a sua garagem para os organizadores distribuírem refeições solidárias para o público no final do ano.

Ela conta com bastante carinho os cuidados que os organizadores têm com os moradores, para garantir a segurança das casas e carros estacionados, limpeza da rua, horário para início e fim do evento, bem como evitar brigas e discussões entre o público. 

VCRP: O que a Comunidade Samba da Calçada significa para você como moradora?

Eu sou admiradora do evento, gosto do que eles proporcionam para o bairro, para a rua e os moradores, principalmente para as crianças, que no final do ano eles fazem a distribuição de brinquedo para todas as crianças carentes e não carentes, montam brinquedos na rua, para as crianças terem um momento de lazer. Quanto ao Samba, não tenho nada a reclamar! Somos livres para fazermos o que quisermos! Se quisermos sair, ok! Se quisermos ficar em casa, ok! Se quiser participar, ok. Somos todos convidados. a festa é do bairro e a rua é de todos.

VCRP: Qual é o principal diferencial do samba na calçada que mais afeta você como moradora?

Somos todos livres para fazer o que quisermos, se quiser montar algum comércio podemos montar sem nenhum problema, não tem não tem nenhuma restrição em relação a isso, quem puder vende o que quer, somos todos livres para fazermos o que quiser, não existe uma regra e não existe impedimentos.

VCRP: Você Relatou sobre a segurança. Como você se sente nos dias de samba aqui no bairro?

O término do samba não ultrapassa às 10 horas, geralmente é no horário combinado que termina, existe uma equipe de limpeza que deixa a rua limpíssima. Caso venha ocorrer algum problema, há uma interferência de imediato para resolver. É um evento de rua onde cada um é responsável por si, mas tem sempre pessoas do samba olhando para ver se está tudo bem com os moradores e as casas no entorno.

VCRP: Você se sente beneficiada estando aqui com esse evento cultural?

Quando vejo quem monta um comércio e consegue fazer uma renda eu fico mais feliz E mais honrada ainda, pelo que eles conseguem proporcionar para as crianças carentes, e nós mães, somos todas lembradas no Dia das Mães, todos os pais da Rua São lembrados no dia dos pais, então isso já é gratificante.


“Eu faço café e torradinha todo dia e levo aos vizinhos”: o legado de Luiz Freire, velha guarda do samba da Vila Império

Enquanto os batuqueiros do Samba da Calçada animam o público presente numa tarde de domingo, na vila Império, zona sul de São Paulo, o empreendedor Luiz Freire, 73 anos, criador da comunidade de samba que existe há mais de 10 anos, está atrás de um balcão de um pequeno bar atendendo o público que começa a chegar para prestigiar o evento comunitário. 

O seu dia começa bem cedo. Com carisma e alegria, ele recebe crianças, jovens, adultos e idosos, que vão ao estabelecimento não só para comprar bebidas e petiscos, mas também para apreciar o café da manhã comunitário com direito às deliciosas torradinhas que ele realiza para os moradores do território.

Antes de morar na Vila Império, o líder comunitário morava na Vila Nova Conceição, um bairro localizado entre a Vila Olímpia e o Itaim Bibi, cercado por centros comerciais, grandes prédios residências, casas de show, bares com música ao vivo e restaurante de alta gastronomia. Em entrevista ao Você Repórter da Periferia, ele conta a importância da preservação de um estilo de vida comunitário na periferia onde todos os moradores ainda se ajudam e se importam uns com os outros.

VCRP: Há quanto tempo você se dedica ao samba?

Desde 2004 estou aqui na Vila Império. Comecei com o samba em 2006, mas criamos o Samba na Calçada em 2012.  Temos união aqui com as pessoas, porque aqui tem muita gente carente. Eu faço café e torradinha todo dia de manhã e levo aos vizinhos que eu posso ajudar. Pobreza não é você não ter dinheiro, é você ser pobre de espírito.


VCRP: Como foi trazer o samba de Alagoas para a periferia de São Paulo?

Em Alagoas criamos um grupo chamado “Origem do Samba”. Agora ele se chama “Tô na gandaia”. Estamos aqui na periferia, onde eu não pensava que tinha tanta gente boa que me acolheram muito bem, todo mundo gosta de mim, eu sou muito grato. Ninguém fecha uma rua pra fazer um evento assim no bairro, sem parceria com a comunidade né?

VCRP: Qual a maior transformação que você teve na sua vida?

Você tá lá em cima e cai, e vai dizer que tá bom? Não vai, você pode viver com as pessoas, mas e se você não tá bem? A gente não consegue transformar sempre né, vivemos como pode, na ditadura por exemplo, nós não tínhamos liberdade, hoje estamos todos livres, como eu, trabalho por aqui, pra quem foi auditor, isso aqui nem é trabalhar, eu faço meus salgados, vivo minha vida, ajudo as pessoas.

VCRP: Qual é a maior riqueza ou aprendizado que você teve com o samba?

Não me falta nada. Quando você tem um pouquinho pra dividir é melhor que você tenha pra dividir tudo o que você tem, do que ter necessidade de pedir, não é verdade? Eu sou uma pessoa que gosta de ver o outro lado. Que respeite sempre o ser humano, porque tudo que se joga é como uma bola de borracha, é a força que você pode dar na parede, ela volta pra você, se você for “ameno”, tudo aquilo não volta.

Esse conteúdo foi produzido por jovens em processo de formação da 8° edição do Você Repórter da Periferia (VCRP), programa em educação midiática antirracista realizado desde 2013, pelo portal de notícias Desenrola e Não Me Enrola.

Como surgem as ruas?

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A noção de rua vem do latim “ruga” que significa “caminho” e pode ser caracterizada como um espaço público urbano de circulação de pessoas, veículos, animais e etc., ao permitir a ligação entre uma origem e um destino, de um ponto a outro nas cidades, metrópoles ou mesmo no meio rural. A rua é o espaço onde o encontro, as trocas e a circulação acontecem nas cidades, já que as cidades representam o centro de aglutinação de pessoas, bens, empresas e instituições, mas também de trocas, culturas, conhecimentos e ideias. A rua representa a passagem, o transitório, o meio de circulação, ao cumprir uma função para os centros urbanos e viabilizar a circulação e o encontro das pessoas seja em acessar centros comerciais, culturais, educacionais, de saúde, etc. Ela pode ser entendida também pela presença de duas ou mais calçadas (passeios e trânsito de pedestres e carruagens, em sua origem na antiguidade) e atualmente pelo fluxo de pedestres, veículos e mercadorias.

De espaço de encontro a espaço para automóveis

Todavia, a rua, como analisou Henri Lefebvre em A revolução urbana, não é apenas um lugar de passagem e circulação, ela é o lugar do encontro, sem os quais não existem outros encontros possíveis nos lugares determinados (cafés, teatro, salas diversas), lugares esses que animam a rua e são favorecidos por sua animação. Na rua efetua-se também o movimento, a mistura, sem os quais não há vida urbana.

Durante séculos as ruas das cidades tiveram uma dinâmica de vibração e de aglomeração de diversas funções sociais, ao representar até a metade do século XX um movimento de integração da vida social, econômica e política, com cidades estruturadas por meio de poderes políticos, econômicos e sociais que determinam a vida social de seus cidadãos. Com as ações de Le Corbusier em suprimir a rua, tornando-a apenas funcional para certo tipo de circulação, em alguns momentos a rua teve a extinção da vida, quando a cidade teve sua redução à condição de dormitório. Entretanto, a rua ainda mantém funções diversas negligenciadas por Le Corbusier, tais como as funções informativa, simbólica, lúdica, entre outras.

A rua foi passando por modificações ao longo da história. Deixou de ser, em alguns momentos, o lugar de todos os encontros para cumprir a função de circulação de veículos automotores. Na lógica de produção do espaço e produção da mercadoria, 

No Brasil, é comum as ruas serem nomeadas em homenagens a personagens históricos, famílias tradicionais de determinados bairros, nome de bairros, cidades, países, lugares, obras literárias e musicais também. Mas quem decide sobre a nomeação de uma rua? A princípio, qualquer pessoa pode enviar uma sugestão para a Câmara Municipal de sua cidade, e lá os/as vereadores/as discutem projetos de lei para nomear ou mudar nome de ruas, por exemplo. Em última instância, é necessário que um/a vereador/a encaminhe um projeto de nomeação de ruas, e isso não costuma ter barreiras para ser aprovado. Porém, as ruas são de atribuição do município e há uma lei orgânica que rege a sua regulação, ao mesmo tempo em que há cada município precisa ter um plano diretor vigente que contribui para as mudanças urbanas e legais.

“Sempre vou ser um Pankararu”, afirma Wesley dos anjos sobre identidade indígena

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Segundo o Censo do IBGE de 2022, cerca de 63% de pessoas indígenas vivem em áreas urbanas no Brasil, e parte dessa população está nas periferias. Como é o caso do Wesley dos Anjos, 32, indígena do povo Pankararu e morador do bairro Cohab Adventista, localizado no distrito do Capão Redondo, na zona sul de São Paulo. “Tanto na favela quanto na aldeia lutar é uma necessidade presente, no sentido de resistência”, diz Wesley, que prefere ser chamado de Wes.

Wes é assistente social, ativista indígena e pesquisador. Ele faz parte da primeira geração da família que nasceu fora da aldeia Pankararu, mas sempre esteve conectado com a sua cultura e identidade através da mãe, Maria das Dores. 

“Minha mãe é uma mulher indígena do povo Pankararu e saiu do nosso território com 15 anos de idade fugindo [da] seca de 1970, [que] foi um período de estiagem no nordeste que deixou o ambiente sem comida e água, e aí boa parte dos nordestinos migraram para São Paulo, mas pouco se fala da migração dos povos indígenas”, diz o pesquisador. 

“Eu sempre me senti em luta social, por ser favelado, do Capão, por ser filho de um homem preto, por ser indígena, por ser gay. A semelhança que [tem] em tudo isso é precisar lutar para existir”.

Wes Pankararu, assistente social, ativista indígena e pesquisador.

Entre os contrastes de viver na aldeia e na periferia, Wes afirma que a diferença está nas formas de lutar. Segundo ele, na aldeia, não se expor e optar por observar, por vezes é um modo de se proteger. “Já na favela eu aprendi a revidar, a ser mais visível”, coloca.

O Brasil tem 1,69 milhão de indígenas, conforme mostra o Censo do IBGE de 2022. Desse total, aproximadamente 622 mil (36,73%) vivem em Terras Indígenas e 1,1 milhão (63,27%) fora delas. O estado de São Paulo concentra 55.295 (3,27%) pessoas que se autodeclaram indígenas, sendo que dessas, cerca de 51 mil indígenas (92,44%) vivem em contexto urbano, e 4 mil (7,56%) moram em terras oficialmente reconhecidas como indígenas.

A origem da etnia Pankararu é de Pernambuco, região nordeste do Brasil. O território desse povo é atravessado por três municípios: Tacaratu, Jatobá e Petrolândia. “A minha aldeia Brejo dos Padres está mais no município de Tacaratu”, compartilha Wes.  

O pesquisador coloca que no Capão Redondo vivem 60 Pankararus, parte deles são da mesma família do ativista e todos são parentes. “A gente se considera parente independente da relação de sangue. Se você é do mesmo povo que eu, você é meu parente”, aponta Wes, que comenta sobre a existência de outros núcleos de indígenas Pankararus em São Paulo. 

A Associação SOS Comunidade Indígena Pankararu fica no bairro Real Parque, distrito do Morumbi, zona sul de São Paulo, e segundo o ativista, ela representa os Pankararus em contexto urbano e desenvolve ações em diversas áreas, como saúde, assistência social, cultura e educação. 

Wes conta que, geralmente, quando algum Pankararu migra para a cidade procura estar próximo a um núcleo de parentes indígenas. “Porque ali ele sabe que vai ter força para enfrentar esse cotidiano que muitas vezes engole a gente. Juntos lembramos com mais constância de onde a gente vem, e quem a gente é”, pontua.

Aldeias e periferias

De 2007 a 2011, Wes viveu na aldeia Pankararu, em Pernambuco, e voltou para São Paulo em 2012 para estudar. Ele conta que mudar para a aldeia em plena adolescência foi um tanto conflituoso. “Hoje eu acho que [essa] foi a melhor coisa que ela [Maria das Dores] poderia ter feito por mim, além de fortalecer a minha identidade. [Viver na aldeia] me fez desenvolver outro olhar sobre quem sou e sobre quem a gente é enquanto povo, inclusive para lembrar que em qualquer lugar do mundo eu sempre vou ser um Pankararu”, afirma. 

O pesquisador conta que não invalida a estratégia de não se colocar como indígena, e que atualmente ele não gerencia mais a própria identidade, e sim os conflitos que isso pode gerar.

“A minha mãe já foi chamada na escola para a professora falar que a gente estava fumando maconha, porque a gente ia com cheiro de ervas. A gente ia com cheiro de ervas, porque a gente estava tomando banhos que espiritualmente para a gente faz sentido”, exemplifica Wes sobre situações que já vivenciou morando em contexto urbano.

“Quando as pessoas falam sobre quem é indígena no Brasil vem uma imagem já desenhada e eu [não faço parte desse imáginário], não só por ter o pai negro, mas também pelo meu povo não ser enquadrado dentro dessas características estereotipadas. Quando eu falava que era indígena ou quando a gente fala que é indígena, as pessoas automaticamente desvalidam e nos violentam”

Wes Pankararu, assistente social, ativista indígena e pesquisador.

O pesquisador compartilha que sua formação acadêmica se deu através do programa de inclusão de pessoas indígenas da universidade, chamado Pindorama, da PUC São Paulo. Ele aponta a educação como o caminho para combater os preconceitos e a invisibilidade das diversidades étnicas e também com indígenas que vivem fora das aldeias.

“Deve ser ensinado para as crianças, desde a educação infantil, para que elas saiam desse senso comum de que ‘índio’ é um ser mitológico, que não existe ou só existe nos livros, no folclore. A gente está na favela, na cidade, nas aldeias, nas florestas, [estamos] onde a gente quiser, porque o Brasil todo é território indígena”, ressalta Wes Pankararu, que aponta não existir o cumprimento da lei federal 11.645 de 2008, sobre a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira e indígena no currículo oficial da rede de ensino, e que por isso, quem acaba tendo a iniciativa de fazer essas articulações são os próprios indígenas.

O olhar da quebrada

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Dia 19 de agosto se comemora o Dia Mundial da Fotografia. Já parou para pensar como é importante ter esses registros em nossa história e memórias?

Hoje, com alguns acessos que temos, conseguimos registrar nossa quebrada de uma forma na qual poderemos, em um futuro não tão longe, mostrar para nossas próximas gerações a expressão de nossos sentimentos através da fotografia.

Na quebrada existem muitos talentos e sonhos. A conquista de uma câmera é algo gigantesco, uma verdadeira luta e resistência. Cada foto é uma maneira de mostrar  a quebrada pelo nosso olhar, um olhar que revela a beleza, a luta e a força do nosso povo.

É no sorriso da criançada, na correria do dia a dia, nos grafites que colorem os muros, nos jogos de futebol que encontramos inspiração.

Cada clique é um manifesto, cada retrato é uma declaração de que nossa cultura e nossa história merecem ser vistas e respeitadas.

A fotografia na quebrada é feita de momentos reais, de gente que transforma a dificuldade em arte e expressa nas imagens a alma da comunidade.

Este é um conteúdo opinativo. O Desenrola e Não Me Enrola não modifica os conteúdos de seus colaboradores colunistas.

Comerciante une admiração ao futebol à venda de espetinhos na Copa Terra Nossa em Osasco

Nascido em Cajazeiras, na Paraíba, Carlos Antônio da Silva, se mudou para São Paulo em 1960, ainda criança. Após morar em Pirituba, e se mudar para o bairro Jardim Bonança, em Osasco, região metropolitana de São Paulo, foi no bairro Terra Nossa, no mesmo município, que ele encontrou a oportunidade de continuar seu trabalho como vendedor de espetinhos, mas agora unindo seu apreço pelo futebol à sua renda extra.

Aposentado e recuperando-se de um AVCI (Acidente Vascular Cerebral Isquêmico), Carlos mora próximo do seu filho Leandro, e segue ativo na comunidade. Através do apoio de Flávio, conhecido como “Pinguim”, dono do bar em frente ao campo de futebol que acontece a Copa Terra Nossa, o vendedor encontrou ali um novo espaço para trabalhar.

Carlos Antônio complementa sua renda a partir da venda de espetinhos na beira de campo em Osasco. Foto: Yasmin Turini

Como é sua rotina atualmente?

Eu sou aposentado, então eu fico em casa fazendo os afazeres de casa, vou fazer uma compra, vou atrás das necessidades diárias, arrumo minha casa, visito a minha nora, visito o meu filho que mora aqui perto. Eu tenho que vir aqui no domingo, então na sexta-feira, eu já vou buscar a carne, já corto, tempero e no sábado eu espeto. Tem 150 espetinhos e no domingo eu venho para assar acompanhando o futebol. 

Como o senhor começou a vender os espetinhos aqui nessa região?

O espetinho eu vendo desde 2005, numa outra localidade onde eu morava, no Jardim Bonança. Aí eu tive um AVCI no ano passado, e esse ano eu mudei para perto do meu filho. Por coincidência tem essa quadra aqui e com esse campeonato. A gente uniu o útil ao agradável e eu vim fazer os espetinhos, que modéstia à parte, é muito saboroso. Aí eu estou iniciando. Inclusive, hoje é o meu segundo domingo.

Como foi a recepção da comunidade local quando o senhor começou a trabalhar aqui?

O Pinguim é o dono do estabelecimento aqui, do bar, ele que me cedeu o espaço aqui tranquilo. A gente já se conhece há mais de quatro [ou] cinco anos. Então eu não sou novato para o pessoal daqui. Eu já sou amigo do Pinguim há muito tempo, agora para vender churrasquinho, para trabalhar em si, é o meu segundo domingo, mas a recepção foi muito maravilhosa, me acolheram muito bem, não tenho do que reclamar, é só agradecer. 

A venda dos espetinhos traz alguma mudança no seu bem-estar?

Olha, é um trabalho como outro qualquer, só que com um pequeno diferencial, aqui você lida com o povo, você lida com o ser humano, então você faz muitas amizades e não tem como não fazer, né!?

Qual é a melhor parte de ter começado a vender aqui? 

Veja bem, trabalhar por conta é isso. Você faz o seu horário. E por coincidência eu vim morar próximo ao meu filho. Aí é essa união de morar perto do meu filho e ter esse evento aqui para poder fazer esse churrasquinho. No outro local, eu vendia 50 espetinhos por dia, trabalhava três dias da semana, aqui eu trabalho aos domingos e vendo 150 espetinhos. Como eu sou aposentado por idade, recebo um salário mínimo, então o que eu pego aqui ajuda muito na renda. Aqui o pessoal me chama de Carlinhos, mas futuramente serei conhecido como Carlinhos do Espetinho.

Esse conteúdo foi produzido por jovens em processo de formação da 8° edição do Você Repórter da Periferia (VCRP), programa em educação midiática antirracista realizado desde 2013, pelo portal de notícias Desenrola e Não Me Enrola.

Moradora de Osasco conta sobre relação entre coletividade e esporte na região

Vitória de Cássia, 23, dona de casa, moradora de Osasco, região metropolitana de São Paulo, tem como atividade de lazer aos domingos, acompanhar os jogos da Copa Terra Nossa, competição de futebol de várzea que acontece no território, cujo objetivo é integrar a comunidade através do esporte. 

A importância da modalidade na vida de Vitória vai além dos momentos de lazer. Segundo ela, patrocinadores e a comunidade ajudam nos custos de casa com itens como cesta básica e fralda para seus filhos. Vitória conta que essa movimentação também vai além dos patrocínios, pois os jogadores e a comunidade sempre se ajudam. Ela também ressalta que entre as mulheres que frequentam o local esse senso de comunidade cresce de forma natural.

Vitória de Cássia, 23, dona de casa, moradora de Osasco, região metropolitana de São Paulo, tem como atividade de lazer aos domingos, acompanhar os jogos da Copa Terra Nossa. Foto: Yasmin Turini

O que te traz até o campeonato Terra Nossa? Como é ver esse evento de pertinho? 

Comecei a acompanhar os jogos há 3 anos por causa do Jonathan, meu esposo, que joga no time Lobos. Ver os jogos é incrível. A emoção é algo que te envolve, e quando você percebe já está participando. Os jogos são muito emocionantes, especialmente quando você vê a disputa acirrada entre os dois times. Tanto no início, quanto no final, quando você vê os finalistas jogando, é pura emoção. Além disso, [tem] a emoção do público que se junta com a torcida e tudo mais.

Como você vê a importância do campeonato para os jogadores e a comunidade?

Mesmo com as adversidades no campo, os jogadores estão sempre unidos, apoiando uns aos outros. Além disso, o campeonato fortalece a comunidade, proporcionando um tempo de lazer, onde as pessoas se reúnem para assistir aos jogos. É uma disputa saudável, um ambiente natural […]. A Copa Terra é algo relativamente recente, mas desde que começou, muitas pessoas no bairro têm se reunido para fazer esse trabalho incrível que ajuda muito as famílias. Os patrocinadores contribuem com fraldas e outros itens essenciais que as pessoas pedem, o que é muito importante. 

Como é a relação desses patrocínios na sua vivência? 

Os patrocínios ajudam com fraldas e outros itens, e eu vejo isso como algo muito positivo. Minha filha mais velha, de quatro anos, sempre me acompanhou nos jogos do Jonathan. Inclusive, quando eu estava grávida da Maria Luiza, de nove meses, eu ia assistir aos jogos barriguda e os meninos do time sempre me ajudavam. Eles fizeram um chá de bebê para mim e me deram muitas fraldas e outros itens para o bebê. Hoje eles continuam ajudando financeiramente sempre que precisamos, seja para comprar leite ou qualquer outra coisa.

E sobre as suas filhas, você vê a possibilidade delas seguirem o caminho do futebol que ainda é visto como um ambiente majoritariamente masculino?

Se a Maria Luiza decidir seguir o caminho do pai eu com certeza vou apoiar, porque não vejo mal algum no futebol. Eu já ouvi muitas vezes o meu marido falar que quando ele joga futebol ele se desestressa dos problemas do dia a dia. Então eu super apoio. Minha filha mais velha, de quatro anos, já me acompanha nos jogos, e embora ainda não tenha se enturmado com as crianças que jogam, eu estou sempre apoiando.

Como é para você trazer as crianças para cá, especialmente as mais novas?

No começo era bem difícil, mas agora eu me dedico a estar aqui com as meninas para vê-las crescer assistindo o pai jogar futebol. Muitas vezes, o futebol foi o nosso ganha-pão. Por isso, eu tenho o maior prazer de trazer as crianças, mesmo com a dificuldade de ter um bebê de quatro meses. Venho sempre preparada, com leite, roupa de frio, carrinho e cobertor, para passar o dia apoiando o Jonathan. Além disso, as meninas de outros times sempre me ajudam, seja segurando o bebê ou ajudando com outras coisas. Dentro do campo, a rivalidade existe, mas fora dele, somos todas unidas.

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